salvaterra de magos, crÓnicas do nosso tempo - i volume

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  • 7/23/2019 SALVATERRA DE MAGOS, CRNICAS DO NOSSO TEMPO - I VOLUME

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    I VOLUME

    SALVATERRA DE

    MAGOS

    Textos publicados no Blogue:www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt

    Autor

    JOS GAMEIRO(Jos Rodrigues Gameiro)

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    SALVARERRA DE MAGOS

    Cronicas do Nosso tempo

    Tipo de Encadernao: Brochado

    Autor: Gameiro, Jos

    Editor: Gameiro, Jos Rodrigues

    Edio: Papel Papel A 4, e Sistema PDF

    Morada: B. Pinhal da Vila Rua Padre Cruz,

    Lote 64 -1

    Localidade: Salvaterra de Magos

    Cdigo Postal:

    2120-059 Salvaterra de Magos

    ********

    * Tel. 263 505 178 * Telem. 918 905 704

    Abril 2015

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    FOI APENAS UM SONHO !...

    Tudo comeo em setembro de 2007. A ideia deusar as redes sociais, fervilhava, e tantas

    memrias havia de um tempo , que se entrelaa

    com a histria de Salvaterra de Magos.

    Autodidata, como sou, desde h muito guardava

    experincias, que ningum j l, porque no

    tempo que passa aborrecido folhear um livro.

    Um dia veio a oportunidade o meu sobrinho;

    Cludio Gameiro, abriu o blogue

    http://www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt foi o

    espao ideal para escrever textos cujo titulo,

    nem sempre se ajusta, ao espirito da CrnicaDo Nosso Tempo. Para mim, o mais importante

    era que o conto fosse um dilogo com o leitor,

    onde a crnica numa linguagem simples e

    espontnea, de fcil entendimento.

    Nunca pretendi uma literatura de histria, quealis no pretendo nem sei dominar. Alguns

    anos j passaram desde o seu incio, e para que

    no se perca os textos que foram escritos, no

    blogue, vou guard-los a seguir nas pginas

    deste livro.

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    O leitor, decerto aqui vai encontrar em jeito de

    conto simples, no de fbulas, no, e porquetendo num ou noutro assunto bordejado o

    patrimnio, a cultura, toda a a riqueza da

    etnografia das gentes que fazem parte do

    concelho, de Salvaterra de Magos, ele est mais

    rico na sua abordagem.

    Os textos aqui inseridos andam na rea das

    crnicas de um tempo, que o meu, mas

    decerto so formas contar o viver de um povo,

    que o meu, onde me sinto bem, pois andei no

    terreno, e registei os seus saberes que conservo

    no meu pequeno acervo. Talvez, at sejampequenas estrias de uma grande histria que

    veem de muitos sculos, como a origem desta

    terra. Sempre tive a noo, das minhas

    carncias - foi apenas um sonho de um auto-

    didacta. por vezes no assentavam da melhor

    forma para um trabalho que exigia melhorpreparao acadmica. Assim peo aos meus

    litores, a necessria benevolncia.

    Ano: 2015

    Jos Gameiro

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    I

    N 2

    03/Setembro/ 2007

    O CONVENTO DE JERIC

    ( ou de N S da Piedade)

    Sendo um pequeno texto, este Apontamento dedicado aoConvento de Jeric, que tinha como patrono: Nossa Senhora daPiedade, construdo sob a gide dos Frades Arrbidos.

    O Convento, abarca uma cultura religiosa que o povo deSalvaterra de Magos, desde incio adaptou, estendendo-se

    mesmo para l da Lezria ribatejana. Quando do aparecimentonas bancas do novo dirio lisboeta, OCorreio da Manh CM,acedemos a colaborar com os seus jovens jornalistas, AdrianoOliveira, e Hermnio Clemente, numa srie de reportagens., sobreesta zona ribeirinha do Tejo.

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    Um foi responsvel pela escrita, o outro pela fotografia, ambosforam inexcedveis, no seu carinho com este povo de Salvaterra

    de Magos., pois tudo queriam saber, do seu passado e dopresente. A primeira reportagem sada no dia 3, do Novembro de1985, esgotou, mesmo reforado o nmero de exemplares para

    os leitores desta vila. Sabe-se, que a existncia do convento

    Jeric, foi de: 1542-1834, e a sua construo foi custeada peloInfante D .Luiz, filho do rei D. Manuel I., sendo vendido os seuspertences em 1843, Mais tarde, em 2001, uma outra reportagem,sobre o mesmo Convento, foi levada a cabo pelo jornalista, MrioGonalves, do j extinto Jornal do Vale do Tejo - J VT, comredaco nesta terra, a que tambm dei a minha colaborao.

    ********Nota Extratos: retirados do Livro N22 da Coleco

    "Recordar, Tambm Reconstruir" do Autor

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    Anexo:O CONVENTO DE JERC

    Reinava em Portugal D. Manuel I, D. Henrique, o seu quinto filho,estava em ascenso na vida religiosa em Portugal, entre as suasiniciativas conta-se a Universidade de vora e a vinda para o pasda Ordem Religiosa dos Jesutas. O seu irmo D. Luiz, teve comoprofessor Pedro Nunes, andou pelos mares em guerra, veio acasar em segredo, nascendo do matrimnio D. Antnio. o Prior

    de Crato, mais tarde rei de Portugal. Estava-se a meio do sculoXVI, D. Luiz manifestava-se muito religioso, fundou na provnciada Arrbida, um Convento, cujos Frades eram seus protegidos.Veio a construir um outro Convento mais pequeno, entreSalvaterra de Magos e Benavente. Rezam algumas crnicas, queestando em terras baixas, todos os anos era inundado pelasguas das cheias invernais. Depressa escolheu um sitio maisalto, e em 1542, e aproveitou as terras mais altas, para aliconstruir o novo convento, sob os auspcios dos FradesArrbidos, Uma construo austera, com terrenos de semeadurae rvores, fechado com um muro de construo muito bruta, comgrandes cunhais a suport-lo. D Luiz dedicou-o dedicou-o aNossa Senhora da Piedade, j eleita na Capela do Pao real davila de Salvaterra., mesmo estando em terrenos do concelho deBenavente. Ali possua os seus parcos aposentos, passando

    grandes temporadas em pleno retiro religioso. O topnimo de S.Baco O Mrtir, vem da Europa, e j conhecido no sc. XIV, certo, que estando instalado no caminho entre aqueles dos,concelhos, segundo estudos de Francisco Betmio de Almeida (1),

    *******(1)- O Convento de Jeric (1542 1834) * edio CmaraMunicipal de Benavente

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    ali naquele caminho tambm se realizavam as feiras. que nacapela existe uma imagem daquele santo, que os povos deBenavente e Salvaterra, guardam ao longo dos sculo, a suavenerao, pois acreditam na sua proteco.

    A converso e servir uma pureza dos Frades Arrbidos,cativou alguns naturais de Salvaterra de Magos, naquele estudohistrico de Betmio de Almeida, encontramos: Joo Lopes (nome

    religioso: Fr. Joo da Piedade - 1789), Antnio Pedro Xavier Baeta(1793), Jos Joaquim Maia (Fr. Jos de Jesus Maria 1793), Josde Sousa Machado (Fr. Jos de Santa Rita 1795), Fr. JosSoriano (1821); Este, numa pesquiza que estvamos fazendo nosarquivos de Santarm encontramos a seguinte certido, debito:

    Aos 31 dias de Janeiro de 1878, s dez horas da

    manh, numa casa sita na rua do Pinheiro, desta

    freguesia de S. Paulo da vila e concelho de Salvaterra

    de Magos, faleceu Jos Soriano de Souza, eclesistico,

    presbytero, de idade de 78 anos, egresso da extinta da

    extinta de Santa Maria da Arrbida, natural desta

    freguesia, onde era morador, filho legitimo de Joaquim

    de Souza, lavrador, e de Dona Luiza Xavier de profisso

    domstica, naturaes desta freguesia: o qual no fez

    testamento e foi sepultado no cemitrio pblico desta

    vila

    Socorrendo-nos novamente, do trabalho de Betmio de Almeida,este concluiu que depois da extino dos Concentos Arrbidos,Jos de Sousa, foi capelo da Misericrdia de Salvaterra. Com a

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    morte deste religioso deve ter desaparecido o ltimo frade quefoi do Convento de Jenic.

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    Realmente em 30 de Maio de 1834, conhecida a lei queextingue as Ordens Religiosas, em Portugal, Os frades; unscaminharam pelo mundo, fazendo caridade, outros ficaram-sepelas igrejas das terras vizinhas. A Junta de Crdito Pblico,

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    mandou avaliar e recebeu o resultado sindicncia em 22 deMaro de 1842.

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    A Ranha D. Maria II, assinou a autoriza a venda daquele imvel,como prdio rustico e urbano, que foi religioso. Logo a seguir

    aps a extino , houve grande depilao do seu rico patrimnio.Em vrios documentos ainda se escreve que esto em Benaventee Santo Estevo, como o caso da Custdia que est na suaCapela.

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    Numa visita que ali fizemos para o jornal, CM Correio da

    Manh, acabado de aparecer nas bancas, com redaco emLisboa, vimos junto a uma das suas paredes, vrias pedrastumulares, que pertenceram ao cemitrio do antigo Convento.

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    Anexo:

    S..BACOO MRTIR

    O culto do mrtir ter sido trazido para Portugal, pelos Fradesda Ordem de S. Francisco. S. Baco, nome que os cristos lheatriburam, sendo um soldado romano convertido f catlica,era considerado cristo novo. Por tal converso, foi executadopela ordem que estava em vigor de Maximiniano, Governador de

    Roma, perseguio que vinha de dois trs sculos depois deJesus, ter enviado os seus discpulos pelo mundo.

    No sc. VII, com a construo do Convento dos fradesarrbidos, a crendice popular acentuou-se nos milagresoperados por S. Baco , passando este a ter os seus devotos. Ocrnio deste Santo, sendo uma relquia aos olhos do povocristo, representa uma imagem que faz obrar milagres.

    Em Salvaterra, o Infante D. Luiz construiu o Convento, nodeixou de ali de fazer uma pequena Capela, onde a imagemdaquele Santo era venerada. Durante sculos, e ainda nos diasque correm consagrado o grande desgnio Quem junto de sivier com f, servio, mas quem junto de si vier, e leve nocorao blasfmias, S. Baco no perdoa Os seus seguidores

    devotos ainda o dizem !...Desde tempos que se perdem, nas memrias, todas as

    quartas-feiras, e no dia de Quinta-feira de Ascenso de cada ano,os povos de Benavente e Salvaterra, e at de paragenslongnquas, ali vo fazer preces, pedindo cura para os seus malese dos seus familiares. Tempos houve, que ali pediam proteco

    para as suas colheiras e animais. Conta-se que um dia,

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    quiseram levar a imagem de S. Baco, para Benavente, e o carrode bois que transportava a imagem, foi-se enterrando no

    caminho, com a deciso de voltar a coloca-lo no seu pequenoespao, tudo voltou normalidade, e o povo cantou louvores.Conta-se que anos houve, que os crentes para recordaomexiam na sua policromia, que foi ficando gasta. Num tempo emque ajudamos nas reportagens ali efectuadas para os Jornais CMe JVT, o pequeno espao da capela, ainda continuava a estarrepleta de fotos de militares soldados que estiveram nas trs

    frentes de guerra ultramarina, e rplicas em cera de membros,como: mos e ps

    Os seus crentes, oferecem azeite, fazendo queima de velas.para a imagem esteja sempre acima das trevas. Na visita quefizemos para o Jornal Vela do Tejo, tivemos ocasio de ver umavoluntria, lavar toda a policromia com vinho branco.

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    II

    N 3

    03/Setembro/2007

    AS SUAS GEMINAES"UMA ALIANA DOS NOVOS TEMPOS "

    As obrigaes a pagar pelo povo, foram um fardo pesado paraquem recebeu regalias atravs de trs Forais concedidos vilae concelho de Salvaterra de Magos. A imigrao de povos,especialmente da Flandres, no sul de Frana, muito veioenriquecer o seu campo cultural. Sculos depois, outros

    imigrantes chegaram da Holanda, foram os Falcoeiros.

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    Nos sculos XIX e XX, os cagarus/varinos e avieiros, vindos da

    Murtosa (Aveiro) e da praia de Vieira de Leiria, como pescadoresque eram, formaram duas comunidades distintas uma da outra.

    A permanncia das gentes das Beiras, que para a Lezriaribatejana vinham trabalhar nos campos, todos os anos, aqui sefixavam, especialmente as mulheres, fazendo famlia.

    Num entrelaar os seus usos e costumes,todos enriqueceram o j vasto patrimnio que enraizava nasorigens das gentes salvaterriana. Nos tempos modernos, terGmino perpetuar a amizade com os povos, como: Vieira deLeiria (Marinha Grande) e Valkansuaard (Holanda), e disso, setm encarregado os seus autarcas do concelho, com os vrioscontratos de Amizade.

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    III

    N 4

    03/Setembro./2007

    A ORIGEM DASPOPULAES DO CONCELHO

    " suas razes"

    Quando se tem ao dispor, um punhado de documentos, frutode uma recolha iniciada na dcada de cinquenta do sculo queagora findou, tudo se torna mais fcil

    No ano de 1997, integrado naequipa do Jornal Vale do Tejo,foi

    um retomar de uma j longacolaborao na comunicaosocial. Nesta fase, dei letra

    alguns assuntos, que guardava sobre a histria do povo doconcelho de Salvaterra de Magos. Uns anos antes j tinha usadoalguns deles, nas minhas crnicas, semanais na RdioMarinhais. Nos artigos publicados, no JVT,

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    tinham um formato jornalstico, agora neste apontamento decrnicas, sob um contedo literrio com fotos de

    acompanhamento, tento unir todo o concelho, pensando dar aconhecer melhor as povoaes de Marinhais, Muge, Glria doRibatejo e Granho, nas suas razes demogrficas e geogrficas,alm das culturais. Foros de Salvaterra, tem nesta Crnica umapontamento em sntese, visto j lhe ter dedicado a edio de um

    livro- Subsidos para Histria de Foros de Salvaterra, sendo oseu contedo resultado de uma grande investigao no terreno.As origens e formas de vida, incluindo as suas prprias culinriasde cada povo fazem-nos diferentes, mesmo vivendo no mesmoconcelho, mas influenciados alguns por viverem prximo daborda-dgua, outros nas terras de charneca.

    **********Nota: Extrado do Caderno N 23 da Coleco "Recordar, Tambm Reconstruir"Do Autor

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    Aexo:

    1 FacebookJos Gameiro

    Janeiro/2015

    GUARDAR A SUA CULTURA

    - Freguesia de Salvaterra de Magos -

    O rio Tejo, na sua margem esquerda, mesmo ali na sua bacia comterras de aluvio deixou crescer a povoao de Salvaterra deMagos, minha terra-me. uma vila e concelho no corao daLezria ribatejana, remontando a sua origem ao ano de 1295, comforal de D. Dinis.

    A cultura do seu povo, temrazes de sculos na vidado campo. Um roteiro, peloconcelho leva-nos a visitaras vrias etnografias doseu povo, Todas elas uma

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    Uma afinidade, so gentes do Ribatejo. O Campino, guardador degado bravo em dias de festa, mostrando o colete encarnado/ou

    azul, calo ao joelho, com meia em l, desenhada e barreteverde. No peito, mostrava o ferro da casa agrcola, ondetrabalhava, calava sapato cardado.

    O O Campons/Camponesa, aqueles que trabalhavam terra,pela fora braal, onde a enxada e a foice lhes calejavam asmos, quer nos trabalhos da cava da terra, quer na ceifa.

    Na cava da terra, o cabo daenxada, bem curto, com oferro de testa larga e fina,qual faca afiada cortando aterra de aluvio, ou aquelaarenosa bem seca, fazendo

    dobrar os costados, o dia inteiro, de nascer ao por do sol, emmovimentos bem marcados, pela voz do mandador, que empasso cadenciado, marcava o terreno e os golpes da enxada. Nocalor do vero, o suor correndo a face mostrava a raiva de vidato penosa.

    O homem,

    usava barretepreto, ainda nosanos 30/40, dosc. XX, depoisveio o chapu eo bon. A cala e colete de cotim, com bota cardada, onde alngua dobrada, resguardava os ps da terra. A mulher, de saia

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    comprida at ao tornozelo, de chita franzida na cintura, at aotornozelo, tinha 4 panos fazendo o

    rodando. Quando necessrio levant-la, vinha ao joelho, seguranas pernas por uma cinta preta, fazendo balo nacintura e perna.

    A blusa de riscado, com pregas no peito, fazendo fole, e umavental e xaile, com leno e sapato cardado. Ao domingo e em

    dias de festa, vestia saia de castor, vermelho e meia branca del. Toda sua roupa de trabalho, tinha influncias das gentesbeirs, especialmente da Beira Litoral, com os ranchos quevinham fazer trabalho sazonal, j conhecidos no sc. XIX, agoratudo pertence ao passado desde o dobar do sc. XX, tempo damecanizao do campo. O Rancho Folclrico da Casa do Povo deSalvaterra de Magos, o seu resguardo.

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    2 FaceboockJaneiro 2015

    Jos Gameiro

    - Aldeia do Escaroupim

    amos debruar-nos um pouco mais sobre a etnografia da comunidade depescadores que vive da riqueza do Tejo. Ele, o rio, vem calmo no vero,

    mas com

    guas revoltosas

    no inverno, que provocam

    cheias nas suas margens, que acabam por lhe dar riqueza De Espanha,quer chegar ao mar em Portugal, onde os lodos de guas salobras(mistura de gua doce com gua salgada) do mar da palha, ondealimentao frtil para as aves, espreguiando-se um pouco mais frente no Oceano. No seu percurso depois de passar o estreito rochoso deMarvo, encontra espao aberto em Abrantes e Constncia para sealargar nos campos do Ribatejo, onde encontra a Lezria, no seu lado sul.Aqui as terras, de aluvio. do fartura as populaes de Vale de Santarm,

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    Chamusca, Goleg ,Salvaterra de Magos e Vila Franca de Xira, O Ribatejo,como provncia existe desde a sua criao em 1936,e a diferena so

    tamanhas, com as suas terras a caminho da Beira, onde a oliveira, fazparte do seu tecido econmico em contraste com a campina ribatejana.Esta provncia tem aqui e ali, pequenas diferenas de costumes. Um lugarcomum o campino - esse garboso guardador de gado bravo - o toiro. Emterras de Salvaterra de Magos, na margem do rio, ladeando a Mata do sc.XIII, encontramos o Escaroupim.

    Uma comunidade de pescadores, um dia vieram da Praia de Leiria, at ao

    Tejo. Porque no datas precisas, Francisco Rodrigues Lobo, conta numseu romance, que um pescador do Lena, morreu afogado, em 1622, no Tejo.

    Pela safra do Svel eram vistos por aqui ao longo do rio, desde Alfangeat Sacavm, prximo do rio Tranco, j na primeira dcada do sc. XX.

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    As famlias, viviam nas pequenas embarcaes de pesca. Depressa pora comearam a construir pequenos ncleos de barracas de madeira e

    canio. O Escaroupim, foi uma das margens escolhidas.

    Longe vai esse tempo, que as aldeias no Vale de Santarm, Caneira,Alfange, Valada, Reguengo, Casa Branca, Vau, Conchoso, Vala do Carregadoe Vila Franca de Xira. Passou a conservar a cultura etnografica daquelagente vinda de Vieira, atravs dos Ranchos Folclricos. Os pescadores do

    Escaroupim em 1985, comearam a mostrar as suas danas j com algumainfluncias das gentes da Lezria, atravs de um Rancho Folclrico.

    Este era uma presenapermanente no RestauranteTpico Ribatejano, na vila,,perante visitantes, que em dia

    de folga dos Congressos emPortugal, que aqui passavamum dia. Ali tambm, nodeixavam de mostrar as

    danas das suas origens, aos domingos e feriados.

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    3 Faceboock - Janeiro/2015Jos Gameiro

    - Freguesia de Foros de Salvaterra -

    - A histria da freguesia de Foros de Salvaterra recente. Eraum terreno, que pertenceu Coutada Real da vila. A Rainha D.Maria II, em 0000, vendeu a cada real, aquele terrenos, foramcomprados por particulares e iniciou-se o seu aforamento. Opovo que desbravou a terra demato e charneca, veio daterra-me, Salvaterra deMagos, nascia assim os Foros

    de Salvaterra. As famlias, aliinstaladas levaram econservaram os seus usos ecostumes, hbitos que foramsofrendo as necessrias adaptaes aos tempos, at porque asterras eram secas, as searas de sequeiro adaptavam-se bem Deinicio (em tempos remotos), naquelas paragens apenas existam -

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    as terras dos "Coelhos", "Ameixoeira" e "Magos", mas um sculopassado aps o aforamento, apareceram espaos urbanos como:

    Estanqueiro, Vrzea Fresca, mais tarde terrenos que receberamo nome de "Califrnia", entre outros, l para os lados da Albufeirade Magos. O povo predominantemente rural, usava paratransporte da comida a cesta de verga ( conhecida comoRaposa), porque em tempos recuados, era naqueles utenslios,que levavam, os animais de pelo, inclusive as raposas capturadas.

    No transporte usava o burro,

    ou as grandes caminhadas ap, com o alforge ao ombro,ou na anca do animal. Para adormida no campo, a mantalombeira, era uma pea

    que se entendia no cho, o seu nome vem do guardador degado/ou campino, a transportar no lombo do cavalo.

    No vesturio do homem, conservou a Jaqueta e cala de cotim ebarrete preto. A mulher saia de chita, com uma roda de 4 pano.Franzida na cintura. A saia de castor vermelho e meia de l, erausada aos domingos e dias de festa. O sapato de sola cardada atao ortelho. A blusa, de panoriscado com bolsafranzida no peito. Umavental com dois longoslaos atados nas costas.Leno na cabea, com duaspontas atadas no cimo dacabea. No inverno, o xaile cobria o peito e as costas. Mesmolentamente, o homem no dobrar do sc. XX, via-se a usar bon ouchapu preto. Da carroa e burro, o transporte passou bicicleta. A sua etnografia, tem sido guardada pelos

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    agrupamentos folclricos existentes em Foros de Salvaterra eVrgea Fresca. Ainda nos anos 50 do sculo XX, os casamentos,

    eram na Igreja Matriz de Salvaterra de Magos, a comitivadeslocava-se em grandes cortejos de carroas, onde o barulhodos guizos das bestas se confundia com os toques de acordon,contratado para animar a festa.

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    Nora: Extrado do Livro Subsdios para a Histria dos Foros deSalvaterra Do Autor

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    4 FaceboockJaneiro 2015Jos Gameiro

    - Freguesia de Muge -

    Ao continuarmos a nossa pesquisa sobre a etnografia do

    concelho de Salvaterra de Magos, em Muge sentimos um Ribatejodiferente. Esta povoao umlimite geogrfico do concelho. Osromanos andaram por ali edeixaram vestgios, que chegaramaos nossos dias. Desde o ano 1304passou a ter Foral. D. Dinis mandou

    povoar aquelas terras, q sentimosum Ribatejo diferente. Esta povoao um limite geogrfico doconcelho. Os romanos andaram por ali e deixaram vestgios, quechegaram aos nossos dias. Desde o ano 1304 passou a ter Foral.D. Dinis mandou povoar quesentimos um Ribatejo diferente. Estapovoao um limite geogrfico do concelho. Os romanosandaram por ali e deixaram vestgios, que chegaram aos nossosdias. Desde o ano 1304 passou a ter Foral. D. Dinis mandou povoar

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    aquelas terras, que depressa pertenciam Abadia de Alcobaa,mais tarde algumas delas foram trocadas e ficaram pertena da

    vizinha povoao de Valada. Na sua origem medieval, o seu nomevem da lenda da tainha Mugem, peixe muito abundante nos seusribeiros e outros pequenos cursos de gua, que tinham destino orio Tejo.. A riqueza dos seuscampos, quer aqueles que ladeiamaquele rio, ou mesmo as ribeiras,que nos indicam estarmos perto

    da charneca, passaram a ter novodonatrio ps-restaurao de1640 A Casa Cadaval. Depressapassou a instituio agrcolapoderosa no meio do um Riba-tejo, onde os seus trabalhadoresse confundiam entre vrias origens, j que a maioria delesvinham em ranchos de homens e mulheres l das Beiras, e algunspor c ficavam formando famlia, ocupando mesmo os terrenosconhecidos por Foros de Muge, e a nasceram espaos urbanos;como o Granho e Marinhais. A cultura do povo de Muge ainda no

    dobrar do sec. XX,mantinha as roupasbeirs dos seusantepassados. Eracomum na mulher o leno

    na cabea, com saialevantada atravs de umacinta, especialmente nos

    trabalhos dos arrozais. Nos dias de festas populares, mesmoapoiadas pela Casa Cadaval, da qual dependiam no trabalho esustento, danavam Viras e Corridinhos ribatejanos,entrelaados com os cantares da Beira baixa. A sua etnografia,

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    era parca de motivaes culturais e com o decorrer dos tempos,no deixou razes em qualquer agrupamento folclrico.

    A sua maior riqueza no campo patrimonial, est nos Concheiros,onde as primeiras pesquisas da pr-histria, foram encontradas

    em meados do sc. XIX.

    O seu valor arqueolgico regista a ocupao humana quepassa pelo Homo Taganus, e encontram-se nas vrias estaesarqueolgicas, agora patrimnio nacional.

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    5 FaceboockJos GameiroJaneiro/2015

    - Freguesia do Granho -

    Nos Post(s) publicados at aqui, coube agora a vez sobre aetnografia da freguesia do Granho .Estava a iniciar algumas

    buscas, e surpresa a minha,Rosa Gomes, que h muitovinha fazendo umlevantamento sobre a

    origem da sua terra-natal, oGranho. De imediato nodeixou que de me

    presentear com um livro de sua autoria, com cerca de centena emeia de pginas.- mesmo sendo curiosa destas coisas como eu,no deixa de trazer luz memrias histricas das gentes

    grenhense. Tal edio, d-nos a conhecer alguns estudos sobre a

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    origem daquela povoao. Contribuiu para o enriquecimentodeste nosso trabalho de pesquisa, e para conhecimento de todos

    que gostam destas coisas. de histria dos povos, que um diavieram at s terras medievais do Riba-tejo. Os contos brejeirosdo povo simples da sua terra ali esto para que perdurem notempo. A monografia, "Histria Tradio, Gentes" est cheia deinformaes de um tempo que enche de saudades qualquer umque no se resigna a perder as tradies daquela gente que um

    dia povoou as terras que um dia foram os Foros de Muge. ORancho Folclrico do Granho, guarda e divulga os seus cantarese danas, alm das crendices populares.

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    6 FaceboockJos GameiroJaneiro/2015

    - Freguesia de Marinhais

    Vamos continuando o roteiropelas terras do concelho,

    fomos da borda de gua, noEscaroupim at s terras dacharneca. Aqui chegados,vamos conhecer um pouco da

    povoao de Marinhais. As suas terras, no dobrar do sc. XX,

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    ainda eram trabalhadas pela fora braal das famlias,, sendo desequeiro, cada pedao era conhecida por Fazenda. Toda estavasta rea, que foi dos Foros de Muge, conhecidos j em 1875,vai at Gloria e Granho, so terras areno arenosas, comafinidades com a charneca. As primeiras ainda recebem os aresda humidade da bacia do Tejo e algumas ribeiras, que os beneficiapara a cultura da vinha. No entanto na sua origem de povoado,por ali existia os Camarinhais (empetceos, conhecidas por

    Camarinhais). Com o decorrer dos tempos deu origem aMarinhais, para consumo familiar e dos animais, os poos degua eram abertos junto s casas de habitao. O Pinhal eEucaliptal, depressa tambm p0assou a parte do rendimento

    daquele gente. Marinhais, d-nos mostra que a sua origem talcomo em todo o Ribatejo, a mo obra camponesa, vinha emranchos da regio centro e mais para baixo da Beira Litoral. Aquiso conhecidas, que vieram de Soure, Cantanhede, Figueira daFoz, Montemor e Pombal. Na sua cultura lingustica, ainda seencontram ligaes queles locais. A etnografia na mulher, atmeados do sc. XX, mostrava-nos a saia comprida, avental, blusa

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    e leno atado na cabea. No homem, vem desde o barretepreto, colete, cala tapando a bota., passando pelo chapu at ao

    bon. Com o decorrer dos tempos, nas dcadasde 50/60, j como freguesia em 1927, o homempassou a usar bon. E o transporte de carroa eburro, foi substitudo pela bicicleta. Marinhais,com o seu crescimento demogrfico passou aVila desde 1985. As danas e cantares dos seusantepassados, foram guardadas pelo Rancho

    Folclrico Os Lusitanos, que se iniciou nos anos 60, tendosucessivas mudanas, agora apresenta-se como: Grupo deDanas Os Lusitanos, continuando a divulgar a etnografia daterra.

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    7 - FaceboockJos Gameiro

    Janeiro/2015

    - Freguesia de Glria do Ribatejo

    De Marinhais, Glria

    do Ribatejo um salto. A

    separar estas duas

    povoaes existe a linha

    do caminho de ferro,inaugurada no tempo do

    rei D. Luiz. Glria, d-nos

    mostra que os seus terrenos j so de charneca,

    onde a pedra de seixo predomina.

    O seu povo at meados do sc. XX, vivia

    marcadamente da agricultura. Os mais jovens

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    trabalhavam jorna, e o campo de Vila Franca de

    Xira, absorvia-os em ranchos para trabalhos de

    quinzena. O fim de semana, era ocupado nas suas Fazendas/ Foros (pequenas reas de terra), onde

    a seara de sequeiro predominava, desde que deixou

    de pertencer aos Foros de Muge. Uma outra fonte de

    rendimento era o sobrado (grandes manchas de

    sobreiros), onde o

    eucalipto e o pinhal

    j mostrava

    grandes manchas

    no terreno. Na

    alimentao da

    famlia, alm do

    porco, a cabra e a ovelha estavam a par com os

    galinceos, que existiam num pequeno aramado

    junto habitao. A etnografia do povo gloriano tem

    a particularidade, de ser diferente dos demaisribatejanos,

    especialmente os da

    borda de gua. Na

    sua cultura, a

    lingustica, tem

    despertado ao longo

    dos tempos grande

    interesse de investigadores e escritores. Dentro entre

    muitos nomes, decerto; Celestino Graa, Alves

    Redol, Dr. Peral Ribeiro, Idalina Serro sobressaem.

    A povoao da Glria, j tem alguns sculos,

    despertou interesse ao rei D. Pedro I. No ano de

    1362, foi edificada a sua igreja, povoao est

    ligada a Lenda de D. Pedro, daquele monarca

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    recebeu privilgios e isenes. Nos dias que correm

    mantem viva a suas tradies ancestrais, om

    venerao Nossa Senhora da Glria. No dobrar dosc. XX, ali houve grandes transformaes, com a

    instalao nos seus terrenos do emissor da RARET.

    A povoao tem uma extenso de cerca 10 mil

    hectares . De incio era charneca, mas depressa o

    povo a trabalhou, e apareceram os pequenos talhes

    que mostravam, vinhedos, trigo e centeio. Na forma

    de vestir e falar, nota-se ainda nas geraes mais

    velhas, o seu particular falar, sem igual em todo o

    Ribatejo. Os vesturios homem, mulher e criana,

    especialmente beb/menina, que mantiveram

    durante dcadas. Agora so os agrupamentos

    folclricos da terra, que os preservam. Nas danas,

    chama-nos a ateno alguns elementos danarem

    descalos.

    Aqui terminamos a visita simblica s 6

    freguesias, do Concelho de Salvaterra de Magos,

    onde tentamos com utilizar textos por ns

    compostos, algumas fotos do nosso lbum e outras

    que retiramos do Youtube.

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    IV

    N 5

    03/Setembro/2007

    HOMENAGENS E INAUGURAES

    Ao longo dos anos da minha vida, fui assistindo a inauguraes ehomenagens, umas mais do que outras organizadas com pompa ecircunstncia, sendo os momentos e os protagonistas, o espelho

    das mesmas. O ser humano, por vezes manifesta-se parco emagradecer, tem dificuldade mesmo no reconhecer o mrito dasobras, de um seu semelhante que, s vezes at um seuconterrneo. Nesta terra, quantos esto ainda espera doreconhecimento pblico, pelas obras, que prestaram comunidade onde esto inseridas.

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    Muitos at, sofrem a ingratido que lhes passa ao lado, com

    origem nos poderes pblicos, mas tm pelo menos o

    reconhecimento da famlia e dos amigos, que souberam respeit-lo, sabendo muitas vezes, que dedicaram uma vida a uma causa.

    Neste trabalho, certamente no vou abarcar todas asinauguraes e homenagensque, decorreram num certo perodode tempo, na vila de Salvaterra de Magos. Mesmo as cerimnias,que foram levados a cabo quando do Congresso Mundial deAntropologia, nos finais do sc. XIX, realizadas na cidade do Portoe, cujos membros ao visitarem Salvaterra de Magos, sede doconcelho e, as estaes pr-histricas, em Muge, foram alvos depomposos festejos, no cabem neste pequeno espao, pois terolugar num Apontamento prprio.

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    **********Nota: Do Caderno N 18 da Coleco "Recordar, Tambm Reconstruir!

    A CONSTRUO DE UM HOSPITAL

    O terramoto de 1909, deixou a vila de Salvaterra de Magos emsituao de grandes carncias, sendo notria no campo daassistncia mdica e hospitalar, a antiga Albergaria (1), tinhadesaparecido e a populao da vila de Salvaterra de Magos,lamentava aquela necessidade. Um homem bomda terra - Gasparda Costa Ramalho - fez recair sobre si, as despesas daconstruo de um novo edifcio hospitalar e, no decorrer do

    empreendimento, foi secundado por um outro benemrito daterra Francisco Lino.

    Os esforos levou sua inauguraono ano de 1912, e apopulao do

    concelho, passou autilizar uma moderna unidade de cuidados mdicos hospitalares,que depois da solenidade da ocasio, foi oferecida Misericrdialocal. Os festejos, especialmente as sesses de agradecimento,decorreram sempre sem a presena do homenageado, pessoa

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    que tudo fazia para no estar presente, nos actos onde tivessetido a oportunidade de colaborar.

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    (1) - Albergaria: Primitivamente Tambm conhecida por Mercearia

    A LUZ ELCTRICA NA VILA

    No ano de 1948, deliberou a vereao camarria, em reuniopblica, apoiar uma proposta do presidente, para que os festejosda inaugurao da luz elctrica, projectada para o dia 28 deNovembro, fossem levados a efeito com o maior brilho possvel.Convidadas entidades oficiais que, foram recebidas nos paos do

    concelho, por uma guarda de honra de bombeiros e de campinos,das casas agrcolas da terra, depois foi-lhes servido um Portode Honra, no salo nobre dos paos do concelho, extensivo aomuito povo presente nesta recepo oficial.

    Aos indigentes e pobres, foi distribudo um bodo, at ao valorde quinhentos escudos, suportados pela municipalidade,

    conforme constava no programa da festa.

    Naquele dia, uma cabina em cimento,construda pela Hidro Eltrica do AltoAlentejo (HEAA), instalada na E.N.118,junto ao matadouro municipal,forneceu luz eltrica vila de

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    Salvaterra de Magos, eram onze horas da manh. A inaugurao,por ser uma necessidade, a populao, acorreu dando louvores e

    palmas, com a sua banda de msica e, fez-se uma largada depombos-correio, a completarem o evento festivo..

    ALEXANDRE VARANDA DA CUNHA

    (Barbeiro e Fotografo Amador)

    Alexandre Cunha, desde menino foi encaminhado pelos paispara a profisso de Barbeiro, pois sendo aqueles trabalhadoresrurais, sabiam quanto era penosa a vida no campo. O Alexandre,Barbeiro, como carinhosamente era tratado, anos mais tarde,quando prestou servio militar, foi enfermeiro. Naquelaactividade, teve oportunidade de lidar com produtos qumicos, eali veio a interessar-se pela fotografia.

    De regresso a casa, estabelecido nasua profisso, comprou uma maquinafotogrfica e, para alm de praticar umhoby, passou a ser o fotgrafo da terra.A populao a ele recorria, para asnecessrias fotos de crianas em dia de

    aniversrio, como tambm as pequenas destinadas aos

    documentos oficiais, especialmente: Bilhetes de Identidade.

    Tempos depois tem outra mquina, uma Kodak e com elaobteve fotografias de tudo quanto era stio, da sua terra natal Salvaterra de Magos. J com o peso dos anos, a Cmaramunicipal, no esqueo o seu desempenho cvico, e homenageou-o, acompanhado de uma exposio de fotos do seu vasto esplio

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    que era deveras grande. Mais tarde ofereceu grande parte aoDepartamento da Cultura da Cmara Municipal. Com a

    Restaurao em grande desenvolvimento na terra, nos ltimosanos da segunda metade do sc. XX, e inicio do sc. seguinte,raro era a sala que no tivesse uma antiga foto dos seusnegativo. ,Alguns originais em vidro, ofereceu-os-me, quando lhefiz uma entrevista sobre a origem do Clube DesportivoSalvaterrense, pois.enquanto jovem, muito se interessou por estacolectividade, tendo mesmo pintado o seu emblema. No deixou

    de me oferecer uma foto, onde meu pai Jos Gameiro Cantante,empregado camarrio, postado com um animal que servia para acarroa da recolha do lixo, em frente ao grande porto do antigoJardim pblico,

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    V

    N 6

    03/Setembro/2007

    AS CHAMINSDAS COZINHAS DO ANTIGO PAO REAL

    Quando criana brinquei dentro delas !..O Antnio Lopes, filho de um dos donos da propriedade, e eu,quantas vezes atravs de uma escada de madeira, nospenduramos naquelas fortes barras de ferro.!..

    Estvamos em 1949, havia obras no local, o RestauranteRibatejano estava em construo e, afinal aquelas grandes casasonde brincvamos, eram as trs chamins das cozinhas do antigopalcio real de Salvaterra de Magos. Na minha adolescncia, noedifcio camarrio, entre muitos documentos que li, um medespertou grande curiosidade, pois tinha a haver com o palcioreal de Salvaterra de Magos:

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    dientro en los palcios real es del dicho Lugar de Salvatierra

    estando hi presentes el muj nobre e mij alto claro prncipe SorD. Fernando por la gracia de Dios Rej de Portugal e delAlgarbe....

    Com o decorrer do tempo, as calamidades, a incria dos homens,foram factores que contriburam para o desaparecimento de umvasto patrimnio monumental, que a vila de Salvaterra de Magos

    possua e , agora os poucos existentes se podem contar nosdedos de uma mo. Estas antigas construes, mesmo

    encontrando-se no rol dos monumentos de utilidade pblica, daterra, desde 1958, no deixaram de sofreu descuidos na suaconservao. Disso , prova, o dano, que muito abalou aexistncia, daquelas chamins, visveis nos trabalhos

    preparativos de uma nova urbanizao de prdios, umaautorizao no mandato autrquico, de Cristina Ribeiro, e dissofoi dado publico relevo, pelo ento Jornal Vale do Tejo

    ********Nota:: Extrado do Caderno N 16 da Coleco "Recordar, Tambm reconstruir"Do Autor

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    VI

    N 7

    03/Setembro/2007

    OS DIAS QUE SE SEGUIRAM AOTERRAMOTO DE 1909

    Quando criana ocasionalmente ouvia falar do terramoto, poismuitos anos se tinham passado, os estragos causados napovoao estavam recuperados, ou tinham desaparecido.

    No entanto a curiosidade era muita, pois existia um marcodaquela poca, uma escola primria na vila, tinha algumainformao. Os traumas, esses no, mas a gerao, que o viveuestava em declnio, os que ainda se lembravam, como JosCaleiro, Joaquina Mendes, Francisco Costa e Rosa Mendona,pessoas a rondar os 100 anos de vida.

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    Dele me fizeram algum relato, em 1986, para mais viveram achegada a esta vila, do rei D. Manuel II, que aqui veio visitar os

    seus estragos. A emoo espelhada nas suas palavras, quandodescreviam as cenas de pnico que a populao viveu.,especialmente a urbana, pois a rural, quela hora aindatrabalhava nos campo. Jos Caleiro, homem que esteve na Iguerra mundial (1914-1918), com uma descrio topormenorizada quanto possvel, at porque veio do campo, a p,

    chegando uma hora e meia depois, vila, quando doacontecimento sismolgico, encontrando as muitas habitaesdestrudas, como constam descritas em documentao queconsultei, quando me debrucei sobre o assunto.

    ******* *******( *) Guardo, as suas informaes em gravao udio, bem como de

    outros que, outra viso sobre o assunto tinham, nas suas memrias.

    ********Nota: Do Caderno N 17 da Coleco "Recordar, Tambm Reconstruir!do Autor

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    VII

    N8

    3/Setembro/ 2007

    FONTES E FONTANRIOS

    J l vai meio sculo, quando menino, lembro-me um dia,minha me, mulher jovem na flor da idade, comigo arrastado pelobrao, em grande correria, entre a multido, que se dirigia parao novo Depsito de gua, na estrada que vai para Coruche.

    Era dia de festa em Salvaterra deMagos, algumas ruas estavamengalanadas, campinos e os bombeirosfizeram uma parada junto ao edifcio dospaos do concelho, onde o povo assistiu sesso de boas vindas, aos convidados.

    A cerimnia terminou junto aqueleDepsito, pois estava-se perante umadas maiores inauguraes do sc. XX, na vila, que era oabastecimento e distribuio de gua ao domiclio. Uns anosantes, j as ruas estavam a receber canalizao de "lusalite", degrande dimenso, em valas previamente abertas, fora braalde muitos homens. A maioriadas habitaes j estavam prontasa receber o to precioso abastecimento, que at ali era retirado

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    em muitas Fontes naturais ou Fontanrios, construdos eabastecidos de furos artesianos, ao longo dos sculos. e, os

    furos a jorrarem gua para o depsito, horas depois ashabitaes da vila estavam abastecidas. Uma nova condio devida foi dada populao.

    Os festejos, aps algumas palavras apropriadas aoacontecimento, a cerimnia festiva findou com a ligao dosmotores Uns tempos depois, um grande Depsito de gua,construdo na dcada de 30, ali no espao da frente da antiga

    Fonte de S. Antnio, que abastecia atravs de um furo, um ncleode habitaes em redor da Igreja Matriz e do edifcio municipal,comeou a ser demolido.

    *****************

    **************

    Nota: Extrado do Livro N 16 da Coleco "Recordar, Tambm Reconstruir!"do Autor

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    VIII

    N 903/Setembro/2009

    CHESAL " COOPERATIVA DE HAB. SOCIAL

    Nos meus tempos de criana, talvez de 4/5 anos, ia a p, demadrugada para casa dos meus avs maternos, para os Quartos,pois meus pais j estavam a caminho dos trabalhos do campo.

    Os Quartos, eram pequenas habitaes, de telhado com telhade canudo (telha portuguesa), onde algumas tinham apenas duasdivises. Algumas eram divididas com paredes, feitas comsacos, que tinham servido para batatas, ou adubo, depois deabertas e cosidas umas s outras, recebiam vrias camadas de

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    cal, ficavam espessas. A, viviam casais com filhos de ambos ossexos. Um dia, apercebi-me que minha av, foi mercearia pedir

    papel e jornaisvelhos, pois tinha de calafetar tudo quanto erastio, onde no pudesse entrar uma nesga de luz.

    Comentava-se entre apopulao, foram ordensda cmara, pois a vila

    seria sobrevoada poravies militares, umexerccio nocturno,desde Tancos at Alverca do Ribatejo. Estvamos no comeo daaviao, integrada no exrcito portugus. Os Quartos, aquelaspequenas casinhas, perduram ainda nos dias que correm.

    Um quarto de sculodepois, tive o privilgiocomo dirigente, no CentroParoquial, ajudar o padreJos Diogo, que aoconstruir bairros sociaisem Salvaterra de Magos,

    deu um forte contributo, para acabar com as muitas barracas,que existiam na vila.

    Aps o golpe militar de Abril de 1974, o povo uniu-se por todo opais, e o desenvolvimento verificou-se em todos os campos.Em Salvaterra de Magos, na rea da habitao, num grupo

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    encontrou e condies para levar a cabo a iniciativa doaparecimento da Chesal- Cooperativa Habitao Econmica de

    Salvaterra de Magos. Com o apoio municipal, uma Comisso Pr-Cooperativa de Habitao, em comunicado informou a populaodos seus desgnios. Algum tempo depois, no Notrio, foi feitaescritura pblica da Chesal, foram seus autorgantes: MrioFerreira Duarte, Jos Antnio Ferreira da Silva e Manuel PedroPinto Pereira. Com 100 associados inscritos numa primeira fase,

    as construes iniciaram-se num vasto terreno da zona daCoutadinha e as primeiras casas foram distribudas, no dia 11 de

    Julho de 1988, no meio de grandes festejos

    **************

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    Nota: Extrado do Caderno N 21 da Coleco "Recordar, Tambm

    reconstruir"do Autor

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    IX

    N 1010/Setembro/2007

    A ARTE SACRA DA PARQUIA DE

    SALVATERRA DE MAGOS

    Antes de visitar o museu (em criao), na Igreja Matriz, voltei

    a reler o meu esplio documental e fotogrfico, que venhoacumulando j h mais de 50 anos.A Igreja, um templo que datada fundao da povoao (1296) e, foi arrolado no inventrio dadevoluo parquia de Salvaterra de Magos, atravs daPortaria 4.978 de 2 de Agosto de 1927, depois de muito tempo empoder do estado, por via da confiscao feita, por fora do

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    decreto-lei de 20 de Abril de 1911, quando da implantao darepblica em Portugal, em Outubro de 1910 Tal devoluo foi

    concretizada em 22 de Janeiro de 1928, depois de vriasreunies entre a Junta de Freguesia de S. Paulo de Salvaterra deMagos e Corporao Fabriqueira Paroquial de S. Paulo, deSalvaterra de Magos.

    A Igreja Matriz

    um edifcio religioso, construdo por volta de 1296, Tem torrecom relgio e uma superfcie coberta de 823 m2. Confronta aNorte com o Largo da Igreja, a Sul com a rua Nova de S. Paulo.Durante muitos anos, a sua aba do lado Sul, servia de residnciae sacristia do padre dafreguesia. Em 1945, com

    a chegada do Pe JosRodrigues Diogo, esteprovidenciou aconstruo de uma novaresidncia casa paroquial. No dobrar do sculo XX, o Pe. Diogo,ordenou algumas obras no interior do templo, foi retirado umavedao em ferro e pintado o tecto com a imagem de S. Paulo. No

    decorrer das obras, foram colocadas vista na zona do altar,algumas pedras tumulares. O adro do lado Norte, foi aproveitado,acrescentando espaos para salas.

    Na minha visita igreja matriz, pode apreciar dentro dotemplo, a existncia de uma pequena capela, onde estdepositado a imagem do senhor morto, bem como prximo do

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    altar, dois pequenos frontes, que albergam; lado direito:Sagrado Corao de Jesus, lado esquerdo: Imaculado Corao de

    Maria/ou N S de Ftima.

    O tecto da nave principal, de uma beleza extraordinria,com uma grande pintura de S.Paulo, rodeado de anjos.

    O seu espao interior tendouma boa sonorizao, ali nos

    ltimos anos tm cantado alguns coros, em espectculosespeciais, acompanhados do seu rgo de tubos, do sc. XIV,recentemente recuperado. A sua torre, com azulejos de corazul, so recentes (1983), substituram outros da mesma cor, ali

    colocados no sc. XVII, e do seu primeiro relgio, com numeraorabe, que substituiu em 1956, um outro de numerao romana,ali instalado, quando do sismo de 1585.

    No seu museu (em formao) esto, catalogadas cerca de 100peas: imagens, quadros, livros e objectos litrgicos, algunspertencentes antiga capela real, como: Imagem de Nossa

    Senhora da Piedade; Quadro do Milagre da Horta D`el- Rei e umaoutra pintura, referenciada como um Milagre em Benavente.

    Tambm se podem apreciar, duas imagens da Piet (N S como filho nos braos), sendo uma delas considerada nica em toda aPennsula Ibrica. O boletim municipal O Foral , editado pelo

    http://fotos.sapo.pt/jgameiro/pic/000180ew/
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    municpio, em 1995, quando da comemorao dos 500 anos davila e concelho de Salvaterra de Magos, publicou um texto da

    autoria de Leonel Nunes Garcia(*).

    Por ser um documento raro, que trata do patrimnio da

    freguesia de Salvaterra de Magos, no campo da arte sacra, emanexo a este texto se transcreve

    Antiga Capela Real

    A antiga capela real, quando da sua devoluo casaparoquial, foi descrita como: Prdio urbano de uma nave e setedivises, com uma poro de terreno anexo, murado que,antigamente na ltima serventia serviu de cemitrio, com cercade 840 m2, e tendo frente do edifcio uma faixa de terreno comum gradeamento de ferro., com 91 m2 * Superfcie coberta: 285

    m2,

    Este edifcio religioso confrontaao Nascente, com edifcio ,(que foida casa real) e esteve na posse dedescendentes de Roberto Jacob daFonseca; ao Sul com a antiga Hortadel-rei, que foi pertena de Antnio

    Jos Ferreira da Silva, e por venda passou para a firma ManuelVieira Lopes, Sucrs, Ld, passando agora aos seus herdeiros. Nolado Poente, confronta com edifcio que foi de Antnio Jorge deCarvalho, depois passou a seu genro Antnio Henriques de SousaAntunes, agora pertena dos descendentes deste. Nos nossos

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    dias, mesmo com o prestgio que ainda goza no mbito daarquitectura nacional, aquele templo mostra-nos um espao

    vazio sem vida, sendo usado para os servios municipais, mesmosendo catalogado, como monumento de interesse pblico. Desde1958, periodicamente ali se realizam algumas exposiesculturais.

    Capela da Misericrdia

    Este templo, descrito como prdio urbano, composto de umanave e oito divises, com superfcie coberta de 230 m2,confrontando do Norte com a vala, Sul com Joo Oliveira e Sousa,Nascente com rua de Baixo e Poente com rua Direita.

    Nesta capela, tem guarida a imagem de Nossa Senhora daConceio, qual a populao ainda lhe venera grande devoo,

    pois todos os anos promove umaprocisso, que percorrealgumas ruas da vila, no dia 8 deDezembro. Neste templotambm existe em localapropriado a grande imagem do

    senhor morto, que em tempossaia, quando das festas que se realizavam pela Pscoa. Osquadros, retbulos, que tapavam o seu tecto, desde 1979, ano dagrande cheia e tempestade, que destruiu grande parte do edifcio,deixaram de ser vistos, e ao que se sabe, esto a aguardartrabalhos de recuperao devido aos estragos sofridos (1).

    http://fotos.sapo.pt/jgameiro/pic/00014877/http://fotos.sapo.pt/jgameiro/pic/00014877/http://fotos.sapo.pt/jgameiro/pic/00014877/http://fotos.sapo.pt/jgameiro/pic/00014877/http://fotos.sapo.pt/jgameiro/pic/00014877/http://fotos.sapo.pt/jgameiro/pic/00014877/http://fotos.sapo.pt/jgameiro/pic/00014877/
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    Anexo

    SALVATERRA DE MAGOS DOIS CRISTOS DEMARFIM NA IGREJA PAROQUIAL

    As duas imagens que se apresentam no Museu Paroquial foramalvo de um artigo escrito por * Leonel Nunes Garcia, na RevistaMunicipal, uma edio com Editorial assinado pelo Presidente

    Dr. Jos Gameiro dos Santos.

    (*) Pelo seu valor histrico nico de descrio num artigo cheiode anlises comparativas, cativou-mos, e assim no deveramose no podamos deixar passar esta oportunidade de o inseriraqui, fazendo a sua total transcrio:

    *************

    (*) Instado a escrever sobre Salvaterra de Magospor amvel convite do Exm Presidente da CmaraMunicipal Dr. Jos Gameiro dos Santos, decidi-mepelo estudo de dois Cristos, sem dvida de facturaIndo-Portuguesa, presentes na Igreja Paroquialdesta vila.

    As duas imagens que se apresentam correspondem. A Fig 1 e Fig 2, e deste modo passaro a ser

    designadas por uma questo de facilidade deexposio. Resta a inteno de que estas notassirvam para dar a

    **********Jornal Vale do Tejo edio de 4.2.1999

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    conhecer duas peas, no s aos leitores a quem aarte Indo-Portuguesa interessa em particular,mas, e sobretudo, alargar o circulo de interessadosde uma arte que ainda h no muito tempo erapouco analisada e divulgada.

    A arte Indo -Potuguesa

    Os marfins que aqui nos interessa abordar,identificam-se pelas suas caractersticas estilsticascom a produo Indo-Portuguesa. Isto , trata-sede peas elaboradas por artistas ou artficesasiticos, em oficinas da Costa Ocidental Sul dandia, mais exactamente na Costa do Malabar,zonas de Goa e Cochim.

    As peas mais antigas desta arte remontam aosfinais do sc. XVI, contudo a sua produo maciadesenrola-se sobretudo nos sc. XVII e XVIII como incremento da missionao.

    A aventura portuguesa dos descobrimentos,proporcionou o entrecruzar de dois mundos, logo ainterpenetrao da arte portuguesa no mundoindiano e vice-versa

    Naturalmente repercusses ao nvel daproduo de imagens e de toda a arte sacra. Nos

    locais que eram conquistados pelos portuguesescriavam-se novas dioceses e Igrejas, motivando odesejo dos padres em dotarem os seus templos comtodos os objectos que o culto requeria, numaaltura em que as normas tridentinas e o fervorreligioso fomentava o culto das imagens.

    Para acudir necessidade crescente destaspeas, as ordens religiosas vergaram-se ao trabalho

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    dos artfices locais, fornecendo-lhes instrues eprottipos europeus, uma vez que nos deparamos

    muitas vezes com peas que acusam essa filiao,por exemplo, pela posio dos braos e torso;cendal curto e com laada ao lado, ps unidos porum s cravo e barba bifurcada espanhola.

    Esta prtica era veiculada pelos desenhos,livros, gravuras, imagens, medalhas ou estampasincludas em bblias ou catecismos. Uma das maiscuriosas caractersticas desta produo, encontra-se na omnipresena quase constante do cunho e

    valores artsticos locais.Ou seja, os artistas no conseguiram desligar-se

    dos valores artsticos que lhes eram intrnsecos,sendo por vezes visvel a afinidade, por exemplo dealgumas imagens de Cristo, com as representaesde divindades das religies locais, com traos deascetas e homens santos.

    As preocupaes ps-tridentinas, condicionaramos artistas nas suas fantasias levando-os a criarpeas destitudas de grande parte da sua naturalingenuidade, num trabalho em srie, o qual, apesardas sujeies que o encomendador impunha, noconseguiram evitar o carcter deste tipo deproduo.

    Anlise DescritivaAs duas esculturas representam Cristo

    crucificado morto, cabea descada sobre o seulado direito, olhos fechados e chaga aberta nopeito. Estas caractersticas diferem de uma outra

    variante iconogrfica, normalmente apelidada deexpirante (1), em que o crucificado surge

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    invariavelmente com () a cabea erguida () eolhos levantados ao cu () (2).

    Nas esculturas de Salvaterra as cabeas estobem proporcionadas abrindo-se em risco ao meiocontornando o crnio com belas madeixas quependem sobre os ombros.

    Na imagem da Fig 1,o cabelo assenta na fronteem ondas algo irregulares caindo sobre os ombros

    em madeixas diagonais ligeiramente onduladas.Na imagem da Fig 2, caem em elaborado

    zinguezague simtrico, um maneirismo peculiar deuma oficina ou no conhecida. Os cabelos espessosesto pintados de castanho-escuro e as barbas

    bifurcadas espanhola.

    O rosto docemente sereno na imagem da Fig 1,adquiriu na Fig 2,uma expresso mais dramticae pattica. As bocas entreabertas permitemobservar o minucioso trabalho dos dentes. Atente-se na imagem da Fig 1, em que Cristo estrepresentado com uma graciosa curvatura,reveladora do modo como a matria-prima e acurvatura longitudinal da defesa, condicionaram asua forma e o modo como este foi trabalhado.

    Na Fig 2, Cristo surge representado com o corpovertical e a cabea com ligeira flexo para a frente.Nas duas imagens os corpos acusam tratamentomuito naturalista, percebendo-se a constituiossea, a teno gerada nos msculos, veias etendes. As caixas torcicas foramconvenientemente marcadas (sendo mais

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    pronunciada na imagem Fig 2, por a posio dosbraos assim condicionar), bem como os ventres

    salientes em ogiva. Nos braos horizontalizadosda Fig 1, foram esboadas veias desenhadascaracteristicamente com linhas paralelas, enquantona Fig 2, apresentam-se convencionais e bemmarcadas.

    De notar algumas distores anatmicas naimagem da Fig2, para alm de pescoo e braos

    curtos, os dedos das mos dobradas, ajustam-seem mos demasiado pequenas.Mos e ps esto pregados nas cruzes com cravos

    balaustiformes. Os ps, unidos na mesma massa demarfim e a perna direita cruzada sobre a esquerda.Braos e pernas bem esculpidos e nos dedos osartistas mostraram alguma delicadeza aodiferenciar as unhas e separar os dedos, semcontudo esboar as falanges.

    Os cendais revelam um trabalho delicado, deorlas rendilhadas, sendo os panos sobrepostos eseguros por duas voltas de cordo torcidos eenrolados sobre a anca.Na imagem da Fig 2, a ponta solta e esvoaanteacusa um repuxo forado. Na da Fig 1, no existeponta, tendo-se perdido, mas os artifcios de

    encaixe com cavilhas atestam a sua existnciaanterior.No que concerne pintura, os dois Cristos

    apresentam-se parcialmente policromadosconfirmando as observaes de Bernardo Ferro eTvora, o maior tratadista de marfins Luso-Orientais quando diz: () os crucificados teriampolicromia () que se limitava a acentuar cabelo e

    barba (castanho escuro ou anegrados) e os traos

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    fisionmicos (olhos e boca), bem como os motivosda decorao dos cendais (frequentemente

    dourados). A pintura espectacular das feridas episaduras, sangue correndo e gotejando, etc.,afigura-se ser acrescento no coevo, daresponsabilidade dos hbeis encarnadoresmetropolitanos.

    (3) Esta definio aplica-se obviamente speas em anlise, sendo que a imagem da Fig 1,com policromia muito gasta e perdida temcuriosamente incorporadas algumas lentculasminsculas de vidro vermelho. A imagem da Fig 2,apresenta um exagerado colorido sanguneo eempastado a avolumar as feridas e hematomas.Sulcos de sangue escorrem das feridas,testemunhando o que as provocou a coroa deespinhos; os aoites, o peso da cruz sobre osombros e as sucessivas quedas a caminho do

    calvrio.

    Em suma, nas duas imagens interveio a mo deum mestre encarnador metropolitano que lheemprestou todo o realismo mrbido, to ao gostoda poca. Resta descrever as cruzes, acessrios epeanhas que lhes serviram de suporte.

    Fundamentalmente aparecem pregadas emcruzes latinas de assento (na poca seriam raras asde pendurar), com seco rectangular epobremente ornamentadas, tendo sido muitoprovavelmente executadas na metrpole.

    Na cruz da Fig 1, os rebordos so rebaixados e abase escalonada em dois pisos semioctogonaiscom molduras de tremidos, encontrando-se muito

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    danificada. A tabela uma filactera de latoprateado (?) de fabrico nacional com a clssica

    inscrio e desprovida de resplendor.

    A imagem da Fig 2, est fixa numa cruz demadeira castanha-clara de perfil moldurado. A

    base torneada em vaso, inteiramente lisa e semornamentos, assentando por sua vez numa peanhamarmoreada. Os adereos so uma tabela emfilactera gravada em placa de prata, com letrasformadas com atados de folhagem com caracterindo-portugus, e um resplendor com raioslanceolados a envolver a cabea de Cristo.

    Esta imagem insere-se num oratriometropolitano, cujo fundo revestido com umatela a leo nela figurando os chamadosCompanheiros do Calvrio (N. Senhora dasDores e S. Joo Evangelista), que ladeiam o corpo

    do Senhor Crucificado.

    Concluso

    A arte Indo-Portuguesa, pela falta dedocumentao coeva que a referencie, temconstitudo um grande problema ao pretendersitu-la no tempo. So muito raras as imagens

    datadas com base em documentao directa e sh conhecimento de um nico exemplar decrucificado com a data inscrita na pea.

    Torna-se difcil determinar com segurana otrabalho correspondente a cada oficina, dado que oconhecimento que se dispe das escolas-oficinasque produziram tais peas, escasso e os detalhesque poderiam eventualmente defini-las,

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    confundem o investigador e muitas vezes, acabampor se revelarem ilusrias. Esta situao obriga a

    fazer uma avaliao atenta das caractersticasiconogrficas e estilsticas e uma comparaocriteriosa com outras imagens nacionais, europeiase orientais, devidamente datadas.

    Quanto poca destas duas peas, parece devercolocar-se na 1. metade do sculo XVIII.Com efeito todo o caracter esguio quinhentista est

    ausente, ambas as figuras acusam uma ligeiramovimentao e quebra de rigidez corporal deseiscentos.

    Nota-se o abandono do tratamento esquemticoe o enriquecimento no lavrado dos cendais. Porltimo, as representaes de Cristo morto so maisfrequentes no sc. XVIII.

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    Fig 1 Cristo MortoIndo-PortugusDimenses:*Altura - 41cms*Comprimento:Braos 33 cms* LarguraPeito 18 cms*Espessurado Tronco 14, 2 cms

    ***************

    Fig 2 Cristo MortoIndo-PortugusDimenses:*Altura 22 ,5 cms*Comprimento:Braos 18 cms* LarguraPeito 12, 5 cms

    *Espessurado Tronco 10, 5 cms

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    N 1015/ Setembro/2007

    QUANDO HAVIA LOBOSEM SALVATERRA !

    No ano de 1972, estava um dia bonito de Primavera, ao cair datarde, um bater trs vezes na porta de minha casa, levou-me aentreabri-la. Um senhor, de idade avanada ,bem posto devesturio, apresentou-se e, aentabulmos um pequeno dilogoacompanhado de um apertar de mos.Era o escritor, Jos Amaro (Jos

    Amaro D`Almeida) natural de Almeirim,mas quando criana, depois da idade escolar, veio at Salvaterra,aprender o ofcio de Ferreiro, com seu tio Manuel Amaro que,tinha oficina de ferreiro (junto capela real). Na visita que mefez, ofereceu-me o livro Contos do Ribatejo, com umadedicatria, pedindo-me a sua divulgao, nos jornais,em que eu

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    colaborava na altura. Tambm me disse, que com ele tinhaaprendido ofcio, Jos Sabino de Assis, que mais tarde veio a

    ser um prspero comerciante, estabelecido junto torre daIgreja Matriz da vila, com loja de ferragens e drogarias,estabelecimento que ainda existe na posse da famlia.

    Jos Amaro, quando aprendiz do tio; Manuel Amaro, foi umprotagonista real, na oficina deste, onde tambm entrou um lobo,que em pequeno tinha sido apanhado pelo Ferreiro, em dia decaa, nos arredores da vila no que restava do pinhal domourros. Naquele tempo, aqui ou ali, ainda abundavam alguns

    lobos, rstias do que foi Coutada Real. O animal, estava a sercriado como um co, pelo mestre Manuel Amaro.

    **********Nota: Quanto a este acontecimento, Jos Amaro, descreveu-o muitos anos depois, em textos, publicados no jornal VidaRibatejana: Ns 2738,2739 e 2740 Dezembro de 1971 *Em 1972, foi editado em livro, pela Editorial OrganizaesLisboa * Uns anos mais tarde foi publicado, no JVT Ns 157 de17.12.1998N 158 de 7.1.1999N 159 de 21.1.1999 - N 160 de4.2.1999 e N 161 de 18.2.1999 (incompleto) * includo noCaderno N 15 da Coleco Recordar, Tambm Reconstruir, deJos Gameiro

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    XI

    N 11

    20/ Setembro /2007

    JOGOS, BENZEDURAS E PROVBIOSPOPULARES

    UMA CULTURA QUE SE PERDEU?

    Os Jogos

    A gerao que, viveu a sua infncia no aps a segunda guerramundial, aquela perteno, ainda conheceu muitas formas debrincadeiras e jogos, como: o Pio, o Arco, o Berlinde/ ou Boto,a Cabra cega, etc. Eram divertimentos populares, pelascrianas, especialmente os rapazes da vila de Salvaterra deMagos. A prtica dos jogos era na rua, era a o local de encontrodo rapazio. Os oriundos do povo rural, esses tendo contacto como campo, outros jogos aprendiam, como o jogo do Pau, e o daburricada. O jogo do Pote, tinha um tempo prprio, efetuava-senos dias de Entrudo (Carnaval), sendo praticando pelos adultos.

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    O Jogo do Bolto/ ou Berlinde - Os botes, tinham de ser dotamanho daqueles que se usavam nas calas. No caso dos

    Berlindes, utilizava-se as esferas vidro, usadas nas garrafas dasgasosas. Uma pequena cova no cho (que era de terra), cadajogador com o mximo de seis botes. O inicio do jogo, tinha deser distncia de duas passadas. Cada jogador jogava o seuboto/berlinde, em direco cova. O jogo continuava, sendo oboto/berlinde, jogado com o dedo mdio, largado do polegar

    com fora, batendo no boto/berlinde. Aquele jogador quecoloca-se o seu boto/berlinde, na cova, em menos jogadas,ganhava a todos os competidores os botes/berlindes, que setinham apresentado ao jogo.

    O Jogo da Malha, e do Chinquilho, foi um entretm dos adultos,que ainda praticado no concelho, especialmente na Glria do

    Ribatejo e Foros de Salvaterra.

    As Benzeduras, e Provrbios Populares,

    Naquele tempo a maioria do povo ainda era analfabeta, mesmocom a escolaridade obrigatria para as crianas a dar osprimeiros passos. Na ltima dcada, antes do dobrar o sculo

    XX. os Responsos e Benzeduras, como os Provrbios, faziamparte do uso normal na vida dos adultos, supersties vindas degeraes. Colaborava eu, no Jornal Aurora do Ribatejo, um dia de1968, fui junto de pessoas idosas - eram as ltimas geraes queos diziam, algumas mulheres por necessidade, algumas dalitiravam alguns dinheiros para aumentar os seus magros bolsos.

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    Outras, diziam-me no era bruxaria, mas guardam-nas nassuas velhas memrias. Eram ladainhas, que descansavam os

    espritos e muitas vezes punham a descoberto situaes, do arcoda velha. Nessa procura, encontrei Maria Ins e Maria Mendes,que me contaram: Andando alguma jovem em desgoverno desentidos e comportamentos, trazia a famlia, especialmente ame em sobressaltos, que procurava uma idosa mulher j commuita sabedoria destas coisas, e depressa com algumas rezas e

    benzeduras era descoberto a razo de tais percalos, na vidadas mooilasAlguns rapazes, tambm ali tinham apoio, mesmoquando torciam um p

    BENZEDURAS

    A Mulher, que fazia as benzeduras, colocava a moa entre as suas

    pernas, depois de fazer umas cruzes com a mo dizia em voz alta:- Se ela, embirra, e faz estragos Credo, Credo; decerto j tempelo na venta. Descubra-se quem a tenta!

    - Se os estragos so em dia de vendaval Ai, Ai: A moa, j temcoisa grande debaixo do avental !

    - Se a barriga da moa lhe faz passo manso - Que coisa, Quecoisa para usar leno! No preciso esperar, vai haver crianano bero !

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    PROVERBIOS

    TEMPO, EM RELAO VINHA

    - No So Tiago, pinta o Bago * Vai vinha em So Loureno, eenche o leno * No So Miguel, o vinho est no tnel * No SoMartinho, vai adega e prova o vinho !

    TEMPO DO ALHO

    - Se o queres no bacalhau, no tardes em seme-lo, No Natal jdeve ter bico de pardal ! *Algum tempo da Semeadura do Alho:-; tempo de matar caracol, curar couve, alface e alho *Crescimento: - No contes os dias da sua vida. Apanha-o, temtempo igual a uma barrigada * Tempo de vender: - Grita bem alto:Quem quer Alho, Quem quer,! bom na sopa, feridas da mo, e

    aproveita-o em tudo, at para o corao.

    MUDANA DO TEMPOINVERNO PARA A PRIMAVERA !

    - Desgrudar, a noite com o dia, tem sido enfadonho inverno *Hora vante j tem luz mas o calendrio, da primavera a 22 deMaro * Mas Janeiro fora, j d uma hora, e quem bem contar, no

    final, hora e meia h-de achar * Na mudana; Troveja, chove eenche o caneiro, decerto vai juntar o po com a vinha, e dar foraao sol, enchendo o celeiro.

    **********Nota: Extrado do Caderno N 24 da Coleco "Recordar,Tambm Reconstruir!do Autor

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    XII

    N 1202/ DE OUTUBRO / 2007

    RECORDAES NA PRAIA DOS TESOS(Agora Praia Doce)

    As cheias de Inverno, todos os anos faziam mudar o local dasareias junto quela propriedade do Minhoto, fazendo aparecer

    uma bonita praia de extenso arial. Da em diante, foi aquele arialusado pelo povo de Salvaterra e, passou a ser conhecido pelaPraia dos Tesos pois os mais abastados da vila, iam de abalada

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    todos os anos at Nazar, ou Figueira da Foz, ou mesmo para asTermas.

    UIM DIA PASSADO NA PRAIA DOS TESOS

    Rapaz que eu, era na altura, num daqueles dias de Domingo,dei comigo no sossego da frescura das sombras e, da gua quecorria de mansinho a registar a minha nova experincia estavana praia.

    Alguns para alm dos farnis, traziam apetrechos da pesca

    (cana, bornal e saca-peixe), afim de se dedicarem ao seudesporto, pois no local a fataa abundava em quantidade. Muitoperto, a escassos metros, algum gado movimentava-se parajunto de um pequeno regato, que se aninhava nas areias, afim dese sedentarem de uma noite passada ao relento. Uns atrs dosoutros, como em fila indiana, comearam a chegar maisbanhistas com seus amigos e familiares.e, num pice, toda a zonaconhecida pela Praia dos Tesos, estava cheia de vozes

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    humanas, que punham em desassossego a pardalada que, maltinha acordado.

    Nas primeiras horas alguns adultos aproveitavam para fazeruma colheita de pequenos paus e canas, que o rio nas suasmars depositava mesmo ali mo, a fim de comearem a fazerlume para as suas refeies que seria de frango assado, ou depequenas fatias de carne entremeada de porco assado nabrasa(1). Agumas crianas pelas mos dos seus vigilantes, iampara as areis brilhantes do rio, onde a mar j comeava amovimentar-se, a fim de aprenderem a prtica da natao, noentanto os mais tmidos choravam em altos gritos, no s pelagua fria, como tambm pelos grandes tufes que a rapaziadamaior fazia com as suas brincadeiras.

    Quase todos ospresentes, que no local seencontravam, escolhiam ahora do almoo entre auma e as duas da tarde.Assim ao som da msicade uma pequena telefonia

    e das anedotas, entre umas goladas do bom vinho dos campos daterra, a camaradagem era excelente e j ningum se lembrava dasemana que findou. Pela tarde dentro. uns dormem a sesta emcima de um cobertor, outros brincam no areal da praia com jogosde bola; outros ainda vo continuar na pesca, enquanto algumasmoas esto estendidas nas toalhas, afim de bronzearem a pele

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    num corpo a despontar para a vida. Quando o dia comeou achegar ao fim, o habiente at a calmo debaixo, das aprazveis

    rvores, entrou num rebolio total - os motores das motorizadase dos carros comearam a movimentarem-se para o regresso acasa.

    Muitos nem tm tempo de apreciar o grande bando de milhars,que mostravam o seu bonito colorido das penas e a melodia doseu cantar que, agora ao cair da tarde, vo entrando e saindodos ninhos feitos numa barreira do Moucho da Quinta da

    Saudade. Em pouco tempo, o local ficou deserto, na espera que

    no prximo Domingo, as areias da "Praia dos Tesos", voltam a serlocal de encontro.

    *************

    ***************

    ******* Texto publicado em 1976Jornal Aurora do Ribatejo eno Jornal Vale do Tejo2000 (1) - Petisco, que mais tardeganhou fama, em dias festivos, com o nome "Sardinhas deSalvaterra"

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    Anexo

    UM AVIO NA PRAIA DOS TESOS

    Estvamos em 1956, naquele dia, depois das aulas disputava-se um jogo com bola (de borracha) entre o rapazio da vala e osdas areias, Muitos rapazes jogavam descalos, pois o caladoeram coisa preciosa. Naquela tarde de vero, quando o jogoestava a decorrer eram pr ai umas 4 horas da tarde, umaavioneta de duas asas, comeou a voltear sobre os jovensjogadores, acabando por fim por se afastar l para os lados doTejo.

    Um pedao de tempodepois, apareceram emcima da ponte da valareal, dois homens vestidoscom fato de macaco, um

    capacete de cabedal fino na cabea, mas desapertado no queixo,

    uns culos vinham abertos em cima da cabea, por cima docapacete. Era gente de um outro mundo !.. Deixmos o jogo e,fomos ao seu encontro, queriam um telefone.

    Logo foram rodeados, e encaminhados taberna do CamiloMartinez (galego, fugido da guerra civil de Espanha), mesmo alijunto Capela da Misericrdia, l trataram dos seus contactos.

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    De regresso, um cortejo de rapazes acompanhavam aquelesdois pilotos ao pequeno avio. Um deles aps a descida da

    estrada que d acesso ao Escaroupim, ali junto s pequenasboias (hortas), comeou a encontrar no cho junto a pequenaservas altas, ninhos de calandra. Com voz meiga, dizia ao magoteque os seguiam; cuidado que com os ninhos, no lhes mexam!

    Enquanto espervamos, no areal bonito de escorreito feitio,junto s aguas do rio, os aviadores l iam perguntando em queclasse andvamos na escola e, porque que alguns andavamdescalos.

    Um pouco depois, juntaram-se a ns, uma fila indiana dehomens, que no mais parava de crescer; uns vinham a p,outros de bicicleta. Umas boas duas horas depois, um jeep

    apareceu no cima da estrada (tapado), Os dois pilotos lcomearam a acenar as mos. O carro, parou junto s rvores,pois o avio tinha "pousado" no areal da praia dos tesos. Osdois mecnicos, vindos de Alverca, retiram uma grande caixa demadeira e, aps informao dos aviadores onde era a avaria, lcomearam a reparar o motor da pequena aeronave.

    A tarde j ia alto, o ar j corria fresco ali junto ao salgueiralcom a gua do rio, enchendo cada vez mais aquele espao.Dentro da fila de bicicletas vejo meu pai, que me procurava entrea multido e, me chamou dizendo: "Ho Z, Olha l rapaz por causado avio esqueceste-te de ir buscar o petrleo loja, a tua me,quer fazer a ceia, pois chegamos agora do trabalho"

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    Nem olhou para a multido, to zangado estava, amarrou-me cintura, uma corda que tinha na bicicleta e, l veio pedalando

    entre as pessoas que ainda iam ver o avio, vindo eu a correratrs da bicicleta at chegar ao Botaru da Capela, ondemorvamos. Grande castigo foi aquele, para grandes malesgrandes remdios. O recado foi feito, na loja do AntnioHenriques, junto torre da Igreja, fui num p e vim noutro.

    Minha pediu, no ralhes e no batas, a vergonha j foi grande.Nunca mais em casa se falou no assunto - grande tinha sido ocastigo !,,,

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    XIII

    N 13

    05/ DEZEMBRO /2007

    OS CEMITERIOS DE SALVATERRA !

    Um dia, em 1999, a populao da freguesia de Salvaterra deMagos - terra onde nasci, foi alertada com notcias nacomunicao social que, o cemitrio da freguesia iria serampliado, pois argumentava-se, que o seu espao estavaesgotado.

    Os executivos da Junta de freguesia e da cmara municipal,estavam determinados nesse objectivo e, para isso j tinhamtomado as decises polticas adequadas. s vozes dadiscordncia, juntei a minha, pois o descontentamento doprocesso estava latente, at pela forma como foi desenvolvido,nos rgos eleitos pelo povo. Um novo espao para cemitrio

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    impunha-se, na freguesia, alis, o assunto j tinha sido discutidoentre aqueles gestores da coisa pblica, em mandatos

    anteriores.

    Tendo em meu poder, alguns apontamentos que vinharecolhendo sobre os locais de repouso dos mortos desta terra,no deixei de os juntar, ao processo de uma crtica que se queriaconstrutiva, at porque tais espaos fazem parte do passado

    histrico da freguesia. Um brao de erro, foi instalado

    especialmente entre aqueles que tinham as suas habitaesenvolventes, ao terreno requisitado e os eleitos municipais.

    Os autarcas, infelizmente como tantas vezes acontece, emtamanha deciso politica no contemplaram as opinies dos quese manifestaram, pois tais obras, serviram apenas em pocaeleitoral, disseram os mais esclarecidos!..

    Assim foi, uns meses depois o alargamento saquele espao-anto da freguesia, estava consumado. A obra tal como foiapresentada, ficou por concluir. pois alguns servios de apoiono foram instalados, como ossrios e formo crematrio.

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    XIV

    N 14

    UMA GALINHA

    PARA DOIS, QUE ERAM TRS, EAINDA SOBROU GALINHA!

    O sculo XX, estava ainda no a meio, mas ainda se falava doassunto, quando vinha baila qualquer referncia fome quegrassava em muitas casas da vila de Salvaterra de Magos. Porvolta de 1935, Carlos Torroaes, filho do empresrio detransportes pblicos de passageiros, da vila, era muito conhecidopela forma pitoresca de contar as suas diabretes Esta umadelas: Um dia teve necessidade de se deslocar a Lisboa, para a

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    necessria mudana do alvar que a familia possua, pois tinhaao servio duas Diligncias; uma para Vila Franca e uma outra

    at estao dos caminhos de ferro, em Muge. A que levava erecebia passageiros de e para V F Xira, era servida pelo pontodo Cabo, que atravessa o rio Tejo, com a estao dos Caminhosde Ferro mesmo ali defronte.

    Estvamos na poca das viaturas mecanizadas e, um pequenocarro de 12 lugares, foi adquirido e passou a transportar ospassageiros com ida de manh e regresso tarde.

    Em Lisboa, na Repartio do Estado j depois dos problemas

    resolvidos, convidou o funcionrio que o atendeu (pela fala davamostras de ser nortenho) se aceitava um almoo em Salvaterra,em pelo Ribatejo. Este de imediato aceitou, mas pediu se podialevar mais um colega, que mesmo ali foi apresentado.

    No sbado, vspera de receber os convidados organizou coma esposa, o repasto; seria uma galinha, daquelas que existiam na

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    capoeira dos pais. A sobremesa, uns doces feitos por sua me.A fruta, melo daqueles que, um amigo de Muge, lhe oferecera

    uns dias antes, por lhe ter ajudado a preencher um requerimentona cmara municipal. O vinho doce para as entradas, e tinto paraacompanhar a refeio pediu-o ao tio Virgolino Jos Torroaes

    No domingo aprazado, a manh ainda estava no luz-fusco, j seencontrava no Ponto do cabo, Carlos Torroais, na Charrete dacasa, tirantada a um animal, O Batelo atracou, o convidado

    conhecido, apressaram-se nos cumprimentoshabituais, com a viagemno comboio, Lisboa atVila Franca, tinha

    corrido bem.

    Pedindo desculpa, afinal seriam trs os convidados, e apressou-se na apresentao de mais um colega, A viagem at Salvaterrafoi iniciada, o cavalo em marcha troteada, percorria a recta docabo, pela estrada empedrada. O campo apresentava-se nosdois lados, separado por uma vedao de arame e, por duaspequenas valas que corriam ao longo do trajecto, transportando

    um pequeno fio de gua, naquela poca do ano.

    Ali prximo da Ermida de Alcam, onde alguns ranchos dehomens e mulheres ceifavam o que restava das cearas desequeiro, especialmente trigo, foram cumprimentados com oschapus no ar.

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    Algumas manadas de gado bravo, vigiadas pelos campinos,chegavam-se at s valas, afim de se sedentarem, pela noite

    passada ao relento. A viagem correu, sem grandes sobressaltos,pelos campos da Lezria, era uma novidade para aquelesviajantes. Chegados ao caminho que os levaria da Fonte dasSomas, pelo Convento at Salvaterra, Carlos Torroais, daalgibeira do colete retirou o relgio, e vendo que eram apenas 8horas da manh, mudou de caminho e seguiu viagem para os

    lados da Aldeia do Peixe, rumo aos Foros de Salvaterra. Algumtempo depois, chegados taberna do Joo da Horta, j seu velhoconhecido, apresentou-lhes to ilustres viajantes.

    Depressa, o Joo da Horta, passou a convidante e serviu semcerimnias, um petisco, base de carne de porco assada,acompanhada com um bom

    vinho das terras arenosasdos Foros. Perto de umahora, demorou aquelepetisco e, retomada aviagem, a comitiva acenavacom os chapus, em resposta a alguns pequenos grupos de

    familias que, nas suas terras faziam tarefas de pequenaagricultura, aproveitando o dia de domingo.

    Uma nova paragem foi no Estanqueiro, na taberna local,foram convidados para apreciarem um petisco. Uns chourioscaseiros, cortados s rodelas, acompanhados com po aquecido

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    no forno e um vinho branco, retirado de um garrafo que estavano fundo do poo a refrescar.

    Os viajantes, estavam deslumbrados com tanta recepo, aviagem continuou a caminho das Buinheiras, dos Freires, eramquase 11 horas, o caminho de areia ladeado por valados que oestreitavam, faziam com que vrias famlias num lado e de outro,estivessem quase juntas nos afazeres das suas terras.

    Os acenos continuavam, o entusiasmo era de grande alegrianaquele grupo de visitantes, ali prximo das terras da Alagoa, ochefe de uma famlia conheceu o Carlos Torroais, pois era a eleque recorria quando precisava de alguma coisa nas repartiespblicas na vila. A paragem foi inevitvel, apresentados osviajantes, logo todos foram convidados para petiscarem na casa

    mesmo ali prximo, com uma latada de vinha que sombreava acasa. Aceite o convite, a famlia composta pela mulher e maisduas filhas ainda moas, e um rapaz, acabado de chegar da vidamilitar havia trs semanas, desdobravam-se em simpatias,perante to ilustres visitantes, em casa.

    Foi aproveitado para desengatar o animal, e dar-lhe de comer

    e de beber um balde de gua fresca, que foi retirada do poo.

    Uma mesa foi preparada, debaixo da sombra de uma grandeamoreira. As moas, serviram sopa de carne de porco, estavaquente dentro do trip de ferro, na chamin em lume brando,alguma carne que estava na salgadeira havia trs dias, poistinha-se morto o porco da engorda da primavera foi assada. Um

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    jarro com bom vinho tinto, retirado da adega, acompanhou orepasto. Depois foi servido algumas fatias de melo.

    Aps a refeio e, j muito alegres os convidados, davammostras de algumas aptides em cantorias. Tal situao, deuazo a que o jovem, sendo bom tocador de gaita de beios, logotocou uns viras, msicas da regio ribatejana. Eram 3 horas datarde, foi retomada a viagem, atravs das Buinheiras, a caminhodo Paul de Magos. Nova paragem, ocorreu na taberna do Pal,um lanche foi oferecido pelo dono da tasca, umas postas de Atum(embebido em azeite numa barrica), foram postas no balco, umpo grande (cozido na vspera) e, um jarro de barro com vinhobranco, foi mais tarde acompanhado de uma prova de meles quese encontravam numa parga, (em pirmide), debaixo de umarvore, esperando comprador.

    Um dos convidados, olhava constantemente o relgiopendurado numa corrente, que tinha na algibeira do colete, noentanto no deixava de participar nas anedotas que o grupo iacontando, at porque uns clientes tambm entraram na roda dosdichotes e anedotas.

    J a caminho de Salvaterra, cantarolando de contentes pelo diabem passado no Ribatejo, chegaram vila, na rua do Pinheiro,junto casa da famlia do Torroais, onde um pequeno grupo devizinhos, fazia companhia na espera, e das preocupaes, poiseram j cerca das 6 horas da tarde e, a chegada estava previstapara as 9 horas da manh.

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    Todos os convidados, dando mostras de algum nervosismo,muito agradeceram a oferta, e o dia inesquecvel, mas insistiram

    na viagem de regresso a Lisboa.

    O cavalo l voltou a trotear, O comboio, no esperava.!...

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    XV

    N 15

    08 /JULHO D/ 2008

    AS BOTAS DO MANEL GATONos dias que passam persistem apenas dois dos cerca de 40

    sapateiros que existiam em Salvaterra de Magos, no dobrar dosculo passado. As oficinas destes artesos eram pequenosespaos, entrada das suas habitaes, sendo muito poucos osque tinham outro sitio para laborarem. Alguns na rua, tinham

    junto da porta, um corvo, ou gralha que, amestrados diziamalguns palavres, daquelas azedas que a clientela, ou quem

    passava gostava de ouvir dizer era uma graa!...

    Entre eles, havia trs figuras que andavam na boca do povo,pela sua originalidade, os Mestres; Vital Nuno Lapa, Manuel GomesSerra, conhecido por Manel Gato e o seu primo Roberto Serra.

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