tecnologias de convivência com o semiárido transformando sonhos em realidade

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1290 Setembro/2013 Itinga “Alimentar bem era meu sonho, agora posso afirmar que é uma realidade”. Com os olhos cheios de esperança, Dona Lindaura Oliveira e Seu Manoel Ramalho, da comunidade Padre Mário Uzan, município de Itinga, descreve a batalha da família e as dificuldades que enfrentaram, ao longo dos anos, para conseguir água para produção de alimentos. Casados há 21 anos e pais de 03 rapazes (Jarbas, Lucas e José Santos) e 02 moças (Isabel e Marisa) eles contam que a batalha maior sempre foi pela água. Sem ela seria impossível plantar, colher e alimentar toda a família. “Houve um tempo que achei que aqui não daria mais pra sobreviver, só que eu não desisti, fui teimoso e sempre tive a esperança que Deus iria mandar uma solução que mudaria nossas vidas”, relata Sr Manoel. Ele conta que tudo era muito difícil, pegavam água em uma pequena cacimba a 1km da sua propriedade, essa água era sagrada, pois além da sua família, os vizinhos mais próximos também dependiam dela para sobreviver. “Íamos a pé mesmo, a água era carregada na cabeça em vasilhames, e servia somente pra beber, cozinhar e tomar banho. Não podíamos ter o luxo de plantar nada, pois se molhássemos uma plantinha faltava água para o consumo da casa. As poucas plantas que possuíamos no quintal como pé de manga e laranja eram regadas com o resto de água do banho, ou das vasilhas da cozinha”, conta dona Lindaura. Com o passar dos anos a água foi secando, e não havia nem para o consumo da casa. Seu Manoel disse que viveu tempos difíceis, mas como quem nunca perdeu a esperança sabia que mais cedo ou mais tarde a solução viria. Sr Manoel conta que fazia lavouras de milho, feijão e mandioca, mantidas com água das chuvas, só que nem todos os anos elas produziam, tinha ano que a plantação não resistia, acabava perdendo tudo. “Quando isso acontecia era mais difícil ainda, pois quando o ano era bom Estrada percorrida pela família de Sr. Manoel e dona Lindaura para pegar água. Caçimba já em fase final Tecnologias de convivência com Semiárido, transformando sonhos em realidade

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1290

Setembro/2013

Itinga

“Alimentar bem era meu sonho, agora posso afirmar que é uma realidade”. Com os olhos cheios de esperança, Dona Lindaura Oliveira e Seu Manoel Ramalho, da comunidade Padre Mário Uzan, município de Itinga, descreve a batalha da família e as dificuldades que enfrentaram, ao longo dos anos, para conseguir água para produção de alimentos. Casados há 21 anos e pais de 03 rapazes (Jarbas, Lucas e José Santos) e 02 moças (Isabel e Marisa) eles contam que a batalha maior sempre foi pela água. Sem ela seria impossível plantar, colher e alimentar toda a família. “Houve um tempo que achei que aqui não daria mais pra sobreviver, só que eu não desisti,

fui teimoso e sempre tive a esperança que Deus iria mandar uma solução que mudaria nossas vidas”, relata Sr Manoel. Ele conta que tudo era muito difícil, pegavam água em uma pequena cacimba a 1km da sua propriedade, essa água era sagrada, pois além da sua família, os vizinhos mais próximos também dependiam dela para sobreviver. “Íamos a pé mesmo, a água era carregada na cabeça em vasilhames, e servia somente pra beber, cozinhar e tomar banho. Não podíamos ter o luxo de plantar nada, pois se molhássemos uma plantinha faltava água para o consumo da casa. As poucas plantas que possuíamos no quintal como pé de manga e laranja eram regadas com o resto de água do banho, ou das vasilhas da cozinha”, conta dona Lindaura.

Com o passar dos anos a água foi secando, e não havia nem para o consumo da casa. Seu Manoel disse que viveu tempos difíceis, mas como quem nunca perdeu a esperança sabia que mais cedo ou mais tarde a solução viria.

Sr Manoel conta que fazia lavouras de milho, feijão e mandioca, mantidas com água das chuvas, só que nem todos os anos elas produziam, tinha ano que a plantação não resistia, acabava perdendo tudo. “Quando isso acontecia era mais difícil ainda, pois quando o ano era bom

Estrada percorrida pela família deSr. Manoel e dona Lindaura para pegar água.

Caçimba já em fase final

Tecnologias de convivênciacom Semiárido, transformando

sonhos em realidade

de colheita fazíamos farinha pra vender, vendíamos feijão e milho, mas quando não dava nada eu ficava muito desanimado e sem saber como fazer pra comprar alimentos para minha família. E permaneci nessa luta por anos, um ano bom de colheita, outro não dava nada.” conta Sr Manoel.

Em 2005, a vida da família mudou.

Segundo Sr Manoel, as coisas começaram a melhorar quando eles foram contemplados em 2005 com a cisterna de 16 mil litros da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), através do centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica de Turmalina (CAV), pois eles tinham água na porta de casa, e isso pra ele já era um luxo. “Quando ouvi dizer que a Cáritas estava realizando trabalhos de convivência com o Semiárido nas comunidades fui logo querendo saber como funcionava, pois quem sabe meu sonho poderia ser realizado. Já imaginava meu quintal forrado de alface, cheio de hortaliças e já sentia o cheirinho verde no prato, e via minha família alimentando melhor.”relata Sr Manoel.

O sonho concretizado

Em 2011, foram contemplados com uma cisterna-enxurrada, do Programa Uma Terra e duas Águas (P1+2) através da Cáritas Diocesana de Araçuaí, pela ASA. Ele conta que nem dormia a noite de tanta felicidade, pois essas tecnologias apareceram como a luz no fim do túnel, e finalmente puderam fazer uma plantação, que garantisse alimentos para a família o ano todo, sem correr o risco de faltar água para molhar.

“Hoje tenho um quintal onde planto tudo que quero, garanto a alimentação da minha família, dos meus vizinhos, alimento meus pequenos animais com os restos que sobram, e só não vendo mais porque às vezes não dá tempo de chegar à cidade, fica tudo no caminho mesmo.” fala Sr Manoel.

Ele afirma que as ações de convivência com o Semiárido desenvolvido pela Cáritas e pela ASA, devolveram a esperança para dias melhores. Hoje em dia o casal faz lavouras e quando não dá pra fazer a colheita, sabem que têm o quintal que ira garantir para a família a alimentação que eles precisam. Sr Manoel diz que sua motivação, vem da fé, somada com todos que não medem esforços para fazer do Semiárido um lugar pra se viver, e ter água para plantar e colher: é mesmo que ter um sonho concretizado.

Dona Lindaura na horta, que garante a alimentação da família.