simbolismo junguiano e os quatro elementos da astrologia

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CURSO DE ARTETERAPIA Início: maio/2004 Facilitadora/Professora: Regina Milone SIMBOLISMO JUNGUIANO E OS QUATRO ELEMENTOS DA ASTROLOGIA (retirado do livro “Os Quatro Elementos e os Caminhos da Energia”, de Karen Hamaker-Zondag – Editora Nova Fronteira) A tipologia de Jung trata, em parte, do que os indivíduos captam e não do comportamento deles. Cognição é a percepção que se tem do objeto. Portanto, esta tipologia, por um lado, é cognitiva, pois trata, entre outras coisas, da possibilidade de captar um conhecimento. Para Jung, existem duas direções fundamentais da atenção: 1 – Quando a atenção do indivíduo se prende sempre ao ato , ele é um introvertido . 2 – Quando a atenção do indivíduo sempre se fixa no objeto , ele é um extrovertido . Essas denominações não têm nenhuma relação com ser ou não expansivo. O indivíduo pode, por exemplo, ser introvertido e expansivo ao mesmo tempo. A capacidade de ser compreensivo, de realmente entender o que o outro está sentindo, tem mais relação com o tipo introvertido, pois o extrovertido precisaria da manifestação explícita daquele sentimento para perceber. A seguir, Jung observou que havia outra forma de captar os dados, além dessa inicial. Viu que alguns poderiam captar

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Page 1: Simbolismo Junguiano e Os Quatro Elementos Da Astrologia

CURSO DE ARTETERAPIA

Início: maio/2004Facilitadora/Professora: Regina Milone

SIMBOLISMO JUNGUIANO E OS QUATRO ELEMENTOS DA ASTROLOGIA

(retirado do livro “Os Quatro Elementos e os Caminhos da Energia”, de Karen Hamaker-Zondag – Editora Nova Fronteira)

A tipologia de Jung trata, em parte, do que os indivíduos captam e não do comportamento deles. Cognição é a percepção que se tem do objeto. Portanto, esta tipologia, por um lado, é cognitiva, pois trata, entre outras coisas, da possibilidade de captar um conhecimento.

Para Jung, existem duas direções fundamentais da atenção:1 – Quando a atenção do indivíduo se prende sempre ao ato, ele é um introvertido.2 – Quando a atenção do indivíduo sempre se fixa no objeto, ele é um extrovertido.

Essas denominações não têm nenhuma relação com ser ou não expansivo. O indivíduo pode, por exemplo, ser introvertido e expansivo ao mesmo tempo.

A capacidade de ser compreensivo, de realmente entender o que o outro está sentindo, tem mais relação com o tipo introvertido, pois o extrovertido precisaria da manifestação explícita daquele sentimento para perceber.

A seguir, Jung observou que havia outra forma de captar os dados, além dessa inicial. Viu que alguns poderiam captar os elos lógicos, outros os valores, outros as qualidades e outros as possibilidades futuras (tendências). Classificou, então, em quatro funções ou faculdades cognitivas, que representam quatro diferentes processos elementares de consciência ou quatro formas básicas de compreender o mundo e se adaptar à realidade. Essas funções mostram uma semelhança notável com os quatro elementos da tradição astrológica, a saber:Sensação: é a percepção das alterações de energia, interna ou externa: cor, temperatura, etc. É perceber um objeto como tal e ver como se

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apresenta, por exemplo: duro, áspero, quente, etc. Isto corresponde ao elemento terra.

Pensamento: é o trânsito de uma idéia à outra pelos elos lógicos ou analógicos. É perguntar o que é realmente o objeto percebido e como ele pode ser incorporado ao esquema de referência existente. Isto corresponde ao elemento ar.

Sentimento: é valoração, positiva ou negativa. É o valor que você realmente dá à uma coisa e que pode não ter nada a ver com o valor que a sua lógica atribui às coisas. É experimentar o que o objeto percebido desperta em forma de desejo ou aversão e, conseqüentemente, aceitá-lo ou não. Por exemplo, “o que estou vendo é agradável, é satisfatório ou não?”. Isto corresponde ao elemento água.

Intuição: É uma faculdade misteriosa que opera através do inconsciente e capta uma possibilidade. Não tem lógica; simplesmente capta o que está na sua frente. É saber ou deduzir inconscientemente de onde vem o objeto percebido ou como ele evoluirá mais adiante. Com freqüência o objeto não é percebido conscientemente, ocorrendo uma espécie de “captação” do fundo. Esta função corresponde ao elemento fogo.

Para Jung, o indivíduo percebe, em primeiro lugar, através daquela qualidade, entre essas quatro, que lhe é peculiar. Algumas pessoas podem ter uma orientação consciente ou um elemento superior constituído de uma combinação de dois elementos ou duas funções psicológicas e um deles sempre predominará. Estas descrições de tipos são de grande importância, já que ilustram a maneira como uma pessoa se relaciona com o mundo ao seu redor, como o vivencia, encara ou julga.

As outras três faculdades que não são a típica do indivíduo ficam atrofiadas e são chamadas funções arcaicas. A função arcaica é aquela que o engana, pois não é a sua básica. Mas, mesmo assim, o indivíduo pode reconquistá-las, usando-as como intermediárias. Segundo Jung, a pessoa fixar-se somente na sua função básica, sem procurar desenvolver as outras, é o que leva à patologia.

Cruzando essas quatro funções com as duas direções fundamentais da atenção, já mencionadas aqui, encontramos oito tipos psicológicos básicos no ser humano. São eles: Sensitivo Introvertido, Sensitivo Extrovertido, Pensativo introvertido, Pensativo Extrovertido, Sentimental Introvertido, Sentimental Extrovertido, Intuitivo Introvertido e Intuitivo Extrovertido.

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EXTROVERSÃO

Pensamento Intuição

Sensação Sentimento

INTROVERSÃO

Mas não nos interessa aqui definir detalhadamente esses oito tipos e sim relacionarmos as quatro funções cognitivas com os quatro elementos da Astrologia.

Independente de qual função ou elemento se manifeste como o mais importante, há sempre um conteúdo principal que permanece ligado ao inconsciente da pessoa em questão e que traz resultados específicos para a estrutura do caráter. Voltaremos a esse assunto mais adiante.

Primeiro precisamos entender outra divisão, feita por Jung, em que separou as quatro funções em dois pares. São eles:

Funções racionais: Sentimento e Pensamento

Estes fazem um julgamento sobre uma situação. Tem por resultado um juízo que expressa uma convicção. Juízo de valor – Sentimento: “isso é bom ou é ruim” – ou de realidade – Pensamento. O “julgamento” ou função racional se ocupa mais em avaliar um objeto ou situação, com base no significado (pensamento) ou valor (sentimento), do que com o próprio objeto ou situação em si.

Funções perceptivas ou irracionais: Sensação e Intuição

A palavra irracional aqui é apenas descritiva; não tem nenhum outro valor. A expressão dessas funções é bem diferente das outras duas. Estas percebem a situação. Restringem-se muito mais ao objeto em si. A sensação percebe a maneira como algo se apresenta: sua forma. E a intuição interior percebe de onde vem o objeto e como pode se desdobrar. Em outras palavras, a intuição vê a relação entre as coisas num contexto independente de tempo, mais do que as próprias coisas. Portanto, percebe a mudança de forma.

Então, os elementos e funções dividem-se em pares:

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- Pensamento (Ar) e Sentimento (Água): elementos ou funções de julgamento/racionais.- Sensação (Terra) e Intuição (Fogo): elementos ou funções perceptivo/irracionais.

Dentro da divisão de pares, podemos apresentar outra divisão importante. As funções que pertencem a um grupo são sempre opostas entre si, no que se refere à visão específica e essencial dos acontecimentos ligados à estas funções. O tipo sensação está sempre atarefado, verificando tudo o que há de concreto no momento e, por isso, ignora qualquer transformação que possa ocorrer. Se fosse o contrário, este tipo teria sua atenção desviada pela relação com outras situações e objetos, possíveis, mas inatingíveis. O tipo intuitivo faz exatamente o oposto. Os dois tipos são perceptivos, mas seus enfoques são tão contraditórios que podemos falar de opostos polares.

Temos duas polaridades importantes na divisão das funções da consciência. O sentimento e o pensamento (água e ar) colocam-se de modo tão diametralmente oposto quanto a sensação e a intuição (terra e fogo). Em termos astrológicos isto significa que os elementos ar e água mostram grande tensão um para o outro por serem opostos psicológicos, da mesma maneira que a terra e o fogo. Quando dois elementos importantes, pertencentes a um desses pares dualísticos, tornam-se predominantes num certo horóscopo, ocorre uma tensão primária. Já que os elementos são opostos e incompatíveis, só uma função pode desenvolver-se na consciência, enquanto a outra ficará associada ao inconsciente. A harmonia interna é maior, ou pelo menos há menos tensão, entre os elementos presentes nos horóscopos, quando os dois elementos não são opostos entre si.

Concluindo: quando dividimos os elementos num horóscopo e determinamos o elemento mais importante, podemos ver logo se há tensões caracterológicas provenientes dos principais elementos em oposição ou se estes elementos estão em harmonia. A determinação elementar da tensão é muito importante para a estrutura na qual posteriormente analisaremos os aspectos.

Dois elementos contrastantes estão sempre em oposição; de certa maneira, entretanto, quando estão unidos a um terceiro elemento, podem combinar com ele. Por exemplo, a água opõe-se ao ar, mas pode combinar melhor com a terra ou o fogo.

JULGAMENTO PERCEPÇÃO Água Ar Terra FogoSentimento Pensamento Sensação Intuição

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Naturalmente, quando a água tem que escolher entre a terra e o fogo, escolherá a terra porque esta, como a água, é mais introvertida, enquanto o fogo é mais exuberante. Contudo, o fogo nunca experimentará com a água a mesma tensão que o ar experimenta, porque o fogo realmente entende a água melhor do que o ar (o oposto da água). O fogo pode juntar-se ao mundo da água, que é um mundo de sonhos, de fantasias e possibilidades, de pouco lógica e teoria, sem violar sua própria natureza. Por outro lado, o ar, que é oposto à água, não entende muito esta atitude porque, para o ar, a lógica e a teoria desempenham o papel principal.

Quando uma função é consciente, a função contrária é sempre inconsciente. Os planetas no elemento inconsciente reagirão sempre a partir da porção inconsciente da psique. Os outros dois elementos podem auxiliar a função consciente, mas precisam desenvolver-se, já que pertencem em parte ao consciente e em parte ao inconsciente.

Por exemplo:

FUNÇÃO SUPERIOR

Ar

Terra Fogo

Água

FUNÇÃO INFERIOR

No exemplo apresentado neste gráfico, as funções auxiliares são o fogo e a terra.

Em psicologia junguiana, a função mais importante para nossa visão do mundo, em contínuo desenvolvimento, é a chamada função superior. Em astrologia, a função superior é análoga a esta.

Em outras palavras, a função superior se distingue cada vez mais das outras funções porque podemos funcionar com ela com maior facilidade e clareza. O elemento funciona com tanta naturalidade que nem tomamos consciência de que estamos agindo de acordo com este

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elemento. Um tipo ar, por exemplo, automaticamente abordará tudo pelo pensamento.

Em contraste com a função superior desenvolvida, há outra função ou elemento ligado à área inconsciente da psique e, por isso, fora do domínio da vontade e da mente consciente. Chamamos esta função de inferior; na astrologia é representada por elemento oposto, em direção, ao elemento superior. Se o fogo for o elemento superior, então a terra será o inferior. Se o ar for o elemento superior, como no exemplo acima (no gráfico), então a água será o inferior. E por aí vai.

Portanto, os planetas localizados nos signos do elemento inferior funcionam a partir do inconsciente e, por isso, a pessoa terá grande dificuldade em tomar consciência de certos traços, muitas vezes negativos, em si mesma, tais como: demonstração de poder, competitividade exagerada, exibições intelectuais, etc.

Acima de tudo, é característico dos conteúdos inconscientes irromperem na consciência nos momentos mais inconvenientes e causarem distúrbios. O tipo terra-água, calmo e sensível, pode demonstrar, de repente, um espírito duro, lutador e sustentar com firmeza suas posições, para espanto dos que não conhecem seu íntimo.

Neste contexto, também é importante saber que a psique sempre luta pelo equilíbrio e que o inconsciente exerce uma função compensatória com respeito à mente consciente. Na prática, quanto mais forte for a consciência e a auto-estima da pessoa, mais o inconsciente reagirá para contrabalançar estas funções. O grau em que estes contra-ataques atuam como bloqueio dependerá da prontidão com que a mente consciente assimile ou integre tais impulsos. Quando, num horóscopo, temos dois elementos opostos muito presentes, enquanto um deles se transforma num elemento superior, e o outro, em inferior, as compensações serão intensas e manterão o lado consciente sob pressão. Por exemplo, uma pessoa tendo uma forte polaridade ar-água e o ar como elemento superior, percebe o mundo através de uma estrutura racional. Devido a seu forte elemento água, também se deixa fascinar pelo que é ilógico, emocional e sentimental. Algumas formas do elemento água manifestar-se nessa pessoa são, por exemplo, as crises emocionais, o sentimento de que algo está faltando no meio de toda a sua racionalidade, e apaixonar-se. Isto ameaça a base da estrutura com que a pessoa se identifica (neste caso, o elemento ar) e deixa um sentimento de dúvida e incerteza. Então, a influência que ocorre dentro do elemento água forma uma oposição poderosa à consciência. Quando esta polaridade torna-se muito forte, podem aparecer ações compulsivas devidas ao elemento inferior (a água, neste exemplo) e que escapam inteiramente à consciência da pessoa.

A mente consciente, controlada pela vontade, não necessita ser compulsiva; mas quando nos defrontamos com o inconsciente incompreensível e incontrolável, sentimos de fato esta necessidade.

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Ainda no exemplo ar-água, freqüentemente vemos a pessoa tentando reforçar sua estrutura consciente. Ela começa a indagar por que certas coisas acontecem, procurando enclausurar o mundo dentro de padrões de pensamento cada vez mais rígidos e, com esse fim, adota uma atitude inflexível. Este controle crescente da consciência desperta reações inconscientes ainda mais fortes. A mente consciente é esmagada, à força, por sentimentos incompreensíveis, até que uma crise emocional ajude a estabelecer um estado de equilíbrio entre o inconsciente e o consciente. Este equilíbrio, às vezes, não acontece até que se experimente e se reconheça a total inadequação desta estrutura em todas as suas facetas. As pessoas que apresentam esta divisão de funções não governam realmente suas vidas com a mente consciente, mas vivem através de suas funções inferiores. Daí as seguintes observações de C. A. Méier:

“... a função que é inferior por definição é com freqüência mais aparente do que a função diferenciada. Especialmente num tipo pensamento, uma vida emocional incerta e precária pode nos chocar mais do que seu pensamento, que está além de qualquer crítica”.

Em um segundo exemplo, quando o elemento fogo está intensamente preenchido (contendo o sol e a lua, por exemplo), mas o elemento terra também influencia conteúdos pessoais (por exemplo, Mercúrio e o Ascendente em terra), também ocorre uma forte polaridade. Em muitos casos, o elemento fogo sente-se transtornado com assuntos materiais, enquanto o elemento terra, orientado para a vida concreta, não vê neles nada de preocupante. Quando o fogo é o elemento superior, o elemento terra orienta-se para a segurança e pode liberar poderosas compensações do inconsciente – especialmente quando o fogo tem necessidade de liberdade ou de aventuras.

Além disso, a polaridade entre a função superior e a inferior proporciona maior profundidade ao desenvolvimento dos impulsos de uma pessoa. Podemos discernir agora o quanto uma pessoa realmente deseja certas coisas e em quais pontos ela é tão suscetível que perderá o controle ao menor pretexto. O que Toni Wolff diz é verdade:

“... o problema da oposição dos tipos é com freqüência a causa real, embora inconsciente, da neurose e esta questão é o aspecto que assume o papel mais importante no início da análise psicológica”.

Outro ponto importante a observar é que a tensão pode surgir dentro da divisão de elementos de várias maneiras, como por exemplo:

a) Dois elementos em oposição aparecem como os mais importantes na divisão do elemento como um todo. Se um desses elementos torna-se superior, o outro só pode expressar-se por meio da linguagem do inconsciente.

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b) Em relação às casas astrológicas, uma diferença muito acentuada entre o potencial (signos) e a circunstância (casa) talvez contribua para que surja também alguma tensão. Por exemplo, um planeta de fogo numa casa de terra exige maior esforço de adaptação às exigências da circunstância do que o mesmo planeta numa casa de água ou de ar.

Ainda poderíamos dizer muitas coisas tanto em relação à maneira como opera a função inferior quanto ao próprio inconsciente segundo Jung, mas assim fugiríamos demais dos nossos principais objetivos nesse momento. No decorrer do nosso curso, aprofundaremos alguns desses pontos, relacionando-os com outros conceitos da Psicologia Analítica (Psicologia Junguiana).