revista boca de confissão

27
REVISTA BOCA DE REVISTA BOCA DE CONFISSÃO CONFISSÃO A PASSAGEM DA RAZÃO Uma ideia geral a respeito do que é o iluminismo e onde se desenvolve, ou seja, seu contexto histórico e quem são seus protagonistas, acentuando os principais problemas filosóficos estudados por eles. COMO ASSIM “A UTOPIA SUFOCA A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE”? A Utopia Sufoca a Educação de Qualidade”. Num primeiro momento, o título do artigo do economista Gustavo Ioschpe, publicado na revista Veja em 11 de abril de 2012, deixa-nos temerosos acerca do seu conteúdo. EVOLUÇÃO SEM REVOLUÇÃO: A Filosofia positivista no Brasil do século XIX JEAN-PAUL SARTRE E O EXISTENCIALISMO ATEU Estamos sós, sem desculpas. CULTURA Dicas do que anda acontecendo na cida

Upload: luis-fernando-lima

Post on 26-Mar-2016

219 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

revista de filosofia

TRANSCRIPT

Page 1: revista boca de confissão

REVISTA BOCA DE REVISTA BOCA DE CONFISSÃOCONFISSÃO

A PASSAGEM DA RAZÃO Uma ideia geral a respeito do que é o iluminismo e onde se desenvolve, ou seja, seu contexto histórico e quem são seus protagonistas, acentuando os principais problemas filosóficos estudados por eles.

COMO ASSIM “A UTOPIA SUFOCA A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE”?A Utopia Sufoca a Educação de Qualidade”. Num primeiro momento, o título do artigo do economista Gustavo Ioschpe, publicado na revista Veja em 11 de abril de 2012, deixa-nos temerosos acerca do seu conteúdo.

EVOLUÇÃO SEM REVOLUÇÃO: A Filosofia positivista no Brasil do século XIX

JEAN-PAUL SARTRE E O EXISTENCIALISMO ATEUEstamos sós, sem desculpas.

CULTURADicas do que anda acontecendo na cidade!

Page 2: revista boca de confissão

ÍNDICE_________________

REDAÇÃO ....................... p. 03

A PASSAGEM DA RAZÃO .... p.04Marcus Bissetti

A RAZÃO CARTESIANA ..... p. 07Luis Fernando Lima e Silva

EVOLUÇÃO SEM REVOLUÇÃO: A Filosofia positivista no Brasil do

século XIX p. 11Lelita Benoit

AUGUSTO COMTE: FUNDADOR DA FÍSICA SOCIAL .......... p.19

Priscila Martins

 

JEAN-PAUL SARTRE E OEXISTENCIALISMO ATEU p. 21

Angélica Martins

COMO ASSIM “A UTOPIA SUFOCA A EDUCAÇÃO DE

QUALIDADE”? ................. p. 23Daniel C. Burato

CULTURA ........................ p. 25

OPORTUNIDADES ............. p. 27 

Page 3: revista boca de confissão

REDAÇÃO_______________________3_

CARTA AO LEITOR 

Prezado leitor (a). 

Esta revista tem como objetivo apresentar trabalhos de alunos de graduação em filosofia, com o intuito de propiciar um espaço em que o graduando possa apresentar seus trabalhos, pesquisas e reflexões, afim de propiciar e estimular reflexões de cunho filosófico.As matérias publicadas são cedidas por alunos de graduação em filosofia do CUSC – Centro Universitário São Camilo e de docentes que apoiam esta iniciativa.Agradecemos a colaboração de todos que tornaram possível a 1ª edição da revista Boca de Confissão.

AGRADECIMENTOS

Queremos agradecer a todos que contribuíram para a realização da 1º edição da Revista Boca de Confissão. Em especial, aos colaboradores que nos cederam seus escritos, assim, como o apoio e incentivo da coordenadora do curso de graduação em Filosofia, Profª Luciane Pedro. Agrademos também a Profº Drª Lelita Benoit. Tal empreendimento não seria possível sem todos vocês!Atenciosamente,Equipe Revista Boca de Confissão

 DIREÇÃO GERAL

Angélica MartinsLuis Fernando Lima e Silva

REVISÃOAngélica Martins

EDIÇÃOLuis Fernando Lima e Silva

DIAGRAMAÇÃOLuis Fernando Lima e Silva

Angélica MartinsCOLABORADORES

Angélica MartinsDaniel da Costa Burato

Lelita BenoitLuis Fernando Lima e Silva

Marcus BissettiPriscila Martins

Page 4: revista boca de confissão

PESQUISA EM FOCO______________4_

A PASSAGEM DA RAZÃO 

Uma ideia geral a respeito do que é o iluminismo e onde se desenvolve, ou seja, seu contexto histórico e quem são seus protagonistas, acentuando os principais problemas filosóficos estudados por eles. Veremos essa corrente focando o iluminismo francês.

 O período que compreende o Iluminismo é historicamente o século XVIII, nele a cultura, a política e a filosofia se baseavam na capacidade intelectual para expor o mundo e seus movimentos. A possibilidade de uma filosofia tão afinada ao meio social em que está, e é influente politicamente torna-se um marco para todo o ocidente tendo em vista que foi a única vez que a figura do filósofo era a compreensão total do espírito (zeitgeist) do seu tempo seja artisticamente, seja cientificamente.Em parte, isso se deverá há uma herança cartesiana que no século anterior conseguiu expor com clareza e eficácia uma cadeia de razões lógicas a partir do ego em parte sua possibilidade de certeza não estaria mais correlata a Deus. Surge o que pode-se dizer antropocentrismo._________________________________Descartes (1596-1650) nas Meditações metafísicas (1641) expõem seus passos para se chegar a uma verdade que seria inabalável, verdade convertida no Cogito. A ela chegamos a partir de graus mais elevados de dúvida não restando certeza além daquela presente na relação entre pensamento e aquele que pensa. Deriva dessa verdade tudo o que é possível de ser crido, e apenas surgirá a figura de um Deus bom quando para validar o mundo dos objetos sensíveis com as ideias presentes na razão do sujeito.

Vejamos em que consiste essa revolução. Ela se constrói num saber formado conforme novos princípios, que visam a capacidade de sofisticação do pensamento. Seguem como exemplos bem sucedidos de filhos do século XVII os sistematizadores Espinosa, Leibniz, e mesmo Malebranche. Todos eles seguiram o que propunha Descartes: uma via segura para o pensamento que levasse a verdade. O século XVII é por excelência o século das analises feitas a tudo aquilo que fosse proposto. Toda a capacidade de esclarecimento pode ser baseada na própria capacidade humana para isso.

Ernest Cassirer consegue sintetizar em seu livro “A Filosofia do Iluminismo” o que é o movimento filosófico do século XVII:“O século XVII via na construção de “sistemas filosóficos” a tarefa própria do conhecimento filosófico. Para que lhe parecesse verdadeiramente “filosófico”, era preciso que o saber tivesse alcançado e estabelecido como firmeza a ideia primordial de um ser supremo ede uma certeza suprema intuitivamente apreendida, e que tivesse transmitido a luz dessa certeza a todo o ser e a todo saber dela deduzido.” (CASSIRER, 1994, p.24)

  Não que todos os pensadores do século XVII trabalhassem em forma de tratado rígidos, mas tinham em comum essa busca por uma verdade que compreendesse a clareza para poder abarcar outros tantos saberes.

Page 5: revista boca de confissão

PESQUISA EM FOCO______________5_

  No período a que historicamente denominamos Renascença - pelo novo vigor que as navegações trouxeram a economia -, as ciências e política podem trabalhar com conceitos sem temerem a abordagem contrária que a Igreja daria a eles em séculos anteriores. Apesar de a religião continuar a ter relevância assegurada valerá mais o acordo entre homens intelectuais e ricos para se fazer política, assim como propunha Maquiavel em O príncipe.Com a ascensão bem sucedida da filosofia do século XVII, seus herdeiros terão um caminho mais firme a trilhar rumo ao esclarecimento, isto é, o século XVIII será o de se por em prática a filosofia antes testada e aprovada.Focaremos nossa pesquisa quanto ao Iluminismo do século XVIII na França que se configura fortemente através do aspecto suposto por Kant, um filósofo alemão, responde quanto à função da Ilustração quando questionado: ________________________________Maquiavel (1469-1527) propõe em sua obra O príncipe (1513) argumentos para que o governante seja bem sucedido, baseando-se essencialmente em posições práticas, se a moral cristã fosse um empecilho cabe ao governante minimiza-lá. Daí nasce sua máxima de que “os fins justificam os meios”, que o fim sempre será o sucesso do Estado, o governante deve, portanto assegurar essa meta mesmo passando por regras moralizantes.

 “O iluminismo é a saída do homem da sua menoridade que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria se a sua causa não reside na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo sem a orientação de outrem. Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio entendimento! Eis a palavra de ordem do Iluminismo” (KANT)

 

O que Kant consegue sintetizar é que no Iluminismo o homem já é capaz de uma maturidade até então apenas almejada e sugerida. Aquele que não aceitasse este estado brilhante em que estava historicamente ligado seria culpado por ignorância e falta de coragem de assumir-se como agente do mundo. É aparentemente a consagração do pensamento iniciado no século XVII, só que de forma auto-afirmativa é a razão e os produtos dela que se tornam os grandes temas do século XVIII, Escritores, artistas, políticos e nobres estão interessados em entender esse novo homem que surge aos seus olhos. Para isso os pensadores escrevem textos de numerosa popularidade, debatem em salões lotados, a visão do intelectual medieval recluso em seus estudos acaba.O filósofo é membro da sociedade sendo uma figura de grande influência no modo de vida de uma burguesia que se ia desenhando.

Page 6: revista boca de confissão

PESQUISA EM FOCO______________6_

Pode-se criticar a filosofia Iluminista por aparentar não ter nada de mais original do que apenas a dependência de tudo que foi feito, para assim ser um modelo mais acabado de pensamento essencialmente antropocêntrico. Resta interpretar que os pensadores tratam à metafísica, tão cara a Filosofia com seus sistemas axiomáticos, como sendo um problema menor, a vida social é mais interessante para eles e as possibilidades envolvendo-a são os temas a serem discutidos no qual não se está mais buscando verdades eternas, e sim discussões sobre o homem e suas inclinações, o movimento de uso da filosofia é propriamente o símbolo do século XVIII, antes se tinha um profundo estudo do que era a filosofia. A vida prática e como ela se desenha e engloba todas as áreas de ação filosófica, segundo Cassirer “Tal é o sentido verdadeiramente fecundo do pensamento iluminista. Manifesta-se menos por um conteúdo o pensamento determinado do que pelo próprio uso que se faz do pensamento filosófico.” (1994. p.11). A esse uso Cassirer determina, é a ação em sociedade e a forma como a figura do filósofo quer ser útil ao que quer que seja que molda a vida no século XVIII.

REFERÊNCIASKANT, Immanuel: A Paz Perpétua e Outros Opúsculos. Lisboa: Edições 70, 2004.

CASSIRER, Ernst. A Filosofia do Iluminismo. Campinas: UNICAMP, 1997

SOBRE O AUTOR

Marcus BissettiAluno de graduação em filosofia do CUSC – Centro Universitário São

Camilo

Page 7: revista boca de confissão

PESQUISA EM FOCO______________7_

A RAZÃO CARTESIANA 

Segundo a tradição da filosofia moderna, pensar racionalmente é o ponto de partida para toda e qualquer inferência filosófica válida. Todo homem são é capaz de discernir o falso do verdadeiro por meio da razão. Este seria o meio pelo qual se dá a consciência correta da natureza de todas as coisas.O filósofo francês René Descartes assume um projeto filosófico estritamente ligado às verdades matemáticas, associando as leis numéricas às leis do mundo. Suas premissas baseiam-se na afirmação acerca da eficácia do uso da razão para o entendimento de todas as coisas. Tal projeto se apresenta como reconstrução de saberes em crítica e recusa aos procedimentos e tradições culturais da Escolástica. Descartes utilizou-se do raciocínio matemático para desenvolver as regras de seu método com o objetivo único de buscar um conhecimento verdadeiro, trazendo-nos uma reflexão sobre o papel da ciência e a objetividade da razão. A razão impera na matemática ao passo que esta faz uso de dois requisitos fundamentais de todo pensamento: ordem e medida. Sendo assim, inspirado pela matemática e defendendo o método analítico, Descartes propõe em primeira instância isolar o simples e, em sequência, construir o complexo sobre sua base, com o objetivo de se chegar a certezas. Para tal, o filósofo estabelece quatro regras que devem ser aplicadas a todos os objetos que podem ser conhecidos:

“O primeiro era não aceitar jamais alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal: isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e nada incluir em meus julgamentos senão o que me apresentasse de maneira tão clara e distinta a meu espírito que eu não tivesse nenhuma ocasião de colocá-lo em dúvida.”(DESCARTES, 2007, p.54)

“O segundo, dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas possíveis e que fossem necessárias para melhor resolvê-las.O terceiro, conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir aos poucos, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.E o último, fazer em toda parte enumerações tão completas, e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir.” (idem, p.55)

A partir das quatro regras que o método impõe ao conhecimento verdadeiro, clareza e distinção, análise de evidências, ordenação por ordem de complexidade e verificação de todos os elementos que foram considerados tendo-se certeza de que nada foi omitido, decorre o empreendimento filósofo de Descartes partindo da dúvida de todo e qualquer conhecimento já apreendido, pondo assim a prova as verdades existentes. O método da dúvida propõe que se chegue ao extremo da negação e daí examinar os conceitos dados como indubitáveis, atacando assim os

Page 8: revista boca de confissão

PESQUISA EM FOCO______________8_

princípios dos conhecimentos vigentes em sua época, de modo a admitir por verdadeiro apenas aquilo que resiste à dúvida.

Para Descartes, a razão se apresenta como instrumento que torna possível distinguir o falso do verdadeiro, no caso em que ela é bem conduzida por meio da regras que possibilitam chegar às evidências e/ou axiomas indubitáveis.Assumindo uma postura altamente cética em relação à filosofia clássica, Descartes afirma que nela tudo é ser passível de dúvida:“Nada direi da filosofia, a não ser que, vendo que fora cultivada pelos mais excelentes espíritos que viveram desde muitos séculos, e que não obstante não há nela coisa alguma sobre a qual não se dispute, e portanto que não seja duvidosa, eu não tinha a menor presunção de esperar ser mais bem- sucedido que os outros; e, considerando o quanto podem ser diversas as opiniões de homens doutos relativas a uma mesma matéria, sem que jamais possa haver mais de um só que seja verdadeira, eu reputava quase como falso tudo o que era apenas verossímil.”(DESCARTES, 2007, p.43)

Ao propor a reconstrução da filosofia vigente, Descartes não só fornece um fundamento racional para a ciência, como também para as pessoas comuns. O filósofo propõe um exercício crítico racional, levando a dúvida a toda crença e juízo pré estabelecido, até que se chegue a um fundamento certo e verdadeiro, que pode ser verificado em sua primeira Meditação, conforme o seguinte trecho:

 

“Agora, pois, que meu espírito está livre de todos os cuidados, e que consegui um repouso assegurado numa pacífica solidão, aplicar-me-ei seriamente e com liberdade em destruir em geral todas as minhas antigas opiniões. Ora, não será necessário, para alcançar esse desígnio, provar que todas elas são falsas, o que talvez nunca levasse a cabo; mas, uma vez que a razão já me persuade de que não devo menos cuidadosamente impedir-me de dar crédito às coisas que não são inteiramente certas e indubitáveis, do que às que nos parecem manifestamente ser falsas, o menor motivo de dúvida que eu nelas encontrar bastará para me levar a rejeitar todas. E, para isso, não é necessário que examine cada uma em particular, o que seria um trabalho infinito; mas, visto que a ruína dos alicerces carrega necessariamente consigo todo o resto do edifício, dedicar-me-ei inicialmente aos princípios sobre os quais todas as minhas antigas opiniões estavam apoiadas (DESCARTES, 1973, p.93)

Page 9: revista boca de confissão

PESQUISA EM FOCO______________9_

No que diz respeito às percepções sensoriais ao conhecimento que delas provém, Descartes ainda mantém o procedimento da dúvida, e chega a concluir que não é possível extrair um conhecimento verdadeiro dessas percepções por não haver um critério que permita distinguir uma percepção errônea de uma certa. “Tudo que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez” (idem, p.93)

 Ainda na primeira Meditação, após considerar a natureza enganosa das percepções sensoriais, Descartes reforça ainda mais tal pressuposto ao apresentar o argumento do sonho, no qual acentua as percepções como não sendo confiáveis, visto que elas ainda operam durante a vigília. Assim, não se deve atribuir às percepções o caráter prioritário no processo do conhecimento das coisas, considerando que as impressões tidas quando estamos dormindo não podem ser distinguidas das impressões que temos enquanto acordados, daí surgindo o questionamento e/ou dúvida sobre a realidade do mundo exterior e o que pode ser conhecido por meio dos sentidos.

“Todavia, devo aqui considerar que sou homem e, por conseguinte, que tenho o costume de dormir e de representar, em meus sonhos, as mesmas coisas, ou algumas vezes menos verossímeis, que esses insensatos em vigília. Quantas vezes ocorreu-me sonhar, durante a noite, que estava neste lugar, que estava vestido, que estava junto ao fogo, embora estivesse inteiramente nu dentro de meu leito? Parece-me agora que não é com olhos adormecidos que contemplo este papel; que esta cabeça que eu mexo não está dormente; que é com desígnio e propósito deliberado que estendo essa mão e que a sinto: o que ocorre no sono não parece ser tão claro nem tão distinto quanto tudo isso. Mas, pensando cuidadosamente nisso, lembro-me de ter sido muitas vezes enganado, quando dormia, por semelhantes ilusões. E, detendo-me neste pensamento, vejo tão manifestamente que não há quaisquer indícios concludentes, nem marcas assaz certas por onde se possa distinguir nitidamente a vigília do sono, que me sinto inteiramente pasmado: e meu pasmo é tal que é quase capaz de me persuadir de que estou dormindo” (idem, p.94)

Page 10: revista boca de confissão

PESQUISA EM FOCO_____________10_

Mesmo as verdades matemáticas, as quais não dependem dos sentidos, o que diminuiria a possibilidade de erro ou engano a seu respeito não são poupadas da dúvida por Descartes. Assim, o que poderia ser entendido como certo e indubitável? A única certeza até este momento tida pelo filósofo é de que não há certeza, sendo até mesmo essa afirmação sujeita a questionamentos, o que não pode ser negado neste caso é a necessidade de duvidar e o ato de duvidar como é afirmado na segunda Meditação. “Mas que sei eu, senão há nenhuma outra coisa diferente das que acabo de julgar incertas, da qual não se possa ter a menor dúvida? Não haverá algum deus, ou alguma potência, que me ponha no espírito tais pensamentos? Isso não é necessário: pois talvez seja eu capaz de produzi-los por mim mesmo. Eu então, pelo menos, não serei alguma coisa? Mas já neguei que tivesse qualquer sentido ou qualquer corpo. Hesito no entanto, pois que se segue daí? Serei de tal modo dependente do corpo e dos sentidos que não possa existir sem eles? Mas eu me persuadi de que nada existia no mundo, que não havia nenhum céu, nenhuma terra, espíritos alguns, nem corpos alguns: não me persuadi também, portanto, de que eu não existia? Certamente não, eu existia sem dúvida, se é que eu me persuadi, ou, apenas, pensei alguma coisa. Mas há algum, não sei qual, enganador mui poderoso e

mui ardiloso que emprega toda a sua indústria em enganar-me sempre. Não há, pois, úvida alguma de que sou, se ele me engana: e, por mais que me engane. Não poderá jamais fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que essa proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo em meu espírito. ” (idem, p.100) Desse modo, Descartes conclui que para duvidar é necessário existir, sendo a existência condição necessária para o ato de duvidar. Por ser a dúvida uma faculdade mental entendida também como pensamento, logo conclui-se que ao pensar, sua existência se efetiva, “Cogito ergo sun”.

REFERÊNCIASDESCARTES, René. Meditações metafísicas. Coleção Os pensadores, vol. XV. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. São Paulo: Abril Cultural, 1973.DESCARTES, René. Discurso do método. Tradução Paulo Neves. Porto Alegre, RS: L&PM Editores, 2007.

SOBRE O AUTOR

Luis Fernando Lima e SilvaAluno de graduação em filosofia do CUSC –

Centro Universitário São Camilo

Page 11: revista boca de confissão

ESPAÇO DO DOCENTE____________11_

Evolução sem revolução:a filosofia positivista no Brasil do século

XIX   Por volta de 187O, iniciou-se, no Brasil,

uma experiência filosófica que costuma ser vinculada à gênese da República de 1889. Naquele período, professores e estudantes, originários de uma modesta pequeno-burguesia comercial e burocrática, mas também alguns militares e engenheiros, tiveram a oportunidade de ler e estudar a filosofia positivista. Alguns deles foram, até mesmo, “nutrir suas idéias fora do país” _ como então comentou Silvio Romero em A Filosofia no Brasil, 1878. O endereço dessas visitas internacionais era o número 10 da rua Monsieur Le-Prince, em Paris, onde se situava _ após a morte do criador da filosofia positivista, Augusto Comte (1898-1857) _ o núcleo de um grupo político, a Sociedade Positivista de Paris, e a sede mundial da Igreja positivista, por ele fundada, como Religião da Humanidade. Foi assim, mediada por estas viagens e estudos na Europa, que o “positivismo integral” _ que abrange a filosofia, a epistemologia, a sociologia e a religião comteanas _ chegou até o Brasil, nas décadas que antecederam 1889. Como sabemos, no Brasil da segunda século XIX, começava a declinar a aceitação do trabalho escravo, crescia a imigração, ainda que lentamente, abrindo-se assim a possibilidade de aqui

crescesse o número dos trabalhadores livres. Ao mesmo tempo, de 1850 em diante, nasciam e prosperavam setores da economia, essenciais para o desenvolvimento de uma futura indústria capitalista. No quadro dessas transformações da ordem social e econômica burguesa, parecia então possível acontecer “a evolução sem a revolução”, realizando, aqui entre nós, uma das profecias políticas de Augusto Comte “para os países do duplo ramo ibérico”, ou seja, uma evolução pacífica da monarquia para a república constitucional e ditatorial. Essa era a interpretação dos positivista que, munidos de conceitos comteanos, pensavam a República como governo de “transição metafísica” para uma futura “utopia positivista”, a “sociocratia”. Defendendo tal doutrina política _ que à primeira vista, parece ter raízes em outras terras e estar, portanto, em relação a nós, totalmente “fora do lugar” _ os positivistas se destacaram no interior do movimento de agitação republicana. Com pequena participação direta nos acontecimentos, e com desprezível influência na traçado objetivo da República de 1889, ainda assim, os “filosofantes” daqui, para usarmos a ironia inventada por João Cruz Costa, apresentaram, com muita gritaria e com muitos textos, um projeto político claro e coerente. Expresso, sinteticamente, nos dizeres da bandeira nacional e calcado na teoria comteana, o lema “progresso dentro da ordem”, expressava, para os nossos comteanos, a

Page 12: revista boca de confissão

ESPAÇO DO DOCENTE___________12_

meta de estabilização eterna da sociedade burguesa e exorcização radical dos surtos revolucionários provindos da classe trabalhadora. O enigma do forte enraizamento positivista foi construído posteriormente, por aqueles que interpretaram o Brasil. Na verdade, não é difícil perceber, com um estudo mais acurado, que ecos do positivismo foram ouvidos com tanto força porque havia então um vazio ideológico. Desfeitas as promessas iluministas da democracia dos direitos naturais e universais de 1879, a classe burguesa não encontrou outro projeto filosófico que pudesse representar os seus interesses. A doutrina comteana do “progresso dentro da ordem”, aqui e em toda parte, oferecia uma nova alternativa ideológica.Desse ponto de vista podemos dizer que a história das idéias positivistas no Brasil desenha, na particularidade, o significado mais universal de uma ideologia política conservadora, cuja matriz se encontra na filosofia positivista. Por esse motivo é que, antes de percorrer essa história filosófica específica, devemos revisitar, ainda que brevemente, o modelo comteano que a inspirou.

  

Ciência social ou moral social? 

No decorrer do século XIX, muitos dos seguidores de Augusto Comte, entre estes,

particularmente os latino-americanos e sobretudo, os brasileiros, leram e estudaram o Curso de Filosofia Positiva, 1830-1842 e assim, aderiam àquela que é chamada a “primeira carreira” do positivismo. Naquela extensa obra, Comte sintetiza, por assim dizer, todas as descobertas e métodos essenciais das ciências da natureza _ astronomia, física, química e, sobretudo, a biologia _ e também, a matemática, com a finalidade de construir um novo saber, a Sociologia. Além de ser o criador dessa ciência particular, Comte inventou o seu nome, e introduziu, na língua francesa, o neologismo “sociologie” (“sociologia”). “Ciência das ciências”, como era chamada por Comte, a Sociologia deve investigar “as leis do desenvolvimento do passado e do futuro da sociedade”, com pura objetividade. Para tanto, a Sociologia se calcaria nas regras do método científico que utilizadas pelos os astrônomos, biólogos e demais estudiosos da natureza. Além disso, do ponto de vista moral, o sociólogo _ afirmava Comte _ deveria guiar-se pela absoluta neutralidade e jamais emitir quaisquer juízos de valor frente aos acontecimentos políticos, sociais e históricos, objetos de seus estudos. Sob o aspecto moral, portanto, os sociólogos deveriam ser tão neutros como o físico diante do universo, o biólogo diante das células, etc. Em síntese, Augusto Comte pretendia ter inventado uma teoria social _ a Sociologia _ que mereceria a adjetivação de “científica”, ou

Page 13: revista boca de confissão

ESPAÇO DO DOCENTE___________13_

simplesmente, ciência positiva da Sociedade, a qual significativamente chamou também de ”física social”. Conforme o sonhado pelo filósofo, esta física de tipo particular tinha como tarefa guiar a prática política, imprimindo-lhe uma direção, ao mesmo tempo, não-teológica e não-metafísica, e inspirando suaves projetos de transição que levem a Humanidade do atual “estado de civilização metafísico, crítico e revolucionário” para outro, superior e definitivo, “o estado positivo, puramente industrial e definitivamente pacífico”. Contudo, desde a juventude, durante os anos em que foi secretário do socialista utópico Henri de Saint-Simon (1760-1825), Augusto Comte tinha consciência das muitas dificuldades de transformar a política em ciência positiva e de promover transformações sem revolução. Crescentes desilusões com a prática política, mas também, sucessivos fracassos profissionais, crises psíquicas intermitentes, impasses amorosos, enfim, a subjetividade dilacerada do indivíduo Augusto Comte, um intelectual pequeno burguês do século XIX, entre as revoluções de 1830 e 1848, mas sem perspectivas políticas, tudo isso foi, pouco a pouco, contribuindo para que o positivismo entrasse na “segunda carreira”. Neste período, que coincide com a idade madura de Comte, os conceitos positivos, objetivos e neutros da Sociologia transfiguram-se em dogmas rígidos de uma religião, a religião da Humanidade, que substituiria o decante catolicismo, mas copiaria os seus

ritos e cultos. Quanto à prática política, foi transferida para o âmbito institucional de uma igreja, a Igreja Positivista. Teoria religiosa e prática religiosa, ambas destinadas a realizar o projeto político de transição, por meios puramente morais. O Comte da maturidade explicitou essas idéias da “segunda carreira” no quatro volumes do Sistema de Política Positiva, ou Tratado de Sociologia Instituindo a Religião da Humanidade (1851-1857).A primeira vez que Comte mencionou publicamente a religião da Humanidade foi em um de seus “cursos populares”, um ano antes da célebre revolução operária de 1848, que se tinha estendido pela Europa e levantou barricadas pelas ruas e periferias de Paris. Além criticar o “comunismo operário” do século XIX, Comte abordou a “questão feminina”. No quadro da nova Igreja, a Mulher - que deveria ser consagrada através da figura da amada morta, Clotilde de Vaux - personificaria a Humanidade. Composta pela “classe proletária e suas mulheres”, a Humanidade _ ou Grande-Ser _ se caracterizaria pela afetividade e estaria destinada à submissão ao poder temporal, ou “classe dos empreendedores”. Na Igreja positivista, a veneração da Mulher coincidiria com a da Humanidade. Enfim, proletários não-comunistas e "revolucionários sinceros", mulheres, Humanidade: eram os elementos sociais a partir se desenvolveria a sacralização religiosa da Ordem social.

Page 14: revista boca de confissão

ESPAÇO DO DOCENTE___________14_

A adesão a uma das duas fases filosóficas de Augusto Comte _ a “primeira” ou a “segunda carreira” _ se encontra na gênese do projeto positivista para a República brasileira, e explica as diferenças, a esse respeito sem dúvida secundárias, entre os chamados “positivistas littrerista” e os “ortodoxos”,

 

As origens nada enigmáticas 

Embora, desde a metade do século XIX, possamos localizar diversas manifestações esparsas de conceitos comteanos, é somente a partir de 1874 que começa a se organizar um autêntico movimento positivista brasileiro. No Rio de Janeiro, como narra um panfleto da época, em grafia positivista: “(...) alguns moços da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, encetárão a leitura do Curso de Filozofia Pozitiva. Preocupados sobretudo com a reação politica da siencia, fartárão ahi o ardor cívico que em vão procuravão cevar em declamações revolucionárias”. Inspirava-lhes portanto a Sociologia científica e se deixavam guiar pela interpretação que Emile Littré (1801-1881), o célebre lexicógrafo francês, havia feito do Curso de Filosofia Positiva. Muito propriamente, ficou conhecido como grupo littrerista.Enquanto crescia o número do grupo que agitava idéias republicanas inspirados no littrerismo _ isto tudo acontecendo principalmente na Escola Politénica e na Escola Militar _ outro grupo se formava, também interessado na “parte científica”

do positivismo, mas sem preocupações políticas ou sociais, e aceitando a religião da Humanidade. Porém, a agitação republicana positivista do grupo dos estudantes e professores cresceu, atraindo os militantes do segundo grupo. O resultado veio logo.Conta a1a. Circular Anual do Apostolado Positivista no Brasil (1881), que, ainda em 1874, Oliveira Guimarães, professor de matemática, aproximou os líderes dos dois grupos e criou a primeira Associação Positivista do Brasil. No Resumo cronológico da Evolução do Positivismo no Brasil, de 1876, é explicado que era “uma sociedade composta de pessoas confessando-se positivistas em graus diversos, aceitando pelo menos a Filosofia positiva”, mas sem caráter religioso. Suas propostas organizativas manifestam o desejo de agitar o positivismo (criação de biblioteca positivista, realização de cursos científicos, jornais e revistas como A idéia, A crença, A crônica do Império). Os nomes dos sócios fundadores nos remetem à história do movimento republicano: Antonio Carlos de Oliveira Guimarães, Benjamin Constant, Joaquim Ribeiro de Mendonça, Oscar Araújo, Alvaro de Oliveira, Miguel Lemos e Teixeira Mendes. Era, um deles, um “positivismo incompleto”, pois ainda sem a religião da Humanidade.

Miguel Lemos, então com vinte e poucos anos, assim manifestou o seu entusiasmo:

Page 15: revista boca de confissão

ESPAÇO DO DOCENTE___________15_

“Pela primeira vez, a nossa pátria via um movimento intelectual que procurava abarcar a totalidade dos aspectos humanos. Até ali, quanto as idéias gerais e sistemas filosóficos, só conhecíamos a mistura pueril da teologia e metafísica ensinada nos colégios. (...) A nossa vida intelectual, com as exceções secundárias (...) limitava-se a cópias de romances franceses e à imitação dos poetas europeus, compensada muitas vezes por felizes rasgos de inspiração local”. Em 1877, os jovens M. Lemos e T. Mendes viajaram para Paris, onde tomaram contato inicial com a parte “religiosa” do positivismo. Explicando sua adesão ao positivismo religioso e ao grupo ortodoxo francês, então dirigido por Pierre Laffitte, discípulo direto de Comte, Lemos escreve que havia trocado a “erudição seca, sem nenhuma ação social” do littrerismo pelo comando laffittista “ardente, incansável em promover a regeneração universal ensinada pelo Mestre”. Quanto ao Sistema de Política Positiva, comenta: “longe de revelar uma catástrofe mental, deixarão ver em todas as páginas uma tal pujança intelectual e, sobretudo, uma tal grandeza moral, que logo senti nessa obra a sinteze mais maravilhosa que jamais um cérebro humano pôde conceber”.

Em 1o. de janeiro de 1881, a Sociedade Positivista do Rio de Janeiro comemorava publicamente a Festa da Humanidade. Lemos chega de Paris com o grau de aspirante ao Sacerdócio da

Humanidade, consagração esta que lhe tinha sido outorgada por Pierre Laffitte. Acontece então a conversão de T. Mendes, que será, depois da morte de Lemos, o chefe do Apostolado do Brasil. Outros antigos littretistas seguem-nos.

 Parodiando 1848

A Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, organizou a sua ação pública calcando-se nos ensinamentos do Manifesto inicial da Sociedade Positivista de Paris, que Comte havia redigido, em 1848, quando dos embates sangrentos da revolução proletária. Escrito em primeira pessoa, o Manifesto assim começava: "Estou fundando, sob a divisa característica Ordem e Progresso, uma Sociedade política destinada a preencher, com relação à segunda parte, essencialmente orgânica, da grande revolução, um ofício equivalente aquele que tão utilmente exerceu a Sociedade dos Jacobinos na sua primeira parte, necessariamente crítica." O suposto jacobinismo renovado, com poucos partidários, não deveria realizar ações políticas diretas, ao menos de imediato: "Sua ação será mais puramente consultativa, sem nenhuma mistura de intervenção temporal”. Apoiando-se no estudo positivista da história da Humanidade, tinha a meta de “determinar, sem utopia, o futuro social, de maneira a fundar a verdadeira política, base racional da arte correspondente."

Page 16: revista boca de confissão

ESPAÇO DO DOCENTE___________16_

Calcando-se no paradigma parisiense, a Associação Positivista do Rio de Janeiro não se pensava como partido político e também, realisticamente, não tinha objetivos práticos imediatos, devido ao número reduzido dos seus militantes, conforme informa a “Circular positivista” de 1891:1878 - 5 1889 - 531890 -1591891 – 174

Mas os positivistas almejavam sim influenciar ideologicamente a transição então em curso, e empenharam-se neste projeto a partir de 1870 quando, a seu modo muito particular, integram-se ao movimento republicano. Note-se que em um ano como foi o de 1888, tão importante para o processo de fundação da República, os positivistas estavam envolvidos em questões do culto religioso.Sempre enfatizando a influência ideológica, M. Lemos e T. Mendes idealizaram a bandeira republicana, adotada em19 de novembro de 1889. A pedido de Rui Barbosa, a frase "Ordem e Progresso", que nela figura, recebeu a seguinte justificativa: "é que, nas palavras de Comte: o progresso é o desenvolvimento da ordem, assim como________________________________Dados parciais retirados da informações que constam em Miguel Lemos, “11a. Circulaire annuelle de l´Apostolat Posiviste du Brésil” (1891), p. 61.

a ordem é a consolidação do progresso, o que significa que não se podem romper subitamente os laços com o passado e que toda reforma, para frutificar, deve tirar seus elementos do próprio estado de coisas a ser modificado".Contudo, a influência ideológica parece ter se estancado aqui e, como já observou o historiador da filosofia no Brasil, João Cruz Costa, o projeto constitucional da República de 1889, não manifesta o positivismo, ao menos em sua pureza ideológica.

  Os limites da república positivista

 O que exatamente os positivistas pretendiam? Fossem eles littreristas, ortodoxos ou independentes, eram favoráveis ao Estado como res publica, defendiam a república dos estados federados do Brasil, mas com certeza não defendiam princípios democráticos na organização do poder político, seguindo neste aspecto, orientações essenciais da doutrina política comteana. Contra os princípios da democracia burguesa de 1789, Comte sustentou que os seres humanos nascem e permanecem desiguais em direitos, sendo esta uma verdade natural, no sentido estrito do termo, confirmada por Josef Gall e pela biologia frenológica do século XIX. Deste modo, a sociedade que se organiza em torno da “doutrina metafísica dos direitos universais” estaria violando uma lei da

Page 17: revista boca de confissão

ESPAÇO DO DOCENTE___________17_

natureza, e esta subversão logo se manifestaria em anarquia política e desordem social. No Catecismo Positivista, Comte lembra que, em política, devemos “colocar deveres, no lugar dos direitos”.No Brasil, a doutrina originária foi rigorosamente parodiada e pretendeu-se estabelecer aqui uma República ditatorial. Um dos mais célebres positivistas, o professor-militar Benjamin Constant (1836-1891), embora tenha levado para o movimento republicano os seus jovens discípulos da Escola Militar, não preconizava o poder político democrático. É curioso lembrar que, em cartas de 1867, redigidas nos campos de batalha da Guerra do Paraguai, confessa que era então "um adepto da religião da Humanidade". No opúsculo Trois rapports, de l´ancienne Société positiviste de Paris (Três relatórios, da antiga Sociedade positivista de Paris) , editado (em francês!), pela Igreja positivista do Rio de Janeiro, se delinea o “tipo ideal de utopia” _ paradigma para todos os países do mundo. Na utopia positivista, existirá um Governo, composto por três proletários _ o “triunvirato” _ cuja única função será controlar as ações do poder temporal industrial, mas que só aparentemente possuirá poderes ilimitados Na verdade, o triunvirato será um dócil instrumento de transição para o “reino normal no qual dominará unicamente o poder espiritual” _ ou seja: religião e Igreja comteanas _ concretizando-se a “sociocracia positivista”, ou o último estado histórico da Humanidade.

Foram particularmente os militantes da Igreja Positivista que, no Brasil, souberam traduzir o programa positivista de transição, sob a luz da ortodoxia originária. Particularmente Teixeira Mendes procurou desconstruir a democracia burguesa, transformando os direitos abstratos, liberdade e igualdade, em deveres de uns para com os outros. Em artigos nos quais discute sociologicamente a questão das classes sociais e de sua miséria, Mendes apresenta soluções, às vezes engenhosas. Para a transição da escravidão para o trabalho livre, sugere um retorno à servidão, com a adstrição ao solo e deveres correspondentes. No ensino, sendo contra a Universidade, na qual supõe que uma elite cercearia a liberdade de pensamento, mostra-se favorável às escolas profissionalizantes, que formam o operário. Contra a aberração da lei do divórcio, defende a indissolubilidade da família, célula básica da sociedade, e a emancipação da mulher cuja dignificação é necessária para o aperfeiçoamento moral individual e coletivo.Contudo, mesmo sendo contra a “metafísica revolucionária dos direitos democráticos”, os positivistas, nas eleições de 1881, apoiaram o partido republicano, porque este seria “o único meio de escolher os funcionários públicos”. M. Lemos então elaborou um programa mínimo para a transição, no Brasil, enfatizando a separação entre o Estado e o poder espiritual, pensando certamente na Igreja

Page 18: revista boca de confissão

ESPAÇO DO DOCENTE___________18_

positivista do futuro e na transição sociocrática sonhada. Mas logo veio o rompimento definitivo.

 Em certo sentido, pode-se dizer portanto que projeto positivista para a política burguesa _ na sua pureza abstrata _ jamais se realizou, no Brasil e, talvez, em parte alguma, no século XIX ou posteriormente. Contudo, o paradigma comteano, talvez ainda hoje, possa manifestar, para nós, os limites de uma utopia que, cada vez mais, revela-se inalcançável: progredir dentro da atual ordem capitalista, racionalizando a barbárie.

Fonte: Artigo extraído da Revista História Viva, Grandes Temas, número intitulado “A Herança Francesa” (Edição Especial), v. 1, p. 46-53, 2006.LINKS:

http://www.igrejapositivistabrasil.org.br/Igreja Positivista do Brasil, Sede, Rio de Janeiro)

http://www.augustecomte.org (La Maison d’Auguste Comte, Sede Internacional, Paris, França)

SOBRE A AUTORA

Lelita Oliveira de Rodriguez Benoit

Professora de Filosofia e de Psicologia do Centro Universitário São Camilo. Pós-Doutora em Filosofia pela FAPESP e Pós-Doutora Sênior do CNPq. Doutora e Mestre emFilosofia pela Faculdade de Filosofia e Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Autora, entre outros livros e artigos sobre o positivismo,  de:    Sociologia comteana: gênese e devir, São Paulo, Discuso Editorial/Fapesp (tese de Doutorado);     Sociologie comtienne: genèse et devenir. Trad. Lygia Watanabe. Pref. Marilena Chauí. Paris (FR), l’Harmattan, 2007;    "La souveraineté politique de la volonté générale comme illusion métaphysique (Comte, lecteur de Rousseau)". In Dogma: Revue des revues, Paris, 2007.link:http://dogma.free.fr/txt/LOB-ComteRousseau.htm ]

Page 19: revista boca de confissão

PESQUISA EM FOCO_____________19_

Augusto Comte: fundador da física social

A obra “Augusto Comte: fundador da física social”, escrita por Lelita Oliveira Benoit, apresenta não só as teses criadas e defendidas pelo filósofo Comte, mas procura ir além, traçando uma gênese fundamental para compreender de forma inequívoca a construção do pensamento deste filósofo.O ponto de partida não será calcado imediatamente na física social, do mesmo modo que também não partirá da Religião da Humanidade, mas esta obra percorrerá um caminho que possibilite perceber passo a passo o que levou Augusto Comte a construir e fundamentar tais conceitos. Será mostrado desde o nascimento em família humilde, até os autos e baixos de sua carreira.As primeiras páginas da obra constroem o contexto no qual o filósofo Comte se encontra, afastando e denunciando as possíveis interpretações errôneas. Verifica-se logo no início que, grande parte da obra de Comte foi considerada de pouca importância, estas obras situam-se na segunda carreira do filósofo, ou seja, após a doença psíquica manifestada em 1826. Dado este desinteresse da segunda carreira de Augusto Comte há “ a formação de uma imagem distorcida do positivismo, que

ainda permanece. Nos diversos domínios da cultura (entre outros, no direito, na economia, na teoria literária, na psicologia) mas, em particular, no dos estudos filosóficos e da sociologia (...)” ¹Portanto a física social será compreendida como sendo fundada unicamente na primeira carreira de Augusto Comte, quando o filosofo tinha aproximação de Saint-Simon e ainda não teria sofrido de sua doença psíquica.É certo que, nos anos em que Comte esteve próximo a Saint-Simon foi iniciado uma história da filosofia positivista, mas as origens do positivismos tinham fortes características saint-simonianas, isto não significa que após o rompimento com Saint-Simon não haveria mais desenvolvimento de suas teorias positivistas.O positivismo será o tema percorrido ao longo da vida de Comte, e a palavra-chave será a reorganização da sociedade, esta reorganização pressupõe uma ordem, da qual Comte dirá que é natural. Em 1822 é escrito o “Plano dos trabalhos necessários para reorganizar a sociedade”, e nele será elaborado “a lei dos três estados” e a física social, mas só em 1830 com a obra intitulada Curso de filosofia positivista, a ciência social positivista receberá o nome de sociologia.Dentre esses e outros intervalos de tempo Augusto Comte dava “movimento” “as teorias positivistas,

Page 20: revista boca de confissão

PESQUISA EM FOCO_____________20_

ministrando cursos em casa, e aos operários dava cursos elementares, com a real finalidade de convence-los de uma “verdade positivista”. Ainda que sem muito prestígio pelos acadêmicos de sua época, e muitas vezes passando dificuldades extremas, necessitando de ajuda de alguns amigos, Comte deixou vasto material escrito além de inúmeras cartas e histórias que compõem a teoria positivista. A obra de Augusto Comte fornece material para um verdadeiro e sério estudo a cerca da sociedade e suas implicações, e a obra Augusto Comte: fundador da física social colabora de maneira significativa a uma compreensão séria deste e outros temas sucessíveis.

REFERÊNCIAS

BENOIT, Lelita Oliveira, Augusto Comte: fundador da física social, 2 Ed. São Paulo, Moderna, 2006.p.7

SOBRE A AUTORA

Priscila MartinsAluna de graduação em filosofia do CUSC – Centro Universitário São

Camilo

Page 21: revista boca de confissão

PESQUISA EM FOCO_____________21_

JEAN-PAUL SARTRE E O EXISTENCIALISMO ATEU

 A filosofia existencialista teve seu maior momento no século XX contando com pensadores, como: Martin Heidegger (1889 – 1976), Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), Karl Jaspers (1883 – 1969) e Gabriel Marcel (1889 – 1973). Os dois primeiros representam um tipo de existencialismo ateu; enquanto os dois últimos pensam um existencialismo concebendo a ideia da existência de Deus. O existencialismo lida com um pressuposto que une esses pensadores: a existência precede a essência. O filósofo francês Jean-Paul Sartre foi um dos principais expoentes do existencialismo. Dentre as diversas questões que elaborou em sua filosofia voltada à liberdade, pensou a questão da existência de Deus. Apesar de não lidar profundamente com tal questão, assume no fundamento de sua reflexão a inexistência de Deus.

O homem indefinido

Sartre inicia a sua defesa sobre o existencialismo – das acusações feitas pelos marxistas e cristãos –

expondo o princípio de todas as vertentes existencialistas,

qual seja:a existência precede a essência. Para ilustrar esse princípio, Sartre utiliza-se da separação entre o reino material (visão técnica dos objetos) e o reino humano (visão antropológica do homem)

enfatizando a origem da diferença entre ambos: a questão da existência de um artífice superior, ou melhor, de Deus. Portanto, para que possamos compreender a inexistência de Deus, se faz necessário compreender a antropologia existencialista ateísta, mais especificamente, a antropologia sartriana. O reino material, no sentido técnico, é pré-determinado por um artífice superior que poderá pensar o conceito do objeto e defini-lo previamente a sua existência. Assim, um objeto possui, anteriormente a sua criação, um conceito que o define. O objeto só existirá por causa de sua pré-definição. Isto é, primeiro o objeto terá uma essência e por causa dela poderá existir. Neste sentido, é necessária e obrigatória a existência de um ser superior para pensa-lo e o objeto poder existir. Podemos assim afirmar que, no caso do corta-papel, a essência – ou seja, o conjunto das técnicas e das qualidades que permitem a sua produção e definição – precede a existência; e desse modo, tamb corta-papel ou de tal livro na minha frente é determinada. (SARTRE, 1987, p. 03)Por sua vez, no reino humano, Sartre afirma a inexistência de Deus em seu sentido mais antropológico. Enquanto o objeto necessita de um artífice para existir; o homem não pode ser pensado e nem produzido por nenhum artífice superior. ém, a presença de tal corta-presença de tal corta-papel ou de tal tal livro na minha frente é determinada. (SARTRE, 1987, p. 03)

Page 22: revista boca de confissão

PESQUISA EM FOCO_____________22_

Por sua vez, no reino humano, Sartre afirma a inexistência de Deus em seu sentido mais antropológico. Enquanto o objeto necessita de um artífice para existir; o homem não pode ser pensado e nem produzido por nenhum artífice superior. No pensamento sartriano, o homem é lançado no mundo sem nenhum tipo de justificativa e é o único ser que pode existir antes de ser definido. Neste sentido, o homem primeiro existe e só depois escolhe a sua essência. “O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio existencialista.” (SARTRE, 1987, p. 04)Essa concepção antropológica e existencialista só é possível se desconsiderarmos a existência de Deus, que gera duas consequências fundamentais ao pensamento ateu sartriano: i) o homem não é definido por Deus, ii) podendo escolher a si mesmo sem qualquer inteligibilidade vinda do céu. Deste modo, não há nenhuma essência ou valor a priori no homem, não há uma natureza humana que o defina. Cabendo a ele mesmo escolher por si próprio seu destino e sua essência. Dostoievski escreveu: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. Eis o ponto de partida do existencialismo. De fato, tudo é permitido se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem está desamparado porque não encontra nele próprio nem fora dele nada a que se agarrar. Para começar, não encontra desculpas. Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais ser explicado por referência a uma natureza dada e definitiva; ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Por outro lado, se

Deus não existe, não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim, não teremos nem atrás de nó, nem na nossa frente, no reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Estamos sós, sem desculpas. (SARTRE, 1987, p. 07)A partir desta exposição, é compreensível a necessidade da inexistência de Deus. Para o homem ser livre e escolher a partir de sua subjetividade é extremamente necessário que o homem não seja pré-definido em sua natureza humana, não sendo projeto de nenhum artífice superior. Assim, é a inexistência de Deus que possibilita a livre escolha do homem e, consequentemente, a sua liberdade.

REFERÊNCIASSARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo. Tradução Rita Correia Guedes. 3ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

SOBRE A AUTORA

Angélica MartinsAluna de graduação em filosofia do CUSC – Centro Universitário São

Camilo

Page 23: revista boca de confissão

EDUCAÇÃO_______________________23_

COMO ASSIM “A UTOPIA SUFOCA A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE”?

  

A revista VEJA ataca o currículo escolar com argumentos preconceituosos, crucificando o ensino de disciplinas como Filosofia, Sociologia e Música por desviarem a atenção dos alunos das matérias realmente importantes (matemática, português e ciências). Leia a matéria na íntegra: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/a-utopia-sufoca-a-educacao-de-qualidade

  

“A Utopia Sufoca a Educação de Qualidade”. Num primeiro momento, o título do artigo do economista Gustavo Ioschpe, publicado na revista Veja em 11 de abril de 2012, deixa-nos temerosos acerca do seu conteúdo. Após a sua leitura, o temor dá lugar à revolta e a indignação. O discurso assumido pelo economista acerca da qualidade educacional do nosso país e o rumo que ela deveria tomar é fundamentalmente tecnicista e com citações preconceituosas, perceptíveis ao leitor mais atento.Para o autor, a escola se perde ao tentar cumprir tantos compromissos legais, fruto de um pensamento educacional “utópico”. Passagens como “a esperança vã de pensadores de que uma escola que mal consegue ensinar o básico resolva todos os problemas sociais e éticos do país”, e “esse desejo expansionista (em relação ao currículo escolar) faz bem ou mal ao nosso sistema educacional? Será um caso em que mirar no inatingível ajuda a ampliar o alcançável ou, pelo contrário, a sobrecarga faz com que a carroça se mova ainda mais devagar?

Acredito que seja o último”, explicitam o uso do termo “utopia” como uma espécie de devaneio ou o paraíso pretendido pelos legisladores e pensadores da educação, estes últimos nomeados como “revolucionários de poltrona”. Para ele, a realidade sempre sobrepuja as intenções. Assim, a escola deve apenas cumprir com o seu papel de preparar os indivíduos para o mercado de trabalho (ou seja, deve ensinar exclusivamente matemática, português e ciências), não devendo perder tempo com discussões triviais como ética, cidadania e política. O seu discurso assume em muitos momentos uma postura preconceituosa. Relaciona indevidamente o fracasso escolar a quantidade inferior de aulas das disciplinas ditas “fundamentais”, e não a qualidade do ensino. A educação de qualidade (aquela que capacita o futuro trabalhador), por dividir o espaço e a atenção dos alunos com matérias irrelevantes (como filosofia e sociologia), paradoxalmente aumenta o abismo entre pobres e ricos, uma vez que os primeiros sempre estão em déficit educacional em relação aos últimos. Esse déficit educacional determinaria assim as condições sociais dos indivíduos. Sem foco e assumindo uma agenda extensa, a escola tenta “formar o cidadão virtuoso e o aluno de raciocínio afiado e com conhecimentos sólidos”. Ioschpe não visualiza a possibilidade de um sistema educacional que concilie cidadania e conhecimento, ignorando e desvalorizando a educação formadora do espírito critico acerca das contradições da dinâmica social que incidem bruscamente sobre

Page 24: revista boca de confissão

EDUCAÇÃO_________________________24_

os homens, proporcionando a mobilização dos indivíduos para a mudança do panorama atual. Essas sim influenciam o combate das desigualdades sociais. Só reclamam por seus direitos aqueles que são conscientes dos abusos sofridos.E por fim, não deixaremos de citar os argumentos mais sinuosos do seu discurso, altamente preconceituosos. Passagens como “É pouco provável que um aluno rico saia da 1ª série sem estar alfabetizado, enquanto é muito provável que o aluno pobre chegue ao 3º ano nessa condição. O aluno rico pode, portanto, se dar ao luxo de ter aula de música”, e “ É legítimo, embora estúpido, que a maioria dos brasileiros prefira uma educação que fracasse em ensinar a tabuada mas ensine bem a fazer um pagode”, falam por si só. São por essas e outras que devemos defender uma educação que contemple não somente a dimensão técnica, instrumental, mas também as dimensões política e humana, para que não sejamos ingênuos a ponto de sermos iludidos e influenciados por pessoas ou por veículos de comunicação mal intencionados.

SOBRE O A AUTOR

Daniel C. BuratoAluno de graduação em filosofia do CUSC – Centro Universitário São

Camilo

Page 25: revista boca de confissão

_CULTURA________________25_

CARAVAGGIO E SEUS SEGUIDORESMASP RECEBE A MAIOR EXPOSIÇÃO DO ARTISTA ITALIANO JÁ REALIZADA NA AMÉRICA DO SULO Museu de Arte de São Paulo (MASP) recebe, de 01 de agosto a 30 de setembro, a inédita mostra Caravaggio e seus Seguidores. Considerado o principal artista do estilo barroco, Michelangelo Merisi de Caravaggio é autor de obras renomadas como Medusa Murtola e o Retrato do Cardeal, ambas presentes na exposição.No total, seis obras-primas do italiano estão expostas, além de outras 14 obras de artistas diretamente influenciados por sua técnica, oscaravaggescos, como Artemisia Gentileschi, Bartolomeo Cavarozzi, Giovanni Baglione, Hendrick van Somer e Jusepe di Ribera.

EXPOSIÇÃO NA PELEEVENTO ABORDA A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA TATUAGEM NO BRASIL COM FOTOS DE CELEBRIDADES, DEBATES E DOCUMENTÁRIOSA Galeria Olido recebe, de 16 de agosto a 14 de dezembro, a exposição Na Pele - grupos que comunicam e se identificam pela tatuagem, reunindo documentários e debates em torno da presença da tatuagem no país.O corpo desenhado da atriz Mel Lisboa, do rapper Dexter, do chef Alex Atala, do comediante Rafinha Bastos e do apresentador Dudu Braga pode ser conferido em imagens seguidas de seus depoimentos, com outros vinte personagens, realizadas pelos fotógrafos Francisco Orlandi Neto e Sebastião Braga.Entre a exibição do documentário “O Brasil tatuado”, de Sebastião Braga, e de objetos que traçam a história da tatuagem no Brasil, o evento traz ainda dois debates, com escritores e galeristas, para discutir as razões que levam cada grupo de diferentes tribos urbanas a se tatuar.

LUIS ANTONIO - GABRIELACIA. MUNGUNZÁ DE TEATRO REESTREIA DOCUMENTÁRIO CÊNICO NO TEATRO JOÃO CAETANOO espetáculo Luis Antonio - Gabriela expõe experiências reais do diretor teatral Nelson Baskerville baseadas na figura do irmão homossexual. A Cia. Mugunzá de Teatro encena a história de Luis Antonio, desde seu nascimento em 1953 e a vida na cidade de Santos, até a mudança para a Espanha aos 30 anos e sua morte em Bilbao, onde viveu como Gabriela.O documentário cênico foi montado com base em documentos de Luis Antonio e em depoimentos de Nelson Baskerville e sua irmã Maria Cristina, além de Doracy, a madrasta dos irmãos, e de Serginho, cabeleireiro e amigo. A história dessa pessoa que se distanciou da família, assumiu outra sexualidade distante de casa, viveu como estrela da noite em uma cidade espanhola, era viciada em cocaína e convivia com o vírus HIV, será contada no Teatro João Caetano até 14 de outubro.

IMPRESSIONISMO: PARIS E A MODERNIDADEOBRAS-PRIMAS DO ACERVO DO MUSEU D’ORSAY CHEGAM AO CCBB EM TEMPORADA GRATUITAO Centro Cultural Banco do Brasil recebe, de 4 de agosto a 7 de outubro, Impressionismo: Paris e a Modernidade, com 85 peças inéditas no Brasil vindas diretamente do Museu d’Orsay.A exposição, que faz um panorama detalhado da pintura impressionista e pós-impressionista, conta com obras de artistas renomados como Claude Monet, Vincent Van Gogh, Jules Lefebvre, Édouard Manet, Paul Gauguin, Pierre-Auguste Renoir e Toulouse-Lautrec.Dividida em sete módulos, três são dedicados ao dia a dia na metrópole, com “Paris: a cidade moderna”, “A vida urbana e seus autores” e “Paris é uma festa”, e os outros quatro aos trabalhos de artistas que fugiram para uma vida mais bucólica: “Fugir da cidade”, “Convite à viagem”, “Na Bretanha” e “A vida silenciosa”.

EXPOSIÇÕES

TEATRO

Page 26: revista boca de confissão

_CULTURA________________26_

FILMES

INTOCÁVEISSUCESSO DE BILHETERIA NA FRANÇA, O FILME INTOCÁVEIS ESTREIA NO BRASILApós um acidente de paraquedas, Philippe, um rico aristocrata, contrata Driss, um jovem recém-saído da prisão para ser seu cuidador. Em outras palavras, a pessoa menos apropriada para o trabalho.Juntos, eles irão misturar Vivaldi e a banda Earth, Wind and Fire, dicção elegante e jazz de rua, ternos e calças de moletom.Dois mundos vão colidir e chegar a um acordo para que nasça uma amizade tão louca, cômica e forte quanto inesperada, uma relação única que irá criar faíscas e torná-los intocáveis.

NA ESTRADAWALTER SALLES ASSINA A VERSÃO CINEMATOGRÁFICA DO LIVRO DE JACK KEROUAC, QUE REPRESENTA GERAÇÃO BEAT DOS ANOS 1950Selecionado para a competição oficial do Festival de Cannes 2012, Na Estrada é assinado pelo brasileiro Walter Salles (Diários de Motocicleta) e baseado no livro On The Road, de Jack Kerouac. No elenco estão Kirsten Stewart (A Saga Crepúsculo), Kristen Dunst(Melancolia), Sam Riley e Garrett Hedlund Psicose, O Poderoso Chefão, Jules e Jim e Laranja Mecânica, com duração de três minutos cada. (Tron: O Legado).Ritmado por sexo, drogas e jazz, o longa traz a história do jovem escritor Sal Paradise (Riley), cuja vida é sacudida e inteiramente transformada pela chegada de Dean Moriarty (Hedlund), um jovem libertário e contagiante, vindo do Oeste com sua namorada de 16 anos Marylou (Stewart). Juntos, Sal e Dean cruzam os Estados Unidos em busca da última fronteira americana, ultrapassam todos os limites conhecidos.Na Estrada também narra a história de um bando de jovens extraordinários, Bull (Viggo Mortensen), Camille (Kirsten Dunst), Carlo (Tom Sturridge) e Jane (Amy Adams), que se libertaram do conformismo conservador de sua época para seguir seus próprios caminhos, impactando gerações até os dias de hoje.LIVRO

A insustentável leveza do ser Em A insustentável leveza do ser, o autor Milan Kundera retrata em seu romance quatro personagens e como são diametralmente opostos em seus valores, comportamentos, pensamentos e sentimentos. As histórias se confundem em um emaranhado de profundos sentimentos pouco revelados, mas profundamente refletidos. A obra - além de intrigante e, por vezes, erótica - revela pensamentos filosóficos questionados no cotidiano da vida comum.

Page 27: revista boca de confissão

OPORTUNIDADES________________27_

PROGRAMAS PROUNI E FIES:AÇÕES GOVERNAMENTAIS PARA O AUMENTO DO ACESSO E PERMANÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR.

 Por Daniel C. Burato

 Desde a criação do Prouni, mais de 1 milhão de estudantes ingressaram no ensino superior, sendo 67% contemplados com bolsas integrais. Em 2010 – data do último relatório publicado pelo Ministério da Educação – o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) contava com 532.303 contratos de financiamento de cursos de graduação. Veja a seguir as condições para adesão a cada programa e inscreva-se!

O PROUNI (Programa Universidade para Todos) foi criado em 2004 pelo governo federal e oferece bolsas de estudos em curso de graduação em instituições de ensino superior privadas, a brasileiros que ainda não possuam diploma nessa modalidade de ensino. A bolsa de estudo pode ser integral (para aqueles com renda familiar de até um salário mínimo e meio por pessoa) ou parcial (bolsa de 50% destinadas àqueles que possuam uma renda familiar de até três salários mínimos por pessoa). Para calcular a renda familiar, o candidato deverá somar a renda bruta mensal dos componentes do grupo familiar e dividir pelo número total dos seus integrantes. Vale ressaltar que, nos casos em que os contemplado com bolsa parcial do PROUNI não consiga arcar com o custeio dos outros 50% da mensalidade, este poderá se utilizar do FIES para dar seguimento aos seus estudos.Além das exigências já descritas, para inscrever-se no programa, o candidato deverá participar do ENEM e ter alcançado no mínimo 400 pontos de média no exame

Este encontrará, na página do programa, a relação das instituições de ensino superior participantes, bem como a relação dos cursos, os horários e o total de vagas ofertadas. O candidato concorrerá com outros que se inscreveram na mesma modalidade escolhida por ele (ou seja, mesmo curso, instituição e horário). A pré-seleção feita pelo programa é realizada de acordo com o número de vagas ofertadas em relação à nota dos participantes em cada modalidade; após a pré-seleção, as instituições convocarão estes candidatos para a comprovação dos dados apresentados no ato da inscrição do processo seletivo. Via de regra, as instituições não fazem provas ou testes com os selecionados pelo programa, mas é permitido que realizem seleção específica, desde que seja garantido a isenção de cobrança de taxa.O FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) destina-se aos alunos regularmente matriculados em cursos superiores não gratuitos que tenham interesse em financiar os seus estudos. A taxa de juros do financiamento é de 3,4% ao ano para todos os cursos. Para pleitear o financiamento, o estudante deverá atender os seguintes requisitos: I) não estar em situação de trancamento geral de disciplinas no momento da inscrição; II) não ter utilizado o FIES em outra ocasião; III) não ser inadimplente em relação ao Programa de Crédito Educativo (PCE/CREDUC); III)que a renda familiar mensal bruta per capita não seja inferior a 20%; e IV) que a renda familiar bruta não seja superior a 20 salários mínimos. As inscrições são feitas através do Sistema Informatizado do FIES (SisFIES). A instituição de ensino em questão deve ser participante do programa e ter conceito maior ou igual a 03 no Sistema Nacional da Educação Superior.Para maiores informações sobre o ENEM, PROUNI e FIES, acesse:

http://www.enem.inep.gov.br/ http://siteprouni.mec.gov.br/ http://sisfiesportal.mec.gov.br/