sobre peles e flores

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Saburo Sasaki - 2010 Tempos atrás, li uma crônica de Donald Richie intitulada “Saburo Sasaki”. Nos anos 1950, Saburo é um jovem que troca a interiorana Ibaraki pela sonhada capital Tóquio, onde trabalha como ajudante numa casa que serve sushi no bairro boêmio de Asakusa. Novato, era constantemente humilhado e agredido por dois colegas de trabalho que, tatuados, diziam ser gângsteres. Em seus devaneios, Saburo imaginava que aquele emprego era o melhor que conseguiria e a garantia da sua permanência na capital: tatuar-se ou não? “Não era a pressão que o preocupava. Também estava pensando na alegria de adequar-se. E, afinal, acrescentou sorrindo, shikataganai de sho, acho que não há outro jeito”. Imagino que, com as linhas inscritas em sua pele, seu sonho tenha permanecido. Polissemia - 2003 Mais do que algo acabado, Polissemia é um processo onde há justaposição de ideias. Nos caminhos do imaginário que construímos, percorremos o projeto do vestuário enxergando a pele como um tecido; as vestes como um lugar social (tensão entre o nu e o vestido) e também o desenho, da plasticidade do trabalho em si. Embora possa ganhar diversos significados, a obra não pretende celebrar a dor ou a efemeridade do corpo: não existem cicatrizes. Tudo foi meticulo- samente feito pelas mãos de um cirurgião-plástico de forma a desaparecer no espaço e ser reinventado em todas as apresentações. Completude X Fragmentação - 2010 O simulacro da realidade corporal humana é o tema das artes plásticas desde as cavernas até a arte pós-moderna. Linguagem ou técnica desenvolvida com o passar do tempo não modificam essa intenção: os seres humanos querem se representar. As esculturas - como a pintura, a fotografia e o vídeo - são memórias de nossa relação com os corpos, apresentadas em diversos olhares, suportes, poéticas e experiências, corporificadas pela experiência vital e sensorial de cada artista. A escultura ocupa um lugar real no espaço. Torna o espectador ativo porque deve andar em volta da peça, aproximar-se, afastar-se, surpreender-se, concentrar-se. Permite um envolvimento físico com as obras. A escultura é real, palpável e ao mesmo virtual, porque é também um simulacro. Nossa escolha é a escultura em argila. Em algumas peças explicitamos a dualidade dos impulsos humanos e sua integração. Em outras, repulsa e oposição. A somatória dessas peças é o conflito humano - que as relações urbanas intensificam - na sua poética, beleza, dor, isola- mento, negação e superação integradora. De 17 de junho a 01 de agosto Terça a sexta, das 13h às 21h30. Sábados, das 10h às 19h30. Domingos e feriados, das 10h às 18h30. De modo a aproximar o público da linguagem e do fazer artístico, o SESC São José dos Campos propôs para o primeiro semestre de 2010 exposi- ções que, por diferentes abordagens e estratégias, evidenciaram pesqui- sas que buscam estabelecer relações entre o corpo humano e as artes plásticas. Sobre Peles e Flores reúne obras dos artistas plásticos Akira Umeda, Karlla Girotto, Suzy Okamoto, Laura Nehr e Cleide Vieira para integrar o projeto arte>corpo>arte, que abrigou as exposições Corpo... natu- ralmente!, de Alessandra Cestac e GrupoTeleKommando, nos meses de fevereiro e março, e DesLocaMentos de Marie Ange Bordas, em abril e maio. O pensamento contemporâneo revela o corpo como lugar da construção de sentidos, traz à tona seu potencial investigativo somado à sua capa- cidade criativa de novas realidades, em conexão com diferentes meios. Para a compreensão destes novos referenciais do corpo, é necessário inseri-lo no contexto das formas sensíveis e conhecer os diversos perfis que compõem sua identidade. Akira carimba o próprio corpo com símbolos informativos e de comprovação de qualidade, encontrados em produtos industriais. As tatuagens, somadas aos objetos de adornos presentes na sociedade contemporânea, são expressões de identidades presentes na instalação de Laura Nehr e Cleide Vieira, em suas formas bidimensionais e tridimensionais. Karlla Girotto e Suzy Okamoto operam a pele como suporte para o trabalho artístico e nela tecem imagens e formas com costuras acrescidas de peças delicadas como pérolas. A poética resultante é delicada e feminina, apesar do aspecto agressivo que o processo apresenta. Na exposição Sobre Peles e Flores, os artistas plásticos Akira Umeda, Karlla Girotto, Suzy Okamoto, Laura Nehr e Cleide Vieira deixam fluir diferentes reflexões, considerando corpos humanos como suporte para expressar suas emoções, indig- nações e delicadezas. Akira Umeda Laura Nehr e Cleide Vieira SESC São José dos Campos Av. Adhemar de Barros, 999 - Jd. S. Dimas - CEP 12.245-010 - São José dos Campos - SP (12) 3904 2000 - [email protected] - www.sescsp.org.br Artes Visuais Junho | Julho | 2010 Sobre Peles Flores e Suzy Okamoto e Karlla Giroto

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Folder de mediação da exposição "Sobre peles e flores" do SESC São José dos Campos.

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Page 1: Sobre peles e flores

Saburo Sasaki - 2010Tempos atrás, li uma crônica de Donald Richie intitulada “Saburo Sasaki”. Nos anos 1950, Saburo é um jovem que troca a interiorana Ibaraki pela sonhada capital Tóquio, onde trabalha como ajudante numa casa que serve sushi no bairro boêmio de Asakusa. Novato, era constantemente humilhado e agredido por dois colegas de trabalho que, tatuados, diziam ser gângsteres. Em seus devaneios, Saburo imaginava que aquele emprego era o melhor que conseguiria e a garantia da sua permanência na capital: tatuar-se ou não? “Não era a pressão que o preocupava. Também estava pensando na alegria de adequar-se. E, afinal, acrescentou sorrindo, shikataganai de sho, acho que não há outro jeito”. Imagino que, com as linhas inscritas em sua pele, seu sonho tenha permanecido.

Polissemia - 2003Mais do que algo acabado, Polissemia é um processo onde há justaposição de ideias. Nos caminhos do imaginário que construímos, percorremos o projeto do vestuário enxergando a pele como um tecido; as vestes como um lugar social (tensão entre o nu e o vestido) e também o desenho, da plasticidade do trabalho em si. Embora possa ganhar diversos significados, a obra não pretende celebrar a dor ou a efemeridade do corpo: não existem cicatrizes. Tudo foi meticulo-samente feito pelas mãos de um cirurgião-plástico de forma a desaparecer no espaço e ser reinventado em todas as apresentações.

Completude X Fragmentação - 2010O simulacro da realidade corporal humana é o tema das artes plásticas desde as cavernas até a arte pós-moderna. Linguagem ou técnica desenvolvida com o passar do tempo não modificam essa intenção: os seres humanos querem se representar. As esculturas - como a pintura, a fotografia e o vídeo - são memórias de nossa relação com os corpos, apresentadas em diversos olhares, suportes, poéticas e experiências, corporificadas pela experiência vital e sensorial de cada artista. A escultura ocupa um lugar real no espaço. Torna o espectador ativo porque deve andar em volta da peça, aproximar-se, afastar-se, surpreender-se, concentrar-se. Permite um envolvimento físico com as obras.A escultura é real, palpável e ao mesmo virtual, porque é também um simulacro. Nossa escolha é a escultura em argila. Em algumas peças explicitamos a dualidade dos impulsos humanos e sua integração. Em outras, repulsa e oposição. A somatória dessas peças é o conflito humano - que as relações urbanas intensificam - na sua poética, beleza, dor, isola-mento, negação e superação integradora.

De 17 de junho a 01 de agostoTerça a sexta, das 13h às 21h30.Sábados, das 10h às 19h30.Domingos e feriados, das 10h às 18h30.

De modo a aproximar o público da linguagem e do fazer artístico, o SESC São José dos Campos propôs para o primeiro semestre de 2010 exposi-ções que, por diferentes abordagens e estratégias, evidenciaram pesqui-sas que buscam estabelecer relações entre o corpo humano e as artes plásticas.Sobre Peles e Flores reúne obras dos artistas plásticos Akira Umeda, Karlla Girotto, Suzy Okamoto, Laura Nehr e Cleide Vieira para integrar o projeto arte>corpo>arte, que abrigou as exposições Corpo... natu-ralmente!, de Alessandra Cestac e GrupoTeleKommando, nos meses de fevereiro e março, e DesLocaMentos de Marie Ange Bordas, em abril e maio. O pensamento contemporâneo revela o corpo como lugar da construção de sentidos, traz à tona seu potencial investigativo somado à sua capa-cidade criativa de novas realidades, em conexão com diferentes meios. Para a compreensão destes novos referenciais do corpo, é necessário inseri-lo no contexto das formas sensíveis e conhecer os diversos perfis que compõem sua identidade. Akira carimba o próprio corpo com símbolos informativos e de comprovação de qualidade, encontrados em produtos industriais. As tatuagens, somadas aos objetos de adornos presentes na sociedade contemporânea, são expressões de identidades presentes na instalação de Laura Nehr e Cleide Vieira, em suas formas bidimensionais e tridimensionais. Karlla Girotto e Suzy Okamoto operam a pele como suporte para o trabalho artístico e nela tecem imagens e formas com costuras acrescidas de peças delicadas como pérolas. A poética resultante é delicada e feminina, apesar do aspecto agressivo que o processo apresenta. Na exposição Sobre Peles e Flores, os artistas plásticos Akira Umeda, Karlla Girotto, Suzy Okamoto, Laura Nehr e Cleide Vieira deixam fluir diferentes reflexões, considerando corpos humanos como suporte para expressar suas emoções, indig-nações e delicadezas.

Akira Umeda

Laura Nehr e Cleide Vieira

SESC São José dos CamposAv. Adhemar de Barros, 999 - Jd. S. Dimas - CEP 12.245-010 - São José dos Campos - SP(12) 3904 2000 - [email protected] - www.sescsp.org.br

Artes Visuais Junho | Julho | 2010

SobrePeles

Flores e

Suzy Okamoto e Karlla Giroto

Page 2: Sobre peles e flores

Akira UmedaArtista multimídia e historiador formado pela Univap/São José dos Campos. Atua nas áreas de criação, pesquisa e ensino de artes, ofícios e entretenimento. Realizou a exposi-ção individual “Yurei”, na Dconcept Escritório de Arte em São Paulo e participou do Salão de Arte em Ribeirão Preto – Contemporâneo/ MARP/Ribeirão Preto SP.

Laura NehrMestre em Artes Vi-suais pelo Instituto de Artes da UNESP. Professora Universi-tária desde 2002 na Faculdade Paulista de Artes. Como artista plástica atua nas áreas de escul-tura e desenho. Re-alizou as exposições individuais: “Expres-sões” no Museu de Amparo, “Tango” na galeria de artes da Unesp e “Glossário” no SESC São José dos Campos e na casa de Cultura da Penha: Secretaria da Cultura.

Cleide Vieira Artista plástica

atuante nas áreas de escultura, desenho e gravura. É pós-gradu-

ada em Arte Terapia pela Universidade São

Marcos. Participou do XIV Salão Brasi-

leiro de Belas Artes/ Ribeirão Preto, do

17º Salão de Artes Plásticas e realizou

exposição individual no Centro Cultural An-tonia Marçon Bonício em São Bernardo do

Campos SP.

Karlla GirottoEspecialista em formas, cores

e texturas têxteis. Formada pela Faculdade de Artes Santa Marcelina. Possui participação como figurinista do Centro de

Pesquisas Teatrais – CPT.

Suzy Okamoto Artista visual, Mestre em

Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, São Paulo, SP, professora do curso de Negó-cios da Moda da UniFMU – SP,

da Pós em Styling e Imagem do Senac (Salvador, São Paulo e

Fortaleza) e Pós em Design de Moda da FUMEC - BH. Premia-

da em diversas mostras de vídeo no Brasil, e em mostras

internacionais como a SOPOT – Polônia em 2004.