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TENDÊNCIAS ATUAIS DA POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL
Maria Lucia T. Werneck ViannaLaboratório de Economia Política/UFRJ
Abril 2005
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Contexto internacional: traços gerais
Anos 80: afirmação de “nova ordem mundial”
⇒Globalização financeira⇒Reestruturação produtiva⇒Hegemonia de concepção
privilegiadora da regulação via mercado em detrimento de papel ativo do Estado
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Anos 80
• Vitórias de partidos conservadores Europa e EUA
• Derrocada regimes socialistas • Políticas econômicas
recessivas• Desemprego• Debate sobre reformas nos
sistemas de proteção social
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Anos 90
• Governos social-democratas afinados com concepção liberal
• Rediscussão papel do Estado• Centralidade da questão
social• Reforço agências multilaterais
de crédito (FMI, Banco Mundial)
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Países em desenvolvimento
• Dívida externa => ajustes• Restrições a políticas públicas
que implicam gastos expansivos
• Recomendações explícitas de reformas
• Valorização da questão social na agenda pública
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Contexto brasileiro: traços gerais
Anos 80:• Agravamento da crise
econômica (inflação, dívida externa, recessão)
• Reativação da competição política e da participação social (democratização, expansão de direitos, Assembléia Nacional Constituinte)
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Anos 80
Progressivo esgotamento do modelo desenvolvimentista marcado pelo papel produtivo do Estado e fundado na expansão industrial substitutiva de importações
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Desenvolvimentismo: modelo que presidiu a condução do país e as relações Estado/mercado desde anos 30 e que dispensou a democracia (competição política e participação social) em momentos - chave
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Pilares do modelo desenvolvimentista:
• Política econômica produtivista
• Política social incorporadora de segmentos sociais ao estatuto da cidadania (mesmo que regulada)
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anos 80
• Intenso debate sobre as políticas sociais => vários foruns
• Constituição Federal 1988 => Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais Título VIII – Da Ordem Social
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Anos 90
•Governos eleitos voto direto
•Políticas econômicas recessivas
•Desmonte da estrutura de proteção social desenhada pela CF 88 (Seguridade Social)
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Anos 90
Ruptura com padrão de desenvolvimento pregresso
Adoção de novo modelo de condução do país e de relação Estado/mercado
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As “novas” diretrizes
Política econômica regulatória• Estabilidade macroeconômica• Abertura da economia
“Nova” política social – voltada para a inclusão de certos segmentos ao mercado
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A concepção de política social na CF 88
Art. 194A seguridade social
compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social
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Seguridade social“É a proteção que a sociedade
proporciona a seus membros mediante uma série de medidas públicas contra as privações econômicas e sociais que de outra forma derivariam no desaparecimento ou em forte redução de sua subsistência como conseqüência de enfermidade, maternidade, acidente do trabalho ou enfermidade profissional, invalidez, velhice e morte, e também a proteção na forma de assistência médica e de ajuda às famílias com filhos” (OIT, 1984).
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Movimento prévioDiagnóstico do sistema • Fragmentação e superposição de ações• Centralização burocrática• Fragilidade das bases de
financiamento• Baixa resolutividade
Debate • Na academia• Nas arenas profissionais
Organização da sociedade
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Princípios da Seguridade CF 88
•Integração•Universalidade•Descentralização•Distributividade
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integraçãoPolíticas sociais (previdência,
saúde e assistência social) integradas
• Gestão integrada – Ministério único
• Eliminação do estigma associado às ações assistenciais
• Redução da natureza securitária da previdência
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universalidade
Direitos sociais de cidadania para todos
Estabelecimento de critérios objetivos para o usufruto de certos direitos
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descentralização
Envolvimento dos entes federativos (União, estados e municípios) na condução das políticas
Mecanismos de participação social e controle, pela sociedade, das decisões
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distributividade
Compartilhamento das receitas estabelecidas constitucionalmente
Financiamento compartilhado de programas contributivos e não contributivos
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Anos 90
Regulamentação dos preceitos constitucionais: desestruturação do modelo de seguridade – Setorialização– Esvaziamento
Inflexão na concepção de política social
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As diretrizes legaisLei Orgânica da Saúde – Lei
8.080 de 19/9/1990Lei do SUS – Lei 8.142 de
28/12/1990Lei 8.812 de 24/7/1991 – Plano
de Custeio da PrevidênciaLei 8.813 de 24/7/1991 – Plano
de Benefícios da PrevidênciaLOAS – Lei 8.742 (7/12/1993)
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A setorializaçãoinstitucional
1990 – criação do INSS; previdência social volta para o Ministério do Trabalho
1995 – recriação Ministério da Previdência e Assistência Social
1993 – extinção do INAMPS; Ministério da Saúde assume a assistência médica
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1990 – extinção da FUNABEM; criação do Ministério da Ação Social (depois Ministério do Bem-Estar Social) e da FCBIA
1995 – extinção do Ministério do Bem-Estar Social; assistência retorna ao MPAS
1999 – criação da SEAS (Secretaria de Estado de Assistência Social)
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2003 – desmembramento do MPAS: MPS e MAPS (Ministério da Assistência e Promoção Social)
2004 – criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
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A especialização das receitas
Principais receitas constitucionalmente estabelecidas para a seguridade social:
• Contribuições de empregadores sobre folha salarial
• Contribuições de empregados sobre salário
• Contribuição sobre faturamento das empresas (COFINS)
• Contribuição sobre lucro líquido (CSLL)• Impostos gerais
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1991 – arrecadação das contribuições incidentes sobre salários pelo INSS/ arrecadação das contribuições incidentes sobre faturamento e lucro pela Receita federal
1993 – suspensão da transferência de recursos da seguridade para a saúde
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1996 – criação da CPMF: arrecadação pela Receita Federal
1998 – EC 20: vinculação estrita das receitas oriundas de contribuições sobre salários ao pagamento de benefícios previdenciários
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2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal: cria o Fundo do Regime Geral de Previdência Social especificando suas receitas
2003 – EC 41: consigna caráter contributivo (contribuições incidentes sobre salários) da previdência social
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O esvaziamento conceitual
EC 20/98 => organização da previdência em regimes:
• RGPS• Regimes própriosO Regulamento da PS (99) =>
seguridade como parte da previdência
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RECEITAS E DESPESAS DA SEGURIDADE SOCIAL (1)
SALDO COM O REGIME DEPREVIDÊNCIA SOCIAL (RGPS)- ANO
2002(Em R$ bilhões de reais)
I -RECEITAS Receita previdenciária líquida (2)
71,03 Outras receitas do INSS (3)
0,36COFINS
52,27Contribuição social sobre o lucro líquido
13,36Concurso de prognósticos
1,05Receita própria do Ministério da Saúde
0,89 Outras contribuições sociais (4)
0 40
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Quadro 1: continuaçãoII - DESPESASPagamento total de benefícios (5) 92,111-Benefícios previdenciários (6) 86,37
.Urbanos 69,10
.Rurais (7) 17,272- Benefícios assistenciais 5,08
.RMV 1,66
.LOAS 3,433- EPU (8) 0,66Saúde (9) 23,08Assistência social geral 0,35Custeio e pessoal do MPAS (10) 2,86Outras ações da Seguridade (11) 2,89Ações do Fundo de Combate à Pobreza (12) 2,13TOTAL DAS DESPESAS 123,42SALDO FINAL 36,31
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Notas do quadro 1Fonte: SIAF/2002 e Fluxo de Caixa do INSS( dados da Previdência) Apud ANFIP,
2003 (1)Receitas e Despesas da Seguridade Social conforme o artigo 195 da C.F. (exclui
PIS/PASEP, FAT, juros, amortizações, etc. Nas receitas das contribuições sociais estão incluídas as de dívida ativa
(2)Receita líquida = Arrecadação bancária + Simples + REFIS + arrecadação CDP + arrecadação FIES + depósitos judiciais - restituições – transferências a terceiros.
(3) Corresponde a rendimentos financeiros, antecipação de receita e outros, segundo o Fluxo de Caixa do INSS.
(4) Referem-se a contribuições sobre o DPVAT (vai para a Saúde), contribuições sobre prêmios prescritos, bens apreendidos (parcela da assistência social).
(5) Referem-se aos benefícios mantidos (previdenciários+ assistenciais + legislação especial).
(6) Exclui RMV por estar em item próprio.(7) Dados preliminares.(8) Encargos previdenciários da União: benefícios concedidos através de leis
especiais, pagos pelo INSS, com recursos da Seguridade Social, e repassados pelo Tesouro.
(9) Inclui ações de saúde do SUS, saneamento, custeio e ativos do Ministério da Saúde.
(10) Pagamentos realizados a ativos do INSS, bem como despesas operacionais consignadas.
(11) ações prestadas em outros ministérios.(12) despesas executadas a partir do segundo semestre de 2001.
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QUADRO 2PREVIDÊNCIA SOCIAL –
FLUXO DE CAIXA – 2002 (em R$ mil)Itens de Receita e Despesa Acumulado
20021. SALDO INICIAL
1.487.5122. RECEBIMENTOS
105.035.0772.1. arrecadação
76.082.251- arrecadação bancária
71.827.576- simples(1)
2.810.330- REFIS (2)
400.258- Fundo Nacional de Saúde (3)
12.900 - Certificados da Dívida Pública (4)
60.059- Fundo de Incentivo ao Ensino Superior (5)
495.168
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Quadro 2: continuação2.5. Transferências da União
5.653.199- Recursos Ordinários
4.823.922- COFINS
12.635.393- COFINS/LOAS
3.438.782- COFINS/ EPU
62.154- Devolução PSS/PASEP
1.049- Recursos Ordinários
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Quadro 2: continuação3. PAGAMENTOS
102.144.2473.1. Pagamentos INSS
97.089.6763.1.1. Benefícios
92.110.1763.1.1.1. previdenciários
88.026.5643.1.1.2. não-previdenciários
4.083.612- EPU T.N.
657.571- LOAS
3.426.041- 3.1.2. Pessoal (9)
3.250.422- 3 1 3 Custeio (10)
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Notas quadro 2(1) Contribuição previdenciária arrecadada e transferida pela União(2) Arrecadação proveniente do Programa de Recuperação Fiscal (Decreto
3.342/00)(3) Dívida dos hospitais junto à Previdência repassada ao INSS através do Fundo
Nacional de Saúde(4) Valor do resgate de CDP junto ao Tesouro Nacional(5) Dívida das universidades junto à Previdência repassada ao INSS através do FIES(6) Débitos recebidos em decorrência de Contrato de Assunção, Confissão e
Compensação de Créditos(7) Retenção de parcela do crédito previdenciário de PJ que ingressam com ações
contra a Previdência(8) Rec. antecipados pelo TN para cobertura de eventuais excessos de pagamentos
sobre recebimentos(9) Reúne pagamentos realizados a ativos, inativos e pensionistas do quadro do
INSS(10) Despesas operacionais consignadas nas seguintes contas: Serviço de Terceiros;
Remuneração Bancária, ECT, Material, Administração e Patrimônio, GEAP (Patronal), DATAPREV, PASEP e Diversos
(11) Rec. recolhidos pelo INSS e repassados a: FNDE (salário educação), INCRA, DPC/FDEP – Marítimo, SDR/MAARA, SENAI, SESI, SENAC, SESC. SEBRAE, SENAR, SEST, SENAT, SESCOOP
(12) O Saldo Final acumulado refere-se ao saldo final do último mês considerado.
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Receita COFINSAlocação de recursos – ano 2000saúde: ......................R$ 07,908
bilhõesprevidência:...... ......R$ 09,173
bilhõesoutras áreas:...... ......R$ 13,616
bilhõesretido no Tesouro: ...R$ 07,937
bilhõestotal arrecadado: .... .R$ 38,634
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Receita CSLL
Alocação de recursos – ano 2000
• Saúde – R$ 2,546 bilhões
• Previdência – R$ 1,979 bilhões
• Outras áreas– R$ 2,456 bilhões
• Tesouro - R$ 1,768
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Consequências do desmonte
• Redução de recursos para o financiamento
• Disputas setoriais por recursos (exemplo EC 29)
• Vilanização da previdência (sistema para incluídos)
• Erosão bases solidárias de sustentação da seguridade
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Seguridade e distributividade
A previdência rural• Cerca de 7 milhões de
benefícios em 2003A situação dos idosos• Famílias com idosos
aposentados => renda 14,8% maior que demais
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Características comuns
• Programas focalizados concebidos para alívio da pobreza, redução de vulnerabilidades e/ou capacitação individual de segmentos específicos previamente selecionados por critérios de desenvolvimento humano
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• Programas criados à margem da estrutura da seguridade social: vinculação direta com Presidência da República e/ou Casa Civil
(só em 2004 o Programa Bolsa Família foi integrado ao MDS)
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Delegação de funções e responsabilidades a organizações não-governamentaisEstabelecimento de parcerias com entes privadosSubordinação de ações locais a diretrizes centralizadas (cadastro de beneficiários, valores dos benefícios, definição de condicionalidades)
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conclusões
Aspectos negativos• Programas focalizados de
inclusão no mercado não alteram a estrutura de reprodução das desigualdades e da pobreza
• Programas assistenciais produzem segmentação da cidadania