revista seu makom - edição 8

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ANO 3 – 8 EDIçãO – MARçO 2011 – WWW.MAKOM.COM.BR makom TODO MUNDO PERTENCE A UM LUGAR E ESTE é O SEU SEU MÍSTICA O verdadeiro significado do Shemá Israel DIA A DIA Quatro concepções sobre judaísmo CHAGUIM Purim: A festa mascarada BATE PAPO Com o carioca nato, Rabino Passy

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Revista Seu Makom - Edição 8 - Março

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ANO 3 – 8 ediçãO – mArçO 2011 – www.mAkOm.cOm.br

makomtOdO muNdO perteNce A um lugAr e este é O seu

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MÍSTICAO verdadeiro significado do Shemá Israel

DIA A DIAQuatro concepções sobre judaísmo

CHAGUIMPurim: A festa mascarada

bATe pApoCom o carioca nato,

Rabino Passy

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Editorial • Seu Makom • 1

Queridos amigos,

Há algumas semanas ocorreram dois casos diferentes em nossa sinagoga que muito me marcaram e que gostaria de compartilhá-los: primeiramente, escutei duas pessoas conver-sando sobre como a Congregação Monte Si-nai cresceu nesses últimos dois anos. Elas discutiam, com certo tom de surpresa, o aumento radical de pessoas frequentando as aulas e rezas e sobre o interesse que esses fre-quentadores manifestam.

O segundo momento retrata o crescimento de nosso Kabalat Shabat. Começamos a fazer no início de 2010 um Kabalat Shabat Carlebach (cantado de uma forma muito especial) para mais ou menos 10 pessoas, e terminamos o ano com mais ou menos 40. Neste ano, nossa sinagoga entrou em reforma, nos impossibilitando-nos de realizar nosso mi-nian. Nos dias que seguiram o princípio da reforma, recebemos centenas de pedidos para que voltássemos a organizar o Kabalat Shabat e acabamos reali-zando a reza no salão inacabado!

Surpreendentemente foi um grande su-cesso. Não havia sequer uma cadeira va-zia. Ver isso foi realmente uma grande emoção, pois as pessoas que vieram esta-vam lá realmente para rezar. Melhor do que ver uma sinagoga bonita cheia, é ver uma sinagoga em reforma cheia.

Essa cena me fez entender que o jovem quer algo fora de sua rotina, vai em busca de algo a mais, e me fez pensar na sede que a juventude tem para des-cobrir o judaísmo.

Foi esta sede, esta busca, que nos inspirou para montar a pauta da revista e decidir os temas que serão abordados nesta edição. Temas escolhidos de acordo com o que esperamos para este novo ano: fazer as pessoas vibrarem e trazer alegria para suas vidas através dos nossos valores judaicos.

Aproveito a oportunidade para dar calorosas boas vindas aos nossos novos parcei-ros: Yaacov G., Chaim B. e David S.H.. Que vocês tenham muito sucesso em seu trabalho comunitário e que ajudem os jovens a encontrar o que eles tanto buscam!

Purim Sameach,

Rabino Shlomo Safra

"Melhor do que ver uma sinagoga bonita cheia, é ver uma sinagoga em reforma cheia. "

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2 • Seu Makom • Sumário

SEU MAKOM EDIÇÃO MArÇO 2011

Coordenação GeralRabino Shlomo Safra

AdminstraçãoMariana Safra

revisão de TextoMelina Mester

Projeto Gráfico, diagramação e edição de imagens

Gilberto Duobles www.gibad.com.br

EditoraçãoTais Gaon

Colaboraram nesta ediçãoAriel Grabarz, Rabino Dany Roitman, Ezra Dayan,

Jairo Fridlin, Rabino Passy, Rodrigo Hofnik, Salomão Cohen e Rabino Yeoshua Weisz

ImpressãoHR gráfica

Tiragem2.000 exemplares

Comentários e sugestõ[email protected] Rua Piauí, 624 - Higienópolis

Tel. (11) 3661-7715

ANO 3 – 8 EDIÇÃO – MARÇO 2011 – WWW.MAKOM.COM.BR

makomTODO MUNDO PERTENCE A UM LUGAR E ESTE É O SEU

SEU

ANO 3 – 8 EDIÇÃO – MARÇO 2011 – WWW.MAKOM.COM.BR

MÍSTICAO verdadeiro signifi cado do Shemá Israel

MÍSTICAO verdadeiro signifi cado do Shemá Israel

DIA A DIAQuatro concepções sobre judaísmoQuatro concepções Quatro concepções sobre judaísmo

CHAGUIMPurim: A festa mascarada

ANO 3 – 8 EDIÇÃO – MARÇO 2011 – WWW.MAKOM.COM.BR

BATE PAPOCom o carioca nato,

Rabino Passy

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"Nesse mundo da instantaneidade, tudo muda, toda hora, a todo momento e é assim que as coisas se renovam e evoluem. Assim também, a oitava edição do Seu Makom está de cara nova, mas desta vez não se trata do conteúdo mas sim do design da revista. Preparamos para vocês uma revista visualmente nova, com conceitos novos e um estilo totalmente diferente, sem tirar sua essência. Confira você mesmo!"

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Sumário • Seu Makom • 3

Bate Papo 6 Com Rabino Passy

Curiosidades 10Um segredo no coração do Vaticano

Mística 16O verdadeiro significado do Shemá Israel

História 22Uma carta de arrependimento

Crônica 30Um olhar diferenciado

Dia a dia 32Quatro concepções erradas sobre judaísmo

História 34Meu - Seu

Dia a dia 36Talmud: imprecisão ou cuidado extremo?

Chaguim 42Purim: a festa mascarada

Personalidades 46A nova era da Kashrut

Nossa congregação 50Nossa congregação em férias

Curiosidades 56O grande mistério da maçonaria

Curiosidades 66Judaísmo Vs Vegetarianismo

Programação 76Programação de dias 2011

Com a palavra 78Por Rabino Azulay

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Corpo ExECutivo

Diretoria executiva 2011

PresidenteIssac Salomão Sayeg

Vice-PresidenteNathan Victor Perez

1o SecretárioDavid Salim Cohen

2o SecretarioMarcos Hadid Feferman

Diretor ReligiosoNathan Isaac Peres

Diretor ReligiosoEdgar De Picciotto

Diretor Social/CulturalDavid Sayeg

Diretor Social/CulturalEduardo Cohen

Diretor de PatrimônioRicardo Kibrit

Diretor de PatrimônioElias Zitune

Diretor AdministrativoMarcos Dana

Diretoria JovemDavid Elias CohenAlan Kalili

Diretor AdjuntoShlomo DayanDaniel HaimErick BedosaIbraim Romano

corpo rabínico

Rabino da CongregaçãoRabino Azulay

Rabino da Comunidade e diretor do projeto MakomRabino Shlomo Safra

Coordenador dos adolescentes e de conteúdo da juventudeRabino Dany Roitman

Coordenador das aulas e conteúdo da sinagogaRabino Yeoshua Weiz

Coordenador da parte social do grupo da juventudeRabino Dani Wainnan

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Dirigido por um grupo de empresários, O Makom foi estabelecido em 2006. Filiado ao projeto Kiruv nacional, tem como objetivo ser um lugar onde a comunidade jovem judaica tenha a possibilidade de se expressar, aprender e questionar. Há quatro anos o Makom ofere-ce aulas e vivências: como viagens, churrascos, festas, Shabatonim, seminários e outros eventos sociais, que vem enriquecer os jovens e estreitar os laços entre eles e entre os professores e o aluno.

Muito além do institucional, o Makom quer ser uma família para o jovem onde este possa ter amigos e conselheiros. Ser um lugar onde crescer espiritualmente não seja o único objetivo, mas também cres-cer como pessoa, formar uma identidade e prepará-lo para os desafios do mundo afora.

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6 • Seu Makom • Bate Papo

Carioca nato, o rabino Passy se formou em odontologia, mas largou a profissão do sorriso superficial para dar aula e fazer o sorriso interior e profundo da alma surgir. Amante da bondade e fã da comunidade paulista e de seu avanço, um dos principais

professores da Yeshivá de Cotia conta sua trajetória de vida..

Rabino Passy

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Bate Papo • Seu Makom • 7

Como era sua família em termos religiosos? e o lugar que você morava, tinha algo de religião? Meus pais sempre se esforçaram para manter as tradições, íamos à sina-goga nas Grandes Festas, tínhamos mezuzá na porta, etc. Em termos de educação fora de casa, eu frequentava o Liessin que era considerada uma escola judaica tradicional.

depois de morar no rio, onde já é difícil cumprir a religião, você e sua família se mudaram para uma cidade no interior de minas Gerais. Como era tentar seguir a religião por lá?Quando nos mudamos para Muriae, cidade no interior de Minas, ficou mais difícil, mas sempre tentamos manter a tradição, indo à sinagoga no Rosh HaShaná para escutar o shofar, rezar em Yom Kipur. Mesmo estando longe nunca deixamos de cumprir os preceitos.

em que colégio estudou nessa cidade interiorana? Em Minas estudei num colégio cha-mado São Paulo e depois fui para Yeshivá de Cotia onde terminei os es-tudos secundários.

e este colégio era considerado um colégio secular? Não, o Colégio S. Paulo é um colégio religioso, onde as aulas de religião são obrigatórias. Tive que aprender tudo sobre o catolicismo, mas Baruch Ha-shem - graças a D-us meus pais sempre deixaram claro para nós qual era a nos-

sa religião e quais eram as diferenças entre elas, por isso as aulas não me atrapalhavam, nunca tive dúvidas so-bre minha fé.

Vindo de uma casa judaica e estudando num colégio cató-lico, você devia enfrentar um conflito interno contínuo, isso não lhe despertava dúvidas sobre o aprendido?Lembro de um episódio que me mar-cou quando perguntei ao professor de religião algum detalhe sobre um versículo que não havia entendido e ele me respondeu de forma simples e clara que não devia me apegar aos detalhes da Bíblia, mas simplesmen-te aceitar. Isso me ajudou também a perder qualquer interesse e credibi-lidade sobre aquilo. Como não podia debater nem discutir nunca me inte-ressei de forma profunda, mas

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8 • Seu Makom • Bate Papo

eu queria ir mais além, procurar um significado mais profundo para mi-nha vida.

Quando começou a se questionar a respeito do que aprendia na escola?Graças à minha rotina. Eu tinha dois hobbys, que eram andar de skate e bicicleta. Todos os dias, chegava da escola, pegava meu skate e ia andar, foi quando após um tempo me per-guntei aonde isso tudo ia parar. Todos os meus colegas faziam a mesma coisa todos os dias. Comecei a ficar bom nas

e essa rotina, somada ao episódio de questionamento na escola, teve uma influência grande na sua vida? Sim, com esse sentimento de busca fui convidado a participar de um acampa-mento na Yeshivá de Petrópolis, onde encontrei o meu início de tudo. Fiz o meu primeiro tsitsit, aprendi a fazer uma caixinha de tsedaká de madeira, etc. Pequenas coisas que acenderam a minha alma.

e como, de muriae, foi parar na Yeshivá de Cotia?No mesmo ano do acampamento, a Yeshivá já estava no seu segundo ano de funcionamento, fui convidado a vi-sitar e acabei ficando.

Quando chegou o choque foi grande? Qual a diferença de sua cidade para s.Paulo?Na verdade, a Yeshivá de Cotia não pare-ce que é S. Paulo, quem vem aqui enten-de o que estou querendo dizer, as paredes desse lugar tem uma santidade especial, de Minas para lá foi um grande salto.

Após a Yeshivá, você se formou em odontologia. em que momen-to aconteceu o “click” que te fez ir de dentista para rabino?A verdade é que, ao escolher a facul-dade, estava em busca de algo que eu pudesse fazer pelos outros. Pensei em ser médico, já que tenho dois tios mé-dicos, mas não tinha con-dições na época nem de passar em um vestibular para medicina e nem de pagar

manobras, participando de campeo-natos de Halfpipe e até de corridas de bicicross. Participava de uma equipe de jovens que andavam de skate e bi-cicleta. Achava que a vida era aquilo, não tinha ideia da imensidão que é o mundo, de quantas coisas você pode aprender e trabalhar para se tornar um ser humano melhor. Jovem gosta de se divertir, não quer ter responsa-bilidades. Por isso, a importância do Bar mitsvá , que é uma forma de des-pertar o jovem para suas obrigações como ser humano, me tocou. Come-cei a questionar nossas obrigações e perceber que viemos ao mundo para construir algo, não somente passear por aqui e pronto.

"...Sinto-me lisonjeado por ter tido um mérito muito grande de poder dar aulas no lugar onde tanto aprendi."

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Bate Papo • Seu Makom • 9

uma faculdade particular, então optei pela odontologia, mas já estava dando aulas de Torá em instituições no Rio de Janeiro onde morei quando voltei de Israel. Cursei a faculdade e ter-minei, porém as aulas de Torá foram aumentando cada vez mais, até que não tive mais como escapar e acabei me dedicando exclusivamente para a Torá. Dava aulas no Colégio Bar-Ilan, Binian Olam-RJ e participava do Kolel Rio, onde fui pioneiro junto com outros avrechim. Foi uma época de muito trabalho na comunidade do Rio, onde graças a D-us, muitos jo-vens se aproximaram.

Como, já adulto, voltou a sP? e precisamente para Yeshivá?Depois de cerca de cinco anos tra-balhando com kiruv (Binian Olam- Kolelrio) no Rio, nossa família foi crescendo e os filhos já exigiam um ambiente diferenciado. Com todo o es-forço que a kehilá do Rio faz para man-ter o ambiente judaico, ainda assim tínhamos certo receio de como iríamos criar nossos filhos. Esse fator foi cru-cial para decidirmos nos mudar para S. Paulo. Nesse mesmo período, surgiu a oportunidade de lecionar na Yeshivá de

Cotia. Sinto-me lisonjeado por ter tido um mérito muito grande de poder dar aulas no lugar onde tanto aprendi.

"...as paredes desse lugar têm uma santidade especial, de Minas para Yeshivá foi um

grande salto."

o que acha que falta em sP em termos de religião/ comunidade? o que melhorou? o que piorou?Acho que São Paulo vem crescendo a cada ano, vários projetos são lançados a todo o momento. Lembro que há cerca de 20 anos, quando cheguei na Yeshivá de Cotia para estudar, no final de sema-na passava em casa ou na cidade de S. Paulo e fazíamos nossa tefilá em algumas sinagogas. Comparado a hoje em dia, o público que vinha rezar era pequeno e hoje me impressiono com a imensidão e grandiosidade que tomam parte desses lugares. Isso é fruto de 20 anos de traba-lho das lideranças da kehilá, dos colelim, das yeshivot, novas escolas, etc.

Por Tais Gaon

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10 • Seu Makom • Curiosidades

localizada no coração do vaticano, a Capela sistina, é o lugar do conclave, onde cada novo papa é eleito para seu cargo. É sem sombra de dúvida o lugar mais sagrado do mundo para os cristãos, por onde passam mais de quatro milhões de visitantes por ano. Além de sua santidade, é mundialmente conhecido por ser um lugar suntuoso, cheio de ouro, hospedar imensas riquezas e por seus gigantes afrescos pintados pelo maior pintor renascentista que já existiu, michelangelo di lodovico Buonarroti simoni. o que pouquíssimas pessoas sabem é o que há por trás desses lindos afrescos. Nesta cidade do Cristianismo reside talvez o maior ato subversivo da história da arte...

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Um segredo no coração do vaticano

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Ao adentrar a Capela, pelo que se tem registro, nenhum dos visitantes percebe que se en-

contra diante de mensagens secretas, embutidas por Michelangelo em sua maior obra de arte. Certamente, fi-cariam surpresos ao descobrir que na capela do papa, o artista empregou mensagens secretas que defendem uma mudança revolucionária no Cristianis-mo com relação ao Judaísmo, e que o próprio código criado pelo artista está enraizado na tradição judaica.Michelangelo, um fervoroso admirador do judaísmo, fascinou-se quando jo-vem com os ensinamentos do Midrash e da Cabalá, sentimento que o levou a tomar aulas particulares dos dois li-vros, que foram financiadas pelo seu “mecenas”, Lorenzo de Medici. Usando seu conhecimento judaico e os seus símbolos místicos, incorporou mensagens, através de imagens pinta-das nas paredes da igreja da Capela, perigosamente contrárias aos ensi-namentos clericais. Desta forma, ele criticou o corrupto líder espiritual da época, e condenou o fracasso da Igreja em reconhecer sua dívida para com as origens judaicas.Michelangelo era um homem brilhan-te, que dominava as técnicas artísticas e sabia a fundo os conhecimentos filosófi-cos. Aprofundou-se em teologia cristã, tanto quanto no misticismo judaico. No entanto, aqueles que estudaram sua obra no passado não estavam familia-rizados com seu vasto conhecimento, pois normalmente os historiadores e apreciadores das artes não só não pos-suiam esses conhecimentos, como des-conheciam sua existência. A maioria

dos estudiosos da Capela Sistina não eram bem versados no judaísmo, nem na Cabalá, por isso era-lhes impossí-vel perceber e compreender as alusões do artista. Alguns anos mais tarde, suas intensões seriam descobertas e suas mensagens secretas desvendadas. Desde o início, “O divino”, como foi apelidado após sua obra na Capela Sis-tina, tinha uma missão pessoal paralela a de seu patrono. Em 1508, sabemos que o papa Júlio II ordenou Michelan-gelo a engessar novamente, redesenhar e pintar o teto em ruínas da Capela

"A maioria dos estudiosos da Capela Sistina não eram bem versados no judaísmo,

nem na Cabalá"

Sistina. Um trabalho humilhante para qualquer grande artista, especialmen-te para Michelangelo, que detestava pintar e vivia somente para esculpir. O papa ordenou-lhe que fizesse um dese-nho simples, um layout padrão e banal de Jesus e Maria, nas duas extremida-des do teto, rodeado pelos apóstolos e um projeto comum de formas geomé-tricas no centro. O artista se recusou, e lutou com o papa doente e distraído, que finalmente o deixou desenvolver seu próprio plano.A surpresa do papa e dos espectadores, quando os segredos do projeto conclu-ído foram desvendados quatro anos e meio depois, mostrando que noventa e cinco por cento da Capela foi decorada com heróis e heroínas da Bíblia

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12 • Seu Makom • Curiosidades

ceber certa atenção no estudo contem-porâneo e a ganhar destaque nos gran-des meios de comunicação. A revista Time de março, com a capa “10 ideias que estão mudando o mundo”, destacou o que os estudiosos estão chamando de “Jesus re-judaizante”1 como a ideia nova mais poderosa no campo da religião. Os afrescos de Michelangelo enfatizam a universalidade de D-us e do parentes-co de toda a humanidade, começando a narrativa pictórica com a história da criação do Gênesis, não com o nasci-mento de Jesus. O primeiro traço de judaísmo que pode ser percebido é o fato do pintor ter iniciado sua obra com a Criação, este é um traço claro de que D-us, o mundo e as criaturas foram criados antes de Jesus e o catolicismo.Contrariando uma Igreja que pregava a excludência e salientava o amor Divino por apenas um número limitado de Seus

judaica e o restante foi preenchido com sibilos pagãos e meninos nus que representavam os anjos, foi enorme.Nos 12 mil metros quadrados do maior afresco do mundo, não há sequer uma figura cristã. A única referência aos Evangelhos - e uma das formas que Michelangelo conseguiu salvar a sua vida e trabalho - foi uma quase imper-ceptível série de nomes desenhados de antepassados de Jesus que nem sequer aparecem em ordem cronológica.

Por que michelangelo desobede-ceu o papa desta forma?Michelangelo escondia em sua obra um profundo objetivo: lembrar a Igre-ja que suas raízes e ensinamentos estão baseadas na Torá dada ao povo judeu e ensiná-los a não destratar as outras pes-soas. O artista não se conformava com a ideia hipócrita que a Igreja pregava ao desmerecer aqueles que não acredi-tassem na sua fé, e o que essas pessoas, aparentemente tão pacíficas, eram ca-pazes de fazer para provar seu ponto e justificar seus atos. Desde reescrever a Bíblia, até calar os revoltosos.Sabe-se que a Igreja e o Vaticano são considerados os lugares mais corruptos e antiéticos do mundo e Michelange-lo quis se vingar e marcar a igreja do mesmo jeito que ela marcou o mundo.Essa percepção, que o pintor inseriu em toda sua obra, manteve-se secreta até pouco tempo atrás. Hoje, começa a re-

filhos, Michelangelo enfatizou tolerân-cia a todas as fés, até mesmo aos judeus, que eram desprezados em seu tempo. Um afresco em que essas mensagens podem ser notadas com clareza é o re-

1 - O Movimento re-judaizante é uma vertente do cristianismo, no qual seus seguidores se baseiam no Novo Testa-mento e na ideia de que, como Jesus era judeu, devem seguir alguns traços da tradição judaica, como comemorar todos os anos as festas judaicas nas datas originais. Além disso, pregam que as castas levíticas e o legalismo exacerbado proporcionam aos fiéis um certo status de sacerdote e superioridade elevando-os a um nível de espiritualidade maior que o das pessoas de outras religiões. fo

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O artista classificou como gênio aquele que for capaz de ter uma “paciência eterna.”

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Curiosidades • Seu Makom • 13

trato de Aminadav, pai de Nachshom2. Ele aparece acima da área elevada onde o papa senta em seu trono nas missas, conclaves, etc. Os judeus e os estudantes hebreus sabem que o nome de Amina-dav em hebraico significa um “príncipe do meu povo”. Mas a Igreja interpre-ta “príncipe dos judeus” como Jesus. Michelangelo posicionou Aminadav, o “príncipe dos judeus”, propositalmente acima do papa, como substituto para o próprio Jesus e para mostrar que os judeus e D-us estão acima do líder cle-rical. Esta é uma das figuras extrema-mente raras pintadas por Michelangelo sentada, perfeitamente ereta, olhando para a frente, um sinal do artista que a figura é realmente notável.Além disso, um círculo amarelo (um anel de pano costurado em uma peça de vestuário) aparece na parte superior do braço esquerdo de Aminadav. (Este detalhe não foi revelado para o público moderno até 2001, quando os afrescos foram restaurados.) Este exibe o dis-tintivo de vergonha forçado sobre os judeus da Europa pelo IV Concílio de Latrão em 1215 e pela Inquisição no século 15. Aqui, diretamente sobre a cabeça do papa, o Vigário de Cristo, Michelangelo lembrou à Igreja que Je-sus era um judeu. E mais além, atra-vés da pintura condenou a Igreja pelo seu tratamento vergonhoso aos judeus, dos quais descende Jesus.Esta foi uma declaração corajosa. Suas mensagens veladas foram pintadas num momento em que o Talmud e

outros livros sagrados judaicos eram queimados por toda a Europa. A In-quisição operava com força total e o povo judeu tinha acabado de ser expul-so da Espanha (em 1492). Michelange-lo teve a coragem de desafiar a Corte Papal, pedindo através dos símbolos de sua pintura, que reconhecesse a família de “Nosso Senhor”.O desprezo de Michelangelo pelo tra-tamento aos judeus dado pela Igreja foi muito além de insultar o próprio papa com o gesto quase imperceptível em Aminadav. Praticamente escondido na sombra, este substituto para Jesus zomba dele ao apontar seus dedos para baixo em direção ao local onde o pálio ricamente bordado do papa Julio ce-rimonial teria sido, ao longo do trono papal, condecorado.De maneira semelhante, em outro afresco colocado sobre o portal da Cape-la original através do qual o papa Júlio entrava, Michelangelo retrata o profeta Zecharia usando o rosto do próprio papa. Por cima do ombro pode-se ver um pe-queno anjo com seus dedos se enros-cando de maneira a fazer um gesto obs-ceno conhecido na Itália como “dando o figo”, sinal de insatisfação e insulto. No simbolismo das imagens da Capela Sistina, em vez de vergonha e perse-guição, a inclusão e reconhecimento do Divino estamparam-se em seu teto nos afrescos defensores de Michelangelo.Em sua obra posterior, “O Juízo Fi-nal”, Michelangelo enfrenta e ofende a Igreja de maneira ainda mais

2 - Personagem que aparece na Torá por ter sido uma das pessoas que, na saída do Egito, acreditou de forma plena em D-us e atravessou o mar Vermelho que só se abriu quando a água lhe chegou no pescoço.

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incisiva. Nela, um anjo de cabelos dourados, vestido de vermelho pousa diretamente sobre a cabeça de Jesus e aponta para dois homens dentro de um grupo conhecido como os de “almas justas”, grupo de pessoas que representa os privilegiados a passar a eternidade em um estado de êxta-se com Jesus, como recompensa por seus atos na terra. Michelangelo re-trata esses dois homens como os ju-

do, e que ensinou ao jovem artista os segredos do misticismo judaico, os quais incandeceram dentro dele um grande respeito ao povo judeu.Ao concender aos judeus um lugar no céu com Jesus, Michelangelo provo-cou no século 16 e ainda hoje provoca acalorados debates entre os fervorosos cristãos. Sua descrição concedida cla-ramente infringiu a doutrina oficial da Igreja, que defendia que os judeus nunca poderiam ter uma recompensa celestial, colocando-os como iguais ou até mesmo como superiores.Desvendado 500 anos antes da teo-logia contemporânea mais liberal do papa João Paulo II e “O Papa Bom”, João XXIII, a descoberta de seu có-digo secreto e de suas visões heréticas poderiam ter custado a vida a Miche-langelo. Hoje, Michelangelo é con-siderado o mestre da subversão e sua descoberta tornou-se mais uma prova usada para contestar a veracidade e o poder da Igreja. Despertou ainda mais a curiosidade das pessoas de conhecer este lugar, de desvendar seus segre-dos. Conseguiu e consegue iniciar as discussões acâdemicas e corriqueiras mais acirradas, ao redor do mundo. O artista classificou como gênio aque-le que for capaz de ter uma “paciência eterna.” Este ano, no 500 º aniversário do início de seu trabalho no teto da Capela Sistina, podemos finalmente dizer que seu trabalho “rachado” e seu “código”, engenhosamente escondidos, podem finalmente ser ouvidos.

Por Rav Benjamin Blech-aish.com, traduzido por Tais Gaon

deus, ao desenhar um deles usando um chapéu de duas pontas (represen-tando chifres) que a Igreja forçava os homens de origem judaica a usarem para reforçar o preconceito medieval de que eram filhos do diabo e nas-ciam com chifres.A figura de chapéu vermelho, ao apon-tar seu dedo para cima, indica ao seu amigo a unicidade de Deus. A outra usa um chapéu amarelo de vergonha (o mesmo que durante o século 13, a Igreja obrigou os homens judeus da Itália a usarem em público). Na frente das duas figuras, uma mulher, com o cabelo recatadamente coberto, sussurra no ouvido de um jovem nu diante dela. A juventude representava o jovem tutor de Michelangelo, Pico della Mirandola, que possuía na época a maior biblioteca de Cabalá do mun-

Michelangelo enfatizou tolerância a todas as fés, até mesmo aos judeus, que eram desprezados em seu tempo

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gibad.com.br

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Shemá Israel Hashem Elokeinu Ha-shem Echad -- “Escute Oh Israel, o Eterno é nosso D-us, o Eterno

é um” – é, ao redor do mundo, a reza mais proferida pelos judeus. É uma declaração de fé, uma promes-sa de fidelidade endereçada a um D-us único. Utilizada tanto nas situações em que queremos louvar a D-us, quanto naquelas que suplicamos por algo. É a primeira reza que uma criança aprende e a última que uma pessoa fala antes de morrer. O Talmud conta que, quando Yaacov Avinu em seu leito de morte quis reve-lar a seus filhos quando seria a redenção, ficou preocupado que algum deles não acreditasse no que ele diria. Naquele

Shemá Israel: Qual o verdadeiro significado da reza judaica mais famosa do mundo?

momento, ao recitarem o Shemá Israel, Yaacov foi convecido do contrário..O Shemá é a reza tanto do pergaminho da mezuzá, que afixamos nos umbrais de nossas portas, como dos filactérios (tefilin) da cabeça e do braço.Com o Shemá em seus lábios, os judeus aceitaram seu destino e morreram para santificar o nome de D-us na Inquisi-ção. No Holocausto marcharam com fé recitando-o até as câmaras de gás e hoje o recitamos diante de um ladrão ou do Muro das Lamentações.

Pela torá, quando devemos recitá-lo?Além de utilizá-lo como escudo nas diferentes situações da vida, fomos

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Shemá Israel: Qual o verdadeiro significado da reza judaica mais famosa do mundo?

ordenados a dizer o Shemá duas ve-zes ao dia: uma de manhã e outra ao anoitecer. Como diz o passuk: “E vocês deverão falar deles ao se deitarem e ao se levantarem” (Deut. 6:7). O Talmud explica que ao se levantar e ao se deitar não se refere literalmente às posições do corpo, mas sim ao tempo correto para recitar a reza. (Berachot 6)Precisamente, o tempo para recitar o Shemá noturno é a partir de 40 minutos após o pôr-do-sol, até a meia-noite. O tempo para recitar o Shemá matutino é uma hora antes do nascer do sol (quan-do a pessoa já consegue reconhecer um amigo a quatro cúbitos de distância) até as 9 horas da manhã.Na reza de Shabat e nos chaguim, todos

os iehudim recitam o Shemá antes de ler a Torá. E também o recitamos no final do dia mais sagrado do calendário ju-daico, Yom Kipur, quando, de tão eleva-dos, alcançamos o nível dos anjos.

raio-x O Shemá é composto por três paragrá-fos da Torá. O primeiro ( Deut. 6:4-9) contém os conceitos de amar o Eterno, estudar Torá e passar a tradição para nossos filhos.Esses versos também se referem, espe-cificamente, às mitsvot de tefilin e mezu-zá. Enquanto rezamos, usamos o teli-fin como um sinal da proximidade de D-us com nossos corações e cérebros, para mostrar que todos os nossos

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pensamentos e sentimentos estão dire-cionados a D-us. A mezuzá afixada em nossos umbrais representa que, através da Presença Divina, estamos seguros.O segundo parágrafo (Deut. 11:13-21) fala sobre as consequências positivas que o cumprimento das mitsvót trazem e suas consequências negativas caso não as cumprimos.O terceiro parágrafo (Num 15:37-41) fala especificamente sobre a mitsvá de usar tsitsit e sobre a saída do Egito. O tsitsit é a lembrança física dos 613 man-damentos da Torá.

unidade divinaEm seu discurso de despedida ao povo, Moshe Rabeinu, recitou o Shemá para ressaltar a unicidade de D-us e essa é a ideia principal do verso: “Escute Oh Israel, o Eterno é nosso D-us, o Eterno é um” (Deut. 6:4). Mais além dela, como está escrito no rolo da Torá, as letras “ayin” e “dalet” do primeiro verso estão ampliadas, para formar a palavra “Ed”, que quer dizer testemunha. Ou seja, quando fa-lamos o Shemá, estamos testemunhan-do a unicidade de D-us.Por que a unicidade divina é tão im-portante na crença judaica? Realmen-te importa se D-us é um só ou três? É possível que o mesmo D-us que nos enche um dia de bondade e nos dá tudo que precisamos seja o mesmo que no dia seguinte deixe tudo acontecer da pior maneira possível?Os acontecimentos mundanos pare-cem mascarar essa ideia de que D-us é um só. Um dia acordamos e tudo corre bem. No outro, tudo dá errado. O que aconteceu?

Sabemos que D-us é bom, então como é possível que exista tanta dor? Será que é “azar”’?O Shemá Israel é a declaração oficial, onde reconhecemos que todos os even-tos que acontecem são fruto da von-tade de um D-us único. A confusão surge, pois os seres humanos têm uma percepção limitada da realidade. Um jeito de entender a unicidade divina é imaginar a luz brilhando através de um prisma. Mesmo quando vemos vários feixes coloridos vindo de diferentes di-reções sabemos que eles são emanados de uma única fonte de luz. Assim tam-bém, mesmo que alguns eventos não pareçam vir de D-us, causados por alguma outra força do mal ou pelo azar, eles vêm, de fato, de D-us, e Ele sabe o que é melhor para o ser humano.Na época de Mashiach, conseguiremos entender como até as coisas ruins que nos acometem, ocorrem para o bem. Nossos sábios contam que, o patriarca Yaacov, após 22 anos longe de seu fi-lho Yossef , finalmente desceu ao Egito para ir ao seu encontro. Assim que esti-veram juntos, Yaacov falou o Shemá. Os penosos anos que passou por sua perda foram expressos por um “Shema Israel!” cheio de emoção.

Amar a d-us com todo seu coração…No segundo verso, o Shemá diz: “ E amarás ao Eterno, teu D-us com todo teu coração, toda sua alma e com todos teus recursos” (Deut. 6:5).O que significa amar a D-us com todo seu coração? O Talmud explica que a palavra “coração” representa os dese-jos. É comum que, ao querer expressar

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que gostamos muito de algo, usemos o termo “amo”. Por exemplo, dizer “Eu amo chocolate.”, na verdade é dizer “Eu desejo chocolate”. O Shemá fala para “amar a D-us com todo o seu coração”, isso quer dizer que devemos não somente usar as boas características para amar D-us, como a bondade ou a compaixão, mas também usar os nossos defeitos para servi-lo.Por exemplo, quando vamos a um bom restaurante, não devemos ir porque queremos devorar a comida, mas sim ir com o objetivo de saciar um desejo físi-co e que estamos comendo para manter o corpo saudável, que permitirá servir a D-us da melhor forma possível.

... com toda sua alma Rabi Akiva (líder do povo na época do Império Romano) amava D-us de tal forma que, mesmo com a proibi-ção legal de ensinar e estudar Torá, imposta pelos gregos, ensinava-a. Quando os romanos descobriram, sentenciaram-no a uma dolorosa morte raspando sua pele com um grosso pente de metal. Enquanto era torturado, Rabi Akiva recitou ale-gremente o Shemá. Vendo isso, seus desnorteados estu-dantes perguntaram “Rabi, como você pode louvar a D-us em meio a essa tortura?”Ao que o Rabi Akiva respondeu: “Toda minha vida, me empenhei para amar a D-us com toda minha alma. Agora eu tenho a oportunidade de fazê-lo, entao o faço com alegria”Com seu último suspiro ele santificou o nome de D-us gritando as palavras do Shemá. (Talmud - Brachot 61a). foto: dreAmstime

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...e com todos seus recursos A parte final do terceiro parágrafo fala para amar D-us com todos os nossos recursos. Esse conceito é complicado, porque normalmente a Torá apresenta os fatos do mais fácil para o mais difícil. Aqui, a ordem é: Ame D-us emocional-mente (com todo seu coração), mesmo que tenha que sacrificar sua vida (com toda sua alma) e ainda deve estar dispos-to a gastar todo seu dinheiro para isso (com todos seus recursos financeiros)Levando em conta que esta linha é uma progressão crescente, será que realmen-te existem pessoas que consideram o dinheiro mais importante do que sua própria vida? A resposta é sim! O Talmud traz em massechet Brachot 54a, o caso de uma pessoa que atravessa um campo cheio de espinhos e levanta sua calça para não rasgá-la. As pernas da pessoa ficaram cortadas e arranhadas, mas pelo menos as calças foram salvas!Em Nevada, onde apostar é legalmen-te permitido e todo hotel possui um cassino, as janelas dos hotéis são feitas de forma a evitar que as pessoas que

perderam muito dinheiro possam se atirar por elas. Sim, infelizmente, para alguns, o dinheiro é mais importante do que eles mesmos.

união JudaicaSeth Mandel, pai de Koby Mandel, menino de 13 anos que foi espancado até a morte em uma caverna por ter-roristas árabes, participou do comício pró-Israel em Washington, DC, em abril de 2002, e contou na ocasião a seguinte história: No atentado à pizzaria Sbarro ocorri-do em Jerusalém, faleceram 15 pes-soas. Cinco membros de uma família alemã foram mortos, sendo um deles um menininho de quatro anos de ida-de chamado Avraham Itzchak. En-quanto permanecia deitado no chão, sagrando, queimando e ardendo falou para seu pai: “Aba, por favor me aju-da! Me salva!” O pai envolveu o filho em seus braços e juntos falaram o Shemá Israel. Após contar essa história Seth Mandel falou ao público de DC:“Meu filho morreu sozinho. Eu não

foto: dreAmstime

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tive a chance de falar o Shemá com ele. Então, agora peço a ajuda de vocês para falar o Shemá pelas centenas de pes-soas que foram mortas no conflito do Oriente Médio. Falem o Shemá comigo em homenagem ao menino da Sbarro e falem o Shemá comigo em mérito de meu filho Koby”. Ele então levou a multidão de 250 mil pessoas a recita-rem o Shemá Israel juntos.

o poder do shemáHistórias bíblicas e modernas demons-tram como a união judaica trouxe se-gurança aos judeus como povo e ao mundo em si. A agressão física e espi-ritual da humanidade foi lançada em 11 de setembro, com o ataque às Torres Gêmeas. A tensão em Israel continua a crescer. A ameaça do terrorismo ain-da é grande. Quem sabe o que está por vir? O que podemos fazer?Agora, em nossos tempos turbulentos, cada um de nós - homens, mulheres e crianças - pode ajudar de maneira sim-ples, mas poderosa: toda manhã e à noite, faça uma pausa de 15 segundos de tudo o que está fazendo e recite o Shemá. Esta

reza é muito mais poderosa do que ima-ginamos, pois como dizia Rabi Akiva “se ao recitar o Shemá você acreditar que D-us é único, que Ele tudo pode, tudo lhe pertence e que tudo que faz é para o bem, conseguirá amá-lo, reconhecer sua bondade e consequentemente, se aproxi-mará Dele”. Quando o iehudi se aproxi-ma, D-us o protege e lhe manda bênção. O importante é compreender e se con-centrar no significado das palavras. Se a pessoa que o recita não entende hebraico, pode proferi-lo também em português. O Shemá pode ser muito reconfortante para as crianças ao tornar sua pronun-ciação um ritual noturno.É uma oração ao Todo-Poderoso para protegê-los e proporcionar-lhes um sono tranquilo que lhes ensina desde pequenos a serem temerosos a D-us.Essa reza foi e ainda é considerada uma simples e poderosa fórmula, de seis palavras, capaz de unir todos os povos amantes da paz, salvar vidas e capaz de trazer mais luz espiritual ao nosso mundo.

Adaptado do Aish.com

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Quando você ler estas linhas, eu não estarei mais com vo-cês. Eu me encontro, neste

instante, muito longe de você, em um outro mundo. Espero que as coisas que você lerá não lhe tragam sofrimento, e que você consiga se sobrepor e ter for-ças para voltar aos trilhos de sua vida o mais rápido possível. Mas há certas coisas que senti, que eu simplesmente sou obrigado a te contar.Há apenas algumas horas, terminou a festa de aniversário que vocês fizeram pra mim no hospital. Foi tão bom ver toda a

A Neshama do iehudi é comparada a uma vela, que possui uma faísca divina a qual emana luz e permanece acesa até o momento em que ele deixa fisicamente este

mundo. Na vida, muitas vezes nos arrependemos de coisas que fizemos ou daquelas que deixamos de fazer

e ainda existem aquelas que gostaríamos de ter feito de outro jeito. em todas estas ocasiões, d-us se apieda de

nós e nos dá uma nova chance para reescrever a história até o último momento. isso quer dizer que sempre há

tempo de se arrepender, mas nem sempre dá tempo de agir. udi teve uma grande ideia e foi abençoado com o tempo suficiente para iluminar os outros , através desta carta, a que reajam e corrijam seus erros conseguindo

assim, se perdoar e ser perdoado.

Uma carta de arrependimento

turma que veio me visitar e a alegria foi imensa. Quando nos despedimos, você me perguntou. “OK Udi, então quando é que vamos nos ver de novo?”. Pensei nisso com um sorriso falso que escondia a tempestade que transcorria dentro de mim. “Viveremos e veremos...”. Será que agora você realmente entende o sentido dessas palavras?As coisas pelas quais eu passei nos úl-timos 3 meses (curtos), eu não desejo para nenhum homem no mundo. Eu lembro como se fosse ontem. O dia em que sentávamos, eu, meu pai, e minha

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mãe, na sala de espera do Prof. Stein-berg e esperávamos que nos informasse os resultados do exame. Desconfiáva-mos que havia algo de errado com a minha saúde, pois há muito eu recla-mava de dores nas costas no último meio ano, mas nunca passou pela nossa cabeça que o problema poderia ser tão grave. O professor veio até nós, na sala de espera, olhou nos olhos do meu pai e minha mãe e depois me observou de uma maneira estranha por uns longos segundos. Seu rosto não revelava qual-quer coisa e ele então pediu para que meus pais o acompanhassem. Eu me surpreendi que ele não me chamara, mas em seguida ele se virou para mim “Daqui a pouco te chamo, meu irmão”. Esperei sozinho na sala de espera e num silêncio profundo tentava ouvir o que se passava lá dentro. Nem bem passou um minuto e um grito de minha mãe rompeu pelo ar “Não pode ser doutor, aqui existe algum engano! Isso não é possível! Vocês devem examinar mais uma vez!”. Depois de dois minutos que pareceram o infinito, o doutor também me chamou para que eu entrasse. Mi-nha mãe estava sentada na cadeira tre-mendo, e meu pai, ao seu lado, estava tão branco como a parede atrás dele. O professor pediu que eu sentasse. “Udi, eu sinto muito, mas você tem um tu-mor nas suas costas”.Naqueles meses passei por vários tipos de tratamentos, dietas, quimiotera-pias. Não sei o que eles fizeram contra o câncer, mas eu fui destruído. De um jovem feliz e brilhante, cheio de inde-pendência e vida, virei um vaso que-brado, abatido, perdi meus cabelos e enfraqueci muito.

A última esperança era uma cirurgia demorada de 6 horas com 5 médicos. Mesmo que ninguém me dissesse isso sabia que minha vida dependia do re-sultado dela.Quando acordei da cirurgia, no quar-to de recuperação vi meu pai e minha mãe de pé ao meu lado. Senti-me bem, especialmente. Meu pai sorriu e me disse “Parabéns Udi, hoje é o seu ani-versário”. De repente, lembrei. Devido a todos os tormentos que passara havia esquecido que tinha um aniversário. Hoje eu tenho 17 anos.A noite vocês chegaram, para celebrar comigo. Foi uma surpresa muito agra-dável e fiquei muito feliz depois de tanto tempo que não nos víamos.No meio da festa, o Prof Steinberg en-trou no quarto. Pelo visto ele não que-ria acabar com a festa, então pediu que meus pais saíssem do quarto. Dentro a festa continuou e o barulho não me deixou ouvir o que eles conversavam. Vocês continuaram a festejar, Eran, mas o meu coração já estava em outro lugar. Sabia que eles discutiam os re-sultados da cirurgia. Sobre o destino de minha vida. Depois de alguns instantes minha mãe voltou para o quarto, páli-da e tremendo. Meu pai que tentava acalmá-la parecia, ele próprio, prestes a desmaiar, mas eles não disseram nada. Entretanto eu já havia entendido. Sa-bia que eles tentavam esconder o que se passava dentro deles. Eles forçaram um sorriso e meu pai disse a todos “Por que pararam, pessoal? Continuem! Continuem!”.A turma estava ocupada, uma parte comendo e a outra cantando músicas de aniversário e nem perceberam o que

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acontecia. Quando o pessoal que can-tava chegou às palavras “Ken tizkê, leshaná habaá, ad meá veesrim sha-ná”, (“que assim logre, o próximo ano, até os 120 anos”), os olhos de minha mãe se encheram de lágrimas e parecia que ela ia explodir em cho-ros. Meu pai a olhou com um olhar de consolo, ela saiu correndo do quarto, e meu pai, rapidamente atrás dela.Peço desculpas Eran, se eu te encho com descrições chatas. Você sabe que eu odeio fazer isso. Mas eu simples-mente estou tão cansado agora que me é difícil trazer o que eu realmente queria falar.Agora tudo está quieto.A festa acabou e todos se foram. Meu pai foi levar minha mãe para casa e da-qui a pouco estará de volta para passar a noite comigo. Agora estou sozinho, fazendo o que eu fiz muito durante esta última época:

Pensando....“Sobre o quê?” – você deve se perguntar.Sobre o que não? Tantas coisas passam pela minha cabeça que eu simplesmen-te não sei por onde começar.Mas de qualquer forma tentarei.Faz uma semana, veio aqui o Frishman. Lembra dele? Yechezkel Frishman, o nosso professor de biologia? Aquele que nós sempre amamos zoar, e deixar ele louco? Ele se deu ao trabalho de vir ao hospital especialmente para me vi-sitar. Muito bonito da parte dele, né? Ele sentou do meu lado e estava mui-to interessado e saber como eu estava e me desejou melhoras do fundo do cora-ção. Ele foi tão simpático e amigo.Mas, sabe Eran, no que eu estava pen-

sando durante todo o tempo que ele esteve aqui?Eu pensei em tudo que fizemos pra ele em todos esses anos: as piadas, a zoeira, as atrapalhações. Como zom-bávamos dele, como ridicularizávamos ele, como ríamos dele pelas costas (e as vezes, também pela frente...).Teve uma hora na visita que eu sim-plesmente não agüentava mais. Queria parar e pedir desculpas pra ele por tudo.Não fiz isso.Tive vergonha.Quando nos despedimos ele me deu uma caixa de chocolates doces de presente.Sim, eu os comi.“Como estavam?” – você deve estar perguntando.De forma alguma estavam doces.Estavam amargos.Muito.Pensei comigo mesmo que precisava ir até ele antes de Rosh HaShana pra pedir desculpas, por tudo.Pensei de novo.Não sei se vou durar até Rosh HaShaná.Daí eu pensei no Arik.Nós éramos os melhores amigos. Cres-cemos juntos, fizemos de tudo juntos. De verdade – como carne e osso. Até que chegou aquela briga.Agora eu nem sei por que ela começou.Você entende, Eran, tínhamos uma amizade linda que acabou por causa de uma briga idiota sobre uma coisa sem importância. Onde, em qualquer lugar do mundo, eu posso encontrá-lo ago-ra? Ouvi que ele foi com seus pais pra uma shlichut nos EUA por um ano. Mas isso já faz 5 anos. Desde então não ouvi nada dele.Mas tem uma coisa que por causa dela

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eu realmente, mas realmente, me ar-rependo. É a Michali, minha irmã pe-quena. A única.A verdade é que eu nunca fui muito bom com ela. Muitas vezes quando eu chegava em casa, ela pedia para eu brincar com ela, que eu lesse alguma história. Mas eu nunca tinha tempo pra ela. Sempre estava “ocupado”. Nunca me interessei por como ela ia na escola, o que acontecia com ela. Sempre tinha coisas “mais importantes” pra fazer.Ela tinha tanto orgulho de mim, de seu irmão grande (eu tenho 8 anos a mais que ela) essa menina doce. Mas eu nunca retornei este amor do jeito que devia.Ai, Eran, o que eu não daria agora, pra sentar do lado dela, abraçá-la contar uma história ou simplesmente brincar com ela. Como eu queria estar no seu Bat Mitzvá.Meu pai deve chegar a qualquer ins-tante pra passar a noite comigo. Falei pra ele que não precisa e que eu me viro sozinho, mas ele e minha mãe fazem questão de toda noite ficar co-migo (eles fazem um rodízio pra ver quem vai ficar comigo e quem ficará com a Michal, em casa). Eles foram tão bons e dedicados comigo duran-te essa época difícil, que eu não sei como, em alguma hora, poderei retri-buir essa bondade.Eu tenho certeza que pra eles, essa tam-bém não foi uma época fácil. Parecem como se tivessem envelhecido dez. No rosto de minha mãe surgiram rugas, e nos cabelos de meu pai, velhice.Eu tenho que te contar mais uma coisa Eran.Ontem à noite, minha mãe ficou comi-

go no hospital. Não sei se ela chegou a dormir, pois toda hora eu a via len-do tehilim. De repente eu acordei. Eu a ouvi rezando em voz baixa. Ela não sabia que eu estava acordado e pres-tando atenção. Mas eu consegui ouvir uma parte de suas palavras: “Senhor do mundo, eu me lamento frente a você...Não me pegue o menino...ele ainda é tão jovem...Se ele precisa morrer...eu dou meus anos pra ele...”.Fiquei bobo. Não sabia como reagir. Fingi que esta-va dormindo. No dia seguinte não falei uma palavra sobre o assunto.A verdade Eran, é que eu tenho um aperto muito grande no coração. A minha bússola me repreende tanto, porque também, com meu pai e minha mãe, nunca me comportei como devia. Não lhes dei o respeito que mereciam, não prestei atenção ao que diziam. Sempre senti como se eu entendesse as coisas melhor do que eles. Como se eles fossem “velhos”, “pesados”, pertencen-tes a uma geração ultrapassada.Ai, esses pensamentos me deixam louco.Nós tínhamos muitos planos juntos, Eran. Queríamos no verão fazer um passeio de praia em praia pelo norte. Fazer rapel nos penhascos de midbar Yehudá, e “desbravar” o Golan. Tam-bém tínhamos planos a longo prazo. Alistar-nos na Tzavá, estudar (dessa vez, de verdade...), construir uma fa-mília (eu tenho certeza que nada no mundo ia deixar minha mãe mais fe-liz do que me ver alegre debaixo da chupá)... Queríamos fazer muita coisa grande em nossas vidas.Eu lembro como trabalhamos, nós dois, pra fazer um livro de memórias pro Do-

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ron. Depois que nós saímos do choque da sua morte num acidente de carro. Pensamos sobre um modo qualquer de eternizá-lo e decidimos editar um livro em sua memória. Um livro com pensa-mentos e discursos, coisas que ele escre-veu e coisas que escreveram sobre ele. A gente queria que ficasse uma lembran-ça, qualquer que fosse, dele. Mas você com certeza se lembra, do que eu te dis-se então, que não me fazia nenhum sen-tido que do Doron, o cara mais alegre e cheio de vida que eu conheci, pudes-sem sobrar só umas folhas frias, fotos e lembranças...Agora eu penso em mim mesmo.Não. Não. Não.Eu não quero que o que sobre de mim seja só um livro.Eu quero viver!Eu ainda tenho tanta coisa pra fazer no mundo. Tanta coisa pra consertar. Tanta coisa que eu preciso fazer do jeito certo.Levantei da cama e puxei atrás de mim o suporte da infusão até a janela. Olhei pro saquinho que estava pendurado nele, pingando gota após gota, como se representasse o relógio da minha vida, que vai e escorre.Olhei pela janela. O relógia marca-va meia-noite. Silêncio na cidade, e o braço das estrelas brilhando envolvia a cidade. Pensei comigo mesmo, quantas pessoas estão dormindo agora em paz nas suas camas, saudáveis e inteiros, e não valorizam o suficiente o presente da vida. A oportunidade valiosa que eles têm nas mãos deles.E eu que finalmente consigo entender. Eu não tenho mais essa oportunidade...O rádio do lado da minha cama estava

ligado todo o tempo, tocando músicas tranquilas. De repente meus ouvidos captaram a letra duma música que to-cava. Uma música conhecida, mas que descrevia tão bem o que eu sentia naquela hora, que eu sou obrigado a es-crever pra você algumas palavras dela: 

Com essas mãos ainda não construí uma aldeia

Ainda não encontrei água no meio do deserto

Ainda não desenhei uma flor, ainda não sei como

O caminho me leva e para onde eu vou 

Ainda não plantei grama, ainda não levantei uma cidade,

Ainda não plantei vinhedos sobre todas as montanhas da cidadeAinda não fiz tudo, assim com

as minhas mãosAinda não experimentei tudo. Ainda não amei o suficiente

(Od lo hakol nissiti. Od lo ahavti dai) 

Ainda não levantei uma tribo, ainda não compus uma música,

Ainda não vi cair neve durante a colheitaAinda não escrevi minhas memórias

Ainda não construí a casa dos meus sonhos Olhei para as minhas mãos, as minhas mãos que uma vez foram sadias e for-tes, agora furadas cheias de infusões. “Beele haidadaim... od lo ahavti dai” (“com essas mãos... ainda não amei o suficiente”).Eu vou te contar uma coisa Eran, que talvez não te pareça real, mas me acre-dite. Nessas horas as pessoas já não mentem mais.

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A verdade é que eu não tenho medo de morrer.A verdade é que não me importaria tanto largar esse mundo e passar para um mundo onde tudo é bom, apesar de eu só ter 17 anos, se eu pudesse ter a tranquilidade de espírito, e a certe-za de que eu fiz o que eu realmente precisava fazer! Que eu aproveitei a oportunidade que eu tive.Mas agora, quando eu chego nesse ins-tante, e olho para minha vida atrás, eu percebo quantas coisas eu precisava ter feito diferente! No que diz respei-to a minha ligação com meus pais, com a minha irmã, com os meus amigos, os vizinhos, os professores...

Com D-us...Você sabe Eran, já faz muito tempo que eu não posso ir num Beit HaKnesset e rezar com minian. Todo esse último mês eu coloquei o Tfilin e rezei sozinho no meu quarto no hospital. Talvez vá te soar engraçado, pois você me conhece e sabe como, por todos esses anos custa-va-me pra levantar de manhã pra rezar com minian. Eu não era um cara que se entusiasmava com isso. E quando eu à tefilá, também estava sempre atrasado e até mesmo no que diz respeito a rezar com kavaná (devoção) eu não era um modelo de exemplo.Mas ontem de manhã quando eu co-loquei o tfilin sozinho no quarto, de repente, eu senti tanta saudade de rezar junto com todos, de responder em voz alta pro Kadish e pra kedushá. Da kriat Hatorá, da tefilá verdadeira do fundo do coração junto com todo o tzi-bur (congregação).Você sabe Eran, que o estudo da Gue-

mará nunca foi “o amor da minha vida”. Eu sempre aproveitava qualquer chance pra fugir dos sedarim (aulas) da yeshivá. Mas agora, ai, como me faz falta. Sentar no beit midrash e estudar simplesmente um daf de gmará, ler a parashat hashavua com o Rashi. Ou até mesmo ouvir um shiur do nosso More. Você pode acreditar?Você me conhece Eran, sabe que eu sempre fui um cara supérfluo, um des-ses que “leva” a vida, que não se emo-ciona com o que acontece, que aceita as coisas como elas são. Nem sempre me preocupei em esclarecer bem as coisas, me aprofundar nas coisas e compreen-dê-las de verdade. Eu não tenho dúvi-das de que foi mais fácil me comportar do modo como me comportei, mas por outro lado, eu penso sobre tudo que desperdicei.Como eu queria agora estar na recha-va do Kotel Hamaaravi (a esplanada na frente do Kotel), me apoiar nas suas pedras e colocar entre elas um bilhete com um pequeno pedido pro Criador do mundo. Um pedido de uma outra vida. Diferente daquela que eu tive...Não me entenda mal Eran. Eu devo agradecimentos a vida que eu tive. So-bre tudo que ganhei. Justo agora, eu percebo o quanto eu tenho de agra-decer por toda a prosperidade que eu ganhei, e que até agora eu me relacio-nava, com ela, como se ela fosse uma coisa óbvia por si só. A linda família que eu tive, os meus amigos, os profes-sore, as forças e preparos que eu ganhei (e não os aproveitei eles como devia...), a inteligência, a saúde, tudo! Até mes-mo as coisas mais rotineiras, que tal-vez, justo por serem comuns a gente

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não valoriza como deveria – a possi-bilidade de respirar o ar puro, olhar o azul do céu, ouvir o pio dos pássaros, se surpreender-se, experimentar, sentir, amar.  Simplesmente, viver!Também penso comigo mesmo que se só tivesse um pouco mais de tem-po, mais um ano, mais um mês, ou até mesmo mais uma semana, tanta coi-sa eu poderia fazer diferente. Mas eu simplesmente fui um bobo.  Um cara jovem e metido que acha que tem o mundo em suas mãos. Que tem certeza de ter mais dezenas de anos pela frente, e que nada irá desaparecer.Agora eu sei Eran, que nesse mundo ninguém tem uma apólice de segu-ro. A vida é um presente precioso de-mais. Temos de aproveitar cada gota dela. Tenho certeza que se durante toda a minha vida eu tivesse a perspec-tiva que eu tenho agora, muitas coisas eu teria feito totalmente diferente.Não tenho mais forças pra escrever, e eu também não quero te cansar com coisas compridas. Uma coisa eu te peço, Eran. Prometa que as coisas que eu te escrevi entrarão bem no fundo do seu coração. Eu não tenho mais a oportunidade de viver diferente.

Mas você, ainda pode.Eu te escrevo, Eran, no fundo eu te peço, que mostre essa carta ao maior número de pessoas para que entendam o que eles têm nas mãos, pra que valo-rizem o que ganharam, que não achem que as coisas são óbvias por si só. Que vivam de verdade a vida até o fim e a aproveitem em todos os sentidos, para que, quando chegar a hora que eles precisem abandonar esse mundo não os acompanhe o sentimento horrivelmen-te azedo de tudo que eles desperdiça-ram, de tudo que eles poderiam ter feito de forma diferente...Eu sinto muito, Eran, essas últimas pa-lavras estão meio borradas. Estas são as minhas lágrimas que escorrem por si só. Sim, eu choro, e não tenho vergonha disso. Eu sou feliz e agradeço tudo que tive, mas quem me dera eu pudesse ter feito as coisas melhor. Me consolará sa-ber que as minhas palavras entrarão no teu coração e graças a elas você viverá a sua vida um pouco diferente. Com amor eterno

Seu sempre Amigo,Udi

Por Shalom EranTraduzida por Salomão Cohen

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Um olhar diferenciadoO clássico estudo “Sight and

Space” (publicado em 1932), de Marius Van Senden, pri-

meiro cirurgião oftalmologista a ope-rar em situações de risco, relata-nos acerca dos primeiros procedimentos cirúrgicos na remoção de cataratas. Os resultados foram surpreendentes. Muitos dos que eram cegos e logo após a operação recuperaram a visão não puderam assimilar de uma vez as no-vas informações de cor, profundidade, altura e distância. Eram “analfabetos visuais”, tendo que aprender o signifi-cado do que viam. Era como aprender uma nova linguagem, conectar as cores com seus nomes. As imagens que co-nhecemos pareciam para eles como um código a ser decifrado. Por exemplo, saber que as “marcas escuras” dos obje-tos são sombras. Perplexos, descobri-ram que o rosto de cada visitante era “completamente diferente”.

A unicidade da fisionomia humana e a infinita diversidade são sinais da grandeza Divina. Faces diferentes evitam discórdia a respeito de iden-tidades ou propriedades. Diferentes cores e sabores de comida tornam o nosso cotidiano mais interessante. Todo o mundo físico poderia ser in-color e insípido, como a água ou o céu cinza. Mas não é o tipo de mundo que D’us desejava para suas criaturas. O Talmud menciona, em massechet Berachot 58A que, da mesma for-ma que a fisionomia das pessoas são diferentes, assim são suas mentes. Sobre essa frase, o rabino E. Dessler explica que isto não se refere somen-te a opiniões e atitudes, mas tam-bém à individualidade de cada per-sonalidade. Nenhum ser humano foi criado sem razão: “cada pessoa tem seu momento” dizem nossos sábios. O Talmud relata: “Quando Ben Zoma

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Crônica • Seu Makom • 31

viu a multidão de judeus (cerca de 600 mil) em uma celebração no Templo Sagrado, declarou: ‘Bendito sejas Tú, D’us, que conhece os segredos’ “(Bera-chot 58 A). O que passou pela cabeça de Ben Zomá que o levou a dizer isso?No Pirkei Avot, Irving Bunim nos es-clarece seu pensamento: “Para nossos sábios, uma multidão não é uma massa de gente, senão um grupo de muitos indivíduos, cada um com seu próprio mundo, suas próprias percepções, pen-samentos e segredos”. Complementa: “Quando vêem 10 mil pessoas, estão vendo 10 mil segredos escondidos em 10 mil mentes diferentes com 10 mil variadas percepções de mundo. Esta é a essência da liberdade humana, a mente de cada um é um mistério e por isso mesmo não pode ser controlada. A Suprema Inteligência, a qual criou o mundo, concluiu ser necessária a cria-ção de indivíduos distintos uns dos outros em aparência e pensamento. Só Ele conhece os segredos, as percepções privadas e reflexões que enchem as mentes humanas”.Das constatações médicas, provavel-mente a mais assombrosa foi o fato de que nem todos os previamente cegos estavam felizes com sua nova aquisi-ção. Pelo contrário, muitos conside-raram sua primeira experiência como negativa, traumatizante. Somente após um tempo, acostumaram-se com o mundo e puderam ver as coisas de forma diferente. Entenderam que se assustavam porque antes aquilo que hoje vêem não fazia parte de seu uni-verso, portanto não existia. Após reaver a visão, conseguiram redescobrir o mundo e tudo que há nele.

Na obra “Um Antropólogo em Mar-te”, o neurólogo Dr. Oliver Sachs cita um de seus pacientes: “Ele per-cebeu que algumas das coisas que amava eram “feias” (incluindo sua es-posa e a si mesmo) e estava frequen-temente revoltado com as imperfei-ções e deficiências do mundo físico”. Nossos sábios comentam que em mui-tos momentos todos somos como estes pacientes, recusando-nos a abrir nossos olhos e ver o mundo criado por D’us, cheio de maravilhas e amor. Escolhe-mos viver na escuridão, por perceber que o mundo não é como imagináva-mos. Frequentemente nos revoltamos com suas imperfeições e deficiências e esquecemo-nos de reparar nas coisas mais simples e maravilhosas, como a água da chuva caindo, uma montanha coberta de neve, a aparência de uma flor, o céu se abrindo ou até mesmo um ser humano sorrindo.Inclusive a luz mais benigna pode ser terrível para um olho acostumado à es-curidão. É preciso coragem para abri-los. Temos medo de ser sobrecarregados por essa realidade confusa. E por medo de não poder lidar, mantemos os olhos fechados, inclusive para as coisas boas. O Rei David nos Salmos diz: “Provem e vejam que D’us é bom!”. Da mesma for-ma que entendemos que deve-se abrir a boca e desfrutar do sabor da comida, assim também devemos assimilar que, para desfrutar do mundo, requer que abramos nossos olhos e nossas perspec-tivas. Quem sabe assim, seremos capa-zes de ver que o mundo foi criado com bondade e está repleto de luz.

Por Shlomo Safra

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32 • Seu Makom • Dia a dia

Quatro concepções erradas sobre judaísmo

o judaísmo é uma religião que tem como base as discussões, a contestação e os constantes questionamentos. muitas explicações, leis e comentários surgem

desses questionamentos. explorar o judaísmo implica em aprender ideias novas, complexas e profundas, enfrentar dúvidas e soluções ou respostas diferentes. É comum que no meio do caminho, algumas pessoas se percam ou confundam.

Apresentamos a seguir, quatro concepções erradas essenciais que muitos judeus têm sobre o judaísmo e suas esclarecedoras respostas.

Todos estes mandamentos para cumprir? Você deve estar brincando. Muitas pessoas pensam que se não podem cumprir todos os manda-mentos, não há razão para começar.Mas, será que isto é verdade? O judaísmo tradicional é “ou tudo ou nada”?

Imagine se você tropeçar numa mina de ouro. Você deixaria o ouro porque não sabe se encon-trará TODAS as minas de ouro do mundo? Aquela única mina o tor-nará rico para o resto da vida! Toda mitsvá é como uma mina de ouro. Mesmo que façamos so-mente uma mitsvá, nossas vidas

são enriquecidas para sempre. O judaísmo é um processo, uma jornada, onde todos os passos contam. Não é “ou tudo ou nada”. Tudo o que for possível fazer agora já conta, e é ótimo! Faça e não se apresse, dê um passo de cada vez.

Já encontrou algum judeu que olha diferente para todos que são menos religiosos do que ele? Ele pode ser condescendente, sensato ou querer excluir os outros do judaísmo. Mas, de acordo com a Torá, será que sabemos realmente quem é um “bom judeu”? Se um terrorista ordena ao maior rabino da Terra que mate um

ladrão ou então ele morrerá, o rabino está proibido de matar, mesmo que seja para salvar sua vida. Por que? A vida do rabino não é mais importante aos olhos de D’us do que a vida de um criminoso? O Talmud diz: “Ninguém sabe qual sangue é mais vermelho”. Ninguém pode julgar o valor de outra pessoa, pois ninguém

conhece onde ela está situada na escada de vida, onde começou e quantos degraus já subiu. Talvez o ladrão, dadas as circunstâncias de sua vida, fez escolhas maiores e mais difíceis do que o destaca-do rabino. A melhor política para todos nós é parar de julgar um ao outro e ao invés disso respeitar o próxi-mo pelo que ele é.

2. “Alguns judeus são melhores do que outros”

1. “Judaísmo é “ou tudo ou nada”

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Dia a dia • Seu Makom • 33

O Judaísmo se refere a D’us como nosso “Pai no Céu”. Assim como nossos pais de-sejam que tenhamos tudo de bom, o Todo-Poderoso também quer que aproveitemos de todos os prazeres! Quando o judaís-mo proibe algo, por mais que esta intenção não seja clara, é porque D´us quer nos preservar e nos cuidar. A palavra “Torá” quer dizer “ins-

trução”, pois este sagrado livro contém instruções para toda a vida. Os computadores vêm com grandes manuais de instrução e sem eles estaríamos perdidos. A vida é muito mais complicada e se quisermos aproveitá-la ao máximo, as instruções com certeza fazem a diferença. D’us não nos pede para rezar porque precisa reforçar Seu ego. Ele quer que através da reza,

nós nos aproximemos Dele, que entendamos que é Ele é capaz de tudo e quem nos dá tudo e que assim peçamos o que neces-sitamos. Por quase três mil anos a Torá tem nos ensinado como construir uma vida significativa e prazerosa ao máximo. Não se contente somente com os pedaços, pois se assim desejar, pode conseguir o conjunto todo e uma realização completa.

“É um suporte”. “Uma vez que se é religioso você pára de pensar”. Muito pelo contrário, você pára pra pensar, pensa muito antes de agir do que se não tivesse que responder a ninguém, nem a nada. Uma vida sem limites é prazerosa por certo tempo, após ter experimentado tudo, ela perde a graça. Uma vida com limites, seguindo regras e mandamentos, proporciona um prazer eterno. “Ser religioso exige que acredite-mos em algo que não é fácil de acreditar”. Longe de ser uma fuga de res-

ponsabilidades, o judaísmo ensi-na que somos responsáveis pelo mundo inteiro. Ao entender que cada um tem sua missão aqui na terra, tanto no âmbito espiritual, quanto no material, firmamos um importante compromisso.

O Talmud diz que cada pessoa deve sentir que “o mundo foi criado para ela e é sua responsa-bilidade tomar conta dele”. Nossos heróis são os virtuosos e os sábios, pois, por milhões de anos, os judeus têm um caso amoroso com o saber sobre a vida e o esforço para crescer. A Torá é um guia e um padrão de conduta ética, mas aí vem a

parte mais difícil: aplicar estes princípios morais e corresponder a estas expectativas na socieda-de e no dia-a-dia. E o fato de acreditarmos em algo difícil de acreditar? Não é judaico. O primeiro dos Dez Man-damentos é saber e entender que existe um D’us ao invés da aceitação cega. Ser um intelec-tual honrado, não um produto da sociedade. Ouça os indícios e co-mece a construir uma fundação racional para suas crenças, sejam elas quais forem. Esclarecer estas concepções erradas é um bom começo para descobrir o quê é realmente o judaísmo.

3. “A religião tira toda a diversão da vida”

4. “Ser religioso é uma fuga”

Adaptado de Aish.com

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34 • Seu Makom • História

O Baal Shem Tov costumava dar a todo pobre que viesse visitá-lo dezoito centavos.Certa vez veio um judeu e começou a gritar: — Já fui muito rico, não aceito dezoito centavos, quero cinqüenta rublos.O gabai do Baal Shem Tov disse-lhe:— Muitos judeus que aqui estão já fo-ram ricos, mas o Baal Shem Tov não é rico. Cada um recebe dezoito centavos. Se você não quer, não precisa.O homem começou a amaldiçoá-lo, provocando uma grande confusão. O Baal Shem Tov saiu de seus aposen-tos e perguntou: — O que está acontecendo?O shamash respondeu: — Este judeu se recusa a receber os dezoito centavos, ele quer cinqüenta rublos, porque já foi muito rico.O Baal Shem Tov olhou para o homem e disse:— Em vez de pedir cinqüenta rublos, por que você não me pergunta: “Por que o Santíssimo me castigou, fazendo com que eu perdesse todo o dinheiro que tinha?”E o judeu retrucou: — Muito bem, então estou perguntan-do...

Meu – SeuDisse-lhe o Baal Shem Tov: — Entre e sente-se. Você se lembra que, no passado, foi o judeu mais rico da sua aldeia? No dia de Iom Kipur, você passava de um judeu a outro, dan-do-lhes um pouco de tabaco para chei-rar. Um shmek [pitada] de tabaco. E realmente revivia todos os judeus. Du-rante o jejum, este shmek de tabaco de fato reanimava a alma! Na última vez, quando você ainda tinha muito dinhei-ro, foi de uma pessoa a outra e, bem lá no fundo, viu um judeu que não jeju-ava em Iom Kipur — ele jejuava o ano inteiro. Simplesmente nada tinha para comer. Ele ansiava por aquele shmek de tabaco o dia inteiro. Você achou que estava abaixo da sua dignidade dar-lhe um shmek de tabaco, e não o fez. Pois bem, este judeu quase morreu. Quase morreu. Houve uma grande comoção nos Céus... Nos Céus decidiram tirar todo o seu dinheiro e dá-lo a ele. Se você se lembra bem, ele agora é imen-samente rico, e você não passa de um shleper [pobre coitado].O judeu, no entanto, ainda não havia conseguido entender. E perguntou:— Bem, como posso reaver o meu dinheiro?Disse-lhe o Baal Shem Tov:

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História • Seu Makom • 35

— Sabe o quê? Se você pedir a ele um shmek de tabaco e ele não lhe der, rece-berá seu dinheiro de volta.O judeu pensou: “Isso é fácil... Posso conseguir”. E voltou para a sua aldeia.E lá estava ele, o novo rico, de pé du-rante a oração de Shemone Esrê. Con-cluiu o Ossê Shalom, e perguntou: — O que você quer?— Um shmek de tabaco.E toda vez ele lhe dizia: — Se você está pedindo, certamente precisa... — e lhe dava.O novo rico foi convidado para subir à Torá, e o judeu ali parado, ao lado do púlpito, impedia que o fizesse. E ele lhe perguntou: — O que você quer?!— Um shmek de tabaco.— Se você está pedindo, certamente precisa... — e lhe dava.Por muitos anos o judeu realmente in-comodou o novo rico com seus cons-tantes pedidos, mas este nunca se ne-gou a dar-lhe um shmek de tabaco.O judeu então pensou: “De uma vez por todas, tenho de fazer alguma coisa. Algo inacreditável”.O novo rico realizou o casamento de sua filha. Sua alegria era tanta que, toman-do a jovem pela mão, pulou em cima de

uma mesa e com ela dançou a mitsve tants. De repente, o judeu pobre tocou sua per-na, pedindo-lhe: — Quero um shmek de tabaco... Desta vez, tinha certeza de que o rico lhe diria: “Realmente, que audá-cia! No meio da dança com minha filha”.Porém aquele, que era uma alma cari-dosa, retrucou: — Se você está pedindo, certamente precisa...O pobre então desmaiou.Depois que o acordaram, o rico per-guntou-lhe: — Por que você desmaiou?Ele respondeu: — Você não se lembra de mim?! No passado fui muito rico. O Baal Shem Tov disse que você recebeu dos Céus, como privilégio, todo o dinheiro que era meu.Então o novo rico declarou:— Se o Baal Shem Tov afirmou que o seu dinheiro está em minhas mãos, lhe darei a metade. Com uma única condi-ção: Nunca diga não quando um bebê lhe pedir algo...

(Extraído, mediante autorização, do li-vro “Juntos... um só povo”, do Rabino Shlomo Carlebach, Editora e Livraria Sêfer, 2004.)

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36 • Seu Makom • Dia a Dia

Talmud : imprecisão ou cuidado extremo? o talmud é conhecido por ser o livro das discórdias e discussões. será que isso significa

que seu conteúdo é impreciso? Na verdade, isso prova exatamente o contrário.

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Isso não soa um pouco contraditório?Para ilustrar melhor essa ideia, segue uma pequena história:

Conta-se que uma mulher de idade voltou para casa de uma viagem a Israel. Sua família ,que a esperava no aeroporto, ao

vê-la perguntou: “Vóvó, você está de volta! Como foi a viagem?”

“Oh, foi maravilhosa. Eu vi a tia Sadie e o tio Irving, foi lindo!

“E como foi o vôo?”

“Terrível! Aquela comida de avião era puro veneno. E vinha em porções tão pequenas.”

Perceberam a contradição? A avó fa-lou que a comida era como veneno, então por que ela reclamou sobre as porções pequenas?Essa é a mesma reclamação que os principiantes do Talmud fazem.O fato de os rabinos discutirem sobre coisas tão insignificantes mostra algo crucial: que eles concordam em todos os pontos principais. Maimônides comen-ta em seu livro “Mishneh Torah” (Laws of Mamrim 1:3): “no que diz respeito às leis tradicionais, a Torá escrita, nunca houve qualquer controvérsia. Se havia alguma, podemos ter certeza de que não remonta a Lei de Moisés”.No caso das regras procedentes dos princípios humanos, todos os membros do Sanhedrin - Supremo Tribunal Rabí-nico - deveriam concordar com a deci-são para que algo mudasse. Se houvesse alguma contradição entre eles, fazia-se uma votação onde o Sanhedrin seguia a maioria e assim decidiam as leis. Este princípio se aplica até hoje aos decre-tos, leis e costumes.

Dia a Dia • Seu Makom • 37

definiçãoJuntas, a Mishná e a Guemará são cha-madas de Talmud. Ambas contêm regras legais e discussões que estão em cons-tante avanço ou retrocesso. O Talmud é um complemento da Torá, pois abrange o que chamamos de Torá Oral, preen-chendo as lacunas e explicando leis que à primeira vista parecem ilógicas. Além disso, inclui histórias e ditos que, tanto direta quanto alegoricamente, oferecem a filosofia e sabedoria do Judaísmo. No entanto, o Talmud é um texto di-fícil de ler porque contém muitas dis-cussões, ocorridas ao longo de centenas de anos, na forma de prova e refutação .Ele cobre uma ampla variedade de assuntos, seguindo, no entanto, um plano coerente e muito bem estrutura-do a dizer, a Mishná, pilar central da Lei Oral. Compõe-se de uma série de declarações, organizadas por assunto e tópico que estão dentro de uma Masse-chet - um tratado, que ensinam as leis, a tradição e a história judaica. Se você já deu uma olhada no Talmud, notará duas coisas significativas: uma é que não importa a página que abra os sábios estarão discutindo. Hillel fala isso, Shamai fala aquilo. Rabi Meir fala isso, Rabi Yehuda fala aquilo. Prova-velmente você estará pensando, o que está acontecendo? Como levar a sério um livro onde os rabinos não conse-guem concordar em nada? A segunda coisa que notará é o fato de que os argumentos talmúdicos são de-senvolvidos sempre sobre os detalhes mais minuciosos possíveis. Essas pes-soas eram os líderes de gerações! Por que perdiam tanto tempo com coisas tão pequenas?

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38 • Seu Makom • Dia a Dia

o exemplo do casamentoNo Tratado de Kidushin, discute-se sobre a cerimônia do casamento. No dia, o noivo deve dar à noiva um pre-sente de valor debaixo da chupá. Sobre esse momento, o Talmud escreve que “o presente deve ter o valor da menor denominação” e o debate se desenrola sobre a definição desse termo.Em valores modernos, Shamai diz que “menor denominação” é o equivalente a um dólar. Hil-lel diz que pode ser o equivalen-te a uma moeda de um centavo. E foram gastas algumas páginas com as argumentações e discussões dos sábios a respeito desse valor. Por um lado, o por que de ser uma moeda de um dólar, por outro, o por que de ser uma mo-eda de um centavo. Falam que não é um dólar, nem um centavo e assim vai. Esse debate ainda está em andamento 2.000 anos depois! E encaremos, este é um argumento totalmente teórico - pois qualquer pessoa que tente dar à sua noiva uma moeda de um centavo ou um dólar estará em apuros!Ambos, Shammai e Hillel concordam que tem de ocorrer uma cerimônia de casamento, que ela deve ser debaixo de um toldo, com uma Ketubá que sele a união do casal e que na hora do Ki-dushin tem de haver duas testemunhas. E até sobre a qualificação das testemu-nhas ambos concordam. No entanto, nada disso é citado no Talmud. Somen-te se estuda sobre o quanto o noivo supostamente tem de dar pela noiva. Daqui podemos aprender que os rabi-nos eram tão cuidadosos e meticulosos que até mesmo o menor ponto de dife-rença foi discutido.

A Convenção rabínica É um princípio judaico que a Torá Oral (Talmud) foi transmi-tida a Moisés no Monte Sinai. Mas imaginemos por um minuto que a Torá Oral não viesse do Sinai e que em algum lugar, alguns milhares de anos atrás, um grupo de rabinos se reuniram para compor o Talmud e passá-lo como se viesse de D-us. Cinquenta rabinos sentados em um grande salão discu-tiam sobre os mais variados assuntos. O rabino que presidia a reunião le-vantou-se e disse: “Ok pessoal, vamos lidar com algumas questões. O que vamos falar na Torá Oral? Sobre como surgiu a ideia de uma leitura semanal da Torá na sinagoga? Quantos de vo-cês acham que este é um bom concei-to para incluir?”. Todos levantaram a mão. Com a leitura da Torá semanal, todo mundo concorda. “Que tal recom-pensa e punição?”. Todos concordaram. Ao abordar a questão da cerimônia de casamento e discutirem as premissas básicas - Chupá, Ketubá, Edim - nova-mente concordaram.

“Agora, vamos dizer que o noivo deva dar à noiva um presente. Qual deve ser o valor dele?”, falou o mediador.

Hillel disse: “Eu acho que deveria ser o valor equivalente a uma moeda de um centavo”. Shamai rebateu: “Eu

acho que deveria ser um dólar”. Hillel disse: “Não, um centavo”.

Shamai disse: “Eu imploro seu perdão, mas acho que deveria ser um dólar”.

- “Um centavo!” - “Um dólar!”

- “Um centavo!” - “Um dólar!”

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Dia a Dia • Seu Makom • 39

Um intenso debate encheu a sala de convenções.

O que está acontecendo aqui?

Quando foi discutido o fato de ler a Torá semanalmente, não houve

problema. Recompensa e punição, todo mundo concordou. Mas quando se trata de um centavo ou um dólar

a discussão não parava.

Um rabino naquele momento falou: “Os rabinos chegaram a um acordo sobre todas as questões importantes.

Vocês não podem apenas somar o dólar e o centavo e dividi-los para que

o valor seja 50 centavos?

Não. Eles não podem. Porque o judaísmo não quer comprometer a

verdade. A Torá cuida até dos menores detalhes.

Pensamento JudaicoPensamento crítico, independente e buscando sempre a verdade. O judeu, por natureza é um povo que discorda. Através da discórdia foi que o ser hu-mano evoluiu: quando as pessoas não concordam entre si, são obrigadas a analisar de maneira profunda o tema para formar argumentos consistentes que convença o outro de seu ponto. Assim também ocorria no Talmud. Quando alguém discordava de algo, trazia histórias ou casos que defen-dessem sua ideia, e baseados em leis e conceitos, provava ou não seu ponto ou acabavam cedendo.

Quantos partidos políticos impor-tantes existem nos EUA? Basica-mente dois. Quantos no Brasil? Qua-tro. Inglaterra? Cinco. Itália? Nove principais partidos políticos.

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40 • Seu Makom • Dia a Dia

E em Israel? Há 17 partidos po-líticos principais, incluin-do quatro partidos comunistas! Se considerarmos que os Estados Uni-dos possuem 250 milhões de pessoas e dois partidos, e Israel, um país pe-queno, de cinco milhões de habitantes, tem 17 partidos políticos, chegaremos à conclusão de que é proporcionalmen-te absurdo.Não é por acaso. Esta é a maneira como o povo judeu funciona. Os judeus são comprometidos com suas crenças e não cedem. Na pró-pria Torá, D-us chama os judeus de “povo cabeça dura.” Isso quer dizer, que estão convictos de seus ideais e de que será difícil convencê-los a mudar. Na história do povo judeu, apresentam-se inúmeras situações que servem de exemplo para esse traço característico.

ConclusãoÉ ridículo dizer: “Bem, com certeza, só os rabinos se reuniram e fizeram tudo isso. Eles concordaram em tudo, exce-to nesses pequenos detalhes”. E é ainda mais absurdo acreditar que rabinos po-deriam ficar juntos e embutir uma far-sa na Torá Oral para todo o povo judeu! Prova contrária disso é o fato de con-cordarem e seguirem todos os costu-mes, leis e tradições da mesma forma.

A eternidade e veracidade dos ensinamentosNa era moderna, tudo muda muito rápido e continuamente. Muitas te-orias são criadas em segundos e der-

rubadas nos seguintes. Todo mundo explora, viaja, experimenta, se infor-ma, e baseado em experiências ou em crenças e em interesses, decide seus próprios valores e leis que direcio-narão suas ações. Um exemplo claro disso é o Novo Testamento, no qual as mais diversas vertentes do cristia-nismo se baseiam, onde versículos foram tirados, alterados ou cortados de acordo com o interesse ou crença de cada linha. Essa mudança cons-tante de conceitos tira a credibilida-de da Bíblia e dos valores pregados por estas organizações religiosas. Já a Torá, ao longo do tempo, foi escri-ta, traduzida, transliterada e copiada inúmeras vezes e nunca se modificou em sequer uma palavra. Profecias di-tas há centenas de anos começam a se concretizar, animais classificados como kasher não desapareceram, nem nasceu um a mais ou um a menos. Assim também no Talmud, o que era decidido não era mudado, nem mo-dificado. Quanto às divergências na Lei Oral, os rabinos apenas discordam sobre os mínimos detalhes e o fato de ques-tionar tudo e discordar somente de-monstra como nosso povo é um povo igualitário e quer tomar sempre a me-lhor decisão. Todas essas provas dão ao povo judeu uma confiança muito grande para observar as palavras da Torá Oral e da escrita, ensinamentos que foram fielmente transmitidos de geração em geração.

Adaptado do Aish.com

Page 43: Revista Seu Makom - Edição 8

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Page 44: Revista Seu Makom - Edição 8

42 • Seu Makom • Chaguim

Purim: A Festa mascaradahá um tempo conversava com um grupo de amigos, quando um deles falou para

o outro: “mascarado”. fiquei me perguntando, o que significa exatamente esta

palavra? ela é uma expressão ou uma gíria? usa-se para ofender ou para zombar?

Qual o sentido oculto por trás desta palavra?

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Chaguim • Seu Makom • 43

A históriaPurim, a festa das fantasias conta uma história bastante mascarada: Vashti, esposa de Achashverosh, rei da Pérsia, recusa-se a participar de uma festa. Esta atitude proporciona-lhe uma sen-tença de morte. Ao procurar uma nova esposa, o rei Achashverosh escolhe Ester, sobrinha de Mordechai, para ser sua nova rainha. Haman, ministro do rei, revoltado com a atitude de Mordechai, que não se ajoelhava ante sua presença, tenta persuadir o rei para matar Mor-dechai e todo seu povo. Ao ouvir isso, Ester revela pela primeira vez sua ver-dadeira identidade ao rei e promove entre eles um encontro que desmascara Haman. Uma vez descoberto, Haman e toda sua família são condenados à mor-te pelo Rei e o povo Judeu ganha a di-fícil batalha contra os persas. Seguindo essa sequência de fatos, pare-ce que os judeus tiveram uma “onda” de sorte. Tudo acontece “atrás das cor-tinas”, nada ocorre de maneira explíci-ta e o que era para ser uma sentença de morte para os judeus, transformou-se em uma salvação milagrosa. Todos os acontecimentos parecem um mero aca-so, mas na verdade é uma história mas-carada, que esconde a Providência Di-vina por trás dos acontecimentos. Fato é que Seu nome não aparece nenhuma vez explicitamente dentro da Meguilá (Livro de Purim).

Você sabia??Em diversas sociedades primitivas, a máscara era usada como objeto religio-so, pois se acreditava que ao vestir uma máscara feita de pele de crocodilo, toda

a bravura e poder do crocodilo seriam transmitidos àquele que a vestisse. No teatro grego e romano, o papel da máscara era criar uma completa interação entre o ator e seu persona-gem, possibilitando assim que o ar-tista vivenciasse e representasse seu personagem de maneira íntegra. Até os dias de hoje, na África, por exem-plo, as máscaras são usadas em rituais religiosos.No carnaval de Veneza, o uso da más-cara tornou-se um prazeroso costume entre os nobres. Mulheres entregavam-se aos prazeres mundanos sem que se identificassem e os homens poderosos matavam seus rivais impunemente. No carnaval Suíço, a máscara visava es-pantar os maus espíritos e assegurava de maneira simbólica a fertilidade da terra e de suas mulheres. O carnaval brasileiro tem o mesmo propósito do europeu e foi trazido pelos portugueses em 1723.

máscara de PurimEm Purim, também costumamos nos fantasiar e vestir máscaras, mas não as usamos para incorporar ou espantar “espíritos” e “energias” de crocodilos ou espíritos maus, nem para nos entre-garmos aos prazeres mundanos, muito menos para matar pessoas inocentes.Então, porque usamos máscaras em Purim? Qual é o sentido que está por trás das máscaras?O Talmud (Tratado de Meguila, pág. 12) explica que todo o decreto ruim o qual afetou aquela geração foi consequ-ência de um pecado cometido na época do rei Nabucodonosor. Naquela

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44 • Seu Makom • Chaguim

época, os judeus foram obrigados a se curvar para idolatria, mesmo não que-rendo fazê-lo. Com medo do decreto do rei, se curvaram, porém de uma for-ma superficial e externa, sem uma real intenção. Por conta deste evento, Deus em Purim se ausentou de uma maneira superficial, sendo que sua real intenção era buscar o verdadeiro arrependimen-to de seu povo. “Está escrito na Torá (Deuteronômio 31:18): ´´Haster astir et panai mehem- E Eu, certamente, esconderei o Meu rosto naquele dia por todo o mal que fizera, por se haver voltado para outros deuses.” Nossos sábios afirmam que D-us escondeu-se na festa de Purim, pois é exatamente desta maneira que

Ele rege o mundo, ocultando sua ma-neira de agir através da chamada “na-tureza”. É a vontade Dele não revelar Seus caminhos explicitamente pois nós não teríamos a chance da dúvida, o livre-arbítrio.

desmascarando....Vivemos em uma realidade material e física onde criamos máscaras para nos relacionarmos com nossos familiares, amigos e até mesmo com D-us. Em um mundo com tantas turbulências não é difícil ser levado a vestir uma máscara, pois é mais cômodo guardar o seu intimo para si mesmo, do que revelá-lo as pessoas. Quantas vezes emitimos agrados falsos, omitimos

"A festa de Purim vem justamente para desmascarar

essa visão, arrancando essa máscara e fazendo que

sejamos capazes de enxergar D-us nos pequenos

milagres que nos são concedidos a cada dia e dia."

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Chaguim • Seu Makom • 45

nossa opinião, ou deixamos de agir perante situações que obrigavam nos-sas ações simplesmente por estarmos presos às nossas máscaras?! Num sen-tido mais profundo, a pessoa tende a se desconectar de sua verdadeira iden-tidade, criando uma personalidade al-ternativa baseada muitas vezes na ex-pectativa alheia deixando sua essência longe de sua realidade. Essa máscara também e usada em rela-ção a Deus, a diferença é que Ele tem total conhecimento de nossos atos e pensamentos. As únicas pessoas que podem se confundir com este tipo de máscara somos nós mesmos. Muitas vezes, percebemos essa máscara quan-do deparamos numa situação de con-

flito, por exemplo, no falecimento de um ente querido ou num momento de auto - reflexão, onde conectamos nos-sa vida com um propósito espiritual. Em outras, quando tudo ocorre de for-ma natural onde tendemos a esquecer Deus de nosso cotidiano. Este com-portamento não nos permite enxergar o lado verdadeiro, oculto e espiritual do mundo. A festa de Purim vem justamente para desmascarar essa visão, fazendo que se-jamos capazes de enxergar os pequenos milagres que nos são concedidos a cada dia e dia.

Purim Sameach!Rabino Dany Roitman

"Nossos sábios afirmam que D-us escondeu-se na festa de Purim, pois é exatamente desta maneira que Ele rege o mundo, ocultando sua maneira de agir através da chamada “natureza”."

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46 • Seu Makom • Personalidades

A nova era da Kashrut

Quem nunca ouviu falar do Bdk? Aquele órgão que faz a ruffles, o Chandelle, o Crunch, os melhores enlatados

etc, poderem ser consumidos. A maioria dos judeus sabe que é graças ao Bdk que muitos dos alimentos

que teoricamente ficariam somente na memória e com o gostinho guardado no fundo das papilas gustativas

voltam às prateleiras e dispensas de nossas casas, mas será que sabem quem está por trás de tudo isso? Quem

tem a enorme responsabilidade de pesquisar, comandar e dar essa permissão? Como é o processo de revisão e autorização? seu makom foi atrás do responsável pelo

projeto e trouxe para você querido leitor, que quer saber um pouco mais, a resposta a todas essas perguntas...

Ezra Dayan,convidado pelo Rav Shmuel Havlin para dirigir o Beit Din Kashrut, (tribunal rabínico que trata dos assuntosda kashrut), tirou semichá em Israel e se especializou em assuntos relaciona-dos à kashrut. Antes de vir ao Brasil, participou de um curso, em Rechovot, ministrado e orientado pelo rabino

Avraham Rubin, grande autoridade em kashrut de Israel, do qual recebeu bastan-te inspiração. Para se aprofundar nesses assuntos, continuou focando seus estudos nas halachot (leis judaicas) de kashrut e começou a dar shiurim sobre o assunto. Já no Brasil, ao mesmo tempo em que prepa-rava e compilava o material para lançar seu

Quem está por trás das cortinas

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Personalidades • Seu Makom • 47

livro "Casher na Prática" (que futuramen-te deu origem ao "Casher na Teoria") começou a se interessar em trabalhar no projeto BDK, por estar ligado a tudo que sempre estudou e por se tratar de um desafio pessoal. Hoje, divide seu precio-so tempo entre a entidade, as aulas que dá no colel do Rav Havlin e sua família.

Além de avaliar fábricas novas e acompa-nhar o trabalho dos mashguichim (super-visores) que o ajudam nas pesquisas e na manutenção das fábricas já aprovadas, Ezra representa o BDK em diversas reuniões e situações, que envolvem desde apresen-tações do projeto aos patrocinadores, até responder dúvidas de consumidores.

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Ezra Dayan

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48 • Seu Makom • Personalidades

O Beit Din Kashrut, mais conhecido como BDK, foi criado em 2004 por um grupo de empresários e rabinos que não se conformavam com a escassez de variedade e oferta de

Ao falar de público alvo, o diretor comentou que o projeto não é voltado para nenhuma parcela da comunidade judaica em especial, mas quer atender todo mundo. O que existe dentro da

A principal função do BDK é determinar se certo alimento é ou não kasher, ou seja, se o produto é apropriado para o consumo do judeu. De modo geral, para ser kasher, os ingredientes, o processo de manufatura e os equipamentos com os quais são feitos os produtos devem estar de acordo com as halachot. Em al-guns casos específicos, outros detalhes devem ser verificados. A verificação dos alimentos é feita através de visitas a fábricas onde são analisados os processos de feitio dos alimentos ou produtos desenvolvidos por determinado lugar. Após avaliar o processo, aprova-se ou não o local e a

produtos kasher no mercado. Para viabilizar e dar credibilidade à orga-nização, os empresários convidaram o Rav Havlin para liderar um projeto que superaria todas as expectativas.

classificação de kasher dada pelo BDK é uma subdivisão que separa os pro-dutos como pertencentes à lista verde, voltada para o público mais exigente, ou à lista amarela, para os "iniciantes”.

produção. Ezra conta que a parte mais difícil é convencer a fábrica a deixar o BDK visitar e fazer a inspeção. Uma vez dentro, torna-se mais fácil, mas continua sendo trabalhoso, pois às vezes as fábricas são distantes, fator que obriga os mashguichim a dormirem fora de casa. Nessas visitas, o BDK avalia todos os ingredientes utilizados em cada produto. Às vezes, no processo de ava-liação do conteúdo do produto, surgem dúvidas sobre a origem dos ingredientes e para saná-las torna-se necessário que os mashguichim visitem os fornecedores de matéria prima e assim se certifiquem que o produto pode ser consumido.

o que é o BDK?

para quem?

o que faz o BDK?

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Personalidades • Seu Makom • 49

A diferença da lista verde (padrão mehadrin) para a lista amarela é a hashgachá. Estar na lista verde signifi-ca que, desde a mistura dos ingredien-tes até a embalagem do produto não contradiz, nem desrespeita nenhuma lei de kashrut. Estar na lista amarela quer dizer que, o produto não foi elaborado necessariamente como de-sejado pelas leis judaicas mas, depois

Quase todo judeu tem atualmente acesso à kashrut. Seja em facilidade de encontrar, sabor, qualidade, preço, etc. Pode-se dizer que o BDK trouxe a demo-cratização da kashrut e facilitou o consu-mo de produtos kasher, pois ao autorizar produtos nacionais e que são vendidos no supermercado comum, permitiu que mui-ta gente tivesse acesso a eles e quisesse consumi-los. Desta forma, não mudaria sua alimentação ou precisaria pagar a mais por certo produto, simplesmente comeria sem peso na consciência.

Sobre os planos futuros, Ezra declara que as metas são alcançar cada vez o maior número de fábricas, empre-gar mais pessoas para trabalhar e conseguir mais verba para investir no projeto. Fazer lotes acompanhados para o público mehadrin, divulgar mais o projeto, alcançar os judeus que ainda

de feito, ele é kasher. Esta lista foi destinada a ajudar aos judeus afasta-dos a se aproximarem da kashrut, pois dá mais opções de alimentos. Existem ainda os casos onde esses pro-dutos são bem feitos mas possuem alguma leniência. Exemplos clássicos de lista amarela são: leite chalav stam, pat palter, bitul b-60, corante carmin de cochonilha.

“Até o momento, o projeto superou to-das as expectativas. Por outro lado, ainda existem muitas coisas a serem feitas. Existem muitos projetos na gaveta que com o tempo serão viabilizados e postos em prática”, ressalta Ezra com um tom de satisfação. O feedback é muito positivo, além do aumento de pessoas que con-somem produtos kasher, o BDK é muito bem quisto, pois está ajudando muita gente. Mesmo assim existem ideias de fazer uma campanha para atingir as pes-soas que ainda não comem kasher.

não comem kasher e desenvolver as partes de pesquisas nos diversos assuntos de kashrut. Ao falar sobre medos, Ezra revela que a mão-de-obra qualificada, responsável e dedicada como a que trabalha hoje, não é fácil de conseguir e que por isso teme que no futuro falte.

Lista verde e lista amarela

Democratização da Kashrut

o que ainda está por vir

Por Tais Gaon

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Confira por onde o nosso pessoal andou nas férias e os eventos que fizeram o ano começar com o pé direito...

Nossa Congregação de férias

50 • Seu Makom • Nossa Congregração

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Nossa Congregração • Seu Makom • 51

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52 • Seu Makom • Nossa Comunidade

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Farta Seudat Purim, alegria, músicas, brincadeiras e muitas surpresas...

QUANDO? Domingo, dia 20 de marçoONDE? Monte Sinai

QUE HORAS? As 15:00 horas

VENHA SE DIVERTIR CoNOSCO!

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54 • Seu Makom • Nossa Comunidade

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13

1415 16

1- Aula da Rabanit Simcha Azulay, proferida na terça feira, dia 15/02,

sobre Comunicação

2- Rabino Shlomo, frequentador Beny Cohen e seus filhos se

encontram em Israel

3- Grupo da Shaarei Bina Experience 2011 no dia da chegada a Israel-Tel Aviv

4- Pizzada para Mulheres que aconteceu em Chol Hamoed Sucot de 2010

5- Grupo do Taglit do dia 30 de janeiro no Muro das Lamentações

6- Primeiro almoço do ano do Lunch and Lurn do ano, um encontro muito

agradável que mata a fome física e a espiritual

7- Danielle Schwartzman (esquerda) e Nathalie Fligelman Kanas (direita)

no churrasco de reencontro que foi realizado em Cotia, na casa do

rabino Shlomo que acompanhou o grupo)

8- Pizzada para Mulheres que aconteceu em Chol Hamoed Sucot de 2010

9-  Pessoal do Taglit reunido aproveitando o churrasco de reencontro que

foi realizado em Cotia, na casa do rabino Shlomo que acompanhou o grupo

10- Grupo do Taglit do dia 18 de Janeiro reunido no Muro das Lamentações,

dando a largada na louca viagem que os esperava.

11- Grupo do Taglit do dia 30 de janeiro

12- Frequentadores da Kehilá cumprimentando o rabino após a cerimônia de Havdalá

13- Grupo do Taglit doa dia 25 de janeiro reunido

14-Mulheres participando da cerimônia de Havdalá que contou com a

presença do Gran Rabino de Israel, Bakshi Doron, que passou o Shabat

do dia 26 de fevereiro na nossa congregação

15- Rabino Bakshi Doron, Lazaro Kattan, Rabino Azulay, Rabino Shlomo 

e Rabino Dany Roitman

16- Congregação participando da especial cerimônia de Havdalá

LEGENDAS

Nossa Comunidade • Seu Makom • 55

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56 • Seu Makom • Curiosidades

O grande mistério da MaçonariaPor séculos as sociedades secretas foram alvo de perseguições, mitos e desmistificações. Pertencer a elas outorgava e ainda outorga as pessoas certo padrão de status e um sentimento de inclusão e importância. todas elas surgiram com um propósito e baseiam-se em uma ideologia. Algumas se esvaeceram junto aos impérios antigos ou com a evolução das civilizações e outras continuam até hoje. entre as que ainda “vivem”, existe uma que se destaca, a tão misteriosa maçonaria...

Imagine que você está numa sala com pouca luz e sem janelas. Duas colunas marcam a entrada e o chão

quadriculado em preto e branco lem-bra um imenso tabuleiro de xadrez. Os vários palcos e cadeiras espalhados pelo lugar te fazem pensar que o espaço é usado para algum tipo de cerimônia ou encenação. A grande mesa na fren-te com suas três cadeiras deixa a im-pressão que provavelmente os líderes, juízes ou chefes ali se sentam. As pa-redes repletas de símbolos expressivos e diferentes só aumentam sua curiosi-dade sobre a o significado do recinto, enquanto o caixão no fundo gera no seu coração uma sensação um tanto quanto macabra. Seria o lugar o ponto de en-contro de alguma religião? Ou quem sabe de uma seita secreta com costu-mes bizarros?

De repente um espetáculo inusitado tem inicio. Entram diversos homens vestidos com roupas medievais que provavelmente há muitos séculos es-tavam na gaveta, assim como barbas brancas postiças que lembram as de papai Noel. Uma estranha encenação teatral começa. Um dos homens tem o rosto vendado, e outros três insistem para que este passe os segredos, sendo sua negativa bastante veemente. Vendo que suas investidas não terão sucesso, os três bandidos o matam, deixando seu corpo estendido no chão. Você já não sabe mais o que pensar quando alguém te explica: essa é uma loja maçônica e você acabou de presenciar a cerimônia de passagem de um membro ao 3º grau da ordem. Esta cena já vem sendo executada há apro-ximadamente 300 anos e os homens de

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Curiosidades • Seu Makom • 57

barba não são atores, e sim empresários e profissionais liberais, verdadeiros ma-çons do século XXI. O espetáculo no qual um homem é assassinado é uma referencia a Hiram Abiff, grande fon-te de inspiração e exemplar modelo de conduta para todos os presentes. Hiram era um grande arquiteto que possuía em seu poder inúmeros segre-dos da arte da engenharia, sendo parte de um seleto grupo que fundou uma ordem, na qual se jurava manter si-gilo sobre toda e qualquer técnica de construção e arquitetura, assim como sobre os processos de trabalho em pe-dra e madeira. A discrição deveria ser mantida mesmo com o pesado custo de ter que entregar a própria vida, e Hiram incorporou esse espírito de maneira completa. Três de seus aprendizes, Jubela, Jubelo e Jubelum queriam esse conhecimento desesperadamente e tentaram obtê-lo através de Hiram, percebendo rapida-mente porem que este era irredutível na preservação dos segredos e não os passaria nem sob tortura. Os aprendi-zes decidiram então matar Hiram para evitar que fossem denunciados por tentar roubar as técnicas e efetuaram violentos ataques com os instrumentos de trabalho dos pedreiros, uma vez que estas eram as únicas armas disponíveis no momento. Os instrumentos usados foram a régua, o esquadro e o maço, tendo as três ferramentas contribuído para essa morte e passando a ter sig-nificado especial nos rituais maçonicos.A devoção de Hiram simboliza o espí-rito secreto da maçonaria e a completa entrega de seus membros a seus ritos e preceitos. Assim como Hiram, um

mestre maçom deve dar a vida mas nunca revelar os segredos da ordem para pessoas não iniciadas. Por esse motivo, os templos maçons, ou lojas, nao tem janelas impedindo assim a aproximação de curiosos. Hiram personifica os valores que os maçons almejam atingir em suas vidas até que se tornem mestres. Representa o mito maçónico, o ego que deve ser morto para que o espirito seja livre. No 1º grau, ainda chamado aprendiz, o maçom transpõe os elementos da natureza e faz estágios nas estradas da vida. No 2º, o agora companheiro vai em busca do conhecimento. No 3º grau

"Os instrumentos usados foram a régua, o esquadro e o maço, tendo as três ferramentas contribuído para essa morte e passando a ter significado especial nos rituais maçonicos"

o maçom viaja no tempo para desven-dar este terrível crime no qual Hiram Abiff foi morto. O ritual dramatico de passagem ao 3º grau, no qual o membro adquire agora o título de mestre, representa o contro-le sobre o ego e seu símbolo é o caixão, que seria uma alusão ao antigo homem que morreu na cerimônia de passagem. Embora já seja chamado de mestre, o o maçom ainda tem uma longa jornada de aprendizado pela frente já que

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58 • Seu Makom • Curiosidades

o último grau da ordem é o 33, onde é fechado o ciclo de estudos e o maçom se torna guardião e condutor da ordem no país onde mora e é entitulado sobe-rano grande inspetor geral.Independente do episódio de Hiram Abiff ter acontecido mesmo ou não, o que pode ser afirmado com total cer-teza é que a maçonaria teve ação ativa nos rumos da historia da humanidade e participação fundamental em diversos governos, instituições e revoluções. O ideal da revolução francesa por exem-plo “liberdade, igualdade e frater-nidade” tem origem na grande loja maçonica de Marselha, onde inclusive a revolta foi projetada. Alem disso, o hino da França até os dias de hoje é “a marselhesa”, hino este que até a revo-lução era entoado na loja marselhense.De maneira similar, a história america-na está repleta de personagens maçons, como por exemplo Benjamin Franklin e George Washington, dois grandes expoentes do processo de independên-cia americana. Até mesmo a nota de um dólar possui símbolos maçônicos, como o olho e a pirâmide luminosa e especula-se que a cidade de Washing-ton esteja repleta de alusões às suas tradições em sua arquitetura. Conta-se que até mesmo o Imperador D. Pedro I ingressou na ordem, abandonando-a no entanto em algumas semanas. O motivo seria a sensação por parte de sua alteza que não era respeitado por seus membros na medida que gostaria, uma vez que um dos ideais maçônicos mais importantes é a igualdade, inde-pendente de você ser rei ou camponês. Quando falamos que a maçonaria tem participação na história, você pode ter

certeza que isso não se resume a dois ou três séculos. A data provável de seu nascimento é entre os anos de 1200 e 1300 na região da Europa. Nessa épo-ca, a humanidade vivia no total obs-curantismo, não havendo nenhuma forma de ciência ou pesquisas e o co-nhecimento era condenado e persegui-do pelos governos. Imensas catedrais de pedra eram erguidas pelo continen-te sendo a arte da construção porem restrita a um seleto grupo de pessoas, os pedreiros ou maçons. Esse conhecimento valia mais que o ouro e a prata e os maçons eram uma espécie de elite intelectual e econô-mica. Como consequencia disso, foi criada uma associação que exigia de seus membros um juramento no qual cada integrante se comprometia a manter todo o conhecimento usado nas obras em segredo, sob risco de ser morto. Dessa forma, os maçons puderam manter sua riqueza e poder durante muito tempo, e eram como nobres que passam seus titulos de pai para filho. Com o tempo e o desenvolvimento científico no continente europeu, as técnicas de construção se tornaram mais e mais conhecidas, e já nao havia sentido em cultivar segredos que ha-viam se tornado de conhecimento pú-blico. Assim, por volta do ano 1500 a maçonaria mudou completamente seus rumos e passou a ser um grupo de estudos sobre moral, filosofia e al-quimia. Os antigos símbolos dos pe-dreiros porém foram mantidos assim como a aura de mistério e segredos, recebendo porém uma nova roupagem e simbologia.

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Curiosidades • Seu Makom • 59

O ESQUADrO - Companheiro por excelência do compasso, o esqua-dro permite traçar o ângulo reto e por tanto desenhar e esboçar todas as formas. Assim, é o símbolo da retidão. É a jóia do Venerável mestre,

o chefe da loja, pois este deve ser o mais justo e equitativo dos maçons. O esquadro, ao contrário do Compas-so, representa a matéria. Por este motivo isso o aprendiz se apresenta normalmente sobre o compasso.

O COMPASSO – Representa a espiritualidade e o conhecimento humano. No 1º grau, quando ainda se é um aprendiz, ele está embai-xo do esquadro indicando que a matéria predomina ainda sobre o espírito. A abertura indica o nível do

conhecimento humano, sendo este limitado ao máximo de 90º, ou seja, ainda reduzido. Pode ser entendido também como símbolo da justiça com a qual devem ser medidos os atos humanos. Simboliza a exatidão da pesquisa.

A TrOLHA – Chamada também de colher de pedreiro. Trata-se de uma espécie de pá achatada com a qual os pedreiros assentam e alisam a argamassa. Sendo um instrumento que não é usado para quebrar e sim para acrescentar, deve ser visto como um símbolo da tolerância com que

o maçom deve aceitar as possíveis falhas e defeitos dos demais irmãos. É também o símbolo do amor que ci-menta toda a maçonaria. O uso dessa ferramenta é alcançado quando as di-ferenças são perdoadas, desculpadas e esquecidas, assim como as falhas da argamassa ficaram para trás.

O AVENTAL - É o símbolo do traba-lho e a parte principal do vestuário maçônico, sendo um dos símbolos mais importantes da ordem. Tem a forma de um retângulo com um triângulo dentro. Nos dois primei-

ros graus são simples e brancos sem enfeites ou adornos. Os aven-tais dos demais níveis têm cores e desenhos variados conforme os graus, sendo o fundo no entanto sempre branco.

A PEDrA BrUTA - Simboliza a inteligência do aprendiz maçom que ainda não foi trabalhada já que este apenas inicia seu caminho nos mistérios da maçonaria. As arestas desta pedra bruta cabe ao apren-diz aparar através de disciplina e

educação assim como através da superação de suas paixões e prática do bem. Assim sua tarefa principal consiste em trabalhar e estudar para adquirir o conhecimento do simbo-lismo do seu grau e a sua interpre-tação filosófica.

Estes são os símbolos maçônicos:

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60 • Seu Makom • Curiosidades

O MALHETE - É o instrumento de trabalho do Venerável Mestre e dos Vigilantes, que na hierarquia maçônica estão imediatamen-te abaixo deste ajudando-o na direção da loja. Nada mais é que uma espécie de malho e como tal é símbolo da vontade, da força, do

trabalho e da determinação. Um aspecto fundamental na utiliza-ção moral deste instrumento é o discernimento e lógica que devem conduzir a vontade, uma vez que utilizado apenas com força, passará a ser um instrumento de destruição.

A PEDrA CÚBICA - Havendo o aprendiz trabalhado na pedra bruta com o malho e o cinzel, transformando-a num cubo im-perfeito, cabe ao companheiro de grau dois polir este cubo com o auxílio do esquadro e de alguns outros instrumentos. Neste mo-mento, o cubo que ainda estava inacabado se torna uma verdadei-

ra pedra cúbica. Similarmente, o companheiro deve disciplinar suas ações através do conhecimento adquirido realizando contornos e nuances delicadas em sua visão de mundo. A partir de então seu eu se torna um cubo perfeito, a pedra polida que assim estará apta a ser utilizada na construção do grande edifício da humanidade.

Os símbolos maçônicos são muitos em número e variados, mas se você pergun-tar a um membro o que se faz numa loja ele te dirá que as reuniões ensinam ao homem como fazer o bem, além do aumento do conhecimento e o conse-quente aprimoramento das virtudes e opiniões. Os lemas principais da vida de um maçom são amor fraternal, verdade e assistência. Sendo assim, quando os maçons se encontram é permitido fa-lar sobre qualquer tema exceto religião e política, uma vez que esses assuntos dividem as pessoas e os corações.

"Quando falamos que a maçonaria tem participação

na história, você pode ter certeza que isso nao se resume a dois ou três séculos. A data

provável de seu nascimento é entre os anos de 1200 e 1300

na região da Europa. "

O MALHO E O CINZEL - Estas duas

ferramentas servem para aparar a

pedra bruta. A primeira representa

nossas resoluções espirituais: é o

cinzel de aço, que se aplica sobre

a pedra com a mão esquerda e

corresponde à receptividade, e ao

discernimento. A segunda é a vonta-

de e a ação e é vibrado com a mão

direita que é o lado ativo. Represen-

ta a determinação moral dentro da

realização prática.

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06,13,20,27 de Maio e 02 de Junho

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Nas reuniões, se discutem os rumos que o mundo deve tomar, e como o caminho da luz e da racionalidade pode conduzir a humanidade à per-feição. Isso era algo extremamente atual e inovador até o século XVIII,

maçonaria, fazendo com que dogmas seculares sejam revistos; recentemente no Canadá algumas lojas passaram a aceitar mulheres em seus quadros com igualdade de direitos e deveres.A maçonaria possui hoje cerca de cinco milhões de membros que se espalham por todos os continentes. A sede está em Londres e é lá que são formuladas as diretrizes de funcionamento para as lojas do mundo todo, apesar de não ha-ver nenhuma autoridade central como papa, bispo ou superior muçulmano. É possível encontrar a maçonaria em dezenas de cidades do Brasil, havendo inclusive lojas exclusivamente para ju-deus nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo. Quanto aos segredos maçônicos, a resposta é bastante decepcionante: não há segredo nenhum. O filósofo inglês John Locke explica que o mito do se-gredo maçom foi feito para criar uma aura de mistério e atrair pessoas para a ordem, e na verdade se resume a alguns sinais de reconhecimento e codificação nos textos da ordem.Quando dois maçons se encontram e apertam as mãos, o indicador deve tocar o punho de quem esta sendo cumprimentado. Imediatamente, os dois homens saberão que o outro é um companheiro e irmão. De forma simi-lar o abraço, que aliás esta presente em vários rituais, consiste em colocar um braço por cima do outro, cruzá-los e bater 3 vezes nas costas do irmão. Já nos textos, são usados diversos tipos de abreviações, e ao invés de se escre-ver loja, se escreve loj, sem a letra “a”. Outra forma de codificação é escrever as palavras ao contrario: ao invés de

"... o mito do segredo maçom foi feito para criar uma aura de mistério e atrair pessoas para a ordem..."

quando os reis dominavam o planeta e a igreja impedia qualquer enfoque mais racional sobre a realidade e o ser humano. Nesse contexto, a maçonaria era tremendamente ousada e revolu-cionária, uma vez que propunha uma nova ordem mundial baseada em seus valores(o que terminou realmente por acontecer na revolução francesa).No mundo atual contudo esse tipo de discussão já é bastante ultrapassada, uma vez que forças como nobreza e clero já não atuam no cenário polí-tico e cultural das sociedades. Dessa forma, muitos historiadores explicam que a maçonaria dos tempos atuais é constituída por grupos de senhores de idade avançada que se reúnem para buscar o sentido da vida. Ateus não são aceitos na ordem assim como pessoas com antecedentes cri-minais ou deficiência física. Apesar de mulheres tradicionalmente também não poderem se tornar integrantes, os ventos da modernidade já sopram na

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Curiosidades • Seu Makom • 63

escrever maçom se escreve moçam. Muito pouco para um segredo secular e tão badalado.Você deve estar se perguntando :tudo muito bonito, mas o que isso tem a ver com o judaísmo? Todos sabem que o judaísmo e a ma-çonaria são coisas diferentes. Contudo, o que poucos entendem é que todas es-sas diferenças são oriundas do mesmo ponto: A Torá foi entregue por D´us, ao contrário dos outros sistemas religiosos e de aprimoramento pessoal, que foram feitos pelo homem.Ela nos ensina que um judeu deve cumprir 248 preceitos positivos e 365 negativos, totalizando 613 mitsvot. En-tre os positivos estão respeitar os pais, colocar Tefilin, rezar a D-us todos os dias, fixar a mezuzá na porta de casa, amar ao próximo com a ti mesmo, em-prestar dinheiro Shabat, comer alimen-tos proibidos, falar palavras negativas sobre outra pessoa, vingar-se, guardar rancor e relações sexuais ilícitas.Cada um dos 613 preceitos do judaís-mo é relativo a um aspecto da perfeição e ao executá-lo de maneira apropriada uma parte da personalidade do judeu

respectiva ao cumprimento daquele preceito recebe luz e santidade. Assim, ao colocar o Tefilin da cabeça é gerada uma elevação espiritual no cérebro do ser humano que propor-cionará a ele um maior entendimento dos caminhos de D-us e da Torá. Si-milarmente ao comer kasher, o judeu mantém os canais espirituais que o co-nectam aos mundos espirituais limpos e puros, possibilitando que a santida-de possa preencher sua vida, o que não acontece com quem não come kasher, já que tal alimento bloqueia essa co-muicação e impossibilita que a santi-dade chegue até ele.Ao cumprir todas as mitsvot, cada tra-ço de caráter receberá a iluminação respectiva a cada mitsvá e a pessoa estará apta a se conectar com D-us de forma apropriada, já que possui uma estrutura espiritual mais desenvolvi-da. Desta forma, o cumprimnto das 613 mitsvot é a única forma de atin-gir essa completude, uma vez que so-mente o próprio Criador pode expli-car qual sistema é realmente eficiente para um aprimoramento verdadeiro, completo e profundo.

"Ao cumprir todas as mitsvot, cada traço de caráter receberá a iluminação respectiva a cada mitsvá e a pessoa estará apta a se conectar com D-us de forma apropriada"

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64 • Seu Makom • Curiosidades

"O próprio Criador do mundo explica que no

momento que você não faz trabalhos proibidos

no Shabat é como se um imenso gerador de

santidade e luz fosse ligado em sua alma, sendo

os efeitos espirituais incomensuráveis. "

Um homem pode chegar a enten-der que a vingança é algo reprovável e negativo, mas a inteligência huma-na nunca poderia atingir sozinha que o Shabat tem um efeito fortíssimo na alma do judeu e que pode causar um despetar espiritual e um sentido de co-nexão com D-us que nem mil horas de palestras e estudos causarão. O próprio Criador do mundo explica que no mo-mento que você não faz trabalhos proi-bidos no Shabat é como se um imenso gerador de santidade e luz fosse ligado em sua alma, sendo os efeitos espiritu-ais incomensuráveis. Para exemplificar a idéia imagine uma grande rede de supermercados, com de-zenas de filiais por todo o país. De repen-te todos se surpreendem ao ouvir que a empresa está com sérios problemas e as dívidas ja alcançam a casa dos milhões. Um humilde funcionário de uma das fi-liais do interior pensa que com sua ajuda a empresa seguramente sairá do grande buraco em que se meteu. Sabendo que todos os dias vários to-mates terminam caindo no chão e se estragando, o homem decide que irá cuidá-los com especial cuidado, e que

daqui por diante nenhum tomate se perderá. Com essa economia segura-mente a firma se levantará de novo e voltará a ser forte como antes.Obviamente que esse trabalhador apesar de bem intencionado é ig-norante, já que uma quantia desse porte não será paga com a economia de alguns tomates. Para equacionar um problema dessa envergadura são necessárias pesadas negociações com fornecedores, cálculo de dívidas e cuidadoso planejamento.Um judeu que busca elevação espiritu-al por outro caminho que não o de suas proprias tradições se parece com esse humilde funcionário, querendo chegar a perfeição economizando alguns to-mates ao invés de seguir o perfeito e completo plano de evolução elaborado pelo próprio Criador do mundo: o ca-minho da Torá e das Mitsvot. Somente D-us, que visualiza todos os aspectos e leva em conta todas as ques-tões, pode afirmar qual a forma correta para se viver. O que com certeza vai muito alem de alguns tomates.

Por Yeoshua Weisz

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Almoço com Rabino Azulay e Rabino Yeoshua

Page 68: Revista Seu Makom - Edição 8

Judaísmo VsVegetarianismo

Cada dia que passa a dieta vegetariana ganha mais e mais fãs.. Alguns escolhem se tornar

vegetarianos por razões estéticas, como o fato de não apreciar o

sabor da carne ou pensar que uma dieta baseada em carne é menos

saudável. outros, escolhem tirá-la do cardápio por achar moralmente errado e sofrido matar um animal

para se alimentar.

66 • Seu Makom • Curiosidades

Page 69: Revista Seu Makom - Edição 8

Curiosidades • Seu Makom • 67

o que o judaísmo fala sobre isso?O judaísmo é conhecido como uma religião que aprecia muito a comi-da e, de acordo com Maimônides, não somente apóia o consumo, como nos ordena comer carne em determi-nadas datas festivas e em Shabat para engrandecer o dia, pois esse alimento sempre foi sinônimo de fartura, prazer e satisfação (na prática, isso não se apli-ca àquelas pessoas que não gostam de comer carne). Além de ser uma mits-vá, é indiscutível que ao comer uma quantidade de carne o homem sente-se muito mais satisfeito do que quando se alimenta da mesma quantidade de uma comida láctea. Por outro lado, existem algumas mits-vót que protegem os animais e que nos levam a pensar que matar um animal é errado. Afinal, o judaísmo apoia ou não o vegetarianismo?Idealmente não deveria haver barreiras entre a nossa existência física e espiri-tual. A vida deveria ser uma expressão contínua de conexão com o Mestre do Universo, o Autor de nossa existência. Do ponto de vista judaico, atividades que são consideradas mundanas, como comer, dormir, trabalhar e se relacionar possuem suma importância no serviço divino tanto quanto rezar, estudar, fa-zer caridade e cumprir a Torá.O ato de comer não é uma indulgên-cia, nem somente um meio necessário para manter o nosso bem estar físico. Pode e deve ser uma escada para o céu - um meio de trazer santidade em nos-sas vidas.O Talmud fala que a primeira pergun-ta que nos é feita quando chegamos ao céu é:

“Você experimentou cada fruto que eu coloquei na terra?”. Nós fomos convida-dos a apreciar todos os prazeres da vida.

Precedentes históricosHistoricamente, Adão e Eva eram ve-getarianos, como está escrito: “vegetais e frutas serão seu alimento” (Genesis 1:29). Após a geração de Noé, que foi considerada a pior de todas, pois co-metia os piores crimes, e por isso D-us quis tirá-los do mundo, Hashem dá uma permissão aos humanos para co-mer carne. Por que a mudança?Os comentaristas explicam que antes do Dilúvio, o homem estava acima da cadeia alimentar e era responsável por cuidar do mundo e de tudo que nele continha. Após esse evento, o homem desceu de nível e se ligou à cadeia ali-mentar, ocupando o topo. A bondade das pessoas falhava na missão de in-fluenciar o mundo animal através das ações. Por isso, o homem teve que co-meçar a comer os animais para desta forma influenciá-los positivamente.Outro ponto que o Rav Avraham Israel Kook , grande sábio que era vegetaria-no, traz em seu livro “Al Harmonia. Tzmechonot veShalom”, de Chagui Londlin, é que em sua natureza o ho-mem tem um instinto de querer ma-tar, tem uma cota de bondade, e que após o Dilúvio, , quando o mundo e a humanidade desceram de nível auto-maticamente, D-us, percebendo isso, concluiu que seria melhor para o “novo homem” que investisse essa cota de bondade com os seres humanos e não com os animais, pois só assim conse-guiriam saciar esse instinto.fo

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68 • Seu Makom • Curiosidades

No geral, o judaísmo permite o con-sumo de carne que venha de espécies permitidas pela Torá (Levítico, capítu-lo 11); que sejam abatidas pelo ritual da shechitá (Deut. 12:21); que tenha os elementos não kasher removidos (san-gue e partes proibidas) (Levítico 3:17; Genesis 32:33); que seja preparada sem adicionar leite (Êxodo 34:26) e que se-jam ditas as bênçãos apropriadas (Deu-teronômio. 8:10).Comendo da maneira certa e com o propósito certo, fala o Talmud, a mesa pode se tornar um altar virtual no ser-viço divino.

Compaixão por animaisAo mesmo tempo em que a Torá defen-de o consumo da carne, ela preza a com-paixão pelos animais. De fato, nossos patriarcas são carinhosamente reconhe-cidos como “os sete pastores”. O Talmud descreve como D-us escolheu Moisés para ser o líder do povo baseado em seu jeito amoroso de cuidar das ovelhas.Aqui apresentamos alguns exemplos da Legislação Judaica relacionados ao tratamento ético dos animais:

1) É proibido causar dor aos animais - tzaar ba’alei chaim. (Talmud - Baba

Metzia 32b, baseado em Êxodo 23:5).

2) O indivíduo é obrigado a acudir um animal que esteja

sofrendo, mesmo que ele pertença ao seu inimigo. (Êxodo 23:5).

3) Se um animal é susten-tado pela pessoa, ela não pode comer antes de ali-

mentar seu animal. (Tal-

mud - Brachot 40a, baseado em Deu-teronômio. 11:15).

4) Fomos ordenados a dar ao ani-mal um dia de descanso no Shabat. (Êxodo 20:10).

5) É proibido usar duas espécies dife-rentes para empurrar a mesma carroça, pois o animal mais fraco será envergo-nhado. (Deut. 22:10).

6) É proibido matar uma vaca e seu be-zerro no mesmo dia. (Levítico 22:28).

7) É proibido cortar e comer um mem-bro de um animal vivo. (Gênesis 9:4)

8) A shechitá (ritual de abate) deve ser feita causando o mínimo de dor para o animal. A lâmina deve ser meticulosa-mente examinada para se assegurar de que a morte seja quase indolor. (“Chi-nuch” 451; “Pri Megadim” – Introdu-ção às leis de shechitá). 9) Caçar animais por esporte ou prazer é visto como um ato abominável pelos nossos sábios. (Talmud - Avoda Zará 18b; “Noda BeYehuda” 2-YD 10). 10) Lidar com a vida de um animal de forma arrogante e sem cuidado é uma ação totalmente antiética do ponto de vista.

uma grande históriaConta-se que, certa vez, num vilarejo europeu, um shochet (abatedor de ani-mais) preparava seus utensílios para o abate e trouxe um pouco de água para aplicar em cima de sua faca. Enquanto se preparava, avistou um velho homem distante, olhando para ele e mexendo a cabeça em sinal de reprovação. O jovem shochet pediu ao velho homem uma explicação. Este lhe explicou que ao vê-lo preparar sua faca, lem-

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70 • Seu Makom • Curiosidades

brou-se que, em sua juventude, observou o santo Rav Israel

Baal Shem Tov (fundador do movimento chassídico) fa-zendo a mesma coisa. Mas,

a diferença era que o Rav não precisou buscar água para afiar a faca, pois as lágrimas fizeram o trabalho.

hierarquia da criaçãoNo entanto, o judaísmo também

defende a ideia de que os animais foram criados para servir a humanida-de, como está escrito: “Deixe os homem dominar os peixes, os pássaros e animais” (Genesis 1:26). Nota-se uma clara hie-rarquia da criação onde o homem se posiciona no topo.Maimônides explica que existem qua-tro níveis na hierarquia da criação, em que cada criatura obtém seu sustento do nível abaixo dela:Nível 1: Domínios - os elementos e seres inanimados: ( terra e minerais) constitui a existência mais baixa e se auto-sustenta.

Nível 2: Tzomeach – vegetação: é ali-mentada pelo nível 1, a terra.

Nível 3: Chaia – o reino animal, que em sua maioria se alimenta de vegetais.

Nível 4: Medaber – seres humanos (lit.: a criação que fala): alimentase de vegetais e animais.

Quando o alimento é consumido, sua identidade é transformada na mesma da pessoa que a consome . O Talmud (Pesachim 59b) considera como mo-ralmente justificado comer animais somente quando estamos envolvidos em atividades sagradas e espirituais. Só então é que o ser humano concre-tiza seu potencial mais elevado. Ao ser consumido, ou usado para realização do Serviço Divino (sacrifícios do Tem-plo), o animal cumpre sua missão e alcança o nível mais alto que poderia!

extremismo verdeOs direitos dos animais podem ser uma faca de dois gumes: enquanto o reino animal deve ser tratado

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com respeito, precisamos reconhecer que não há como igualar as espécies. Entre todos os seres vivos, os humanos são a única criação feita a “imagem de D-us” (Genesis 1:26).Quando são igualados, e a vida animal é considerada tão sagrada quanto a do homem , isto pode desencadear uma filosofia perigosa que preze que matar um animal tem o mesmo valor puniti-vo do que matar um homem, fazendo com que não haja distinção nenhuma entre os dois.O Rav Yosef Albo (sábio da geração no século 14) afirma que esta filosofia igualitária tem suas raízes na passagem bíblica de Caim e Abel. O capitulo 4 descreve como Caim trouxe um sacri-fício feito de grãos, enquanto seu irmão Abel trouxe um sacrifício animal. Rav Albo explica que Caim considerava seres humanos e animais como iguais, por isso sentiu que não tinha direito de matá-los.Caim, em seguida, estendeu essa ló-gica errada: se as pessoas e os animais são intrinsecamente iguais, então

como se permitia tirar a vida de um animal, também se poderia permi-

tir tirar a vida de meus semelhantes. Assim, Caim foi capaz de justificar o assassinato de

seu irmão.Nos tempos modernos, a

extensão radicalizada da fi-losofia de Caim veio durante

os anos 1939 a 1945, quando

os nazistas passaram uma série de leis que protegiam animais, por exemplo, restringindo seu uso em experimentos biomédicos. Por outro lado, matavam milhões de seres humanos, usando judeus, relegando-os à condição de “sub-humanos.”Hoje este vegetarianismo radical é expresso pela organização PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais). Uma das atitudes da or-ganização, é usar o sensacionalismo midiático através de propagandas com frases como “Holocausto em seu prato”, no qual justapõe fotografias de vítimas dos campos de concentra-ção nazistas com fotos de galinhas granjeiras, estabelecendo assim uma equivalência moral grave.Rav Moshe Chaim Lutzatto, o maior cabalista do século 18, explica que to-dos os seres vivos têm uma alma. Po-rém, nem todas as almas foram criadas iguais. Os animais possuem uma alma que lhes dá a vida e os instintos de so-brevivência, procriação, medo, etc. So-mente os seres humanos, que possuem uma alma divina, têm a habilidade de criar uma relação transcendental com D-us. Somente os homens têm a ha-bilidade de escolher os “prazeres da alma”, como ajudar o pobre ou guar-dar um pedaço da porção para o outro. Você nunca verá um cachorro faminto falar para seus amigos: “Amigos cães, não vamos brigar por isso. Guardemos um pouco de comida para os cachorros que não estão aqui”.Vegetarianismo por razões estéti-cas, de desejo ou de saúde é aceitá-vel. Na verdade, o mandato da Torá para “guardar cuidadosamente a si

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Curiosidades • Seu Makom • 73

mesmo” (Deuteronômio 4:15) exige que prestemos atenção às questões de saúde relacionadas a uma dieta base-ada no consumo de carne excessivo. Alguns pontos a serem considerados incluem o aumento contemporâneo de doenças em animais criados pelas condições de exploração da fábrica, e a administração de hormônios de crescimento, antibióticos e outros medicamentos destinados a animais que podem causar riscos à saúde dos seres humanos.O grande sábio do século 20 , rabino Moshe Feinstein, proibiu a criação de gado em condições difíceis e dolorosas, e a alimentação animal com produtos químicos ao invés de comida, uma vez que este iria privá-los do prazer de co-mer. (“Igros Moshe” 4:92 EH).Rabino Benzion de Bobov estava passeando com um discípulo, pro-fundamente envolvido na conversa erudita. Ao passarem perto de uma árvore, inconscientemente o alu-no tirou uma folha e a despedaçou inteira. De repente, o Rebe parou abruptamente. O aluno, assustado, perguntou o que estava errado. Em resposta, o rabino perguntou por que ele tinha feito aquilo.O discípulo, surpreso, não conse-guia pensar em nenhuma resposta. O rabino explicou que toda a natu-reza - pássaros, árvores, mesmo cada fio de grama - tudo que D-us criou neste mundo, canta a sua própria me-lodia de louvor ao Criador. Eles são necessários para o alimento e susten-to, mas puxar a folha de uma árvore sem nenhum propósito silencia essa melodia, dando a ela nenhum recurso,

por assim dizer, para se juntar a qualquer outro instrumento na sinfonia da natureza.O que quer dizer tratar bem os animais? O que ganhamos com isso?Além de ser moralmen-te correto, os animais pró-prios nos ensinam a sermos mais piedosos. Por exemplo, a mitsvá de shaatnez, na qual é proi-bido misturar lã e linho numa mesma peça de roupa, nos ensina exatamen-te isso. A lã é retirada da ovelha, que sem ela sofre e fica com frio, enquan-to o linho, que vem do campo, ao ser descascado não sente frio. Ao colocar as duas matérias primas juntas elas perderiam seu valor porque a ovelha sofreu e o planta não, desmerecendo o sofrimento da ovelha.

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74 • Seu Makom • Matéria

Época de mashiachO Rav Kook afirma que na época da redenção, os homens conseguirão alcan-çar o nível espiritual e ideal que Adão e Eva tinham antes de pecar e voltarão a ser vegetarianos. Nessa era, enxergarão de forma clara os conceitos da Torá e os animais farão parte da ética e da retidão do homem. Muitas vezes não enten-demos com clareza o motivo de certas mitsvót, mesmo assim fazemos porque nos foram ordenados; a medida em que avançamos nos estudos e subimos de nível essas dúvidas serão esclarecidas.

Aos poucos o ser humano cumprirá to-das as mitsvót para com seu semelhante, como está escrito: “Ani ieirecha kodmi” – quem está próximo de você merece atenção antes, isso significa que o indi-víduo deve primeiro se preocupar com os homens, e, quando estiver cumprin-do todos os mandamentos relacionados a nossos semelhantes (bondade básica), poderá se ocupar dos animais (bondade extrema).

Fonte: Aish.comPor Tais Gaon

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76 • Seu Makom • Programação

Domingo pAiS LEgACy 1 LEgACy 2

10:00-11:00 R. Yoshua R. Dany R. Wainman

11:00-12:00 Prof. Faldini R. Wainman R. Dany

SEgunDA intEnSivE tEEn ConnECtion DiSCovEry

18:00 – 19:00R. Wainman /

Yaacov G.----- ----- -----

19:00 - 20:00 R. Wainman R. Dany R. Shlomo R. Shlomo

20:00 - 21:00 ----- Paula Yaacov G. Ivrit

tErçA intEnSivE miDot guEmArA 1

18:00 -19:00R. Wainman /

Yaacov G. -----

19:00 - 20:00 R. Wainman R. Shlomo

20:00 - 21:00 Yaacov G. Efrat W. R. Shlomo

21:00 - 22:00 ----- -----

programação - 2011

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Programação • Seu Makom • 77

QuArtA intEnSivE DiSCovEry ConnECtion pAiS

18:00-19:00R. Wainman / Yaacov G.

----- ----- -----

19:00 - 20:00 Yaacov G. R. ShlomoMariana / R.

WainmanR. Tawil

20:00 - 21:00 ----- R. DanyR. Shlomo / Yaacov G.

R. Wainman

QuArtA tEEn LEgACy 1 LEgACy 2

18:00 - 19:00 ----- ----- ----------

19:00 - 20:00 R. Dany R. Wainman Mariana

20:00 - 21:00 Mariana Yaacov G. R. Shlomo

* continuação da quarta.

QuintA intEnSivE miDot

18:00 - 19:00 R. Wainman / Jequiel ------

19:00 - 20:00 Yaacov G. R. Dany

20:00 - 21:00 R. Dany Efrat W.

21:00 - 22:00 ------ ------

programação - 2011

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78 • Seu Makom

E a luz do judaísmo iluminará os outros povos

mais um semestre teve início e com ele, a volta às aulas. As faculdades estão a todo vapor, lotando os jovens de trabalhos, horas de estágio a serem cumpridas e muitas festas. situação que os envolve e faz com que, muitas

vezes, esqueçam-se do judaísmo, que só existe pelo mérito daqueles que ainda hoje seguem a torá e continuam

cumprindo a tradição judaica. Para exemplificar melhor o que quero dizer, cito a seguir duas histórias verídicas

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Seu Makom • 79

Em 1959 Tenzin Gyatso, mais conhecido como Dalai Lama, foi obrigado a abandonar o

Tibete, devido às manifestações de resistência à invasão da República Po-pular da China, que ocorreu em março daquele ano. Após 30 anos de exílio em Dharamsala, Tenzin Gyatso bus-cava uma solução para o seu grande dilema: como seria possível manter a sua religião viva ao longo do tempo, entre os mais dos 120 mil tibetanos refugiados? Essa resposta ele sabia muito bem que só a encontraria no povo judeu, nação que há quase 3 mil anos peregrina pelo mundo, e que apesar das constantes perseguições ainda é o único povo que

se mantém firme e forte ligado às suas leis, tradições e história.Posteriormente, num encontro com quatro líderes judeus em Nova Jer-sey – EUA, no ano de 1989 (New York Times-25/9/1989), após apre-ciar a inteligência dos palestrantes e comprovar sua teoria a respeito do povo judeu, Dalai Lama concluiu: “Eu quero aprender com os judeus a “técnica secreta” da sobrevivência judaica.”Outro fato a respeito desse mesmo ponto ocorreu com o poeta judeu ale-mão Heinrich Heine, quando foi ques-tionado pelos seus colegas de faculdade a respeito da eternidade do povo judeu: “Como esse “povinho” que não têm uma terra, nem mesmo compartilha de uma identidade nacional pode conti-nuar existindo?”Apesar de ser um judeu assimilado, soube responder à altura. “Vocês estão muito enganados, pois os judeus pos-suem uma pátria, uma pátria móvel, que se chama Torá”.Caro leitor, participe das aulas, shiu-rim; conecte-se com a Sabedoria Divina através dos estudos da Torá e assegure assim o futuro do nosso povo.

Rabino David Azulayfoto

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