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2014/2015 Rewilding Europe Reconstrução da vida selvagem e proposta de valor associada ao Turismo Docente: João Menezes Discente: Cátia Periquito GEC 1 Gestão de Sistemas Ambientais 5 Dezembro 2014

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Sobre a reconstrução da vida selvagem na europa

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Page 1: Rewilding Europe

2014/2015

Rewilding Europe

Reconstrução da vida selvagem e proposta de

valor associada ao Turismo

Docente: João Menezes

Discente: Cátia Periquito

GEC 1

Gestão de Sistemas

Ambientais

5 Dezembro 2014

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ISCTE Business School – Gestão de Sistemas Ambientais

1

“A natureza selvagem é reconhecida como uma parte importante e fundamental da herança

cultural e natural da Europa. Ela é um elemento essencial de uma sociedade europeia

moderna, próspera e saudável.”

(In “Our Vision”: http://www.rewildingeurope.com/)

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2

Índice

1. Introdução. ............................................................................................................................... 3

2. Enquadramento teórico .......................................................................................................... 4

2.1 Os turistas e a Natureza:Turismo Verde e Ecoturismo ............................................... 4

2.2 A importância ecológica da Vida Selvagem e o conceito de “Rewilding” ................. 5

2.3 A Sustentabilidade associada à Vida Selvagem e ao Turismo .................................... 6

3. Rewilding Europe – “Making Europe a Wilder Place” ........................................................ 8

3.1 O Projeto ..................................................................................................................... 8

3.2 Rewilding Europe: Suporte e Financiamento ............................................................. 9

3.3 Rewilding Europe: A procura por experiências selvagens e a proposta de valor

associada ao Turismo ................................................................................................................. 10

4. Análise Crítica/Conclusão .................................................................................................... 12

5. Bibliografia ............................................................................................................................ 14

6. Anexos .................................................................................................................................... 15

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3

1. Introdução

No âmbito da Unidade Curricular Gestão de Sistemas Ambientais, foi proposto pelo

docente João Menezes a execução da presente monografia. Este trabalho tem como tema

“Rewilding Europe - Reconstrução da vida selvagem e proposta de valor associada ao Turismo”.

Baseada no projeto Rewilding Europe que está, atualmente, a ser desenvolvido, na

tentativa de ampliar a vida selvagem na Europa, a monografia tem por principal objetivo

relacionar esta iniciativa e a proposta de turismo a ela associada com a temática da

sustentabilidade turística e ambiental, bem como os benefícios que poderão ser alcançados com

o sucesso do projeto.

Para isso, será necessária a execução de um enquadramento teórico em termos

ambientais, de biodiversidade e de análise das práticas de turismo mais focadas no contato com

a natureza, evidenciando a importância destes para promover a sustentabilidade. A posteriori,

será apresentado o projeto Rewilding Europe, algumas das suas iniciativas e perspetivas futuras

e, ainda, como foi supracitado, procurar estudar a proposta de valor relativa ao turismo.

Seguidamente, será, evidentemente, realizada uma minuciosa análise que, explicitará a relação

deste caso, em concreto, com as temáticas teóricas abordadas.

A monografia permitirá a consolidação de alguns conhecimentos teóricos já adquiridos

na Unidade Curricular e, será desenvolvida com a maior clareza possível, a fim de promover a

total compreensão dos conceitos abordados.

Fig.1 – Imagens em algumas zonas do projeto Rewilding Europe

(In Galeria Fotográfica, Projeto Rewilding Europe: www.rewildingeurope.com/gallery/)

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2. Enquadramento teórico

2.1 Os turistas e a Natureza:Turismo Verde e Ecoturismo

1A nível mundial, o Turismo tem vindo a evidenciar-se como uma das principais

atividades económicas. No entanto, segundo Barrow (2006), os seus impactos são, muitas vezes,

superiores aos benefícios da atividade e, em termos ambientais, raramente é desenvolvido como

deveria ser: uma má gestão do turismo pode levar à degradação ambiental e, posteriormente, à

mudança de preferências dos viajantes face aos locais a visitar (e da sua disponibilidade para

pagar valores elevados face ao local degradado).

Nas últimas décadas, a preocupação com a minimização dos impactos físicos e sociais

do turismo tem sido crescente – conceito greening do Turismo. Face a esta preocupação,

atualmente, em muitos locais degradados e onde esta atividade gera pouco lucro, o Turismo

Verde (baseado na ideia do greening) tem sido o caminho a seguir numa tentativa de

reestruturação, não só da economia, como também do ambiente; esta restruturação tem por base

o Princípio da precaução, de caráter preventivo, onde os problemas devem ser evitados, através

da não realização de ações comprometedoras e com efeitos indesejados para o ambiente; por

isso, com a inversão do ónus da prova, os indivíduos que pretendem implementar as suas ideias,

deverão comprovar a não existência de ações que degradem o ambiente envolvente e

prejudiquem as comunidades.

Barrow (2006), citando Weaver (2002), refere que, o Turismo Verde, sendo o setor

turístico com mais rápida evolução e crescimento dentro da atividade turística, está, fortemente,

relacionado com aspetos naturais que promovem a atração dos turistas (por exemplo, safaris,

caminhadas, caça, esqui, escalada, pesca desportiva, entre outros); este pode ser agrupado de

acordo com os consumidores e o tipo de preferências associadas ao meio ambiente: ecoturismo

hard-core (turistas dedicados, genuínos e profundos que tentam minimizar impactos e

maximizar benefícios para o ambiente e população de acolhimento), turista dedicado (algumas

contribuições para o cuidado ambiental e promoção de benefícios para os locais turísticos; estão

mais associados a passatempos como escalada, caminhada, entre outros), turista marginal

(poucos benefícios locais e alguns impactos económicos e ambientais negativos; estão,

geralmente, associados a turistas ingénuos que, aprendem pouco e com atividades como, por

exemplo, nadar com golfinhos e safaris de moto4), turista casual (turista típico: contribuição

mínima para a economia local e o ambiente, aprendem pouco e mantém atitudes originais:

turistas que permanecem nos resorts e hóteis, estes com uma considerável pegada ecológica).

1BARROW, C.J., 2006, Environmental Management for Sustainable Development, 2ª Edição, Routedge. Página 333-

340

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Para além do Turismo Verde, também o Ecoturismo se encontra, cada vez mais, em

ascensão: este visa educar os turistas na tentativa de melhorar o seu contato com a natureza. O

Ecoturismo é promovido através de um conjunto de ações, dentro das quais: avaliar a situação

atual e tendências; identificar soluções adequadas de ecoturismo; planear uma estratégia flexível

e sustentável que garanta a minização dos impactos e, estabelecer a monitorização contínua para

avaliar resultados e identificar pontos passíveis de serem melhorados (através de indicadores

como a capacidade de carga, a pegada ecológica e o limite aceitável de mudança). Por parte dos

turistas é, cada vez mais, notória a procura por atrações diferenciadas e interessantes, em países

de acolhimento que prometem a exploração (não destrutiva) dos recursos naturais oferecidos .

2.2 A importância ecológica da Vida Selvagem e o conceito de

“Rewilding”

Abordando, primeiramente, o conceito de ecossistema como um conjunto de

organismos, gerados por processos e, que estabelecem relações entre si ao longo do tempo. É

importante salientar que, cada organismo contribui, por si só, para o funcionamento do

ecossistema, sendo que, no seu interior se destaca a existência de grupos com funções idênticas,

designados por grupos funcionais. Ao combinar um conjunto de relações e contribuições entre

estes seres vivos, os ecossistemas conseguem serem impulsionados a funcionar: ora, é evidente

que, as espécies selvagens contribuem para o funcionamento dos ecossistemas onde estão

inseridas.

2No que diz respeito ao conceito de Rewilding (“reconstrução” da vida selvagem),

assume-se como a devolução às terras de animais e plantas selvagens que lá viviam, de maneira

a restaurar o equilíbrio na natureza. Esta temática trata a gestão da sucessão ecológica, com o

objetivo de restaurar os processos dos ecossistemas naturais, promovendo o seu

desenvolvimento sustentável e a proteção da sua biodiversidade e, reduzindo o controlo humano

sob as paisagens (wilderness), na tentativa de equilibrar a relação do ser humano com a

paisagem e a biodiversidade a ela associada. Com o aumento do abandono das zonas mais

rurais, existem espécies a desaparecerem e espécies que crescem em abundância (grandes

mamíferos, por exemplo), face à maior ou menor dependência em relação ao ser humano; as

consequências do Rewilding para a biodiversidade dependem do contexto geográfico das

espécies e das interações tróficas existentes entre si. Contudo, nas áreas onde este processo é

implementado, observa-se, não só, a obtenção de resultados de conservação das espécies

superiores a outras áreas com diferentes formas de gestão ambiental, como também, a

diminuição dos custos de manutenção dessa conservação e da proteção do ambiente. Mas este

2NAVARRO, Laetitia M., Pereira, Henrique M. (2012) . “Rewilding Abandoned Landscapes in Europe”. Ecosystems

(2012) 15: 904–908.

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processo será, sempre, sustentável? Será abordada, seguidamente, a ideia da sustentabilidade

associada à vida selvagem e ao turismo, para melhor compreensão desta questão.

2.3 A Sustentabilidade associada à Vida Selvagem e ao Turismo

Vivemos, atualmente em uma era de extinções em massa, onde a degradação ambiental

tem vindo a emergir. Segundo Abranja e Almeida (in Cogitur, 2009), o incremento da procura

por experiências com a natureza, criou uma maior pressão humana sobre o ambiente e, citando

Drumm e Moore (2005), caso não se verifique um equilíbrio ecológico e natural, a atividade

turística poderá estar em risco. Assim, para fazer face a estes aspetos, é necessário promover a

sustentabilidade (sendo esta uma meta para o processo de desenvolvimento sustentável) para

garantir a melhoria da qualidade, quer do ambiente quer das sociedades, sem colocar em causa o

desenvolvimento de ambos. De acordo com Pereira (2009) e citado por Gilpin (1997), o

desenvolvimento sustentável propicia um benefício económico, social e ambiental a longo prazo

(três pilares base – ver Fig.2) - onde existe uma combinação de recursos, investimentos e

tecnologias que têm sempre em conta as mudanças, numa perspetiva de crescimento económico,

preservação ambiental e bem-estar social - a fim de atender às necessidades das gerações atuais,

sem comprometer a sobrevivência das gerações futuras.

Fig.2- Os pilares do desenvolvimento Sustentável

(Fonte: PEREIRA, João Victor Inácio. Sustentabilidade: diferentes perspectivas, um objectivo comum. Economia

Global e Gestão [online]. 2009, vol.14, n.1 [citado 2014-11-05], pp. 119)

Como já foi referido, a procura por novas formas de turismo é uma temática que tem

evoluído ao longo dos último tempos, destacando-se o turismo ligado à vida selvagem como um

dos que se encontra em ascensão: os turistas identificam-se com aspetos naturais que os atraem,

e disfrutam ao máximo do que a natureza lhes oferece. No entanto, é importante ter em conta

algumas considerações que foram emergindo face ao “padrão de consumo” desta atividade

económica. 3A dicotomia entre turismo selvagem consumista e não-consumista tem sido,

3TREMBLAY, P. (2001). “Wildlife tourism consumption: Consumptive or non-consumptive?”. The International

Journal of Tourism Research, 3(1), Páginas 81-86.

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ultimamente discutida sob ponto de vista das práticas relativas a ambos. Associa-se,

normalmente, o primeiro a práticas que recorrem a uma intervenção direta com os animais (a

caça e a pesca são exemplos), sendo o segundo relacionado com atividades de visualização da

vida selvagem com benefícios de aprendizagem, respeito e empatia pela natureza e, por isso,

com um conteúdo experiencial mais alargado.

Tendo por base a abordagem do desenvolvimento sustentável, do ponto de vista da

gestão do turismo com interesse na vida selvagem, torna-se importante definir os segmentos que

estão na base da sustentabilidade e, que necessitam de uma compreensão mais aprofundada das

motivações e dos valores dos turistas, para ser possível definir metas e princípios sustentáveis,

que possam ser convertidos para ações efetivamente monitorizadas e com resultados plausíveis.

4De acordo com a Comissão Económica Europeia essas ações traduzem-se em: limitar os

impactos negativos nos destinos turísticos (incluindo o uso de recursos naturais e produção de

resíduos), promover o bem-estar da comunidade local, reduzir a sazonalidade da procura, tornar

o turismo acessível a todos e melhorar da qualidade dos postos de trabalho do turismo. Tudo

isto é concretizável com princípios como a adoção de uma visão holística e integrada - que

utilize o conhecimento disponível e, que envolva todas as partes interessadas -, o planeamento

das atividades a longo prazo e um determinado ritmo de desenvolvimento, a execução de ações

que sejam monitorizadas continuamente com uma gestão adequada de minimização do risco

(que reflita os impactos nos custos existentes) e, com 5a intervenção de organizações de

conservação da natureza e mecanismos que recompensem atividades de conservação ambiental

locais, tendo sempre em conta, uma gestão pormenorizada das áreas selvagens. Ora, por isso,

conseguir-se-á desenvolver produtos turísticos de qualidade e serviços inovadores - pelas

condições ambientais favoráveis como: a existência de espécies consideradas mais raras e de

paisagens naturais menos poluídas e mais atrativas – que leva a um consequente aumento dos

retornos associados e uma melhoria da economia local a longo prazo.

Assim, é possível constatar que, quanto mais sustentável (a nível social, económico e

ecológico) for o turismo de vida selvagem, mais será o seu poder lucrativo e os benefícios para

uma economia; no entanto, a aposta no seu desenvolvimento deve ser bastante estudada e

cuidada para os seus resultados serem positivos.

Relativamente à sustentabilidade empreendida pela vida selvagem, esta poderá ser

alcançada se, a exploração da vida selvagem para fins económicos, fins sociais e culturais não

afetar, em grande escala, a população animal, o seu habitat e a função ecológica que

desempenham. Para isso, torna-se importante a definição de legislação e regimes jurídicos que

possam tornar possível a compreensão e o uso cuidado das plantas e dos animais selvagens,

4ec.europa.eu/enterprise/sectors/tourism/sustainable-tourism/index_en.htm

5MACLELLAN, L. R. (1999). An examination of wildlife tourism as a sustainable form of tourism development in

north west scotland. The International Journal of Tourism Research, 1(5), 375-387

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envolvendo a sociedade local, os turistas e as comunidades pertencentes a organizações de

conservação para construirem benefícios locais, sem sobrexploração associada.

Finalizando esta abordagem, conclui-se que, ao tornar compatível a preservação do

património natural e cultural e o desenvolvimento turístico, o conceito de Turismo Sustentável é

concretizável: pretende-se, apenas, a balança entre o ambiente selvagem e os interesses

turísticos naturais. Para tornar isto possível na Europa, iniciativas como o Rewilding Europe e

os PanParks estão na base da discussão das políticas europeias para a conservação das espécies

selvagens, como será, seguidamente abordado.

3. Rewilding Europe – “Making Europe a Wilder Place”

3.1 O Projeto

Com o passar dos anos, o aumento da urbanização e o abandono das áreas mais rurais, a

Europa tem ficado cada vez mais “deserta” nas zonas de campo. Ao invés de ser considerado,

apenas, um problema, este pode tornar-se numa oportunidade.

Rewilding Europe é um projeto atual, lançado em 2010 por um grupo conservacionista

holandês e com objetivos bem claros até 2020 (construir, no mínimo dez áreas de qualidade

internacional dedicadas à vida selvagem na Europa), e procura tornar a Europa mais selvagem,

com o apoio aos processos de renaturalização em áreas abandonadas, a minimização da gestão

ativa da paisagem e, através, da reintrodução de espécies selvagens (como bisonte, cavalos

selvagens, touros, entre muitos outros) em um milhão de hectares, sob forma de conseguir

neutralizar alguns problemas, explorando novas potencialidades e estabelecer uma nova visão

de conservação para este continente. Este é promovido em seis zonas selecionadas (Ver anexo

1): Eastern Carpathians (Polónia e Eslováquia), Danube Delta (Roménia), Southern

Carpathians (Roménia), Velebit (Croácia), Western Iberia (Portugal e Espanha) e Central

Apennines (Itália), sendo que, esta última não fazia parte do grupo inicial das áreas de

intervenção. Com ele será, ainda, possível desenvolver empresas associadas ao meio selvagem,

bem como oferecer oportunidades de emprego e manter uma evolução no caminho da

prosperidade económica local e da criação de valor em massa para as populações: não só

disponibilizar locais naturais para quem quer trabalhar e viver, mas também para aqueles que

possuem o gosto por paisagens naturais, atividades e cenários atrativos com muita vida

selvagem. Esta iniciativa destaca a questão dos pastos como um importante fator a manter, pois

a biodiversidade europeia é, em grande escala, dependente dos mesmos. Tentar-se-á fomentar o

ecoturismo, a educação e comunicação entre as populações, a fim de, facilitar a implementação

desta vida selvagem de forma sustentável na Europa. Assim, na tentativa de alcançar um

potencial pleno, o Rewilding Europe procura parcerias com instituições públicas e privadas,

fundações, organizações de conservação do meio ambiente através de donativos, investimentos

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financeiros em empresas de conservação, esforços de marketing, entre outras ajudas, que

poderão levar à concretização do objetivo essencial.

Com espaços para uma natureza e humanidade amplas, com maior proteção sob a vida

selvagem e mais áreas naturais e com muito mais vida selvagem, a Europa tem lutado para ser

um continente mais sustentável e próspero, através de uma gestão e controlo pormenorizados

desta iniciativa.

6Para além deste projeto, existe, ainda outra iniciativa, já referida, os PanParks; esta

visa a criação de uma rede certificada das melhores áreas naturais da Europa (em Portugal, dá-se

destaque ao Parque Nacional da Peneda-Gerês), defendendo que, a conservação da natureza e o

desenvolvimento económico conseguem levar a cabo uma gestão mais eficiente das áreas

protegidas. Para a candidatura à certificação PanParks, as áreas são rigorosamente auditadas,

onde são tidos em conta critérios e requisitos (ver Anexo 2) como: a qualidade do ambiente, o

nível da biodiversidade existente, a gestão da conservação da natureza, a gestão dos visitantes e

o desenvolvimento do turismo sustentável.

Recentemente, estas duas iniciativas acordaram em trabalhar na proteção e na ampliação

das áreas selvagens e da sua biodiversidade na Europa, oferecendo novas soluções para

melhorar a conservação - através da não intervenção humana nas zonas protegidas – e, aumentar

a eficiência na proteção da natureza (em locais com os níveis naturais de vida selvagem).

Em termos turísticos, estas iniciativas levam a um maior interesse pelas áreas protegidas

por parte dos turistas de natureza, sendo as zonas, cada vez mais, divulgadas e promovidas pelos

operadores turísticos, o que proporcionará, não apenas, a liberdade, a emoção e a experiência

aos turistas, mas também uma evolução dos retornos e uma melhoria ao nível das economias

locais, como já foi referido.

3.2 Rewilding Europe: Suporte e Financiamento

Sob forma de sustento, a iniciativa Rewilding Europe tem procurado, cada vez mais,

parcerias com organizações de conservação e proteção ambiental, instituições públicas ou

privadas, fundações, empresas e particulares. São contribuições como o trabalho voluntário

(pró-bono), esforços de marketing conjunto, investimentos financeiro em empresas de

conservação, doações, subvenções, apresentação de variadas possibilidades em conferências e

seminários, ofertas de terras, patrocínios e parcerias de negócio que têm vindo a direcionar o

projeto no caminho certo para alcançar o seu objetivo core: tornar a Europa num “mundo”

selvagem. A organização disponibiliza algumas opções que, podem ser escolhidas, por quem

tem interesse - individuais, pequenas empresas, grandes empresas e Organizações Não-

Governamentais - em participar neste rumo para o bem comum: ser parceiro de negócio (desejo

6www.icnf.pt/portal/turnatur/pan-parks (4 Novembro 2014, 18h36)

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de ter um impacto substancial neste processo), ser um dos maiores doadores (ou somente

doador) e investir nos negócios baseados em conservação. Aquando da participação como

contribuidor, os participantes, para além de serem informados sobre os progressos do projeto,

são, frequentemente, convidados a integrar atividades práticas no terreno e atividades de

conservação (como pesquisas e safaris), a participar no encontro anual relacionado com projeto,

e, ainda, a juntarem-se num dos acampamentos (na tenda privada) das áreas de projeto.

Contudo, esta “reconstrução” selvagem da Europa não procura, apenas, suporte para

prosperar. A organização disponibiliza uma área de financiamento “Rewilding Europe Capital”

que visa a promoção de relações de parceria e beneficia empresas rewilding, ou seja, as que

querem ou têm potencial para gerar resultados sociais e económicos positivos para uma das

áreas de intervenção do projeto, oferencendo-lhes financiamentos comerciais para o

desenvolvimento e otimização dos resultados para a iniciativa em troca de compromissos

(contratualização entre as partes). É dada preferência aos estabelecimentos de ensino, às

entidades promotoras de atividades turísticas, a produtores naturais e aos proprietários das terras

locais nas zonas de intervenção que deverão agir para: gerar financiamento para a gestão de uma

área ou iniciativa do projeto; captar o interesse das principais partes interessadas a nível local

(comunidades, proprietários de terras e habitantes locais); aumentar o valor económico da

natureza selvagem, de forma a apoiá-la e conservá-la; promover e proporcionar o acesso aos

valores das áreas do projeto para uma melhor apreciação e compreensão dos mesmos; reduzir a

necessidade de invasão em áreas de maior valor natural, aumentando rendas nessas zonas; e,

redirecionar atividades de negócios numa área rewilding para alternativas mais favoráveis ao

retorno natural. Pode, então, destacar-se que, através destes contratos, as entidades contribuem,

ativamente, para a obtenção de bons resultados e o alcance dos objetivos predefinidos.

3.3 Rewilding Europe: A procura por experiências selvagens e a

proposta de valor associada ao Turismo

Nos últimos anos, e como foi, anteriormente referido, a procura internacional pelos

variados tipos de experiências selvagens tem vindo a progredir, tornando-se, mesmo, em uma

indústria em todo o mundo. Em locais como os Estados Unidos, estas experiências selvagens

tomaram o lugar de preferências, tornando-se nas atividades mais praticadas ao ar livre,

proporcionando elevados retornos; na Europa, os operadores de Safaris mostram um crescente

interesse em implementar os seus negócios, não só como forma de obtenção de lucro, como

também por introdução de um destino de viagens relacionados com a vida selvagem; o

problema é, apenas, um: a reduzida vida selvagem que existe para ver. No entanto, com a

evolução da wildlife a acontecer, o caminho para um novo conjunto de ideais de turismo

selvagem está a ser traçado, acreditando-se que, este negócio se pode tornar no maior a nível

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europeu e promoverá o crescimento económico, estimulando as empresas associadas ao meio

ambiente.

7Na perspetiva do projeto, estão disponíveis, na Europa, nas variadas zonas de atuação,

Safaris associados à vida natural, e que são executados para promover o contato com espécies

selvagens através da observação (turismo selvagem não-consumista) das mesmas num espírito

aventureiro, e não associados ao conceito de “caça” de animais (turismo selvagem consumista),

como antigamente eram considerados. Para além disso, foi desenvolvido um clube de viagens a

nível europeu, para todos aqueles que gostam, verdadeiramente, de experiências com a natureza,

onde existe a possibilidade de ganharem férias sem qualquer tipo de custos associados. Esta

iniciativa tem a finalidade de possibilitar, a uma vasta panóplia de interessados pela natureza e

pela vida selvagem, o contato com grandes organizações internacionais e locais que

proporcionam experiências carismáticas a este nível. Os turistas, que aderem ao clube, podem

ganhar as suas próprias férias em diversos locais, e em várias alturas do ano, através de sorteios

realizados e, onde os custos são nulos (apenas o transporte de ida e volta para o local ocorre ao

encargo do viajante). Atualmente, estão a decorrer algumas ofertas para o Inverno de 2014. São

elas: a Discover Wild Portugal – promovida pela Associação Transumância e Natureza em

Portugal; na reserva da Faia Brava; a Kolarbyn Ecolodge wildlife adventure – promovida pela

WildSweden, na Suécia e, por fim, Knepp Wildland Safaris Holiday – promovida pela Knepp

Safaris, no Reino Unido. Nestas atividades, os turistas têm oportunidade de contato com a

natureza, e são sujeitos a explicações e abordagens relacionadas com as zonas; safaris, passeios,

caminhadas, a possibilidade de ver espécies selvagens e, até mesmo, dormir na floresta são

atividades a realizar para os “turistas naturais”.

Fig.3- Associações promotoras das ofertas atuais de férias do Projeto Rewilding Europe

(Fonte: www.rewildingeurope.com/travel-club/what-can-i-win/)

8Para além destas, existem ainda ofertas especiais com descontos, somente para os

membros do clube de viagens do Rewilding Europe e, que, são fornecidas por operadores

turísticos na área do turismo selvagem. Com tudo isto, é possível equilibrar a natureza selvagem

7www.rewildingeurope.com/travel-club/ (28 Outubro 2014, 16h26)

8www.rewildingeurope.com/travel-club/special-offers/ (28 Outubro 2014, 16h59)

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com os interesses do ser humano, na tentativa de implementar resultados sustentáveis ao nível

da reconstrução da vida selvagem europeia.

Fig.4-Ofertas Especiais Rewilding Europe

(Fonte: www.rewildingeurope.com/travel-club/special-offers/)

4. Análise Crítica/Conclusão

Analisando, minuciosamente, os aspetos teóricos e práticos abordados ao longo da

monografia, é importante o foco em algumas das partes para uma total compreensão da

sustentabilidade enquadrada na iniciativa Rewilding Europe, e, neste caso, em particular,

balanceada entre vida selvagem e o turismo natural. Problemas como a poluição, a

sobrexploração dos recursos, a degradação ambiental, a perda de biodiversidade e consequente,

destruição dos ecossistemas emergiram, mundialmente, nas últimas décadas. Num planeta

pressionado por todas estas ocorrências, onde prospera a não sustentabilidade ao invés da

sustentabilidade, o abandono dos meios mais rurais, tornou-se numa oportunidade de

desenvolvimento e melhoria da biodiversidade (como está a acontecer na Europa com os

projetos PanParks e Rewilding), através do estudo da regeneração da vegetação e das espécies,

e da realização de testes sobre algumas teorias ecológicas, como citaram Hobbs e Cramer

(2007).

De acordo com Navarro e Pereira (2012), os conflitos ocorrem quando as atividades

humanas, como caça, pesca e agricultura se sobrepõe à vida selvagem. Citando Abranja e

Almeida (2009), realça-se o fato de, muitas vezes, o turismo provocar danos irreversíveis ao

meio ambiente; no entanto, medidas como a racionalização das terras, a gestão dos fluxos de

visitantes, entre outras possíveis, podem inverter o rumo destes impactos e tornar o turismo

numa atividade de proteção ambiental. Segundo a Comunidade Económica Europeia, na

tentativa de melhoria da situação atual (em termos turísticos), o reforço da cooperação

transnacional, bem como a compatibilização do turismo e a preservação do património natural e

uma gestão mais eficiente e orientada para a minimização do risco das áreas protegidas, o

incentivo de participação das comunidades locais nos programas de conservação e, ainda, o

aumento da competitividade do turismo, como indústria, através da aposta na diversificação de

produtos turísticos permitem o alcance de uma atividade sustentável social, económica e

ambientalmente: o turismo; este baseado numa gestão eficiente dos recursos, sendo uma

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atividade criadora de emprego e geradora de capital que, ao investir localmente contribui para o

bem-estar das comunidades.

Evidencia-se como assunto core, a procura pelo equilíbrio entre meio ambiente e

atividade humana, neste caso em concreto, balancear a vida e a natureza selvagem com turismo

natural, numa perspetiva de implementação de atividades e valores que mudem os ideais

turísticos e, procurem um aumento ao nível dos interesses não consumistas desta natureza

selvagem, sob forma de conduzir ao bem-estar social e à sutentabilidade; esta última, associada,

também, à adequação dos negócios, economias e populações locais.

Mas será que, com todos os problemas atuais e atitudes não tão conservadoras do ser

humano, a pressão para a mudança terá efeito? Espera-se, cada vez mais, um aumento

continuado da procura pelas experiências naturais, educando os turistas na tentativa de melhorar

o seu contato com a natureza (Ecoturismo e Turismo Verde), reduzindo os impactos indesejados

para o meio ambiente. O projeto apresentado ao longo da presente monografia, o Rewilding

Europe, assenta nesta base de reconstruir a natureza selvagem na Europa, como foi várias vezes

referido, atuando em seis zonas selecionadas e tenta apoiar a renaturalização em áreas

abandonadas, a minimização da gestão ativa da paisagem, através da reintrodução de espécies

selvagens em um milhão de hectares, na tentativa de, neutralizar alguns problemas, explorando

novas potencialidades e estabelecer uma nova visão de conservação para este continente. Assim,

com a promoção da conservação das áreas naturais e o aumento da vida selvagem que se espera,

através da implementação da iniciativa Rewilding, pretende-se um incremento ao nível da

adesão de turistas, através de ofertas especiais turísticas que promovam as experiências de

visualização e contato não tão direto com a natureza (wilderness) e com a integração de todas as

áreas no roteiro dos operadores turísticos mais direcionados para turismo de natureza.

Contudo conclui-se que, trazer de volta a vida selvagem pressupõe muitos desafios

relacionados com a execução de planos de recuperação, onde o projeto tem apostado em

procurar por parcerias para os conseguir implementar, oferecendo, mesmo, financiamento a

empresas que com ele colaborem. No final, a essência é saber se quais as opções de gestão que,

em cada lugar, serão mais viáveis e sustentáveis, aplicá-las e consciencializar as populações

para o benefício que está conservação lhes trará.

Finalmente, é importante salientar que, o objetivo inicial do trabalho foi concretizado,

tendo em conta, a boa adequação dos tópicos teóricos abordados versus a abordagem ao projeto

Rewilding Europe e à sua proposta de valor associada. Assim, foi possível uma melhor

compreensão de todos os conceitos relacionados com este tema, permitindo uma aquisição de

conhecimentos bastante eficaz.

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5. Bibliografia

I. ABRANJA, N., ALMEIDA, I.. Turismo e Sustentabilidade. Cogitur, Journal of

Tourism Studies, América do Norte, 2, Jul. 2009.

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XIV. www.ec.europa.eu/enterprise/sectors/tourism/sustainable-tourism/index_en.htm

XV. www.rewildingeurope.com

Page 16: Rewilding Europe

ISCTE Business School – Gestão de Sistemas Ambientais

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6. Anexos

Anexo 1: Áreas de Intervenção do Projeto Rewilding Europe9

Anexo 2: Requisitos de adesão das áreas protegidas à certificação PanParks10

Possuir uma não inferior a 20.000 hectares e definir/Possuir um plano de

gestão de visitantes;

Fazer parte de uma zona “deserta”, ou seja, onde o Homem não intervenha

(possuir uma área mínima de 10.000 hectares);

Programar, implementar e monitorizar, proativamente, o desenvolvimento do

turismo sustentável.

Anexo 3: Modelo Operacional do Projeto Rewilding

9Rewilding Europe: Brochure

10www.icnf.pt/portal/turnatur/pan-parks (4 Novembro 2014, 18h43)