situação epidemiológica da síndrome respiratória aguda grave … · 2019-04-04 · boletim...

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SALA DE RESPOSTA RÁPIDA PARA O SURTO DE Situação Epidemiológica da Síndrome Respiratória Aguda Grave no Estado do Amazonas FUNDAÇÃO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO AMAZONAS A influenza é uma infecção viral aguda que afeta o sistema respiratório. É de elevada transmissibilidade e distribuição global, com tendência a se disseminar facilmente em epidemias sazonais e também podendo causar pandemias. A transmissão ocorre por meio de secreções das vias respiratórias da pessoa contaminada ao falar, tossir, espirrar ou pelas mãos, que após contato com superfícies recém-contaminadas por secreções expiratórias pode levar o agente infeccioso direto a boca, olhos e nariz. De acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS, estima-se que a influenza acomete 5 a 10% dos adultos e 20 a 30% das crianças, causando 3 a 5 milhões de casos graves e 250.000 a 500.000 mortes todos os anos. No Brasil, o padrão de sazonalidade varia entre as diversas regiões, circulando primeiro nas regiões sul e sudeste, no segundo semestre do ano, o que corresponde ao inverno. Na região norte e nordeste, o padrão da sazonalidade ocorre no primeiro semestre do ano subsequente, no período chuvoso, correspondendo, na região Amazônica ao período de Dezembro a Maio. (Figueroa e Nobre, 1990). INTRODUÇÃO A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas FVS - AM, responsável pelo monitoramento viral dos casos internados, começou a registrar, a partir da SE 04, um expressivo incremento no número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com sobrecarga da rede de atendimento de urgência e emergência pública e privada de Manaus, que superou a capacidade de resposta destas unidades (Fig. 1). SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE (SRAG) ANO 7 | Nº 05 27 de Março de 2019 SE 01 a 13 Fig. 1 – Diagrama de controle de casos de SRAG do Amazonas dos anos de 2013 a 2018, Amazonas, 2019 Nº de casos 4 5 5 11 22 25 79 158 178 172 143 58 3 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Semana epidemiológica de ínicio de sintomas N = 863 SRAG 2019 Limite superior

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Page 1: Situação Epidemiológica da Síndrome Respiratória Aguda Grave … · 2019-04-04 · BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO SRAG Dos pacientes internados com SRAG, 87,6% (525/599) apresentaram

SA

LA

DE

RE

SP

OS

TA

PID

A P

AR

A O

SU

RT

O D

ESituação Epidemiológica da Síndrome Respiratória

Aguda Grave no Estado do Amazonas

FUNDAÇÃO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO AMAZONAS

A influenza é uma infecção viral aguda que afeta o sistema respiratório. É de elevada transmissibilidade e distribuição global, com tendência a se disseminar facilmente em epidemias sazonais e também podendo causar pandemias. A transmissão ocorre por meio de secreções das vias respiratórias da pessoa contaminada ao falar, tossir, espirrar ou pelas mãos, que após contato com superfícies recém-contaminadas por secreções expiratórias pode levar o agente infeccioso direto a boca, olhos e nariz.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS, estima-se que a influenza acomete 5 a 10% dos adultos e 20 a 30% das crianças, causando 3 a 5 milhões de casos graves e 250.000 a 500.000 mortes todos os anos.

No Brasil, o padrão de sazonalidade varia entre as diversas regiões, circulando primeiro nas regiões sul e sudeste, no segundo semestre do ano, o que corresponde ao inverno. Na região norte e nordeste, o padrão da sazonalidade ocorre no primeiro semestre do ano subsequente, no período chuvoso, correspondendo, na região Amazônica ao período de Dezembro a Maio. (Figueroa e Nobre, 1990).

INTRODUÇÃO

A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas FVS - AM, responsável pelo monitoramento viral dos casos internados, começou a registrar, a partir da SE 04, um expressivo incremento no número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com sobrecarga da rede de atendimento de urgência e emergência pública e privada de Manaus, que superou a capacidade de resposta destas unidades (Fig. 1).

SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE (SRAG)

ANO 7 | Nº 05 27 de Março de 2019 SE 01 a 13

Fig. 1 – Diagrama de controle de casos de SRAG do Amazonas dos anos de 2013 a 2018, Amazonas, 2019

de c

aso

s

4 5 511

22 25

79

158

178172

143

58

3

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Semana epidemiológica de ínicio de sintomas

N = 863

SRAG 2019 Limite superior

Page 2: Situação Epidemiológica da Síndrome Respiratória Aguda Grave … · 2019-04-04 · BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO SRAG Dos pacientes internados com SRAG, 87,6% (525/599) apresentaram

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO SRAG

02

Em relação ao monitoramento dos casos de SRAG em 2019, entre as SE foram notificados 863 casos. Destes 31,8% (275/863) tiveram resultado positivo para vírus respiratórios, das quais destaca-se, 59% (163/275) por Vírus Sincicial Respiratório (VSR), 43% (119/275) por Influenza A (H1N1) pdm2009 e 4,7% (13/275) por outros vírus. Destacamos ainda o acréscimo de 69,7% (163/96) de VSR quando comparamos as semanas epidemiológica 12 e 13. Dos 863 casos de SRAG notificados no Amazonas, 112 foram registrado em 27 municípios do interior, sendo que 19 casos foram confirmados como Influenza A H1N1, e 19 por VRS (Fig 2 e Tab 1).

Considerando a distribuição dos casos de SRAG por faixa etária, destaca-se a ocorrência de casos de VRS em crianças menores de 1 (um) ano, e o registro de casos de Influenza A H1N1 em todas as faixas.

Fonte: Sivep Gripe. Dados atualizados em 27/03/2019, sujeitos a alteração.

Fig. 2- Distribuição das no�ficações de SRAG por município da SE 1 até SE 13, Amazonas, 2019

Fig.3- Distribuição dos casos confirmados de Síndrome Respiratória Aguda Grave por faixa etária. Amazonas, 2019 até a SE 13

0

20

40

60

80

100

120

< 1a 1 a 9a 10 a 19a 20 a 29a 30 a 39a 40 a 49a 50 a 59a = 60a

H1N1 VRS Outros Vírus

-

de c

aso

s

Page 3: Situação Epidemiológica da Síndrome Respiratória Aguda Grave … · 2019-04-04 · BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO SRAG Dos pacientes internados com SRAG, 87,6% (525/599) apresentaram

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO SRAG

Dos pacientes internados com SRAG, 87,6% (525/599) apresentaram comprometimento respiratorio evidenciado pelo exame de Rx. Destes, 87% (718/822 fizeram uso do antiviral (TAMIFLU) em algum momento da internação. No entanto apenas 31,5% dos pacientes fizeram uso de Tamilfu nas primeiras 48 horas de início de sintomas conforme o protocolo do Ministerio da Saúde.

Fonte: Sivep Gripe. Dados atualizados em 27/03/2019, sujeitos a alteração.

Fonte: Sivep Gripe. Dados atualizados em 27/03/2019, sujeitos a alteração.

Fig. 4 -Variação entre data de Início de Sintomas e Início do An�viral - 2019

03

MONITORAMENTO DE CASOS DE SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE (SRAG) CONFIRMADOS POR LABORATÓRIO NO AMAZONAS

MUNICÍPIO DE RESIDÊNCIA

NOTIFICADOS

CONFIRMADOS

Não especificado Influenza A

(H1N1)

Sincicial Respiratório

(VRS)

Outros vírus

respiratórios

Anamã 1 0 0 0 1

Beruri 2 0 0 0 2

Borba

1 1 0 0 0

Caapiranga 7 0 3 0 0

Careiro

3 0 1 0 1

Careiro da Várzea

1 0 0 0 0

Coari

2 0 0 0 0 Canutama

1 1 0 0 0

Itacoatiara

2 1 1 0 0

Manacapuru

1 0 1 0 0

Manaus

28 2 5 0 10

Maués

23 1 0 0 3

Novo Airão

1 0 0 0 0

Novo Aripuanã

1 1 0 0 0

Parintins

12 4 4 0 2

Presidente Figueiredo

751 100 144 11 213

Japurá

4 3 0 0 0

Eirunepé

3 0 1 0 2

Iranduba

1 1 0 0 0

3 1 1 0 0

2

0

0

0

1

AMAZONAS 863 119 163 13 236

Tab. 1 – Monitoramento de casos confirmados de SRAG segundo município de residência, da SE 1 até SE 13, Amazonas, 2019

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

0

20

40

60

80

100

120

140

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Frequência Porcentagem Acum.

de

ca

so

s

Rio Preto da Eva 4 0 2 0 0

São Gabriel da Cachoeira 2 0 0 1 0

Tabatinga 2 0 0 0

Tefé 1 0 0 0 1

Uarini 1 1 0 0 0

Urucará 1 1 0 0 0

Urucurituba

2

1

0

0

0

Itapiranga

Autazes

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Óbitos por SRAG (N = 46)

n

%

Com fatores de risco

40

87,0

13

32,5

Cardiopata

12

30,0

Criança < 5 anos

7

17,5

Diabetes 6 15,0

5 12,5Doença neurológica

3 7,5

Gestante

3 7,5

Hipertensão

3 7,5

7,5

Imunodeprimido

3

5,02 5,0

Neoplasias

2

2,5

Obesidade

1

2,5

Pneumopatias

1

Usuário de drogas

Uso antiviral 29 63,0

Doença hematológica

Adultos ≥ 60 anos

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO SRAG

Foram registrados 46 óbitos por SRAG, até a semana epidemiológica 13, destes 67% (31/46) com diagnóstico de Influenza A H1N1, 28% (13/46) por VRS, 2% (1/46) por Parainfluenza 3 e 2% (1/46) por Metapneumovírus.

Fonte: Sivep Gripe. Dados atualizados em 27/03/2019, sujeitos a alteração.

Fonte: Sivep Gripe. Dados atualizados em 27/03/2019, sujeitos a alteração.

Fig. 5 -Casos de SRAG que evoluíram para óbito por faixa etária - SE 01 a 13.

04

SRAG QUE EVOLUÍRAM PARA ÓBITOS

MUNICÍPIOS

ÓBITOS POR SRAG (N = 46)

Influenza A (H1N1)

Sincicial Respiratório (VRS)

Parainfluenza tipo 3

Borba

0

1

0

Itacoatiara 1

0

0 Japurá

1

0

0

Manacapuru 3

1

0

Manaus 24 11 1

Dos casos de SRAG que evoluíram para óbito por Influenza A H1N1, observa-se a ocorrência em todas as faixas etárias com a predominância na população de adultos jovens (20 - 49 anos) e acima de 50 anos. Dos 13 óbitos registrados por VRS, oito ocorreram em menores de quatro anos, o que representa 61% do total. Sendo que quatro ocorreram em menores de um ano, com destaque para os menores de 30 dias, público este que chama atenção devido ao risco de agravamento, o que requer maior atenção e cuidado com o manejo desses pacientes.

Dos óbitos por SRAG causado por vírus respiratórios, 87% (40/46), dos pacientes apresentavam fatores de risco associados ou comorbidades e, destes, somente 63% (29/46) fizeram uso de antiviral.

> 1 mês e <1a

1 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 34 35 a 49 50 a 64 65 +

7

8

01

2

3

4

5

6

Fonte: Sivep Gripe. Dados atualizados em 27/03/2019, sujeitos a alteração.

Tab. 1 – Monitoramento dos óbitos confirmados de SRAG segundo município de residência, da SE 1 até SE 13, Amazonas, 2019

Parintins

1

0

0

Urucurituba 1 0 0

AMAZONAS 31 13 1

Metapneumovírus

0 0 0 1

0

0

0

1

Tab. 1 – Monitoramento dos óbitos confirmados de SRAG por comorbidades/fator de risco, da SE 1 até SE 13, Amazonas, 2019

9

H1N1 VRS Parainflu 3 Metapneumovírus

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BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO SRAG

05

AÇÕES DESENVOLVIDAS

Abastecimento da Rede de Assistência pública e privada da Capital e Interior com Tamiflu;Ÿ

Elaboração de 3 Notas Técnicas de alerta sobre o período sazonal, circulação da Influenza A H1N1, VRS, fluxos e uso de Ÿ

Tamiflu para as redes públicas e privadas da Capital e Interior

Elaboração do Protocolo de SRAG pela Comissão Estadual de Controle de Infecções em Serviços de Saúde Ÿ

(CECISS/FVS-AM), com medidas não farmacológicas de prevenção;

Treinamento local com profissionais do HPS 28 de Agosto, PSC da Zona SUL e HPS Dr. Platão Araújo;Ÿ

Reunião de alerta, capacitação, orientações e apresentação das NT orientativas para a Gerências da Rede de Urgência e Ÿ

Emergência Cegonha da SUSAM, SEMSA Manaus, Comissões de Controle de Infecção Hospitalar e Núcleos de Vigilância

Hospitalar, das unidades de urgência e emergência, diretores das cooperativas médicas, de enfermagem e hospitais

privados e militares de Manaus;

Monitoramento sistemático da circulação de todos os vírus respiratórios que estão circulando e pronto diagnóstico Ÿ

laboratorial dos casos e óbitos pelo LACEN/FVS-AM;

Reunião de apresentação da situação ao governador e aos secretários de saúde e comunicação; Ÿ

Visitas para apoio técnico, capacitação e organização de fluxos em Manacapuru, Itacoatiara e Parintins, municípios que Ÿ

registraram óbitos;

Videoconferências com as Secretarias de Vigilância em Saúde (SVS/MS) e de Atenção à Saúde (SAS/MS), para discutir Ÿ

com o Ministério da Saúde as necessidades e solicitar apoio técnico e financeiro, aporte de antivirais e antecipação da

campanha de vacinação contra influenza, prevista para abril, para a última quinzena de março;

Instituição da Comissão Interinstitucional de Enfrentamento ao H1N1 (Decreto 40.322, de 25/02/2019);Ÿ

Visita técnica do Ministério da Saúde e apoio da equipe do EPISUS;Ÿ

Reunião do governador, juntamente com a bancada do Amazonas, com o Ministro da Saúde e secretários, para solicitar Ÿ

apoio e antecipação da vacina;

Declaração de Emergência em Saúde Pública (Decreto 344, de 27/02/2019;Ÿ

Entrevista coletiva para nivelamento de informações e divulgação dos do surto e medidas de prevenção, com os Ÿ

secretários de saúde do Estado e Município de Manaus, FVS-AM e FMT. Definição porta-vozes e periodicidade de boletins;

Emissão de boletins epidemiológicos às segundas, quartas e sextas-feiras;Ÿ

Reunião com Secretário de Educação, que já está realizando distribuição de material educativo, orientação aos pais de Ÿ

alunos e mobilização social na sua rede de ensino;

Videoconferência com os diretores, coordenadores e professores das redes estadual e municipal de educação dos Ÿ

municípios do interior, para orientar medidas de educação em saúde e mobilização social;

Produção e veiculação de campanha publicitária, em parceria com a Prefeitura de Manaus, em mídia impressa, televisiva, Ÿ

internet, folders, cartilhas, banners, cartazes, para orientar a população sobre as medidas de prevenção e proteção

individual;

Emissão de Nota Técnica conjunta com a SUSAM sobre procedimentos de manejo adequado dos pacientes;Ÿ

Apresentação da situação à Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Estado;Ÿ

Videoconferência com os diretores de hospitais, coordenadores de vigilância, de imunização e de atenção básica, Ÿ

médicos, enfermeiros, farmacêuticos, técnicos de enfermagem e de patologia, etc., dos municípios do interior, para

orientar medidas de prevenção e de manejo clínico;

Orientações, por parte das Vigilâncias Sanitárias Estadual e do município de Manaus, em locais de aglomeração de Ÿ

pessoas como shoppings, supermercados, transportes públicos, bancos, etc;

Disponibilização de três técnicos da FVS-AM para reforçar as ações de vigilância epidemiológica hospitalar em unidades Ÿ

de urgência e emergência da SUSAM;

Planejamento da Campanha de Vacinação contra Influenza e distribuição de seringas aos municípios;Ÿ

Antecipação da campanha de vacinação contra a Influenza em todos os municípios do Amazonas;Ÿ

Investigação dos casos de SRAG que evoluíram para óbitos na capital e interior do Estado.Ÿ