salvaterra magos * vila histórica no coração rbatejo (3ª edição)

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3ª EDIÇÃO Autor: JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro) SALVATERRA DE MAGOS Vila histórica no coração Ribatejo

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O livro , tenta ser uma monografia da vila de Salvaterra de Magos, incluiu o retrato da riqueza patrimonial, cultural de um passado que vem de séculos. saiu pela primeira em 1985, esgotado, foi feita uma 2ª edição, em 1992, que depressa se esgotou. Em 2014, novamente com o patrocínio municipal, saiu a 3ª edição novamente sujeito a uma revisão e melhorado.

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Page 1: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

3ª EDIÇÃO

Autor:

JOSÉ GAMEIRO

(José Rodrigues Gameiro)

SALVATERRA DE MAGOS

Vila histórica no coração Ribatejo

Page 2: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

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SALVATERRA DE MAGOS

VILA HISTÓRICA NO CORAÇÃO DO RIBATEJO

3ª EDIÇÃO

(revista e aumentada)

************

Ano: 2011

**************

Autor: Gameiro, José

Editor: Gameiro, José

Rodrigues Gameiro

Edição: online -

sistema PDF

http//:www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt

1ª Edição (Gráfica Tipotejo) – Ano 1985

2ª Edição (Gráfica EPSM) - Ano 1992

Page 3: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

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NOTA DO AUTOR

Foi no ano de 1985, que este livro viu pela

primeira vez a luz do dia, a sua leitura teve grande

procura. Estando esgotada a edição, sete anos

depois solicitou-me o executivo da câmara

municipal de Salvaterra de Magos, a anuência para

uma segunda edição, o que veio a acontecer já

revista e aumentada, em 1992.

Nos dois trabalhos, saíram dois mil exemplares.

O tempo passou, algumas alterações se

verificaram no concelho, especialmente no campo

da criação de novas freguesias. A área

sociocultural, também, sofreu algumas fraturas, a

economia do concelho continuando a ser

predominante à base da exploração agrícola e agro-

pecuária, a pequena indústria, comércio e serviços,

passaram a ombrear na riqueza da vida económica

das populações que preenchem as actuais 6

freguesias do concelho; Salvaterra de Magos,

Muge, Marinhais, Glória do Ribatejo, Foros de

Salvaterra e Granho. Constatando o autor, a

continuada procura deste livro, “Salvaterra de

Magos – vila histórica no coração do Ribatejo”,

aptou por fazer uma edição online e publicá-la no

seu blogue:

“http//:[email protected]

Ano de: 2011

JOSE GAMEIRO

(José Rodrigues Gameiro)

Page 4: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

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INTRODUÇÃO

A cerca de 50 Kms de Lisboa e de 30 de

Santarém, situa-se harmoniosamente, entre os rios

Tejo e Sorraia o concelho de Salvaterra de Magos,

mesmo no coração da Província do Ribatejo, que

dispõe das freguesias: Muge, Salvaterra de Magos,

Marinhais, Glória do Ribatejo, Granho e Foros de

Salvaterra.

Salvaterra de Magos, sede do concelho aparece-

nos ainda hoje fiel às suas tradições, mais

genuínas, sem deixar de acompanhar o progresso.

No campo cultural, cada povoação, tenta preservar

o seu património, nos agrupamentos folclóricos. É

precisamente no ritmo desta mentalização, que

vamos encontrar as terras férteis da Lezíria

ribatejana, onde o turismo, ávido de originalidades,

tem presente os festejos populares cheios de

riqueza folclórica, onde as cantigas e músicas, são

cheias de alegria, através dos viras e do fandango.

Para isso, muito contribui a sua forma fidalga de

receber os visitantes, as suas belezas naturais, onde

sobressaem as verdejantes sombras dos salgueirais

e areias do rio Tejo, que dão lugar à já famosa e

concorrida “Praia Doce”, bem como a vasta zona

do Pinhal do Escaroupim, com o seu Parque de

Campismo, um cartaz dos que procuram a frescura

e o sossego da beira do rio.

A pitoresca Aldeia dos Pescadores “Avieiros”,

também são um local de grande procura.

Page 5: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

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A “Barragem de Magos”, grande bacia de água,

agora pertença da Freguesia- Foros de Salvaterra,

local privilegiado para o repouso, onde o visitante

encontra a beleza de grandes manchas de pinhal.

Longe vai o tempo, em que El-Rei D. Dinis, no

ano de 1295, fez doação a Salvaterra de Magos do

seu Foral, e que tinha os mesmos privilégios aos de

Santarém. Daí em diante e durante séculos muitos

acontecimentos aqui ocorridos, passaram a fazer

parte da sua história.

Os Campos deixaram de ter grandes manchas de

gado, onde o campino era o garboso guardador e,

que em dias de festa, mostrava o seu vestuário

colorido, com barrete verde e orla vermelha, o

colete com lindas ramagens nas costas, no peito

vaidosamente ostentava o ferro da casa agrícola,

onde trabalhava.

Muito pouco resta dos seus Monumentos, uns

desapareceram, devido às calamidades naturais,

como os terramotos de 1755, 1858 e 1909, aos

incêndios no palácio real, outros ainda devido à

incúria dos seus filhos, que um dia tiveram nas

mãos a grandeza de gerir os destinos municipais da

vila de Salvaterra de Magos.

José Gameiro

Page 6: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

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A VILA DE SALVATERRA DE MAGOS

A Huma legoa ao Nordeste da Villa de

Benavente, & dez ao Nascente de Lisboa, junto do

celebrado Tejo, em vistoso plano sobre uma areia

fina, nem de aluvião, nem de charneca, tem seu

assento esta nobre vila, a qual mandou povoar El-

Rei D. Dinis no ano de 1295, e no ano de 1296, se

enobreceo com a Igreja Parochial da invocação de

S. Paulo. Vigayraria, que o Bispo de Lisboa D.

João Martins de Soalhães mandou levantar com

licença Del-Rey, que lhe fez mercê della para seus

sucessores. El-Rey D. Manuel lhe deu foral em

Lisboa 20 de Agosto de 1517. Tem trezentos

vizinhos, Casa da Misericórdia, Hospital & estas

Ermidas; S. Sebastião, Santo António & a C apela

Real do Bom Jesus com Hum Prior que apresentam

os Condes da Atalaya, que forão antigamente

senhores desta terra, pela qual lhe deo em troca o

InfanteD. Luis a Villa da Assenceyra & outros

lugares. Para além de alguns olhos de água que

brotam em várias partes da povoação, tem duas

fontes grandes; a do Concelho, & a de S. António

junto ao Paço, & huma grande coutada, aonde os

Reys se vão divertir (estância deleytosa nos meses

de Inverno) com sumptuoso Palácio, que fundou o

dito Infante D. Luis, & acrescentou de novo com

mais casas, & jardim El-Rey D. Pedro, o segundo.

Tem mais um grande paul, que chamão de

Magos, de que se apelida a Villa, o acabou por

abrir o Serenissimo Rey D. João, o quarto.

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O seu termo é abundante de pão, legumes, caça,

gado $ peyxe, & contém os montes seguintes, o

Bilrete, o das Figueyras, o da Misericórdia, o

Colmieyro, & o dos Coelhos. Há nesta Villa huma

boa casa de campo, que mandou fazer Gracia de

Mello, Monteyro-Mor do Reyno. Nestas terras

******** A água da chamada Fonte do Concelho, era

aplicada com eficácia na queixa da obstrução,

mas também fazia engordar as pessoas que

vinham para Salvaterra. Em vários locais da vila,

existiam nascentes de água. Fora da povoação;

no Vale de Bunheiros, e junto ao Paul de Magos,

existiam olhos de água que por ser tão leve,

abria o apetite.

Neste último olho de água, e em algumas

sesmarias, pertença de D. Pedro, tio de E-Rei

D.

José, nascia uma erva chamada de “Bruco” da

qual as raízes e as folhas são diuréticas. Em

Moinhos de

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Magos, brotava uma nascente, que tem no seu

regato uma planta que o povo intitulava de

“Divina”, pela virtude de curar a hidropisia.

Também na Coutadinha Pequena, num

pequeno olho de água, nascia uma erva, que os

boticários consideram excitadora de vómitos. A

erva de São Roberto, também era fértil nestes

campos.

A Fonte de Santo António, construída em

forma de meia-lua, tem nas suas paredes,

mármore de cor rosa, recebe água de uma mãe-

de-água, que vem de longe, um terreno da

família Costa Freire, junto à rua do Calvário.

******** Corografia Portuguez * P. António Carvalho da Costa

Tomo Terceyro – Pág. 191 – Cap. VIII

*********

******* Nota do Autor: Ao longo dos tempos, especialmente desde o

início do séc. XX, a população passou a transmitir o mito, que

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os subterrâneos que transportavam água para os fontanários,

serviram para os reis fugiram de algum ataque ao palácio real

****

Quando da construção dos prédios, e foi instalada a Caixa

de Crédito Agrícola Mútuo, o autor esteve lá e fotografou a

corrente de água, que alimentou a fonte de S. António.

INFANTE D. LUIS

O Infante, nasceu em Abrantes, a 3 de Março de

1506, foi Duque de Beja, Condestável do Reino,

Senhor de Serpa, Moura, Covilhã, Almada, Beja e

Salvaterra de Magos.

Administrador do Priorado do Crato, e discípulo

de Pedro Nunes, deu provas de valor na conquista

de Tunes, contra Barbarroxa.

Do seu amor ilícito, com Violante Gomes (a

Pelicana), donzela humilde, mas de rara beleza,

nasceu D. António, que viria ser Prior de Crato e

mais tarde rei de Portugal, aclamado em Santarém.

Não se sabe ao certo o ano em que foi mandado

construir e reedificar o belo Paço Real de

Salvaterra, pelo Infante D. Luís (4º filho de D.

Manuel I), que gastou mais de 50 mil cruzados,

sem ver as obras acabadas.

Em 1542, o Infante D. Luís, mandou edificar um

pequeno Convento, em terrenos junto ao Palácio da

Falcoaria. A construção por estar em terrenos

baixios, era periodicamente invadido pelas águas

das cheias.

D. Luís, vivia pobremente num espaço exíguo, com

uma ou duas divisões naquele convento, tinha com

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oração predilecta, a que manifestava à relíquia de

S. Baco.

Mais tarde, em 1626, foi substituído por um

outro em terras altas, junto ao Casal de Jericó, ou

Jenicó, entre Salvaterra e Benavente.

Este espaço de recolhimento, foi novamente

doado aos Frades Arrábidos, sendo o terceiro destes

religiosos, no país.

Em 27 de Novembro de 1555, morreu em

Marvila, o Infante D. Luís, enfermo de uma

“terçã”, com a idade de 49 anos e 9 meses.

***********

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**********

*******

D. JOÃO MARTINS DE SOALHÃES

Bispo de Lisboa (1294-1313)

Arcebispo de Braga (1313-1325)

Por laços de sangue, descendia da família dos

Portocarreiro, então poderosíssima em Portugal,

sendo filho de Lourenço Martins e de D. Fruela

Viegas, filha de D. Egas Henriques Portocarreiro,

"o bravo" (1146 -?) e de D. Teresa Gonçalves de

Curveira.

Alçado ao governo da diocese em começos de

1294, fundava pouco depois o Convento de Santa

Clara de Lisboa, em 1295, isentava o Mosteiro de

Odivelas, como parte do padroado régio, da

jurisdição da diocese de Lisboa. Por seu turno,

conseguiu de D. Dinis diversos privilégios para a

sua Sé, tendo acompanhado o monarca numa

viagem que este realizou a Aragão em 1304.

Nesse mesmo ano instituiu o morgado de

Soalhães em favor de um filho ilegítimo que tivera,

Vasco Anes de Soalhães (1450 -?) casado com

Leonor Rodrigues Ribeiro, filha de Rodrigo Afonso

Ribeiro e de Maria Pires de Tavares (1200 -?).

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TOPONOMIA DA VILA DE SALVATERRA

Descrição no Séc. XVIII

Situada sobre a areia, a dez léguas ao nascente de

Lisboa, a vila contava de início com sete ruas

principais, que partiam do norte para sul, expecto a

última e, juntas umas às outras.

Da parte nascente, ficava a rua de Santo António,

que ia ter à capela real, onde na fachada um

frontão, ostenta uma imagem em pedra do

taumaturgo. A rua de S. Paulo, dá pelo lado direito

daquela para a Igreja Matriz. A outra via tivera um

pinheiro, e por se chamou rua do Pinheiro. Seguia-

se a Rua d`Água, que assim se chamava, devido às

muitas águas das chuvas que ali se depositavam.

A Rua do Calvário, grande de extensão, ostenta

no seu lado sul uma cruz de pedra, que serve de

passo, quando dos festejos da paixão de Cristo e,

por último, parte do Poente a Rua do Arneiro,

assim chamada por desembocar em um arneiro,

onde uma fonte tem lugar.

De início existia no termo da vila, seis aldeias;

Colmeeiro, com 9 habitantes; Misericórdia, com 1;

Coelhos, com 5; Cabides, com 2; Figueiras, com 6;

Bilrete de Cima, com 9; e Escaroupim, com 1.

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Um total de 33 “vizinhos” designação que vem

de trás. O número de pessoas existentes na vila e

nas aldeias, é o seguinte: maiores, 1399; e menores

173. Não são incluídos porém, aqueles menores

aquém a Igreja ainda não obriga ao preceito, “por

ser inumerável a sua multidão”.

A vila é servida por dois grupos de correio: o que

vem de Benavente chega a Salvaterra aos domingos

e do de Santarém, às segundas-feiras e outras vezes

às terças-feiras. Não existem rios, se não a chamada

Sangria, ou vala real, com légua e meia de

comprimento, que em tempos idos se fizera para

dar vazão à grande quantidade de água que o sítio

da Ameixoeira recolhia. Partindo do nascente para

o poente, passa pelos terrenos de Magos, costeando

a vila pela parte do norte, entrando no Tejo em

terras do Campo dos Freires, defronte da Casa

Branca, da povoação da Azambuja.

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A VALA REAL EM 1758

O porto com a sangria, mesmo em frente à

capela de Santo António, doada à Misericórdia

local, foi iniciado a sua abertura por ordem de D.

Dinis, e acabado no reinado de D. João IV. Tinha

espaço para fundearem 60 barcos de vila latina, e

nas suas águas pesca-se todo o ano à tarrafa e à

cana. Ao longo da sua distância, tem duas pontes

de cantaria, uma ao pé da vila e uma outra no

Casal, ficando de permeio as portas, ou sarilhos.

Houve em tempos, uma outra ponte de tijolo, em

Paul de Magos, no sitio chamado do Governalho,

até onde as águas eram navegáveis. Dois moinhos

de água, tem trabalho todo o ano, num dos valados

da sangria, estando um junto à ponte da vila.

A MISERICÓRDIA

Do arquivo da Irmandade da Misericórdia, não

consta o seu princípio, nem sequer se aquela

Santa Casa, possuía títulos das rendas que

cobrava, na importância de 37$450 réis, e seis

moios e vinte alqueires de trigo por ano e dois

moios e quarenta alqueires de milho grosso.

Cobrava mais, de renda certa, doze alqueires de

trigo, seis canadas de azeite, um porco e uma

marrã (1)

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(1)- Subsídios para o Estudo da Santa Casa da

Misericórdia de Salvaterra de Magos- Dr. José Asseiceira

Cardador

ALBERGARIAS

Tinha a povoação de Salvaterra de Magos,

duas casas em sítios diferentes, com o nome de

Albergaria. Uma no Largo de S. Sebastião, e uma

outra anexa à capela de Santo António, que

tinha o seu acesso pela Rua Direita. Ambas

conservadas ao terramoto de 1755, a primeira

apenas com algumas brechas. Não resistiram,

ao terramoto de 1909.

As paredes das fachadas, daquela última,

passaram a ter uma aparência de muros. A da

frente foi removida no início da década de 60,

tendo o lavrador, João Oliveira e Sousa,

mandado ajardinar

o espaço, sendo o letreio em pedra, que se

encontrava colocado na parede da frente, sido

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colocado a encimar a porta, no muro, que foi

bloqueada, com uma construção em ferro.

*************

*********

A IGREJA MATRIZ

A Igreja Matriz, com S. Paulo como orago, está

situada no centro da vila, foi construída em

1296, de início tinha duas naves e cinco altares.

O primeiro, do lado da Epistola, era da Senhora

de Santana, o segundo de S. Miguel e o terceiro

de S. João Batista; e do lado do Evangelho; da

Senhora do Rosário, e o da Senhora da

Assunção. A Paróquia, tinha a Irmandade do

Santíssimo e a das Almas.

O senhor morto, está bem conservado numa

pequena capela, no interior. Na Capela-mor, o

altar de boa talha dourada, decorado com uma

grande tela do séc. XVI, na boa da tribuna. O

orago da paróquia, S. Paulo, está acompanhado

de vários anjos, decorando o teto. Existem ainda,

dois silhares de azulejos azuis e brancos da

mesma centúria, com cenas decorrentes da

bíblia. A pia baptismal, de traça vulgar é do séc.

XVI.

Nos seus princípios, o vigário, apresentado

pela Mitra, cobrava 63$200 réis de renda e mais

um moio de trigo, que pagava o lavrador pela

courela que pertencia à igreja.

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Se não tinha beneficiados nem rendas para

eles, a igreja figurava ente as de vinte mil

cruzados, como consta do códice 739, fls. 42-v

dos manuscritos do Fundo Geral da Biblioteca

Nacional de Lisboa. O edifício, sofreu danos com

o terramoto de 1755, e consta que três anos

depois ainda não tinham sido reparados.

Ao longo dos anos da sua existência a Igreja

Matriz, recebeu obras de conservação. As mais

referenciadas, são do séc. XIX. Em 1858,

quando do sismo, a torre foi muito danificada,

tendo na época sido coberta, por azulejos de cor

azul.

Mais tarde foi ali colocado um relógio

mecânico, com três mostradores, obtido numa

empresa de Almada. Com o terramoto de 1909,

para receber obras esteve fechada ao culto,

sendo as celebrações realizadas, na capela real.

Por volta de 1958, o então padre, José Diogo,

nas obras ali efectuadas, alterou o seu interior,

reparando o teto, com nova pintura do S. Paulo

e, o adro do lado norte, foi aproveitado para a

construção de várias salas. Em 1875, o Padre,

Agostinho de Sousa, orientou novas obras, no

telhado e no interior. Na torre da igreja, o velho

relógio com mostrador em numeração árabe, foi

substituído por um moderno. Um computador,

programado faz agora os sinos tocarem os sons

das várias cerimónias religiosas.

A CAPELA DA MISERICÓRDIA

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Construída num Botaréu, entre a Rua Direita e

a antiga Rua de Santo António, logo recebeu o

nome deste último santo. O altar, bem

desenhado e pintado a oiro escuro, suporta a

imagem da virgem – Nossa Senhora da

Conceição. O seu teto forrado com riquíssimos

retábulos, tinha nele imagens originais

desenhadas em tela. As paredes, estão forradas,

de cenas de azulejos com motivos religiosos da

vida de Cristo e da Virgem e datam do séc. XVIII

Um púlpito, bem decorado assenta numa das

paredes, para além de um pequeno espaço à

entrada da rua, acima do nível do chão, um

pequeno andar em madeira serve para o coro.

Era ali que a família real, rezava, antes e

depois de qualquer viagem em Bergantim, de e

para Lisboa. Sabe-se, que teve uma Albergaria,

que foi destruída com o terramoto de 1909. Em

Fevereiro, de 1979, um forte temporal,

procedido de uma cheia que durava há vários

dias, destruiu a parede-lado norte, e o telhado

do edifício. As telas (retábulos), passados 30

anos, não mais foram reparados, nem é público,

onde a Misericórdia de Salvaterra, os tem

guardados.

CAPELA REAL

Edifício maneirista, construído no séc. XVI

estava incluído nas vastas construções que

faziam parte do Paço Real de Salvaterra de

Magos.

Page 19: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

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O seu interior, divide-se em duas partes

distintas. Uma delas é constituída pelo corpo

do templo de configuração quadrada, onde

sobressaem três pequenas naves, de pequenas

colunas clássicas adossadas às paredes. Na

outra parte, pode-se admirar o altar-mor, com

dois corredores laterais, cuja abóboda de berço

surge de um entablamento longitudinal apoiado

em colunas toscanas.

A abóboda central e a cúpula, irrompem de

fortes entablamentos, um pouco desfigurados

pela saliência, que apresentam no apoio dos

arcos-testas, possivelmente de um exerto

posterior.

Resistiu ao fogo, que destruiu o Paço (daquele

tempo, apenas restam; A Capela, o edifício da

Falcoaria, algumas chaminés do que foram as

cozinhas do palácio, e o edifício municipal, que

foi doado, pela rainha D. Maria II) .

A Imagem de Nossa Senhora da Piedade,

beleza em lipocromia, tem resistido ao passar

dos anos.

O seu terreno

anexo, já foi

Picadeiro Real

(1775), cemitério e

mais recentemente,

ali foi construído um

pequeno espaço de

cultura – que

infelizmente só foi

usado no dia da sua

inauguração. Com o

Page 20: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

20

terramoto de 1755, caiu o zimbório de estuque.

Muitos estragos, foram supridos por suas

majestades reais, que tinham afetos a

Salvaterra. Em Portugal, existem mais duas

construções da mesma época; uma em Tomar e

uma outra em Évora (a capela dos ossos).

As poucas instalações da Capela, que não

caíram nas mãos de privados, com a venda da

casa real, têm servido para uso de serviços

administrativos municipais. No final do séc. XIX,

com obras a decorrerem na Igreja Matriz, ali se

realizaram atos religiosos. No interior da capela,

periodicamente ali têm lugar, entre outras

formas de divulgar a cultura, a realização de

exposições.

O REAL TEATRO DA ÓPERA

Tendo Salvaterra palácio real, onde a família

real passava longas temporadas, especialmente

a seguir às festividades do Ano Novo. As viagens

pelo rio Tejo, em Bergantim, eram

acompanhadas ao som de músicos, que assim

entretinham a comitiva. Havia épocas, que o

séquito real, se deslocava a cavalo, até

Salvaterra, pelos caminhos da margem sul de

Lisboa, atravessando a campina de Alcochete.

Para colmatar a falta de outros divertimentos

em Salvaterra, pois a caça de montaria e

falcoaria era

uma sorte quase diária. Existindo em Lisboa, os

teatros de Queluz e Ajuda, foi construída uma

Casa da Ópera, nesta vila. O Real Teatro de

Page 21: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

21

Salvaterra de Magos, foi inaugurado em 21 de

Janeiro de 1753, com a Ópera “Didone

Abandonata” (composição de David Perez),

sendo representada também, em época de

Carnaval desse ano e talvez no mesmo dia,

“Intermezzos”.

Quanto à informação sobre a feitura do

projecto, da sua lotação e arquitectura interior,

socorremo-nos das págs.69 e 70, do livro “O

Paço Real de Salvaterra de Magos”, da autoria

de Joaquim Manuel S. Correia e Natália Brito

Correia Guedes.

“A sala de espectáculos de Salvaterra tem uma

lotação de 500 pessoas; tem três filas de

camarotes de primeira (três camarotes de cada

lado); ao fundo um anfiteatro com uma galaria

que prolonga de cada lado os primeiros

camarotes.

Este anfiteatro está coberto com um reposteiro

franjado, apoiado em pilares como uma tenda;

neste se situa o lugar do Rei que se senta num

cadeirão, ao meio, tendo à sua direita o Infante

D. Pedro, seu irmão e

seu genro e à sua

esquerda a Rainha, a

Princesa do Brasil e as

três outras princesas e

ao longo da galeria , à

esquerda as damas de

honor. O outro lado, à

direita da galeria, fica

vazio; há oito segundos

e oito terceiros

Page 22: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

22

camarotes que são ocupados por portugueses

aos quais se oferecem bilhetes.

Os Ministros do Rei estão sentados na plateia

com os fidalgos sem distinção de categoria. A

orquestra tem cerca de 25 a 30 instrumentos. O

teatro é bastante grande, ocupando todo o

comprimento da sala; o espectáculo começa

logo que que o Rei entra……”

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“O projecto para o teatro régio de Salvaterra, é

atribuído a Giovani Carlo Bibiena, por Cirilo

Volkmar Machado…”

Em 1980, quando eu, pretendia encontrar o

local onde poderia ter existido o Teatro Régio de

Salvaterra, contatei 4 pessoas, que viveram em

dois séculos, duas delas; Joaquina Mendes e

Francisco Costa, informaram-se que as paredes,

nos primeiros anos do séc. XX, foram

“rebentadas a fogo”, sendo as suas pedras

aproveitadas para outros fins, inclusive, na

construção de uma grande adega que ocupou o

seu espaço, pertença de António Jorge de

Carvalho.

*************

*********

Page 28: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

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A NORTE DA VALA REAL VIA-SE O ESCAROUPIM

No descampado por toda a redondeza, se

podia avistar a vila de Salvaterra de Magos. A

uma légua de lonjura, estava o Escaroupim,

com as recentes

habitações construídas em madeira dos

Pescadores Avieiros. Durante largos anos, estes

“ciganos do rio”, assim lhes chamavam as

gentes rurais, viviam e pescavam nos seus

estreitos barcos, que mais pareciam aqueles

varinos, usados lá para as bandas de Aveiro. No

entanto, estes nómadas do Tejo, tinham origem

de Vieira de Leiria.

Também a norte, um pouco para lá dos

mouchões do Tejo, via-se as Virtudes, Azambuja,

Cartaxo e Valada, esta última estava a uma

légua de distância. Uma passagem de barca,

tinha lugar, num pequeno porto, na Palhota,

Page 29: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

29

dava passagem pelas águas do rio, para aquelas

povoações.

O PALÁCIO DA FALCOARIA

Salvaterra de Magos, teve Coutada Real. Esta

ocupava todos os terrenos a sul da vila, indo até

às margens do Sorraia, na zona de Bilrete, até às

terras de Coruche e de Almeirim.

A sua charneca, muito fértil em animais de

pelo, também tinha no Vale do Grou, estas

grandes aves, patos e cisnes. O javali, a lebre e

veados, tinham espaço próprio, mais para os

lados do Paul de Magos. A Caça de altanaria, foi

hobby da realeza, que na vila passava os meses

de inverno, até aos dias de Carnaval. O edifício,

muito destruído com o sismo de 1858, foi

vendido em haste pública, quando da venda da

casa real, tinha vários espaços anexos, onde

vivam os Falcoeiros e suas famílias, muitos deles

oriundos da Valkansuaard (Holanda), tendo até

alguns deles vindo a casar com gente da terra.

Um pombal, de construção redonda, tem no

seu interior cerca de 310 nichos, espaço onde

os pombos criavam, servindo para o treino e

alimentação dos Falcões, Açores e até Águias,

usados nesta forma de caçar. O edifício é o

único exemplar existente na Península Ibérica.

Com o declínio das visitas reais a Salvaterra,

com maior acuidade, quando da fuga da família

real para o Brasil., a vila perdeu o seu esplendor

de muitos séculos. O palácio da falcoaria,

sobreviveu, foi largos anos propriedade privada,

Page 30: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

30

até que em 1980, o então presidente da câmara

municipal; António Moreira da Silva, negociou a

compra daquele espaço, com Jorge de Melo e

Faro (Conde Monte Real).

A Falcoaria, estava de volta a Salvaterra, um

projecto, onde os autarcas; Joaquim Mário Antão

e Gameiro dos Santos, já presidente da câmara,

deram grande impulso à iniciativa.

Contatos houve, e uma amizade se

estabeleceu, com o povo de Valkansuaard. Os

festejos realizados nas duas terras, selaram a

cerimónia.

Alguns anos foram precisos para que a

Falcoaria, volta-se a funcionar em Salvaterra de

Magos. O Edifício foi recuperado, servindo agora

de divulgação e atração turista da vila.

CONSTRUÇÕES PALACIANAS

Em 1710, havia na vila uma boa casa de campo,

que mandara construir Garcia de Melo, Monteiro-

Mor do Reyno. Na vila, as melhores construções

pertenciam à casa real, e outras eram de alguns

abastados fidalgos, que vivendo à volta do

rebuliço da corte, aqui tinham as suas

explorações de campo. Vinham amiúdas vezes

por ano, a Salvaterra, especialmente quando a

família real aqui se instalava nos meses de

Janeiro e Fevereiro.

Nos últimos anos do séc. XVIII, quando a

rainha D. Maria I, concedeu regalias ao Conde de

Almada, já muito se falava desta família, porque

tinha aqui um vistoso palacete.

Page 31: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

31

Era nesse período, que os seus caseiros,

prestavam-lhes contas da campanha agrícola, e

dos negócios do gado, especialmente dos

garranos e burros, que vendiam a ciganos de

passagem.

Muitos destes senhorios, pagavam as jornas

aos seus “quinteiros”, em moios de trigo e milho,

que estes depois trocavam por farinha nos

moinhos da vila. As pequenas criações de

galináceos, coelhos e porcos eram

transaccionados na feira que se realizava

anualmente junto ao Convento.

É também no séc. XVIII, que o Monteiro-Mor,

Francisco de Melo, se instalou numa grande

casa, no largo da Igreja de Santo Paulo.

**************

***********

Page 32: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

32

UMA CAÇADA DE ALTENARIA

Séc. XVIII

Manuel Carlos d` Andrade, descreveu uma

caçada às lebres, na Coutada de Salvaterra de

Magos.

“Modo por que Sua Majestade

saía sempre à caça das lebres”

“Fazia o Senhor Rei D. José I, sempre esta função

também com aparato verdadeiramente magnífico, e

no domingo seguinte se fez esta caçada como passo

a referir”

Às oito horas da manhã e depois de ouvirem

missa, entraram a concorrer para a Praça contigua

ao Palácio muitos criados de Sua Majestade, donde

se principiaram a por em ordem pela maneira

seguinte;

Saiu o Monteiro-Mor, do seu Palácio, a cavalo,

acompanhado de muitos fidalgos e nobreza, do Juiz

do Crime da Corte, e de trinta e sete couteiros,

vinte e oito moços do Monte e dezanove

emprazadores, com os quais marchou para o alto,

ou lugar da caçada.

Passada a ponte, chamada do campo, ao lado

esquerdo, havia um magnifico degrau para Suas

Majestades e Altezas se apearem dos cavalos da

picaria e tornarem a montar nos cavalos de campo,

Page 33: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

33

ou corredores, como adiante se dirá. Neste sítio se

achavam muitos homens a pé, além dos oitocentos

batedores que costumavam servir no mato, aos

quais o Monteiro-Mor, e D. Luís da Cunha,

Ministro e Secretário de Estado, mandaram formar

duas bem dispostas alas. A da direita, era

comandada por D. Luís da Cunha, e a da esquerda

pelo Monteiro-Mor. Pouco depois se formavam na

Praça quatro coros de timbaleiros, a saber; seis

clarins em cada coro, um timbaleiro e um clarim-

mor, todos vestidos de veludo carmesim ricamente

agaloados de ouro. Junto de cada par de timbales

havia dois moços de cavalariça, que os conduziam

a pé dli até ao campo.

Pouco distante dos timbaleiros havia duas fileiras

de falcoeiros vestidos de escarlate, agaloados de

prata, montados a cavalo, e entre seis uma de três

gaiolas de falcões, em cada uma das quais iam seis

açores presos com cadeias douradas e monteiras

bordadas de ouro; as gaiolas eram de nove palmos

de altura, com largura proporcionada, eram todas

forradas de veludo carmesim agaloadas de ouro e

também conduzidas por quatro moços da cavalariça

cada uma. Este luzido aparato e os coros de clarins,

tocando alternadamente, faziam assim ordenados,

aos ouvidos e aos olhos, a mais deliciosa harmonia.

Depois desta comitiva se por em marcha, junto ao

Palácio montaram Suas Majestades, a cavalo, pela

maneira seguinte….”

“Descreve-nos agora o autor as personalidades que

ajudaram Suas Majestades a montarem nos seus

corcéis, para seguidamente se alongar na descrição

Page 34: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

34

de todos aqueles que pelo seu nascimento e

posição, obedecendo à etiqueta a que a corte

obrigava, deveriam tomar lugar especial no cortejo

e no decorrer da caçada”

“Assim, organizado aquele, levando à frente o rei,

rainha, altezas e pessoal da real privança, seguia-se

uma considerável quantidade de marqueses,

condes, viscondes, fidalgos e oficiais militares,

como também alguns picadores e outros criados

particulares de Suas Majestades, e após estas

muitas pessoas que costumavam concorrer de

várias partes a ver este belo espectáculo”.

Seguiam-se ainda e a par, dezanove moços de

estrebaria ricamente vestidos, levando alguns deles

os cavalos de que Suas Majestades e Altezas se

haviam de servir no campo. E, finalmente, mais

sessenta moços de cavalaria com librés agaloados,

conduzindo outros tantos cavalos destinados a

todas as pessoas a quem el-rei quisesse obsequiar.

Page 35: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

35

Voltemos porém ao que nos diz Manuel

d`Andrade: “Tendo caminhado com esta boa ordem

até passarem a ponte do campo, chegando Suas

Majestades ao degrau, se apearem dos cavalos de

picaria e montarem nos cavalos corredores de

campo e da mesma sorte os mais fidalgos e

cavaleiros. A este tempo chegaram Suas Altezas ao

campo. Primeiramente em uma magnífica berlinda,

tirada por 6 cavalos vinham quatro veadores ou

braceiros de Suas Altezas; logo se seguia outra

berlinda muito mais rica, em que vinham a

Sereníssima Princesa do Brasil, hoje reinante, as

Sereníssimas Senhoras Infantas D. Mariana, D.

Bárbara e D. Maria Benedita.

Após Suas Altezas, ia um belo coche do Estado e

logo outro, em que se conduzia a camareira-mor, a

quem seguiam dois coches com sete damas, quatro

de Suas Altezas e três de Suas Majestades, e um de

açafatas e outro de criadas, e muitas carruagens

magníficas, tanto de Suas Majestades e Altezas,

como de muitas personalidades que assistiram

àquele acto.

Suas Altezas, a camareira-mor, as damas do paço,

as açafatas e criadas, na frente do lado direito, sem

saírem das berlindas, assistiram a toda a função, a

quem deu principio a Rainha pelo modo seguinte:

Tendo montado a cavalo, o seu guia e um

emprazador a conduziram, seguindo-a o Conde

reinante de Lallipe, o senhor D. João da Bemposta

e o Príncipe de Mequelemburgo, até que Sua

Majestade, com um punção dourado, picou na

cama a primeira lebre que saiu.

Page 36: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

36

Após isto, os moços das trelas soltaram quatro

galgos que correram a lebre velozmente, mas como

ela se ia adiantando muito, o Monteiro-Mor

mandou aos falcoeiros lhe soltassem um açor, o

qual estando já solto da prisão do pé, tanto que se

tirou a monteira da cabeça, saiu do braço do

falcoeiro com uma velocidade indizível e depois de

subir alto, desceu sobre a lebre como um

relâmpago, dando-lhe duas pancadas, por cujo

motivo os galgos a apanharam.

Depois El-rei fez levantar outra, que da mesma

sorte surpreendida; o mesmo que Sua Alteza, o

senhor Infante D. Pedro, e tendo saído muitas

lebres, Sua Majestade mandou correr outras por

alguns picadores e cavaleiros, que faziam sobre a

viçosa relva matizada de muitas flores um

perspectiva a mais brilhante que eu vi em meus

dias. Havia no campo, além da comitiva da casa

real, uma grande quantidade de fidalgos e nobres

cavaleiros a quem seguiam imensos criados seus,

formando com as vistosas librés, bem ajaezados

cavalos e grande cópia de carruagens um matiz

delicioso.

O estrondo dos timbales, o eco dos clarins, os

relinchos dos cavalos, a variedade dos vestidos, a

multidão das librés , a quantidade dos cavaleiros, o

bem assentado da planície, fazia este belo anfiteatro

plausível aos nacionais e estrangeiros.

A isto se seguiu a vistosa briga de um milhafre com

um açor, que durou largo tempo. Enquanto

contenderam subia o açor a mais alta altura que o

milhafre; este, enquanto o açor subia, fazia

Page 37: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

37

diligência por fugir, mas quando o açor descia

sobre ele, o milhafre no ar se voltava com as

farpantes unhas para cima e assim pugnavam: um

por se defender e o outro pelo apresar, até que da

quarta vez o açor caiu com ele em terra, aonde o

falcoeiro o apanhou e ao milhafre bem ferido.

Por último se combateram os açores com alguns

pombos, pegas, rolas, e outros voláteis com suma

satisfação dos espectadores, até que Febo se

alongou tanto daquele vistoso sitio, que parecia que

além dos horizontes mergulhava os cavalos do seu

carro nas cristalinas águas do deleitoso Tejo.

Por outro lado a bela Anfitrite principiava a

mostrar aos Delfins as brilhantes estrelas, de sorte

que transpondo-se o luminoso planeta, por feito o

seu giro, a todos parecia que havia sido este dia

mais que os outros abreviado; e Suas Majestades e

Altezas se recolheram aos Paços Reais de

Salvaterra, com a mesma ordem com que haviam

saído para o campo e cada um dos mais

espectadores aos seus aposentos, em que se

ouviram recontar com duplicado gosto os prazeres

daquela tarde, da qual eu faço esta breve lembrança

para mostrar o gosto que Suas Majestades, e os

principais cavaleiros de Portugal, a seu exemplo,

prezavam a Nobre Arte da Cavalaria, que sem

dúvida floresceu no tempo do Senhor Rei D. José I,

com muita vantagem a outras nações, porque Suas

Majestades a protegiam e porque os portugueses

são muito próprios para cavaleiros”

Page 38: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

38

SALVATERRENSES ILUSTRES

Quanto a homens de valor, sobressai a razão de

se enaltecer alguns salvaterrianos, tais como:

*Dr, Francisco Seabra de

Freitas;Desembargador

*António da Costa Freire, “em que o subtil

engenho depositou uma das suas grandes

partes”. Este ilustre, foi fidalgo da casa real,

procurador e conselheiro de Fazenda, recebera o

Grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo, em Maio

de 1748 (consta folhas 75-v do livro n. 235 da

Chancelaria daquela Ordem e da Genealogia de

Queiroz, folhas 187, manuscritos da Torre do

Tombo).

* José Lopes Temudo, que deixando a sua pátria

para tomar o cargo de comissário “do exército

grande de cavalaria”, o que passou com Carlos

III, à batalha da Catalunha, em que fez alarde do

seu maior valor, obrando ali tão esforçadamente

como em outras empresas que se lhe

ofereceram, merecendo por isso a honra de

Coronel de Cavalaria.

* Manuel de S. Tomás, filho de Francisco Gomes

e de Maria Tinouca, professou no Convento do

Varatojo, no ano de 1661. Foi leitor jubilado,

confessor das Maltesas de Estremoz e do

Mosteiro da Madre de Deus, guardião do

Convento de Xabregas e Ministro Provincial

Page 39: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

39

eleito em 1715, onde faleceu em a 11 de

Janeiro de 1729. De idade muito proveta. Teve

grande génio para a poesia latina e deixou duas

composições manuscritas em latim. (deste autor

salvaterrense, fala Frei Jerónimo de Belém, em

Crónicas Seráfica, a pág. 263 da introdução,

publicada em 1750).

* António Manuel Valadares, requereu a El-Rei,

em 22 de Abril de 1589, o lugar vago de tabelião

e escrivão do Almoxarifado desta vila, alegando

que havia servido Sua Magestade, em Itália,

como soldado; e no ano transacto, na esquadra

que fora a Inglaterra, ou seja na Armada

Invencível, no Galeão de António Pereira, em que

serviu de Sargento da Companhia do dito

Pereira.

* Dois séculos depois, “ O Fungão”, de alcunha,

que foi para a guerra com a Rússia e que voltou

à terra natal, segundo foi tradição dizer-se nesta

vila.

*Vicente Roberto da Fonseca, filho de António

Roberto da Fonseca e de Maria Gertrudes da

Fonseca, nasceu em 1836 e faleceu em 1 de

Junho de 1896

*Roberto da Fonseca, foi com seu irmão grandes

e afamados nomes no mundo da tauromaquia (1).

* Dr. Gregório Fernandes, nasceu no dia 4 de

Janeiro de 1849, tendo falecido na sua casa de

Lisboa, em 24 de Junho de 1906. Licenciou-se

em 1873, com 24 anos de idade, aluno

estudioso e

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40

inteligente, mais tarde grande profissional na

área da medicina. Apresentou trabalhos sobre

”Patogenia

**********

(1)-No livro: Subsídios para a História das Tauromaquia em

Salvaterra de Magos – séc. XIX, XX e XXI, são dedicadas

algumas páginas a estas duas figuras da tauromaquia.

”Patogenia da Febre Traumática”, “Glaucoma e

Reserção do Joelho” este último trabalho,

relatando uma intervenção cirúrgica, que foi

altamente apreciada, pois foi o primeiro cirurgião

a realizá-la em Portugal.

No entanto o seu maior êxito foi alcançado em

1862, com uma extracção Utero-ovariana, que

nunca até ali se tinha feito. Operação, que lhe

valeu os maiores louvores, tanto dos colegas de

Portugal, com do estrangeiro.

Semelhante intervenções já se tinham efectuado

em Viena, Paris e Londres, não lograram tão

bons resultados. Este filho de Salvaterra, foi

incontestavelmente um grande sábio e luminar

da cirurgia portuguesa, dizia-se à época.

Com espírito empreendedor, tomou conta da

construção de um hospital, na Parede, zona de

Lisboa, para a assistência às doenças dos ossos,

satisfazendo um pedido de uma sua doente, que

suportou os custos da obra.

Page 41: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

41

Quando nos seus dias de folga, das actividades

hospitalares, vinha uma vez por mês a

Salvaterra, fazer gratuitamente consultas

médicas a conterrâneos mais necessitados.

*Gaspar da Costa Ramalho, nasceu a 20 de

Outubro de 1868, lavrador e proprietário,

homem de uma alma filantrópica, deu à sua

terra, muito da sua fortuna. Ajudava, os mais

carenciados, esteve na fundação da Casa do

Povo, uma necessidade do povo rural.

Construiu em 1939, um Edifício/Quartel

moderno para a época, oferendo-o aos

Bombeiros. Também construiu uma casa de

cinema/ teatro, oferendo-a a esta corporação

humanitária.

Em 1913, Construiu, um edifício hospitalar,

oferecendo-o à Santa Casa da Misericórdia.

Esteve presente, com donativos na recuperação

da Praça de Toiros, em 1942, depois dos

grandes estragos causados pelo Ciclone.

Quando do terramoto de

1909, marcou presença e

teve trabalho meritório, na

solução de graves

situações causadas por

este sismo.

A Misericórdia local,

sempre contou com ele, em

tempos de grandes

dificuldades financeiras,

especialmente quando da realização de cortejos

de ofendas, que realizavam anualmente, depois

Page 42: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

42

das colheitas. Além de por à disposição carros e

animais, comprava os produtos nos leilões e,

depois voltava a oferecê-los para uma maior

receita.

Gaspar Ramalho, nunca esteve presente em

atos cerimoniais, em que participava

monetariamente, pois a sua modéstia, a isso o

obrigava.

Morreu aos 94 anos de idade. Anos depois, o

autor destas linhas, verificando que este

“Homem-Bom” estava, no esquecimento dos

poderes instituídos, a nível oficial da terra,

tomou em “mãos a luta por uma homenagem”.

Uma rua com o seu nome seria a reparação de

tal injustiça. Quer em locais de reunião

municipal, quer através de textos, na imprensa

local, insistiu que terra lhe devia uma prova de

gratidão. Encontrou sempre, alheamento e

indiferença. Um dia aconteceu, foi dado o seu

nome a uma artéria, que vai até instalações

“Centro de Dia/Lar – Santa Casa da Misericórdia

de Salvaterra de Magos”. Foi tarde, mas fez-se

justiça!....

* Henrique Xavier Baeta, nasceu em Salvaterra

de Magos, em 22 de Fevereiro de 1776 – filho de:

José Dias Baeta e Ana Rosa Joaquina. Frequentou a

Faculdade de Filosofia de Lisboa, tendo concluído

o Bacharel em 1795.

Em 10 de Julho de 1797, receoso da perseguição

que se fazia sentir em Coimbra, aos estudantes,

acusados de partilharem as doutrinas da Revolução

Page 43: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

43

Francesa, emigrou para Inglaterra, tendo-se

doutorado em medicina pela Universidade de

Edimburgo, em 1800. Nesse mesmo ano regressou

a Lisboa onde exerceu a sua profissão.

Na sessão de 12 de Outubro de 1821, foi

apresentado como Deputado por Santarém, às

Cortes Gerais e Constituintes, num grupo onde se

encontrava também, Luiz Rebello da Silva (1821-

1822). Contava entre os seus amigos, com;

Francisco Xavier Monteiro de Barros, Cosmógrafo-

Mor, da Comarca de Santarém, que lhe dedicou

uma poesia “ Hino ao Sol ”

Entre os seus trabalhos, registaram merecimento,

em 1806, duas obras médicas sobre a

sintomatologia e tratamento da febre, uma sobre

medicina o “Resumo do Sistema de Medicina”, e

uma dedicada ao “Belo Sexo Português”. Escreveu

“Uma Memória”, sobre o desenvolvimento de uma

Febre Contagiosa em Lisboa, que ocorreu entre o

fim de 1810 e Agosto de 1811: indicou as razões

para a combater – Pelágica.

Por ser Liberal, foi preso em 1831 e solto em 1833,

voltou a ser eleito Deputado às Cortes, em 1834, e

nomeado “Recebedor da Fazenda Pública”, cargo

que exercer até 1836. Faleceu em 21 de Novembro

de 1854

***************

**********

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44

Ex-voto * Quadro (Pintura), do Milagre da Horta del - rei

PASSADO HISTÓRICO

DE SALVATERRA DE MAGOS

Séc. XIII – Séc. XIX

Pequena Resenha:

*1295 – 1 de Junho, D. Dinis concedeu a

Salvaterra de Magos, Foral mandando-a povoar,

ficando seus

moradores obrigados a abrir um Paul, no sitio de

Magos, dentro de 4 anos.

(Este monarca, concedeu a vila, à Ordem de

Santiago, e a sua Igreja Paroquial à Ordem do

Hospital).

*1296 – Ano da construção da Igreja Matriz,

mandada construir pelo Bispo de Lisboa, D. João

Martins de Soalhães, aquém D. Dinis fez doação.

*1331 – 4 de Janeiro, D. Afonso IV, encontrava-

se em Salvaterra no “exercício” das caçadas.

Page 45: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

45

*1383 – 2 de Abril, no Paço real de Salvaterra,

foi assinado o contrato de casamento da Infanta D.

Brites, formosa filha de D. Fernando, com D. João

I de Castela.

*1429 – 20 de Agosto, D. João I, doou a seu D.

Fernando (o Infante Santo), a vila de Salvaterra de

Magos.

*1517 – 20 de Agosto, El-rei D. Manuel I, deu

novo Foral a Salvaterra, com novos privilégios, e

verificando-se que o Paul de Magos, ainda não

tinha sido totalmente aberto, conforme determinou

o seu antecessor D. Dinis.

*1577 – Novembro, D. Sebastião, encontrava-se

em Salvaterra a caçar em momento de lazer,

preparava-se para a grande jornada bélica, que o

levaria a ser derrotada, no norte de África.

*1626 -18 de Junho, junto à Coutadinha da

Rainha, se lançou a primeira pedra, por ordem de

D. João IV, de um novo Convento, que albergaria

12 Frades (1).

*1660 – Neste ano, segundo documentos oficias

existentes na Santa Casa da Misericórdia de

Salvaterra de Magos, foi a data da sua fundação.

*1676 –27 de Março, foi mandado refazer o

letreiro esculpido na pedra: “Hospital e Albergaria

para Pobres – é da Coroa”. A Albergaria e Capela

anexa, na rua Direita da vila. Estes edifícios que

vinham de tempos antes, tinham sido concedidos

por D. Afonso V, a Aparício de Cordovelos, com

carta e provisão..

*1679 – D. Pedro II, mandou fazer obras em

muitos edifícios da vila. Uma inscrição esculpida

Page 46: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

46

ainda é visível num portal exterior da Igreja Matriz,

lado norte.

*1685 – A princesa D. Isabel, de 16 anos, filha

de D. Pedro II, numa caçada abateu a tiro um javali

– tendo o caso sido muito comentado na corte.

*1690 – O rei D. Pedro II, custeou a feitura de

bonitos Jardins e a ampliação do palácio (ficando o

velho e o novo interligados, ficando este conhecido

pelo paço das damas.

******* (1)- A festa do convento dos Arrábidos, realizava-se no dia 7 de

Outubro, e nele se encontrava a cabeça do mártir S. Baco, que tendo sido soldado romano, e convertido à devoção cristã, sucumbiu aos açoites ordenados pelo feroz Imperador Maximiliano.

*1739 a 1768 - Nos livros da Paróquia, nestes

anos consta a folhas 105, 110 e 116, que foram

registados três casamentos, na Igreja Matriz, de três

holandeses com mulheres portuguesas.

(No primeiro consórcio, foram padrinhos o Conde

de Óbidos e Monteiro-Mor do reino de D.

Francisco de Melo; e, no segundo, também D.

Francisco de Melo e João Pedro de Melo Teles).

*1745 – 24 de Junho, chegaram a Lisboa,

Falcões com destino à Falcoaria de Salvaterra,

vindos da Ilha de Malta. 10 anos depois, regista-se

a chegada de mais 60 da Dinamarca; 2 brancos e 58

de cor parda.

*1753 a 1792 – No Teatro da Ópera de

Salvaterra, foram cantadas 35 óperas, incluindo a

Artexeres, do maestro David Perez.

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47

(Este sumptuoso edifício foi inaugurado pelo D.

José, não se sabendo a data certa).

*1759 – 13 de Janeiro, quando de a execução

horrorosa da família dos Távora, que foi a um

sábado, o rei D. José, encontrava-se em Salvaterra,

a gozar as delicias do exercício da caça, pois tinha

partido de Lisboa a 11, entre festejos, por ter

escapado ao atentado em 1758.

*1761 – 28 de Fevereiro, foi em Salvaterra, que

o rei D. José assinou a ordem de confiscar os bens

dos Jesuítas.

*1777 – Em Março, encontrava-se a gozar as

delícias do ameno clima de Salvaterra, achando

pior das chagas profundas, que lhe apoquentavam

as pernas, ordenou a todos os médicos, se

juntassem na sua presença, afim de os ouvir sobre

tão grave moléstia, e qual os remédios que teria de

usar, não tendo ficado satisfeito com as opiniões ali

proferidas. Em Fevereiro do ano seguinte morria.

*1778 – 22 de Fevereiro, já elevada a rainha D.

Maria I, esteve com toda a corte, em Salvaterra,

numa jornada de caça.

*1784 - Em 12 de Fevereiro, com o tempo de

Primavera, D. Maria I, estava em Salvaterra, aqui

assinou o alvará que providenciava de modo que as

enjeitadas não fossem parar a casas suspeitas e

desonestas e mandou que se prendessem os

aliciadores dessas donzelas.

*1788 – 29 de Janeiro, casaram na Capela do

Paço Real de Salvaterra, o Duque de Lafões e D.

Henriqueta de Menezes, filha do Marquês de

Marialva. Celebrou o ato, o Cardeal Patriarca de

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48

Lisboa e foram seus padrinhos, a rainha D. Maria e

o príncipe D. José, que viria falecer a 13 de

Setembro desse ano.

*1800 – Agosto, a Câmara, a Nobreza e o Povo

de Salvaterra de Magos, pediram a D. João, que

socorresse os habitantes da vila, que estavam

atacados de febres intermitentes, que por ali

grassava. O rei, por intermédio de Pina Manique,

mandou que para Salvaterra, fossem médicos,

remédios, alimentos e roupas. Num outro

carregamento, foram remetidas 500 garrafas de

água de Inglaterra, e uma arroba de quina, para os

enfermos.

*1818 – Na noite de 27 para 28 de Setembro,

cerca das duas horas da madrugada, o povo de

Salvaterra, acordou aos gritos de fogo!... Fogo no

Palácio!... Quase sufocada com o fumo, deu pelo

sinistro uma pobre família que ocupava o quarto

debaixo, correspondente à sala dos archeiros. Não

obstante o pronto empenho das gentes da vila,

apenas se pode salvar a Capela e a Casa da Ópera.

*1819 – 5 de Janeiro, João Santos, havia pedido

licença para se retirar de Salvaterra, segundo ele,

por ser sitio apoquentado por surtos de sezões

devido às águas dos pauis e, rogava para Lisboa

que se ordena-se aquém devia de entregar as chaves

de todo o edifício, e lembrava os nomes de Dr.

Francisco Ricardo da Fonseca e, do seu irmão

António Nunes da Fonseca, Capitão-mor, “muito

capazes da boa conservação e respeito daquele

Paço”.

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49

*1823 - No fim do ano, D. João VI e D. Miguel,

estavam em Salvaterra. Dali, quis a rainha D.

Carlota Joaquina que D. Miguel fosse incógnito a

Lisboa para ser aclamara Co-Regente do Reino

com o filho (1).

*1824 a 1831 – A Comenda de Salvaterra, esteve

na posse da Condessa da Ribeira Grande, que a

Administrava em nome de seu filho, o Conde do

mesmo nome. Durante esse tempo, pagou 4$888

*******

(1) – Segundo João Batista Gouveia, em “Policia Secreta”,

nos tempos de D, João VI.

réis de contribuição por cada ano. Dos Príncipes

mais amados do povo, depois de D. Sebastião, foi

D. Miguel, tão popular que, encarnava o ribatejano

destemido, toureiro e cavaleiro audaz.

Este Infante, que frequentava o Paço real de

Salvaterra, amiúdas vezes durante o ano, batendo a

charneca caçando animais de pelo, como lebres,

veados e javalis. Sua popularidade levou-o a que o

seu tipo brincalhão, na cerimónia do beija-mão ao

Rei D. João VI e à Rainha Carlota Joaquina,

manda-se soltar um touro no Paço, espalhando na

sala a confusão e o terror, rindo D. Miguel e os

outros jovens fidalgos a “bandeiras despregadas”

com esta traquinice.

*1824 - Noite de 28 para 29 de Fevereiro,

havendo um ensaio no Teatro do Paço de

Salvaterra, o Marquês de Loulé, que assistiu e

retirou-se mais cedo, apareceu morto, dizendo-se

Page 50: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

50

que a sua causa foi política, ou por amor, pois foi

próximo das instalações dos quartos das Donzelas.

Os adversários de D. Miguel propalaram que foi

morte política, o que a família do Marquês não

aceitou. Nesta zona existia, a Quinta da Murteira,

com uma praça de touros, e nela tinha residência,

D. Miguel. Com a guerra civil dos Liberais e

Absolutistas (D. Miguel e seu irmão D. Pedro), daí

a conotação da morte do Marquês de Loulé, que

havia de entrar nela, como morte política.

Tal agitação que sacudia o País, desde a

revolução de 1820, também o declínio de

Salvaterra de Magos, era um fato emergente, dado

o apoio que a população sempre deu a D. Miguel.

*1833 – 30 de Janeiro, o Almoxarife do Palácio

participou ao Conde de Basto, que só faltavam os

reparos dos telhados das enfermarias dos cavalos,

e umas escadas no Quartel da Cavalaria, e algumas

obras no Palácio da Falcoaria. Por fim, pedia o

conserto dos telhados do Teatro da Ópera, que se

achava em ruínas. A Galaria das Damas, era ligado

ao Palácio por um corredor em arco; e as nove

cozinhas, estavam reduzidas a algumas chaminés.

*1858 – 11 de Novembro, com o terramoto,

desmoronou-se o paredão da fachada do Palácio,

que caiu aos pedaços até meia altura.

*1862 – As ruínas foram arrematadas em haste

pública. Demoliram-se então os grandes paredões e

aproveitou-se a pedra e a caliça para as ruas e

estradas do concelho.

* 1897, Estando em obras a Igreja Matriz, estava

aberta ao culto a Capela Real. “Por nascer, dois

Page 51: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

51

meses depois de seu pai ter morrido – um menino,

muito debilitado de saúde, recebeu o nome daquele;

João Lopes Rodrigues, sendo baptizado, naquela

Capela, foi seu padrinho, o campino; Joaquim

Ramalho, que ostentou as insígnias religiosas de

Nossa Senhora da Piedade. O menino; em 1944,

era avô materno do autor destas linhas – José

Rodrigues Gameiro.

************

********

*****

DATAS HISTÓRICAS DO SÉC. XX

*1909 – 23 de Abril, o terramoto aqui ocorrido,

cujo maiores estragos se sentiram na vizinha,

Benavente, tendo Samora Correia, também sofrido

alguns danos, causado duas mortes. Muitas

habitações, sofreram graves fracturas, tendo

algumas delas de serem demolidas. Os prejuízos

foram avaliados em 92. 647$000 réis.

*1912 – Sob a iniciativa do benemérito e

lavrador; Gaspar da Costa Ramalho, foi inaugurado

o edifício do Hospital da Misericórdia de Salvaterra

de Magos.

*1912 – 15 de Junho, neste dia foi concedido o

Alvará de Sindicato – Associação de Classe dos

Trabalhadores Rurais de Salvaterra de Magos.

Page 52: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

52

*1916 – 1 de Setembro, neste dia foi concedido o

Alvará de Sindicato – Associação de Classe dos

Marítimos de Salvaterra de Magos.

*1920 -1 de Agosto, é inaugurada a Praça de

Toiros de Salvaterra de Magos (construída por uma

comissão de homens de boa vontade, que a

ofereceram à Misericórdia local).

*1934 – Neste ano, ficou concluída a obra da

Barragem de Magos “Obra de Melhoramento

Hidroagrícola do Paul de Magos”, sendo a primeira

do género do país. Tem uma altura de 15 metros e

cujo desenvolvimento de crista é de 700 metros.

*1935 – 6 de Outubro, é criada a Casa do Povo

de Salvaterra, sendo a sua primeira sede instalada

na rua Cândido dos Reis (antiga rua S. António),

numa casa cedida por Gaspar da Costa Ramalho, já

em 1942, foi transferida para edifício próprio,

construída em terreno cedido pelo município, na

atual Avª. Dr. Roberto Ferreira da Fonseca.

*1937 – 24 de Novembro, é fundada a Associação

Humanitária dos Bombeiros Voluntários de

Salvaterra de Magos, tendo a sua primeira

instalação na Avª. José Luís Brito Seabra.

*1938 – No dia de reis, foi fundado o Grémio

Artístico Salvaterrense, teve a sua sede na Trav. do

Forno de Vidro, e em 1947 deu origem ao atual

Clube Desportivo Salvaterrense.

*1939 – No dia 39 de Outubro, ficou oficializada

a existência da Banda de Música, nos Bombeiros

Voluntários de Salvaterra. A sua origem vem na

sequência de um grupo de rapazes, quatro anos

Page 53: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

53

antes, em Agosto, terem formado um conjunto,

para saírem a tocar no 1º de Dezembro.

*1941 – Neste ano foi feita a reconstrução (devido

ao ciclone), da Praça de Toiros, pela família do

Conde Monte Real (Jorge de Melo e Faro e sua

esposa D. Tereza Castro Pereira Guimarães de

Monte Real). Na corrida comemorativa do

acontecimento, dignou-se assistir o Presidente da

República, General Óscar Fragoso Carmona.

*1948 – No dia 28 de Novembro, foi inaugurada

a rede de distribuição de luz eléctrica a Salvaterra

de Magos.

*1951 – No dia 24 de Junho, é inaugurada a rede

domiciliária de abastecimento de água, com estação

elevatória, à vila de Salvaterra de Magos.

*1952 – No dia 9 de Outubro, é criada

oficialmente a Sociedade Columbófila

Salvaterrense, que deixou de pertencer, como

Secção do Clube Desportivo Salvaterrense

(10/12/1948), tendo este hobby por sua vez vindo

da Delegação de Salvaterra, da Sociedade

Columbófila do C. Centro de Portugal (Lisboa), em

13 de Maio de 1932.

*1956 – Em 1 de Junho, é inaugurado

provisoriamente o edifício do Mercado Municipal,

no local denominado “Canto da Ferrugenta”, o que

existia era a céu aberto em frente aos Paços do

Concelho, e já vinha do último quartel do séc. XIX.

*1960 – No dia 4 de Outubro, foi inaugurado a

Estação dos C.T.T., nesta vila ( no local, existiam

casas térreas, onde estava um oficina de ferrador).

Page 54: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

54

*1975 – No dia 20 de Julho, é inaugurado o

Parque Infantil, sendo a sua construção obra de um

grupo (homens e mulheres) de entusiastas, onde a

população local aderiu, especialmente contribuído

com donativos (1).

*1978 – Em Julho, no dia 21 é inaugurado

oficialmente a Chesal – (Cooperativa de Habitação

Económica de Salvaterra de Magos- SCARL).

* 1979 – No dia 12 de Fevereiro, uma forte

ventania, com cerca de 100/kms hora, destruiu a

parede lado norte, tendo caído o teto, da Capela da

Misericórdia, nesse dia ainda persistia uma cheia,

que durava há dias. Tempos depois, com as obras

local, foi levantada a cota da estrada, alindado o

espaço, tendo parte do “Botaréu” desaparecido.

********

(1)– Apontamentos Nº 19 da Colecção “Recordar, Também é

Reconstrui” - Autor

*1979 – Em 8 de Setembro, teve lugar a

cerimónia da inauguração do Parque de Campismo

do Escaroupim.

*1980 –No dia 10 de Junho, inaugura-se o

edifício, que viria a servir de Posto da Guarda

Nacional Republicana – Salvaterra de Magos.

*1986 - No dia 20 de Julho, foi inaugurada a rua

Profª Natércia Rita Assunção.

*1991 - O dia 28 de Maio, foi escolhido para

comemorar o centenário da “Farmácia Carvalho”.

A família proprietária, celebrou o acontecimento

com um almoço, onde estiveram, também

empregados, e alguns amigos íntimos.

Page 55: Salvaterra Magos  * Vila Histórica no Coração Rbatejo (3ª edição)

55

*1994 – É inaugurada a rua Cap. Salgueiro Maia

(Urb. Pinhal da Vila), na cerimónia, esteve presente

a viúva do homenageado.

*2001 – No dia 7 de Abril, foram inauguradas as

Piscinas Municipais, as obras custaram meio

milhão de contos – mais do dobro do valor

inicialmente previsto.

*2006 - 4 de Novembro, foi inaugurado, um novo

edifício, para “Mercado Diário” da vila.

******************

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BIBLIOGRAFIA

Livros e publicações consultadas para a presente

brochura:

*Anais de Salvaterra de Magos …………. 1959 (Transcrição)

*Jornal Aurora do Ribatejo (Benavente)

*Jornal Vida Ribatejana (Vila F. Xira)

*Revista “A Hora”…… edição de 1939 e 1966

*Revista “Branco e Preto”…………….. 1897

*Boletim da Junta Geral do Distrito de

Santarém – Nº 48 ……………………. 1936

*Boletim da Junta da Província

do Ribatejo ………………………….. 1940

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*Subsídios para o Estudo da Santa Casa

da Misericórdia e Salvaterra de Magos 1970

*O Paço Real de Salvaterra de Magos

(A Corte * A Ópera * A Falcoaria) …... 1989

*Subsídios para a História da Falcoaria

em Portugal, da Separata do Boletim

da Sociedade de Geografia de Lisboa,

C.M. / Baeta Neves ……. ……………. 1983

* A Propósito de Caça: Dr. João Maria Bravo

* Textos, escritos pelo autor e publicados em

diversas publicações como: Jornal Vale do Tejo

FOTOS USADAS:

* Fonte do Arneiro – foto do autor - Planta

de olhos de água, vila de Salvaterra, 1788 - Pág. 7

*Largo dos Combatentes – 1958 foto autor Pág 10

*Planta Salvaterra de Magos - 1788 Pág.13

*Pedra “Albergaria da Misericórdia” …… Pág.15 (encontrava-se na parede Rua Direita) foto 1985

*Altar da Capela Real ………………….. Pág.19 (do livro “Salvaterra de Magos e o Paço real)

* Francisco Costa, indicando o local

da Casa da Ópera – foto 2001 - autor Pág.21

*Desenho da fachada do Palácio, e da

Capela Real – extraído do painel do

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57

Milagre da Horta Del-rei…………… Pág. 22 (do Livro: ”Salvaterra de Magos e o Paço Real)

* Frente da Capela Real – foto 1955 ….. Pág. 22

* Interior da Capela Real - colunas

(do livro: Salvaterra de Magos e o Paço Real) …. Pág. 22

*Palacete do Barão de Salvaterra, séc. XIX Pág. 23

(Família Roquette)

*Palacete do Conde Almada – Brasão … Pág.23

*Palacete da Família Conde Monte Real .. Pág 23

* Quadro (Painel Azulejos) morte do Conde

de Arcos * Legenda ……………….. Pág 24

*Pombal existente no edifício

da Falcoaria – foto de 1985 – autor …… Pág 25

* Palácio da Falcoaria, depois das obras Pág 25

* Cenário da Peça, que inaugurou o Real

Teatro de Salvaterra ……….. Pág 26 (do livro: Salvaterra de Magos e o Paço real)

* Casa de madeira - Pescadores Escaroupim Pág 27 (Livro: Os Avieiros – Nos finais da década de

Cinquenta – Maria Adelaide Neto Salvado)

* Casa do Monteiro-Mor – foto 1945 ….. Pág 30

*Coche da Infanta Benedita – séc. XVIII – Pág. 33 (Museu Nacional dos Coches – Internet)

*Edifício da Câmara Municipal – 1995 ….. Pág 57

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