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FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE SANTA CATARINA CLARISSA DA ROSA SPINELLO DOS QUADRINHOS PARA A TELEVISÃO. ESTUDO DE CASO: THE WALKING DEAD SÃO JOSÉ, 2011.

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FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE SANTA CATARINA

CLARISSA DA ROSA SPINELLO

DOS QUADRINHOS PARA A TELEVISÃO. ESTUDO DE CASO: THE

WALKING DEAD

SÃO JOSÉ, 2011.

1

CLARISSA DA ROSA SPINELLO

DOS QUADRINHOS PARA A TELEVISÃO. ESTUDO DE CASO: THE

WALKING DEAD

Monografia apresentada à disciplina de Projeto

Experimental II, para o curso de Comunicação

Social com Habilitação em Publicidade e

Propaganda da Faculdade Estácio de Sá de

Santa Catarina.

Professores Orientadores:

Conteúdo: Diego Moreau, Mestre.

Metodologia: Grasiela Schmitt, Especialista.

SÃO JOSÉ, 2011.

2

FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S757q SPINELLO, Clarissa da Rosa.

Dos quadrinhos para a televisão: estudo de caso – The

Walking Dead./ Clarissa da Rosa Spinello. – São José, 2011.

145 f. ; il. ; 31 cm.

Trabalho Monográfico (Graduação em Comunicação Social

com Habilitação em Publicidade e Propaganda) – Faculdade

Estácio de Sá de Santa Catarina, 2011.

Bibliografia: f. 138 – 144.

1. Televisão. 2. Quadrinhos. 3. Violência. I. Título.

CDD 791.43

3

FOLHA DE APROVAÇÃO

4

Dedico este trabalho aos meus pais.

5

AGRADECIMENTOS

Depois de muitas batalhas e corridas de zumbis, conheci muitas pessoas especiais

que me ajudaram a chegar até aqui. Pessoas que nesses quatro anos só acrescentaram tanto na

minha vida pessoal quanto na minha vida profissional.

A minha eterna gratidão aos meus pais, Cleusa e Eddie, que em toda a minha vida

me apoiaram nas minhas escolhas e me deram uma vida cheia de amor e conhecimentos. Cada

um a sua maneira se impulsionaram para que eu chegasse até aqui e me tornasse a pessoa que

sou hoje. Especialmente a minha mãe, por me dar todo o suporte que eu precisada nos

momentos de nervosismo e estresse durante a minha faculdade.

A minha família por sempre me incentivarem em tudo que eu faço. Principalmente

ao meu avô, João Carlos, que infelizmente não está aqui para presenciar esse momento tão

importante na minha vida.

Agradeço ao meu namorado, José Jorge, por me aguentar nesses seis meses de

correria, em nenhum momento deixou eu me abalar e desistir dos meus sonhos. Por estar

sempre presente nos momentos mais importantes para mim, tendo paciência nos momentos

que estive ausente por conta do desenvolvimento deste trabalho e por me apoiar na minha

louca idéia de falar de zumbis.

Aos meus amigos que conquistei durante a faculdade.

Ao meu querido Bat-orientador Diego Moreau, que embarcou a minha idéia desde o

começo me ajudando e norteando para que eu fosse capaz de realizar este trabalho. Ele me

apoiou e atendeu sempre que eu buscava pela sua ajuda. Ainda seus elogios que só me

fizeram seguir em frente, fazendo dele uma pessoa muito importante para mim.

A minha professora de metodologia, Grasiela, por me dar tanta atenção, corrigindo

meu trabalho nos mínimos detalhes fazendo dele o mais perfeito possível.

A Robert Kirkman por criar uma história tão fascinante e envolvente me dando um

super assunto para estudar e Frank Darabound por dar vida a esses personagens maravilhosos

que vivem nesse mundo apocalíptico.

E ao meu querido Xbox por me proporcionar momentos de relaxamento e

divertimento em meio a tudo isso.

6

“É uma verdade universalmente aceita que um zumbi,

uma vez de posse de um cérebro, necessita de mais

cérebros”.

Seth Grahame-Smith

7

RESUMO

A primeira vez que se ouviu falar sobre zumbis foi em um pequeno artigo jornalístico

produzido por Lafcadio Hearn, que o intitulou de “The Country of the Comers-Back”, ou

traduzindo “A terra dos que voltam”. Mas foi com o livro “A Ilha da Magia” de Willian

Seabrok que os zumbis viraram uma febre nos EUA. O filme White Zombie (1932) de Victor

e Edward Halperin foi a produção que trouxe a fama para esses monstros, porém como muitas

pessoas não tinham grandes conhecimentos sobre o assunto, os mortos-vivos chegaram a ser

deixados de lado por muitos anos. Até o lançamento do filme de George Romero, “A Noite

dos Mortos-Vivos” em 1968. Esta produção foi a referência de praticamente todas as obras

produzidas até agora sobre zumbis. Dando interesse e criatividade a Robert Kirkman para

criar a série de histórias em quadrinho, The Walking Dead. A HQ traz a realidade de um

grupo de pessoas que tenta sobreviver ao apocalipse zumbi. Sendo focada especialmente no

dia-a-dia dos sobreviventes, em como é a vida depois que a infestação já havia se espalhado

pelo mundo. Ele aborda assuntos éticos e morais de até que ponto o ser humano é capaz de ir

para se proteger e a quem ama, mostrando que o homem pode ser mais perigoso do que os

próprios zumbis. O estudo tem como objetivo identificar as adaptações que foram feitas para

que se conseguisse levar a história de Kirkman para a televisão, levantando os aspectos que

foram relevantes e os que foram deixados de lado, se tornando a primeira série de longa

duração sobre zumbis. Sendo dirigida por Frank Darabound que teve toda a sua inspiração

não só na HQ, mas também no clássico de Romero. Para a comprovação do estudo foram

utilizadas as pesquisa exploratórias, bibliográficas e descritiva, além do uso da técnica de

observação não-participante, abordagem qualitativa e o método indutivo que possibilitaram a

resposta do problema de pesquisa.

Palavras-chave: Zumbis. Violência. Televisão.

8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1: Processo de comunicação .................................................................................... 19

Ilustração 2: Estereótipos dos quadrinhos ................................................................................ 31

Ilustração 3: Linhas e iluminação: estereótipos dos quadrinhos .............................................. 31

Ilustração 4: Uma das histórias de Yellow Kid publicadas no New York Journal .................. 32

Ilustração 5: Selo comemorativo, lançado em 1995 nos EUA, com Dick Tracy de Chester

Gould ........................................................................................................................................ 34

Ilustração 6: Capa da Action Comics 01. A estréia do Superman nos quadrinhos .................. 35

Ilustração 7: Surge o Cavaleiro das Trevas: Batman de Bob Kane .......................................... 37

Ilustração 8: Capitão América dando um soco em Hitler ......................................................... 38

Ilustração 9: O aparecimento do novo Flash ............................................................................ 41

Ilustração 10: O Homem-Aranha ............................................................................................. 43

Ilustração 11: White Zombie de 1932 ...................................................................................... 55

Ilustração 12: Olhos de Lugosi – White Zombie. ..................................................................... 56

Ilustração 13: Shot in the Rick - The Walking Dead ................................................................ 62

Ilustração 14: Zombies in Caffeteria – The Walking Dead ...................................................... 63

Ilustração 15: Don't open - The Walking Dead ........................................................................ 64

Ilustração 16: Garota da bicicleta - The Walking Dead ........................................................... 67

Ilustração 17: Hot Bath - The Walking Dead ........................................................................... 68

Ilustração 18: Gunshot - The Walking Dead ............................................................................ 70

Ilustração 19: God forgive us - The Walking Dead.................................................................. 72

Ilustração 20: Rick e Glenn - The Walking Dead .................................................................... 74

Ilustração 21: Hey, dumass! - The Walking Dead.................................................................... 75

Ilustração 22: Welcome to my world - The Walking Dead ...................................................... 76

Ilustração 23: Rick's ring - The Walking Dead ........................................................................ 78

Ilustração 24: She love's mermaid - The Walking Dead .......................................................... 80

Ilustração 25: Walkers – The Walking Dead............................................................................ 82

Ilustração 26: Merle and zombies - The Walking Dead ........................................................... 85

Ilustração 27: Family - The Walking Dead .............................................................................. 86

Ilustração 28: Rick and Lori - The Walking Dead ................................................................... 88

Ilustração 29: Dale and Rick - The Walking Dead ................................................................... 90

Ilustração 30: Zombie - The Walking Dead ............................................................................. 92

9

Ilustração 31: Zombie 2 - The Walking Dead .......................................................................... 94

Ilustração 32: Shane and Ed - The Walking Dead.................................................................... 96

Ilustração 33: Merle's Hand - The Walking Dead .................................................................... 97

Ilustração 34: Rick and Glenn in Atlanta - The Walking Dead ................................................ 99

Ilustração 35: Carl -The Walking Dead .................................................................................. 101

Figura 36: Amy's death - The Walking Dead ......................................................................... 102

Ilustração 37: Daryl - The Walking Dead .............................................................................. 104

Ilustração 38: Surviving - The Walking Dead ........................................................................ 105

Ilustração 39: Shane and Jim - The Walking Dead ................................................................ 107

Ilustração 40: Guns - The Walking Dead ............................................................................... 108

Ilustração 41: Amy's birthday - The Walking Dead ............................................................... 109

Ilustração 42: Bite - The Walking Dead ................................................................................. 110

Ilustração 43: Rick Shooting - The Walking Dead................................................................. 111

Ilustração 44: Amy's death - The Walking Dead .................................................................... 111

Ilustração 45: Dale and Andrea - The Walking Dead ............................................................ 113

Ilustração 46: Jim's death - The Walking Dead ...................................................................... 114

Ilustração 47: Zombie bited - The Walking Dead .................................................................. 115

Ilustração 48: Amy and Andrea - The Walking Dead ............................................................ 117

Ilustração 49: Target - The Walking Dead ............................................................................. 119

Ilustração 50: Bye Jim - The Walking Dead .......................................................................... 120

Ilustração 51: Transmission - The Walking Dead .................................................................. 121

Ilustração 52: Jenner - The Walking Dead ............................................................................. 122

Ilustração 53: CDC - The Walking Dead ............................................................................... 123

Ilustração 54: Save - The Walking Dead ................................................................................ 125

Ilustração 55: Brain zombie - The Walking Dead .................................................................. 128

Ilustração 56: Shane and Jenner - The Walking Dead............................................................ 129

Ilustração 57: Explosion - The Walking Dead ....................................................................... 130

Ilustração 58: Shane's death - The Walking Dead .................................................................. 132

Ilustração 59: The Walking Dead ........................................................................................... 135

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................ 12

1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 13

1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 13

1.2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 13

1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 13

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ....................................................................................... 14

2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 16

2.1 COMUNICAÇÃO .............................................................................................................. 16

2.2 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO .............................................................................. 18

2.2.1 Comunicação verbal ...................................................................................................... 20

2.2.2 Comunicação não verbal ............................................................................................... 22

2.3 COMUNICAÇÃO DE MASSA ......................................................................................... 23

2.3.1 Meios de comunicação de massa .................................................................................. 24

2.4 TELEVISÃO ...................................................................................................................... 25

2.5 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS ..................................................................................... 29

2.5.1 História das histórias em quadrinhos .......................................................................... 32

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 46

4 ANÁLISE DE DADOS ........................................................................................................ 50

4.1 VOLTANDO DOS MORTOS ........................................................................................... 50

4.2 HOLLYWRAAAAAR ....................................................................................................... 54

4.3 UM BANQUETE PARA SEU CÉREBRO ....................................................................... 60

5 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 136

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 138

ANEXO A – Declaração de responsabilidade .................................................................... 144

11

1 INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje as Histórias em Quadrinhos estão ganhando cada vez mais destaque

em livrarias, conquistando novos adeptos e fãs desse meio. Mas este cenário nem sempre foi

assim.

De acordo com Moreau (2007), os quadrinhos sofreram muito preconceito por serem,

por décadas, vendidos a preços baixos e em qualquer banca de revistas. Nos EUA, seu país

criador, eles são chamados de Comics, sendo vistos como quadrinhos humorísticos e para

crianças, o que o desvalorizava ainda mais. Foi ainda necessário à criação de uma nova

categoria, chamada Graphic Novel para classificar os quadrinhos com temáticas sérias. No

Brasil, ainda é dito como Quadrinhos Adultos, deixando subentendido essa pré-disposição de

se ter quadrinhos como algo para crianças e sem capacidade para produção de conteúdos

relevantes.

Ainda as HQs sendo bem trabalhadas, conseguem quebrar as barreias da escrita,

assim como os livros, e envolver o leitor, dando vida tanto a história quanto aos personagens

nela envolvido, fazendo a mesma ganhar sentido.

Elas veem provando o contrário, que podem ter muito conteúdo e criatividade, a

partir do momento que Hollywood as busca para adaptar nas as telas.

De acordo com dados da revista Mundo Estranho, em 1968, quando George A.

Romero filmou o clássico A Noite dos Mortos-Vivos, os zumbis viraram uma grande febre,

dando origem a diversos livros, filmes e historias em quadrinhos, e mais recentemente a séries

de televisão.

Assim, em 2003 surge, escrito por Robert Kirkman, a série de quadrinhos The

Walking Dead, pela editora „Image Comics‟.

Ele conta a história de Rick, um policial que foi alvejado durante um turno de

trabalho e acaba entrando em coma. Ao acordar, percebe que as coisas já não são mais as

mesmas, o mundo mudou. As pessoas estavam diferentes, rastejavam procurando por um

delicioso cérebro por todo canto. Desesperado, Rick vai até sua casa, em busca de sua esposa

e filho, mas nada encontra, a não ser uma casa revirada e saqueada. Mas apesar dos fatos não

perde as esperanças e começa uma luta pela sobrevivência num mundo que cheira a morte.

Tema que virou febre rapidamente, a série e os quadrinhos retratam o mundo após o

“dia Z” e a vida dos que sobreviveram, do que elas são capazes de fazer e das decisões que

podem vir a custar uma vida.

12

Além da clara carnificina que é retratada na série, existem pontos importantes que

são relatados no decorrer da história, como os conflitos relacionados à busca incessante pelo

poder, traição conjugal, tentativas de sobrevivência, dentre outras questões que podem levar

os temas a discussões sociais.

Os zumbis, hoje, fazem parte da vida das pessoas, e mesmo que os achem nojentos,

ainda sim insistimos em ver características deles dentro da sociedade. O assunto está tão

presente na vida real, que órgãos de influência como o Centro de Controle e Prevenção de

Doenças (CDC), dos EUA, andaram falando sobre eles (como uma brincadeira) com certo

toque de seriedade, caso o apocalipse realmente viesse a acontecer.

Este projeto consiste em apresentar uma revisão crítica sobre a adaptação do mundo

lúdico das histórias em quadrinhos para a televisão, com ênfase na análise minuciosa da obra

literária e televisiva, The Walking Dead – Days Gone Bye e The Walking Dead,

respectivamente, no intuito de verificar a existência de paralelos entre a HQs e a série, ainda

evidenciando onde a história sobre a ruptura de sequência.

1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA

Os zumbis são tema de diversos filmes, livros e HQ, mas até então não tinha sido

tema para uma série de televisão. A série de quadrinhos de The Walking Dead, logo quando

foi lançada, não fez tanto sucesso, mas conquistou a população com o seu enredo ao passar do

tempo. Em outubro de 2010, ganhou sua tão esperada versão para série de televisão. Em sua

primeira temporada, possuiu seis episódios contemplando o enredo do primeiro volume do

quadrinho.

A série é baseada na obra de Robert Kirkman, The Walking Dead, e capta todo o

mundo no qual a história em quadrinhos envolve o leitor, seguindo o seu enredo até o final do

sexto episódio, onde é tomado um foco diferente do quadrinho. Assim a pergunta da pesquisa

será: Como se deu a adaptação do universo dos quadrinhos para séria de televisão The

Walking Dead?

13

1.2 OBJETIVOS

Neste capitulo serão apresentados os objetivos que justificaram a escolha do tema

que será abordado e toda a pesquisa realizada para este trabalho. Seguindo uma linha lógica

onde as informações estudadas servirão de base para o objeto de estudo.

1.2.1 Objetivo geral

Analisar a adaptação do universo e da linguagem de The Walking Dead dos

quadrinhos para a série de televisão.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Realizar o levantamento do surgimento da lenda dos zumbis;

b) Levantar a trajetória dos zumbis por Hollywood;

c) Realizar um resumo das obras, abordando seus pontos divergentes;

d) Analisar do ponto de vista semiótico, a adaptação do quadrinho para a série de

televisão The Walking Dead;

1.3 JUSTIFICATIVA

A história em quadrinhos, The Walking Dead, conta a história de um grupo de

pessoas que tenta sobreviver num mundo que é infestado por zumbis. Mostra o universo

imaginário de como seria após um apocalipse zumbi, além disso, também trabalha assuntos

fortes baseados em conflitos sociais que podem levantar críticas sociais ao decorrer da

história.

14

Assim, a série, trazida pela FOX, ao Brasil, foi considerada de grande sucesso no ano

que foi lançada e possui apenas seis episódios, que formam a primeira temporada.

Para a acadêmica, que é fã de histórias em quadrinhos e séries de televisão, visualizo

ótima oportunidade de falar sobre um tema novo atual e dinâmico que envolve duas de

grandes paixões. Ainda a possibilidade de tratar sobre temas cotidianos e valores reais,

levados para um contexto diferente do que estamos acostumando vivenciar, traçando um

paralelo com o crescimento do meio HQ.

Os quadrinhos estão sendo vistos como um meio em ascensão, eles tendem a ganhar

cada vez mais força dentro do mercado, não apenas com o público geek, mas com toda a

população. Tendo em vista que, diversas histórias já foram adaptadas para as telas, fizeram

com que os quadrinhos ganhassem força, sucesso e reconhecimento em pouco tempo. Visto

que as HQs e as séries de televisão são dois meios em ascensão, são ótimos objetos de estudo,

que poderão ser mais aproveitados como mídias, pelo ponto de vista publicitário.

O tema trabalhado é visto como importante para a sociedade, pois possibilita o

conhecimento de novos assuntos e culturas. Traz o mundo lúdico dos quadrinhos e ajuda

também a transformar as HQs em um meio com maior visibilidade no mercado.

Sabendo que os quadrinhos ainda sofrem muitos preconceitos por serem vistos como

algo para crianças, o trabalho se torna relevante quando trata de mostrar como essa

visibilidade que a televisão consegue transmitir sobre programa traz credibilidade ao meio em

questão.

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho será constituído em cinco capítulos, que se completaram ao longo deste

processo.

Neste primeiro capítulo é realizada a introdução, onde é exposto um breve texto para

apresentar o tema que será trabalhado ao longo dos próximos tópicos, o tema da pesquisa que

será abordado, neste trabalho, da história em quadrinhos The Walking Dead e o problema

proposto que será a analise da adaptação da HQs para a televisão. Ainda serão apresentados

os objetivos (geral e os específicos) que serão estudados, além da justificativa pelo tema e a

estrutura que o mesmo possuirá.

15

O segundo capítulo é feito o embasamento teórico com uma revisão de literatura,

servindo de suporte e subsidio para o desenvolvimento do estudo. Serão abordados conceitos

de comunicação, como funciona o seu processo, significados, formas de se comunicar

(comunicação verbal e não verbal), os meios de comunicação de massa, focando em televisão

e meio impresso (quadrinhos).

No terceiro capítulo são evidenciados os procedimentos metodológicos usados para a

realização dos capítulos 2 e 4, com o intuito de apresentar de que maneira foram obtidas as

informações necessárias para a construção da revisão de literatura e da análise do objeto.

No quarto capítulo, chamado de analise de dados, será onde o acadêmico apresentará

a analise realizada sobre o problema proposto, assim realizando pesquisas sobre as histórias

de terror e a sua entrada na cultura americana.

No quinto e último capítulo é apresentada a conclusão do estudo, onde se pontuam as

repostas para o problema e os objetivos sugeridos para este trabalho, além de sugerir temas

para pesquisas futuras.

16

2 REVISÃO DE LITERATURA

O tema proposto trabalha dois tipos de mídia pouco explorados no mundo da

publicidade, porém hoje as histórias em quadrinho vêm ganhando um espaço maior dentro da

sociedade. Assim as séries de televisão também estão cada vez mais fortes, utilizando de

historias com temas polêmicos e interessantes, conseguem atingir não apenas o público para o

qual a HQ foi escrita, mas sim uma fatia do mercado que não é adepta a esse meio.

Para iniciar o estudo relacionado às adaptações dos quadrinhos para as telas, é

necessário entender o funcionamento da comunicação relacionada aos meios envolvidos na

análise.

2.1 COMUNICAÇÃO

A comunicação sempre se encontra presente na vida dos seres humanos de todas as

formas possíveis, mesmo que muitas vezes não veja percebida. Ela é praticada pelos homens

desde os tempos das pré-escolas, onde as crianças são estimuladas a utilizar dos desenhos para

se expressarem melhor.

Comunicação vem no latim communis, comum. Quando comunicamos, procuramos

estabelecer uma “comunidade” com alguém. Vale dizer que, estamos nos esforçando

por oferecer participação numa informação, numa ideia ou numa atitude. Neste

momento, procuro comunicar a vida a ideia de que a essência da comunicação é

obter receptor e emissor “sintonizados” em relação a determinada mensagem.

(SCHRAM, 1955 apud PENTEADO, 1986, p. 33, grifo do autor).

É visto que toda comunicação tem como objetivo transmitir uma mensagem, mas sua

meta principal é persuadir o receptor. Segundo Berlo (1999), a comunicação é conceituada

dentro do dualismo em que ela se baseia. Mente-alma são alvos na hora de comunicar algo,

um lidando com a natureza intelectual e o outro com o emocional. Sem a prática da

comunicação as pessoas viveriam em um mundo fechados em si mesmos, mas devido à

comunicação é possível compartilhar experiências, pensamentos, sentimentos, sabedoria, de

toda a realidade onde estamos inseridos.

Partindo desse princípio, Melo (1998, p. 20, grifo do autor) diz que a comunicação:

17

é o estudo do comunicador, suas intenções, sua organização, sua estrutura

operacional, sua história, suas normas éticas e jurídicas, suas técnicas produtivas. É

o estudo da mensagem e do canal, seu conteúdo, sua forma, sua simbologia, suas

técnicas de difusão. É o estudo do receptor, suas motivações, suas preferencias, suas

reações, seu comportamento perceptivo. É o estudo das fontes, sua sistemática para

a recuperação de informações. É, enfim, o estudo dos efeitos produzidos pela

mensagem junto ao receptor, a partir das intenções do comunicador.

Assim de acordo com a afirmação de Melo (1998), entende-se a comunicação como

parte vital para a vivência social, sendo que a partir dela as pessoas são capazes de além de se

comunicar, se compreenderem, podendo absorver novas ideias, conceitos, aprender sobre

valores morais, entendendo como funciona a dinâmica do grupo, tudo que foi criado pelo

homem e passado de pessoa a pessoa usando a comunicação como instrumento. Isto é

complementado por Bordenave (1982, p.17) dizendo que “a comunicação foi o canal pelo

qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos, pelo qual aprendeu a ser

“membro” de sua sociedade”.

Partindo deste princípio e seguindo o pensamento de Penteado (1986) compreende-

se que a comunicação é tida através da compreensão de idéias “em comum”. O maior objetivo

é o entendimento entre os homens.

Mas ela necessita ser adaptada ao meio em que é inserida, as características de cada

região deve ser levada em consideração, pois precisa haver um entendimento básico entre

comunicador e receptor. Confirmando o fato pela afirmação de Torquato (2002) onde o autor

cita a importância da fabricação de um carro sendo que é necessário levar em consideração o

gosto dos consumidores de acordo com cada país.

A importância da comunicação é confirmada por Berlo (1999) quando diz que a

comunicação é tão importante que, uma pesquisa realizada entre norte-americanos comuns,

mostrou que 70% do seu tempo livre, é utilizado para se comunicar verbalmente, sendo ela

ouvindo, falando, lendo ou escrevendo, sendo ele que é utilizando cerca de 11 horas diárias

nos comunicando.

Mas é importante salientar que a comunicação ultrapassa a estrutura da comunicação

oral e escrita, segundo o estudo de Vanoye (1998, apud FERNANDES, 2010, p. 18),

“comunicação que pode ser feita de formas não verbais como em desenhos humorísticos

(charges), por exemplo, que muitas vezes a situação ilustrada por si só já é o suficiente”.

Sendo assim, a partir desta explanação sobre o que é a comunicação, é necessário

compreender como ela é composta e como se dá o processo de transmissões de mensagens.

18

2.2 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO

A comunicação depende de um resultado, ela é um efeito obtido através da

transmissão de uma mensagem. Nesse processo sempre há a intencionalidade de partilhar

algo, seja de consenso das partes, ou informações novas que acrescentem o conhecimento a

ambos. Segundo Gomes (1997, p. 13), “[...] vê-se que sempre há alguém (sujeito) que diz

alguma coisa (mensagem) para alguém (o destinatário)”.

Envolve necessariamente pelo menos duas pessoas, aquela que fala (o emissor) e

aquela a quem se fala (o receptor). No processo de comunicação, o significado é

transmitido entre dois participantes. Mas não pode ser transmitido em abstrato, tem

que estar materializado em algum código. (VESTGAARD; SCHRODER, 2000, p.

15).

A partir disso, Berlo (1999) fala sobre a Retórica, onde Aristóteles diz que devemos

olhar para três aspectos da comunicação: quem fala o discurso e a audiência. Assim pode-se

dividir o discurso em três aspectos fundamentais: a) Quem transmite, b) O discurso, c) Quem

ouve.

Uma mensagem não é transmitida por acaso. Há um motivo pelo qual ela foi pensada

e passada. Segundo Penteado (1986), não há um efeito, sem uma causa. É necessário um

estímulo para que o transmissor emita aquela mensagem. A partir disso, ele associa o que o

estimulou, forma a idéia sobre o assunto, levando o indivíduo a uma experiência anterior que

por fim se expressa.

Essa idéia pode ser expressa de diversas formas, de acordo com Vanoye (1998, p. 1):

existem vários tipos de comunicação: as pessoas podem comunicar-se pelo código

Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração,

até mesmo um Estado podem comunicar-se com seis membros por intermédio de

circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas.

Mas é necessário que ambas as partes se entendam para que haja sucesso no

processo. A comunicação humana exige três elementos principais: o transmissor, o receptor e

a mensagem. E o transmissor e o receptor necessitam ter conhecimentos parecidos para

conseguir se entender (SANT‟ANNA, 1998). Para Penteado (1986), a comunicação humana,

se estabelece através de uma compreensão, onde as pessoas expressam as idéias, imagens que

têm em comum, e com o princípio básico de obter o entendimento necessário para que ambos

19

mutuamente possam se comunicar. Pois a comunicação só é pertinente na existência de

símbolos, em alguns casos sons, que tenham um significado em comum para os indivíduos

envolvidos a este processo de se comunicar.

Berlo (1999) descreve como útil e coerente com a opinião de Aristóteles o modelo

Shannon-Weaver com relação ao processo de comunicação humana. Eles afirmam que nos

ingredientes da comunicação se incluem: a) a fonte, b) o transmissor, c) o sinal, d) o receptor

e e) o destinatário.

Tendo conhecimento sobre os elementos da comunicação, segundo Vanoye (1998), o

emissor é aquele que transmite a mensagem para algo ou alguém. É o ponto de partida do

processo. Ainda Berlo (1999) apresenta o emissor como fonte de informações, dado que uma

vez visto que segundo Poiares (1974), “toda comunicação é informação”. Mas ninguém se

comunica sozinho.

É necessária a existência de dois elementos (emissor e receptor) para o processo de

comunicação se completar. O receptor de acordo com Berlo (1999) é como um ouvinte, se

encaixando nas mesmas características descritas pelo modelo feito por Aristóteles. Já Vayone

(1998, p. 2) concluí que:

o receptor ou destinatário é o que recebe a mensagem; pode ser um individuo, um

grupo, ou mesmo um animal ou uma maquina (computador). Em todos estes casos, a

comunicação só se realiza efetivamente se a recepção da mensagem tiver uma

incidência observável sobre o comportamento do destinatário (o que não significa

necessariamente que a mensagem tenha sido compreendia: é preciso distinguir

cuidadosamente recepção de compreensão).

Quando se trata da mensagem, Berlo (1999, p. 30) afirma que “na comunicação

humana, a mensagem existe em forma física – a tradução de idéias, objetivos e intenções num

código, num conjunto sistemático de símbolos”.

Dada a explanação sobre os elementos que compõe a comunicação, vê-se um modelo

básico, dado por Penteado (1986) sobre a cronologia do processo.

Ainda de acordo com Penteado (1986), a comunicação humana depende inicialmente

da atenção. A atenção que o receptor possui ao ouvir os sons que o emissor venha a articular,

Emissor Codificador Mensagem Canal Decodificador Receptor

Ilustração 1: Processo de comunicação

Fonte: Adaptado de Penteado (1986).

20

desperta a atenção de seu cérebro dando a esses sons um significado, que se transformam em

palavras.

Penteado (1986) ainda diz que a comunicação humana, se estabelece através de uma

compreensão, onde as pessoas expressam as idéias, imagens que têm em comum, e com o

principio básico de obter o entendimento necessário para que ambos mutuamente possam se

comunicar, pois a comunicação só é pertinente na existência de símbolos, em alguns casos

sons, que tenham um significado em comum para os indivíduos envolvidos a este processo de

se comunicar.

A partir disto Carvalho (1980) afirma que o código é um conjunto de signos, que

juntos formam uma mensagem. É a combinação de diversos signos que, juntos, fazem sentido

tanto para o emissor, quanto para o receptor.

Desta forma, os signos são base de estudo para o próximo tópico apresentado.

2.2.1 Comunicação verbal

O ser humano utiliza de diversas ferramentas para se comunicar, como foi visto do

tópico anterior, os signos podem ser dos mais diversos. Uma mensagem não precisa ser

necessariamente falada para ser transmitida. De acordo com Bordenave (1982), por muito

tempo houve discussões sobre como se deu o processo de fala humana, uns acreditavam que

vieram de imitações de sons vindos da natureza, outros acreditam que de exclamações

espontâneas como “ai”, quando uma pessoa se fere, seja qual tenha sido a forma, o fato é que

o homem encontrou uma maneira de associar um determinado som ou gesto a uma

determinada ação ou objeto. Fazendo com que surgissem os signos, significados e suas

significações.

De acordo com Vanoye (1998, p. 2) a comunicação pode ser dar de diversas formas:

[...] o canal de comunicação utilizado, pode-se empreender uma primeira

classificação das mensagens:

- as mensagens visuais, que recorrem à imagem (mensagens “icônicas”: desenhos,

fotografias) ou aos símbolos (mensagens simbólicas: a escrita ortográfica);

- as mensagens sonoras: palavras, músicas, sons diversos;

-as mensagens tácteis: pressões, choques, trepidações, etc.;

-as mensagens olfativas: perfumes, por exemplo;

-as mensagens gustativas: temperos “quentes” (apimentado) ou não...

21

Esta afirmação de Vanoye (1998) dá uma noção dos aspectos envolvidos na

comunicação humana, desde a infância aprendemos formas de se comunicar e praticamos

esses ensinamentos diariamente. Segundo Berlo (1999), o comportamento humano perante

esses aspectos são tão comuns e habituais que o homem não percebe o quanto se consegue

manipular as coisas ao redor com o poder da comunicação.

Da comunicação oral, entende-se sua forma morfológica que, segundo Vanoye

(1998):

a comunicação oral „passa‟ do aparelho fonador humano ao ouvido humano. Esta

passagem compreende três aspectos: - um aspecto fisiológico, vinculado ao estudo

da sensibilidade ás variações de frequência (de altura), de intensidade e de

periodicidade das ondas sonoras. Sem entrar em detalhes, diremos que existem

limites, além ou aquém dos quais a percepção fica confusa; -um aspecto

psicolinguístico, vinculado ao estudo da língua enquanto conjunto de segmentos

conhecidos e reconhecidos; receber uma mensagem oral é o mesmo que categorizar

seus componentes gramaticais, semânticos, simbólicos, estilísticos; esta

categorização se dá a partir da cultura e da experiência do receptor, em suma, de

seus hábitos;- um aspecto psicológico, vinculado aos problemas de atenção e de

personalidade. (VANOYE, 1998, p. 211, grifo do autor).

No mesmo entendimento, Berlo (1999) acrescenta que para constituir uma

comunicação verbal é necessário fazer uso de cinco habilidades: duas codificadoras, “a escrita

e a palavra”; duas decodificadoras, “leitura e audição”; e a última não menos importante, e

sim crucial, é o pensamento ou raciocínio, o pensamento é a linha essencial para manter a

codificação de uma mensagem.

Para que se comunicar, às vezes um simples gesto basta, para transmitir a

mensagem desejada. Segundo Dimbley e Burton (1990), a comunicação engloba tudo de

tenha um significado de transmitir ou receber uma determinada mensagem. A linguagem

escrita foi a primeira a ser utilizada pelo homem para transmitir suas mensagens. Tinha-se em

vista que a comunicação oral tinha um problema de alcance, pois ela não se propagava a

grandes distancias. Assim com a invenção da escrita, esse problema foi resolvido, dando mais

importância e significado para as mensagens não verbais.

a linguagem escrita evoluiu a partir dos pictogramas, signos que guardam

correspondência direta entre a imagem gráfica (desenho) e o objeto representado. O

desenho de uma mulher significava isso mesmo, mulher; O desenho de um sol

significava o sol, e assim por diante. Os hieróglifos do antigo Egito são um exemplo

de escrita pictográfica. Chegou um momento em que o homem sentiu-se

demasiadamente limitado pela necessidade de que a cada signo correspondesse um

objeto. Passou então a usar signos não para representar objetos, mas para representar

uma idéia. (BORDENAVE, 1982 p. 26, grifo do autor).

22

Compreendendo o processo de surgimento e adaptações da comunicação verbal se

tornam necessário o entendimento da comunicação não verbal, pois apesar de diferentes, se

acompanham em diversos meios.

2.2.2 Comunicação não verbal

As HQs são uma combinação de comunicação verbal e não verbal. Assim,

Bordenave (1982) tem uma teoria simples, que para usar a comunicação não verbal, é

necessário fazer o bom uso dos olhares, alternar o tom de voz, simular gestos para identificar

uma fala.

No mesmo sentido, Dimbleby e Burton (1990) acreditam que a comunicação não

verbal pode ser uma simples piscadela, trazendo um significado por trás do gesto. Pois um

signo é algo que podemos compreender sem precisar falar sobre.

Portanto, devemos aprender e compreender a larga variedade de significados das

palavras para aplicá-las adequadamente, a fim de comunicar corretamente nossas

intenções. Devemos, de outra parte, escolher cuidadosamente os signos que vamos

utilizar para expressar o que realmente pretendemos. Nem sempre é tão fácil dizer o

que pretendemos. (DIMBLEY, BURTON, 1990, p. 42).

Gestos, toques, imagens sonoras, visuais e até mesmo olfativas e gustativas são

modelos comunicativos não verbais. É impossível falar de comunicação verbal sem

mencionar o não verbal, as duas vivem em união e tanto uma quanto as outras podem

substituir-se ou complementar-se (SILVA, 2006 apud PASTERNAK, 2011, p. 21).

O ser humano consegue processar a mesma mensagem recebida de diferentes formas

de acordo com o modo como ela é transmitida. Complementando Aguiar (2004, p. 25) diz:

[...] criamos sinais que tem significado especial para o grupo humano do qual

fazemos parte. A variedade de línguas faladas no mundo é um exemplo bem

evidente do fenômeno, mas existem outros. O significado que atribuímos às cores é

um deles: se para nós, ocidentais, o vermelho pode significar poder (e o manto do

papa é dessa cor), para algumas culturas africanas, ele está ligado ao luto, pois evoca

luta, sangue, morte.

Vanoye (1998) diz que os artistas modernos perceberam que o público estava

acostumado a procurar explicações das obras em seus títulos, ainda se contentavam em

23

atribuir o mesmo significado para a parte pictográfica. Assim começaram a criar títulos

enigmáticos e ambíguos. A imagem por si só, em muitos casos já se basta, ela é capaz de

transmitir a informação toda de uma vez só, sem precisar de muitas explicações ao receptor,

diferindo assim da fala, que necessita ser explicada por completo (começo, meio e fim)

(ALCURE; FERRAZ; CARNEIRO, 1996).

Sabendo que a comunicação não verbal é formada de signos, Santaella (2001, p. 58),

diz que o signo:

é uma coisa que representa outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como

signo se carregar esse poder de representar, substituir outra coisa diferente dele. Ora,

o signo não é objeto. Ele apensa está no lugar do objeto. Portanto, ele só pode

representar esse objeto de um certo modo e numa certa capacidade.

Em contrapartida, Barthes (2004, p. 42) afirma que “o signo é a união de um

significante e um significado”, dando a comunicação diversos entendimentos para uma

mesma situação.

O entendimento dos conceitos de comunicação verbal e não verbal é importante para

esta análise, pois serve de base para a análise dos meios envolvidos nesta pesquisa. Além de

trazer a relevância da comunicação na sociedade.

Desta forma, feita a explanação sobre as formas de comunicação, pode-se prosseguir

com os estudos dos meios de comunicação.

2.3 COMUNICAÇÃO DE MASSA

Antes de estudar os meios de comunicação, propriamente ditos, mais a fundo,

necessita-se ter um entendimento sobre o que é comunicação de massa, baseando o estudo em

autores capacitados para abordar este assunto.

Para definir o conceito de comunicação de massa, utiliza-se das palavras de Vanoye

(1998), quando ele designa o termo mass media para os suportes materiais das mensagens de

grande difusão, de caráter coletivo. Desta forma Vanoye (1998, p. 264) afirma:

Os mass media constituem-se em sistemas cujos elementos são função:

-do conteúdo da mensagem;

-do objetivo almejado;

24

-do “alvo” visado (entenda-se por “alvo” o destinatário coletivo virtual, pensado e

definido segundo certos critérios)

Complementando a citação do autor, Sant‟Anna (1998) afirma que, a massa pode

incluir pessoas de diversas posições sociais, de diferentes vocações, de variados níveis

culturais e de riqueza, sendo assim heterogêneo e não especifico.

Os meios de comunicação de massa são ferramentas pelas quais as mensagens

chegam à população e se propagam pela sociedade. Para Hohlfeldt, Martino e Fraça (2000), a

comunicação de massa é um fenômeno social, porque apenas através da linguagem é possível

transmitir a um maior número de receptores suas mensagens, e não apenas a somente uma

pessoa.

Dado o entendimento sobre o que a comunicação em massa se faz necessário o

entendimento dos meios que tornam possível o envio de uma mensagem a milhares de

pessoas.

2.3.1 Meios de comunicação de massa

A comunicação de massa tem como sua principal função transmitir uma mensagem

visando um objetivo e um público-alvo. Eles possuem a vantagem de conseguir alcançar um

grande número de pessoas ao mesmo tempo, propagando ao máximo a mensagem desejada.

Desta forma para que elas sejam propagadas, existem os meios de comunicação de

massa, chamados de mass media, no tópico anterior, que fazem este papel, sendo capazes de

ter um alcance a nível nacional (VANOYE, 1998).

De acordo com o estudo de Lévy (2007), é identificado inicialmente, como meios de

comunicação de massa, a televisão, o rádio, a imprensa e o cinema. Cada qual com seu

próprio nível de penetração, pois cada transmite a mensagem de forma única ao receptor.

Uma mensagem a ser transmitida, tem como objetivo alcançar o grande público, sendo

ouvida, vista e lida por milhões de pessoas, cumprindo a sua meta principal.

De acordo com McLuhan (2001, apud RELOÃO, 2010, p. 30), os meios de

comunicação agem como extensões dos sentidos do corpo humano. A televisão e o cinema

são extensões da visão e tato, o rádio da audição, o jornal e revista do tato e o telefone da fala.

25

Conforme os meios de comunicação agregam avanços tecnológicos, eles passam a ser

extensões cada vez mais próximas do cérebro.

De acordo com Sampaio (1999), cada meio possui suas características e

peculiaridades, cobertura geográfica, tecnologia utilizada, difusão, relação com a audiência,

custo para produção, impacto e utilização na publicidade, podendo transmitir a mesma

mensagem, mas de formas diferentes.

Desta forma, Dimbleby e Burton (1990, p. 162) falam que:

[...] além dessa repetição da mensagem, existe também a questão da penetração. As

mensagens de radio podem penetrar diretamente dentro do carro ou dentro de casa,

ou mesmo em um lugar remoto de férias. Folhetos, cartazes e jornais são jogados

embaixo de nossas portas. E com esses objetos, e através deste sistema, chegam as

ideias e as crenças que elas carregam. As mensagens, que nos atingem diretamente,

uma depois da outra, repetidas vezes.

Assim Eco (2000) discute, fazendo o contraponto entre os apocalípticos e os

integrados. Onde os apocalíticos concordam que a cultura de massa como anticultura e não

como forma de educar, ensinar e informar. Em contrapartida Defleur e Ball-Rokeache (1993)

diz que mesmo assim, as crianças ainda passam mais tempo na frente da televisão do que nas

escolas. Dado o entendimento sobre os meios de comunicação de massa, seu poder e alcance.

O item a seguir abordará os dois meios principais desse estudo.

2.4 TELEVISÃO

A televisão é o veículo de comunicação mais utilizado pelos brasileiros, tanto para

informação quanto para entretenimento, sendo responsável por atingir milhares de pessoas

simultaneamente. Desta forma Pinho (2001, p. 199) afirma que “a televisão é o veiculo de

comunicação de maior alcance no Brasil e o meio de informação e entretenimento mais

utilizado pelos brasileiros”.

Ela tem seu surgimento em 1926, mas de acordo com o autor Veronezzi (2002), ela

apenas teve sua massificação algumas décadas mais tarde. Capparelli (1986) afirma que a

televisão pode ser dividida em duas fases, a Fase I, com a implantação da TV Tupi- Difusora

de São Paulo, que se situa entre os anos de 1950 a 1964, tendo seu marco pelo oligopólio da

informação de Chateaubriand, expandindo o alcance do veículo pelos estados do Rio de

Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Nordeste. Assim com o declínio do império

26

Chateaubriand, surge a Fase II, que se dá de 1964 até hoje, sendo esta, marcada pelo

crescimento da Rede Globo, que é o principal grupo de comunicação no Brasil.

De acordo com Bordenave (1982), pesquisas junto a telespectadores mostram que a

televisão em geral, exerce uma série de influências sobre eles, tanto positivas, quanto

negativas. A TV além de difundir notícias, diversão e publicidade, cumpre uma função social

de “escape”, oferecendo uma compensação relaxante para o stress da vida moderna.

“A televisão é o meio mais consumido do planeta. No Brasil, segundo pesquisa

encomendada pela empresa estatal Eletrobrás no ano de 2007, o aparelho televisor está mais

presente nos lares brasileiros do que a geladeira, com uma penetração de 97,1%. Neste

seguimento de mercado, estes números variam rapidamente e é possível que já tenha

acontecido um crescimento destes”. (G1, 2007 apud RÊGO, 2010, p. 55).

A TV é o veiculo, seja por força das suas próprias virtudes técnicas, artísticas,

comerciais e sociais, seja pela incapacidade e limitações naturais que os outros

meios tem, que tem todas as condições para assumir uma posição de proeminência

nacional como veiculo de comunicação. (SANT‟ANNA, 2002, p. 219).

No entendimento de Lupetti (2003), os meios eletrônicos proporcionam

entretenimento à população, que é visto como uma vantagem que estes meios possuem em

relação aos demais, ainda de acordo com os estudos da autora, é a televisão, o meio que mais

exige nível de atenção do seu espectador. O uso da cor, o som e os movimentos, unidos,

chamam a atenção do telespectador.

No que se diz a respeito sobre a programação da televisão, Adorno (2002, p. 8)

explana que:

a televisão tende a uma síntese do rádio e do cinema, retardada enquanto os

interessados ainda não tenham negociado um acordo satisfatório, mas cujas

possibilidades ilimitadas prometem intensificar a tal ponto o empobrecimento dos

materiais estéticos que a identidade apenas ligeiramente mascarada de todos os

produtos da indústria cultural já amanhã poderá triunfar abertamente.

Rincón (2002) analisa que no estudo da televisão, existem duas hipóteses, a negativa,

estudada por autores como Pierre Bordineu e Giovanni Sartori, que explanam o assunto,

sendo a televisão com “o pior mal da civilidade”, afirmando ainda, que a televisão afeta o

modo das pessoas pensarem. Bordineu (1997, p. 38-41, grifo do autor apud Rincón, 2002, p.

22-23), afirma que:

27

a televisão acaba não sendo muito propícia para a expressão do pensamento (porque

é preciso pensar com urgência) (...), a toda velocidade, (então) como é que se

consegue pensar numas condições onde ninguém é capaz de fazê-lo. A resposta é –

pensa-se mediante ideias preconcebidas, ou seja, mediante tópicos (...); a

comunicação é instantânea porque não existe (...); a televisão privilegia os fast

thinkers, que propõem um fast food cultural.

Ainda Sartori (1998 apud RINCÓN, 2002, p. 23) afirma que se assiste à televisão

sem entender, pois ela é uma pura e simples representação visual, produzindo as imagens e

anulando os conceitos atrofiando a capacidade da população de compreender e criticar. Em

contrapartida, Rincón (2002) analisa estudos de pesquisadores como Rey, Fuenzalida e

Martín-Barbero, que explanam a televisão como meio central da comunicação

contemporânea, onde ela quebra os limites do campo cultural, se convertendo o meio em um

centro cultural da sociedade.

Sob a análise de Tamanaha (2006, p. 55), a televisão “é o meio de maior penetração

em qualquer público”. Entre suas vantagens, está a possibilidade de veicular programas em

níveis local, regional e nacional.

Rincón (2002) afirma que a televisão é usada pra entreter, como companhia,

proporcionando descanso e prazer para os telespectadores. Portanto, quando se faz televisão

deve-se pensar nos gostos e preferências das pessoas. Visa-se ganhar a atenção do público, e

fazer da televisão, um dispositivo útil.

Ao contar histórias que respondam as necessidades e expectativas dos públicos (das

audiências), que tragam contexto e informação que permitam ao telespectadores agir

na sua vida cotidiana, que construam mensagens que instiguem o cidadão ativo a

solucionar seus problemas com os recursos que tem à mão, e que criem mensagens

que respeitem a inteligência e a competência de assistir televisão que os

telespectadores possuem. (RINCÓN, 2002, p. 27).

De acordo com Ramos (1995), filmes e telenovelas já dominavam as programações

das emissoras nos anos 70. Buscam-se produções de ficção, pela concorrência de eles

conseguem atingir a níveis nacionais.

Em meados da década de 50, grandes companhias de Hollywood, começam a

produzir séries como Gunsmoke, consolidando a indústria das séries nos Estados Unidos.

Assim a prime time, passa a ser dominada por essas séries, dividida em três gêneros: o drama,

a comédia e a long form (RAMOS, 1995).

Tamanaha (2006, p. 55) cita que a televisão “é fonte de referência e de informação

para a maioria dos telespectadores, que, pelas características culturais e econômicas da

população, não tem acesso a outros meios de comunicação”, o autor diz ainda que “é

28

percebida como um meio „mágico‟ por trazer para dentro do aparelho [...], a imagem, com

movimento e som, de um fato que está acontecendo em outro lugar do mundo”.

Desta forma, Rincón (2002, p. 26) complementa que:

as histórias da tevê vão criando um tipo de “inteligência” nos públicos, uma

compreensão televisiva do mundo da vida. A televisão, por ser um meio de

comunicação de massa, trabalha em base a imagem de massa sobre as temáticas, as

realidades e as pessoas. Nesse sentido, quase todos os personagens televisivos

acabam sendo estereótipos, caricaturas, generalizações, deixando de lado os matizes,

as ambiguidades e sutilezas que sempre existem.

Complementando a citação anterior o autor ainda fala sobre o contra ponto da

televisão, advertindo que as formas estereotipadas, generalizadas, podem vir a compreender

como verdade e realidade para os telespectadores, sendo denominada pelo autor como

“inteligência televisiva”.

O autor, Dizard (2000) mostra que a televisão tem muito a acrescentar na vida das

pessoas, ainda afirma que ela é o meio mais poderoso dentre os existentes. Sampaio (2004, p.

30) concorda com o pensamento de Dizard, falando da superioridade da televisão diante das

outras mídias, e lembrando que “[...] imagens mobilizam mais fortemente a atenção do que os

textos” e ainda afirma que a mesma ajuda a promover a vínculos emocionais com os

telespectadores.

Desta forma Rincón (2002), vê que a televisão é capaz de converter heróis em

pessoas comuns, que traz temáticas novas para falar do dia-a-dia, permitindo reflexão, e

gerando conversar sobre o que significa viver nos dias de hoje.

De acordo com a temática deste trabalho, se faz necessário também uma breve

explanação sobre a televisão por assinatura. A televisão é um veiculo de massa, de grande

audiência, mas em alguns horários e canais, segmenta sua programação para a população.

Segundo Sampaio (1999), em 1994, havia quatro redes nacionais de televisão: Globo,

Bandeirantes, Manchete e SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), e a MTV surgia como a

primeira rede segmentada no país.

Tamanaha (2006, p. 63) a divide em duas visões diferentes. No que diz respeito ao

telespectador, “exige renda e instrução para ser consumida, pois alguns canais, como os de

filmes, são legendados” ainda “é percebida como meio que confere status e prestígio social,

por ser pago e a programação ser em sua maioria internacional”. Oferece uma vasta

segmentação, dividindo-se em canais específicos, filmes, séries, jornalismo, variedades,

esportes, decoração, desenhos animados, etc.

29

Assim, mais do que uma fonte de informação, a televisão por assinatura se torna uma

ferramenta de lazer e entretenimento, Rincón (2002) que afirma que a televisão busca o

entretenimento como proposto, feito com base nas preferências e gostos dos telespectadores.

Agora que se torna possível o entendimento deste meio de comunicação e a sua força

dentro da sociedade é possível realizar o estudo das HQs, que serviram de base para a

produção da série tema deste trabalho.

2.5 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

As histórias em quadrinhos vão muito mais além do que se imagina independente de

idade, classe social e sexo, ela atinge a todos.

Para falar das Histórias em Quadrinhos, é necessário resgatar sua composição. As

HQs são compostas por linguagens verbais e não verbais, neste caso, escrita e imagem. Que

trabalham em conjunto, as partes são feitas para que possam funcionar e transmitir a

mensagem desejada. Desta forma, em entrevista Moya (2010) afirma que:

[...] antes de existir o que nós consideramos hoje história em quadrinhos, existia uma

pré-história em quadrinhos, que seriam as histórias ilustradas. Elas começaram em

1827, com um professor suíço chamado Rudolf Töpffer, que fez as primeiras

histórias ilustradas [...] Ele afirmou que era impossível seguir apenas as ilustrações,

que não faria sentido. Também só ler as legendas não fazia sentido. Precisava existir

as duas coisas ao mesmo tempo [...]

Elas têm sido capaz de influenciar o homem no cinema, na publicidade, na arte e na

televisão. Porém, ainda são desvalorizadas, por serem conhecidas como “coisa de criança”.

“As histórias em quadrinhos são vistas como um produto menor, uma “irmã pobre” das outras

manifestações artístico-culturais produzidas pelo ser humano”. (MOREAU, 2007, p. 8).

Ainda de acordo com o autor citado anteriormente, ele afirma que as HQs são chamadas de

“apenas um produto de cultura de massa” e tem dificuldades de perder este rótulo, pois

mesmo conseguindo espaço, poucas pessoas prestam atenção nelas.

O‟Neil (2005 apud MOREAU, 2007, p. 10) desta forma, exemplifica o que são os

quadrinhos:

30

quadrinhos não são uma coleção de palavras e imagens impressas numa mesma

página (isto é o que os livros ilustrados são). Para ser uma história em quadrinhos,

essas palavras e imagens devem trabalhar juntas da mesma maneira que partes de

uma linguagem trabalham juntas. Pense nos quadrinhos como uma linguagem

formada por dois elementos separados e bastante diferentes usados em conjunto para

transmitir informações.

Assim, Cagnin (1975) explana a maneira em que leitura da escrita e a leitura da

imagem se complementam nas histórias em quadrinhos. A escrita consiste em demonstrar e

explicitar conceitos universais, enquanto o elemento icônico nos remete a representação

artificial da realidade de determinado objeto físico, mantendo a semelhança no real. Desta

forma o roteirista e o desenhista buscam uma linguagem simples, mas de qualidade e

unificada para apresentar em suas criações.

o desenhista e o roteirista começam de mãos dadas, com um objetivo em comum:

Fazer quadrinhos de “qualidade”. O desenhista sabe que, para isso, vai ter que fazer

mais do que cartuns grosseiros. Ele parte em busca de uma arte de qualidade. A

roteirista sabe que não pode ficar só no Uff! Tum! Blam! Ela parte em busca de algo

mais profundo. Em museus e em bibliotecas o desenhista encontra o que busca. Ele

estuda os grandes mestres da arte ocidental, praticando noite e dia. Ela também

encontra o que procura nos grandes mestres da literatura ocidental. Ela lê e escreve

muito, buscando uma voz unicamente sua. Finalmente, os dois estão prontos. As

pinceladas dele são perfeitas, suas figuras...Puro Michelangelo as descrições dela

são impressionantes. Suas palavras fluem como um soneto Shakespeareano. Ambos

estão prontos para dar as mãos de novo e criar uma obra-prima. (MCCLOUD, 2005,

p. 48)

Eco (1970) relata que uma imagem de um estereótipo, independente do ambiente,

utiliza elementos gráficos que respeitam o próprio gênero, sua origem, nos remetendo a uma

lembrança de algo que já nos é familiar. Os estereótipos ajudam com o dinamismo e a

fluência na interação entre personagens-leitores das HQ, uma vez que nesta comunicação há

falta de tempo e/ou espaço para apresentar e desenvolver os personagens. “A imagem ou

caricatura tem de defini-lo instantaneamente”. (EISNER, 2005, p. 22). Assim o leitor leva em

consideração suas experiências pessoais, e consegue interpretar de maneira rápida

informações e características que não estão evidentes no texto, como é exemplificado na

ilustração 2.

31

Ilustração 2: Estereótipos dos quadrinhos

Fonte: Eisner (2005, p. 22 apud JAHN, 2009, p. 17).

De acordo com Eisner (2005, p. 20), “imagens estáticas têm limitações. Elas não

exprimem abstrações ou pensamentos complexos facilmente. Mas as imagens definem em

termos absolutos. Elas são específicas”. Desta forma, Janson (2005, apud JAHN, 2009)

descreve os desenhos de forma que as linhas dão volume à face, iluminação para reforçar os

ângulos e planos para criar profundidade, dando dicas visuais que o autor cria para dar idéia

da personalidade de seu personagem. Podendo ser observado na Ilustração 3.

Ilustração 3: Linhas e iluminação: estereótipos dos quadrinhos

Fonte: Janson (2005, p. 22 apud JAHN, 2009, p. 18).

Partindo desta explanação sobre o que são as histórias em quadrinhos, se faz

necessário o estudo do seu surgimento e a sua influência sobre a vida da sociedade.

32

2.5.1 História das histórias em quadrinhos

As histórias em quadrinhos são adoradas por muitas pessoas por suas histórias de

ficção. Aventura, terror, romance, policial, seja qual for o enredo, são capazes de apaixonar e

encantar quem as lê. A história das histórias em quadrinhos se divide em eras, sendo elas Era

de Platina, Era de Ouro, Era de Prata, Era de Bronze e Era Moderna.

2.5.1.1 Era de Platina

A história se inicia com um menino e seu pijama amarelo. Criado por Richard Fenton

Outcault, nasce o Yellow Kid. Patati e Braga (2006, apud MOREAU, 2007, p.14), afirma que

“ele é quase que universalmente aceito, por pesquisadores e estudiosos, como o primeiro

personagem de histórias em quadrinhos”.

A seguir uma consegue-se visualizar uma imagem do Yellow Kid, o quadrinho

considerado como primeiro modelo de quadrinhos, baseando-se pelos modelos atuais.

Ilustração 4: Uma das histórias de Yellow Kid publicadas no New York Journal

33

Fonte: Moreau (2007, p. 13).

Mesmo com a aceitação de o Yellow Kid ser o precursor dos quadrinhos, Guedes

(2004) escreve que a história das revistas em quadrinhos começou em 1842 com a publicação

de The Adventures of Mr. Obadiah Oldbuck, escrito e desenhado por Rodolphe Töpffer, onde

ele já unia imagens e desenhos sequenciais que formam histórias, chamando seus quadrinhos

de picture story - que poderia ser traduzido como “histórias em retratos” (GUEDES, 2004).

Apesar disto, o garoto e seu pijama amarelo, ganham destaque por ser o primeiro a

utilizar falas em primeira pessoa, igualmente ao que se é utilizado nos dias de hoje.

Apostando na comédia, como estratégias de vendas o The New York World e New

York Journal, começavam a criar mais personagens como Little Nemo in Slumberland e Le

Pieds Nickelés além de produtos relacionados a eles:

na esteira do sucesso do Yellow Kid, que foi publicado em diversos outros jornais,

virou pôsteres e brinquedos, começaram a surgir vários personagens. Em comum,

um olhar crítico e bem-humorado do cotidiano da vida americana. Herdeiros diretos

das charges políticas, esses primeiros personagens captavam a atenção dos leitores

através da identificação direta. (MOREAU, 2007, p. 15).

Porém após um tempo, o gênero da comédia saiu da preferência da população e os

fatores externos e financeiros, começaram a influenciar as histórias dos quadrinhos. Moreau

(2007) explica que, com crescimento do desemprego, depressão e o crack da Bolsa de Nova

Yorque desanimaram os leitores. As piadas que faziam referência ao cotidiano dos

trabalhadores, já se tornavam cansativas e repetitivas. Queria-se algo diferente. Assim neste

contexto chegam às aventuras e os heróis para os quadrinhos.

Moreau (2007) destaca que assuntos como viagens no tempo, espaço sideral e

perseguições começaram a ganham a atenção do público. Patati e Braga (2006) relatam que as

aventuras surgem 1924, com a criação da série Wash Tubbs (Tubinho, no Brasil), de Roy

Crane. Junto com ele, houveram mais alguns heróis como Príncipe Valente, Buck Rogers e

ainda um detetive que é conhecido até hoje, Dick Tracy, trazendo a história do policial

buscava exatamente o que o público queria, a justiça.

nada de pistas, charadas ou brilhantes deduções sherlockianas. Contra vilões sem

moral ou limite, apenas socos e balas resolviam. Tudo o que o público ansiava era

um policial correto, incorruptível e que não descansava até prender os criminosos.

Vale destacar o traço do autor, algo quase infantil, contrastando com o tema pesado

e brutal das tramas. Brutal mesmo, afinal mais de uma vez vilões foram mortos em

tiroteios violentos. (MOREAU, 2007, p. 22).

34

Ainda como cita Moreau (2007, p. 22): “Gould também brindou seus leitores com

inovações tecnológicas que fizeram história, como o rádio-relógio de Tracy, o avô dos

celulares” como pode ser visto na Ilustração 5.

Ilustração 5: Selo comemorativo, lançado em 1995 nos EUA, com Dick Tracy de Chester Gould

Fonte: Moreau (2007, p. 23).

Dick Tracy e mais dois personagens desta fase dos quadrinhos (Tarzan e Buck

Rogers), abriram caminho para a próxima fase dos comics, entrando na Era de Ouro. Ainda de

acordo com Moreau (2007) essas histórias já começavam a sair em revistas próprias.

Desta forma começa uma era cheia de super poderes e histórias épicas entre ficção e

realidade.

2.5.1.2 Era de Ouro

A Era de Ouro dos quadrinhos é marcada pelos super-heróis.

Seu marco inicial se deu com o aparecimento do Superman na capa da revista Action

Comics # 1. Mostrava um ser com super poderes, com uniforme nas cores da bandeira dos

Estados Unidos, mostrando patriotismo, e a sua capa que lhe dava sensação do movimento, o

Superman lutava pela verdade, justiça e o american way. Ele era tudo o que as pessoas

precisavam e tudo que os leitores desejavam. Alguém patriota que lutasse pelo bem e pelo

correto.

35

último sobrevivente do planeta Krypton, o pequeno Kal-El é enviado à Terra em um

foguete por seu pai, o cientista Jor-El. Em sua galáxia, Krypton era banhado por um

sol vermelho. Aqui no nosso sol amarelo, Kal-El ganha incríveis poderes (não tão

incríveis no começo, já que o herói não voava, apenas saltitava entre os prédios).

Siegel e Shuster introduziram o conceito base da identidade secreta, para preservar a

vida do Superman. Nascia Clark Kent, uma vez que o foguete foi aterrissar na

fazenda de um simpático e correto casal do Kansas, Jonathan e Martha Kent.

Honestos, com uma moral bem rígida e extremamente patrióticos, o casal passou ao

pequeno Kal-El toda a base que o faria lutar pela verdade, justiça e o american way.

(MOREAU, 2007, p. 33, grifo do autor)

Porém, não eram todos que acreditavam no potencial do super-herói, de acordo com

Moreau (2007), um dos proprietários da National, Harry Donenfeld, achou a capa ridícula.

Mas o editor Vicent Sullivan acreditava, tanto que, apoiado pela reação dos leitores conseguiu

colocar o kryptoniano de volta à capa, de onde não saiu mais. Desta forma essa edição da

Action Comics #1, surge mostrando o super-herói voando e com um carro sobre a cabeça,

marcando o início da Era de Ouro das HQ e o final da Era de Platina (que tinha começado em

1897 com a publicação do Yellow Kid).

Ilustração 6: Capa da Action Comics 01. A estréia do Superman nos quadrinhos

Fonte: Krensky (2008, p.14).

Assim, o sucesso que o Superman fez com a população, inspirou as editoras a

criarem mais super-heróis, fazendo com que nascessem diversos personagens como: Tocha

36

Humana, Sandman, Capitão Marvel, Spirit, Capitão América e um outro super-herói que seria

tão importante quanto qualquer outro que havia sido criado.

Dentro deste contexto, houve um personagem que ganhou tanto destaque quanto Kal-

El: Batman. Ele não voava, não tinha super força, ou qualquer outro super poder, porém era

mais rápido que uma bala. Ele era humano, um super-herói humano.

Finger trouxe toda uma gama de artifícios que marcaram a história das HQ: a

máscara, ocultando a identidade secreta de um modo mais real que o Superman; os

vilões terríveis, todos buscando derrotar Batman; o quartel-general do herói, no caso

a Batcaverna sob a mansão Wayne; o pupilo, Robin, que nada mais é do que os

jovens leitores para quem Batman ensina como combater o crime; e as mais diversas

ferramentas, como o cinto de utilidade, o batmóvel, o batplano e outros (MOREAU,

2007, p. 38).

Guedes (2004) explica que, quando era criança, Bruce Wayce, vê seus pais sendo

assassinados por um bandido qualquer. Criando sua sede por vingança e justiça, além de ser

guiado por sua determinação, Bruce torna-se um ser quase que sobre-humano, mas que no fim

das contas é “apenas” um homem muito inteligente e um super lutador, sem nenhum tipo de

super poder, como Kal-El.

Desta forma, através de Finger, surge a historia de um personagem, que juntamente

como Superman, se tornam referências na criação de outros super-heróis. Porém, como

explana Moreau (2007), os dois personagens apesar de terem características tão semelhantes,

possuíam personalidades e peculiaridades totalmente diferentes. “Em essência Batman era um

super-herói como Super-Homem, mas diferia em motivação e modus operandi. Se Super-

Homem representava a luz, Batman era as trevas”. (GUEDES, 2004, p. 20, grifo do autor,

apud JAHN, 2009, p. 23).

A Ilustração 7, mostra uma imagem de uma das primeiras aparições do Batman nas

histórias em quadrinhos.

37

Ilustração 7: Surge o Cavaleiro das Trevas: Batman de Bob Kane

Fonte: Edição Fac Símile Editora Abril (apud MOREAU, 2007, p. 36).

Outro aspecto interessante no surgimento de Batman é que, apesar de fazer sua

estréia na Dective Comics #27, de maio de 1939, sua origem só seria apresentada aos

leitores na Dective Comics # 33, sete números após. O suspense deixou o público

enlouquecido. E Batman foi tão marcante que, anos depois, Detective Comics

passou a ser o nome da editora, transformando a National na hoje DC Comics.

(MOREAU, 2007, p. 40)

Mas por mais que o Superman e o Batman tenham sido as referências da Era de

Ouro, eles não eram os mais populares. Este posto pertencia a um herói apelidado pelos fãs,

de Big Red Cheese (Queijão Vermelho), ou o Capitão Marvel.

A trama contava a história do pequeno Billy Batson, um menino que ganha do sábio

Mago Shazam, a sabedoria de um rei bíblico e os poderes de cinco heróis mitológicos. Assim,

quando grita o nome do mago, ele se transformava no Capitão Marvel, onde adquiria a

sabedoria de Salomão, a força de Hércules, a resistência de Atlas, o poder de Zeus, a coragem

de Aquiles e a velocidade de Mercúrio (figuras cujas iniciais formam a palavra SHAZAM).

Com isso, Billy cresce até a forma adulta, ficando pronto para enfrentar o Mal (MOREAU,

2007).

Na Era de Ouro, que acontecia durante a Segunda Guerra Mundial, os personagens

mais patrióticos como Capitão América e o Superman, chegam a lutar contra o os inimigos

dos Estados Unidos. O presidente na época, Franklin Roosevelt, reuniu-se com os criadores

de quadrinhos para pedir que eles mostrassem os super-heróis, lutando contra os nazistas.

38

“Assim, Superman logo começou a derrotar espiões e soldados de Hitler [...]”. (MOREAU,

2007, p. 36, grifo do autor).

O resultado disto foi uma capa exclusiva, o onde Hitler leva um soco do Capitão

América, como mostra a ilustração 8. Assim as histórias das revistas do Capitão América

serviam de motivação e apoio, para os soldados americanos (GUEDES, 2004). Os quadrinhos

deixavam de trabalhar apenas com a ficção, trazendo a guerra como temática e estimulando as

pessoas a se alistar.

Nas páginas, nazistas e seus aliados travavam combates épicos com os personagens,

motivando os fãs, que aos milhares, compravam as revistas e “[...] pouco depois se

alistariam e combateriam na guerra mundial. Um público a quem o Capitão faria

companhia nas trincheiras”. (PATATI, BRAGA, 2006, p. 81 apud JAHN, 2009, p.

22).

Assim, ilustrado na imagem a seguir da capa de uma das edições do Capitão

América.

Ilustração 8: Capitão América dando um soco em Hitler

Fonte: Moreau (2007, p. 47).

Mas com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, os super-heróis começam a

perder o seu espaço entre os leitores. Moreau (2007) explica que, por causa do Presidente

39

Roosevelt e dos criadores das HQs, os personagens acabaram ficando muito ligados a briga

com espiões e nazistas da Segunda Guerra Mundial.

Levando até as vendas do personagem mais famoso na época, Capitão Marvel, a cair

bruscamente. Sendo assim, a Era de Ouro estava sendor encerrada, e dando lugar a uma época

de ficção científica, humor e principalmente o terror, que eram os temas dominantes das

histórias.

2.5.1.3 Era de Prata

Os super-heróis já não atraiam mais a atenção dos leitores, desta forma as editoras

precisavam buscar algo que os estimulassem, novos caminhos para entreter e agrada-los. Os

únicos heróis que sobreviveram ao final da Era de Ouro foram Superman, Batman, Mulher

Maravilha e Capitão Marvel. As editoras se atentavam em assuntos como histórias policiais,

faroeste, bichos falantes e terror (MOREAU, 2007).

Em 1947, de acordo com Guedes (2004), uma tragédia mudou o rumo das HQs

Estados Unidos. Max Gaines havia morrido afogado tentando salvar uma criança.

Ele tinha ajudado a National a virar um império de super-heróis e tinha fundado sua

própria editora, a EC - Educational Comic. Com isto, seu filho, William Gaines, acabou

herdando a editora, porém ele não tinha a mesma experiência para trabalhar com quadrinhos

que seu pai. Então ele mudou o nome da editora para Entertaining Comics (conservando as

iniciais EC) e chamou Al Feldstein como desenhista e editor para trabalharem juntos, assim

como explicam Patati e Braga (2006, p. 92), eles realizaram “os gibis mais cuidadosamente

produzidos da década inteira”.

Os gibis do gênero terror como Tales From the Crypt, The Haunt of Fear, foram

ganhando tanto os leitores, quando as editoras, que já queriam fazer terror. Com o sucesso,

diversas editoras começaram a apostar no gênero que até o momento era o terror. Nas tramas,

assuntos que envolviam monstros, mas também a máfia, a Ku Klux Klan, sexo e violência,

faziam grande sucesso. Porém, essas histórias passaram a ser perseguidas (MOREAU, 2007).

Numa América cada vez mais conservadora, embalada pelo canto reacionário do

Senador Joseph McCarthy e sua caça às bruxas comunistas, não é de se admirar que

aparecesse alguém como o psicólogo Dr. Frederic Wertham e a sua obra The

Seduction of the Innocents. Com base no discurso de achar culpados pelos erros da

sociedade (como já aconteceu com a TV, o rock, o cinema e, recentemente, a

40

internet e o videogame), o tal Doutor lançou sua fúria contra os quadrinhos,

afirmando que eles estavam corrompendo os jovens americanos. Sua campanha

difamatória o levou ao rádio, a programas de TV e a dar palestras em escolas e

universidades, mostrando como as histórias em quadrinhos - principalmente as da

EC - estavam causando a delinquência juvenil pós-guerra. (MOREAU, 2007, p. 59).

O resultado disto foram as editoras começando a infantilizar suas tramas e sofrendo

represálias de pessoas como o psiquiatra Frederic Wertham, que chegou a propor

homossexualidade nos quadrinhos do Batman, e acusar a Mulher Maravilha de ser lésbica.

Moya (1970, p. 72-73) ainda fala sobre um dos trechos do livro escrito por Wertham,

Seduction of the Innocent:

o psiquiatra, ignorando as cifras oficiais a respeito do homossexualismo no Exército

americano, corajosamente preocupa-se com as relações entre Batman e Robin.

„Constantemente eles se salvam um ao outro de ataques violentos de um número

sem fim de inimigos. Transmite-se a sensação de que nós, homens, devemos nos

manter juntos porque há muitas criaturas malvadas que têm que ser exterminadas

[...] Às vezes, Batman acaba numa cama, ferido, e mostra-se o jovem Robin sentado

ao seu lado. Em casa, levam uma vida idílica. São Bruce Wayne e Dick Grayson.

Bruce é descrito como um grã-fino e o relacionamento oficial é que Dick é pupilo de

Bruce. Vivem em aposentos suntuosos com lindas flores em grandes vasos[...]

Batman é, às vezes, mostrado num robe de chambre[...] é como um sonho de dois

homossexuais vivendo juntos.‟ Neste parágrafo não se sabe quem é mais doentio a

respeito do robe de chambre, Bob Kane ou o Dr. Frederic Wertham. Portanto, o

maior perigo já enfrentado por Batman e Robin está representado num robe de

chambre e num vaso de flores. Esses e outros símbolos sexuais ficaram no

subconsciente dos jovens que se pederastizaram nas fileiras das forças armadas

norte-americanas.

De acordo com Guedes (2004), mesmo com a censura, Superman e Batman ainda

faziam sucesso entre os leitores, principalmente depois que os editores decidiram juntam os

dois super-heróis na mesma aventura em julho de 1952, na revista Superman 76#, onde um

descobre a identidade do outro. Moreau (2007) lembra que os autores conseguiram criar

histórias onde o poderoso Superman precisava da ajuda de Batman e Robin.

De acordo com Guedes (2004), Weisinger criou um novo personagem, um super-

herói chamado J´Onn J´Onzz, the Manhunter from Mars, mais conhecido no Brasil como

Ajax, o marciano. Ele fez sua estréia na Dective Comics # 225, em novembro de 1955.

Moreau (2007), explica que muitos pesquisadores americanos dizem que O Caçador de Marte

foi o marco da Era de Prata. Mas, oficialmente, ela só começaria um ano depois, em 1956.

De acordo com Moreau (2007), a Era de Prata teve como seu marco inicial oficial, o

lançamento da revista Showcase # 4, em novembro de 1956. Com ressurgimento do Flash. O

antigo Flash não era do agrado do editor que havia sido escolhido para relançar o personagem.

Julius Schwartz, que já tinha editado a revista do Flash nos anos 40, resolveu remodelar

41

drasticamente o herói. Ele não gostava do que era feito com o personagem e muito menos de

suas roupas, conservando apenas seu nome.

Desta forma ele se transformou em Barry Allen, um cientista da polícia que ganhou

sua velocidade ao ser atingido por um raio e banhado por produtos químicos. Seu uniforme

deixou de ser uma calça azul com uma camiseta vermelha com um raio amarelo que

atravessava a camiseta e um capacete de Mercúrio, entrando um Flash com uma roupa

vermelha e botas amarelas e um símbolo de um raio dentro de um círculo em seu peito.Depois

criaram mais realidades onde até os heróis eram vilões, algo que animava e empolgava os fãs.

(MOREAU, 2007). A ilustração 9 abaixo mostra a capa onde o Flash já aparece com suas

novas roupas.

Ilustração 9: O aparecimento do novo Flash

Fonte: Moreau (2007, p. 63).

Assim, o fato mais marcante da Era de Prata foi o surgimento de uma das maiores e

mais importantes editoras da história dos quadrinhos, a Marvel. Patati e Braga (2006) contém

que a editora estava em busca de histórias diferentes do que já havia sido feito. Desta forma

Stan Lee cria um grupo de super-heróis que não formam apenas uma liga, mas sim uma

família, nascendo assim o Quarteto Fantástico.

42

Moreau (2007) explana sobre suas histórias, o Quarteto Fantástico surge com uma

viagem ao espaço, porém o foguete deles é exposto a uma tempestade de raios cósmicos.

Quando voltam para Terra, após um pouso complicado realizado por Ben, o grupo descobre

que foi afetado pelos raios. Dando a cada um dos quatro integrantes da equipe um poder

especial. Sendo eles Sue Storm, com o poder de se tornar invisível e criar barreiras de campos

de força, o irmão caçula dela, Johnny Storm, com o poder de ficar em chamas e voar, o

cientista Reed Richards, que se tornou o homem elástico, podendo se esticar por quilômetros,

e o piloto Ben Grimm, que se transformou em um ser com uma força imensa. Mas enquanto

para os outros os novos poderes eram uma benção, para Ben era uma maldição, se passando a

ser o Coisa, passou a ter dificuldades para se relacionar com a sociedade pela aparência que

adquiriu.

[...]confluíram através destes Kirby e Lee, muito díspares e tremendamente

complementares, as energias justas e um conceito crucial para todo o mercado norte-

americano de HQ de aventura, de lá até hoje: o de superseres como personagens de

melodrama, por terem toda uma caracterização mais cuidadosamente desenvolvida,

conferindo a todo um estilo HQ de aventura, o de super-heróis, com seus

personagens antes muito rasos, ao menos rudimentos de uma psicologia. (PATATI,

BRAGA, 2006, p. 148-151)

Guedes (2004) relata que depois do surgimento da primeira “família” da Marvel,

Stan Lee cria mais um herói que vem para se tornar um dos mais populares heróis e ainda

servir, assim como o Superman e o Batman, como referência para a criação de diversos outros

heróis. Eis que nasce o Homem-Aranha.

Peter Parker conquistou seus leitores pela identificação. Eles se enxergaram na pele

do menino órfão, criado com dificuldade pelos bondosos tios no bairro Queens, que

da noite para o dia adquire super-poderes ao ser picado por uma aranha radioativa.

(MOREAU, 2007, p. 71).

Da história de Peter surge a frase mais famosa das histórias em quadrinhos. Um

pouco antes de morrer, seu tio Ben lhe diz que “Com grandes poderes vêm grandes

responsabilidades”, fazendo com que Parker se tornasse um legítimo super-herói. Porém a

vida de Paker não era nada fácil, ao contrario dos outros super-heróis o Homem-Aranha é

visto como uma ameaça (MOREAU, 2007).

Guedes (2004, p. 64) afirma que:

de acordo com Goodman o personagem tinha tudo para dar errado: não era rico, era

cheio de complexos e falhas de caráter e nem ao menos era bonito, fisicamente.

Bem, tais tópicos eram o que servia de argumento para Stan Lee. A escolha do

desenhista Steve Ditko foi também de uma inspiração quase divina por parte de Lee,

43

já que, com seu traço simples, porém marcante, Ditko conseguiu transmitir a carga

necessária de mistério e esquisitice ao herói.

Na ilustração 10 a capa da revista demonstra como a história do aracnídeo era

diferente, onde ele é repreendido pelas pessoas, sendo chamado de aberração e ameaça

publicamente.

Ilustração 10: O Homem-Aranha

Fonte: Moreau (2007, p. 68).

Moreau (2007) explica que o sucesso do Homem-Aranha, fez com que Stan Lee

trouxesse novos personagens como Homem de Ferro, Thor O Deus do Trovão, os X-Men,

Hulk, Homem Formiga, e a liga que respondia diretamente a Liga da Justiça da National, Os

Vingadores.

Durante a década de 60 a Marvel não parava de fazer sucesso, suas revistas

continuavam a vender bem e os heróis ganharam desenhos na televisão e novas revistas são

lançadas, como a do personagem preferido de Stan Lee, O Surfista Prateado. Sendo por causa

deste personagem, explica Moreau (2007), que Lee e Kirby se separam.

o Surfista foi a gota d´água na relação Lee/Kirby, como relata Guedes. Há muito

tempo Kirby vinha desgostoso com a atenção que Lee recebia e com as mexidas que

sofria no seu trabalho. Quando Lee passou o Surfista para John Buscema, Kirby

(que tinha criado o Surfista para a história do Quarteto contra o Galactus), achou

demais. (MOREAU, 2007, p. 79).

44

Dando fim a dupla, assim Lee continuou na Marvel e Kirby foi para a concorrente

DC. Este fato associado à morte da namorada do Homem-Aranha, Gwen Stacy, pelas mãos do

Duende Verde, marcaram o final da Era de Prata e início da Era de Bronze. Desta forma os

quadrinhos vão ganhando aventuras com teor mais adulto, perdendo a censura e a

infantilização.

2.5.1.4 Era de Bronze e Era Moderna

Os quadrinhos estavam mudando, elas já traziam super-heróis, com temas mais fortes

como morte, drogas e violência, voltados para um público mais adulto. Moreau (2007) cita

que morte da namorada do Homem-Aranha no final da Era de Prata, desencadeou uma

revolução nos quadrinhos. Da Era de Bronze para Moderna, a década de 80 deixa de fora o

conservadorismo para que pessoas como Alan Moore e Frank Miller criem algumas das obras

mais importantes de todas as eras. Desta forma começam a aparecer personagens como

Watchmen e o O Cavaleiro das Trevas, que são base e referência para tudo que se fez e faz

sobre super-heróis.

Segundo Moreau (2007) o Watchmen, de 1986, surge pelas mãos do escritor

britânico Alan Moore e o desenhista Dave Gibbons. Contando uma história que mostrava

como seria a vida de um super-herói se ele vivesse mesmo entre nós. Envolvendo o leitor uma

trama cheia de polêmicas, filosofia, política e moralidade.

Ainda de acordo com o autor, Frank Miller traz um dos maiores ícones dos

quadrinhos novamente para criar O Cavaleiro das Trevas, resgatando a história do Batman

já com quase 60 anos, aposentado que resolveu voltar à ativa. Mas com medo do que o

Homem-Morcego possa fazer, o presidente americano (personificado pelo então presidente

Ronald Reagan) resolve chamar alguém para traçar limites, o seu velho amigo, Superman.

(MOREAU, 2007).

Isso deixa clara a diferença crucial que existe entre os dois personagens: Superman

um escoteiro, Batman um vigilante. O climax da trama acontece com uma luta de

vida e morte entre os heróis, com Batman dando uma surra no Homem de Aço. O

tom sombrio, a discussão política e a realidade que impregnam a história mudaram

as HQs. O mesmo impacto teve o trabalho Watchmen de Alan Moore, em parceria

com o desenhista Dave Gibbons. Usando de referências os heróis da Charlton (como

Besouro Azul, Questão e Capitão Átomo), misturados com os heróis da própria DC

Comics, Moore criou um mundo real, questionando o que aconteceria se super-

heróis vivessem mesmo entre nós (MOREAU, 2007, p. 90-91).

45

A partir disto, houve uma expansão para o universo dos quadrinhos. Foram criados

selos como Dark Horse, Image (fundadas pelo desenhista Todd McFarlane) e a Vertigo

(criada pela DC), focando nos quadrinhos adultos, possibilitando os escritores de possuir mais

liberdade para criarem suas histórias com conteúdo e qualidade, tendo assim o domínio sobre

os personagens (SOUZA, 2007). Desta forma foi possível à criação de obras como: V de

Vingança, From Heel, Palestina, Calvin e Harold, Gen - Pés descalços, No Coração da

Tempestade, dentre diversos outros títulos que comprovam que as HQs possuem muitos

potenciais e criatividade em cada uma de suas páginas.

O estudo realizado até o presente momento será aprofundado no quarto capítulo,

procurando evidenciar as diferenças na série em relação a história e valores trazidos pelo

quadrinhos e sua adaptação para a televisão.

O capítulo seguinte apresentará a descrição dos procedimentos metodológicos que foram

utilizados para a composição deste trabalho.

46

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo serão apresentados conceitos dos procedimentos metodológicos

utilizados para a construção de cada etapa deste trabalho.

Para Barros e Lehfeld (2007), a definição etimológica do termo parte do princípio

que a palavra metodologia vem do grego: meta, que significa „ao largo‟; odos, „caminho‟;

logos, „discurso‟, „estudo‟. A partir dai acredita que a metodologia é entendida como uma

disciplina que é relacionada à epistemologia, que consiste em estudar e avaliar os métodos

disponíveis.

A metodologia, quando aplicada, examina e avalia os métodos e as técnicas de

pesquisa, bem como a geração ou verificação de novos métodos que conduzam à

captação e ao processamento de informações com vistas à resolução de problemas

de investigação. (BARROS; LEHFELD, 2007, p. 2).

Desta forma, Demo (1987) concorda com a autora afirmando que a metodologia

“trata das formas de se fazer ciência”, cuidando dos procedimentos, das ferramentas e

caminhos utilizados. “A finalidade da ciência é trata a realidade teórica e praticamente”.

(DEMO, 1987, p. 19).

Ainda Fachin (2006) completa o conceito sobre a metodologia afirmando que ela é

um instrumento que proporciona aos pesquisadores, uma orientação geral que facilita o

planejamento da pesquisa, coordenam às investigações realizadas, construir e realizar

experiências e interpretar e analisar os resultados.

Para a composição deste trabalho foi feita uma pesquisa dos autores que estariam de

acordo com o tema proposto. No capítulo 2, Revisão de Literatura, foram pesquisados

conceitos de: comunicação e os elementos que a constituem, também foi abordado os

conceitos signo, significado e significante, aprofundando o estudo da comunicação verbal e

não-verbal. Se tratando da uma análise de uma série de televisão e uma história em quadrinho,

foi necessário resgatar o que é a comunicação de massa e os meios que trabalham desta forma,

ainda houve a necessidade de estudar mais dois temas fundamentais para dar base ao objeto

de estudo: televisão e história das histórias em quadrinhos.

Neste capítulo foram utilizados autores clássicos como Berlo, Vanoye, Bordenave,

Penteado, Saussure e Sampaio. Porém, para constituir a parte de histórias em quadrinhos, o

47

autor principal utilizado foi Moreau, devido ao fato da dificuldade de entrar bibliografias

sobre o tema em questão.

Para construir o capítulo 4 foi necessário cumprir uma série de objetivos específicos

adotados para este trabalho. Assim para realizar o levantamento do surgimento da lenda dos

zumbis foi necessária a utilização do livro “Zumbi, o livro dos mortos”. O qual foi escolhido

por possuir as informações e pesquisas adequadas para discorrer sobre o assunto. O mesmo

acontece ao levantar a trajetória dos zumbis a Hollywood. Porém a utilização de apenas um

autor deve-se ao fato da dificuldade de se encontrar informações sérias e corretas a respeito do

assunto.

Para está etapa do trabalho foram utilizadas as pesquisas exploratória e bibliográfica.

A pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o

problema, com vistas a torna-lo mais explicito ou a construir hipóteses. Seu planejamento

tende a ser bastante flexível, pois há o interesse em considerar os mais variados aspectos

relativos ao fato estudado (GIL, 2010).

“[...] O passo inicial no processo de pesquisa pela experiência e um auxilio que traz

a formulação de hipóteses significativas para posteriores pesquisas. [...] Tais estudos

tem como objetivo familiarizar-se com o fenômeno ou obter nova percepção do

mesmo e descobrir novas ideias. A pesquisa exploratória realiza descrições precisas

da situação e quer descobrir as relações existentes entre os elementos componentes

da mesma”. (CERVO, 2002 p.69).

Tendo em vista esses conceitos, Andrade (2003) complementa afirmando que a

pesquisa exploratória proporciona maiores informações sobre o assunto estudado, facilitando

a delimitação do tema, ajudando a definir os objetivos e descobrir novo tipo de enfoque para o

trabalho, ainda a pesquisa exploratória constitui um trabalho preliminar para outro tipo de

pesquisa.

Ainda para este trabalho foi feita a utilização da pesquisa bibliográfica, que de

acordo com Cervo (2002, p. 65), “procura explicar um problema a partir de referencias

teóricas publicadas em documentos”.

Desta forma Gil (1991, p. 48) afirma que:

a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído

principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos

seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas

exclusivamente a partir de fontes bibliográficas.

48

De acordo com Fachin (2006), a pesquisa bibliográfica é uma fonte inesgotável de

informações, auxiliando nas atividades intelectuais e contribui para o conhecimento cultural

em todas as formas de saber, complementando Gil (2010 p. 29) quando afirma que, “em

virtude da disseminação de novos formatos de informação, estas pesquisas passaram a incluir

outros tipos de fontes, como discos, fitas magnéticas, CDs, bem como o material

disponibilizado pela internet”.

A análise da adaptação será feita a partir de dois objetos de estudo, uma revista em

quadrinhos e uma série de televisão, os quais serão observados e analisados para se traçar um

paralelo entre as duas histórias, identificando os pontos mais importantes. Ainda haverá a

utilização de um DVD de apoio para uma melhor análise.

Assim é possível utilizar a técnica de observação simples ou não participante, assim

Marconi e Lakatos (2006) afirmam que neste tipo de observação, o pesquisador entra em

contato com a realidade estudada, mas sem integrar-se a ela. Ele apenas participa do fato, mas

não possui participação efetiva ou envolvimento, age com um espectador. Ainda Barros e

Lehfeld (2000) complementam que o neste tipo de observação o observador permanece de

fora da realidade estudada, a observação é feita sem interferências na situação.

Desta forma a “observação não-participante: o observador deliberadamente se

mantén na posição de observador e expectador, evitando se envolver ou deixa-se envolver

com o objeto da observação”. (CERVO; BERVIAN 2002, p.28, grifo do autor).

Para análise dos dados coletados foi utilizado à abordagem qualitativa.

Para Goldenberg (2000, p. 17):

os dados qualitativos consistem em descrições detalhadas de situações com o

objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos. Estes dados não

são padronizáveis como os dados qualitativos, obrigando o pesquisador a ter

flexibilidade e criatividade no momento de coletá-los e analisá-los.

Neste tipo de abordagem, segundo Raupp e Beuren (2003), desenvolvem-se

análises aprofundadas relacionando os detalhes que envolvem o ambiente do objeto estudado.

Assim Oliveira (2007, p. 37) conceitua pesquisa qualitativa ou abordagem

qualitativa como sendo “um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização

de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto

histórico e/ou segundo sua estruturação”.

Já para a descrição da análise dos dados coletados, foi feito o uso da pesquisa

descritiva, que de acordo com Cervo (2002, p. 66) “a pesquisa descritiva observa, registra,

49

analisa e correlaciona atos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”. Desta forma, o

conceito para elas e complementada por Gil (2010 p. 27) quando afirma que as pesquisas

descritivas têm como objetivo principal a descrição das características de determinada

população, elas também podem elaboradas com a finalidade de identificar possíveis relações

entre as variáveis.

Desta forma, Barros e Lehfeld (2007, p. 84) concluem que “Neste tipo de

pesquisa, não há interferência do pesquisador, isto é, ele descreve o objeto de pesquisa.

Procura descobrir a frequência com que um fenômeno ocorre, sua natureza, características,

causas, relações e conexões com outros fenômenos”.

Diante de todas as etapas apresentadas anteriormente é possível observar o uso do

método indutivo, pois por meio delas foi possível responder o problema de pesquisa que é

analisar de que forma foi realizada a adaptação feita para a HQ The Walking Dead, quais

foram os pontos de que diferem os dois meios utilizados para trazer a mesma obra.

Assim, Andrade (2003, p. 131) explica que, “na indução percorre-se o caminho

inverso ao da dedução, isto é, a cadeia de raciocínio estabelece conexão ascendente, do

particular para o geral”. Ainda “O argumento indutivo baseia-se na generalização de

propriedades comuns a certo número de casos, até agora observados, a todas as ocorrências de

fatos similares que se verificam no futuro”. (CERVO, 2002 p. 32).

Portanto, de acordo com Lakatos (2006, p. 53) “o objetivo dos argumentos é levar

a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se

basearam”.

Portanto, após explicar os caminhos percorridos para a conclusão deste estudo, na

sequência, apresenta-se a análise dos dados obtidos.

50

4 ANÁLISE DE DADOS

Após a fundamentação teórica que embasará o tema deste trabalho, neste capítulo

será feita a análise da história em quadrinhos The Walking Dead, escrita por Robert Kirkman,

traçando um paralelo entre ela e a série de televisão, The Walking Dead trazia pela AMC em

parceria com a FOX, feita a partir da adaptação da HQ em questão.

Para chegar neste ponto, será contextualizado, com base na obra de Jamie Russell,

“Zumbis o livro dos mortos”, o surgimento da lenda dos zumbis, sua trajetória até ao mundo

de Hollywood, ainda uma busca pelos bastidores da criação da série e da história em

quadrinhos, para enfim chegar ao ponto principal.

4.1 VOLTANDO DOS MORTOS

Os zumbis, assim como vampiros e lobisomens fazem parte do imaginário da

população. São inúmeras as lendas que são contadas pelo mundo sobre o surgimento desses

seres andantes sem vida. Eles intrigam as pessoas pela sua aparição e sua razão de existência,

mas há algo que todos sabemos: sua mordida é fatal.

Foi em 1889 a primeira aparição dos zumbis num pequeno artigo feito pelo jornalista

e antropólogo Lafcadio Hearn, que o intitulou de “The Country of the Comers-Back”, ou

traduzindo “A terra dos que voltam”.

Em 1887, Hearn fez uma viagem ao Caribe buscando conhecer um pouco mais sobre

a cultura daquele lugar, quando se deparou com uma lenda em particular que havia lhe

chamado a atenção, a história dos corps cadavres ou mortos que caminhavam. Porém

sempre que buscava uma explicação sobre esses seres, os nativos não eram muito receptivos a

falar sobre o assunto. Ainda, quando encontrava pessoas dispostas a falar algo, recebia

respostas confusas e mal articuladas, que o deixava mais curioso (RUSSELL, 2010).

sem conseguir chegar ao cerne do mistério em torno dos corps cadavres, Hearn

voltou aos Estados Unidos com pouco a oferecer à Harper‟s Magazine, fora um

relato colorido de suas viagens. Embora uma menção do zumbi tenha sido suficiente

para garantir que ele estaria entre os primeiros ocidentais a popularizar a ideia dos

mortos-vivos, ficaria a cargo de outro e distinto escritor trazer o zumbi à atenção do

mundo. (RUSSELL, 2010, p. 24 grifo do autor).

51

Desta forma, em 1928, o jornalista William Seabrook, viaja para o Caribe, no Haiti,

agora apelidada de a “capital vodu”, a fim de saber sobre tudo que envolvia as superstições

que rodavam o Haiti, a sua cultura e aprofundar-se ao máximo nos mistérios sobre os zumbis.

Seabrook tinha sua fama formada pelos seus livros de não-ficção, “a prosa concisa de

Seabrook, unida pelo seu desejo insaciável de provar todo o aspecto incomum das culturas

que visitava”. (RUSSELL, 2010, p. 24). Isto fazia com que seus livros obtivessem grande

sucesso entre os norte americanos.

Seabrook tinha disposição e dedicação o bastante para fazer todo material que

conseguisse para que entretivesse, chocasse e horrorizasse seus leitores. Ele era conhecido

como um aventureiro destemido e um tanto quanto incomum. “Era um autor capaz de apostar

tudo para voltar com histórias sensacionais de culturas exóticas que seus leitores muito

provavelmente não conheceriam por conta própria”. (RUSSELL, 2010, p. 25). Assim,

escrevia apenas sobre coisas que havia efetivamente experimentado ou presenciado.

atraído pelo incomum e o simplesmente estranho, Seabrook provou ser a pessoa

perfeita para descobrir as realidades da tradição do vodu haitiano. Para ele, o vodu

não era um mero artigo nas páginas da Harper’s Magazine, seu trabalho alcançaria

um público ainda mais receptivo e disposto a descobrir a verdade sobre os mortos-

vivos. (RUSSELL, 2010, p. 26 grifo do autor).

Foi assim, pelo fazendeiro haitiano Polynice que Seabrook passou a conhecer as

verdades por trás dos corps cadavres, ou zumbis, como são mais conhecidos. Durante a sua

viagem, ele conseguiu coletar toda informação que conseguira sobre as superstições que

rondavam aquela ilha e ainda participar de alguns rituais vodu. Porém para os nativos, o

aventureiro descobriu que os zumbis eram um símbolo poderoso do medo, da perdição e da

desgraça. Eles não temiam os zumbis, mas sim se tornarem um (RUSSELL, 2010).

O vodu nasceu de um híbrido de animismo africado e catolicismo romano, quando

colonizadores europeus dizimaram a população indígena que havia no Haiti e trouxeram

escravos vindos da África Ocidental. Da cultura vodu, um dos conceitos centrais das

cerimônias é a idéia do corpo ser possuído por deuses. Todo o processo envolve músicas e

danças para levar a pessoa a um estado de transe para que sua alma essencial ser retirada do

corpo, podendo assim ser assumido por um deus.

de acordo com os dogmas da fé vodu, uma pessoa é composta de duas almas, a gros-

bon-ange (literalmente o grande e bom anjo) e o ti-bon-ange (o pequeno e bom

anjo). O primeiro consiste na força vital do indivíduo, o segundo é tudo que o define

como ele. Para um deus possuir um devoto, a segunda dessas almas deve ser expulsa

52

do corpo. O espírito então toma conta da casca vazia. Posteriormente, quando o deus

parte, o ti-bon-ange da pessoa retorna ao corpo. No vodu, tal como no cristianismo,

a alma e o corpo são considerados entidades distintas e, assim, uma pode existir sem

a outra. (RUSSELL, 2010, p. 26).

É a partir deste fato que inicia o conceito de zumbi. Acredita-se que se é possível

retirar a alma de um corpo durante um ritual, porém um feiticeiro traiçoeiro poderia realizar

esta separação sem essa cerimônia. De acordo com as lendas, o feiticeiro provocaria a

“morte” da vítima com magias e poções, a mesma adoecia e aparentemente morria

misteriosamente, desta forma ele retirava a alma essencial e, na noite do seu enterro, violava o

túmulo e o removia. Assim ele poderia trazer aquele corpo à “vida” novamente e transformá-

lo num escravo obediente e acéfalo. Essa idéia passou então a ser de senso comum entre os

haitianos e logo as famílias já estavam protegendo ao máximo os lugares onde seus parentes

eram enterrados. Para os escravos, se tornar um zumbi era o terror absoluto, a morte deixa de

ser a liberdade para o paraíso, para se tornar uma eternidade de trabalhos escravos, dominados

por outro mestre. O terror é justificado pelo antropólogo Wade Davis (1986, p.138 apud

RUSSELL, 2010, p. 28):

Zombis [sic] não falam, não se defendem, nem sabem seu próprio nome. Seu destino

é a escravidão. Mas, dada a disponibilidade de trabalho barato, não parecia haver

incentivo econômico para cria-se uma força de serviço legalizada. No lugar disso,

dada a história colonial, o conceito de escravidão implica que o camponês tema, e o

zombi [sic] sofra, um destino literalmente pior do que a morte – a perda da liberdade

física, que é a escravidão, e o sacrifício da autonomia pessoal implicado na perda de

identidade.

Russell (2010) afirma que todas essas informações já eram do conhecimento de

Seabrook quando ele se encontra para conversar com Polynice. Com relação a todas as outras

lendas que ele havia perguntado ao fazendeiro haitiano, ele zombara de cada uma, porém

quando a pergunta foi sobre os zumbis, o clima mudara. O fazendeiro lhe disse que zumbis

eram muito mais do que uma simples lenda, ainda afirmou que naquele momento, à luz da

lua, havia zumbis trabalhando na ilha, a menos de duas horas de habitação e o convidou para

na próxima noite ir conhecer pessoalmente aqueles seres tão misteriosos. Alguns dias depois

da conversa, Polynice levou o aventureiro ilha adentro para lhe mostrar as tais criaturas. O seu

encontro foi relatado em “A Ilha da Magia”, mostrando o quão chocante foi àquela

experiência:

minha primeira impressão dos três suspeitos zumbis, que continuavam a trabalho,

foi de que eles tinham realmente alguma coisa de estranho. Seus gestos eram de

53

autômatos [...] O mais horrível era o olhar, ou melhor, a ausência do olhar. Os olhos

estavam mortos, como se fossem cegos, desprovidos de expressão. Não eram olhos

de um cego, mas de um morto. Todo o semblante era inexpressivo, incapaz de

expressar-se. Eu havia visto no Haiti tantas coisas que fugiram do senso comum que

por um instante tive um surto, quase pânico, no qual pensei, ou senti, “Bom Deus,

talvez seja tudo verdade e, se for, é terrível demais, pois isso muda tudo”. Por “tudo”

eu me refiro às leis e aos processos da natureza nos quais o pensamento e a ação

humana moderna se baseiam. (SEABROOK, 1929, p.101 apud RUSSELL, 2010, p.

31).

Muito mais do que uma lenda, desta forma, o zumbi seria um aviso de que a morte

não é realmente o fim. Dados meses de pesquisa, Seabrook ainda veio com respostas

alternativas a aqueles seres que havia visto anteriormente. Mas sem conseguir oferecer uma

explicação conclusiva e completa entorno dos zumbis, seu livro “A Ilha da Magia” foi o ponto

de partida para a inclusão destas idéias no mundo ocidental, num período onde as pessoas

estavam dispostas a crer que mortos poderiam voltar à “vida” (RUSSELL, 2010).

O autor ainda conta que, assim que publicado, o livro de Seabrook rapidamente se

tornou um sucesso de vendas no ano, logo quando os norte-americanos estavam curiosamente

interessados no Haiti, pois o envolvimento entre os dois países estava em seu auge. Depois

que o Haiti se declarou independente, expulsando e exterminando seus colonizadores em

1804, isto acabou lhes custou um preço. Nas décadas que se seguiram, o país ficou a beira de

um colapso, pois além de mal saberem governar a ilha, ainda ficaram isolados

internacionalmente pelos outros Estados, que tentavam evitar que colônias fizessem o mesmo

que o Haiti. Porém, entre os anos de 1900 e 1930, os Estados Unidos tentavam fazer

intervenções militares no país com o pretexto de assegurar a estabilidade da região e ainda

alegando que o Haiti possuía um débito de 21 milhões de dólares ao país. Durante os anos que

se passaram eles são foram bem recebidos, tendo que lutar com os nativos e aos poucos os

obrigando a servi-los. Os americanos estavam remodelando o Haiti a sua própria vontade e

imagem. Desta forma, quando o livro de Seabrook foi lançado, o interesse da população por

informações sobre aquela ilha estava no seu máximo. Depois disto, diversos livros

sensacionalistas foram lançados sobre o Haiti e sua cultura exótica. O sensacionalismo e a

propaganda política estavam lado a lado repercutindo toda a situação.

A febre por histórias zumbis foi tão grande, que a ocupação dos Estados Unidos e a

pesquisa realizada por Seabrook trouxeram os mortos-vivos a cultura americana, mas foi

Hollywood que se encarregou de transformar os zumbis num pesadelo norte-americano.

54

4.2 HOLLYWRAAAAAR

No início era apenas um livro sobre uma cultura misteriosa e exótica, escrito por um

aventureiro um tanto quando extravagante. Porém o interesse pelo terror, os arrepios causados

pelas cenas, o suspense, os sustos e o sangue eram os grandes atrativos para a população.

Russell (2010) conta que nos anos de 1920 o terror começa a subir aos palcos, se

tornando tendência logo após a Primeira Guerra Mundial. Produções como The Bat (1920),

The Monster (1920), The Cat and The Canary (1922) e ainda Dracula (1927) de Liveright,

que teve uma incrível bilheteria de US$ 2 milhões, mostrando o que os produtores já sabiam

há muito tempo, que a população adorava histórias de terror, eram apaixonados por sustos,

arrepios e muito sangue. Que esse desejo insaciável pelo terror seja pelo modismo ou

utilizado como uma válvula de escape pelos acontecimentos com a guerra, não passou

despercebida pela República Weimar (Alemanha de 1919 a 1933), o cinema alemão começou

a produzir imagens assustadoras, tal como Nosferatu – eine Symphonie des Grauens (1922).

O sucesso de Drácula de Liveright, e a popularidade que os filmes de terror alemães

obtiveram, levaram os novos produtores a escrever histórias de terror sobre seus próprios

medos. Desta forma, no final da década de 20, nasceram dois filmes iriam ditar o padrão dos

filmes norte-americanos, são eles Dracula (1931) de Tod Browning, com Bela Lugosi e

Frankenstein (1931) de James Whale, com Boris Karlof. Mas com o passar do tempo, depois

da estreia de Drácula e Frankenstein, o material de referencia dos produtores estava se

acabando rapidamente, e trazer algo novo ao mercado se fazia necessário. Neste contexto é

publicado “A Ilha da Magia” de Seabrook, que veria pouquíssimas ligações entre a sua obra e

as peças teatrais, porem a indústria do entretenimento estava começando a se interessar pelo

potencial do seu livro (RUSSELL, 2010).

Ainda o autor explica que o anuncio da peça Zombie em 1932, não foi nenhuma

surpresa. Os zumbis eram perfeitos para o produtor Kenneth Webb, que além de trazer um

novo conceito para as histórias de terror, possuia também a vantagem de que não seria

necessário negociar direitos autorais sobre esses seres, já que o texto escrito sobre eles era

baseado em fatos vividos por Seabrook.

Webb já era conhecido por suas produções rejeitadas, porém Zombie era diferente,

surgindo junto ao valor da novidade no mercado. Porém era uma produção pobre, onde a

principal proposta se perdeu: ao invés de sentirem medo, os espectadores riam as escondidas

em seus assentos. A peça estreou no teatro de Biltmore de Nova York no dia 10 de fevereiro

55

de 1932, e com apenas 20 apresentações foi encerrada. Mas o que Webb mal sabia era que a

sua peça desastrosa seria o que iria ajuda a preparar a chegada do filme que traria sucessos aos

Zumbis: White Zombie (1932) de Victor e Edward Halperin. A ilustração abaixo apresenta a

capa do filme White Zombie.

Ilustração 11: White Zombie de 1932

Fonte: Dubin (2011).

Russell (2010) explica que o filme surgiu justamente na época em que a Bolsa de

Valores de New York havia quebrado e as pessoas estavam se sentindo impotentes, sofrendo

por uma economia instável que reduzia famílias inteiras a mendigos. Neste contexto o zumbi

era o monstro perfeito para a época, um trabalhador já morto que é ressuscitado como escravo

numa vida eterna de trabalho sem fim. O filme que, desde o começo tratava-se de uma

produção arriscada, repleto de sensacionalismo, sexo e mortos-vivos, conseguiu arrecadar

uma bilheteria inesperada de 8 milhões de dólares. “Milhões já sabem não estar mais em

56

controle de suas vidas; os fios da economia estavam sendo controlados por assustadores

forças sem rosto”. (SKAL, 1994, p. 169 apud RUSSELL, 2010, p. 48). Com esse pensamento

na mente das pessoas não é acidental que a cena mais famosa do filme seja o close que é dado

nos olhos de Lugosi. A zumbificação era ligada a perda das características sociais, impotência

e perda de liberdade.

os olhos de Lugosi, vistos pela primeira vez pairando acima da estrada como duas

luas carregadas de perdição, são não só um símbolo do poder do vodu de Legendre,

mas também da sua habilidade controlar os outros. Quando Lugosi olha direto para a

câmera – quebrando a primeira regra do realismo cinematográfico, que diz que o

ator nunca deve admitir a existência da câmera – o olhar de Legendre sugere que ele

tem o poder de hipnotizar até mesmo os próprios espectadores. (RUSSELL, 2010, p.

48).

A imagem a seguir ilustra a cena dos olhos de Lugosi, sendo o símbolo do poder.

Ilustração 12: Olhos de Lugosi – White Zombie.

Fonte: Russell (2010, p. 41).

De acordo com Russell (2010), a história mais básica do filme fala sobre uma branca

norte-americana que foi capturada por nativos. Ela recorria à crença popular de que os

57

caribenhos eram controlados por seus desejos primitivos. Porém nos filmes, a ocupação norte-

americana nunca era mencionada, ela era deixada subentendida aos telespectadores. Ainda,

em um dos diálogos do filme, Beaumont pergunta a Legendre (o feiticeiro) o que aconteceria

a ele se os zumbis algum dia conseguissem recuperar sua independência. A sua resposta

sugere tanto a sua própria perdição quanto o medo norte-americano de perder o domínio

obtido sobre o Caribe: “Eles me farão em pedaços”.

Saindo das heranças caribenhas, os filmes que se seguiram fugiram a história inicial

sobre o que eram os zumbis afinal. Começaram a surgir outras explicações para a existência

daqueles serem apáticos impotentes e sem personalidade própria, já que esses seres não

possuíam uma base literária para ser seguida. Até mesmo o filme que foi classificado como

uma sequência não oficial de White Zombie, Revolt of the Zombies, teria se desligado

totalmente das histórias vindas do Caribe.

Ainda filmes como The Man They Could Not Hang de 1939, The Walking Dead de

1936 e The Ghoul de 1933 deixavam explicito o interesse dos grandes estúdios nas histórias

fora daquele contexto. No entanto os filmes trabalhavam fortemente com as questões raciais,

Ouanga (1934), veio com a mesma mensagem de White Zombie: a idéia de que o Haiti não

teria capacidade suficiente para se governar sozinho, necessitando dos Estados Unidos para

sobreviver (RUSSELL, 2010).

Russell (2010) explana que apesar de tudo o sucesso dos zumbis foi limitado, tirando

as pessoas que haviam lido o livro de Seabrook, as outras mal sabiam algo sobre esses seres.

Diferentemente de outras lendas como Dracula, Frankenstein, o Corcunda de Notre Dame e a

dupla o Médico e o Monstro, que possuíam uma distinção cultural, e eram reconhecidos quase

que imediatamente por milhões de frequentadores de cinema. Desta forma Hollywood

começou a acreditar que os zumbis já não renderiam nada mais para a indústria

cinematográfica, fazendo com que os grandes estúdios “virassem as costas” para os mortos-

vivos. Então, no final da década de 1930, os filmes passaram a ser de baixo orçamento

somado ao desprezo da crítica, indo parar nos estúdios do Poverty Row, dita como a parte

pobre de Hollywood. Na década que se seguiu o humor era tema recorrente dentro dos filmes

de terror, ainda as questões raciais se tornaram cada vez mais evidentes a cada produção. O

mocinho era sempre o rapaz branco e os zumbis eram sempre pessoas negras. Porém a

obsessão dos filmes de terror acaba chegando ao fim, tendo o seu marco com o filme Castelo

Sinistro (1940), visto que a população dos Estados Unidos estava diante da Segunda Guerra

Mundial.

58

Dado os acontecimentos, os filmes que se seguiram foram considerados medíocres,

principalmente pelo fato de possuírem um baixo orçamento para serem produzidos. No início

da década de 50 houve uma transformação nos filmes de terror, nesta época a ciência havia

progredido, ganhando espaço nas produções.

a combinação, nascida durante a Guerra Fria, de anticomunismo, perigo nuclear e

temores de invasões extraterrestres provocaram mutações em ambos os gêneros.

Assim, o terror tornou-se científico e a ficção científica, aterrorizante, produzindo

um novo panteão de monstros programados para os temores específicos da era

atômica. (RUSSELL, 2010, p. 83).

Russell (2010) explica que o que era para ser um sucesso acabou ameaçando os

zumbis a voltar a seu cemitério cultural. Os anos 50 foram os piores, nesta década os poucos

filmes produzidos não foram bem recebidos e não foram muito memoráveis. No entanto é

visto que essa época de transição foi muito importante para os filmes de zumbi em geral, por

mais que os títulos que foram lançados possuíssem histórias inferiores, banais e chatas, eles

conseguiram superar temas como vodu, raça e tensão colonial e dar espaço para os temores

atuais como invasões, lavagens cerebrais e apocalipse. Assim o último filme que foi

produzido trazendo as heranças caribenhas dos zumbis foi Zombies of Mora Tau (1957).

Dados acontecimentos no final da década de 50, os zumbis começam a ser

relacionados diretamente como seres mortos. Porém esses filmes foram classificados como

“vagamente competentes”, ainda foram à causa pela qual os zumbis perderam grande parte de

sua aceitação durante os anos 1950. Os filmes trabalhavam preocupações recorrentes da

Guerra Fria criando a ideia do apocalipse global dominado por uma massa de cadáveres

destruindo a individualidade de cada um. Após uma década conturbada para os filmes de

terror, os anos 1960 marcam as novas transformações desses filmes. De Alfred Hitchcock,

Psicose, foi à produção que trouxe o terror para dentro da casa das pessoas, algo que já estava

entre nós, transformando com os mortos-vivos um medo paranoico, pois como todos, eles já

foram como a gente (RUSSELL, 2010).

Na década de 60 os zumbis estavam esquecidos, mortos e enterrados, porém

houveram três filmes que os fizeram levantar de suas tumbas: O Esquife do Morto Vivo

(1960), The Earth Dies Screaming (1964) e Epidemia de Zumbis (1966). Em cada um dos

três filmes, o terror trazido pelos zumbis é familiar e pessoal, o foco não se encontra em

confrontar as diferenças raciais, mas sim o estranhamento existente na própria família. Onde

tudo que lhes é familiar se torna irreconhecível e aterrorizante.

59

Assim, não foi somente a Grã-Bretanha que se interessou pelos mortos-vivos depois

que Hollywood perdeu seu interesse, México, Espanha, Itália, França também fizeram as suas

produções envolvendo os seres. Deste interesse, surgiu um filme com coprodução entre Itália

e Estados Unidos, Mortos que Matam (1964), que daria inspiração e forma ao principal filme

do gênero, feito por Romero (RUSSELL, 2010).

Em 2 de outubro de 1968 é lançado o filme de George Romero, A Noite dos Mortos-

Vivos, tendo resposta imediata do público e dos críticos. De acordo com a publicação da

Variety, o filme de Romero levantava duvidas quanto a integridade e responsabilidade dos

realizadores, e ainda a saúde moral das plateias que o assistiram. Com este tipo de crítica , o

filme acabou se tornando um grande sucesso da noite para o dia.

A produção de Romero foi marcada pelo niilismo inflexível, violência explicita e

pelas cenas viscerais e um mundo virado de cabeça para baixo em meio a um apocalipse. “Foi

o filme que fez nascer o terror norte-americano da era moderna”. (RUSSELL, 2010, p. 109).

O autor conta que a plateia estava conhecendo um novo tipo de terror. Desta forma a

surpresa do sucesso que o filme produziu foi grande para Romero e seus produtores. Com um

baixo orçamento, fizeram uso do monstro mais barato que conheciam – os zumbis. O horror

que o filme trouxe foi impactante para a época, embora já tivesse assistidos a filmes com

cenas sanguinárias, este foi além de tudo que já tinha sido visto, Romero possuía um toque

mais suave e trouxe o filme todo em preto e branco, o que acrescentou ainda mais impacto à

produção. Nunca deixando esquecer que se trata de um filme sobre os terrores do corpo.

Russell (2010) explica que A Noite dos Mortos-Vivos ainda trouxera mais uma

surpresa, no começo os zumbis se contentavam em assustar, estrangular e ameaçar suas

vitimas, mas agora havia um toque a mais, eles eram carnívoros. Assim a cena onde os corpos

de dois personagens (Tom e Judi) são devorados pelos mortos-vivos se torna o momento mais

influente do filme. Ainda situa o terror no cotidiano americano, afirmando que o que traz o

fracasso dos vivos é não deixar de lado suas diferenças e seu egoísmo, afirmando se tratar de

uma sociedade podre.

Com o sucesso e repercussão que o filme produziu os cineastas que trabalhavam com

zumbis não teriam mais que se esconder entre tramas cruas e efeitos especiais de segunda

categoria. Ao invés disto poderiam tratar de assuntos sérios apocalípticos, chocantes e

hilariantes, tudo na medida certa.

O filme de Romero ficou durante anos e anos em cartaz nos cinemas, lançando a

moda dos “filmes da meia-noite” e dando vida a diversas produções, pelo seu sucesso e

influência. Dentre os “filhos” que sua produção criou estão A Casa do Espanto (1985), O

60

Exorcista (1973), Freddy vs. Jason (2003), O Retorno dos Mortos-Vivos (1973), Despertar

dos Mortos (1978), mas as influências não pararam pelos filmes, jogos também foram

lançados baseados na história dos mortos-vivos de Romero. Biohazard – chamado de

Resident Evil nos EUA, foi um grande lançamento para a PlayStation, resultando na

adaptação para o cinema numa sequência de quatro filmes até o momento. Na época o

primeiro filme da sequência chegou a bater o sucesso de Tomb Raiber (2001) (RUSSELL,

2010).

Os zumbis já se encontravam em todos os lugares, após sessenta anos renegado, o

Resident Evil, deu vida nova aos mortos-vivos. Desde comerciais de TV, aparições em

grandes produções como Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003), Senhor dos

Anéis: O Retorno do Rei até filmes onde eles são as estrelas como Extermínio (2002).

O súbito crescimento da popularidade dos zumbis não parou por ai, ela foi além dos

jogos e da televisão, surgindo assim em 2004, por Robert Kirkman, a história em quadrinhos

The Walking Dead.

4.3 UM BANQUETE PARA SEU CÉREBRO

The Walking Dead nasceu da vontade de Robert Kirkman saber o que aconteceria

com as pessoas após o inicio do apocalipse, como eles sobreviveriam, o que seria de suas

vidas. A Grafic Novel mostra a batalha pela sobrevivência de um grupo de pessoas que

tentam resistir à dominação do mundo por zumbis, desta forma Kirkman constrói uma história

que trata de valores morais e éticos. O grupo é mantido em constante pressão em meio a uma

luta diária contra a morte, fazendo as pessoas se mostrarem no seu nível mais baixo para

poder sobreviver. Assim a HQ fez tanto sucesso que a FOX e a AMC se uniram para trazer

essa história para uma série de televisão.

A produção da primeira temporada da série foi inteiramente acompanhada pelo seu

criador Kirkman que estava sempre presente durante as gravações dos seis primeiros

episódios. Porém poderá ser percebido que ao longo dos capítulos há diversas mudanças na

sequência cronológica e nos acontecimentos dos quadrinhos. Mas o criador afirma que as

mudanças fizeram com que a história se tornasse mais enriquecidas e até melhorando o

trabalho em algumas partes.

61

4.3.1 Days gone bye

De acordo com os quadrinhos, a história se inicia com uma perseguição policial,

apresentando os dois personagens principais do primeiro volume, Rick e Shane estão em meio

a uma troca de tiros com o fugitivo, quando Rick leva um tiro certeiro e acaba entrando em

coma.

Na série, a ambientação é diferente, a série se inicia com um flashback, onde aparece

Rick dirigindo seu carro indo em busca de gasolina, ao chegar no posto ele descobre que já

não há mais nada aproveitável naquele lugar, quando se depara com uma criança com um

ursinho de pelúcia em mãos de costas, ele a chama, tentando ajuda-la, mas ao se virar ela o vê

e o ataca, Rick para se proteger não pensa duas vezes e dá um tiro certeiro no meio da testa da

menina. Neste ponto, a série volta para o volta pro passado, onde Shane e Rick se encontram

dentro do carro fazendo patrulha pela cidade, neste momento eles conversam sobre as

aventuras amorosas de Shane enquanto Rick desabafa sobre os problemas que anda sofrendo

em seu casamento. Durante a conversa, os policiais recebem uma chamada pelo rádio de uma

perseguição que precisa de reforços, eles então, saem em direção ao local, chegando lá

preparam uma armadilha para parar os fugitivos. O carro dos fugitivos acaba capotando com a

armadinha e as pessoas que havia dentro começam a sair. Dois homens começam a atirar

contra os policiais, eles acertam um tiro em Rick, porém pega em seu colete a prova de balas,

acreditando que a situação estava sob controle eles abaixam a guarda, quando um terceiro

homem sai do carro e atinge Rick em cheio o ferindo gravemente, chegando ao ponto do

quadrinho, onde ele acaba em coma numa cama de hospital em coma.

As diferenças entre os dois meios são bem evidentes já no começo da história. A HQ

consegue resolver a situação de Rick, que acaba parando numa cama de hospital, em apenas

uma página, mostrando as diferenças na linguagem e ritmo. Para o quadrinho ter páginas com

conversas extensas pode deixá-lo cansativo e demorar no desenrolar da história, também é

visto que a pessoa que está lendo já se encontra ambientada ao tema, a sua imersão à história

já foi feita ao ver a capa e ler as páginas introdutórias escritas pelo autor.

É visto que Field (1995) fala que uma história acontece em uma época, em um

determinado lugar e tem algo ocorrendo, trazendo-a para o ATO I, onde se dá a apresentação

do contexto da história e a situação na qual a ação se encontra. Assim a televisão pode fazer

uso de artifícios como som e movimento para criar ambientes de suspense, ela consegue

contar uma história com diálogos um pouco mais longos de forma rápida, tem a necessidade

62

de ambientar o telespectador antes de realmente começar a história, pois ele ainda não está a

par do que está acontecendo naquele momento, é necessário um tempo para ele compreender

o que está para ser visto.

Em ambos os meios, nas primeiras cenas, os personagens não são apresentados,

apenas informando seus nomes, mesmo assim deixando-os no anonimato até a hora exata de

relevarem quem são e a sua importância para a trama. A partir deste momento, todas as

ilustrações mostradas da série de televisão foram retiradas do próprio DVD, assim como as

opiniões fornecidas pelo elenco e produtores da série.

Ilustração 13: Shot in the Rick - The Walking Dead

Fonte: Kirkman, Moore (2010, p. 6) e Dados Primários (2011).

Nos quadrinhos, da página 7 até a página 13, depois de Rick ser baleado, ele acorda

em uma cama de hospital. Atordoado, tenta se levantar, mas como ainda está fraco acaba

caindo no chão, logo ele chama pela enfermeira, mas não consegue nenhuma resposta. Ele

consegue se levantar e encontra suas roupas em uma gaveta. Após se vestir Rick sai de seu

quarto em busca de alguém para ajudá-lo, mas não encontra ninguém pelos corredores. Então,

ele vai em direção à saída do hospital, entrando em um elevador.

Ao abrir a porta, Rick leva um susto, pois aos seus pés cai um cadáver já em estado

de decomposição, então ele continua percorrendo o local em busca de alguém que pudesse lhe

dizer o que estava acontecendo, quando encontra a porta da cafeteria fechada com um pedaço

de madeira. A fala do personagem - “what happened here?” (o que está acontecendo aqui?) -

dá a entender que ele está ouvindo múrmuros vindos do outro lado da porta. Ao abrí-la, ele se

depara com várias pessoas que parecem estar mortas, em estado de decomposição, como

mostrará a ilustração a seguir. Quando um deles avança em sua direção.

63

Ilustração 14: Zombies in Caffeteria – The Walking Dead

Fonte: Kirman e Moore (2010, p. 11).

Neste momento, Rick ainda tenta conversar com aquele homem que partiu para cima

dele, mas ele parece não entender nem uma das palavras Rick. Empurrado, eles vão parar nas

escadas de emergência, quando caem, o homem que estava atacando Rick acaba quebrando o

pescoço e fica imóvel. Rapidamente Rick sai do hospital e tranca a porta com seu cinto, chega

ao estacionamento, mas não consegue utilizar o carro.

Na série, Rick também vai parar no hospital e sempre recebe visitas de Shane, que se

mostra muito preocupado com o amigo, em sua última visita ele leva um vaso de flores dado

de presente pelos amigos de Rick do departamento policial. Ao acordar, Rick conversa com

Shane, porém passados alguns segundos ele percebe que o amigo não está mais lá, que as

flores já estão murchas e ele se encontra sozinho. Ele sai do quarto e encontra uma maca em

frente a sua porta e um corredor abandonado, revirado. Ele se dirige até a recepção, onde

encontra fósforos, que o ajudaram a enxergar, pois várias lâmpadas já não funcionam mais.

Mas uma porta chama sua atenção. Dentro, ele vê um corpo dilacerado, com as tripas para

fora, assustado, ele logo procura sair daquele lugar. Continuando por outro corredor, ele avista

rastros de violência, sangue pelo chão e se depara com uma porta trancada por cadeados com

uma mensagem nela “don‟t open, dead inside”, como é visto na ilustração a seguir.

64

Ilustração 15: Don't open - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Ao chegar próximo à porta, ele percebe que há algo do outro lado tentando sair,

quando aparecem algumas mãos sujas, com aparência morta que apavoram Rick, assim ele sai

correndo em direção à saída do hospital, Rick tenta os elevadores, mas não há energia elétrica

então ele busca a saída de emergência. Com ajuda dos fósforos que havia encontrado mais

cedo, Rick desce as escadas até encontrar a porta de saída. Já na rua ele se depara com

milhares de corpos mortos pelo chão, enrolados em panos e a cidade abandonada.

Neste ponto percebesse algumas mudanças no ritmo que cada meio abordou para a

locação. Enquanto Rick já fez o seu primeiro contato direto com um zumbi no quadrinho, a

televisão continua com o suspense, sem mostrar os temores que tiraram o sono dos

personagens. Mesmo diante dos acontecimentos, o quadrinho já traz um Rick mais lúcido.

Fatos como trocar de roupas antes de sair do quarto e procurar um carro para se locomover

apontam essa característica no personagem. Já diante da série Rick, ao acordar, ainda não

raciocina tanto quanto poderia, assustado ele não se importa com as coisas ao seu redor, mas

percebe que aquele não é o local ideal para se encontrar agora.

Seguindo a história nos quadrinhos, da página 14 até a página 21, Rick sai do

hospital e se depara com uma cidade abandonada. Ao caminhar ele encontra uma mulher

morta, já em um estado de decomposição avançado, tendo carne apenas na parte superior de

seu corpo, porém ela não está morta. De repente, ela começa a se contorcer e se arrastar, o que

entristece e desespera Rick ao assistir aquela cena. Logo ele se recompõe a pega uma bicicleta

65

que encontra próxima a mulher. Ele pedala em direção a sua casa, mas o que encontra é uma

rua inteiramente abandonada, sua casa saqueada e nenhum sinal de sua família. Desolado ele

sai para a rua e olha ao redor, quando, de repente é acertado na cabeça por uma pá e desmaia.

Um pequeno menino chama por seu pai, acreditando que Rick era um zumbi e estava

atrás deles. Quando o pai chega percebe que se trata de um homem vivo e prontamente o

ajuda levando-o para o seu abrigo. Ao acordar Rick se encontra numa casa estranha e logo vê

um homem e uma criança, que o convida para jantar. Rick pergunta a eles o que está

acontecendo e o homem logo lhe pede desculpas pelo ato de seu filho, afirmando que ele

acreditava que Rick fosse uma daquelas “coisas”. Diante disto Rick pergunta o que são

aqueles monstros, porque aquelas pessoas estavam agindo daquela forma e o que havia de

errado com elas. O homem fica surpreso com as perguntas de Rick e o responde com outra

pergunta: “You dont‟ know about any of it?” (você não sabe sobre qualquer coisa?), desta

forma Rick o explica que havia tomado um tiro e acordou no hospital, ao acordar deu de cara

com aquelas coisas, já acordou naquele inferno. O homem diz a Rick que ninguém sabe como

isto começou, nem sabem como fazer parar, mas sabe que a melhor coisa a se fazer contra

eles é um acerto direto em suas cabeças. Ele ainda conta para Rick que antes das transmissões

de rádio pararem estavam instruindo as pessoas para se dirigirem as grandes cidades. Desta

forma Rick lembra que seus sogros moram em Atlanta e acredita que sua mulher e filho

devem estar lá, são e salvos. Ele lembra que para ir até a cidade irá precisar de um carro e

convida aquele homem e seu filho para dar uma volta.

Na série, Rick sai a pé do hospital em direção à sua casa, no caminho ele encontra

uma bicicleta e decide pega-la para se locomover melhor. Antes de seguir ele vê meio corpo

de uma mulher jogado no chão, sem pernas apenas com as tripas aparecendo. Quando de

repente aquele corpo ganha vida novamente e começa a se rastejar na direção de Rick. Ele

apavorado com o que vê pega a bicicleta e pedala rapidamente para sua casa. Ao chegar ele

grita por Lori e Carl, mas não encontra ninguém e fica desesperado.

Rick fica assustado e se pergunta se aquilo tudo que virá até agora é real, se ele

realmente está ali, duvidando de sua sanidade mental. Rick então se dirige até a escada de

entrada de sua casa e se senta. Logo avista um homem caminhando pela rua. Ele então acena

para aquele homem, mas como estava distraído acaba sendo acertado por uma pá diretamente

na cabeça por um menino. Ele chama seu pai, falando que irá acabar com aquele homem que

ele julga se tratar de um morto-vivo. Seu pai chega, atira na cabeça do outro homem que

andava em meio à rua e vai em direção ao seu filho. Porém ele percebe que Rick não é um

daqueles seres, pois chama ele fala, diferentemente dos zumbis. Então o homem lhe pergunta

66

por que ele está com aquele ferimento em seu abdômen, Rick acaba desmaiando e não

consegue responder. Ele acorda amarrado a uma cama, o homem avisa que havia trocado seu

curativo e o questiona de onde veio aquele machucado, se ele havia sido mordido, mastigado

ou arranhado. Rick responde que não, que era apenas um tiro. Então o homem convida Rick a

se juntar a eles assim que ele conseguir se levantar. Ao chegar na sala ele reconhece a casa,

então o homem lhe conta que já estava abandonada quando eles chegaram, Rick decide se

aproximar da janela para olhar para a rua, porém e alertado para não fazer pois “eles” iriam

ver. Naquela noite haviam mais “deles” andando por ai do que o normal, pois o pai do menino

havia atirado em um “deles” e sons e luzes chamam suas atenções.

Rick indaga a Morgan, porque ele havia atirado naquela pessoa que andava pela rua,

quando ele o explica, não era uma pessoa e sim um zumbi. Antes de jantar, eles rezam,

pedindo por proteção em meio a esse mundo vira de cabeça para baixo. Depois Morgan

pergunta para Rick, se ele sabe ao menos o que está acontecendo. Ele responde que não.

Morgan então o explica que se não tivesse atirado naquele zumbi, ele teria devorado Rick e

que eles estão naquele exato momento pelas ruas, mas que ficarão bem se mantiverem

quietos. Porém ele alerta para que Rick tome cuidado para não ser mordido, pois a mordida é

mortal. Primeiro vem a febre, depois as alucinações e ai você morre, mas não termina ai,

depois de um tempo você volta como um zumbi.

Depois do jantar, eles se acomodam em colchões na sala de estar, quando um carro

dispara o alarme, assustando os três apagam as luzes e se dirigem a janela. É quando o menino

fala para seu pai “Ela está aqui” e sai correndo para sua cama chorando. Morgan explica que

ela era sua mulher e morreu ali com eles após ser mordida, conta ainda que ele deveria ter

dado um tiro nela antes que se transformasse em um zumbi, mas que não teve coragem para

fazê-lo.

No dia seguinte, eles vão à rua e Rick experimenta matar um zumbi pela primeira

vez, mas vê a necessidade de perguntar novamente se aquelas pessoas estão realmente mortas.

Depois disto, eles seguem para casa de Rick, ele afirma que sua mulher e seu filho estavam

vivos quando saíram da casa, pois os álbuns e fotos da família estavam desaparecidos.

Diante dos acontecimentos percebemos um lado emocional mais forte vindo da série,

é evidente a colocação da humanidade no episódio. Além disso, é trabalhada a sanidade dos

personagens. O discurso adotado pelo quadrinho é mais rápido, seco, não há espaço para o

prolongamento da história, porém é visto e aprovado pelo autor das HQs as mudanças

realizadas na história, pois ele acredita que está enriquecendo a sua obra.

67

Da mesma forma que nas cenas dentro do hospital, Rick ainda se encontra confuso e

assustado com tudo que viu, ele ainda não entende o que aconteceu, chega a acreditar que

tudo poderia passar de um sonho. Ainda a série traz toda a preocupação de um pai com seu

filho, buscando protegê-lo de todas as formas possíveis e a culpa que ele sente por não ter

conseguido salvar sua esposa. Vemos claramente esse sentimento no personagem quando

Rick acorda amarrado na cama e só é solto ao explicar que não havia sido mordido por

nenhum zumbi. Outro aspecto importante se ser salientado é o fato da importância que foi

dada a primeira zumbi de verdade que Rick vê na série, chamada pelo produtor de “Bicycle

Girl”. Os produtores buscaram por uma atriz que possuísse feições similares a que foi

desenhada no quadrinho, como pode ser visto na ilustração 16. Este é um fato que no decorrer

da história pode ser bem percebido. Todos os atores escolhidos para fazer parte do elenco são

os mais parecidos possíveis com os personagens dos quadrinhos.

Ilustração 16: Garota da bicicleta - The Walking Dead

Fonte: Kirkman e Moore (2010, p. 14) e Dados primários (2011).

Dando sequência à história, nos quadrinhos, da página 22 até a página 27, Rick leva

Morgan e o pequeno Duane para a delegacia onde costumava trabalhar. Ao descobrir que

Rick era um policial, Morgan logo trata de se desculpar com ele por ter invadido uma casa

para se esconder, ele ainda explica que achou que aquela vizinhança era a mais segura para

poder cuidar de seu filho. Rick explica para Morgan que não irá prendê-lo e nem o julga

errado, diz ainda que faria o mesmo se estivesse em seu lugar.

Eles estão se apresentam formalmente, pois entre tantos acontecimentos, essa

formalidade acaba ficando de lado. Rick ainda agradece a Morgan por tê-lo ajudado tanto sem

ao menos o conhecer. Morgan diz a Rick que é um prazer ter ele por perto, assim, pelo menos

tem outra pessoa para conversar sobre assuntos que não sejam desenhos animados. Rick ri do

que o amigo lhe diz, mas ao mesmo tempo se sente culpado por rir nesses tempos tão difíceis,

depois de tudo o que viu e pelo o que passou, mas Morgan diz para Rick não ficar pensando

68

nisso, pois ele precisa se focar e continuar, do contrario ficará louco pensando no que está

acontecendo.

Após a conversa Rick pega sua arma, que ainda estava guardada na delegacia e pede

para que Morgan e Duane o sigam, indo diretamente para a sala de armamentos. Lá, Rick

pega algumas armas e munições que sobraram e entrega algumas para Morgan. Ao sair da

delegacia, Rick entrega a chave de um dos carros para o amigo e pega o outro para si, ele

ainda pede a Morgan para que cuide do carro, afirmando que quando tudo acabar, ele terá que

lhe devolver. Enquanto se arrumam para sair se deparam com um zumbi do outro lado da

cerca da policia. A primeira reação de Rick foi puxar sua arma para acertá-lo com um tiro

diretamente na cabeça, quando prontamente Morgan o para.

Ele avisa que ele precisará desse projétil mais tarde e que o barulho apenas atrairá

mais zumbis para o local. Então eles se apressam para sair dali antes que aquele zumbi

conseguisse chegar até eles.

Na série, ao chegarem à delegacia, Rick, Morgan e Duane vão ao vestiário da

delegacia verificar que ainda há água quente para um banho. Morgan e seu filho ficam

extremamente felizes com o fato de poderem tomar um bom banho, já que a energia elétrica

havia sido cortada há cerca de um mês, sendo ilustrada na imagem a seguir.

Ilustração 17: Hot Bath - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

69

Depois, eles começam a conversar sobre o que irão fazer, para onde cada um irá.

Rick conta que seguirá viagem para Atlanta, enquanto Morgan continuará na cidade por mais

um tempo (dando a entender que não pode sair dali e deixar sua mulher no estado que se

encontrava). Então eles seguem para a sala de armamentos e se preparam para ir embora.

Chegando ao estacionamento da delegacia, Rick entrega as chaves de um carro para Morgan,

para que ele possa seguir viagem mais tarde e pega seu carro. De repente, eles do outro lado

da cerca, aparece um zumbi que assusta os três. Rick o reconhece, era um antigo colega da

policia, ele fala para Morgan que não pode deixa-lo naquele estado, mesmo ele não tendo sido

a melhor pessoa do mundo. Assim, ele dispara a arma com um tiro certeiro na cabeça do

homem e alerta para que saíssem rapidamente do local antes que outros zumbis aparecessem

pelas redondezas. Antes de partir viagem Rick entrega a Morgan um walk talk, para que

possam ir se comunicando quando Morgan estiver próximo a Atlanta.

Nas cenas que se seguem dentro da delegacia, é visto que a HQ trabalhar as relações

entre os personagens de uma forma mais fria. Ainda conseguimos perceber um Rick diferente

do apresentado na série. Ele é mais frio e acredita que aquela “loucura” não passa de uma

fase, que logo tudo voltará ao normal. Mas o quadrinho não deixa de trabalhar o lado

psicológico do personagem, quando ele se encontra culpado por ficar contente com algo tão

banal mesmo estando em meio a todos os acontecimentos. Porém, o vinculo que é formado

entre Rick e Morgan na série é mais forte. Rick se apega bastante ao fato de dever a sua vida a

Morgan, que o ajudou sem ao menos o conhecer. Ainda é apresentado um pouco da história

de Morgan e Duane, a série consegue explicar com mais calma porque aquelas duas pessoas

continuaram na cidade e porque não saíram da lá ainda.

Nesta parte, ainda há o comprometimento de Rick com Morgan ao entregar ao amigo

um walk talk, demonstrando a preocupação de Rick com Morgan e seu filho.

Nos quadrinhos, da página 27 até a página 31, Rick segue viagem com seu carro,

porém antes de partir em definitivo para Atlanta ele para no local onde havia encontrado

aquela mulher zumbi em estado deplorável e atira nela. Ele se entristece, demonstrando a dor

e a pena ao ver uma pessoa num estado como aquele.

Assim ele segue o caminho, mas durante sua viagem ele se vê obrigado a parar em

um posto de gasolina em busca de combustível, mas não encontra, se decidindo por continuar

sua viagem caminhando.

Seguindo a sequência da série, Morgan e Duane retornam a casa onde estavam se

escondendo, paralelo a isso, Rick, antes de partir para Atlanta, vai atrás da zumbi que possuía

apenas metade de seu corpo. As cenas são intercaladas, mostrando o que está acontecendo

70

com cada um naquele momento. Morgan aparece se deslocando para o andar de cima,

olhando para as fotos de sua família, até que decide pegar a arma e atirar em alguns zumbis.

Enquanto isso, ele aguarda ansiosamente que sua esposa apareça. Porém quando isso

acontece, ele se vê incapaz de tirar em sua mulher, mãe de seu filho.

Ao encontrar a zumbi, Rick lamenta pelo que aconteceu a ela. A zumbi parece sem

forças para continuar, mas por causa do que aconteceu com ela ficaria vagando eternamente.

Então Rick mira e atira nela acabando com seu sofrimento conforme podemos ver na

ilustração a seguir.

Ilustração 18: Gunshot - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Neste trecho da história, aparece fortemente todo o lado sentimental da série, tanto

por parte de Rick, quando pela parte de Morgan. A cena onde Morgan não consegue atirar em

sua própria mulher é cheia de sentimentalismo e emoção, demonstrando que mesmo sua

mulher estando como zumbi, ele ainda a ama e nunca teria coragem de machuca-la. É

necessário dar destaque a esta parte da série, pois na HQ ela não existe. O encontro de Rick

com Morgan é visto de forma rápida na história sem criar vínculos entre os dois personagens.

Por outro lado, Rick procura a zumbi pela metade que havia encontrando

anteriormente. Ele mostra em seus atos a dor de ver um ser que um dia foi uma pessoa igual a

ele, naquele estado deplorável. Rick busca trazer paz a aquele ser.

71

Na continuidade, o quadrinho, da página 32 até a página 38, Rick fica sem

combustível para seu carro sendo forçado a continuar seu trajeto caminhando. No meio da

estrada, ele encontra uma casa onde decide tentar pedir ajuda. Ao entrar ele alerta aos

possíveis moradores que apenas está lá em busca de gasolina e nada mais. Mas o que encontra

não é nada parecido com o que esperava. No interior da casa haviam pessoas mortas, que

preferiram se suicidar do que virar um zumbi. Enojado, Rick sai correndo da casa, quando

percebe a presença de um celeiro próximo a casa. Ao abrir as portas ele encontra um cavalo

abandonado. Rick então, “faz uma proposta” para o animal: que lhe dê uma carona até

Atlanta, onde ele acredita que os dois ficaram bem e seguros.

Durante o trajeto, Rick começa a “conversar” com o cavalo, lhe contando o dia mais

feliz de sua vida – o dia em que Carl nasceu – mas logo para afirmando que aquilo só faz toda

a situação parecer pior do que é. Passado um tempo, eles chegam a Atlanta, porém o que

encontram é uma cidade totalmente deserta, ou era isso que achavam.

Na série, Rick está seguindo viagem de carro, enquanto isso ele fica sintonizado no

canal de emergências do rádio buscando por alguém que possa estar ouvindo ele. Em uma das

tentativas, um grupo de pessoas consegue ouvir suas transmissões pelo rádio, mas Rick não

consegue ouvir suas respostas. Neste momento, o foco sai de Rick e vai para aquele grupo de

pessoas que lhe ouviram pelo rádio. Neste grupo aparece Shane, o amigo de Rick, vivo

tentando a comunicação, mas sem ter sucesso. Em meio a isto, uma das mulheres do

acampamento adverte os companheiros falando que eles deveriam ter colocado avisos para

não ninguém chegue perto de Atlanta e pede um carro para ir até lá, porém Shane reprova a

atitude dela e não a deixa sair. Ela e Shane se desentendem. Nervosa a mulher volta para sua

barraca. Shane a segue e a adverte que não a deixará fazer nada sem pensar pois ela possui um

filho que precisa dos seus cuidados.

Após isso, eles se acertam e Shane a beija. Logo em seguida o menino vai atrás de

sua mãe para saber se esta tudo bem.

Logo, o foco volta para Rick, ainda dentro no carro, mexendo no para sol de seu

carro, onde encontra uma foto dele com sua família. Revelando aos espectadores, que a

mulher e a criança que se encontram no acampamento são sua mulher e filho.

Ele pega a foto, guarda em seu bolso e segue até o posto de gasolina mais próximo

em busca de combustível. No caminho, Rick encontra uma casa e decide para e ver se ainda

há alguém ali que possa o ajudar. Ele chama por pessoas, mas não obtém nenhuma resposta.

Até que chega a uma das janelas e encontra os moradores da casa mortos. Para os

espectadores, dentro da casa aparece a seguinte frase escrita na parede “god forgive us” „que

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Deus nos perdoe‟, passando a mensagem de que aquelas pessoas haviam se suicidado. Sendo

ilustrado na imagem a seguir.

Ilustração 19: God forgive us - The Walking Dead

Fonte: Fox (2011).

Logo, ele se afasta da casa não acreditando no que havia nisto. Rick se encontra

sentado em um banco, próximo a casa, quando vê uma caminhonete, ele se dirige até ela na

esperança de estar com a chave, mas não encontra nada.

Ele caminha um pouco mais a frente e se depara com um cavalo vivo dentro de um

cercado. Rick vai até ela fazendo a “proposta” de pegar uma carona até Atlanta, onde ele julga

ser um lugar onde eles ficaram a salvo. Assim Rick e seu cavalo chegam na cidade, porém

não a encontram do jeito que haviam esperado.

73

Diante deste trecho das histórias, percebemos o acréscimo de cenas, mudando

ligeiramente o desenrolar da história. Mais uma vez podemos perceber as diferenças entre o

Rick apresentado ao quadrinho e o Rick apresentado para a série. Na série ele é mais

cauteloso, respeitando a casa das pessoas e se encontrando apavorado ao ver aquela família

morta dentro de casa. De acordo com os diretores da série, foi uma surpresa quando a AMC

permitiu que eles produzissem cenas como essa. Se tratando de valores éticos, morais e

religiosos, onde uma família inteira acredita que a melhor alternativa seria o suicídio ao que

ser “possuído” por aqueles seres. É visto ainda a distinção das duas histórias, quando o grupo

onde Shane, Lori e Carl se encontram conseguem ouvi-lo pelo rádio.

Ainda é trazido à tona o relacionamento secreto entre Shane e Lori, porém no

primeiro volume do quadrinho, não é mostrado de forma explicita o envolvimento dos dois.

Suas histórias apenas são reveladas nas primeiras páginas do segundo volume. Mas é visto

que houve a necessidade de trazer esse fato agora, pois os espectadores que não tiveram o

primeiro contato com a HQ não entenderiam os atos que Shane no decorrer da história.

Retornando aos acontecimentos do quadrinho, da página 39 até a página 52, Rick

cavalga para dentro da cidade e o que encontra é nada mais que tudo abandonado e alguns

zumbis caminhando pela rua. Mas, entrando em uma rua, Rick se depara com uma horda de

zumbis, que vão atrás dele para atacá-lo. Ele é derrubado do cavalo, que se torna banquete

para os mortos-vivos.

Enquanto alguns se distraem com o cavalo, outros zumbis percebem a presença de

Rick e vão atrás dele. Rapidamente Rick puxa um machado para se proteger, porém se

encontra em uma situação na qual apenas um machado não irá salvá-lo. Mas é visível que

Rick ainda não entende o que está acontecendo quando diz: “BASTARDS!! What the hell is

wrong with you?!” (Malditos!! O que há de errado com vocês?!). Prontamente ele pega sua

arma e começa a atirar na cabeça dos zumbis mais próximos a ele.

Então, Rick foge com um machado na mão esquerda e o revolver na mão direita,

tentando se defender ao máximo. Quando, de repente é puxado por alguém, ao ver que é uma

pessoa viva ele não ataca. O rapaz, que será apresentado como Glenn, diz ainda que pode tira-

lo daquele lugar, e pede para que o siga e pare de utilizar a arma de fogo.

Glenn entra em um beco e puxa uma das escadas de incêndio para subir no prédio,

Rick o segue, mas se encontra um pouco atordoado. Ele conta para Glenn que nunca havia

visto tantos zumbis quanto estava agora. Eles sobem até o terraço do prédio. Lá Rick é

informado que teve muita sorte de ter alguém por perto dele naquele momento, do contrario já

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estaria morto. A ilustração a seguir mostra o encontro de Glenn com Rick nos quadrinhos e na

série.

Ilustração 20: Rick e Glenn - The Walking Dead

Fonte: Kirkman e Moore (2010, p. 44) e Dados primários (2011).

Eles continuam por cima do prédio, quando Glenn sai correndo e pula em direção ao

terraço ao lado. Rick se assusta e diz que não fará aquilo, porém é alertado que aquela é a sua

única opção, pois se descer certamente será atacado por vários zumbis. Rick pula e é avisado

que precisaram descer e aquele prédio é um dos mais próximos da floresta, mas terão que

correr um pouco. Ainda é alertado: uma mordida e acabou tudo.

Eles continuam correndo, até que se encontra a salvo fora da cidade. Durante o

caminho, Rick fica surpreso com os zumbis que vê pelo caminho. Sem entender, Glenn

pergunta a ele onde estava no ultimo mês. Rick conta que esteve em coma e havia acordado

no dia anterior no hospital.

Já distantes o suficiente da cidade, Rick pergunta o que aconteceu com a cidade,

porque está daquela forma. Glenn explica para Rick que o governo tentou reunir todas as

pessoas em apenas uma cidade, acreditando que seria a forma mais fácil de manter todos a

salvo, porém, toda vez que um daqueles seres matava alguém, ela se tornava um deles,

levando apenas uma semana para que a cidade ficasse daquela forma. Ele ainda pergunta para

Rick se possuía família lá.

Neste momento Rick se desespera lembrando-se de sua mulher e seu filho, conta

ainda que é residente de Kentucky e acreditava que eles haviam vindo para Atlanta, pois os

pais de sua mulher moram lá.

Glenn fala para Rick não perder as esperanças e o leva em direção ao acampamento,

onde algumas pessoas que também não conseguiram entrar em Atlanta estão abrigadas.

Chegando ao lugar Rick fica extremamente surpreso. Em meio a aquele grupo de pessoas, ele

encontra sua mulher e seu filho, que ao vê-lo, saem correndo na direção dele.

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Já na TV, Rick entra na cidade e se depara com alguns zumbis, mas tem consciência

que alguns deles sozinhos não são problemáticos. Mas ao virar a esquina, buscando pelo

helicóptero que havia visto, se depara com uma horda enorme que o vê e sai “correndo” em

sua direção.

Os zumbis cercam Rick, derrubando-o do cavalo, que acaba se transformando em

jantar para os mortos-vivos. Rick cai para o outro lado e se vê cercado por muitos zumbis e

corre para debaixo de um tanque de guerra que está parado no meio da rua. Porém se vê num

beco sem saída, há zumbis dos dois lados pelos quais ele poderia escapar. Rick fica

desesperado e por um momento passa pela sua cabeça cometer suicídio. Quando ele olha para

cima e vê uma entrada para dentro do tanque e não pensa duas vezes para entrar, mas acaba

deixando sua bolsa com armamentos do lado de fora.

Já no interior do tanque, Rick aparece desesperado, não acreditando no que estava

acontecendo, tanto que não havia percebido que tinha um homem “morto” lá com ele. Ao

ouvir os grunhidos do zumbi, ele prontamente atira nele.

Depois disso, Rick se senta, desnorteado, sem saber o que fazer. Como será ilustrado

na imagem a seguir. De repente ele ouve uma voz vinda do rádio chamando por ele “Hey you!

Dumass! Hey you in the tank! You cozy in there?” (Ei você! Idiota! Ei, você ai no tanque!

Está confortável ai?).

Ilustração 21: Hey, dumass! - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

76

Assim, sendo chamado pelo rádio termina o primeiro episódio da série. Corta a cena,

mostrando a situação que está do lado de fora do tanque. Ilustrado na imagem a seguir.

Ilustração 22: Welcome to my world - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Antes de continuar a descrição dos acontecimentos até a chegada de Rick no

acampamento é válido realizar alguns comentários a respeito.

O nome do primeiro episódio da série é “Days bye gone”, ele é inteiramente focado

em Rick, é o momento onde o espectador descobre um novo mundo pelos olhos do

personagem principal. Os personagens dão adeus à vida, ao mundo que conheciam e são

apresentadas a essa nova e louca realidade.

É possível perceber grandes mudanças comportamentais no personagem que foi

apresentado a HQ e o que foi levado a série. O ponto forte desta primeira parte é a

humanidade vinda dos personagens. O Rick visto na TV é muito mais emotivo. Sofre tanto

pelos vivos, quanto pelos mortos-vivos, evidenciado em sua cena com a “Bicycle Girl”. Ainda

é visto o seu apego à Morgan, que mesmo sendo duro com ele no inicio, o entende e se

preocupa com aquelas pessoas estão passando.

É um episódio que segundo o diretor Frank Darabont, se trata de arrependimentos e

saudades. De acordo com o ator Andrew Lincoln, que interpreta Rick Grimes, aquele homem

tanto dos quadrinhos, quanto da série ainda não entende a magnitude do que vê. Ele busca

manter a sanidade e fazer tudo o que estiver ao seu alcance.

77

Morgan, representado por Lennie James, aparece com seu filho Duane de 10 anos,

que mesmo com todos os acontecimentos continua lutando para educar ele da melhor forma

possível, para que se torna um bom homem. O vinculo formado por Rick e Morgan nesta

primeira etapa tem uma importância muito maior do que é dado no quadrinho. Para a HQ ele

é apenas a pessoa que o salvou e ajudou a entender, o mínimo que seja, sobre o que está

acontecendo. Morgan é o primeiro contato com outra pessoa viva de Rick e conviver com

aquelas pessoas traz de volta a sua humanidade e esperança para seguir em frente.

Ainda neste episódio é apresentado o acampamento, onde aparecem Shane, Lori e

Carl vivos. Porém há o fato do relacionamento entre Shane e Lori, onde Shane “assume” o

lugar de Rick na família, fazendo com que sua prioridade seja cuidar daquelas duas pessoas

custe o que custar.

Neste momento da série inicia-se o ATO II, no momento onde o personagem, no

caso Rick, terá que enfrentar todos os problemas que o impossibilita de realizar suas

necessidades dramáticas, na história, sobreviver aos zumbis. “Todo drama é conflito. Sem

conflito não há personagem; sem personagem não há ação; sem ação, não há história; e sem

história, não há roteiro.” (FIELD, 1995, p. 5).

Mas, como a história se trata de uma série de televisão contínua, ela não chega ao

ATO III, onde há a resolução do problema, levando ao fim da história.

O volume número 1 da HQ pode ser dividida em seis capítulos. O primeiro capítulo

conta a história de Rick até sua chegada ao acampamento, onde encontra Lori e Carl. Da

mesma forma, a primeira temporada da série também é dividida em seis episódios. Porém a

história se estende até a parte onde Rick fica preso dentro do tanque, encerrando o episódio.

4.3.2 Guts

Na série de televisão, o segundo episódio da série se inicia com o acampamento, com

Amy retornando de sua ida à floresta em busca de alimentos. Ela se encontra com Lori, que

sai em direção a floresta para fazer o mesmo. Antes de sair Lori alerta Carl para ficar onde

Dale possa vê-lo, da mesma forma Dale alerta Lori para não se afastar demais do

acampamento e que se ela necessitar de ajuda basta gritar.

Ao entrar na floresta, Lori fica alerta a todo e qualquer barulho que ouvir próximo a

ela. De repente ela é surpreendida por Shane, que tapa sua boca com a mão para que ela não

78

grite e possa ter tempo de reconhecer ele. Shane a acalma e reclama por Lori tê-lo feito

esperar. Logo os dois começam a se beijar e acariciar, transformando em um momento mais

picante da série. Mas em meio a isso, há um fato marcante, antes de Shane e Lori terem

relações sexuais, eles param quando Shane vê junto a corrente de Lori, a aliança de Rick. Ela

a tira do pescoço e retorna ao momento que estava tendo com Shane. Ilustrando na imagem a

seguir.

Ilustração 23: Rick's ring - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Paralelo a isso, Rick ainda se encontra dentro do tanque, mas agora faz contato com a

pessoa que havia lhe chamado pelo rádio. O rapaz o pergunta se esta bem e o avisa que há

uma chance de conseguir sair de dentro do tanque vivo. Ele conta para Rick que há apenas um

zumbi em cima da saída, que os outros foram para o local onde o cavalo havia caído. O rapaz

explica para Rick exatamente o que ele deve fazer e para onde ele deve ir para se

encontrarem, ainda ele pergunta se Rick tem munição. Rick avisa que sim, uma arma com 15

projéteis e uma bomba, mas possui outras na bolsa que havia deixado cair. O rapaz então o

fala para esquecer a bolsa, pois não haveria tempo para pega-la.

Assim Rick pega mais uma pá que encontra no interior do tanque e saí para a rua. Ele

saí correndo na direção informada e vai atirando nos zumbis que encontra em sua frente até

chegar ao local combinado e encontrar o rapaz que está o ajudando. Eles correm até uma

escada de emergência e rapidamente sobem para escapar dos zumbis.

79

Ao se encontrarem “a salvo”, ele se apresentam. O garoto, chamado Glenn, segue

guiando Rick para o local onde ele está escondido junto com outras pessoas. Ao chegar ao

esconderijo, Rick não é recebido de uma forma muito agradável. Principalmente por Andrea,

que logo aponta uma arma para seu rosto. Glenn e seus amigos haviam ido à cidade para

buscar suprimentos, porém com os tiros ele acaba “tocando o sinal do almoço” para os

zumbis. Um dos integrantes do grupo pergunta a Rick o que ele estava fazendo em meio a

cidade. Ele os responde que estava atrás de um helicóptero que havia visto, mas não dão

muita atenção a isso, alegando que era uma alucinação.

Ao entrarem na loja de conveniências novamente, o grupo tenta contato com as

outras pessoas, mas T-Dog, um dos sobreviventes, avisa que não consegue sinal de l[a, que

talvez conseguisse do telhado. De repente eles ouvem tiros vindos de cima. Eles correm até o

terraço e encontram Merle atirando em zumbis. Rapidamente pedem para que ele pare de

chamar a atenção de mais mortos-vivos, mas Merle trata os companheiros de forma arrogante

e racista, ferindo a moral de T-Dog. Merle afirma que não aceitará ordens de uma pessoa

como T-Dog (que é negro). Neste contexto os dois começam a brigar, trocando chutes e

socos. Merle comanda a luta, até que aponta uma arma para a cabeça de T-Dog. Ele não atira,

porém cospe no adversário e resolve realizar uma “reunião” para nomeá-lo líder daquele

grupo.

Merle ameaça e intimida todos para que votem nele, depois disto indaga se alguém

tem algo contra a sua decisão. Neste momento Rick responde Merle, chegando e o acertando

em cheio com a arma. Caído no chão, Rick prende uma das mãos de Merle em um lado da

algema e a outra a um cano. Ele alerta Merle de que não há distinção entre as pessoas que

estão ali, há apenas “Us and the dead” (nós é os mortos), que eles precisam estar juntos para

se salvarem e não separados. Rick então procura por algo nos bolsos de Merle e acaba

achando um frasquinho com pó branco dentro, também ele vê o nariz dele sujo, dando a

entender que é cocaína. Ele joga o frasco prédio abaixo irritando Merle.

Após os acontecimentos, a série trata de apresentar Rick oficialmente à cidade

grande. Porém eles continuam sem contato com as pessoas do acampamento ao redor da

cidade. O grupo começa a conversar pensando numa outra maneira de sair daquele lugar já

que as ruas não eram mais seguras. A primeiro idéia é sair pelos esgotos. Glenn e seu amigo

vão checar, quando Rick e Andrea vão vigiar as portas da frente. Ao chegar na saída do

esgoto eles vêm que o esgoto que tem por baixo daquele prédio já havia sido invadida pelos

zumbis.

80

Paralelo a isso Rick e Andrea seguem conversando durante a vigia. Ele a ensina

como destravar e usar uma arma, já que em seu primeiro encontro com ela, a arma que foi

usada não estava destravada. Ainda T-Dog e Merle ficaram no terraço tentando contato com o

acampamento.

Andrea está vigiando a porta com Rick, quando vê uma correntinha com um pingente

de sereia que lhe chama a atenção. Rick pergunta a ela se encontrou algo que achasse

interessante, Andréa responde que sim, mas não para ela, para sua irmã, que ama coisas como

unicórnios, dragões, mas que seus preferidos eram as sereias.

Rick pergunta para ela porque não pega, Andrea responde perguntando para ele se

não seria considerado roubo. Então Rick afirma que acredita que as leis da sociedade não são

mais válidas naqueles tempos. Assim, Andréa pega a correntinha e a guarda no bolso.

Ilustrando o momento na imagem a seguir.

Ilustração 24: She love's mermaid - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Logo após esse momento, os zumbis conseguem quebrar a primeira porta de vidro da

loja de conveniência. Quando os outros chegam e avisam que não há saída pelos esgotos, Rick

começa a formular uma outra idéia para que consigam escapar.

Todos voltam para o telhado e Rick avista com binóculos um caminhão que

poderiam usar para escapar dali, porém o problema é como irão passar pelos zumbis. Ele

começa a juntar todas as informações que tem sobre os mortos-vivos, como o fato de serem

81

atraídos pelo barulho e possuírem um cheiro extremamente diferente dos vivos. Tendo a

estratégia formada, Rick e os outros descem para realizar o plano absurdamente perigoso dele.

Eles saem na rua e trazem para dentro da loja um dos zumbis que já estava morto antes e

abrem o corpo dele, Rick e Glenn começam a sujar suas roupas com o sangue e as tripas

daquele homem. Ainda pegam alguns pedaços do corpo para colocar em seus bolsos,

aumentando ainda mais o cheiro.

É importante salientar que nesta cena, antes de abrirem o corpo do homem, Rick

busca pela carteira para descobrir quem aquela pessoa foi um dia. Mostrando seu lado

sentimental e de respeito a aquele homem.

Feito isso, Andrea ainda empresta sua arma a Glenn antes deles saírem.

Rick pede para T-Dog, que já estejam todos prontos para partir se eles conseguirem.

T-Dog ainda lhe pergunta quanto a Merle, então Rick pega a chave das algemas e entrega a T-

Dog.

Rick e Glenn saem do esconderijo, cada um com uma arma branca na mão e

caminhando como se fossem um zumbi. Eles continuam andando, e constatam que o plano

deu certo, enquanto os outros foram para o terraço acompanhar a trajetória deles. Ao

chegarem no telhado Merle se irrita ao ver que Rick não subiu com eles e pergunta se ele

havia saído com a chave de suas algemas. Então T-Dog mostra que as chaves se encontram

com ele.

Enquanto isso, no acampamento, Dale se encontra consertando o trailer e Amy

começa a ficar preocupada pela demora do grupo para voltar da cidade. De repente o T-Dog

consegue sinal com o acampamento, sendo capaz apenas de avisar que estão com problemas e

presos na loja de departamentos. Prontamente Shane avisa que não vão busca-los pois pode

ser muito perigoso para todos, irritando Amy que está preocupada com sua irmã.

Rick e Glenn continuam a caminhada até o caminhão, que até o momento está

funcionando. Sendo ilustrado na imagem a seguir.

82

Ilustração 25: Walkers – The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Mas quando começa a chover em Atlanta a água começa a dispersar o cheiro de suas

roupas. Não é preciso muito tempo para que os zumbis percebam a mudança do cheiro de

Rick e Glenn, começando a persegui-los pelas ruas.

Eles os acertam com as armas e saem correndo para conseguir chegar no destino a

salvo. Eles chegam ao portão, pulam e logo tratam de pegar as chaves do caminhão e acelerar

para fora ali, pois os zumbis já haviam conseguido derrubar as grades. Mas eles necessitam

fazer um caminho diferente para que consigam resgatar os outros, porém do prédio, o grupo

começa a achar que Rick e Glenn vão abandona-los.

Rick fala para Glenn que necessita da porta de entrada livre de zumbis, ele precisa

que Glenn os distraia pare que seus companheiros possam sair. Glenn pergunta para Rick

como ele fará isso, ele o responde que será com barulho. Assim, eles vão a um

estacionamento e arrombam um carro esportivo. Com o alarme dele ligado, Glenn pega a

direção e vai a caminho da loja de departamentos, ele avisa pelo walk talk para que todos

estejam prontos e esperando por Rick no portão de entrada.

Rapidamente todos pegam suas coisas e correm para esperar Rick, porém esquecem

de desalgemar Merle, T-Dog acaba ouvindo pelos gritos desesperados de Merle e rapidamente

corre com a chave em mãos para ajuda-lo, mas com a pressa acaba deixando a chave cair

dentro de um ralo. Sem ter como ajudar Merle, T-Dog sai correndo atrás dos outros colegas

deixando Merle preso ao cano, mas antes de ir, ele trava a porta com um cadeado para que os

83

zumbis não consigam chegar até ele. Andrea e os outros dois já se encontram preparados,

esperando Rick, quando ouvem o alarme de um carro chegando próximo a eles.

Glenn posiciona o carro com o alarme ligado próximo a porta e espera uns momentos

para que consiga chamar a atenção dos zumbis. Quando consegue ele sai em disparada com o

carro.

Ao chegar à parte de baixo da loja de departamentos, T-Dog vê que os zumbis

haviam acabado de quebrar a segunda porta e vidro e avançavam em sua direção. Então ele

corre até a sala onde os amigos estão. Assim que ele chega ao grupo, Rick também chega para

resgata-los. Rapidamente eles colocam todas as bolsas dentro do caminhão e sobem para

fugir, deixando Merle abandonado no telhado do prédio onde estavam.

Durante o trajeto de volta, T-Dog avisa os outros que deixou a chave das algemas

cair, dando a entender que Merle havia ficado preso. Alguns segundo depois Andrea sente a

falta de Glenn e pergunta onde ele está. A cena corta para a estrada de saída da cidade com

Glenn dirigindo o carro em alta velocidade indo em direção ao acampamento.

O segundo episódio, denominado de “Guts” (Entranhas), e é muito parecido com um

filme de ação. De acordo com o ator Andrew Lincoln, que interpreta Rick, ele afirma que

cada episódio possui um ritmo diferente, porém são iguais em sua essência.

Esse é o momento no qual Rick encontra outros sobreviventes e tem mais contato

humano. Agora, nada mais era como antes, nem mesmo as pessoas, fazendo-as descerem até

seus níveis mais baixos. Como acontece com Merle, que age como idiota com todos os outros

do grupo, colocando-os em perigo.

Quando Andrea conhece Rick, prontamente ela aponta uma arma para sua cabeça,

mostrando um momento de desespero da personagem. Andrea deixa transparecer a sua

preocupação em se manter viva e a necessidade de cuidar de sua irmã.

Rick é o personagem que traz a humanidade para aquelas pessoas. Ele apoia Andrea,

que é uma mulher forte, mas ao mesmo tempo também é vulnerável e está com medo do que

está acontecendo. Ele também dá coragem a aquelas pessoas que estão em meio a conflitos

mentais devido à situação. No momento que eles abrem o corpo do zumbi, Rick os faz

lembrar que aquela pessoa era um homem com uma vida, que teve seu primeiro amor, sonhos

e uma família.

Ainda é percebido que os breves momentos de humanidade, que aparecem neste

episódio, faz com que os espectadores comecem a se identificar com os personagens da série,

conhecendo suas personalidades.

84

Neste episódio também é abordado o relacionamento entre Lori e Shane. Mas

enquanto de um lado, há o sentimentalismo e o emocional de Shane por ele ter se apaixonado

por aquela mulher, pelo outro tem Lori, para qual aquele relacionamento é completamente

diferente. Para ela é a necessidade de sentir outro corpo vivo perto do seu lhe dando força e

esperança para continuar em frente.

Este episódio também é chamado de “Coragem”, devido ao fato dos personagens

estarem lutando contra seus medos para conseguir escapar daquela cidade mortal. E o papel

de Rick é fundamental para eles, tanto que é visto essa característica em Glenn, quando ele

aceita se cobrir de tripas e sangue de zumbi para andar no meio deles.

Ele olha para Rick e vê o que ele quer ser um dia.

O episódio é cheio de estresse e adrenalina, porém ao terminar mostra Glenn

realizando o sonho de qualquer homem dirigindo o carro esporte em alta velocidade, sem se

preocupar com nada, utilizando daquela diversão como uma pequena válvula de escape.

Porém o mais interessante deste episódio é que ele não existe originalmente na

história da HQ. Ainda há mais personagens envolvidos nos acontecimentos. Para os

quadrinhos todos esses fatos poderiam deixar a história cansativa. A HQ faz uma explicação

rápida de como Rick consegue sair de Atlanta a salvo. Enquanto a televisão tem o poder de

trazer um episódio com informações inteiramente novas, fazendo a história de Rick ficar mais

interessante, mas sem ficar massiva.

É válido destacar que há alguns fatos utilizados neste episódio são inseridos em

contextos diferentes na história que foi adaptada para a televisão. São acontecimentos que

originalmente nos quadrinhos são utilizados de outra forma e em partes diferentes da história.

Nos quadrinhos também há a cena onde Rick e Glenn se sujam de tripas de zumbi

para andar em meio a cidade sem serem percebidos, mas o contexto no qual essa cena é

inserida é completamente diferente do que foi feito para a série, ainda não há a presença dos

outros personagens neste momento, se tratando de uma coisa que acontece apenas entre Rick

e Glenn, como será visto no decorrer da análise.

Podemos perceber ainda, que neste episódio houve a adição de alguns personagens,

que na HQ não existem. Merle, T-Dog, Morales e Jacqui. Eles fazem parte de um enredo

criado especialmente para mostrar o que as pessoas são capazes de fazer para sobreviver ao

apocalipse. Mostra as relações interpessoais em casos extremos, como acontece com o grupo.

A televisão tem a possibilidade de fazer o que o quadrinho não tem. Ela pode explorar mais as

relações entre os personagens. O mesmo se feito no quadrinho, poderá se tornar cansativo e

85

não ter o mesmo impacto desejado. O meio não suporta explicações aprofundadas, havendo a

necessidade de ser mais dinâmico em seus acontecimentos.

4.3.3 Tell it to the frogs

O terceiro episódio se inicia com Merle preso no telhado do prédio. A cena mostra o

personagem delirando, comentando coisas do passado e conversando com Rick como se ele

ainda estivesse ali. Dado um tempo, Merle se cala e cai em desespero quando lembra que está

algemado a um cano no telhado de um prédio que é cercado por zumbis. De repente a porta se

abre, porém não por completo (lembrando que T-Dog antes de abandonar Merle tranca a porta

com correntes e um cadeado), os zumbis tentam passar, mas não conseguem por não haver

espaço o suficiente. Ilustrado na imagem a seguir.

Ilustração 26: Merle and zombies - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Merle, no desespero, tem um lapso de fé, pedindo ajuda a Deus para que consiga sair

dali. Mas depois se revolta contra sua “fé” momentânea, afirmando que nunca precisou de

Cristo antes e não era naquele momento que iria precisar. Merle então encontra as ferramentas

que haviam caído no chão (ao voltar para tentar ajudar Merle, T-Dog esbarra na caixa de

ferramentas as deixando caírem no chão) e tenta alcança-las com um cinto.

A cena corta para Rick junto dos outros sobreviventes retornando ao acampamento.

Ele fica preocupado por ter deixado Merle para tras, porém Morales fala para ele não ficar

com remorso, pois ninguém sentiria falta dele a não ser seu irmão Daryl. No meio do

caminho, eles ouvem o alarme do carro que Glenn está dirigindo se aproximar.

De volta ao acampamento, os sobreviventes estão fazendo suas tarefas do dia. Lori

está cortando o cabelo de Carl, ele então reclama do que a mãe está fazendo. Shane, que se

86

encontra ao lado dos dois, conta que cortar o cabelo é fácil, o problema será quando ele

começar a se barbear. Ele ainda fala para Carl que se ele passar por esta tarefa com sua mãe

ileso o ensinará a caçar rãs. O clima de descontração entre os três é cortado de repente,

quando eles ouvem um alarme disparando e ficam em alerta ao que possa estar vindo. Dale

rapidamente identifica ser um carro roubado, ao se aproximar eles identificam Glenn e

rapidamente desligam o alarme do carro. Ao mesmo tempo Amy aborda Glenn desesperada

por notícias de sua irmã o enchendo de perguntas. Ele responde que todos estão bem e logo

estarão de volta, menos Merle.

Eles repreendem Glenn reclamando do barulho que o carro havia feito, que poderia

ter atraído zumbis para o acampamento, mas logo se acalmam. Em seguida chega o caminhão

com os outros sobreviventes. Eles saem do caminhão diretamente ao encontro de seus amigos

e família. Ao ver essa cena Carl se entristece por saudades de seu pai.

Então Shane pergunta a eles como conseguiram sair da cidade. Glenn responde que

foi o cara novo que os ajudou, chamando-o para junto do grupo. Quando Rick sai do

caminhão ele dica desorientado e não acredita do que está vendo. Ele encontra naquele grupo

de pessoas tudo o que ele mais queria sua esposa Lori e seu filho Carl saindo correndo ao

encontro deles da mesma forma que acontece nos quadrinhos. Como mostra a ilustração.

Ilustração 27: Family - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011) e Kirkman, Moore (2010 p. 52).

O começo do terceiro episódio aborda até onde um homem é capaz de ir para

sobreviver. Como já mencionado, Merle e T-Dog são personagens que, originalmente, não

existem na história em quadrinhos. Merle surge para mostrar o pior das pessoas, a loucura que

aquela situação é capaz de leva-los. Sua prisão no telhado também é prova do que um homem

pode fazer por seus objetivos. Rick, ao algemar Merle, assume que não é mais aquele policial

certinho que cumpre todas as regras e sim um homem que fará de tudo para encontrar sua

87

família novamente, ainda é capaz de acabar com tudo que estiver em seu caminho. Neste

momento é mostrado que apesar de ser uma boa pessoa, Rick também tem seu lado “negro”.

Por ser uma série de televisão, ela consegue contar em mais detalhes outros

acontecimentos que o quadrinho não consegue. Tendo o uso de recursos áudio e visual a

televisão consegue mostrar o que são aquelas pessoas.

De volta aos quadrinhos, da página 53 até a página 58, Rick está de volta para a

felicidade de sua mulher e filho. Lá ele encontra Lori, Carl e Shane.

Rick conta para Lori que estava preocupado com eles quando Shane aparece. Lori

explica que foi Shane que os ajudou a sair da cidade. Então Rick agradece ao amigo por tudo

e diz que deve a vida de sua família a ele. Shane diz que não foi mais do que sua obrigação,

ainda mais por ter deixado Rick levar um tiro.

Enquanto isso Glenn está com Allen mostrando o que trouxe da cidade para o

acampamento. Logo em seguida, Shane leva Rick pelo acampamento para apresenta-los a

todos. Ele apresenta Glenn, que já é conhecido de Rick, Allen que está ajudando Glenn com

os suprimetos, ainda fala da esposa de Allen, Donna e seus dois gêmeos. Próximos ao trailer

fazendo a vigia ele apresenta Dale, Jim logo ao lado, Carol e sua filha Sophia dentro do carro

e as irmãs Amy e Andrea. Shane ainda pergunta as duas se elas haviam visto Donna e as

crianças, quando Donna aparece para conhecer o novo sobrevivente. Shane o apresenta como

“Lori‟s husband” (Marido de Lori), Donna fala que é a melhor coisa que ouvirá em todo o

mês e chama Shane para se retirar dali para deixar Rick e Lori a sós

Caindo a noite, Rick agradece Lori por ter salvo sua aliança e pergunta se Carl já

havia adormecido, Lori responde que sim e pede desculpas a Rick por tê-lo deixado no

hospital, ela ainda conta que ficariam pessoas lá para cuidar dos enfermos. Rick fala para a

esposa que entende a decisão dela e teria feito o mesmo para salvar Carl, ele também diz que

agradece pelo o que Shane fez por eles.

Ainda no quadrinho, Lori conta que sem ele não teriam sobrevivido. Rick pergunta a

Lori se apenas Dale fazendo a vigia é o suficiente. Ela responde que sim, que o maior número

de zumbis que já apareceu por ali foi 3, Lori diz ainda que ninguém realmente dorme no

acampamento, eles possuem o rifle de Dale e a arma de Shane para se defender e assim que

ouvem barulhos também podem recorrer a pás que há espalhadas pelo lugar.

Num momento de silêncio entre os dois, Lori percebe que Rick começa a tremer e o

pergunta se está tudo bem. Ele responde que esteve tão preocupado em encontrar os dois que

não havia tido tempo para ter medo de tudo que havia visto. Então o casal entra na barraca, se

juntando a Carl para ter uma noite de “descanso”.

88

Na série, depois de Rick ter um dia conturbado até chegar ao acampamento e

encontrar Lori e Carl, Rick se reúne ao grupo em volta de uma fogueira. Rick conta aos outros

sobreviventes como ele estava se sentindo, desde o momento em que acordou do coma até a

sua chegada ao acampamento. Lori conta para Rick que haviam dito no hospital que

transfeririam todos os pacientes para Atlanta, mas que pelo visto não chegou a acontecer.

Shane ainda conta que mal conseguiu tira-los de casa.

Neste momento, Ed, que é marido de Carol, acende fogo alto chamando a atenção de

Shane. Logo ele relembra a Ed das regras do acampamento, de que as fogueiras fiquem na

brasa para não atrair atenções. Ed retruca, afirmando que esta frio, mas Shane o avisa que isto

não muda as regras. Logo Shane chega próximo à fogueira de Ed e a apaga. Ainda pergunta a

Carol e Sophia se está tudo bem e as deseja uma boa noite.

De volta à roda, o grupo começa a se preocupar com o que dizer a Daryl Dixon,

irmão de Merle, que havia sido deixado preso no telhado do prédio. Eles começam a discutir

sobre a reação que ele vai ter ao descobrir o que aconteceu. T-Dog diz que assumirá a culpa

por ter deixado a chave cair e Rick por tê-lo algemado. Andrea os fala para não ficarem se

culpando, pois o único culpado da história era o próprio Merle, que estava colocando todos

em perigo com suas atitudes. No entanto eles acreditavam que a essa hora Merle já estaria

morto, quando T-Dog conta que trancou a porta para que os zumbis não passassem, deixando

Merle preso a um cano e trancado em cima do prédio sofrendo. Já dentro de sua cabana, Rick

tem um momento carinhoso com seu filho e um tempo para ficar a sós com sua esposa. Como

seré ilustrado na imagem 28. Ele conta a Lori que tinha certeza de que eles estavam vivos,

pois ao entrar em casa após sair do hospital, ele percebeu que as fotos e álbuns de família

haviam sumido. Neste momento Lori se desculpa com Rick por tudo. Ele afirma a ela que é a

chance deles começarem de novo, então Lori entrega para Rick sua aliança de volta.

Do lado de fora, fazendo a vigia, se encontra Shane, sozinho olhando diretamente

para a cabana onde Lori e Rick estão, ele aparece chorando por causa de Lori.

Ilustração 28: Rick and Lori - The Walking Dead

89

Fonte: Dados primários (2011) e Kirkman, Moore (2010, p. 58).

Este é o momento, tanto da série quanto do quadrinho, que Rick conhece o grupo.

Há alguns pontos de grandes diferenças entre as duas histórias neste trecho,

primeiramente, a série, antes de trazer Rick ao acampamento, mostra o relacionamento de

Lori e Shane. Há a necessidade de mostrar ao espectador que algo grande está por vir deste

triângulo, ajudando também na dinâmica dos personagens. Quando Rick chega ao

acampamento é notada imediatamente a mudança nos ares. Shane se torna mais frio e sério

com todos os presentes.

No lugar, ainda é visto que há mais sobreviventes do que o quadrinho apresenta,

porém um deles chama a atenção. Ed é o marido de Carol, que representa pessoas mais

individualistas e egoístas. No quadrinho temos a personagem Carol, mas não há a existência

de seu marido. No decorrer das análises entenderemos melhor o papel de Ed na trama

apresentada para a série.

De volta à história dos quadrinhos, da página 59 até a página 74, ao acordar, Rick

encontra Shane. Ele fica surpreso por encontrar o amigo já acordado. Shane o pergunta se ele

gostaria de tomar um banho no trailer de Dale. Rick fica extremamente agradecido e aceita a

oferta, ainda Shane o diz para não demorar, pois eles iriam caçar.

Saindo do banho, Rick encontra Dale dentro do trailer. Dale aborda Rick,

perguntando se ele é o marido de Lori, Rick responde que sim, então Dale fala para Rick que

Lori só falava dele no mês que ele não estava por perto, ela se sentia culpada por tê-lo deixado

para trás. Porém ele avisa que Rick precisa ter cuidado com Shane, ele conta que Shane não

estava nem um pouco contente de ver Rick de volta e que percebeu que está de olho em Lori

desde que os conheceu.

Rick diz para Dale não se preocupar, que Shane é um grande amigo e estava apenas

cuidando de sua esposa. Mas Dale volta a frisar que não confiaria em Shane ao lado de sua

esposa.

90

Ilustração 29: Dale and Rick - The Walking Dead

Fonte: Kirkman e Moore (2010, p. 60).

Saindo do trailer, Rick vê Shane e Lori conversando amigavelmente e vai ao

encontro deles. Shane pergunta se Rick já está pronto para a caçada. Antes de ir Rick fala com

Lori, ela pede para ele ter cuidado e ainda diz que o ama, tendo a mesma resposta em troca.

Paralelo a isso, Lori se reúne com Donna e Carol para ir lavar as roupas do pessoal

do acampamento. Ela avisa Carl que sairá por uns momentos e pede para que ele fique a vista

de Allen. Ainda Amy e Andrea se disponibilizam para ficar de olho nas crianças enquanto

elas vão até o riacho.

Durante o caminho, Lori e Carol conversam sobre o novo detergente que Glenn

trouxe para elas, enquanto Donna, irritada, pergunta as duas se elas estão ouvindo o que estão

falando. Lori responde que apenas estão vendo a possibilidade de as roupas ficarem mais

perfumadas. Donna ainda reclama não entender porque elas lavam as roupas e os homens

caçam, se perguntando quando as coisas voltaram ao normal. Lori não acredita no que ouve e

rebate a reclamação de Donna afirmando que ela não seria capaz de caçar, pois não sabe nem

91

ao menos utilizar uma arma, ainda afirma que não confiaria a Rick a tarefa de lavar as suas

roupas. Ela conta que não é uma questão sobre direitos femininos e sim o que precisa ser feito

para o melhor do grupo.

No acampamento, Carl e Sophia estão brincando, quando Sophia pergunta a Carl se o

pai dela também irá voltar, assim como Rick. Mas Carl explica que não é a mesma coisa,

enquanto o pai de Sophia já havia morrido e dele apenas estava doente no hospital.

De volta à floresta, Shane conta para Rick que achava que levando Lori e Carl para a

casa dos pais dela eles estariam seguros. Ainda que acreditava que aquilo tudo acabaria em

uma semana e que não queria ter que se explicar na delegacia o sumiço de algumas armas.

Rick conta para Shane que se ele tivesse visto a situação da cidade como ele viu, não

se preocuparia com as armas, ele ainda acredita que as coisas não voltaram a ser como antes.

Continuando por dentro da floresta, Shane agradece Rick por ter trazido mais armas,

contando que tinham apenas o rifle de Dale e o seu revolver, eles estavam se alimentando

apenas das conservas que Glenn havia trazido da cidade. Nisso Rick pergunta a Shane porque

Glenn se arisca tanto entrando e saindo da cidade. Shane afirma que não sabe, porém conta

que Glenn consegue entrar e sair daquela cidade sem ser notado.

No meio da caçada, Shane escuta algo e pede silêncio para Rick. Eles vão atrás do

som quando dão de encontro com um zumbi se alimentando de um cervo, ele começam a

discutir o que será o melhor a fazer com ele e ainda se seria seguro se alimentar daquele

cervo.

92

Ilustração 30: Zombie - The Walking Dead

Fonte: Kirkman, Moore (2010, p. 66).

Ainda no lago, Lori e Donna estão falando as roupas enquanto Carol faz a vigia do

local. No meio das conversas, Donna pergunta para Lori como conheceu Rick. Ela conta que

o conheceu através do irmão de Rick. Após contar a história elas terminam de lavar as roupas

e decidem voltar para o acampamento.

No quadrinho, no caminho de volta, Allen vê as três se encaminhando para o

acampamento, quando de repente surge um zumbi atrás delas. Logo ele as avisa. Lori e Carol

saem correndo, porém Donna fica paralisada, atrapalhando a visão de Allen que não consegue

tirar no zumbi. Quando Dale surge na mata e corta a cabeça do morto-vivo com um machado.

Donna ainda assustada agradece Dale por ter salvo sua vida

Enquanto Dale explica que estava cortando lenha quando ouviu os gritos, a cabeça

do zumbi volta à vida.

Ainda na floresta, Rick e Shane decidem que não é bom pensar em comer a carne

daquele cervo, já que deve estar infestado de doenças vindas do zumbi. Eles ficam surpresos

por conseguir ver um zumbi tão de perto sem ter que correr dele. Neste momento o morto-

vivo percebe a presença dos dois homens e se levanta para ataca-los. Prontamente Rick pega

seu machado e o acerta diretamente na cabeça. Logo em seguida eles ouvem um tiro vindo do

acampamento e saem correndo para ver o que está acontecendo.

93

Ao voltarem, Lori corre para Rick lhe contando o que havia acontecido. Que mesmo

sem a cabeça no corpo o zumbi ainda estava vivo. O tiro que foi dado serviu para matar

aquela criatura de vez. Abraçados, Rick consola Lori e afirma que ficaria tudo bem agora, que

ele iria protegê-la, enquanto Shane os observa de longe.

Por mais que o quadrinho e a série voltassem a se encontrar quando Rick chega ao

acampamento, as histórias voltam a se separar. Como o personagem de Merle não existe na

HQ, Rick não vê a necessidade de voltar à cidade tão cedo. Neste momento do quadrinho é

apresento ao leitor seus personagens e suas personalidades.

Passamos a conhecer a nova vida daquele grupo. Ainda há personagens que

acreditam que logo a vida voltará a ser como era, como a personagem Donna.

Ainda começam a aparecer os primeiros zumbis próximos ao acampamento e os

primeiros indícios da relação entre Shane e Lori. Nos quadrinhos os personagens já começam

a perceber as intenções e atitudes de Shane com relação a ela.

Desde o começo a intensão de Robert Kirkman é mostrar como seria a vida das

pessoas após o apocalipse zumbi. O autor dos quadrinhos sempre achou muito legal filmes

sobre zumbis, mas e o que aconteceu com as pessoas que sobreviveram? Como elas vivem

agora? O que elas são capazes de fazer para defender as únicas coisas importantes que lhe

sobrou após tudo isso.

Essa parte do quadrinho dá a chance do leitor conhecer, entender e compreender os

personagens. Compreender como eram suas vidas. Ainda na combinação de suas ilustrações e

falas consegue transmitir uma enorme quantidade de informações para o leitor.

Voltando aos acontecimentos da série, Rick acorda no acampamento e já encontra

todos trabalhando em suas tarefas. Carol o avisa que suas roupas já estão limpas, que só

precisam secar um pouco mais.

Rick continua a caminhar pelo acampamento quando encontra com Glenn, que está

observando os outros homens depenar o carro com o qual ele voltou para lá. Glenn fica

chateado, pois ainda acreditava que poderia andar com o carro mais alguns dias, Rick fala a

Glenn para não ficar triste pois poderão roubar outro carro daquele qualquer dia e se retira,

indo se encontrar com Lori.

Lori pergunta como o marido havia dormido e no que ele estava pensando. Rick

conta que ainda pensa no homem que haviam deixado para trás. Lori não acredita no que ouve

do marido, quando Shane chega ao acampamento com água para o grupo. Voltando a atenção

para a conversa dos dois, Rick pergunta a ela o que acha da idéia. Lori responde que acha um

absurdo, pois ele havia acabao de chegar ao acampamento. Neste momento eles ouvem Carl

94

chamando por Lori, ele corre em direção aos pais assustado. Todos os homens do

acampamento correm ao local indicado por Carl.

Na floresta, eles encontram um zumbi se alimentando de um cervo. Logo eles cercam

o zumbi e começam a ataca-lo. Até que Dale arranca a cabeça do morto-vivo, ele comenta que

é o primeiro que vai tão longe. Jim justifica o fato afirmando que estão ficando sem comida

na cidade tendo a necessidade de irem buscar mais.

De repente, o grupo ouve um barulho vindo de dentro da floresta. Shane já se

encontra preparado para atirar, quando descobrem que era Daryl Dixon que estava caçando o

cervo que o zumbi havia comido, conforme pode ser visto na ilustração a seguir.

Ilustração 31: Zombie 2 - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Daryl pergunta se ainda daria de comer aquele cervo, Shane afirma para ele que não

arriscaria, pois correria o risco da carne estar infectada. Daryl ainda conta que conseguiu

matar uma dúzia de esquilos. Ele recolhe suas flechas que havia atirado no cervo e se

preparam para ir embora dali. Nisso, a cabeça do zumbi volta à vida, assustando o grupo,

então Daryl se irrita, afirmando que tem que ser um tiro direto no cérebro para mata-lo,

atirando uma flecha na cabeça do morto-vivo.

De volta ao acampamento, Daryl chama por Merle, avisando que conseguiu pegar

alguns esquilos quando Shane o chama, alegando que precisam conversar. Ele conta a Daryl

que houve um problema com Merle em Atlanta. Daryl então pergunta se ele está morto,

porém Shane o diz que não sabe, quando chega Rick contando para Daryl que ele algemou

95

Merle a um cano de metal e o deixou no telhado. Daryl se irrita com a notícia e parte para

cima de Rick. Ele e Shane conseguem detê-lo e acalma-lo quando T-Dog conta que a culpa

não foi de Rick, mas sim dele, que tinha a chave, mas deixou cair. Daryl ainda pergunta se

não tem como pegar a chave, mas T-Dog fala que a deixou cair dentro de um buraco, mas

conta que antes de ir embora fechou a porta com uma corrente e cadeado, impossibilitando a

entrada dos zumbis.

Então Daryl pede para que o digam onde Merle está, para poder ir busca-lo. Neste

momento Lori menciona que Rick irá leva-lo até o lugar. Rick conta que vai voltar a cidade.

Shane se revolta, perguntando a Rick porque ele arriscaria a sua vida por alguém

como Merle Dixon, Rick conta que nunca deixaria alguém morrer naquelas condições. Ao ser

perguntado se iriam somente ele e Daryl, Rick recruta Glenn, alegando que conhece a cidade

melhor do que qualquer outro e T-Dog logo se prontifica para ajuda.

Lori não entende o porquê disso, quando Rick explica que não é apenas Merle que

está em questão, ele havia perdido uma bolsa com armamento quando foi encurralado pelos

zumbis e lá havia um walk-talk que o ajudaria a falar com Morgan, caso ele estivesse vindo

para Atlanta. Ele conta que tem uma dívida com aquele homem que o salvou da morte.

Eles se preparam e vão para a cidade

No acampamento, Lori volta para sua barraca preocupada e diz para Carl que seu pai

vai ficar bem, para ele não se preocupar. Porém Carl afirma não estar preocupado,

acrescentando que se nada o matou até agora, uma ida a cidade será tranquila.

Os quatro logo chegam à entrada da cidade, porém necessitam deixar o carro e seguir

viagem a pé.

No acampamento, Lori procura por Carl, quando Dale conta para ela que ele está

com Shane na pedreira, eles haviam falado algo sobre pegar rãs.

Lá, Shane está ensinando Carl como caçar rãs, enquanto Jacqui reclama que não está

muito contente com a divisão dos trabalhos. Carol rebate que é assim que deve ser e continua

lavando as roupas.

Já na cidade, Rick, Daryl, Glenn e T-Dog precisam decidir o que fazer primeiro.

Como Glenn é o que melhor conhece a área ele decide ir atrás de Merle primeiro e em seguida

das armas.

Ainda na pedreira, Carol, Amy, Andrea e Jacqui conversam sobre o que sentem falta

e se divertem com a conversa. Quando Ed, que estava apenas observando, chega cortando o

clima e as manda se focarem no trabalho.

96

Logo Lori chega a pedreira chamando a atenção de Carl por ter saído das vistas de

Dale, ele conta para a mãe que Shane iria ensina-lo a caçar rãs, mas Lori o diz que o que vale

é a palavra dela e o manda de volta ao acampamento. Então Shane a chama falando que não

deveria descontar sua raiva em seu filho. Eles começam a discutir e Lori o pede para que

fique longe de sua família, agora seu marido havia voltado, ele estava vivo e Shane não tinha

mais nada a ver com isso, deixando-o frustrado e irritado com a situação.

Paralelo a isso, o grupo chega ao prédio onde deixaram Merle, tomando cuidado com

os zumbis que há haviam entrado no prédio.

De volta ao acampamento, na pedreira Andrea se incomoda com a atitude de Ed e o

enfrenta, Ed a ameaça, afirmando que só porque ela tem estudos não irá deixar de bater nela

se necessário. Neste momento ele chama Carol para que os dois voltem para o acampamento,

Carol se levanta, mas as outras mulheres não a deixam ir. Elas falam para Ed que sabem que

ele bate em sua mulher, assim Ed parte para cima de Carol dando um tapa em seu rosto. No

mesmo momento Shane, que estava observando a situação, corre para tira-lo de lá e começa a

espanca-lo, afirmando que se ele encostar a mão em alguma outra pessoa daquele

acampamento ele o matará sem pensar duas vezes. Como será ilustrado na imagem a seguir.

Ilustração 32: Shane and Ed - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

A imagem retorna para a cidade, onde Rick e seu grupo sobem as escadas chegando

a porta que havia sido trancada por T-Dog, o mesmo pega o alicate e quebra o cadeado. Daryl

97

sai correndo pela porta a dentro, porém não encontra Merle lá, apenas sua mão decepada,

como é ilustrado na imagem a seguir.

Ilustração 33: Merle's Hand - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Assim como nos quadrinhos, a série se encontra num momento aonde ela vai com

mais calma apresentando os personagens e suas personalidades. Ainda trabalha o que aqueles

personagens podem interferir nas relações do grupo.

É possível perceber tanto em Merle, quanto em Ed que a natureza humana pode ser

mais perigosa do que os próprios zumbis. Naquela situação as regras e leis não valem mais,

deixando os personagens livres para se expressarem da forma que desejarem.

Reforçando o que foi dito anteriormente, Kirkman tinha o desejo de trazer uma série

de quadrinhos que mostrasse a vida das pessoas após o apocalipse e nas situações mais

adversas. Mas como o quadrinho possui uma limitação do que se consegue explicar a

televisão consegue complementa-lo e preencher essas lacunas.

Neste trecho do episódio, o diretor consegue dar um espaço para Shane demonstrar

toda sua frustração por ter “perdido” a Lori, surrando Ed. A sociedade já não é mais a mesma,

e o personagem de Ed traz a questão a violência contra a mulher, então Shane une dois pontos

importantes: sua frustração e a vontade de dar uma lição em Ed. O ato que serie considerado

errado na sociedade que se vivia antes naquele momento se tornava o mais certo a se fazer.

Ainda mostra que todos que estão ali tem o objetivo de proteger alguém, mesmo que

esta não seja a melhor pessoa do mundo. Daryl se importa com seu irmão, tanto quanto Rick

com sua família. Mesmo em meio a esse caos há humanidade em todos os personagens.

No final deste episódio, é quando realmente é apresentado para o espectador o que

um ser humano pode fazer, do que ele pode abrir mão para sobreviver, quando Rick e seu

grupo chegam ao telhado e encontram apenas a mão de Merle no chão.

Voltando para a história dos quadrinhos, da página 75 até a página 118, a noite chega

e Shane está em cima do trailer fazendo a vigia do acampamento, quando Rick chega sem

98

fazer barulho, assustando o amigo. Rick diz a Shane que foi ali porque precisava conversar

com ele. Rick fala para Shane que acredita que seja a hora de mudar o acampamento de lugar.

Shane pergunta se Rick enlouqueceu, ele acredita que quando o governo começar a limpar as

cidades iram começar pelas cidades grandes como Atlanta e será mais fácil de encontra-lo se

o grupo se manter ali.

Rick indaga Shane sobre quando que o governo vai acha-los e que aquele lugar está

começando a se tornar perigoso e com o inverno chegando apenas piorará. Shane não aceita a

opinião de Rick e dizendo que é muito arriscado saírem dali e aquele é o local ideal para

serem resgatados. Rick continua tentando convencer o amigo, mas não adianta, a decisão final

é a de Shane.

Rick acaba concordando, porém fala para Shane que o grupo precisa de mais

munição, isto teria feito a diferença mais cedo, se Donna estivesse com uma arma para se

defender do zumbi. Então Shane o pergunta onde conseguirá mais armas. Rick fala para o

amigo deixar isso com ele. Neste momento Dale aparece pedindo aos dois que fizessem mais

silêncio.

Ainda no quadrinho, no dia seguinte, Rick vai encontrar Glenn. Ele pergunta para

Glenn se em suas idas a cidade ele se lembra de ter visto alguma vez uma loja de armas. Ele

responde para Rick que nunca percebeu e pergunta por que o interesse. Rick conta que como

todos foram para as cidades em busca de proteção, então não deve ter havido muitos roubos

nas cidades e quando tudo aconteceu, provavelmente não tiveram tempo de entrar numa

dessas lojas. Glenn afirma que não conhece nenhuma loja desse tipo, mas conhece alguém

que sabe onde poderiam encontrar.

Eles vão ao encontro de Jim, que da a localização exata de uma loja em Atlanta.

Rapidamente eles vão até o carro buscar o mapa da cidade.

Antes de sair, Rick avisa Lori que voltará para a cidade em busca de armamentos,

porém ela não compreende o porquê ele precisa ir e ainda fala que ficará preocupada com ele

novamente. Rick diz para ela e Carl que não precisam ficar preocupados, Glenn os manterá

seguros e voltaram antes que se deem conta, ele ainda fala pra Carl que, quando volta o

ensinará a atirar, mas Lori logo avisa que não gosta nada da idéia.

Ele fala para ela que logo estará de volta se despedindo com um eu te amo.

No caminho para a cidade, Rick pergunta a Glenn o que há com Jim. Glenn explica

que Jim era o cara que havia saído de Atlanta vivo, porém antes disso ele presenciou sua

família ser devorada, ainda conta que Jim só conseguiu sair vivo, pois os zumbis estavam

muito ocupados se alimentando de sua esposa.

99

Subitamente, Glenn para no meio do caminho avisando a Rick que eles possuem um

problema. Rick pergunta o que aconteceu, Glenn responde que a loja de armamentos que Jim

falou fica a cinco quarteirões do local onde Glenn achou Rick. Na mesma hora Rick tem uma

idéia sobre como conseguir chegar lá, guiando Glenn para o local onde ele e Shane haviam

encontrado um zumbi comendo um cervo.

Ao ver o zumbi, Glenn não entende o que está acontecendo e pede uma explicação a

Rick. Ele conta ao amigo que vem observando os mortos-vivos e nunca os viu se atacando,

então ficou pensando no que os diferencia deles, quando descobriu que a chave é o cheiro.

Rick tem certeza que conseguiriam se misturar com os zumbis se conseguissem

resolver este problema. Então ele pega um machado e começa a cortar pedaços do corpo do

zumbi e pede para que Glenn esfregue as tripas dele em suas roupas.

Glenn apenas alerta Rick para que não esfregue aquelas coisas em seu rosto, pois o

contato da pele com qualquer coisa vindo daquele zumbi poderia ser prejudicial a Rick.

Depois de se prepararem eles partem para a cidade para testar a teoria de Rick e se der certo ir

a loja de armas.

Eles entram num beco onde há um zumbi sentado num canto para testar o plano e

descobrem que daria certo. Logo eles entram na cidade e vão em direção a loja. A cidade os

assusta pelo número absurdo de mortos-vivos que tem lá, mas continuam a caminhada

conforme ilustrado na imagem a seguir.

Ilustração 34: Rick and Glenn in Atlanta - The Walking Dead

Fonte: Kirkman e Moore (2010, p. 87).

100

Eles encontram a loja, mas antes de entrar, Rick pega um carrinho de super mercado

do meio da rua, falando para Glenn que com ele seria mais fácil de carregar as armas. Como a

porta é feita de madeira, Rick destrói em volta da fechadura para poderá abri-la. Mas ele

alerta Glenn que eles precisam ser rápidos, pois teve a impressão que os zumbis já

perceberam a presença deles por ali. Eles pegam tudo o que precisam e saem da loja com

pressa quando começa a chover e os dois se vêm obrigados a correr para se salvarem, pois a

chuva está tirando o cheiro de suas roupas.

No meio do caminho o carrinho acaba virando no chão, derrubando as armas,

rapidamente Glenn trata de coloca-las de volta enquanto Rick cuida dos zumbis que estão por

perto. Durante a confusão, Rick acaba sendo mordido no ombro por um dos mortos-vivos, ele

atira no zumbi e logo trata de sair correndo junto com Glenn.

Após conseguirem sair da cidade, Rick tira a jaqueta para se certificar que a mordida

atingira apenas seu casaco e pede para que Glenn não conte nada para Lori sobre o ocorrido.

No acampamento, Lori se encontra preocupada com a ida de Rick para a cidade.

Shane fala para ela que não precisa se preocupar, que logo Rick estará de volta e a chama para

a barraca falando que irá cuidar dela.

No momento que Shane chega mais próximo a Lori, ela reprova sua ação. Ainda Lori

diz que ele precisa parar com o que está fazendo, afinal seu marido havia retornado e estava

vivo. Shane tenta argumentar com Lori, porém ela fala que não adianta mais e que o que havia

acontecido entre eles foi um erro, deixando Shane arrasado.

Já de volta Rick e Shane começam a ensinar as mulheres do grupo a utilizar uma

arma, atirando em latas. Como será mostrado na ilustração 35. Depois ele chama por Carl

para ensina-lo também, porém Lori não gosta nem um pouco da idéia de seu filho com uma

arma. Carl acerta a lata e Rick o elogia, falando que talvez ele possa carregar uma arma assim

como todos no acampamento.

101

Ilustração 35: Carl -The Walking Dead

Fonte: Kirkman e Moore (2010, p. 101).

Logo, Shane parabeniza a todos, falando que estão aptos a se defenderem com uma

arma de um zumbi, ele conta que há três semanas estava muito preocupado com a segurança

de cada um, mas agora estarão bem e pronto para voltar ao acampamento.

Dito isso, Rick pede a atenção do grupo mais uma vez para avisar que Carl usará

uma arma e pede para que todos do grupo fiquem de olho em seu filho, para que ele não faça

mal uso dela. Nisso Lori dá as costas para Rick. Ele pede para que ela pare de agir daquela

maneira. Ela responde que não acha certo um menino de 7 anos carregar uma arma. Rick a

retruca falando que é melhor para ele assim terá mais segurança e se ele algum momento

utilizar a arma de forma errada não poderá usar nunca mais.

Chegando ao acampamento, o grupo é recebido por Allen, que havia ficado de vigia.

Dale, Amy e Andrea se encaminham para dentro do trailer, quando Donna faz um

comentário maldoso sobre os três para Lori, insinuando que possuem uma relação além de

amizade.

Com o inverno ficando mais intenso, Rick, Shane e Dale vão a floresta para buscar

lenha. Rick conta a Dale sobre os comentários de Donna sobre ele e as meninas. Ele explica

que não há nada de mais entre eles, enquanto Shane corta lenha.

Passado algum tempo, Shane se disponibiliza para fazer a vigília desta noite,

alegando que está bem descansado para isso. Então Dale diz que acha que já possuem lenha o

suficiente para retornar ao acampamento. Rick pergunta se ele tem certeza, pois as noites

estam cada vez mais frias, quando Shane fica irritado e explode com Rick dizendo que está

102

cansado de ouvir suas reclamações e que não mudará o acampamento de lugar indo embora,

deixando Rick e Dale sem compreender o que havia acontecido.

Já durante a noite, o grupo se reúne em volta da fogueira e começam a conversar

sobre suas vidas, sobre as coisas que faziam antes dos zumbis tomarem conta o mundo.

Em meio a isso, Amy se retira da roda e vai ao banheiro no trailer, ao voltar ela é

surpreendida por um zumbi, que a morde diretamente no pescoço, conforme a ilustração.

Figura 36: Amy's death - The Walking Dead

Fonte: Kirkman e Moore (2010, p. 110).

Logo em seguida, uma horda chega para atacar o acampamento, rapidamente todos

pegam suas armas e começam a matar de vez aqueles mortos-vivos que haviam conseguido

chegar até lá. Lori junta as mulheres e as crianças e tentam se refugiar em um local seguro,

porém um zumbi aparece bem na sua frente. Com tamanho nervosismo ela não é capaz de

atirar nele e deixa a arma cair no chão, quando seu filho Carl aparece e dá um tiro certeiro no

zumbi, salvando sua mãe. O tiroteio continua até que conseguissem acabar com todos eles,

mas um dos zumbis ataca Jim, que desconta toda sua raiva pela morte de sua família naquele

ser.

103

Depois que tudo se acalmou, Andrea avisa Dale que Amy morreu e não poderia a

deixar voltar como uma morta-viva, atirando em sua cabeça. Enquanto isso Lori se desculpa

com Rick por ter reprovado a idéia de Carl ter uma arma.

Nisto Lori percebe que Jim havia sido machucado na luta com o zumbi e precisa de

cuidados.

Nesta parte do quadrinho conhecemos um pouco mais da relação entre Rick e Shane

e conseguimos ver uma tensão crescente em seus diálogos. Remetendo ao ódio de Shane que

é formado por Rick.

O Rick desta história é lúcido e centrado, muito diferente do Rick da televisão. A

necessidade dele de ir a cidade é apenas para buscar armamentos. O momento descrito pelo

quadrinho não é apresentado pela série de televisão. A única parte que é efetivamente

aproveitada é quando Rick tem a idéia de utilizar as tripas do zumbi para conseguir se

misturar aos mortos-vivos. Ele não apresenta o mesmo sentimentalismo e humanidade ao

cortar em pedaços o corpo do zumbi, para ele não se trata nada mais de que uma pessoa

morta.

Ainda o momento que é descrito não é aprofundado, como será percebido na série.

Lembrando que as HQs consistem em dispor de imagens e palavras, onde, Eisner (1989)

afirma que a história é apresentada de forma harmônica e equilibrada, mas dentro das

limitações do veículo e em face da ambivalência do público em relação a ele.

Na série a questão das tripas aparece para ajudá-los a sair da cidade.

Ainda, enquanto na série Rick tem voz muito mais ativa, no quadrinho o líder do

acampamento é Shane, que se encarrega de tomar todas as decisões que acredita serem

melhores para o grupo.

Chegando ao momento onde as duas histórias voltam a se encontrar, na morte de

Amy.

4.3.4 Vatos

Na série de televisão, entramos no quarto episódio.

Ele se inicia com uma pescaria entre Amy e Andrea, elas começam a conversar sobre

pescaria e trazem o fato de terem 12 anos de diferença, de como seu pai havia ensinado a cada

uma delas uma forma diferente de pescar levando em consideração suas personalidades. O

104

que traz a elas saudades de sua família e um pouco de esperança que alguém ainda estivesse

vivo.

No acampamento, Dale está fazendo a vigia quando avista Jim no alto da pedreira

cavando de forma determinada.

Ainda na cidade, Rick, Daryl, Glenn e T-Dog estão no telhado. Daryl, desacreditado

do sumiço do irmão aponta sua arma para a cabeça de T-Dog, afinal ele que havia perdido a

chave para libertar Merle. Imediatamente Rick aponta sua arma para Daryl, avisando que se

for necessário não hesitará em atirar nele. Desta forma, Daryl se acalma e pede para T-Dog

um lenço ou algo assim.

Ele pega a mão do irmão, enrola no lenço e a guarda na mochila de Glenn. Sendo

mostrado na ilustração a seguir.

Ilustração 37: Daryl - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Então Daryl começa a seguir os rastros de sangue do irmão pelo telhado. T-Dog junta

as ferramentas de Dale que ainda estavam ali e saem a procura de Merle.

No acampamento, Dale vai ao encontro de Jim, perguntar o porquê de ele estar

cavando tanto e o avisa que se continuar assim irá passar mal por causa do calor. Porém Jim o

ignora e continua a prestar atenção nos buracos.

Voltando rapidamente para a cidade, o grupo está indo no rastro de Merle, vendo que

ele foi capaz de andar um bom pedaço e ainda acabar com dois zumbis com apenas a mão que

lhe restava. Mas eles precisavam ser rápidos, pois Merle poderia desmaiar com a hemorragia.

105

De volta ao acampamento, Amy e Andrea voltam da pescaria com ótimos resultados

que proporcionaram um belo jantar ao anoitecer. Neste momento, Dale chega ao grupo

avisando que eles têm um problema e mostra Jim no alto da pedreira cavando

determinadamente.

Paralelo a isso, na cidade, o grupo chega a um laboratório e descobrirem que Merle

cauterizou o próprio ferimento com fogo e uma pá, ainda que ele já havia saído do prédio por

uma janela, como será ilustrado na imagem a seguir.

Ilustração 38: Surviving - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Glenn não acredita e pergunta por que ele faria isso, Daryl o responde que até onde

Merle sabe, ele se encontra sozinho e precisa fazer de tudo para sobreviver. Daryl se

desespera, afirmando que precisa achar seu irmão, mas Rick o acalma dizendo que se não

fizerem tudo pensado podem acabar morrendo. Neste momento T-Dog afima que apenas vai

andar pela cidade se buscarem as armas antes.

Ainda no acampamento, o grupo vai até Jim descobrir porque ele está cavando

aqueles buracos. Lori diz que ele está começando a assustar as pessoas, principalmente Carl e

Sophia. Jim pede para que eles o deixem em paz para que continue o que estava fazendo.

Então, Shane pede para ele que pare um pouco, tome uma água e o entregue a pá,

que mais tarde voltaria com ele para ajudá-lo. Mas Jim se recusa, afirmando que ninguém

nunca o elegeu como líder do grupo, fala ainda que ele não tem o direito de se meter nas vidas

106

dos outros como havia feito com Ed. Assim Shane é forçado a pegar a pá contra a vontade de

Jim, o que os faz brigar.

Quando Shane consegue imobilizar Jim ele avisa que ninguém vai machuca-lo e que

é para o próprio bem dele, fazendo Jim desabafar, afirmando que era tudo uma grande

mentira, ele havia dito para sua família que nada ia machuca-los, mas infelizmente não foi

isso que aconteceu. Ele conta que os zumbis chegaram do nada e os atacaram, Jim apenas

conseguiu fugir, pois eles estavam distraídos se alimentando de sua família.

Na cidade, Glenn monta um plano para que consigam pegar as armas, enquanto ele e

Daryl vão por um lado, Rick e T-Dog o esperam em outro beco, caso Glenn não consiga

voltar pelo caminho que havia ido. Nesse momento Daryl o pergunta o que ele fazia antes de

tudo acontecer, quando Glenn responde que era entregador de pizza.

Cada dupla se encaminha para os seus lugares e Glenn sai em busca das armas, ele as

pega e volta correndo para encontrar Daryl. Enquanto isso Daryl está cobrindo o beco, quando

outro garoto aparece, imediatamente Daryl aponta sua arma para o garoto, que começa a gritar

por ajuda. Logo outros dois homens aparecem no local já dando uma surra em Daryl.

Em seguida, Glenn chega ao local presenciando a cena, rapidamente os dois homens

vão para cima dele a fim de pegar a bolsa com armas, mas não conseguem devido ao tiro que

Daryl dá na bunda de um deles.

Os homens fogem e acabam levando Glenn com eles. Enquanto o garoto que havia

aparecido no beco fica com Daryl, Rick e T-Dog. Eles pegam o garoto e voltam rapidamente

ao laboratório que estavam.

A série volta momentaneamente para o acampamento, onde Jim se encontra

amarrado a uma árvore. Shane vai até ele para lhe oferecer água. Enquanto isso ele pergunta

pra Shane por quanto tempo mais terá que ficar ali. Ele o responde que ficará até que ele tem

certeza que Jim não é um perigo para ele mesmo e nem para os outros do grupo. Como é

observado na ilustração a seguir.

107

Ilustração 39: Shane and Jim - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Enquanto isso, na cidade, Rick, T-Dog e Daryl tentam descobrir para onde os dois

homens levaram Glenn, porém o garoto que está com eles se recusa a colaborar até que Daryl

pega a mão de Merle e conta para ele que foi aquilo que tinha acontecido com o último cara

que o irritou. Então o garoto concorda em mostra o local. Chegando lá T-Dog se posiciona em

cima do telhado e Rick e Daryl vão tentar fazer a troca. Mas o encontro não sai como

planejado. Guillermo, o dono do local avisa que só devolverá Glenn se eles trouxerem o

garoto e a bolsa com armas.

Eles voltam ao prédio e preparam um plano para conseguir salvar Glenn sem ter que

entregar as armas. Então eles voltam ao local com o garoto, desta vez eles entram no

esconderijo. Ao entrar Guilhermo se irrita ao ver que as armas não estão todas dentro da bolsa

e os ameaça. Todos ficam preparados para um possível tiroteio, conforme a ilustração a

seguir.

108

Ilustração 40: Guns - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Quando, de repente, eles ouvem uma voz de uma mulher chamando por Felipe, um

dos capangas de Guilhermo, quando veem que se trata de uma senhora idosa, que está

procurando por Felipe, seu neto, pois Sr. Gilbert está com problemas para respirar. Eles

pedem para que ela se retire, mas ela não vai. A pequena senhora pede para que seu neto vá lá

com urgência, quando ela percebe a presença de pessoas diferentes no local.

Ela se desloca até Rick pedindo para que não prenda seu neto, Rick responde que não

está ali para isso e sim para encontrar um amigo, Glenn. A senhora diz que sabe onde ele está

e que o levará até ele, forçando todos a baixarem suas armas.

Ao entrar mais a fundo no esconderijo, Rick descobre um lar para idosos e encontra

Glenn a salvo. Então ele pede para conversar com Guilhermo, irritado, Rick diz que ameaça-

los foi a coisa mais estupida a se fazer, pois os três estavam dispostos a matar todos até

conseguir resgatar Glenn.

Guilhermo conta a Rick que aqueles idosos foram abandonados ali, que ele e Felipe

foram os únicos que ficaram e estão fazendo de tudo para proteger o que restou. Ele ainda fala

que todas as pessoas que encontraram até agora eram do pior tipo, saqueadores e acreditavam

que eles também eram assim. Os idosos têm apenas eles para que possam continuar.

Sensibilizado com o que Guilhermo disse, Rick deixa algumas armas e munições para eles e

vai embora com Glenn, T-Dog e Daryl.

109

Já a caminho do caminhão, Glenn pergunta a Rick se ele voltou em Atlanta apenas

por causa de seu chapéu. Por outro lado Daryl está irritado, pois não acreditava que Rick tinha

dado tantas armas para eles.

Chegando ao local onde haviam deixado o caminhão eles descobrem que havia sido

roubado e rapidamente pensam em Merle, que a este momento poderia estar a caminho do

acampamento louco para se vingar.

Já no acampamento, Andrea está no trailer de Dale procurando por algum tipo de

papel que possa embrulhar um presente para Amy, que havia trazido da cidade, já que no dia

seguinte seria o aniversário de sua irmã. Sendo ilustrado na imagem a seguir.

Ilustração 41: Amy's birthday - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Dale a encontra lá dentro e fala para não se preocupar, pois vão encontrar algo para

embrulhar o presente de Amy.

Enquanto isso, Shane vai até Jim, para saber se ele já está melhor e o convida para se

juntar ao grupo para a janta, que naquela noite seria mais especial por causa da pescaria de

Amy e Andrea. Jim aceita e Shane o solta.

Carol e Sophia se deslocam até sua barraca para convidar Ed para ir jantar com eles,

porém ele se recusa ainda irritado com o que havia acontecido anteriormente. Quando as duas

estão saindo, Ed segura Sophia pelo braço, pedindo para que ela fique lhe fazendo companhia,

mas tanto ela, quanto Carol se recusam a ficar, deixando Ed sozinho.

110

Ao mesmo tempo, Rick e os outros correm em direção ao acampamento com medo

que Merle já esteja lá.

A noite cai e o grupo de sobreviventes se reúne em volta da fogueira para aproveitar

os peixes e jogar um pouco de conversa fora. Nisso, Amy se desloca até o banheiro do trailer.

A cena muda e volta a mostrar Ed sozinho dentro da barraca. Ele ouve sons vindos

do lado de fora e irritado pede para que não o incomodem quando acaba dando de frente com

um zumbi que o ataca juntamente com outros dois que estavam do lado de fora.

Neste momento, Amy sai do trailer em busca de papel higiênico quando também é

surpreendida por um zumbi que a morde no braço, conforme mostrado na ilustração a seguir.

Ilustração 42: Bite - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Neste momento o grupo percebe o que está acontecendo, enquanto as mulheres

buscam proteger seus filhos, os homens logo pegam as armas que podem e vão em direção

aos zumbis.

Já próximos ao acampamento, Rick e os outros ouvem os tiros e se apressam para ver

o que está acontecendo.

Várias pessoas do grupo acabam sendo mordidas, inclusive Amy que é atacada

novamente com uma mordida no pescoço. Andrea vê o que está acontecendo com a irmã e sai

desesperada ao seu encontro para ajuda-la. Shane e Morales fazem de tudo para proteger as

mulheres e seus filhos, quando Rick, T-Dog, Glenn e Daryl chegam para ajudar, acabando

com todos os zumbis que haviam ali. Sendo ilustrado na imagem a seguir.

111

Ilustração 43: Rick Shooting - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Logo após terem acabado com todos os zumbis, Rick procura desesperadamente por

Carl e Lori até descobrir que estavam bem.

Andrea ainda está com Amy, sem saber o que fazer para salvar a irmã. Quando Amy

acaba morrendo. Conforme é visto na ilustração a seguir.

Ilustração 44: Amy's death - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

112

Enquanto todos ainda estão chocados com o que aconteceu, Jim conta a Dale que se

lembrou de seu sonho, porque havia cavado os buracos, encerrando o quarto episódio

mostrando diversas pessoas do grupo e zumbis estirados no chão, mortos.

O 4º episódio é chocante aos olhos do público. Há diversos acontecimentos que

originalmente não existiam.

Ele aborda a vida de outras pessoas fora do acampamento, mesclando a humanidade

com a necessidade de sobreviver. No momento em que Rick chega ao esconderijo, ele não

sabe o que esperar daquelas pessoas, porém no ápice da negociação surge uma pequena

senhora que põe fim a tudo aquilo. Naquele momento é quebrada a tensão entre os

personagens presentes.

Como a situação em que aquelas pessoas estão vivendo não são das melhores,

existem pessoas que não são tão bem intencionadas quanto Rick ou Guilhermo, os forçando a

serem perigosos quando é necessário.

Ainda neste episódio foi dado espaço para a relação entre Amy e Andrea. Enquanto

no quadrinho elas tem quase a mesma idade, na série elas tem uma diferença de 12 anos o que

acabou as distanciando. Tanto no momento da pescaria, quanto na morte da Amy há o

sentimentalismo envolvido, juntamente com a tristeza da perda. Elas estão num mundo onde é

raro ter alguém que você ama vivo e quando Andrea perde isso o mundo dela desmorona. Na

série consegue dar muito mais profundidade a essa relação do que é apresentado no

quadrinho.

Outro assunto importante trazido neste quarto episódio é a questão do desespero, a

loucura presente no personagem de Jim, que havia presenciado a morte de sua família. Ele

mostra os traumas causados a uma pessoa ao ver a sua família ser destruída por seres que você

não sabe o que é e nem sabe o que são.

Nos quadrinhos, da página 119 até a página 129, a história segue trazendo o enterro

de Amy. Shane, Donna, Jim, Dale e Rick prestam homenagens a ela, mas o mais chocante é o

de Jim, afirmando que ela era jovem, estava sendo feliz, vivendo a sua vida e que não merecia

isso, ninguém merecia. Assim todos retornam ao acampamento, menos Andrea que fica mais

um pouco velando a irmã.

Já dentro de sua cabana, Jim piora a cada momento após ter se machucado ao lutar

com o zumbi, Donna é quem cuida dele. Ao sair do trailer ela encontra com seu marido e o

diz que se ele continuar nesse ritmo não irá durar mais muito tempo.

Indo para a floresta, Rick, Carl e Shane vão à caça de animais para o almoço. Carl é

avisado que desta vez só irá observar. Shane pede silêncio, quando acerta um tiro em um

113

coelho. Rick fica contente e fala que mais alguns daquele e já poderão voltar ao

acampamento. Carl diz para o pai que desta vez não precisaram de tantos como antes, já que

Amy havia morrido e Jim estava doente demais para comer.

Neste momento Shane explode e começa a descarregar sua raiva em Rick, falando

que os acontecimentos não foram sua culpa. Rick se irrita com o amigo e diz que foi culpa

dele sim, ele já havia avisado que aquele lugar já não era mais seguro. Porém Shane insiste na

história de que o exército logo virá busca-los, mas essa conversa não convence mais Rick. No

meio da discussão Carl sai correndo chorando e assustado com o que estava acontecendo,

rapidamente Rick vai atrás dele.

De volta ao acampamento, Andrea se encontra deprimida pela morte da irmã e Dale

vai até ela para lhe fazer companhia e consola-la. Conforme pode ser visto na ilustração a

seguir.

Ilustração 45: Dale and Andrea - The Walking Dead

Fonte: Kirkman e Moore (2010, p. 126).

Na cabana, Jim apenas piora e pede para Donna que peça para que façam a sua

vontade, pois ele consegue sentir que está morrendo. Na cena seguinte o grupo leva Jim para

dentro da floresta e o deixa debaixo de uma árvore. Rick o pergunta se é realmente isso que

ele quer. Jim afirma que sim, pois pelo menos dessa forma, talvez, ele consiga reencontrar sua

família, talvez eles possam ficar juntos novamente. Rick então se despede e o grupo retorna

para o acampamento. Sendo ilustrado na imagem a seguir.

114

Ilustração 46: Jim's death - The Walking Dead

Fonte: Kirkman e Moore (2010, p. 129).

Dando início ao quinto episódio da série de televisão, mostrando sua preocupação

com seu amigo, Morgan.

4.3.5 Wildfire

Rick se encontra no topo da pedreira tentando comunicação com Morgan pelo walk

talk. Ele tenta avisar o amigo que a cidade não está como esperavam, ela pertencia aos mortos

agora, Rick ainda fala sobre onde eles estão acampados e deseja que Morgan e seu filho

estejam bem.

No acampamento, Andrea ainda está com Amy, sem acreditar no que aconteceu. Lori

tenta conversar com ela, falando que todos a amavam muito, porém ela precisava os deixar

cuidarem de Amy agora, mas Andrea não responde.

Enquanto isso, os homens do acampamento cuidavam dos mortos e dos zumbis que

morreram ali, dando um ultimo golpe em suas cabeças e queimando seus corpos.

Rick volta do topo da pedreira e vê o estado de Andrea, Dale o conta que ela havia

passado a noite ali, que não tinha se mexido nem um centímetro. Mas eles precisam cuidar de

Amy da mesma forma que fizeram com os outros, para que ela não se transforme em um

zumbi. Então Rick se prontifica a ir conversar com Andrea para tentar explicar a situação.

Quando ele se aproxima dela, rapidamente Andrea aponta sua arma para Rick,

avisando que agora sabe como funciona uma arma. Rick a entende, pede desculpas e se afasta.

115

Daryl não acredita que irão deixar Amy nas mãos de Andrea, mas por fim deixa de

lado e pede a ajuda de Jim para cuidar dos outros. Daryl e Morales começam a carregar os

corpos mortos do pessoal do acampamento para a fogueira, quando Glenn se desespera e diz

que “os nossos” não são queimados, mais sim enterrados.

Jacqui esta ajudando a mover os corpos, quando percebe que Jim está sangrando. Ele

tenta justificar alegando que aquele sangue é dos corpos que estava carregando, porém ela não

acredita e pede para que ele a mostra se foi realmente mordido. Então Jim admite, mas a pede

para que não conte ao grupo, mas Jacqui não o ouve e alerta o acampamento de que Jim havia

sido mordido por um zumbi.

Então todos correm para verificar, Daryl pede para que Jim mostre, mas ele recua e

tenta se defender de todos com uma pá. Neste momento, T-Dog agarra Jim por tras, enquanto

Daryl levanta a camiseta de Jim, confirmando as suspeitas. Conforme é mostrado na

ilustração a seguir.

Ilustração 47: Zombie bited - The Walking Dead

Fonte: Dados primaries (2011).

Ao descobrirem, eles isolam Jim enquanto pensam no que fazer, tanto com ele

quando com Amy. Daryl sugere que a melhor coisa a fazer é acertar a picareta na cabeça de

cada um e encerrar o assunto.

116

Dale concorda com Daryl, mas é interrompido por Rick que diz que Jim ainda não é

um monstro e talvez eles possam encontrar uma cura. Daryl não concorda, afirmando que a

tolerância com zumbis e futuros zumbis deve ser zero.

Então Rick comenta sobre o CDC, pois havia ouvido de Morgan, que eles estariam

trabalhando num cura. Mas Shane acha a idéia um absurdo. Rick diz ao grupo que se o centro

de controle de doenças ainda deve estar ativo e bem protegido pelas forças armas, fazendo

Shane concordar com ele, falando que seria a melhor opção do grupo de ficar a salvo e de Jim

sobreviver.

Neste momento, Daryl se descontrola e avança na direção de Jim com a picareta em

mão prestes a acerta sua cabeça, quando Rick o contém apontado sua arma para Daryl. Ele

ainda avisa que não se mata os vivos. Assim Rick pega Jim e o leva para um local mais

seguro.

Enquanto isso, Dale se dirige até Andrea, para prestar seus sentimentos a Amy. Ele

conta a ela como havia perdido sua esposa e ainda diz que desde que isso aconteceu, elas duas

foram as primeiras pessoas com que ele havia se preocupado. Nisso Andrea tiro do bolso o

presente que havia trazido para Amy, ela conta a Dale que o aniversário de Amy essa sempre

o assunto da semana, porém de alguma forma ela sempre esquecia, nunca estava presente e

coloca o colar no pescoço de Amy. Assim Dale sai, as deixando sozinhas.

No outro lado do acampamento, Daryl está garantindo que nenhum dos mortos

voltem como zumbi, quando Carol aparece, pedindo para ela mesma cuidar de seu marido, se

certificando que ele não voltaria. Ela pega a picareta e acerta quatro vezes em sua cabeça

descontando toda dor e sofrimento pela qual passou durante sua vida com ele.

Andrea continua junto de sua irmã, quando Amy começa a retornar a “vida” como

zumbi, ela se desculpa com a irmã por nunca estar presente em sua vida e atira em sua cabeça,

conforme ilustrado na imagem a seguir.

117

Ilustração 48: Amy and Andrea - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Já no alto da pedreira, Rick e Shane estão cavando covas para enterrar os mortos do

grupo. Rick percebe que Shane está inquieto e o pergunta o que está havendo. Shane

descarrega em Rick e afirma que se ele não tivesse saído do acampamento com mais três

homens, talvez as perdas tivessem sido menores. Rick retruca Shane, afirmando que se eles

não tivessem indo buscar as armas, talvez tivessem pedido mais pessoas, talvez o

acampamento inteiro. Neste momento Daryl chega de caminhonete com os corpos dos mortos

do grupo. Ele diz para Rick que acha um erro não queimarem os corpos. Porém Lori chega e

afirma que precisam de um tempo para fazer o que as pessoas fazem e enterrar seus mortos,

ficar de luto.

Separado do grupo, Jim se encontra dentro do trailer, ele começa a ter as primeiras

alucinações por causa da febre.

Ainda no alto da pedreira, Andrea está enterrando o corpo de sua irmã. Dale tenta

ajuda-la, mas ela prefere faz isso por conta própria. Quando terminam de enterrar os corpos,

todos se encaminham de volta para o acampamento. Carl pergunta ao pai se agora eles estão a

salvo. Rick responde que sim e nunca mais sairá de perto deles novamente. Ele ainda pede

que Carl continue indo em frente enquanto ele conversa com Lori.

Rick a pergunta se ela também o culpa por não estar ali, como Shane faz. Ela diz que

nenhum dos dois estava completamente errado. Ele ainda pergunta o que ela acha sobre o

CDC, mas ela não sabe o que lhe responder, pois todos no acampamento estão apavorados

118

com os últimos acontecimentos, ainda diz que não tem nenhuma certeza no momento e

pergunta a Rick se ele sabe. Então ele olha para ela e diz que a ama, que é a única certeza dele

no momento e ela o retribui.

Já no trailer, Carol está cuidando de Jim, quando Rick e Lori chegam. Lori pergunta

a Jim se ele precisa de algo, ele a responde que gostaria de água, então ela chama Carol e

saem do trailer.

Rick continua lá com ele, Jim pergunta se guardaram uma das covas para ele. Rick o

responde que ninguém quer a morte dele, mas Jim responde que não são eles quem decidem e

sim Deus. Rick o fala que se Deus permitir, ele vai ajuda-lo. Nisto Jim começa a passar mal,

cuspindo sangue e volta a alucinar. Deixando Rick sem saber o que fazer.

Ainda na série, do lado de fora, Lori esta esperando Rick voltar quando Shane

aparece, ele vai pedir a ela para que convença Rick que a história de ir para o CDC é um erro.

Porém Lori diz que vai apoiar seu marido. Shane responde que esse não é o momento de

bancar a boa esposa para tentar salvar o seu casamento, quando Lori o diz para parar de se

meter em seu casamento, pois é um dos hábitos que Shane precisa perder.

Neste momento Rick chega e pergunta sobre que hábitos eles estão falando, Shane

desconversa falando que eles necessitam de um plano, que talvez seja melhor eles

continuarem ali, mas Rick afirma que aquele lugar não serve mais e Lori concorda com ele.

Então Shane sugere que eles saiam para vasculhar a área.

Na floresta, Shane e Rick estão conversando sobre a idéia de ir para o Centro de

Controle de Doenças. Shane acredita que todos do acampamento não estão preparados para

isso e pergunta a Rick se ele estaria disposto a arriscar ir sozinho com Carl e Lori. Rick o diz

que precisa fazer o que é melhor para a família dele e gostaria que Shane o apoiasse, mas ele

diz a Rick que gostaria de apoiar, mas não concorda com ele.

Rick então fala pra Shane, que “se fosse a sua família, você pensaria diferente”.

Shane fica inconformado com o comentário de Rick e diz que cuidou dos dois como se

fossem a família dele. Rick responde que não foi bem aquilo que ele quis dizer, que foi mal

interpretado por Shane e nunca poderá agradecê-lo o suficiente por isso.

De repente, eles ouvem um barulho vindo da floresta, eles se separam e prontamente

vão olhar aos arredores para descobrir o que é.

Rick vai um pouco mais a dentro da floresta mas ainda se encontra na visão de Shane

quee deixa a mira de sua arma apontada para Rick, conforme a ilustração a seguir.

119

Ilustração 49: Target - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Mas ele acaba abaixando a arma, quando ele se dá conta, Dale está ao seu lado.

Shane dá a desculpa que achava que Rick era um zumbi, por isso estava mirando nele. Shane

ainda chama Rick de volta, mas Dale fica desconfiado das intensões de Shane.

Voltando ao acampamento, Shane trata logo de falar ao grupo que concorda com a

idéia de Rick de ir para o CDC, ele diz que confia em seus instintos e para quem concordar

também, eles irão partir no dia seguinte, ao amanhecer.

Já no dia seguinte, no alto da pedreira, ao amanhecer, Rick tenta contato novamente

com Morgan, avisando que eles estão saindo da pedreira, ele avisa que deixou um mapa e um

aviso para ele preso a um carro vermelho e que estão a caminho do CDC.

Já de volta ao acampamento, Shane avisa que a todos que para se comunicar usaram

a frequência 40 do rádio e se caso não consigam, para que buzinem uma vez que logo a

caravana parará. Morales avisa que sua família não vai com eles, ele conta que tem parentes

em Birminghan e preferem tentar ficar com eles.

Shane o avisa que é perigoso, mas Morales o diz que precisa fazer o que é melhor

para sua família. Shane pergunta se eles estão certos disso e Morales responde que sim.

Então, Rick pega uma arma de sua bolsa e algumas munições e as entrega para

Morales. Eles se despedem e partem.

Durante o caminho a situação de Jim apenas piora e o grupo se vê obrigado a parar,

pois a mangueira do trailer já não aguenta mais e acaba arrebentando. Shane vê com seu

120

binóculo que mais a frente há um posto de gasolina e diz que há uma boa chance de

conseguirem algo para o trailer lá. Neste momento, Jacqui sai correndo do trailer avisando

que Jim está muito mal e não aguentará mais muito tempo.

Dale sugere que eles parem um pouco ali enquanto tenta concertar o trailer.

Rick entra para ver Jim, ele o avisa que logo seguiram viajem, mas Jim diz que não aguenta

mais, sofre a cada pulo que o trailer dá. Ele ainda diz que desiste e o pede para que o deixem

ali, pois ele quer ficar com a família dele. Rick o diz que a família dele está morta e acredita

que Jim está delirando por causa da febre.

Mas Jim o fala que sabe muito bem o que está falando e que é a sua decisão final.

Logo Rick vai ao encontro do grupo contar sobre o pedido de Jim, quando Dale fala que ao

concordar com a opinião de Daryl anteriormente ele queria dizer que eles deveriam perguntar

ao Jim o que ele queria.

Shane e Rick buscam Jim dentro do trailer e o levam para fora, deixando-o encostado

numa árvore, Shane pergunta mais uma vez para ele se está certo do que quer e Jim responde

que sim.

Ainda Rick pergunta a Jim se ele quer ficar com uma arma, mas ele diz que não e

que o grupo precisará dela mais tarde. Assim o grupo se despede de Jim e voltam a seguir

seus caminhos, conforme é apresentado na ilustração a seguir.

Ilustração 50: Bye Jim - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

121

Após deixarem Jim na estrada, o grupo avança em direção ao CDC.

De repente uma tela de transmissão aparece, conforme ilustrado na imagem a seguir.

Ilustração 51: Transmission - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Surge um homem chamado Jenner, ele aparece fazendo um tipo de diário em vídeo.

Jenner conta que fazem 194 dias desde que a contaminação foi declarada e 63 dias que a

doença se espalhou pelo mundo. De acordo com ele, não há nenhum avanço clinico em suas

pesquisas. Ele se encontra perdido, pois como está vivendo no subsolo não tem a exata noção

do tempo. Finalizando a transmissão.

A cena seguinte mostra Jenner entrando em um laboratório com roupas especiais

para trabalhar com materiais prejudiciais a saúde. Lá ele pega uma amostra de carne

denominada ST-19, ele abre e começa a fazer seus experimentos. Porém durante seu estudo,

ele acaba derrubando um líquido corrosivo e é forçado a evacuar a sala. Ao sair Jenner

descobre que a sala será descontaminada e se desespera.

Novamente Jenner aparece gravando seu vídeo diário e conta que havia perdido suas

amostras, ele conta que os prejuízos são incontáveis, pois aquelas eram as mais recentes.

Conforme mostra a ilustração a seguir.

122

Ilustração 52: Jenner - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Em certo momento, ele olha para a câmera e diz não saber por que está falando com

o computador, afirmando que não deve ter ninguém do outro lado assistindo. Ele encerra a

transmissão e ainda diz que talvez amanhã exploda seu cérebro, mas naquela noite ele iria fica

bêbado. Jenner pega sua taça de vinho e a joga longe.

Ao chegar à cidade, o grupo se depara com um cenário não muito agradável, há

milhares de mortos pelo chão. Rapidamente eles avançam em direção à porta do CDC,

tomando cuidado ao dar cada passo a frente.

Do lado de dentro do CDC, os computadores de Jenner detectam a presença de

pessoas nos arredores.

O grupo avança rapidamente até a porta. Quando chegam constatam que está tudo

fechado. Shane diz que não há ninguém lá dentro, porém Rick não acredita, pois ele indaga o

porquê de estar tudo lacrado. De repente começam a aparecer alguns zumbis no local, fazendo

com que o grupo comece a ficar desesperado. Pois está começando a escurecer e a tendência é

piorar a situação. Shane pede para que todos se encaminhem de volta para os carros, quando

Rick vê a câmera da porta de mexer.

Dale o diz que é pura imaginação. Shane o avisa que é apenas um aparelho

automático e diz que está tudo morto nesta cidade, que eles precisam ir embora. Mas Rick

perde o controle e começa a bater na porta e implorar por ajuda, Shane começa a puxa-lo

123

tentando convencer o amigo de ir embora, quando de repente a porta se abre para eles

encerrando o quinto episódio. Conforme é ilustrado na imagem a seguir.

Ilustração 53: CDC - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Analisando os momentos apresentados, começa-se a percebe um foco maior em Rick

por parte da série de televisão. Enquanto no quadrinho o “culpado” pela morte de Amy e o

acidente com Jim é Shane, ao se recusar em aceitar que a melhor opção para o grupo seria

mudar o acampamento de lugar. Na série, a culpa passa para Rick, pois ele havia sido

imprudente ao sair do acampamento com mais três homens que poderiam estar vigiando o

grupo.

Vemos que quando Rick se junta ao grupo ele toma o lugar de Shane, que até então

era como se fosse o líder do lugar. Ainda Rick leva todos aos acontecimentos como se fosse

sua responsabilidade, o seu personagem não é um herói, Rick não é um homem perfeito, mas

está sempre tentando fazer a coisa certa. Percebemos que ele carrega o fardo na cena em que

Jim afirma que deixar ele na estrada é escolha dele e não o fracasso de Rick.

Também neste momento é abordado tanto na série quando no quadrinho a morte de

Amy e a proximidade entre Andrea e Dale. A perda de Amy é repleta de sentimentalismo e

tristeza em ambos os meios. Porém a televisão consegue explorar mais a relação entre as duas

irmãs. Desde o momento da morte de Amy até sua transformação em zumbi, quando Andrea

124

pede desculpas à irmã e carrega o fardo de não ter conseguido protege-la e de não ter sido

mais presente em sua vida.

Ainda da mesma forma, nas duas histórias há a realização da cerimônia de enterro

dos mortos do acampamento. Mesmo tendo em vista que os zumbis que foram mortos

também um dia foram pessoas com sonhos e objetivos. O foco é dado para as pessoas do

grupo que haviam morrido. Assim como Glenn afirma “não queimamos nossos mortos, nós os

enterramos”. De acordo com Sarah Wayne, a atriz que interpreta Lori, ela afirma que aquele

momento do enterro é como fosse à representação de todos os enterros, velório e lutos por

todos aqueles que morreram em meio ao apocalipse.

É percebida na série a constante preocupação de Rick com Morgan, ele ainda tenta

contato com o amigo após recuperar o walk talk.

Enquanto o quadrinho, neste momento, aborda apenas o enterro de Amy e a partida

de Jim, a série ainda traz a idéia de ir ao CDC. De acordo com Gale Anne Hurd, produtora

executiva da série, ela questiona o fato que de, se estão tão próximos do CDC, porque não

visita-lo? Talvez lá eles consigam ir à busca de respostas para todos aqueles acontecimentos.

E principalmente para tentar salvar Jim.

Ainda neste momento começa-se a perceber a frustração de Shane com relação a

Rick, sua confiança no amigo começa a se quebrar e os outros personagens percebem a

mudança em seu comportamento.

4.3.6 TS-19

De volta para a série, iniciamos o sexto e último episódio.

Ele inicia-se com um flashback no hospital onde Rick estava internado. Shane está

com ele e busca uma maneira de tirar o amigo dali. Ele vai até o corredor, mas se depara com

as forças do exército matando todos os doentes e funcionários dentro do hospital. Shane corre

de volta ao quarto com uma maca e tenta levar Rick, porém ele está ligado a diversos

aparelhos deixando Shane sem sabe o que fazer.

De repente, algo cai no chão, fazendo com que o hospital estremecesse e todas as

máquinas que estavam ligadas a Rick desligassem. Shane então checa o pulso de Rick para

saber se o amigo ainda está vivo, mas ao que tudo indica, ele havia morrido. Então Shane sai

125

do quarto, mas antes de ir embora fecha a porta e coloca uma cama em frente a porta para que

os zumbis não consigam entrar, conforme é mostrado na imagem a seguir.

Ilustração 54: Save - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Passada a cena, a série volta para o momento em que as portas do CDC se abrem

para o grupo, rapidamente eles entram e chamam por alguém que estivesse por ali. De repente

Jenner aparece com uma arma em mãos e pergunta se há alguém infectado. Rick responde que

havia, porém ele não resistiu até que chegassem ao centro de controle.

Jenner pergunta ao grupo o que querem e porque eles estão ali. Rick responde que

eles apenas querem uma chance. Jenner então diz para eles que o preço para entrarem é fazer

um exame de sangue. Rick concorda e logo Jenner os avisa para pegarem tudo o que

puderem, pois quando as portas se fecharem não abriram novamente. Rapidamente eles

pegam as coisas que deixaram do lado de fora, assim Jenner pede a Vi que tranque as portas e

corte a energia daquele local.

Neste momento, Rick se apresenta ao Dr. Edwin Jenner. O grupo é levado até um

elevador, onde Glenn pergunta se médicos sempre andam armados. Ele responde que nesses

tempos ele acabou sendo forçado a aprender, ainda diz acreditar que o grupo é inofensivo e

brinca com Carl afirmando que precisa ficar de olho nele.

Carol pergunta para o médico se eles se encontram no subsolo e Jenner afirma que

sim e ainda diz a ela para não pensar nisso. Ele os encaminha para o salão principal e os

apresenta a Zona-5. Rick pergunta onde estão os outros que trabalham no local e Jenner o

126

responde que é apenas ele, somente ele sobrou. Lori o pergunta sobre Vi, a mulher com quem

ele havia falado. Ele pede então que Vi se apresente, mostrando para o grupo que ela é um

computador.

Janner então os encaminha a um auditório para realizar o exame de sangue. No

momento é a vez de Andrea que ao levantar fica um pouco tonta, o médico pergunta se ela

está bem e Jacqui responde que sim, porém não come faz dias, como todos os outros.

A cena seguinte mostra o grupo numa mesa com bastante comida e vinho oferecidos

pelo médico. O momento é de descontração, Rick sugere ao grupo que agradeçam

formalmente ao seu anfitrião pela hospedagem e pela comida.

Mas Shane acaba quebrando o clima quando pergunta a Jenner o que aconteceu

naquele lugar, porque havia só ele lá agora. O médico explica que quando tudo começou

diversas pessoas fugiram e depois que os zumbis atravessaram a barreira militar os que

haviam ficado também acabaram indo embora. Porém ele conta que alguns não tiveram a

coragem de sair e acabaram fazendo outra escolha, gerando uma série de suicídios.

Andrea o pergunta por que ele não foi também, ele diz que precisava continuar

trabalhando na esperança de descobrir algo. Neste momento Glenn diz para Shane que ele é

um estraga-prazeres.

Depois da janta, Jenner leva o grupo até uma área onde eles pudessem se acomodar,

já que os quartos já estavam sem energia, mas salas possuíam sofás confortais e chuveiros

com água quente. Cada um se encaminha para uma sala e o momento do banho é de felicidade

para uns e tristeza para outros. Shane e Andrea são os que mais sofrem. Shane por ter

“perdido” Lori e Andrea pela morte de sua irmã.

Ainda na série, andando pelo corredor, Dale ouve Andrea chorando, ele entra em seu

quarto e vê que ela está passando mal. Andrea se desespera e desabafa com Dale falando que

tudo havia acabado, o mundo que ela conhecia se foi, mas Dale responde a ela é acredita que

tudo isso é uma chance de recomeçar. Porém Andrea o diz que percebeu no olha de Jenner

que não há mais nada.

Enquanto isso, Rick vai ao encontro de Jenner e o pergunta sobre os exames de

sangue, ele responde que não deu nenhum resultado fora do esperado. Rick volta a agradecer

o médico por abriga-los, bêbado Rick acaba de desequilibrando e cai no chão. Ele diz a Jenner

que se ele não tivesse os ajudado o grupo todo teria morrido, que ele não tem idéia de como é

estar do lado de fora.

127

Rick conta ainda que nem por um momento ele pensou em dizer ou demonstrar para

Lori e Carl o que ele sentia e que os fez sempre seguir em frente, quando Jenner diz que irá

ficar tudo bem.

Na sala de recreação, Lori encontra Carol, Carl e Sophia. Logo Carol para fala as

crianças que já é hora delas irem dormir. Lori manda Carl ir rezar enquanto ela escolhia um

livro para ler.

Lori já se encontra sozinha na sala quando Shane começa a espia-la, ele fecha com

força uma das portas assustando ela. Bêbado, Shane diz que precisa dizer algumas coisas para

Lori e ela irá ouvi-lo, porém ela não quer conversar com ele.

Ele conta tudo o que aconteceu no hospital e diz que salvou a vida ela e do Carl. Fala

também que não sabe como, mas quando os aparelhos se desligaram ele não conseguiu ouvir

nenhum batimento cardíaco em Rick e que se pudesse trocava de lugar com ele antes e

também naquele momento dizendo que esta amando Lori indo para cima dela tentando agarra-

la a força.

Lori tenta sair de todas as formas, porém Shane é mais forte. Até que ela o arranha

no pescoço fazendo ele se afastar e ir embora deixando Lori desesperada.

Já no quarto, Rick chega cambaleando e encontra Carl e Lori deitados. Ele deita ao

lado de sua esposa e a diz que não precisa mais ter medo, pois estão a salvo naquele lugar.

No dia seguinte, vários do grupo acordam de ressaca. T-Dog percebe que Shane está

com arranhões no pescoço e pergunta o que houve, ele diz que deve ter sido enquanto dormia

encerrando o assunto. Logo em seguida Jenner chega e Dale já o aborda querendo lhe fazer

uma pergunta, dando espaço para Andrea falar que eles não foram até o CDC apenas por

causa da comida.

Eles se deslocam até o salão central e Jenner os mostra a gravação de uma vigília do

ST-19 (sujeito teste), ele conta que aquela pessoa foi mordida, infectada e se ofereceu para

que gravassem a transformação.

A primeira cena que ele mostra é de um cérebro vivo até o momento em que ele

morre. Logo após ele pede para que Vi passe o vídeo até o segundo evento, onde o cérebro

volta a funcionar já transformado em zumbi. Sendo ilustrado na imagem a seguir.

128

Ilustração 55: Brain zombie - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Andrea pergunta a Jenner se ele sabe ao menos o que é ele responde que pode ser

qualquer coisa. Ela ainda pergunta se há alguém em algum lugar que saiba, mas ele fala que

está sem comunicação há quase um mês. Quando o grupo descobre que a infestação está em

todos os lugares do mundo.

Sem querer incomodar, Dale faz mais uma pergunta a Jenner. No salão principal há

um relógio que está voltando e Dale gostaria de saber o que acontecerá quando chegar à zero.

Ele conta que o combustível dos geradores acabará, quando é perguntado sobre o que

mais ele não responde e se retira do salão, forçando Rick a perguntar para Vi. Ela diz que

quando chegar a zero haverá a descontaminação completa da instalação.

Shane, Rick, Glenn e T-Dog rapidamente vão ver o quanto de combustível ainda lhes

resta, descobrindo que o último galão praticamente no final. Neste momento o ar-

condicionado desliga.

Em sua sala, Jenner está com a foto de uma mulher e diz que fez o melhor que podia

no tempo que ele tinha, quando as luzes também desligam. Ele passa pelos corredores e todos

começam a pergunta-lo o que esta acontecendo, buscando explicações. Jenner diz que a Zona-

5 está se desligando. Sem saber o que isso significa todos o seguem.

Ele conta que o sistema está desligando tudo que não seja necessário, deixando

apenas os computadores ligados, em meio a isso ele também conta que os últimos que se

houve notícia foram os franceses, que acreditavam que estavam perto de uma cura, porém sua

energia acabou antes que eles pudessem concluir.

129

Faltando 30 minutos para a descontaminação, Rick se desespera e diz para todos

irem buscar suas coisas para saírem dali, quando Jenner tranca as portas do salão principal.

Em meio a uma série de discussões Jenner diz que ETAIs são programados para

prevenir que qualquer organismo saia do CDC. Então pede para que Vi defina os ETAIs para

os demais. “Explosivos Termobáricos de Alto-Impulso, explosivos de ar-combustível, com

uma ignição de dois estágios que produzem uma onde de propulsão mais poderosa e

duradoura que qualquer outro explosivo exceto o nuclear. O feito de pressão-vácuo explode o

oxigênio entre 2.500 e 3.500 °C e é usado para perda de vidas e danos a estrutura”. Ou seja

uma morte rápida e sem dores.

Shane e Daryl tentam desesperadamente abrir a porta, mas ela não sofre nenhum

arranhão. Rick pede para que Jenner abra a porta, pois eles não querem morrer junto com ele,

quando Andrea o responde “qual parte do “tudo se foi” você não entendeu?”. Mas Rick tem

esperanças e quer sair de lá com sua família.

Shane acaba perdendo o controle e aponta sua arma para a cabeça de Jenner para que

ele abra a porta. Conforme a ilustração a seguir.

Ilustração 56: Shane and Jenner - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

Rick se vê obrigado a controlar o amigo que atira nos computadores. Ao conte-lo,

Rick fala para Jenner que não acredita nele, quando ele diz que não há esperança. Pois

enquanto todos fugiram ele continuou ali. Jenner explica que não ficou porque quis, mas sim

porque havia feito uma promessa para sua esposa. Dando a entender que o sujeito teste 19 era

130

ela. Ele diz que prometeu a ela que trabalharia naquilo até o último momento, fala ainda que

era para ele estar na mesa no lugar dela. Mas Rick e Lori o pedem para que os dê uma

escolha, uma chance de continuar lutando, convencendo o médico a abrir a porta.

Assim que ela se abre todos saem correndo para pegar suas coisas e irem embora.

Porém Jacqui decide ficar, ela acredita que não há mais nada para ela lá fora e não quer acabar

igual a Jim e Amy. Enquanto os outros saem correndo para tentarem se salvar, Dale fica e

descobre que Andrea também quer ficar no CDC, pois não quer continuar vivendo.

Já nas portas de saída o grupo procura por uma maneira de conseguir sair dali, mas

nada é capaz de quebrar o vidro. Porém Carol se lembra que quando lavou as roupas de Rick

no seu primeiro dia no acampamento ela achou uma bomba em seu bolso e a entrega.

Rick então a arma e sai correndo para se proteger. Ao explodir a bomba consegue

quebrar o vidro em pedaços abrindo saída para eles.

Enquanto o grupo corre para sobreviver, Dale aceita a opção de Andrea e decide ficar

com ela, pois diz que não está disposto a enfrentar tudo que o espera sozinho denovo.

O grupo consegue sair e rapidamente se encaminham para os carros, quando Lori vê

Andrea e Dale que conseguem sair a tempo pela janela, correndo na direção deles.

Jacqui e Jenner vêm que os dois conseguem sair e se preparam para os momentos

finais de suas vidas. Faltando 16 segundos, Dale e Andrea apenas tem tempo para se

protegerem quando o centro explode. Corforme é ilustrado na imagem a seguir.

Ilustração 57: Explosion - The Walking Dead

Fonte: Dados primários (2011).

131

Passada a explosão, Dale e Andrea correm para dentro do trailer e todos ligam seus

carros para ir embora. Encerrando a primeira temporada da série The Walking Dead.

Ainda nos quadrinhos, da página 130 até a página 140, logo ao amanhecer Shane

pede para Rick o avisa-lo quando estiver pronto para eles irem caçar. Carl pede para ir junto,

porém Rick diz que desta vez ele não poderá ir.

Shane o questiona sobre sua decisão e Rick diz que é porque quer ter uma conversa

com ele. Shane o pergunta sobre o que ele gostaria de conversar, então Rick se irrita achando

que Shane está se fazendo de sínico. Irritado, Shane dá um soco em Rick em resposta.

Ele fala aos gritos com Rick afirmando que nada havia sido culpa dele.

Nisso Lori se enfurece e dá um arranhão do rosto de Shane e o manda ficar longe de

Rick. Ainda, ela pergunta o que há de errado com ele.

Todos do acampamento ficam chocados com a situação, deixando Shane sem

palavras. Quando ele sai correndo em direção à floresta e Rick o segue.

Lori fica aos prantos perguntando a Carol o que aconteceu com eles e afirmando que

nada será mais como antes.

Ao encontrar Shane, os dois começam a discutir. Shane fala que não quer mais viver,

pois não há nada para ele naquele mundo. Ele achava que logo estaria tudo bem, o governo

iria acha-los e “ela” viria com o tempo, estava tudo perfeito até Rick voltar.

Shane então aponta sua arma para Rick e diz que essa era a forma que era para ser,

ele não deveria ter voltado. Rick implora para que Shane pare e abaixe a arma, mas é inútil.

De repente Shane leva um tiro do pescoço de Carl. O garoto fala para nunca mais machucar

seu pai.

Rick corre para abraçar o filho enquanto Shane cai no chão, morto. Como é ilustrado

na imagem a seguir.

132

Ilustração 58: Shane's death - The Walking Dead

Fonte: Kirkman e Moore (2010, p. 139).

Encerando o 1º volume do quadrinho.

Percebe-se que há uma grande mudança no desenrolar das tramas.

Enquanto na série os personagens decidiram ir à busca de respostas indo ao CDC,

para entenderem o que está acontecendo, o quadrinho se encaminha para um final trágico para

um dos personagens principais.

O CDC surge na história como um lugar cheio de esperança e segurança. No

primeiro momento, há o desespero de saber se foi ou não a decisão certa a ser tomada, mas a

situação muda completamente quando o local serve como refúgio da realidade no momento

em que eles têm a oportunidade de tomar um bom banho quente, jantar e uma boa noite de

sono. Porém descobrindo que eles se encontram trancafiados a um lugar que logo irá explodir,

faz com que a situação mude novamente, onde todos querem tentar sobreviver para continuar

lutar, levando alguns personagens a enlouquecer devido ao desespero.

Outro fato importante a ser comentado que é trazido pela série é o momento de

descrença da vida no momento em que alguns personagens, onde uma pessoa do grupo decide

que prefere ficar e morrer de forma rápida no CDC, pois não há mais nada para ela naquele

mundo.

Um dos momentos mais interessantes que foram trazidos pela série é o momento no

qual é feito um flashback para o dia em que Shane salva Rick e abandona a cidade. É visto

que Shane tentou fazer tudo o que podia pelo amigo, porém não tem como realizar tudo

133

sozinho. Quando ele constata que o Rick está morto, não deixa de se preocupar com ele,

trancando a porta do quarto.

Ainda é valido salientar quando é apresentado tanto aos espectadores quanto aos

personagens como funciona a transformação de uma pessoa para zumbi. O fato que

originalmente não existe, porém a televisão tem estrutura suficiente para que consiga

apresentar novos acontecimentos sem tornar a história cansativa, conseguindo transmitir a

intensidade e importância daquele momento na vida dos sobreviventes.

Tanto no quadrinho, como na televisão, uma briga é o ponto final em qualquer

vestígio que ainda poderia ter da relação entre Lori e Shane. Mas os meios apresentam a briga

com motivos diferentes. Eles são afetados pelo final que as histórias possuem. Como não há a

morte de Shane na série até o momento, a série apresenta a briga como se Shane não tivesse

acreditado ainda que houvesse “perdido” Lori.

É um momento que trata tanto sobre esperança de continuar em frente, de acreditar

que mesmo em meio ao apocalipse há uma chance de recomeçar, quanto de descrença por

parte de alguns personagens, que não creem que há algo pela qual valha a pena viver.

As histórias mostram ainda uma criatura que pode ser mais perigosa do que os

próprios zumbis, esses personagens são deixados de lado para poder mostrar o perigo que o

homem pode ser. Tanto na ação de Jenner ao tentar trancar todos para morrerem ali com ele,

quando Shane no quadrinho, que tenta matar Rick por causa do seu amor por Lori.

A história de Kirkman foi a oportunidade de Frank Darabound trazer pela primeira

vez uma série em longo prazo sobre zumbis que acompanha a vida de um grupo de pessoas

durante o apocalipse, focando realmente nos personagens.

De acordo com o diretor, o quadrinho escrito por Kirkman tem um enredo muito

forte, mas mesmo assim eles procuraram explorar alguns dos pontos mais fortes e apresentar

novas idéias. Sempre apoiados pelo criador da HQ. Mesmo que eles desviem um pouco da

história já criada e a expandam em alguns momentos, a série seguira os traços de Kirkman.

O objetivo foi aprimorar e não se apegar apenas ao que é familiar para os fãs da HQ.

Para Kirkman é importante que a série e a HQ existam separadamente, para que ambas sejam

atrativas e surpreendentes a sua maneira.

Mesmo que seja o final da primeira temporada da série, pode-se dizer que a história

se encaminhe para o ATO III, onde é resolvido os problemas atuais do grupo de

sobreviventes, ao conseguir escapar de morrer no CDC.

Vê-se ainda que é trazida uma extrema similaridade entre as duas histórias. A série

nos dá a impressão que estamos dentro dos quadrinhos, pois os cenários foram criados

134

baseados totalmente no quadrinho. Houve todo o cuidado de buscar atores que fosse o mais

parecido possível com os personagens originais. Os elementos que os fãs conhecem se fazem

presente, mas ao mesmo tempo há a excitação pelo elemento surpresa que a série traz.

A FOX juntamente com a AMC consegue trazer uma série diferente para os

espectadores. Com zumbis no estilo de Romero e cenas violentamente polêmicas. The

Walking Dead, de acordo com o diretor Frank Darabound, é a primeira série de televisão com

uma história sobre zumbis que fascina e apaixona os adoradores de histórias de terror e

mortos-vivos.

Trazendo não só a parte apocalíptica com zumbis atrás de comida toda hora, mas

também o dia-a-dia daquelas pessoas que estão tentando sobreviver a algo que eles não sabem

de onde veio como começou e nem por que. Trabalhando o tema de forma adulta e

inteligente, Kirkman mostra que histórias em quadrinhos não são coisas de crianças.

Preste atenção, o mundo já não é mais o mesmo. Tudo o que você conhecia foi

embora e não irá mais voltar. Esteja preparado, pois os zumbis estão à solta e eles querem

você.

Ps: na ilustração a seguir, você verá uma prévia do que te espera.

135

Ilustração 59: The Walking Dead

Fonte: Blog Zero Oitocentos (2010).

136

5 CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objetivo verificar e analisar o processo de adaptação de uma

história em quadrinhos para uma série de televisão, com o intuito de identificar suas

divergências ao ser adaptado. Sendo feito o uso da pesquisa exploratória para identificar a

delimitação do tema escolhido e auxiliando na definição dos objetivos a serem alcançados.

Ainda, foi necessária a utilização da pesquisa bibliográfica para que fosse possível

fundamentar os tópicos a respeito da evolução das histórias em quadrinhos, assim como o

surgimento da lenda zumbi na cultura americana.

Assim foi selecionada a história em quadrinhos The Walking Dead – Days gone bye

de Robert Kirkman que foi adaptada para a série de televisão The Walking Dead da FOX. Foi

possível identificar mudanças aparentes entre as histórias, principalmente em seus finais, onde

cada meio segue para um caminho diferente, mas em essência as obras são iguais.

Nas duas obras, o principal objetivo é mostrar a vida das pessoas após o apocalipse

zumbi. É visível que as motivações de vida naquele momento são as mesmas.

As informações vistas na revisão de literatura revelam a importância que as histórias

em quadrinhos conseguiram adquirir ao longo do tempo, mostrando que é possível a

construção de uma história direcionada para adultos com temas mais polêmicos e violentos

como é o caso de The Walkig Dead. Juntamente com isso, identificam-se as influências

causadas pela obra de George A. Romero em todos os tipos de filmes, série e HQs produzidas

sobre zumbis, em especial no objeto de estudo deste trabalho.

Foi possível perceber que a história construída no quadrinho não se aprofunda tanto

nos acontecimentos, ela se apresenta de uma forma mais rápida e objetiva. No geral, todo

assunto trabalhado durante o desenrolar da história é muito interessante, porém devido à

limitação existente nesse meio, alguns detalhes que poderiam enriquecer o enredo acabam

ficando de lado. Já, na série de TV, é visto que há a possibilidade de ir com mais calma com

os acontecimentos, não só enriquecendo os fatos já existentes, mas também viabilizando a

inserção de momentos inexistentes originalmente na história em quadrinhos.

Ainda o envolvimento entre os personagens é intenso em toda a série de TV, dando a

oportunidade para o espectador de conhecer mais sobre aquelas pessoas.

Com toda a análise realizada sobre a adaptação a partir do quadrinho, foi possível

constatar algumas diferenças fundamentais. Foi percebido que houve grandes mudanças no

decorrer da história. O enredo trazido pela série acaba alterando o final da 1ª temporada. A

137

morte de Shane é adiada, ao invés disto é apresentada a luta do grupo para sobreviver ao

tentarem fugir do CDC.

Com o acréscimo de cenas e novos acontecimentos, houve tempo para trabalhar com

mais intensidade todas as relações interpessoais da série. Desde encontros rápidos como a

amizade formada com Morgan e o casamento de Carol com Ed, até as relações mais

complexas como a de Amy e Andrea, e a de Lori e Shane. Contando um pouco da história de

vida de cada um.

Além disto, houve momentos de bastante similaridade entre as obras. Há diversas

partes da história que não obtiveram grandes modificações, muitos acontecimentos descritos

pela história em quadrinhos são aproveitados na série. Ainda houve o cuidado de reproduzir

os cenários apresentados pelos quadrinhos na série, com o intuído de aproximar os

espectadores que já são fãs da HQ, assim como a escolha dos atores que interpretariam os

personagens desenhados por Tony Moore.

Assim, na série de TV também houve o acréscimo de acontecimentos e personagens

que conseguem trabalhar outros temas que originalmente a HQ não teria tempo e espaço para

serem abordados, em personagens como Merle e Ed.

A grafic novel de Robert Kirkman, The Walking Dead, foi transformada na primeira

série de longo prazo sobre os mortos-vivos, assim pode-se concluir que a adaptação realizada

consegue ser fiel a história original, mas ao mesmo tempo ter o seu próprio ritmo e desenrolar

da história. Tanto a série, quanto a HQ, consegue existir separadamente sem a necessidade da

outra para continuar em frente.

Diante do tema abordado neste estudo, é interessante ressaltar que o objetivo

principal foi evidenciar e analisar as diferenças trazidas pela série de televisão ao adaptar uma

história em quadrinhos. O assunto pode e deve ser debatido e estudado, a fim de tornar o

estudo cada vez mais rico e completo. Dando continuidade a um tema que comprova a

importância que as HQs têm adquirido ao longo do tempo como fonte de cultura e

entretenimento, além de discutir até onde somos capazes de chegar para sobreviver.

138

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ANEXO A – Declaração de responsabilidade