sobre o fracasso escolar

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  • 51Educao e Pesquisa, So Paulo, v.30, n.1, p. 51-72, jan./abr. 2004

    O estado da arte da pesquisa sobre o fracasso escolar(1991-2002): um estudo introdutrio

    Carla Biancha AngelucciJaqueline KalmusRenata PaparelliMaria Helena Souza PattoUniversidade de So Paulo

    Resumo

    Este artigo apresenta um estudo introdutrio do estado da arte dapesquisa sobre o fracasso escolar na rede pblica de ensino funda-mental, partindo de uma retrospectiva histrica da pesquisa educa-cional no Brasil. A insero da produo atual numa perspectiva his-trica permite a percepo de continuidades e descontinuidades te-rico-metodolgicas, avanos e redundncias na produo de sabersobre o objeto de estudo.O corpus sobre o qual incidiu a pesquisa composto de teses e dis-sertaes defendidas entre 1991 e 2002 na Faculdade de Educaoe no Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo. Foramencontradas e categorizadas 71 obras, das quais treze foram analisa-das em profundidade, tendo como base as seguintes questes: comoo tema abordado? Qual a concepo terica e metodolgicasubjacente? H coerncia entre teoria e mtodo? Quais as concep-es de escola e de fracasso escolar que fundamentam o trabalho?Quais as relaes com o conhecimento j produzido? Que novos as-pectos so anunciados?Revelaram-se vertentes que compreendem o fracasso escolar das se-guintes formas: como problema essencialmente psquico; como pro-blema meramente tcnico; como questo institucional; como ques-to fundamentalmente poltica. Verificou-se a existncia de continui-dades e rupturas terico-metodolgicas em relao aos caminhospercorridos pela produo de saber na rea: h teses em que perma-nece o predomnio de concepes psicologizantes e tecnicistas defracasso escolar; em outras, coexistem concepes inconciliveis queresultam em um discurso fraturado; h tambm teses que dialogam eavanam a pesquisa crtica do fracasso escolar, inserindo-o nas rela-es de poder existentes numa sociedade de classes.

    Palavras-chave:

    Fracasso escolar Reviso de literatura Pesquisa educacional Psicologia escolar.

    Correspondncia:Maria Helena Souza PattoInstituto de Psicologia USPDepto PSAAv. Professor Mello Moraes, 1721Caixa Postal 6626105508-900 So Paulo SPe-mail: [email protected]

  • Educao e Pesquisa, So Paulo, v.30, n.1, p. 51-72, jan./abr. 200452

    The state of the art in the research on school failure(1991-2002): an introductory study

    Carla Biancha AngelucciJaqueline KalmusRenata PaparelliMaria Helena Souza PattoUniversidade de So Paulo

    Abstract

    Considering the political and economical changes that took placein the Brazilian society during the last decade of the 20th century,characterized as they were, among other facts, by the rising of theneoliberal ideology and by changes in the productive sector, apartfrom the professed emphasis government and business sectorshave placed on the necessary reform of the education systemaimed at achieving a competitive economy, the objective of thisarticle is to investigate the role industrial businessmen assign toprofessional education within their projects of economicdevelopment. The primary reference material used were technicaldocuments by the Confederao Nacional da Indstria (CNI -National Confederation of Industries) and by the Federao dasIndstrias do Estado de So Paulo (Fiesp - Industry Federationof the State of So Paulo), and also testimonies from leaders ofthose institutions extracted from various Brazilian periodicals.The conclusion has been that although Brazilian businessmen haveemphasized investments in basic and professional education, suchemphasis seeks to adjust education in Brazil to economic interestsand not to regard it as a social right to be guaranteed by the stateto all citizens. The analyses and proposals for education made bybusinessmen evolve around principles similar to those put forwardby the World Bank, which adhere strictly to the Theory of HumanCapital. The text also shows that such proposals regardingeconomic development and educational policy have beenincorporated into the Brazilian central government agendaduring the 1990s.

    Keywords

    School failure Literature review Educational research Schoolpsychology.

    Contact:Maria Helena Souza PattoInstituto de Psicologia USPDepto PSAAv. Professor Mello Moraes, 1721 Cai-xa Postal 6626105508-900 So Paulo SPe-mail: [email protected]

  • 53Educao e Pesquisa, So Paulo, v.30, n.1, p. 51-72, jan./abr. 2004

    A importncia de balanos peridicosdo estado de coisas vigente numa rea de pes-quisa mltipla. Eles podem detectar teoria emtodo dominantes; pr em relevo aspectos doobjeto de estudo que se esboam nas entreli-nhas das novas pesquisas; revelar em quemedida a pesquisa recente relaciona-se com aanterior e vai tecendo uma trama que permitaavanar na compreenso do objeto de estudopela via do real acrscimo ao que j se conheceou da superao de concepes anteriores. Sassim se podem avaliar as continuidades edescontinuidades tericas e metodolgicas e oquanto esta histria se faz por repetio ouruptura noutras palavras, o quanto ela re-dunda ou avana na produo de saber sobreo objeto de estudo. Nesse tecido, sempre emformao, reside a possibilidade de evitar acristalizao do conhecimento e de fazer dapesquisa espao de produo de saber, que temcomo essncia o constante movimento.

    A produo de conhecimento sobre oque se convencionou chamar fracasso esco-lar tem uma longa histria. Um estudo da si-tuao atual da pesquisa desse tema no podedesconsiderar levantamentos anteriores. Parase conhecer os termos dessa continuao, preciso situar a produo recente nas linhas etendncias apontadas por levantamentos ante-riores, mesmo que difiram quanto s fontes.Da o resumo, a seguir, das principais conclu-ses de estudos do estado da arte realizadosem perodos anteriores.

    A pesquisa educacional noBrasil: breve histrico

    Origens da pesquisa educacional

    Em 1971, Aparecida Joly Gouveia publi-cou anlise extensa da pesquisa produzida noperodo 1965-1970 (Gouveia, 1971). Nesserelatrio, a pesquisadora j ressaltava que s sepoderia apreender o significado da produonaquele perodo se ela fosse entendida em suasrelaes com a produo anterior. Por isso, o

    artigo traz um resumo das origens da pesqui-sa educacional brasileira, sem o qual era im-possvel entender o sentido da pesquisa no sno momento estudado pela autora, mas tam-bm nos que lhe so posteriores, at a atuali-dade. Nesse esboo, dois perodos: 1940-1955;1956-1964.

    Como marco inaugural, o fato de que apesquisa educacional teve incio no interior dergos governamentais. Os anos 1940-1955comeam com o reconhecimento oficial daimportncia da pesquisa na conduo da pol-tica educacional. Em 1938, criou-se o Institu-to Nacional de Estudos Pedaggicos (Inep) noMinistrio de Educao e Cultura. Por isso, arelao entre a pesquisa e a poltica de educa-o foi primeiramente entendida em termosrigidamente instrumentais: cabia aos pesquisa-dores trazer subsdios prticos formulao eavaliao de aes oficiais no campo da edu-cao escolar.

    Como caracterstica desse momentoinaugural, a presena forte da leitura psicol-gica do processo de educao escolar e, con-seqentemente, de estudos da psicologia doensino e da aprendizagem e a criao de ins-trumentos de avaliao psicolgica e pedag-gica do aprendiz. Estava-se no auge da influ-ncia da Escola Nova, que assentava as basesda pedagogia cientfica na biologia e na psico-logia. No por acaso, a estrutura inicial do Inepincluiu uma Diviso de Psicologia Aplicada porinfluncia do educador escolanovista e psic-logo Loureno Filho, seu primeiro diretor. Oprimado da psicologia no entendimento dofracasso escolar , portanto, marca de origemda pesquisa educacional.

    A criao em 1956 do Centro Brasilei-ro de Pesquisa Educacional e de cinco centrosregionais inaugura o segundo perodo. Nova-mente, a pesquisa como meio privilegiado paraatingir fins governamentais. No interior daideologia nacional-desenvolvimentista, muda,no entanto, o objeto: agora se trata de mapeara sociedade brasileira de modo a fornecer da-dos a uma poltica educacional que alavancasse

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    o progresso econmico do pas, levando em con-ta as diferenas regionais. Na pauta dos rgosde pesquisa, a estratificao socioeconmica dapopulao; a mobilidade social; os processos desocializao regionais e comunitrios; a correla-o entre escolaridade e nvel socioeconmico; acomposio socioeconmica da populao esco-lar. Era a vez das cincias sociais, em chave te-rica funcionalista.

    No perodo estudado por Gouveia(1965-1970),

    esboa-se a predominncia de estudos de natu-reza econmica, incentivados no s por certosorganismos prestigiosos da administrao fede-ral, mas tambm por fontes externas de finan-ciamento. A educao como investimento, oscustos da educao, a escola e a demanda deprofissionais de diferentes nveis e outros tpicosque sugerem, igualmente, racionalizao, soitens freqentes em documentos programticos.Como se depreende do levantamento das pes-quisas em andamento, por ns aqui intentado,tm-se mostrado, nos ltimos tempos, particu-larmente atraentes a rgos oficiais de diferen-tes nveis os chamados estudos sobre recursoshumanos. (1971, p. 4)

    Eram tempos de predomnio da teoriado capital humano, da educao concebidacomo terceiro fator, at ento despercebido, dedesenvolvimento econmico, alm do capital edo trabalho. O aumento quantitativo e qualita-tivo da educao passa a ser considerado in-vestimento rentvel. Eram tempos de ditaduramilitar e do desgnio oficial de pr o pas norumo do ordem e progresso nos termos com-teanos de desenvolvimento tcnico-cientficoconduzido por um Estado autoritrio.

    A educao passou a ser assunto exclu-sivamente tcnico. Dominam solues tecnicistaspara os problemas do ensino, tendo em vistagarantir rapidez e eficincia escolarizao departe maior da populao, na proporo dosinteresses da internacionalizao do mercadointerno. Da o prestgio dos testes psicolgicos

    e pedaggicos; das mquinas de ensinar e dainstruo programada; das taxonomias dos ob-jetivos do ensino; do condicionamento operantena escola; do planejamento do ensino em ter-mos de input (competncias e habilidades iniciaisdo aprendiz); processamento (o ensino) e output(os objetivos a serem atingidos), tudo isso deta-lhado em Guias Curriculares que, elaboradas nosrgos centrais, chegavam s escolas como ro-teiro a ser cumprido. Nesse contexto, o fracas-so escolar resultava principalmente de um pro-cessamento (ensino) que desconsiderava a pre-cariedade do input da clientela pobre, em nme-ro crescente nos bancos escolares.

    Do ponto de vista da metodologia, pre-dominaram nos institutos oficiais estudos ex-ploratrios e descritivos, muitas vezes simpleslevantamentos de estatsticas escolares. Forammuitos os surveys ou caracterizaes socioeco-nmicas de professores e alunos da rede pbli-ca de ensino fundamental e mdio e as descri-es da estrutura e funcionamento de unidadesescolares. Quanto aos aspectos investigados,alm da caracterizao de professores, alunos eescolas, estudos descritivos de mtodos de en-sino e recursos didticos. Eram raras, segundoGouveia, as pesquisas dedicadas avaliao deinovaes educacionais; inexistiam estudos dadinmica interna das escolas e da organizao efuncionamento do sistema de ensino em seusaspectos administrativos e polticos. A pesquisa-dora atribua essa ausncia falta de atenoou ao fato de que esses aspectos no se tmprestado aos tipos de anlise que o equipamentoterico e metodolgico dos pesquisadores bra-sileiros permite realizar (op. cit., p. 8). Ficamoscom a segunda hiptese, at porque pensamosque a falta de ateno resulta de escolhastericas.

    Nas universidades, ela encontrou qua-dro semelhante, exceo feita a psiclogos que,inspirados em literatura especializada norte-americana, elaboravam e adaptavam instrumen-tos de avaliao de capacidades e habilidadespsquicas e realizavam pesquisas que corre-lacionavam nveis de desenvolvimento psicol-

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    gico e rendimento escolar, sobretudo em leiturae escrita. Era nesse recorte psicolgico que seelaboravam as verses dominantes sobre ascausas do fracasso escolar.

    Mas o locus da pesquisa educacionalno era, nesse perodo, a Universidade:

    a maior parte, porm dos trabalhos realizadospor professores universitrios resulta de esforosindividuais relacionados com interesses intelec-tuais ou acadmicos. A pesquisa praticamentenegligenciada nos oramentos das universidadese, em geral, desempenha papel secundrio nacarreira do professor universitrio. (Gouveia,1971, p. 10)

    Nessa mesma direo, a educao ain-da no era, segundo Gouveia, rea de pesqui-sa em agncias de fomento pesquisa, comoo CNPq e a Fapesp.

    Nesse perodo, Gouveia detectou umdivrcio crescente entre pesquisa e polticaeducacional:

    considerando a situao atual, poderamos di-zer, sem exagero, que tanto a formulao dapoltica educacional, quanto configurao dasrotinas escolares se fazem revelia do queacontece nas instituies de pesquisa, bem comode resultados acaso obtidos por pesquisadoresisolados. (...) Parece-nos igualmente legtimoafirmar que, em administraes passadas, a in-teno de utilizar a pesquisa como fonte de es-clarecimento para a ao traduzia-se em laosmais estreitos e iniciativas mais concretas que osexistentes nestes dias. (1971, p. 17)

    Nesta ltima situao, ela via vanta-gens e desvantagens. De um lado, havia maiororganicidade entre pesquisa e ao educacio-nal; de outro, havia sujeio da pesquisa aobjetivos meramente pragmticos. Por isso, elaconclui:

    seriam necessrios centros de estudos que tives-sem certa autonomia e fossem menos atingidos

    pelas oscilaes do arbtrio governamental. Tal-vez tais centros no devessem situar-se no Mi-nistrio da Educao ou do Planejamento. Auniversidade poderia constituir uma alternativa.(p. 19)

    Por isso, encarecia a necessidade detrazer para a educao a colaborao de pes-quisadores de outros ramos das cincias huma-nas, programas de pesquisa de que participas-sem professores e alunos de ps-graduao(p. 19).

    Pesquisa educacional nos anos 1970

    No perodo 1970-1975, Gouveia en-contra um quadro diferente, no do ponto devista terico-metodolgico, que continuapositivista-experimental, mas no mbito tem-tico (Gouveia, 1976). Nos resumos dos congres-sos da Sociedade Brasileira para o Progresso daCincia (SBPC), aumenta a presena das cinciashumanas no campo da pesquisa educacional,sobretudo da psicologia. No Inep cresce, entreos projetos financiados, a pesquisa sobre ela-borao de currculos e avaliao de cursos ouprogramas em funo do mercado de trabalho,tendo em vista o planejamento curricular emestreita relao com as necessidades de mo-de-obra. Mas de novo nos Cadernos de Pes-quisa que ela encontra relatos que lhe permi-tem fazer um retrato da pesquisa educacionalna primeira metade da dcada de 1970.

    Os objetos mais freqentes delimitamtrs categorias: avaliao de currculos e pro-gramas; construo de instrumentos de avalia-o e pesquisa; caractersticas de estudantes oudo ambiente de que provm, tendo em vistacontribuir para a soluo dos problemas so-ciais decorrentes do crescimento das matrcu-las nos centros urbanos. Na terceira categoria,a pesquisadora constata a predominncia deestudos que no s caracterizam psicolgica esociologicamente os sujeitos ou o ambiente emque vivem, mas tambm investigam a influn-cia dessas caractersticas como variveis

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    independentes sobre a aprendizagem ou onvel de escolaridade. Em relao aos estudosde avaliao psicolgica dos alunos, quemarcaram a primeira metade dessa dcada, anovidade a disseminao de uma concep-o de fracasso escolar e de sadas preventi-vas e remediativas para as altas taxas de re-provao e evaso na rede pblica de ensinofundamental. Foram tempos de chegada noBrasil da teoria norte-americana da carn-cia cultural.

    Gouveia lamenta a presena inexpres-siva, nesse perodo, de estudos da escola comoorganizao social e dos sistemas administrati-vos em que as escolas se inserem, da polticaeducacional e dos sistemas poltico-administra-tivos federais, estaduais e municipais nos quaisse originam as decises e se disciplinam osprocedimentos que regem o cotidiano nas es-colas brasileiras.

    Levantamento realizado no InstitutoUniversitrio de Pesquisas do Rio de Janeiro(Iuperj), que incluiu a segunda metade dosanos 1970 (1971-1981), revelou avanos emrelao situao encontrada por Gouveiaat 1975 (Brando; Baeta; Rocha, 1983). Se,por um lado, confirmam-se achados dessapesquisadora na primeira metade da dcadade 1970 principalmente a continuao dabusca de deter-minantes do baixo rendimentoescolar em variveis externas ao sistema es-colar, como as condies socioeconmicas epsicolgicas dos usurios da escola pblica por outro, objetos de estudo incipientes ouausentes na pesquisa anterior comeam atomar forma.

    Surgem pesquisas que vo alm dombito da formao tcnica do magistriocomo causa das dificuldades de aprendizageme contemplam a representao docente, seja deseu trabalho, seja de seus alunos, no interior doconceito de profecia auto-realizadora. Comeama ser considerados fatores at ento no leva-dos em conta na reflexo sobre a qualidade daescola e a produo do fracasso escolar, comoas condies salariais do magistrio.

    A novidade maior na segunda metadedaquela dcada ficou por conta de pesquisasqualitativas voltadas para o interior da institui-o escolar: a burocratizao e sua influnciasobre a qualidade do trabalho docente; a dis-tncia entre a cultura escolar e a cultura popu-lar nos termos do pressuposto da carnciacultural; a inadequao do material didtico; adiscriminao das diferenas no interior dasescolas, sobretudo nas classes especiais.

    Mesmo assim, tratava-se de um campocindido: enquanto alguns estudos enfatizavama estimulao cognitiva das crianas pobres emidade pr-escolar como estratgia preventiva dedificuldades de aprendizagem, outros comea-vam a destacar aspectos da estrutura e do fun-cionamento institucionais, suas repercussesnas prticas docentes e, por esta via, no rendi-mento escolar dos alunos. Mas a maioria daspesquisas que levavam em conta as chamadasvariveis intra-escolares estava centrada numaspecto da tese da carncia cultural: a escola inadequada s caractersticas psquicas eculturais da criana carente. O que se destaca-va, portanto, era o desencontro entre professo-res e alunos, entre a escola e seus usurios, semque ficasse ntido que esse desencontro ine-rente escola como instituio social que re-produz a lgica de uma sociedade dividida emclasses. Por isso, continuou o predomnio deprescries tcnicas para a democratizao daescola. Os tempos ainda eram de ditadura e dacrena na redeno do pas pelo desenvolvi-mento tcnico e pela manuteno da ordem.

    Vale perguntar se essa diviso da pes-quisa em aspectos relativos ao aluno e aspec-tos relativos escola j no refletia, nessa po-ca, a duplicidade terica que comeou a seinstalar nos meios em que se pensava e pes-quisava a educao escolar, a partir da chega-da, em 1974, de Ideologia e aparelhos ideo-lgicos do Estado, de Louis Althusser, verda-deiro divisor de guas. A partir de ento fir-mou-se a concepo de Escola como institui-o social que s pode ser entendida se reme-tida estrutura da sociedade que a inclui.

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    Os anos 1980: ruptura e repetio

    Na dcada de 1980, essa diviso sedelimita e aprofunda: h ruptura e repetiotemtica e terica no campo da pesquisa edu-cacional (Patto, 1991). Se, de um lado, consta-ta-se que, no interior da tese da carncia cul-tural, a psicologizao do fracasso escolar temcontinuidade em publicaes como a RevistaBrasileira de Estudos Pedaggicos (Inep), deoutro, o lugar social contraditrio da escolanuma sociedade de classes firma-se como ob-jeto de reflexo e pesquisa. A discriminao ea justificao das desigualdades aparecem en-to como a razo de ser do sistema escolar. ateno de cunho funcionalista aos fatoresintra-escolares, j presente nos anos 1970,acrescentou-se a investigao da vida escolarem outro marco terico.

    Teorias crticas passaram a fazer partedas referncias bibliogrficas de ensaios e pes-quisas sobre a escolarizao e seus tropeos,principalmente as de Althusser, Bourdieu eGramsci. O fracasso escolar foi ressignificado:de fracasso dos alunos na escola ele passa produo da escola. No marco terico do fun-cionalismo, como produto reversvel, j queresultado de desacertos operacionais do siste-ma educacional. No marco materialista histri-co ou de outras teorias crticas de sociedade,como produto inevitvel da escola numa so-ciedade dividida.

    No marco dessa rotao do olhar, umconjunto de pesquisas realizadas na FundaoCarlos Chagas caminhou na contra-mo damedicalizao do fracasso escolar e voltou-se investigao da participao do sistema esco-lar no baixo rendimento das crianas, em bus-ca de mecanismos escolares de seletividadesocial, privilegiando o exame de aspectos es-truturais e funcionais da escola e dos rgosque a planejam. Tal abordagem resultou, naprpria Fundao e fora dela, em estudos maisclaramente voltados para a investigao dasrelaes de classe e dos pressupostos da culturadominante no interior das prticas e relaes

    que estruturam a vida escolar e produzem di-ficuldades de escolarizao.

    Mas essa superao no se generalizou;lado a lado com estudos da realidade escolar apartir do materialismo histrico, trs tendnciasse configuraram: continuaram as tentativas deencontrar as causas das dificuldades de apren-dizagem e de ajustamento escolar no desenvol-vimento psquico do aprendiz; num mesmorelato de pesquisa a poltica educacional anti-democrtica e o aprendiz eram simultaneamen-te responsabilizados pelos maus resultados doensino, o que configurava um discurso fratu-rado; concepes crticas e no-crticas daescola na estrutura econmico-social capitalistapassaram a conviver num mesmo projeto, o queindicava apropriao superficial da nova refe-rncia terica.

    A situao no era diferente no campoda sociologia da educao:

    a pesquisa emprica no tem permanecido in-sensvel s mudanas ocorridas no discurso aca-dmico sobre Educao. No apenas se verificaa substituio de conceitos funcionalistas poroutros tomados do marxismo como tambm aprpria maneira de identificar os problemas deinvestigao tem se alterado. (...) As dificulda-des de aplicao de formulaes marxistas empesquisas empricas, particularmente quando setrata de pesquisa de mbito restrito, manifes-tam-se claramente em alguns trabalhos demestrado e de doutoramento. Aps elaboradoreferencial terico a partir do qual se anuncia ainteno de utilizar o mtodo dialtico, desen-volve-se um tipo de anlise que, a no ser peloemprego de conceitos tomados ao marxismo,no difere, na verdade, do modelo relegado soba pecha de neo-positivista ou empiricista, pre-dominante em pocas anteriores. (Gouveia,1985, p. 65)

    No fim dos anos 1980, a pesquisa edu-cacional tentava superar o hiato entre concei-tos macroestruturais marxistas e necessidadesconceituais trazidas pelo estudo da vida esco-

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    lar em sua complexidade. Na relao entre his-tria e vida cotidiana, tal como entendida nateoria neomarxista de Agnes Heller, configura-va-se uma sada. Por influncia de pesquisado-ras mexicanas do Centro de Investigacon y deEstudios Avanzados que fizeram convergir essereferencial terico e procedimentos de pesquisaetnogrficos, pesquisadores da escola comea-ram a procurar acuidade conceitual para che-gar ao tecido da cotidianidade escolar em buscadas formas como nela seus agentes fazem ahistria da educao e so feitos por ela nobojo de uma sociedade de classes profunda-mente desigual.

    O estado da arte da pesquisasobre o fracasso escolar naUniversidade de So Paulo(1991-2002)

    A pesquisa e a reflexo sobre questesatinentes escola tm sido feitas na cidade deSo Paulo em dois nichos principais: de umlado, junto aos cursos de pedagogia e psicolo-gia de universidades pblicas e privadas; deoutro, em fundaes voltadas para a pesquisaeducacional. No primeiro caso, programas deps-graduao, com destaque para a Universi-dade de So Paulo e a Pontifcia UniversidadeCatlica de So Paulo, vm se tornando luga-res significativos de produo de conhecimentosobre as grandezas e misrias do ensino brasi-leiro; no segundo, a Fundao Carlos Chagasdestaca-se como condutora de amplos projetosde investigao no campo da educao esco-lar que, sem dvida, contriburam na definiodos rumos tomados pela pesquisa educacionalnas ltimas trs dcadas.

    O corpus sobre o qual incide esse es-tudo introdutrio limita-se a dissertaes eteses defendidas entre 1991 e 2002 na Facul-dade de Educao e no Instituto de Psicologiada Universidade de So Paulo e includas noDedalus (catlogo on-line do Banco de DadosBibliogrficos da USP) at julho de 2003. Tra-ta-se, portanto, de uma primeira parte de um

    estudo maior, que dever incluir outras institui-es dedicadas pesquisa educacional na cida-de de So Paulo.

    O levantamento teve incio com um rolde expresses de busca ampliado no decorrerdo prprio processo de localizao dos textosreferentes ao fracasso escolar.1 Procedeu-se,ento, leitura dos ttulos e resumos, includosno Dedalus, das teses resultantes desse primeirolevantamento e realizou-se uma primeira sele-o das que tinham o fracasso escolar comoobjeto de estudo. Foram selecionadas, nessafase, as que o tinham como objeto explcito,mesmo que a expresso no fosse empregadapara nome-lo. Nos casos em que o resumodisponvel no catlogo no era suficiente, pro-cedeu-se consulta aos textos duvidosos noacervo das bibliotecas. Ao final, foram localiza-das 71 obras,2 das quais 32 doutorados e 39mestrados.3

    Os temas

    A anlise dos resumos proporcionouuma primeira categorizao das pesquisas, tendocomo base o tema abordado. Foram construdasdez categorias temticas amplas, desdobradas em

    1. So elas: escola e/ou educ? e/ou aprend? associados s palavras comasterisco (*); alfabetizao; analfabet?; aprend?; avaliao (*); carnciacultural; cognio; construtivismo (*); cultura escolar; deficincia; dficit(*); dificuldade(s) (*); distrbio(s) associado a aprend? ou comportamento;ensino de primeiro grau; escrita; etnografia (*); evaso; excluso (*); for-mao docente/professores; fracasso escolar; incluso; indisciplina; ins-tituio (*); leitura; pobreza (*); poltica educacional; processos cognitivos;psicanlise (*); psicodiagnstico (*); psicopedagogia; reforma (*); relaoprofessor-aluno; relaes escolares; rendimento escolar; repetncia; re-provao; sucesso escola?; transtorno(s) associado a comportamento ouaprend?; violncia (*). Foram includas no levantamento obras que versamsobre "deficientes mentais leves" e sobre a temtica da incluso e foramexcludas aquelas cujo objeto de estudo so os portadores de sndromes ede deficincias mentais consideradas graves. Essa escolha deu-se emfuno do foco tradicionalmente presente no estudo do tema do fracassoescolar no Brasil: o problemtico processo de escolarizao da maioriados alunos dos segmentos pobres das classes populares que no por-tam deficincias mentais consideradas graves ou sndromes. Alm disso,o estudo desses ltimos traz especificidades que no abordaremos nesteartigo.2. As referncias completas das obras encontram-se ao final, em ObrasAnalisadas.3.Dezesseis teses e doze dissertaes no acervo da Faculdade de Edu-cao e dezesseis teses e 27 dissertaes no Instituto de Psicologia, soba orientao de 22 docentes em cada instituio.

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    subcategorias de acordo com o objeto especficoestudado pelo autor.5

    Essa categorizao possibilitou o levanta-mento de alguns aspectos preliminares, reveladoresdos caminhos que a pesquisa vem percorrendo naltima dcada. Chamou a ateno a presena sig-nificativa de pesquisas que concebem o fracassoescolar como fenmeno estritamente individual, oque pode ser observado pelo grande nmero deobras que constam das categorias Distrbios dedesenvolvimento e problemas de aprendizagem,Remediao do fracasso escolar e Papel do pro-fessor na eliminao do fracasso escolar. A primei-ra centra no aluno a responsabilidade pelo fracas-so, atribuindo-lhe, predominantemente, problemascognitivos, psicomotores ou neurolgicos. J asduas outras categorias responsabilizam ora o alu-no ora o professor e propem solues predomi-nantemente tcnicas, de base terica compor-tamental ou cognitivista, para eliminar o fracasso.

    Como era de se esperar, as pesquisasconstitutivas das trs primeiras categorias daTabela 1 concentram-se no lugar acadmico emque se produz e pratica psicologia. Da mesmaforma, a crtica psicologizaco do fracassoescolar ocorre nesse mesmo lugar.

    Assim como a atribuio de responsa-bilidade ao professor freqente nas pesquisasque relacionam fracasso escolar e incapacida-de tcnica, o trabalho docente tambm alvodas pesquisas que inserem o fracasso escolar nalgica excludente da escola pblica fundamen-tal. No entanto, essas pesquisas, ancoradas

    numa perspectiva crtica da relao escola-so-ciedade, partem do princpio de que, para en-tender o trabalho docente, preciso conside-rar o lugar da escola em uma sociedade declasses.

    Ainda com base na categorizao apre-sentada, observa-se que catorze teses procuramdiscutir o fracasso escolar em suas relaes comas polticas educacionais, bem como com amacropoltica: trata-se de pesquisas que procu-ram realizar uma anlise do capitalismo ou,mais especificamente, do neoliberalismo emsuas implicaes na produo do fracasso es-colar.

    Concepes de fracasso escolar

    A leitura na ntegra de uma amostra dototal de relatos levantados possibilitou umaanlise mais aprofundada da pesquisa recentesobre o fracasso escolar.6 A leitura inicial e aanlise foram norteadas pelas seguintes ques-tes: qual o objeto do trabalho? Qual a teoriaque o fundamenta? Qual o mtodo de pesqui-sa adotado? H coerncia entre teoria e mto-

    4. Para a apresentao detalhada das categorias e subcategorias, inclu-indo o nmero de obras classificadas em cada uma delas, vide Anexo.5. Algumas obras foram listadas em mais de uma categoria.6. A amostragem obedeceu aos seguintes critrios: garantiu-se a leiturade ao menos uma obra de cada categoria; o nmero de obras analisadasrespeitou a proporo de referncias em cada uma das categorias; foramescolhidas para anlise obras contidas nas subcategorias mais numero-sas. Foram analisadas ao todo treze obras, sendo oito do IP e cinco da FE,mantendo-se a proporo da produo das duas instituies.

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    do? Quais as concepes de Escola e de fracas-so escolar subjacentes pesquisa? Quais asrelaes da pesquisa analisada com o conheci-mento j produzido? Que novos aspectos dotema so abordados ou anunciados nas linhase entrelinhas dessas pesquisas?

    No cerne dessas perguntas, duas ques-tes fundamentais: quais as teorias, mtodose concepes de fracasso escolar predominan-tes? A resposta pode revelar a maneira pelaqual o objeto da pesquisa compreendido eestudado.

    a) O fracasso escolar como problema psquico: a

    culpabilizao das crianas e de seus pais

    Uma das vertentes da pesquisa recen-te parte do princpio de que o fracasso escolarse deve a prejuzos da capacidade intelectualdos alunos, decorrentes de problemas emocio-nais. Entende-se que a criana portadora deuma organizao psquica imatura, que resultaem ansiedade, dificuldade de ateno, depen-dncia, agressividade, etc., que causam, por suavez, problemas psicomotores e inibio intelec-tual que prejudicam a aprendizagem escolar.No se trata da tese tradicional de que as crian-as das classes populares tm rendimento inte-lectual baixo por carncia cultural, mas de afir-mar uma inibio intelectual causada por difi-culdades emocionais adquiridas em relaesfamiliares patologizantes.

    Nesses trabalhos pode haver meno implicao da escola no fracasso escolar, mas,por uma questo de recorte de pesquisa, elano levada em conta. Esta deciso revela acompreenso que neles se tem de fracassoescolar: como um fenmeno que pode ser es-tudado sem que se considere a existncia con-creta da escola. As dimenses nomeadas nes-ses textos como culturais, sociais e eco-nmicas no se articulam com a dimensointerna ou subjetiva, que pode ser analisadaisoladamente, por suposto sem qualquer pre-juzo para as concluses da pesquisa. Sob oargumento da necessidade de recorte, isola-

    se o aluno que no aprende da escola queo ensina.

    A escola pode tambm comparecer re-duzida relao professor-aluno; nesses casos,atitudes dos professores ou tcnicas de ensinopor eles utilizadas so a causa principal dasdificuldades de aprendizagem. Nessas teses,pode-se afirmar que o fracasso escolar temrelao com fatores de ordem poltica e so-cial, mas ao mesmo tempo negar que estes es-tejam presentes na cultura da organizaoeducacional. Desse modo, as explicaes cen-tradas na tese da carncia cultural acabam sen-do a reposta: a pobreza dos alunos (como fa-tor exterior escola) a principal causa do seuinsucesso escolar.

    Predomina uma concepo de escolacomo lugar harmnico em que o potencial decada um encontra condies ideais para sedesenvolver. A tarefa da criana, nesse contex-to, desenvolver suas capacidades egicaspara lidar com uma realidade inquestionvel. a partir dessa concepo que alguns pesquisa-dores estabelecem uma relao direta entredesempenho escolar e sade mental. Cabe aoaluno adaptar-se, com a contribuio de pro-fessores e psiclogos. No interior de uma con-cepo de normalidade como adaptao, o noajustamento escola ou a insatisfao comcaractersticas do ambiente escolar so incapa-cidade individual de orientar-se pelo princpiode realidade.

    Entre as pesquisas que atribuem o fra-casso escolar a problemas emocionais indivi-duais, h uma forte presena do emprego degrupos controle e experimental. interessanteressaltar que elas chegam a resultados incon-ciliveis. Em uma delas, os membros dos gru-pos controle e experimental obtm um bomrendimento nas avaliaes intelectuais, mas asavaliaes de personalidade indicam problemasde natureza emocional; o que diferencia o gru-po experimental, portador de queixa escolar, o no acolhimento de suas angstias pelos paise a conseqente inibio intelectual. Em outra,tanto o grupo experimental quanto o grupo

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    controle apresentaram baixo desempenho inte-lectual; assim sendo, o que explica o sucessoescolar dos integrantes do segundo grupo ofato de eles terem maturidade emocional sufi-ciente para lidar com dificuldades escolaresresultantes do baixo nvel de inteligncia. Semdilogo entre elas (uma das pesquisas foi de-fendida em 1993 e a outra em 1998), fica aseguinte questo: at que ponto os resultadosde uma pesquisa so entendidos de modo aconfirmar as hipteses do pesquisador?

    Nessa modalidade de pesquisa, a revisobibliogrfica por vezes assume carter meramen-te burocrtico, e se limita a listar o maior nme-ro possvel de pesquisas realizadas sobre o tema,sem ateno s diferenas de concepes, pro-cedimentos e resultados encontrados, como sefossem equivalentes. Dessa forma, o avano doconhecimento sobre o objeto de estudo ficaseriamente comprometido.

    b) O fracasso escolar como um problema tcnico:

    a culpabilizao do professor

    Outra perspectiva encontrada a queconcebe o fracasso escolar como efeito de tc-nicas de ensino inadequadas ou de falta dedomnio da tcnica correta pelo professor. Per-manece nessas pesquisas o pressuposto de queas crianas das classes populares trazem para aescola dificuldades de aprendizagem, mas ofoco muda de lugar: no se localiza nos pro-blemas individuais dos alunos, mas na tcnicade ensino do professor. Nesse sentido, leva-seem conta a escola na produo dos reveses daaprendizagem, mas reduzida a uma relao dualabstrata em uma escola abstrata, ou seja, des-vinculadas da sociedade que as inclui.

    Mesmo quando faz referncia ao des-caso das autoridades para com a escola pbli-ca, as teses dessa vertente continuam dentro dalgica tecnicista, pois o descaso reduzido aofato de as autoridades no proporcionaremformao tcnica adequada aos professores.Afirma-se que o fracasso escolar produzidona e pela escola, mas reduz-se esta produo

    sua inadequao tcnica. Na verdade, conti-nua-se a compreender o fracasso escolar comoresultado de variveis individuais, embora nes-sas teses a varivel independente investigadaseja a capacidade profissional do professor.

    Marcado pela tese da carncia cultural,um dos relatos analisados d continuidade verso que marcou a pesquisa do fracasso es-colar nos anos 1970: os professores esto pre-parados para escolarizar crianas ideais, masno os usurios predominantes da escola pbli-ca primria as crianas pobres.

    Est presente nessa produo o pressu-posto de que os alunos possuem dificuldadesde ordem emocional, cultural, etc., que podemser sanadas pelo professor se ele utilizar a tc-nica de ensino adequada. O construtivismo aalternativa mais comumente apresentada; oprofessor deve domin-lo, acreditar na capaci-dade de desenvolvimento da criana e atuarmediante intervenes psicopedaggicas. Pormeio desses procedimentos, prev-se o ajusta-mento da criana a uma escola que, baseada natcnica correta, proporcionaria condies pro-pcias ao desenvolvimento das potencialidadesdos aprendizes.

    O acento tcnico dessa concepo defracasso escolar fica patente na preocupaocom a eficcia da prtica pedaggica. Nessecontexto, ser bom professor significa ter for-mao tcnica adequada; refletir sobre a prti-ca; planejar as intervenes; estar motivado. Setodos esses critrios forem garantidos e, aindaassim, houver crianas que no aprendem, asim se pode afirmar a presena de dificuldadespsquicas individuais que devem ser encami-nhadas a especialistas.

    A partir do entendimento do fracassoescolar como resultado de tcnicas de ensinoinadequadas ou mal digeridas, pesquisadores sepropem a aplicar eles mesmos tcnicas emgrupos de crianas com queixa escolar a fim deprovar a sua tese, melhorando o desempenhoescolar ou, pelo menos, as respostas dadaspelos sujeitos da pesquisa no contexto expe-rimental. Tambm nessas pesquisas, os casos

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    que contradizem a hiptese inicial so tomadoscomo indicativos de deficincias individuaisque necessitam de acompanhamento especial,e no como resultado que problematiza a hip-tese de que o simples emprego da tcnicaadequada suficiente para reverter as dificul-dades de escolarizao.

    Essas pesquisas consideram a crtica sconcepes psicologizantes ou medicalizantesdo fracasso escolar quando se referem neces-sidade de se compreender as origens e signifi-cados da queixa escolar, em vez de simples-mente atribu-la a dificuldades do aluno. Noentanto, acabam por voltar reduo que cri-ticam, ao restringirem-se avaliao da crian-a e interveno na criana.

    c) O fracasso escolar como questo institucional:

    a lgica excludente da educao escolar

    H pesquisas que entendem a escolacomo instituio social que contraditoriamen-te reproduz e transforma a estrutura social.Partem do princpio de que o fracasso escolar um fenmeno presente desde o incio dainstituio da rede de ensino pblico no Brasil.A anlise dos processos institucionais que levam produo do fracasso deve considerar a es-cola como instituio inserida em uma socieda-de de classes regida pelos interesses do capital,sendo que a prpria poltica pblica encontra-se entre os determinantes do fracasso escolar.Assim, a reverso desse quadro requer, da po-ltica educacional, resistncia aos interessesprivatizantes e compromisso com a construode uma escola pblica capaz de distribuir commais igualdade habilidades e conhecimentosque lhe cabe transmitir.

    Ao inserirem a produo do fracassoescolar no mbito de condies escolares ob-jetivas, fazem do contato direto do pesquisadorcom a vida escolar o que, normalmente,pressupe uma longa permanncia no campo e das relaes no objetificantes entre pesqui-sador e pesquisados os principais instrumentosde pesquisa.

    Tais princpios no impedem, entretan-to, uma compreenso parcial das teorias crticasda escola nas pesquisas que as tm como refe-rncia: ao mesmo tempo em que afirmam que,para pensar a escola e seus resultados, preci-so tom-la como instituio seletiva e exclu-dente, retomam o tecnicismo ao admitirem apossibilidade de pr sob controle o fracassoescolar por meio da adequada implementaode polticas educacionais progressistas, comespecial nfase na poltica de ciclos de aprendi-zagem. O insucesso de reformas e projetos nestadireo encontra explicao no conservadorismodos professores que, pela resistncia inovao,prejudicam a sua implementao. A sada apon-tada o investimento na formao intensiva dosprofessores, de modo a lev-los a conhecer emprofundidade as propostas governamentais e,assim, garantir a realizao do objetivo final dereformas e projetos oficiais: a reverso do fracas-so escolar.

    Essas pesquisas podem diferir tambmquanto definio dos responsveis pelareformulao da poltica educacional. H pes-quisadores que pressupem a construo cole-tiva dessa poltica, com a participao de edu-cadores e movimentos sociais, at o limite dopossvel nas condies histricas atuais; outrosentendem que, para garantir a formao inte-lectual das classes populares, essa poltica deveser elaborada por especialistas e informada porteorias de desenvolvimento, da aprendizagem edo ensino entre os autores citados, desta-cam-se Piaget e Vygotsky. Ao defenderem essaposio, as teses e dissertaes defendem adiviso entre planejadores e executores.

    d) O fracasso escolar como questo poltica:

    cultura escolar, cultura popular e relaes de

    poder

    Por fim, h uma vertente que enfatizaa dimenso poltica da escola. Assim como aspesquisas que se debruam sobre a lgicaexcludente da educao escolar, analisadas noitem anterior, aqui tambm se compreende a

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    escola como uma instituio social regida pelamesma lgica constitutiva da sociedade de clas-ses. O foco, entretanto, incide nas relaes depoder estabelecidas no interior da instituioescolar, mais especificamente na violncia pra-ticada pela escola ao estruturar-se com base nacultura dominante e no reconhecer e, por-tanto, desvalorizar a cultura popular.

    Ao considerarem os determinantes so-ciopolticos do ensino, partem da crtica s con-cepes tradicionais de fracasso escolar e tra-zem novos elementos que contribuem para asua superao. Fazem a crtica tese de que ascrianas das classes populares so carentes decultura ou possuem deficincias cognitivas eemocionais; relao pedaggica concebidacomo processo individual; s tentativas de su-perao do fracasso escolar por meio de medi-das tcnico-pedaggicas de incluso nos siste-mas escolar e social, todos eles centrados naidia de escola como entidade abstrata.

    Essas pesquisas criticam as relaescausais lineares entre problemas individuais eproblemas de aprendizagem para explicar asdificuldades de escolarizao dos alunos oriun-dos das classes populares, porque questionama polarizao entre indivduo e sociedade ecompreendem a constituio do sujeito nascondies concretas de existncia num deter-minado lugar da hierarquia social.

    Ao debruarem-se sobre a realidadesocial em que se d a escolarizao das crian-as pertencentes s classes subalternas, des-constroem os fenmenos nomeados pelos pro-fissionais da escola e pelos formuladores depolticas educacionais como no-aprendiza-do, problema emocional, indisciplina, ca-rncia cultural, etc. Essas categorias abstratasso ressignificadas e entendidas no mais comofenmeno individual, sintoma de conflitosintrapsquicos, ou como expresso reativa daresistncia a prticas escolares inadequadas,mas em sua positividade, como expresso doconflito de classes no interior da escola. Sobessa tica, a indisciplina escolar pode ser ten-tativa de participao dos alunos no mundo da

    escola, a partir de seus prprios referenciaisculturais.

    Tambm comum a esses trabalhos aconstruo de perguntas e procedimentos depesquisa para respond-las que querem implicarativamente os pesquisados, ou seja, transform-los de objetos de pesquisa em sujeitos sem osquais impossvel produzir conhecimento. H,portanto, uma ruptura epistemolgica: do co-nhecimento sobre a criana fracassada, o pro-fessor incompetente, as famlias desestru-turadas para o conhecimento que incorpora afala dos alunos, dos profissionais da escola, dasfamlias das classes populares, numa proposta deresgate da legitimidade de seus saberes, expe-rincias e percepes.

    Reflexes e concluses

    Um dos aspectos pregnantes da produ-o examinada a continuidade de pesquisasdo fracasso escolar que o concebem em chavepsicologizante. A permanncia desta verso,apesar de j superada pela crtica que desvelaas lacunas ou silncios de que ela feita, podenos revelar: a) a fora da reduo psicolgicana explicao do insucesso escolar que, aopassar por sucessivos renascimentos, mostrao poder de convencimento que tm as concep-es que no vo alm do senso comum; b) acompartimentalizao do campo terico, refor-ada pela crena de que as cincias humanasse caracterizam por diversidade terica benficaque deve ser preservada; c) a recusa da crticaterica, vista com maus olhos (porque entendi-da como implicncia ou confuso equivocadaou mal-intencionada entre cincia e poltica),ou simplesmente ignorada, porque relativizada.

    Como resultado, um campo de produ-o de conhecimento que no caminha pormeio da superao de concepes examinadasem suas razes epistemolgicas e tico-polti-cas, mas de acrscimos estanques, que nofazem o conhecimento avanar.

    Em outra vertente, que d continuida-de linha de pesquisa de base materialista

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    histrica do fracasso escolar iniciada nos anos1980, teses discutem o carter ideolgico deconcepes do fracasso escolar, que retiram aescola e as prticas que nela se do de seucontexto econmico e poltico, e pem emquesto o carter neutro ou desinteressado dacincia.

    A partir da reinterpretao da polticaeducacional no interior das relaes de podernuma sociedade de classes extremamente desi-gual, dimenses escolares ganham novos signi-ficados. Reformas e projetos recentes so en-tendidos no marco do barateamento da educa-o pblica no bojo do neoliberalismo e daglobalizao. Investigam-se as conseqnciaslesivas dessas polticas sobre as condies detrabalho dos educadores. Ouvem-se alunos quepassaram por classes de acelerao, professo-res imersos na poltica de incluso, famliascujos filhos esto em sries avanadas da escolabsica, sem terem sido alfabetizados.

    De outro lado, questionam-se crenasincrustadas no cotidiano escolar, como a de quea insero precoce no mercado de trabalho causa de fracasso escolar, e a alardeada demo-cratizao da escola pela simples passagemdos excludos do direito formao escolar categoria de includos nos prdios escolares.Discutem-se instrumentos de avaliao psicol-gica, categorias diagnsticas de dificuldades deaprendizagem em seus aspectos epistemol-gicos e tico-polticos, aprofunda-se a discus-so da relao da cultura escolar com a cultu-ra popular e da desvalorizao desta em proje-tos pedaggicos oficiais. Problematizam-se,enfim, as abstraes e inverses presentes napesquisa educacional. Como afirma Azanha:

    ao considerar que a relao pedaggica podeser orientada a partir de teorias que pretendemdescrever e explicar a natureza do conhecimen-to que o professor ensina, e a natureza daaprendizagem que o aluno desenvolve, essaidia ganha a fisionomia de um jogo abstratoentre parceiros abstratos: o preceptor e o disc-pulo. Na escola contempornea, seja ela pblica

    ou privada, o professor individual que ensina eo aluno individual que aprende so fices; se-res to imaginrios quanto aqueles a que sereferem expresses como homo economicus,aluno mdio, sujeito epistmico e outrassemelhantes. (2000, p. 9)

    Alm da coexistncia de concepes in-conciliveis que caminham em paralelo, verificam-se tentativas de conciliao nem sempre bem-sucedidas. Na base desse insucesso, est a defi-cincia de formao terica revelada por pesqui-sadores da educao escolar. assim que relatosde pesquisa podem comear com o resumo depublicaes que falam do lugar da escola numasociedade de classes e de sua expresso nas pr-ticas pedaggicas, para imediatamente propor aavaliao de habilidades mentais dos que noconseguem se escolarizar, com o objetivo deexplicar essa situao. Em tais casos, estamosdiante da continuao do discurso fraturado.

    A precariedade da aprendizagem teri-ca pode ter outras manifestaes. No corpusexaminado a simplificao terica recorrente;a psicanlise e a epistemologia gentica, porexemplo, comparecem, como regra, em suasverses vulgares ou seja, simplificadas,destitudas de complexidade, trivializadas. Essainsuficincia pode tambm assumir a forma dedesconhecimento dos nexos teoria-mtodo. transcrio de passagem de texto que concebea escola como instituio social atravessada deinteresses de classes em conflito, pode sucedero relato de uma pesquisa em moldes experimen-tais, com o objetivo de verificar a relao dofracasso escolar definido como varivel inde-pendente com o nvel de desenvolvimentocognitivo, tomado como varivel dependente.

    De modo semelhante, a prpria con-cepo de Escola como instituio social com-plexa numa sociedade de classes pode rapida-mente reduzir-se a uma pesquisa centrada noprofessor no como trabalhador da educao,mas como profissional carente de conhecimen-tos tcnicos que poderiam redimir a escola dasdificuldades que enfrenta.

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    A superficialidade do conhecimento deteoria e mtodos manifesta-se tambm na con-fuso deste ltimo com simples tcnicas decoleta de dados. assim que a observao; aentrevista; a etnografia; a aplicao de instru-mentos de avaliao psquica aparecem muitasvezes nomeados como mtodo. assim quepesquisa qualitativa passa a designar qualquerprocedimento que no resulte em quantificaoou tratamento estatstico de dados, sem aten-o necessidade de rigor no ato de pesquisar.

    A repetio de objetos e de procedi-mentos de pesquisa, que chegam a conclusesj conhecidas; a disperso temtica que revelaescolhas que desconsideram as questes maisprementes da problemtica educacional e porisso resultam em pesquisas pouco relevantes; afalta de dilogo com pesquisas j realizadassobre aspectos do mesmo objeto tambm estopresentes no conjunto de relatos analisados.Para no falar da presena, entre as teses ana-lisadas, de uma pesquisa que, de fato, no o :no h pergunta, no h pesquisa, no h le-vantamento bibliogrfico, no h trabalhoterico-conceitual; h apenas uma tese inicialque repetida com palavras diferentes no de-correr do texto.

    A ausncia de pesquisas baseadas emtratamento estatstico de dados entre as tesesanalisadas pode ter significado negativo e po-sitivo no interior dos trabalhos. Negativo por-que pode revelar compreenso equivocada domtodo utilizado por exemplo, criam-se gru-pos experimental e de controle, controlam-sevariveis, pergunta-se pela correlao entreelas, mas no h procedimentos estatsticos de

    anlise dos dados obtidos, o que revela enten-dimento equivocado tanto do modelo experi-mental quanto da pesquisa qualitativa.

    Positivo porque so cada vez mais fre-qentes pesquisas a respeito do fenmeno dofracasso escolar que, de fato qualitativas,centram-se no estudo de poucos casos, e tmcomo material de campo entrevistas com osvrios participantes da vida escolar, nas quaiseles deixam de ser objetos e passam a sujeitosque participam ativamente da produo doconhecimento que resulta da pesquisa. Sopesquisas, em sua maioria, que se incluem nasegunda tendncia referida anteriormente, emque os pesquisadores ultrapassam a tradio dafala sobre os sujeitos da pesquisa do fracassoescolar para incluir a fala dos participantes davida escolar, analisadas por meio de procedimen-tos no-quantitativos de anlise de discurso.

    Tudo isso fala das grandezas e misriasdos currculos de graduao e de ps-graduao.Tudo isso traz a necessidade de reflexo sobre asprticas de insero dos ps-graduandos nas li-nhas de pesquisa dos programas de ps-gradua-o e o lugar dos orientadores na definio dosobjetos de estudo de teses de mestrado e douto-rado, de modo que contemplem questes relevan-tes levantadas, mas no respondidas, por pesqui-sas anteriores. S assim, o campo da pesquisaeducacional poder ser mais do que um conjun-to de pesquisas que no somam, ou somampouco e, por isso, acabam trazendo contribuiolimitada ao avano do entendimento de questescandentes postas pela realidade escolar brasilei-ra, de modo a colaborar, de fato, com a constru-o histrica da escola pblica democrtica.

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    ANEXO

    Quadro detalhado das categorias e subcategorias temticas levantadas

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    Referncias bibliogrficas

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  • 69Educao e Pesquisa, So Paulo, v.30, n.1, p. 51-72, jan./abr. 2004

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    Recebido em 26.03.04Aprovado em 27.04.04

    Carla Biancha Angelucci psicloga, doutoranda em Psicologia Social e mestre em Psicologia Escolar pelo Ipusp, docenteem cursos de graduao e ps-graduao lato sensu. [email protected]

    Jaqueline Kalmus psicloga, mestre em Psicologia Escolar pelo Ipusp, docente em cursos de graduao e ps-graduao lato sensu. [email protected]

    Renata Paparelli psicloga, doutoranda e mestre em Psicologia Escolar pelo Ipusp, especialista em Sade do Trabalhadorpelo Cerest/SP, docente em cursos de graduao da PUC/SP. [email protected]

    Maria Helena Souza Patto psicloga e professora titular do IPUSP.