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7/25/2019 revista_diadorim_(2008)_-_com_malu - Das relações entre forma e conteúdo nas estruturas morfológicas do portu… http://slidepdf.com/reader/full/revistadiadorim2008-commalu-das-relacoes-entre-forma-e-conteudo 1/21 Das relações entre forma e conteúdo nas estruturas morfológicas do português Carlos Alexandre Gonçalves * Maria Lúcia Leitão de Almeida ** Introdução Como assinala Jensen (1991, p. 1!, o mor"ema constit#i a $lin%a de "rente& da d#pla artic#lação da lin'#a'em, sendo caracteriado, portanto, como entidade)limtro"e entre a lin'+stica da "orma ("onolo'ia e sintaxe! e a lin'+stica do conteúdo (semntica!. -eorias e modelos se desenvolveram tentando explicitar como se d o mapeamento entre expressão e conteúdo em mor"olo'ia. Com esse prop/sito, depararam)se com #m pro0lema $de solução quase impossível: definir o que vêm a ser as unidades da análise morfológica& (A23456, 1978, p. :!. este texto, apresentamos e disc#timos al'#ns desvios no mapeamento expressão)conteúdo em mor"olo'ia, tentando responder as se'#intes ;#est<es= (a! em port#'#>s, ;#e sit#aç<es $sa0otam& o ideal de #nivocidade entre "orma e conteúdo? (0! mor"emas são, de "ato, $coisas& o# podem ser interpretados como $re'ras& (o# padr<es!? (c! os expedientes #sados para dar conta dos casos $mal)comportados& se mostram apropriados? e (d! como a0ordar casos em ;#e #m mesmo "ormativo veic#la mais de #m si'ni"icado? Ao apresentar #ma revisão dos casos de não)simetria entre "orma e si'ni"icado em mor"olo'ia, proc#ramos "ornecer ao leitor #ma visão crtica e corrente so0re esse tipo de distúr0io nas constr#ç<es mor"ol/'icas do port#'#>s. Morfema: definição e problemas 3m0ora o conceito de mor"ema possa so"rer pe;#enas variaç<es, em decorr>ncia do modelo de anlise adotado, % relativo consenso ;#anto @ idia de ;#e $ formas mínimas dotadas de significação constituem morfemas& (MA--3B5, 19:, p. 119!. A se'#ir, são apresentadas sete de"iniç<es para essa entidade= *  Doutor em Lingüística pela UFRJ com pós-doutorado em fonologia e morfologia pela UNIC!"# "es$uisador-%olsista do CN"$ e professor-ad&unto I' do Departamento de Letras 'ern(culas )etor de Língua "ortuguesa+ da Uni,ersidade Federal do Rio de Janeiro# **  Doutora em Lingüística pela UFRJ com pós-doutorado em semntica pela UNIC!"# "rofessor ssociado I do Departamento de Letras 'ern(culas )etor de Língua "ortuguesa+ da Uni,ersidade Federal do Rio de Janeiro#

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Das relações entre forma e conteúdo nas estruturas morfológicas do português

Carlos Alexandre Gonçalves*

Maria Lúcia Leitão de Almeida**

Introdução

Como assinala Jensen (1991, p. 1!, o mor"ema constit#i a $lin%a de "rente& da

d#pla artic#lação da lin'#a'em, sendo caracteriado, portanto, como entidade)limtro"e

entre a lin'+stica da "orma ("onolo'ia e sintaxe! e a lin'+stica do conteúdo

(semntica!. -eorias e modelos se desenvolveram tentando explicitar como se d o

mapeamento entre expressão e conteúdo em mor"olo'ia. Com esse prop/sito,

depararam)se com #m pro0lema $de solução quase impossível: definir o que vêm a

ser as unidades da análise morfológica& (A23456, 1978, p. :!. este texto,

apresentamos e disc#timos al'#ns desvios no mapeamento expressão)conteúdo em

mor"olo'ia, tentando responder as se'#intes ;#est<es= (a! em port#'#>s, ;#e

sit#aç<es $sa0otam& o ideal de #nivocidade entre "orma e conteúdo? (0! mor"emas

são, de "ato, $coisas& o# podem ser interpretados como $re'ras& (o# padr<es!? (c! os

expedientes #sados para dar conta dos casos $mal)comportados& se mostram

apropriados? e (d! como a0ordar casos em ;#e #m mesmo "ormativo veic#la mais de

#m si'ni"icado? Ao apresentar #ma revisão dos casos de não)simetria entre "orma e

si'ni"icado em mor"olo'ia, proc#ramos "ornecer ao leitor #ma visão crtica e corrente

so0re esse tipo de distúr0io nas constr#ç<es mor"ol/'icas do port#'#>s.

Morfema: definição e problemas

3m0ora o conceito de mor"ema possa so"rer pe;#enas variaç<es, em decorr>ncia

do modelo de anlise adotado, % relativo consenso ;#anto @ idia de ;#e $ formas

mínimas dotadas de significação constituem morfemas& (MA--3B5, 19:, p. 119!. A

se'#ir, são apresentadas sete de"iniç<es para essa entidade=

* Doutor em Lingüística pela UFRJ com pós-doutorado em fonologia e morfologia pela UNIC!"#"es$uisador-%olsista do CN"$ e professor-ad&unto I' do Departamento de Letras 'ern(culas )etor deLíngua "ortuguesa+ da Uni,ersidade Federal do Rio de Janeiro#

**  Doutora em Lingüística pela UFRJ com pós-doutorado em semntica pela UNIC!"# "rofessor

ssociado I do Departamento de Letras 'ern(culas )etor de Língua "ortuguesa+ da Uni,ersidadeFederal do Rio de Janeiro#

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)a+ Dloom"ield (19, p. 1E!= $O morfema é uma forma mínima recorrente (dotada designificado) que não pode ser analisada em formas recorrentes menores, sem preuí!o da significação&F

)%+ ida (19:9, p. 89!= $"ormas que possuem distintividade sem#ntica correspondema morfemas&F

)c+ -o'e0 (19H8, p. 9!= $$orfema designa o elemento fundamental e mínimo daling%ística de conte&do&.

)d+ Lan'acIer (19, p. 1!= $'m morfema tem um significado claro e constante emtodos os seus usos, emora sea relativamente fácil encontrar eceç*es&.

)e+ Kelmslev (19H, p. 1!= $ +pesar de o morfema corresponder ao plano doconte&do, á casos em que elementos formais, apesar de va!ios de significação,levam a morfemas por apresentarem uma clara função morfológica&.

)f+ Crstal (1978, p. 18!= $-omo todas as noç*es .êmicas, morfemas são unidadesastratas, reali!adas por unidades discretas, conecidas como morfes (///)/0rovidas de significado ou de função, tais unidades (///).

)g+ Jensen (1991, p. 8!= $$orfemas contriuem com algum tipo de significado 1 ou, pelo menos, função 1 nas palavras das quais são constituintes&.

Como se v>, % #nanimidade na caracteriação do mor"ema como entidade

si'ni"icativa, m#ito em0ora as de"iniç<es apresentem diver'>ncia ;#anto (1! ao #so do

termo si'ni"icação e (! @ incl#são de o#tros aspectos ;#e acompan%am a nat#rea

dessa #nidade de anlise lin'+stica. 3m lin%as 'erais, tais de"iniç<es se s#stentam

;#ando % estrita relação 0idirecional, de #m)para)#m, entre "orma e si'ni"icado.

M#itas ;#est<es s#r'em em "#nção desse mapeamento, o ;#e esvaia a noção de

mor"ema e torna necessria #ma disc#ssão dos casos ;#e sa0otam esse ideal de

correspond>ncia.

ara dar conta da "alta de simetria no mapeamento "orma)si'ni"icado, m#itas

sol#ç<es "oram propostas, como, por exemplo= (a! analisar os casos menos

sistemticos como $tipos especiais de "ormativos&F (0! propor operaç<es "onol/'icas

;#e expli;#em di"erentes realiaç<es s#per"iciais de elementos mor"ol/'icosF (c!

admitir a exist>ncia de casos não)mor">micosF (d! prever mor"emas ;#e não se

materialiam "onolo'icamenteF e (e! post#lar ;#e re'ras são tam0m mor"emas.

4es#mindo, ass#mir ;#e palavras são se'mentadas em partes mnimas

si'ni"icativas pilar de s#stentação dos est#dos mor"ol/'icos de 0ase estr#t#ralista e

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'erativa leva a #m número si'ni"icativo de pro0lemas, sa0otando o ideal de

#nivocidade entre #nidades semnticas e express<es "onol/'icas.

Modelos 0aseados na noção de item (e não na de palavra! tendem a conce0er amor"olo'ia como #m m/d#lo linear, sinta'maticamente determinado pela adição de

"ormas ;#e portam si'ni"icados (o# "#nç<es!. rocessos mor"ol/'icos de nat#rea

não)a'l#tinativa, como, por exemplo, a red#plicação (N;#e0ra);#e0raOF Np#xa)p#xaO!, o

tr#ncamento (Nsala"rrioO P Nsala"raOF Ndele'adoO P Ndele'aO! e o cr#amento voca0#lar

(Nma#toristaO PP Nma#O Q NmotoristaOF Nc%a"O PP Nca"O Q Nc%O!, não são ele'antemente

acol%idos nessa anlise de #m)para)#m entre "orma e conteúdo e constit#em, nas

palavras de ocIett (19:, p. E!, $uma difícil manora, contudo necessária&.

3lencamos, na pr/xima seção, #ma srie de casos ;#e conspiram contra #ma

correspond>ncia #nvoca entre "orma e si'ni"icado na mor"olo'ia do port#'#>s.

Sabotando o mapeamento forma-significado em morfologia do português

alavras nem sempre são divididas em partes discretas, i. e., @s vees, % #ma

#nidade semntica ;#e não apresenta expressão na palavra. C%amemos essa

sit#ação de $o caso do formativo &. Motivado pelos ideais estr#t#ralistas de

oposição, con'r#>ncia e e;#il0rio, o ∅  #ma "orma co0erta, nos termos de arris(1987!, depreendida a partir do contraste explcito com "ormas a0ertas (representadas

"onolo'icamente! ;#e veic#lam in"ormação cate'orial de #ma mesma classe.

3m port#'#>s, são detectados ∅s nas "ormas de masc#lino e sin'#lar, nos

nomes, e nas "ormas de presente do indicativo e R pessoa do sin'#lar, nos ver0os.

 Assim, palavras como NcarroO e NcantamosO apresentam ∅s por;#e não se valem de

"ormas a0ertas para representar, nesta ordem, as cate'orias 'ramaticais Nsin'#larO e

Npresente do indicativoO. -emos, nessas palavras, conteúdos ;#e não se materialiam

"onolo'icamente, o ;#e s#'ere a exist>ncia de vaios si'ni"icativos.

em todos os estr#t#ralistas "oram #nnimes na aceitação de ∅s como entidades

mor"olo'icamente relevantes. Gleason Jr. (19H1= 7E!, por exemplo, descreve esse

elemento como $logicamente insustentável & e $asolutamente desnecessário&,

ar'#mentando ;#e se seria possvel $adicionar livremente !eros de toda a ordem 2s

nossas descriç*es, cada um deles tão defensável como o &ltimo &. At mor"/lo'os ;#e

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de"endem a exist>ncia de ∅s nas ln'#as %#manas, mostra 4osa (EEE= 8!,

$advertiram para a parcim3nia com que deveriam ser empregados&. 3m lin%as 'erais,

∅s são com#mente aceitos para caracteriar #nidades da "lexão, sendo post#lados

para representar elementos não)marcados de #ma determinada cate'oria lin'+stica.

2essa maneira, o #so de ∅s co'nitivamente motivado (DSD33, 1978!= tende a

caracteriar elementos 0sicos o# concept#almente mais simples.

5e, por #m lado, #nidades de conteúdo podem não ser representadas

"onolo'icamente, por o#tro, se;+>ncias "Tnicas se'mentveis podem não ser

associadas a #nidades de conteúdo. -em)se, nessa sit#ação, o ;#e se pode c%amar

de $o caso dos formativos assemnticos&, o# seKa, dos elementos de expressão

sem conteúdo. ossi0ilitados pela alta transpar>ncia dos elementos a ;#e se

associam, "ormativos assemnticos tam0m con%ecidos como mor"es vaios

(6CU3--, 19:! o# "ormas não)mor">micas (CAD4AL, 197E! são #nidades de

vrios tipos em port#'#>s=

).+ Vndices temticos  (o# mor"es classi"icat/rios, na terminolo'ia de ocIett, 19:!.Wistas como #nidades da "lexão, tais marcas não veic#lam ;#al;#er in"ormaçãosemntica, m#ito em0ora apresentem importante "#nção mor"ol/'ica= servem paraa'r#par "ormas da ln'#a em classes "lexionais, como "aem as vo'ais temticas

ver0ais do port#'#>sF

)/+ Wo'ais e consoantes de li'ação  (o# mor"es relacionais, ainda na terminolo'ia deocIett, 19:!. 3ssa classe vem representada por se'mentos "Tnicos ;#e entramem determinados contextos para possi0ilitar K#nt#ras, de acordo com os padr<es"onotticos da ln'#a. anlises ;#e não os levam em conta como elementosisolveis, mas como partes do constit#inte ;#e os precede o# os se'#e. orexemplo, pode)se pensar na se;+>ncia X)alX como s#"ixo responsvel pela noçãode $l#'ar em ;#e se concentram plantaç<es de Y&, como ocorre em Npesse'alO,NlaranKalO e Nco;#eiralO. 3m "ormas como Nca"ealO e NcaKaalO, pode)se admitir aexist>ncia de #m X))X como mor"e)ponte (#ma espcie de $cola mor"ol/'ica&! entreas 0ases e o s#"ixo N)alO. A presença desse X))X K#sti"icvel em termos

"onotticos= aparece para impedir adKac>ncia voclica e, conse;+entemente, ini0ira exist>ncia de sla0as sem ata;#e. Como alternativa, poder)se)ia analisar XXcomo mem0ro do s#"ixo e, com isso, considerar a exist>ncia de #ma variaçãocondicionada "onolo'icamente1. 3ssa anlise alternativa, no entanto, es0arra n#mo#tro distúr0io de mapeamento, a alomor"ia, como descreveremos mais adianteF

)0+ 5e;+>ncias "Tnicas não)recorrentes  . -ais #nidades con"erem ao itemmor"olo'icamente complexo sentido excl#sivo, espec"ico e não)previsvel. esse

. 1s elementos relacionais efeti,amente encontrados em no,as forma23es s4o 565 e 5d57 $ue podem serconsideradas consoantes epent8ticas por e9cel:ncia na língua# 1 primeiro aparece em forma23esdenominais );cafe6in<o=7 ;ca&a6eiro=+ e o segundo7 em forma23es de,er%ais );arrumadeira=7 ;encanador=+#

1s demais elementos relacionais constituem resíduos <istóricos e podem rece%er interpreta23es ,ariadas7incluindo a analogia );cafeteira=+#

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'r#po, incl#em)se "alsas 0ases e "alsos a"ixos, c%amados 0as/ides e a"ix/ides(46CA, 1997!, ;#e, por não serem recorrentes, contrariando a de"inição deDloom"ield (19!, apresentada na seção precedente, aparecem em constr#ç<esisoladas. 3xemplos de 0as/ides são encontrados em (E1!= palavras em ;#e ase'mentação possvel 'raças @ alta transpar>ncia semntica do a"ixo (primeiracol#na! e @ exist>ncia de padr<es derivacionais 'erais (se'#nda col#na!, como o;#e caracteria as "ormaç<es Y)aria e Y)eiro. 3xemplos de a"ix/ides são vistos em(E!, em ;#e a 0ase, por ser #ma palavra da ln'#a, a#toria o "atiamento.

(E1! manada marcenaria X marceneiro0#rsite serral%eria X serral%eiromercenrio padaria X padeiromoroso carpintaria X carpinteirorústico artil%aria X artil%eiro

(! case0re carniça corpanil copio mar#Ko "errol%o

)>+ Zonestemas  ("on (p%ono! [ som Q est (aest%! [ perce0er Q ema #nidadeestr#t#ral!. Zonestemas são se;+>ncias "Tnicas recorrentes ;#e associamal'#mas po#cas palavras com si'ni"icado relacionado (J653, 1997!. M#itosvoc0#los ne'ativos do port#'#>s, como os ;#e aparecem na primeira col#na de(E!, apresentam #ma nasal recorrente a ;#e se pode atri0#ir #ma identidade desi'ni"icado= ne'ação. o entanto, se tais "ormas são recon%ecidas no interior de#nidades maiores, destroem)se, para o restante do voc0#lo, as relaç<es de some si'ni"icado ;#e "#ndamentam a se'mentação em #nidades mnimas. 6 mesmoacontece com os dados da se'#nda col#na de (E!, nos ;#ais a isola0ilidade de XIX

como s#posto elemento caracteriador de per'#nta levaria @ proposição de vrioselementos não)mor">micos=

)0+ não ;#andonada ;#antonin'#m ;#alnen%#m ;#emnecas ;#e

)?+ Mor"es s#pr"l#os  (A23456, 199!. determinadas "ormas ;#e aparecem nointerior do voc0#lo sem ;#al;#er tipo de motivação "onol/'ica. \ o caso da vo'al

)a em dados como NlindamenteO e N'loriosamenteO. 6 ;#e "aer com essa vo'al,n#ma anlise componencial do si'ni"icado do prod#to? 2e acordo com 4osa(EEE= H:!, seria possvel classi"ic)la como marca de "eminino, mas, ar'#menta aa#tora, $essa marca é decididamente supérflua num vocáulo invariável & e, piorainda, $incompatível com o significado da palavra&. Caso esse )a seKa entendidocomo expressão de '>nero "eminino, o#tro pro0lema se coloca= $marcar umafleão (supérflua) antes da derivação& (465A, EEE= H:!. odemos apelar para

/ Nesses e9emplos7 o en$uadramento das formas num paradigma semanticamente regular possi%ilita ainterpreta24o gen8rica do produto@ grupo de A );manada=+7 inflama24o em A );%ursite=+ e assimsucessi,amente#

0

 Cumpre enfati6ar $ue n4o 8 o fonestema o elemento n4o-morf:mico# Na ,erdade7 a se$ü:ncia fBnica $ueso%raria após a segmenta24o 8 $ue seria interpretada como n4o-significati,a#

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o#tras sol#ç<es, mas estaramos saindo de #m pro0lema para entrar em o#tro.os dados a se'#ir, aparecem elementos s#pr"l#os. essas palavras, as 0ases eos s#"ixos, isto , as "ormas realmente recorrentes, são 'ra"adas em ne'rito=

(E:! c!i"u.et)#simominim)al)idadesatisfeit-is-$ssimo

3m todas as sit#aç<es at a;#i apresentadas, as in"ormaç<es mor"ol/'icas

apesar da "alta de correspond>ncia "orma)conteúdo podem ser devidamente

isoladas, K ;#e se s#cedem n#ma lin%a temporal. casos, no entanto, em ;#e

simplesmente impossvel demarcar as in"ormaç<es mor"ol/'icas. alavras podem

apresentar claramente dois (o# mais! si'ni"icados, sendo di"cil esta0elecer a

se'mentação. C%amemos essa sit#ação de $o caso das fronteiras morfológicas& e

veKamos a concretiação desse tipo de "enTmeno em dados da ln'#a port#'#esa.

rocessos não)a'l#tinativos não se aK#stam 0em a $caixotes mor"ol/'icos& e, por

isso mesmo, são de di"cil se'mentação. Zormas replacitivas (o# alternativas! il#stram

0em o pro0lema das "ronteiras em mor"olo'ia. At#ando em conK#nto com #ma marca

mor"ol/'ica aditiva o# ∅  (estas interpretadas como mor">micas!, replacitivos

(c%amados por Cmara Jr. (19E! de s#0)mor">micos o# de re"orço! caracteriam)se

por #ma m#dança na constit#ição "onol/'ica da 0ase e, por isso, são vistos comocasos de "lexão interna (mani"estação no pr/prio radical!. 3ssa m#dança vem a ser o

a0aixamento voclico, no caso do '>nero e do número (Nn]T^voO, Nn]/^vaO, Nn]/^vosO!, o#

di"erenças na alt#ra, em "ormas do paradi'ma ver0al (Nd]# r̂moO, Nd]/^rmeO,

Nd]T^rmimosO!, explicveis por umlaut  (o# meta"onia!.

 Alternncias voclicas de re"orço tam0m são encontradas na derivação. o#cos

são os s#"ixos tonos do port#'#>s. 2entre eles, destaca)se )ico, "ormador de

adKetivos. as "ormas res#ltantes, a in"ormação aditiva (acrscimo do a"ixo! acompan%ada por #ma m#dança na ;#alidade voclica c%amada de a0aixamento

dactlico (B3-_3L5, EEE!, como nos dados da primeira col#na de (E8!, a se'#ir, e de

a0aixamento espondaico (se'#nda col#na! , o ;#e evidencia não estar o replacitivo

circ#nscrito aos paradi'mas "lexionais, como atestam os dados a0aixo, ;#e s#'erem a

exist>ncia de ne#traliação tam0m na srie tTnica (B3-_3L5, EEEF D`56L, EE!.

(E8! cal]T^r cal]/^rico d]T^ce d]/^cil

es;#el]>^to es;#el]^tico m]T^lver m]/^vel

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met"]T r̂a meta"]/^rico pr]T^Ketar proK] t̂il

4adicais tam0m podem se modi"icar para expressar a cate'oria sinttica da

palavra. \ o ;#e acontece na sistemtica oposição de classes a se'#ir, em ;#e o

nome sempre caracteriado pela vo'al mdia "ec%ada, em oposição @ "orma ver0al,

cate'oricamente representada pela mdia a0erta=

(EH! (o! es"]T^rço (e#! es"]/^rço (o! ap]>^lo (e#! ap]^lo(o! tr]T^co (e#! tr]/^co (o! ap]>^'o (e#! ap]^'o(o! c%]T^ro (e#! c%]/^ro (o! com]>^ço (e#! com]^ço(o! re"]T^rço (e#! re"]/^rço (o! ap]>^rto (e#! ap]^rto

6#tro caso de di"cil $mano0ra&, por não envolver se;+enciação linear de "ormas,

o minus  mor"ema (mor"e s#0trativo!. a visão de ida (19:9, p. 8!, mor"es

s#0trativos devem ser post#lados para acol%er casos em ;#e a expressão de #m traço

'ramatical se "a atravs da dimin#ição do corpo "Tnico da palavra)0ase. Consistem,

pois, na perda de #m o# mais sons para marcar oposição entre mem0ros de #ma

mesma cate'oria. ares como NirmãoOXOirmãO e N/r"ãoOXO/r"ãO, entre o#tros, evidenciam

;#e as "ormas de "eminino são caracteriadas pela ;#eda da semivo'al do masc#lino.

#m modelo do tipo ` (`tem)e)rocesso!:, poder)se)ia pensar n#ma "orma 0sica

marcada pela presença de #m ar;#i"onema nasal travador de sla0a (Xi4OmaX e

XN/4"aX!. 6 se'mento "inal dessas "ormas a0stratas se torna visvel nas operaç<es

derivacionais, como em NirmanarO e Nor"anatoO, e s#primido, ;#ando, em "ronteira

mor"ol/'ica de "lexão, precede o X)aX de "eminino, nasaliando)o e ocasionando a

posterior de'eminação das vo'ais "inais, como se o0serva no es;#ema a se'#ir=

)+   Xi4OmaX ("orma 0sica!Xi4OmaX Q X)aX (re'ra mor"ol/'ica!Xi4OmaaX (concatenação!Xi4OmãaX (;#eda de nasal e nasaliação de vo'al precedente!Xi4OmãX (de'eminação!irmãP sada

 A representação em (E!, tpica de modelos ;#e prev>em derivação serial a partir

de #ma representação mais a0strata, como o 'erativo standard  (C6M5US b ALL3,

>  m lin<as gerais7 no modelo I )Item-e-rran&o+7 pala,ras s4o ,istas como se$ü:ncias lineares)com%ina23es7 arran&os+ de morfes )itens+# dota-se7 para tanto7 a id8ia de $ue as informa23esmorfológicas podem ser de,idamente dispostas num molde pre,iamente esta%elecido# 1 modelo

alternati,o7 Item-e-"rocesso7 pre,: o uso de processos fonológicos para descre,er as rela23es formaisentre pala,ras#

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19H7!, leva a repensar o minus  mor"ema como entidade relevante n#ma anlise

mor"ol/'ica. a proposta "ormaliada em (E!, a aparente red#ção de corpo "Tnico

pode ser atri0#da @ at#ação de processos "onol/'icos em srie so0re o ;#e se c%ama

de "orma 0sica (o# representação s#0Kacente!. esse caso, o acrscimo de )a @"orma do masc#lino desencadeia #ma srie de re'ras se'mentais ordenadas ;#e

"aem com ;#e o prod#to não mani"este a presença do mor"ema. -al sol#ção, apesar

de mais a0strata, atri0#i @ "onolo'ia a irre'#laridade encontrada na mor"olo'ia.

5e, por #m lado, relativamente nat#ral a explicação para a "alta de )a em dados

como NirmãO e N/r"ãO, por o#tro, como descrever a at#ação de re'ras "onol/'icas

ordenadas nos casos de tr#ncamento (primeira col#na de (E7! a se'#ir! e

%ipocoriação (se'#nda col#na!? #e processos se'mentais explicariam o

enc#rtamento, extremamente necessrio para sinaliar a in"ormação mor"ol/'ica?

(E7! dele'ado P dele'a 4a"ael P 4a"asala"rrio P sala"ra Alexandre P YandeMaracanã P Maraca Gertr#des P -#de5apatão P sapata Mariana P Mari

-ais processos, modernamente acol%idos so0 a r#0rica Nmor"olo'ia s#0trativaO

(U4`5, EEEF `3465, EEE!, v>m rece0endo tratamento ade;#ado n#m modeloc%amado Mor"olo'ia ros/dica (McCA4-S b 4`C3, 1997!, ;#e descreve

"enTmenos não)concatenativos @ l# de dispositivos como moldes e cirsc#nscriç<es.

as a0orda'ens anteriores ao advento da Mor"olo'ia ros/dica, no entanto, tais

processos "oram deli0eradamente rele'ados a se'#ndo plano, sendo denominados de

$mar'inais& e $idiossincrticos&8.

-am0m % di"ic#ldade de se demarcarem "ronteiras nos casos em ;#e #m

conteúdo mor"ol/'ico se mani"esta prosodicamente. 2eterminadas in"ormaç<es

mor"ol/'icas podem ser expressas atravs de alteraç<es na con"i'#ração pros/dica

da palavra)0ase, como variaç<es no tom, na d#ração voclica e no acento lexical. 3m

port#'#>s, os c%amados mor"es s#prasse'mentais (tam0m con%ecidos como

Ns#pra"ixosO! servem para expressar di"erenças de tempo e m#danças de classe. A

oposição entre o "#t#ro do presente e o pretrito mais);#e)per"eito, como em NcantarO

vs. NcantaraO, evidencia ;#e a in"ormação ;#anto ao acento deve estar contida no

?

 "ara aprofundamento no tema7 remeto o leitor ao artigo de Eon2al,es )/>+7 $ue apresenta os processos n4o-concatenati,os do portugu:s e os descre,e G lu6 da !orfologia "rosódica#

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"ormativo )ra= se tono, caracteria "ormas de mais);#e)per"eitoF se tTnico, "ormas de

"#t#ro.

-odos os exemplos da primeira col#na de (E9!, a se'#ir, caracteriam "ormasver0ais, em oposição aos exemplos da se'#nda col#na, cate'oriados como nomes.

6 ;#e acontece nesses pares ;#e o acento, como determinados a"ixos derivacionais

da ln'#a ()ção, )mento, )a'em!, sinalia a cate'oria sinttica da palavra= o ver0o

paroxtono, em oposição ao nome, sempre proparoxtonoH.

(E9! "a0rica "0ricare"#'io re"ú'io

secretaria secretriaa#xilio a#xlione'ocio ne'/cio

2ados como esses corro0oram a idia de ;#e mor"emas não são

necessariamente $coisas&, podendo ser vistos tam0m como processosXoperaç<es.

4ecorrendo a Anderson (197, p. 18!, podemos a"irmar ;#e replacitivos, s#0trativos e

s#prasse'mentais "aem parte do 'r#po dos $mal)comportados&, "icando mal

acomodados n#m modelo do tipo `A (`tem)e)ArranKo!, K#stamente por;#e di"cil

se'mentar $a forma de superfície que contém essas categorias, de modo que alguma

suparte de sua estrutura constitua o morfe em questão&.

-am0m são mal)comportados, por envolver ;#est<es de "ronteira e, não raro,

re;#erer acesso a in"ormaç<es pros/dicas, as c%amadas "ormas descontn#as. essa

sit#ação, #ma s/ #nidade "ormal dividida em "raç<es e aparece em di"erentes

l#'ares da cadeia sinta'mtica. o se# interior, #ma o#tra "orma se incl#i, tornando)a

descontn#a. Zormativos descontn#os podem ser de nat#reas variadas= raes,

a"ixos "lexionais e a"ixos derivacionais.

`n"ixos exempli"icam casos mais tpicos de descontin#idade mor"ol/'ica= inserem)

se por completo no interior da rai, "racionando)a em partes não)discretas. 3m ra0e,

por exemplo, #ma se;+>ncia triconsonantal simples (padrão CCC para raes!

H N4o 8 por acaso $ue a nominali6a24o regressi,a de ;ru%ricar= se&a fre$üentemente produ6ida ;r%rica=7com acento proparo9ítono7 contrariando a norma esta%elecida como padr4o ;ru%rica=7 forma anBmala na

língua#

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responsvel pela veic#lação de inúmeros si'ni"icados relacionados, como se o0serva

nos dados a0aixo.

(1E! *It0 NescreverOIata0 Nele escreve#OIati0 NescrevendoOIita0 NlivroO

3m port#'#>s, a descontin#idade mor"ol/'ica aparece em dois a"ixos= #m

"lexional e o#tro derivacional. o primeiro caso, incl#em)se as "ormas de "#t#ro do

presente e "#t#ro do pretrito. o se'#ndo, os casos de parassntese (o# circ#n"ixação

X sim#l"ixação!.

 A tcnica da com#tação possi0ilita identi"icar )ra e )ria como elementos

veic#ladores das noç<es de N"#t#ro do presenteO e N"#t#ro do pretritoO,

respectivamente. 3ssas #nidades mnimas indivisveis podem ser "racionadas para

;#e, em se# interior, seKa anexado #m cltico de o0Keto= Nencontrar)se)O, Nencontrar)

me)iaO. 5eKa ;#al "or a interpretação dada ao cltico, "ato ;#e, em termos estr#t#rais,

ele responsvel pela cisão do "ormativo modo)temporal nesses #sos mais tpicos do

port#'#>s e#rope#.

os casos de parassntese, #m pre"ixo e #m s#"ixo são adicionados

sim#ltaneamente a #ma 0ase para e"eitos de m#dança de classe e expressão de

conteúdo aspect#al. Como s/ % #ma di"erença de si'ni"icado entre derivado e

derivante, #ma possvel sol#ção seria considerar ;#e #m dos elementos (o pre"ixo o#

o s#"ixo! desprovido de conteúdo, interpretando)o, pois, como assemntico. 2e

;#al;#er modo, estaramos evitando #ma sit#ação (descontin#idade mor"ol/'ica! para

criar o#tra (mor"es não)mor">micos!.

ma proposta alternativa ;#e evitaria a proli"eração indiscriminada de "ormas

sem si'ni"icado seria considerar a parassntese como #m caso de circ#n"ixação

(53C34, 199!, no ;#al % adição sim#ltnea de elementos nas posiç<es inicial e

"inal. Como o "ormativo literalmente se divide em dois, no se# interior anexada a rai,

como se o0serva no es;#ema a se'#ir=

(11! X)1  √

Q1Xen triste ecer  

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en vel%o ecer  em po0re ecer  em rico ecer  Xe .... ecerXtornar)se Y

-alve o caso de mais di"cil sistematiação, em termos de com0inação linear das

in"ormaç<es mor"ol/'icas, seKa a red#plicação o#tro mal)comportado da mor"olo'ia

(A23456, 197!. a literat#ra, a red#plicação pode ser analisada como $coisa& o#

como $re'ra&. o primeiro caso, 0em ao estilo `tem)e)ArranKo, a red#plicação envolve

elementos aditivos (pre"ixos e s#"ixos! o# descontn#os (in"ixos!. ma a0orda'em

dessa nat#rea se depara com #m ;#estionamento imediato= ;#e a"ixo esse ;#e,

para expressar a mesma noção, #tilia)se de "ormas tão variadas? #al , de "ato, o

$rec%eio&, i. e., a massa "Tnica responsvel pela expressão do conteúdo? Gleason Jr.

(19H1, p. 1:! de"ine a red#plicação como $afios com formas etremamente

variáveis&. Con"orme aponta 4osa (EEE!, Gleason Jr. analisa a red#plicação apenas

como #ma lista mor"emas aditivos, perdendo em 'eneralidade.

ma se'#nda interpretação, mais condiente com a a0orda'em `tem)e)rocesso,

considera a red#plicação #m mecanismo de c/pia= consiste na repetição (total o#

parcial! de #ma 0ase. Apesar de mais apropriada em termos de 'eneraliação, essa

anlise tam0m se depara com ;#estionamentos inevitveis= (i! ;#al a nat#rea do

elemento copiado? e (ii! como se d o processo de c/pia?

6s dados a se'#ir, extrados de 4osa (EEE!, evidenciam ;#e o redo0ro leva @

expressão do número no ver0o samoano. A red#plicação consiste na c/pia da

penúltima sla0a da 0ase, tornando)a descontn#a.

(1! manao ($;#er&! mananao ($;#erem&!

mat#a ($ vel%o&! mat#t#a ($são vel%os&!malosi ($ "orte&! malolosi ($são "ortes&!p#no# ($retesa&! p#nono# ($retesam&!pese ($canta&! pepese ($cantam&!alo"a ($ama&! alolo"a ($amam&!

Wista como processo, essa operação pode ser explicada nos se'#intes termos= a

cate'oria número pl#ral, nos ver0os, mani"esta)se pela repetição da penúltima sla0a

da "orma sin'#lar. 3ssa anlise permite captar a 'eneraliação de ;#e o elemento ;#e

veic#la a in"ormação de pl#ral não XnaX, Xt#X, XloX o# XpeX ;#e, na anlise de Gleason

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Jr., constit#iriam #ma lista de alomor"es ;#e expressam o mesmo conteúdo , mas a

repetição de #m constit#inte da 0ase.

3m port#'#>s, a red#plicação #m "enTmeno responsvel pela nominaliação= arepetição de #ma "orma ver0al na R pessoa do sin'#lar do presente do indicativo (a!

leva @ criação de #m nome, (0! mani"esta o aspecto iterativo7 e (c! pode, incl#sive,

rot#lar novos re"erentes, apresentando, portanto, "#nção lexical=

(1! es"re'a)es"re'a (ato de es"re'ar repetidas vees!emp#rra)emp#rra (ato de emp#rrar repetidamente!corre)corre (con"#são!p#xa)p#xa (tipo de doce!

pe'a)pe'a (0rincadeira in"antil!come)come (Ko'o de vdeo)'ame!

3lementos descontn#os e red#plicativos não são per"eitamente adaptveis ao

es;#ema de $caixotes mor"ol/'icos& por;#e (a! nem sempre se s#cedem n#ma lin%a

temporal e, em "#nção disso, (0! di"cil determinar onde começa e termina a

in"ormação mor"ol/'ica. 2e "ato, a mor"olo'ia ;#e se mani"esta pela adição linear de

"ormas se adapta 0em aos ideais de #nivocidade e isola0ilidade e, por isso, rece0e#

tratamento relativamente ade;#ado. Ao contrrio, a mor"olo'ia ;#e, de #ma "orma o#

de o#tra, não se mani"esta por estrito encadeamento de peças mor"ol/'icas

di"icilmente se acomoda a esse es;#ema e, em "#nção disso, "oi rele'ada a se'#ndo

plano.

6#tra sit#ação ;#e sa0ota o ideal de #nivocidade entre "orma e conteúdo $o

caso da alomorfia&, #ma ve ;#e as in"ormaç<es mor"ol/'icas nem sempre se

realiam da mesma maneira nos diversos am0ientes em ;#e se mani"estam. 2essa

constatação, deriva a idia de ;#e mor"emas são, na verdade, classes de mor"es=elementos di"erentes em "orma, mas com distintividade semntica com#m, são vistos

como mem0ros de #ma mesma classe de mor"emas. A alomor"ia constit#i "enTmeno

de $sa0ota'em& no ideal de correspond>ncia #nvoca por;#e, nesse caso, tem)se #ma

 K( casos de reduplica24o mais marginais na língua7 como atestam Eon2al,es l%u$uer$ue )/>+@).+ em início de pala,ras7 caracteri6ando rela23es de parentesco );mam4e=7 ;papai=7 ;,o,B=7 ;titio=+M )/+ emfinal de pala,ras7 e9pressando intensidade );%ololB=7 ;c<ororB=+M )0+ em situa23es de %a%-talO );dedera=7;cocoto=7 ;papato=+M e )>+ na forma24o de <ipocorísticos );Ded8=7 ;Faf(=+#

P

 1 termo iterati,o 8 utili6ado para indicar um e,ento $ue acontece repetidas ,e6es7 opondo-se7 portanto7a pontual#

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relação de #m)para)m#itos entre conteúdo e expressão (#m si'ni"icado relacionado a

vrias "ormas!.

#m modelo do tipo `A, a alomor"ia explicada em termos distri0#cionais= séries

estruturais diferentes constituem a ase para a cominação de possíveis alomorfes

num morfema apenas (`2A, 19:9= princpio (c! de identi"icação de mor"emas!. #m

modelo do tipo `, ele'e)se #ma "orma como 0sica, sendo as demais explicadas em

termos de operaç<es "onol/'icas. Analisemos a alternncia a0aixo=

(1! ]i^le'al ]f   m^possvel ]i.n^apto]i^moral ]f  n^certo ]i.n^experiente

]i^rreal ]f  g

^K#sto ]i.n^útil]i^ne'vel ]f   h^correto ]i.n^i'#alvel

Como se v>, as di"erenças "Tnicas o0servadas na "orma do pre"ixo de ne'ação

são previsveis e evidenciam #m caso tpico de distri0#ição complementar= o se'mento

voclico oral (]i)^! ocorre antes de #ma soante (nasal o# l;#ida!F o se'mento voclico

nasal (]f)^!, se'#ido de nasal ta#tossil0ica, aparece sempre ;#e a palavra)0ase se

inicia por #ma consoante (ocl#siva o# "ricativa!F por "im, a se;+>ncia 0i"Tnica

constit#da de vo'al Q consoante nasal alveolar %eterossil0ica (]i.n)^! caracteria

somente o último 0loco de "ormas as iniciadas por vo'al.

or ;#est<es de simplicidade e economia, podemos pensar em Xi)X como "orma

0sica do pre"ixo de ne'ação em port#'#>s. -odas as di"erentes realiaç<es podem

ser descritas por processos "onol/'icos re'#lares ;#e modi"icam a con"i'#ração

0sica desse elemento, inspecionando a classe maior do som ;#e inicia a palavra)

0ase. Assim, nos dados da primeira col#na, a a#s>ncia de consoante nasal

explicada pela at#ação de #m processo de dissimilação, re'#lado por #m princpio

con%ecido como 6C9= a consoante a0strata apa'ada ;#ando em contato com o#tra

soante, seKa ela nasal o# não. a se'#nda, ao contrrio, a nasal a0strata assimila o

ponto de artic#lação da consoante viin%a, tornado)se la0ial (] f m ^possvel!, alveolar

(] f n ^certo!, palatal (] f g ^K#sto! o# velar (] f h ^correto!, em "#nção do local de artic#lação

desse se'mento. or "im, nas palavras iniciadas por vo'al essa consoante a0strata

passa da posição de coda para a de onset   sil0ico, se'#indo o princpio deQ  1C" 8 a a%re,ia24o da e9press4o inglesa Obligatory Countor Principle  )"rincípio do Contorno1%rigatório+# Nos atuais estudos de fonologia7 esse princípio %lo$ueia a ad&ac:ncia de elementos id:nticos

numa mesma camada# Nos dados em an(lise7 1C" e9plica o apagamento da nasal por$ue7 naconcatena24o morfológica7 duas soantes ficam contíguas#

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sila0i"icação ;#e prev> a li'ação de consoantes primeiramente nessa mar'em da

sla0a (o c%amado rincpio de Maximiação do Ata;#e!. Com isso, ad;#ire o ponto

de artic#lação default , coronal, como acontece em o#tros processos mor"ol/'icos do

port#'#>s= NrãO PP NranrioOF N"imO PP N"inalOF N#mO PP NúnicoOF N'ostosãoO P O'ostosonaO.

2ados como os apresentados em (1! levaram o modelo 'erativo)padrão a ne'ar

a exist>ncia de #m m/d#lo mor"ol/'ico a#tTnomo. Assim, ;#est<es mor"ol/'icas ;#e

p#deram ser resolvidas "onolo'icamente, como a alomor"ia a;#i descrita, "oram

a0ordadas em termos de derivação serial, recorrendo)se, para tanto, aos c%amados

sm0olos de "ronteiras= ]Q^ para "ronteiras de mor"emas e ]^ para "ronteiras de

palavras. Com isso, parte da mor"olo'ia, incl#indo)se, a, a realiação de s#as

#nidades de anlise, "oi incorporada ao componente "onol/'ico.

5e, por #m lado, relativamente nat#ral ;#e a "orma de primitivos mor"ol/'icos se

altere na concatenação, por o#tro, o ;#e dier a respeito dos dados a se'#ir, em ;#e o

radical se modi"ica sem nen%#ma ca#sa "Tnica aparente? 5em dúvida al'#ma, esses

casos envolvem alomor"ia, no sentido estrito do termo, mas in"ormaç<es 'ramaticais,

como tempo e aspecto, aparecem "#ndidas com o conteúdo lexical da 0ase. a

proposta co'nitivista de D0ee (1978!, dados desse tipo são explicveis pela alta

relevncia do tempo, do modo e do aspecto para o si'ni"icado do ver0o ;#anto

maior a relevncia do conteúdo 'ramatical, maior a c%ance de "#são na expressão

mor"ol/'ica.

(1:! XpoX pon%o, p<e, pon%a, pon%amosXp#X p#n%a, pún%amos, p#n%amXp#5X p#sramos, p#semos, p#sssemos, p#ser Xpo4X porei, poramos, poremos, poria

Como se v> em (1:!, a "orma Xp#X, alm de veic#lar a in"ormação de $colocar,

a'r#par, 0otar&, tam0m expressa as noç<es de tempo e modo, %aKa vista ser #sada

somente no imper"eito do indicativo. A mesma a"irmação pode ser "eita em relação @

variante XpoX, ;#e sempre aparece associada ao presente, nos modos indicativo,

s#0K#ntivo e imperativo1E. 2ito de o#tra maneira, "ormas com a sla0a poP se'#ida de

nasal palatal (Npon%oO! o# de semivo'al nasal (Np<eO! mesclam o si'ni"icado NporO com o

. 1 imperati,o apresenta a mesma forma de rai6 $ue o presente# Do ponto-de-,ista do tempo7 podemos

di6er $ue o modo imperati,o7 por e9pressar uma ordem7 ,eicula a no24o de presente#

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de Ntempo presenteO, de modo ;#e o conteúdo 'ramatical aparece "#ndido com o

lexical. ma ve ;#e todas as "ormas ver0ais com XpoX remetem ao presente,

podemos a"irmar ;#e a noção de tempo "i'#ra no pr/prio radical do ver0o.

Zormas com Xpo4X sempre veic#lam a noção de "#t#ro (do presente o# do

pretrito, nos modos indicativo e s#0K#ntivo!. or "im, Xp#5X se associa ao pretrito

per"eito e ao mais);#e)per"eito. Como se v>, as vrias realiaç<es do radical servem

para expressar tempo, aspecto e modo, si'ni"icados diretamente relevantes para o

conteúdo do ver0o. 5ão 0em mais raras "#s<es com as cate'orias número e pessoa,

dada s#a 0aixa relevncia para o si'ni"icado do ver0o, K ;#e "aem re"er>ncia ao

s#Keito (não ao evento ver0al propriamente dito!. Assim, alternncias no radical podem

ser explicadas pelo "enTmeno da "#são. o entanto, temos, ainda assim, #m distúr0iono mapeamento "orma)si'ni"icado, K ;#e #m item monomor">mico veic#la mais de #m

conteúdo. , nos dados de (1:!, o ;#e se pode denominar de $o caso da

cumulação& "enTmeno de anlise mor"ol/'ica em ;#e #ma "orma indecomponvel

comporta mais de #m si'ni"icado.

 A c#m#lação constit#i empecil%o para o ideal de #nivocidade entre expressão e

conteúdo em mor"olo'ia, K ;#e, no c%amado  portmanteau11, #ma "orma não)

analisvel em #nidades menores veic#la, sim#ltaneamente, dois (o# mais! conteúdos.

-oda a "lexão ver0al port#'#esa marcada pela presença de elementos c#m#lativos,

#ma ve ;#e a in"ormação temporal se s#perp<e @ de modo e aspecto, da mesma

"orma ;#e a de pessoa aparece interseccionada com a de número. Alm da

c#m#lação de si'ni"icados, elementos mor"ol/'icos tam0m podem ser caracteriados

pelo entran%amento de "#nç<es. -al o caso dos s#"ixos nominaliadores, como

)mento e )ção, por exemplo, ;#e, alm de veic#lar #m si'ni"icado e promover

m#dança cate'orial (de ver0o para nome!, são tam0m responsveis pela atri0#ição

de '>nero.

..  1riginalmente7 o termo  portmanteau  )do franc:s ;ca%ide=+ foi introdu6ido por KocOett ).Q>+ paradenominar um morfe $ue corresponde a dois ou mais morfemas# sses morfemas apresentam os mesmostra2os gramaticais de outros $ue ,em em se$ü:ncia em certos conte9tos# o caso da crase em portugu:s#

 Portmanteau 8 tam%8m o termo utili6ado por "iSeros )//+ e ra&o )/+ para %ati6ar o processo deforma24o de no,as pala,ras $ue n4o se identifica nem com a composi24o propriamente dita7 nemtampouco com a deri,a24o o cru6amento ,oca%ular );sacol8=7 ;c<af8=+# Daí esses autores c<amarem de

 portmanteaux os ,oc(%ulos cru6ados $ue apresentam segmentos am%imorf:micos )comuns Gs duas %ases+#

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ma sit#ação diametralmente oposta @ o0servada na alomor"ia $o caso da

identidade formal&. essa sit#ação, não se tem distintividade "ontica, mas

distintividade semntica, isto , #ma mesma se;+>ncia "Tnica veic#la mais de #m

si'ni"icado. 5#r'em, de imediato, dois ;#estionamentos= (a! %aver tantos "ormativos;#antos "orem os si'ni"icados? e (0! o ;#e, de "ato, caracteria as #nidades da

mor"olo'ia, a "orma o# o conteúdo?

Do conteúdo para a forma: novas maneiras de sabotagem%

a seção anterior, "oram vistos vrios casos ;#e traiam pert#r0aç<es ao ideal de

#nivocidade "ormaXconteúdo. 6s "atos mor"ol/'icos ;#e evidenciam a "alta de

correspond>ncia são provenientes de a0orda'ens ;#e privile'iam a "orma em

detrimento do conteúdo.

5e partirmos, porm, de perspectiva contrria, o# seKa, de a0orda'em ;#e

perce0e a necessidade de expressão e a 0#sca de s#a representação "ormal, vamos

nos deparar i'#almente com padr<es de vrios conteúdos para #ma "orma, o# de #ma

"orma para vrios conteúdos. 3m o#tras palavras, veri"icamos a exist>ncia de

polissemia e %omonmia nas "ormaç<es mor"ol/'icas, ;#e podem ocorrer o# nos

a"ixos o# nos prod#tos derivacionais.

&olissemia e sua manifestação morfológica

\ com#m ;#e se ac%e em comp>ndios ;#e tratam de derivação a citação de

determinado s#"ixo o# pre"ixo associados a se#s possveis valores, depreendidos de

anlises localiadas. Lem0ramos, a tt#lo de exemplo, o s#"ixo )eiro, so0re o ;#al se

"ala ;#e pode "ormar a'entes %a0it#ais o# pro"issionais, locais, "enTmenos da

nat#rea, o0Ketos, il#strando)se com palavras como NKornaleiroO, N'alin%eiroO, NnevoeiroO,

cineiro. Zato similar se d com o#tros s#"ixos a'entivos como )nte e )dor. 5e oss#"ixos são acrescidos a 0ases e se os diversos si'ni"icados ;#e veic#lam são

independentes entre si, então, seriam os s#"ixos derivacionais mani"estaç<es de

%omonmia? 5e sim, tal "ato a#mentaria o lxico e o c#sto da a;#isição. 3ssa

possi0ilidade, entretanto, contra)int#itiva, K ;#e a o0servação da ln'#a em #so,

com prod#ç<es nãodicionariadas, evidencia novas criaç<es lexicais ;#e lançam

mão do s#"ixo para determinar este o# a;#ele valor semntico. 5ão criaç<es

relativamente recentes Npa'odeiroO e N"#n;#eiroO, ;#e podem expressar a'ente

pro"issional o# %a0it#al, assim como N0rameiroO, ;#e s/ desi'na, pela pr/pria nat#rea

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da atividade (cons#mir #ma determinada marca de cerveKa!, a'ente %a0it#al. 5e %

extensão re'#lar dos si'ni"icados dos s#"ixos para determinadas acepç<es, lcito

pensar, pois, ;#e se trata de polissemia e não de %omonmia. 3 mais, ;#e tais

extens<es "ormam redes motivadas por processos meta"/ricos o# metonmicos(G6jALW35 b ALM3`2A, EE8!.

Caso interessante de s#"ixo ;#e aparentemente t>m vrios e di"erentes

si'ni"icados o de )#ra. Weri"icaç<es em tra0al%os "ilol/'icos indicam ;#e o s#"ixo

)#ra, no latim, era "ormador de adKetivos e, no port#'#>s do Drasil, torno#)se #m s#"ixo

"ormador de nomes a partir de adKetivos (Nlar'#raO, Nalv#raO! e ver0os (Nmorded#raO,

Narmad#raO!. 5aid Ali (191! ensina ;#e m#itos termos de ori'em ver0al em )#ra "oram

introd#idos no port#'#>s por via er#dita (N"ormat#raO! o# "oram rece0idos diretamente

do latim, desaparecendo os respectivos ver0os, o# tomando estes "ormas di"erentes

(Npint#raO PP Npict#raO PP NpictorO PP Npin'oO!. Ainda se'#ndo 5aid Ali (191= !,

$a sorevivência, na linguagem popular, de nomes em .ura, perdida arelação associativa que tinam certos veros latinos, emprestou aoelemento formativo novo aspecto, ailitando.o para untar.setamém aos adetivos/ +ssim, é que á nos primeiros tempos dalíngua portuguesa avia sustantivos em .ura derivados de adetivos,aos quais pouco a pouco se foram untando outros muitos: longura,largura, rancura, verdura, grandura, negrura, grossura, formosura,

etc .&

o ;#e di respeito @s especi"icaç<es semnticas e @ prod#tividade, in"orma ainda

o mesmo a#tor ;#e o s#"ixo 'era nomes de ação, porm poss#i 0aixa prod#tividade,

#ma ve ;#e esses nomes podem constit#ir)se com o#tros elementos "ormativos o#

so"rer m#dança de sentido, sendo aplicado para desi'nar o0Ketos materiais=

N"ec%ad#raO, Na0otoad#raO. Cmara Jr. (199! a"irma cate'oricamente, entretanto, ;#e

)#ra não prod#tivo para os s#0stantivos a0stratos de ação. Co#tin%o (19H9!, por s#a

ve, assinala ;#e o s#"ixo )#ra "ormador de s#0stantivos ;#e indicam ;#alidade(N'ross#raO!, estado (N"resc#raO!, instr#mento (Natad#raO!, o0Keto (Na0otoad#raO!, ação

(Nmorded#raO! o# res#ltado (N"eit#raO!. A par das di"erentes constataç<es, v>)se ;#e

essas anlises apontam para relação de %omonmia, se considerado o se'#inte

critrio= "ormas %omTnimas são a;#elas "onolo'icamente i'#ais, c#Kas si'ni"icaç<es

não se conse'#e associar n#m mesmo campo semntico.

3stamos, pois, diante de d#as constataç<es parciais= a improd#tividade do s#"ixo

)#ra e o "ato de esse s#"ixo ass#mir di"erentes valores, com di"erentes "#nç<es, nas

0ases a ;#e se K#nta.

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ara veri"icar a primeira, "iemos #ma 0#sca com a "erramenta eletrTnica 4oogle

em stios de relacionamento da internet . -al atividade tro#xe as se'#intes palavras

não)dicionariadas=

(18! ma'r#ra 0onit#ra on#rac%at#ra po0r#ra pret#radoid#ra limp#ra viad#ra

3ssas palavras, como K %avia veri"icado 5aid Ali para a prod#tividade do )#ra em

port#'#>s, "ormam nomes a partir de adKetivos e inte'ram o 'r#po mais prod#tivo,

em0ora não o único de "ormas novas % a;#elas c#Kas 0ases são s#0stantivos

(Ntaman%#raO, Ncois#raO, Nlimpe#raO! e a;#elas com 0ases ver0ais (Ncomprad#raO,

Nvended#raO, Na0rid#raO!.

CoteKamos o 'r#po mais prod#tivo das novas "ormas com o 'r#po mais prod#tivo

das "ormas encontradas no port#'#>s arcaico, or'aniadas por similaridade

semntica, independentemente da classe da 0ase. esse 'r#po, temos "ormas como

N;#ent#raO, Ncorred#raO, N;#eixad#raO, Ncatad#raO e Nes"olad#raO, entre o#tras.

 A concl#são aponta insti'ante "ato= tanto as "ormas do port#'#>s arcaico ;#anto

as novas representam a propriedade de excesso em relação @ especi"icação da 0ase.

3stamos, sem dúvida, diante de #ma 'eneraliação e "ace a #ma possi0ilidade de

rever a %omonmia atri0#da a esse s#"ixo. Mas como propor a #ni"icação da anlise?

 A importncia da motivação semntica para a "ormação de novas palavras, assim

como a dos processos "i'#rativos como a met"ora e a metonmia, vem permitindo

novas perspectivas @ compreensão dos est#dos mor"ol/'icos. Como evid>ncia de

motivação semntica para "ormação de palavras, temos o caso de NpaixoniteO e

N"resc#riteO ;#e podem ser analisadas levando)se em conta a concept#aliação de

sentimento (paixão! e de atit#de ($"resc#ra&! como doença sem 'rande 'ravidade,

in"lamação c#rvel, tal como NapendiciteO o# NtendiniteO. ainda a #tiliação do s#"ixo

)ete como a;#ele ;#e "a parte de #m 'r#po liderado por al'#m, como em Nc%acreteO

(0ailarina ;#e dançava no pro'rama comandado pelo apresentador C%acrin%a!,

Nx#xeteO (assistente de palco da apresentadora Y#xa!, NmartelleteO (al#na participante

do 'r#po do pro"essor Martelotta!. -anto no caso das palavras derivadas por )ite

;#anto por )ete veri"ica)se a motivação semasiol/'ica para a "ormação, como tam0m

a polissemia s#"ixal por;#e os sentidos são adaptados @s 0ases.

Caso interessante tam0m de se o0servar o dos compostos, para os ;#ais a

literat#ra especialiada lança mão para explicar s#as "ormaç<es de ar'#mento como a

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ar0itrariedade. Wemos, entretanto, ;#e os compostos podem criar padr<es com #m

determinado núcleo ;#e vai sendo re#tiliado sempre com novos reen;#adramentos.

k o caso at#al de palavras "ormadas com N0olsaO.

 A palavra 0olsa (do 're'o $0rse&, do latim $0#rsa&!, para desi'nar o0Keto ;#eporta al'o de valor, K s#r'i# por metonmia, pois s#a primeira acepção $co#ro&

desi'nava o material de ;#e era "eito. A palavra passa depois a desi'nar $aK#da de

c#stos& para determinado "im e temos, então, N0olsa de est#dosO, N0olsa)"amliaO, N0olsa)

escolaO. 6 valor de tal conceito a0stratiado (0olsa como a#xlio a "#ndo perdido com

"ins sociais!, em determinado momento s/cio)%ist/rico, permite a "ormação de novas

palavras ;#e se valem das extens<es de sentido, mas ;#e mantm o c#n%o de $a#xlio

com "ins sociais&. k, então, ;#e circ#la na 'rande imprensa a palavra N0olsa)ditad#raO,

para desi'nar indeniação 'overnamental a vtimas da ditad#ra militar, e N0olsa)

derrotaO, o ressarcimento a ca0os eleitorais de candidatos a car'os polticos ;#e

perderam as eleiç<es.

W>)se, nos casos acima, ;#e o sentido 0sico des0ota, mas s#r'e ainda para

tentar caracteriar o aspecto social. Wale notar, nessas d#as últimas, "ormaç<es a

metonmia do se'#ndo termo dos compostos. `nteressante veri"icar, nesse conK#nto

promovido pela palavra $0olsa&, a "ormação N0olsa)"lorestaO, ;#e expressa devastação

mensal da AmaTnia, ;#e des"avorece interesses sociais, mas c#Ka #tiliação remete

@ contin#idade de ocorr>ncia.

ão por acaso, em texto ;#e "ala de novas express<es (NsinistroO, N0iarroO!, o

escritor João 0aldo 4i0eiro p#0lico# em setem0ro o arti'o $6 Dolsa Dlinda'em&, em

vrios Kornais do pas. ele, o escritor c%ama atenção para a proli"eração e

necessidade de pop#lariação de $0linda'em& de carros, apartamentos e do mais ;#e

seKa necessrio, s#'erindo ;#e o 'overno crie #ma 0olsa com tal "im.

3m todos os casos expostos % oscilação do conceito de N0olsaO, ;#e ora aponta

para contri0#ição necessria, o0ri'at/ria, re'#lar, ora aponta apenas para s#0sdio

'overnamental s#pr"l#o, ora somente para o carter de mensalidade, mesmo ;#e

sendo de instit#iç<es privadas. Alm disso, as relaç<es ;#e N0olsaO mantm com o

se'#ndo elemento tanto pode ser a de ;#e este indica a ca#sa (como N0olsa de

est#doO, N0olsa)"amliaO, N0olsa)ditad#raO, N0olsa)0linda'emO!, como a conse;+>ncia

(N0olsa)"lorestaO! da contri0#ição.

 As ocorr>ncias notadas nas "ormaç<es com N0olsaO são similares @s com NvaleO

(Nvale)transporteO, Nvale)leiteO, Nvale)t#doO! e @s com Nse'#roO (Nse'#ro de vidaO, Nse'#ro)

saúdeO!.

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&alavras finais

este arti'o, disc#ti#)se #ma srie de "atos ;#e conspiram contra o ideal de

#nivocidade ente "orma e si'ni"icado. Zoram tomados dois di"erentes pontos de vista=em primeiro l#'ar, o0servaram)se casos presentes na ln'#a associados a anlises

consa'radas ;#e s#scitavam pro0lemas na medida em ;#e levavam o# para #ma

"orma . vrios si'ni"icados , o# o contrrio. A se'#ir, o ponto de vista "oi invertido, e

0#sco#)se ver o ;#e a pressão com#nicativa provocava como "orma "inal. ovamente ,

deparamo)nos o# com polissemia o# com %omonmias.

435M6= Levantamento dos distúr0ios no mapeamento "orma)conteúdo emmor"olo'ia e implicaç<es para modelos de anlise lin'+stica. 3xame dos processos"onol/'icos de "ronteira e da polissemia das constr#ç<es mor"ol/'icas.

ALAW4A5)CAW3= Mor"emaF Mapeamento "orma)conteúdoF rocessos "onol/'icosde "ronteiraF nidades de anlise lin'+stica.

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