revista acadêmica gueto 4ª edição

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Com periodicidade de publicação semestral, é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa GUETO do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. O seu principal objetivo é publicar artigos, ensaios, debates, entrevistas, resenhas inéditos em qualquer língua sobre temas que contribuam para o desenvolvimento do debate educacional, bem como para a divulgação do conhecimento produzido na área, considerando as perspectivas da Inclusão e Cultura Corporal. É dirigida a pesquisadores, profissionais e alunos da Educação. A sua organização nas seções propostas permite a publicação de materiais sob diferentes formatos e naturezas. Os textos em outros idiomas, exceto o Espanhol, poderão ser traduzidos e apresentados na mesma edição. www.ufrb.edu.br/revistaacademicagueto/

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  • 1

  • 2

    Importante elemento concentrador do fluxo de pessoas e mercadorias, a feira livre,

    intensificava as relaes comerciais e sociais de Amargosa com os municpios vizinhos,

    atendendo os habitantes locais e tambm viajantes, oriundos de outros pequenos e grandes

    ncleos urbanos que se deslocavam para a cidade para vender e comprar mercadorias. Sempre

    funcionando aos sbados, os produtos ali comercializados carne seca, farinha, frutas, cereais,

    entre outros - advinham das reas interioranas da Bahia e da prpria regio de Amargosa, onde

    eram negociados no mercado local e escoados para zonas litorneas atravs da ferrovia. Pode-

    se afirmar que a feira livre, um dos elementos significativos que contriburam para tornar

    Amargosa em centro urbano dinmico polarizador de seu entorno. (LINS e RIOS )

  • 3

    SUMRIO

    1 - O CORPO FEMININO: UMA COSTRUO MIDITICA THE FEMAME BODY: A

    MEDIAL CONSTRUCTION

    Rosemeire Cerqueira da Silva dos Santos .................................................................................... 4

    2 FEIRA LIVRE DE AMARGOSA: SUA CONSTRUO, SUA HISTRIA

    Adriana Sandes Mota

    ngela Santana

    Neiva Silva Pinheiro .................................................................................................................... 14

    3 - A INCORPORAO DA LEI 10.639 NAS ESCOLAS PBLICAS DE ENSINO

    MDIO: UMA ANLISE DO COLEGIO ESTADUAL DA CACHOEIRA

    Elder Luan dos Santos Silva ........................................................................................................ 23

    4 - BOB MARLEY MUITO IMPORTANTE

    Thais Gomes Machado .............................................................................................................................. 37

    5 - JOVENS COTISTAS: UM ESTUDO SOBRE OS PERCALOS DA AFILIAO A

    VIDA UNIVERSITRIA DE ESTUDANTES NO RECNCAVO BAIANO.

    Michele Mota Souza ................................................................................................................... 45

    6 - LEI 10.639 DE 9 DE JANEIRO DE 2003 E LEI 11.645 DE 10 DE MAIO DE 2008: UM

    NOVO OLHAR SOBRE A EDUCAO AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E

    INDGENA NAS ESCOLAS.

    Ana Lcia da Ressurreio Santos

    Cind Nascimento Silva ............................................................................................................. 59

  • 4

    O CORPO FEMININO: UMA COSTRUO MIDITICA

    THE FEMAME BODY: A MEDIAL CONSTRUCTION

    Rosemeire Cerqueira da Silva dos Santos1

    RESUMO

    A mdia, em sentido amplo e distinto o espao, onde, atualmente, se constri padres e

    esteretipos de beleza estabelecendo assim, um modo de ser e de se viver em busca do corpo

    ideal. Este artigo busca fazer uma reflexo de como construdo e imposto o ideal de beleza

    feminino atravs dos vrios padres de beleza criados e divulgados pela mdia. A partir da

    reflexo sobre os padres de beleza apresentados pelas mdias, inclusive as digitais, aprofundou-

    se as discusses sobre o culto ao corpo perfeito e a imposio ao pblico feminino de um padro

    de beleza plastificado e artificial. Observou-se que, nessa exibio exacerbada do ideal do corpo

    perfeito h um discurso de ideologia machista e mercantilista que utiliza-se de um iderio de

    beleza perfeita e alcanvel para atingir seu pblico maior, as mulheres, que influenciadas pelos

    meios mediticos se rendem a beleza vendida.

    Palavras-chave: Mdia, beleza feminina, indstria de beleza artificial.

    ABSTRACT

    The media in general, builds stereotypes of beauty, and this way, women around the world

    search the ideal body and beauty through the media. This article pretends to give an advice or a

    warning, about the way that beauty is noticed, beauty that is imposed through the different media

    and that is revealed by the media. Even the online media have a permanent discussion about the

    body worship and a perfect body, and because of this, this matter has become a deep issue. And

    women are the victims, because the media impose a stereotype that is artificial and plastic. The

    ideal perfect body has been exacerbate by the sexist or chauvinist speech and marketing

    strategists who works with an ideal beauty, which aims to women, who influenced by the media,

    gave up because of all the marketing and sales managers.

    Key-words: Media, female beauty, artificial beauty industry.

    INTRODUO

    1Graduada em Letras pela Universidade do Estado da Bahia. Ps- Graduanda em Metodologia do Ensino da Lngua

    Espanhola (UNINTER). Professora de Lngua Espanhola. [email protected].

  • 5

    Desde os primrdios a preocupao com a beleza e com um corpo perfeito acompanha a

    humanidade. Fazendo uma pequena retrospectiva, percebemos que, na Grcia antiga, o corpo

    masculino era supervalorizado e o homem deveria mostrar sempre um corpo forte, exercitado. J

    na Idade Mdia, observar-se que ocorreu o contrrio, nesse perodo no era permitido nem aceito

    a exibio do corpo devido ao misticismo religioso que predominava na poca e o corpo

    feminino era smbolo do pecado e da impureza. No fim da Idade Medieval, surge o culto pelas

    belas formas corporais. No Renascimento fazia parte no s das converses sociais, mas tambm

    dos padres de beleza do corpo aristocrtico saber danar e, consequentemente, apresentar um

    corpo belo e esguio. Desta forma, percebe-se que para cada poca houve a imposio de um

    esteretipo de beleza aceitvel pela sociedade.

    Como podemos perceber a valorizao do corpo e a busca pela beleza no uma

    preocupao da sociedade atual, porm com o advento da imprensa e mais recentemente das

    mdias digitais a presso para o indivduo se adequar aos padres de beleza estereotipados se

    tornou mais intenso e neste cenrio que as discusses que permeiam a sociedade

    contempornea sobre o padro de beleza feminina imposta pelas mdias em que est inserido. O

    corpo feminino nesse contexto ganha um papel de destaque nos meios miditicos que buscam

    explorar ao mximo as performances corporais esculturais idealizada pela maioria das mulheres

    que sonham em ter o corpo perfeito, isto , sonham em ter um corpo igual aquele exposto nos

    programas de televiso e nos comerciais exibidos diariamente em todos os meios mediticos,

    inclusive os digitais.

    Este artigo busca identificar a imagem feminina apresentada pelos meios miditicos, bem

    como a influencia que os mesmos exercem sobre o imaginrio feminino fazendo uma reflexo

    sobre que beleza vendida as mulheres que papel foi / imposto a elas por essa fbrica de

    beleza opressora e artificial.

    O corpo feminino tem sido um dos principais produtos oferecido pela mdia publicitria,

    e com grande sucesso e aceitao. E esse corpo apresentado e ofertado diariamente vem cheio

    de exigncias e esteretipos que representam o ideal da beleza feminina imaginado pela

    sociedade contempornea.

    O corpo feminino vem evidenciando e representando as evolues que a sociedade vem

    passando ao longo dos tempos, e atravs dele e de suas leituras percebe-se com muita clareza as

    mudanas de hbito, valores e conceitos sociais.

    De acordo com Peruzzolo:

    Quando o indivduo olha um corpo atravs dos sistemas de

    circulao dos sentidos no grupo cultural, ele vai interpretar esse

    objeto ou evento como um corpo (humano) e no com um

    amontoado de linhas, formas, pedaos, cores, cheiros, etc, como se

    no fosse um caos de informaes. Um corpo uma construo

  • 6

    social e cultural, cuja representao circula no grupo, investida

    duma multiplicidade de sentidos. Esses sentidos por vezes

    reafirmam, por outras se ampliam ou remodelam e por, outras

    ainda, enxugam ou, mesmo, desaparecem. Mas de qualquer forma,

    as representaes se formam de acordo com o desenvolvimento

    humano num dado contexto scio- histrico. (PERUZZOLO, 1998,

    p. 86 apud Araujo, 2008, p.1)

    O corpo resultado de uma construo histrica e social, e neste espao to dinmico

    que se inscrevem as leis ditadas pela sociedade. Sobre isso Soares, corrobora que:

    [...] inscrio que se move e cada gesto aprendido e internalizado

    revela trechos da histria da sociedade a que pertence. Sua

    materialidade concentra e expe cdigos, prticas, instrumentos,

    represses e liberdades. sempre submetido a normas que o

    transformam, assim, um texto a ser lido, um quadro vivo que revela

    regras e costumes engendrados por uma ordem social. (SOARES,

    2001, p.109)

    Nessa perspectiva o corpo tambm uma construo social-cultural e histrica que est

    submetido a regras, normas e convenes sociais. O corpo constitudo na contemporaneidade

    um instrumento de liberdades e represses, um espao representante de padres de beleza

    impostos por determinados grupos sociais neste sentido Goldenberg (2002), afirma que o corpo

    um agente das diferenas sociais.

    A (DES) CONSTRUO DA IMAGEM DO CORPO FEMININO

    A conscincia da existncia do corpo feminino visto desde uma perspectiva social

    aconteceu quando ela deixou a obscuridade de sua casa e sai para a vida em sociedade

    passando assim, a exposio diria. Esse momento histrico desencadeou uma srie de

    questionamentos que por sua vez construram esteretipos que persistem at hoje.

    No momento que a mulher deixou o aconchego do seu lar e passou a trabalhar, estudar

    entre tantas outras coisas rompeu com muitas barreiras no visveis, porm sentidas na pele

    diariamente, uma vez que, aquela mulher domstica que muitas vezes no se preocupava com

    sua aparncia passou a tomar conscincia e a se apoderar de sua feminilidade.

    A sociedade brasileira nasceu em um bero patriarcal e sexista, e a imagem da mulher foi

    construda a partir destas vises onde a imagem feminina foi associada ou um objeto erotizado

  • 7

    ou a uma imagem de recatada dona de casa submissa a seu marido (Cobra 2002). Neste

    contexto, tambm se destaca o papel da igreja (representada pelo Cristianssimo) na construo

    da imagem de uma mulher casta e pura, onde o corpo era mantido e sufocado entre roupas,

    principalmente o corpo feminino, que era visto como smbolo de pecado e impurezas.

    Colling, considera que no h uma definio concreta para a mulher mais sim uma

    relao hierrquica de poder socialmente construda atravs do tempo.

    [...] o corpo feminino um texto histrico, escrito diversamente ao

    longo do tempo. Por este motivo, no existe um corpo feminino,

    no existe uma natureza feminina, mas uma cultura em que durante

    sculos as mulheres foram encaradas como seres naturais. A

    mulher, como o homem, algo produzido e no pode indagar ao

    fundo de si para resgatar uma essncia. No existe a verdadeira

    mulher, pois verdadeira e mulher so conceitos criados,

    portanto, aparncias, superfcies, produes. Sob os conceitos, no

    h nada que possa ser chamado mulher, mas somente relaes de

    poder e de hierarquia socialmente construdas. ( COLLING, 2014,

    P. 27)

    No sculo XIX, a liberao do corpo foi sendo construda gradativamente no cotidiano,

    principalmente dos burgueses que passaram a frequentar a praia como meio de distrao e

    pratica social e foi neste processo que o corpo foi sendo desnudado modificando alguns

    costumes e conceitos morais vigentes.

    Correspondendo as novas demandas sociais, de consumo e lazer as mulheres passaram a

    ampliar suas redes de sociabilidade. A intimidade do lar e o cotidiano que tradicionalmente

    representava o universo feminino foram gradativamente resinificados. As mulheres passaram a

    circular entre as lojas, confeitarias, vitrines, cafs, teatro, cinemas, etc e esse novo quadro social

    permitiu a mulher ver e ser vista.

    Dentro dessa ressignificao do universo feminino Del Priore (2000 apud calabresi

    2004), diz que a mulher do sculo XX, despiu-se nos diversos ambientes sociais e dentre eles as

    mdias, onde ao contrrio de tempos antigos que a mulher se escondia por trs de panos e a

    sensualidade era algo quase inocente.

    A CONSTRUO DO IDEAL DE BELEZA NOS MEIOS MIDITICOS

    Atravs dos sculos o homem evoluiu em todos os aspectos, inclusive na comunicao,

    saindo da comunicao pelo uso do fogo e corpo para chegar ao uso da tecnologia. Nas ltimas

  • 8

    dcadas a evoluo na comunicao deu um grande salto acrescentando ao uso da tecnologia de

    captao e repasse o mecanismo do uso das redes entre as mdias. Sobre este mecanismo de

    captao e repasse entra as mdias Santaella diz que:

    Outra caracterstica da cultura das mdias est no seu fator de

    mobilidade. Uma mesma informao passa de mdia a mdia,

    repetindo-se com algumas variaes na aparncia. a cultura dos

    eventos em oposio aos processos. Cultura do descontnuo, do

    esquecimento, de aparies metericas, em oposio aos contextos

    mais amplos e profundidade analtica. Quando absorvida pelas

    mdias, qualquer coisa, seja l o que for, passa a ter carter voltil:

    aparece para desaparecer ( SANTAELLA, 1996, p.36).

    A fala de Santaella, ilustrada com perfeio pela situao das Top models que ficam

    sujeitas as leis da mdias e que s permanecem em evidencia enquanto atendem, agradam ao

    publico e do retorno aos meios de comunicao. Ainda segundo a autora esse perodo vareia

    muito de mdia para mdia.

    Para Barbero (2003), a abertura proporcionada pelas mdias a todos os indivduos e algo

    de grande importncia e, os meios de comunicao em massa um divulgador extremamente

    eficiente das novas tendncias sociais.

    Durante o processo de evoluo dos meios de comunicaes, o homem deparou-se

    tambm com as transformaes ocorridas na estrutura social, a imprensa dedicada ao publico

    feminino ganhou mais espao e as informaes divulgadas pela mesma ganhou mais destaque e

    relevncia. Dentro deste novo contexto foi destinado a mulher o papel de se adequar/moldar as

    novas tendncias do mercado de beleza.

    Lipovetsky (2000), afirma que, com o crescimento da imprensa feminina surgiu uma

    nova maneira de falar sobre a aparncia feminina, e a lgica da produo-consumo-comunicao

    em massa faz parte deste processo trazendo novos conceitos e informaes sobre imagens de

    beleza feminina que at ento eram obra dos poetas, dos romancistas e dos mdicos, ou ento

    era de uma maneira menos formal segredos cochichados as escondidas entre as mulheres.

    Deste modo a beleza deixou de ser simplesmente aprecivel pelo prazer para torna-se

    quantificvel em forma de cifras. A beleza tornou-se mercadoria de luxo.

    H, atualmente, uma supervalorizao do corpo e das formas e, muitas vezes como esse

    corpo visto e julgado pelos outros define seu papel na sociedade. Segundo Calabresi (2004), h

    dois adjetivos que definem com clareza essa colocao: Bonito feio. Ainda segundo o autor

    dificilmente algum vai querer est classificado dentro do segundo termo, pois isso significaria

    no est dentro do padro esttico valorizado e aceito socialmente.

  • 9

    De acordo com Lipovetsky (2000), os apelos estticos so apresentados com maior

    intensidade s mulheres com a inteno de mant-las ocupadas com outras preocupaes, e isso

    tem ligao com a relao de poder entre os gneros. Dentro deste contexto, a mdia trabalha

    incansavelmente este contedo ( a beleza), at alcanar seu objetivo principal, o retorno

    financeiro. Nessa busca pela beleza agradvel aos olhos dos espectadores a mdia necessita cada

    vez mais de pessoas bonitas ( modelo, atriz, cantora, etc..), que atendam a essas exigncias de

    beleza. Porm, dentro de todo este cenrio a mdia cria uma falsa sensao de que todos podem

    chegar aquele idia de beleza apresentado despertando nas mulheres o desejo de alcanar o

    padro apresentado como perfeito

    Nessa construo corporal, a mdia cumpre seu papel de veculo de informao para a

    massa, divulgando modelos de beleza e instrudo sobre os meios necessrios para alcana-los.

    Porm, a mdia, produz e apresenta uma beleza fragmentada utilizando partes de diferentes

    corpos que atraem de alguma forma o pblico, formando assim, um corpo extremamente

    publicitrio. Nesta perspectiva Lipovetsky (2000), Afirma que esses corpos no passam de

    imagens passveis de apropriao.

    O corpo humano transforma-se naturalmente, porm nem sempre ele se transforma no

    que queremos e desejamos. Etcoff (1999 apud Calabresi 2004), afirma que a beleza um prazer

    bsico que est ligado ao bem-estar fsico emocional. Nessa perspectiva, h o desejo de realizar-

    se fisicamente e para isso busca-se a adequao a um padro de beleza j estabelecido. E, como

    esse sentimento de tentar alcanar a atratividade fsica busca-se meios para tentar melhorar a

    aparncia e a mdia o primeiro meio usado para informa-se. Dentro desta lgica a mdia oferece

    ao individuo ( especificamente a mulher) a oportunidade de escolher os melhores modelos de

    beleza para seguir.

    Nesta busca desenfreada pela beleza, as mulheres buscam igualar-se aos modelos ou a

    parte de seu corpo. Isso ocorre pela massificao da imagem do modelo palas propagandas,

    seriados, novelas, revistas, e mais recentemente pela mdia digital. Essa busca pela beleza e

    vivida diariamente por milhares de pessoas que buscam assemelhar-se ao modelo de beleza

    escolhido. Esse processo fruto da globalizao da beleza permitido pela mdia.

    As mdias potencializam ao mximo as imagens, porm como afirma Gitlin (2003), a

    grande fora no reside na potencializao da imagem, mas sim na repetio constante da

    imagem promovida pela mesma que, estimula as pessoas a buscarem cada vez mais serem

    parecidas aos modelos miditicos, reforando a ideia de esteretipos.

    Ento, as mulheres comuns, influenciadas por esse ideal de beleza amplamente divulgado

    e na tentativa de satisfazer seu desejo de torna-se igual s modelos, atrizes, cantoras etc (que

    supostamente so perfeitas dentro de um iderio de beleza) , escolhem muitas vezes uma parte

    do corpo da outra que mais lhe agrada, sujeitando-se a procedimentos cirrgicos para alcanar

    seu objetivo. Sobre a busca da mulher por uma melhor aparncia Lipovetsky (2000), diz que: o

  • 10

    triunfo esttico do feminino no subverteu em nada as relaes hierrquicas. [...] Sob muitos

    aspectos, pode-se sustentar que contribuiu para reforar o esteretipo da mulher frgil e passiva

    [...] (Lipovetsky, p.124).

    O espetculo da beleza feminina exposto constantemente nos programas televisivos,

    comercias, propagandas, series , tele novelas criaram e enraizaram no imaginrio feminino

    padres de belezas considerados perfeitos.

    Seno, como poderamos compreender os vrios comercias que utilizam incansavelmente

    a imagem da mulher de corpo escultural, pele perfeita, sorriso brilhante, sensual e fisicamente

    desejvel ou as telenovelas e programas que cada vez mais buscam colocar em destaque

    mulheres consideradas de beleza extraordinria ou ainda como poderamos compreender o uso

    tambm nas mdias digitais da imagem da mulher sensual de corpo perfeito.

    Estes modelos de beleza aparecem diariamente nas mdias atravs de imagens que entram

    e saem instantaneamente em um grande dinamismo, essa rapidez impede que a imagem seja

    analisada pelo telespectador/receptor com clareza de detalhes e racionalidade, isso favorece a

    criao dos padres de belezas

    Desta maneira, alguns questionamentos de Gitlin(2003), so muito pertinentes.

    [...] ser que as mdias nos fazem valorizar os bens materiais mais

    do que valorizaramos sem elas? Ser que as belas curvas das

    modelos que promovem os carros e os salgadinhos nos fazer querer

    ser mais magros, mais musculosos ou ter implantes de silicone?[...]

    (GITLIN, 2003, p.16)

    importante ressaltar que a mulher sofre presso de varias formas, com relao a seu

    corpo, e a mdia contribui para que essa presso aumente ainda mais sobre ela. A mdia exerce

    uma grande influencia no imaginrio feminino sobre o corpo perfeito quando exibe modelos de

    corpo escultural que atendem ao padro de beleza vigente, porm tambm vale mencionar que

    muitas vezes os corpos expostos so manipulados e modificados por programas de computao

    para vender a imagem do corpo perfeito e, por vezes, essa manipulao passa despercebida pelas

    mulheres que no conseguem ver a plastificao da beleza forjada.

    Um bom exemplo disso so as capas de revistas que trazem modelos, atrizes, cantoras

    (etc...) exalando felicidade e exibindo suas belas curvas que do inveja a qualquer mortal. A

    beleza apresentada, muitas vezes, parece debochar da capacidade de discernimento das leitoras

    desafiando-as a segui-las a transformar-se.

    Outro exemplo bastante pertinente que traduz com perfeio a colocao anterior so os

    comercias de cervejas e carros que sempre esto associados a imagens de mulheres fisicamente

    atraentes, sensuais e de corpos esculturais. Essas imagens so expostas pelas propagandas

  • 11

    televisivas, pelos outdoors e mais recentemente pelas mdias digitais de forma intensiva,

    associando assim, o corpo feminino a mercadoria pronta para ser consumida. Nessa perspectiva,

    fica claro a manuteno da submisso feminina s que dentro de outras configuraes onde se

    exalta os tributos fsicos estticos. Sobre isso Lasch, corrobora que:

    O corpo virou o mais belo objeto de consumo e a publicidade que

    antes s chamava a ateno para um produto exaltando suas

    vantagens, hoje em dia serve, principalmente, para produzir o

    consumo como estilo de vida, procriando um produto prprio: o

    consumidor, perpetuamente intranquilo e insatisfeito com a sua

    aparncia ( LASCH,p.32 apud Goldenberg, 2002).

    Sendo assim, no h como negar a intrnseca relao entre corpo e mdia, e a influncia que a

    mesma exerce sobre a construo dos esteretipos de beleza que permeiam o imaginrio das

    mulheres.

    CONCLUSO

    A cultura da beleza tenta vender uma idia que no real. No de se estranhar, a intensa

    divulgao do corpo por ele mesmo nos meios miditicos. Novelas, filmes, propagandas,

    programas de auditrio, etc., que utilizam o esteretipo do corpo perfeito, para alcanar seus

    objetivos. O ideal de beleza feminina estampado diariamente em todos os meios de

    comunicao. A mulher e convidada todos os dias de forma incansvel a sonhar em se

    transformar naquela personagem, modelo, atriz, cantora, etc... que exibe uma padro de beleza

    valorizado pela sociedade. Sobre isso Lipovetsky, relata que:

    Por intermdio da fotografia e da imprensa, os mais belos modelos

    de seduo so regularmente vistos e admirados pelas mulheres de

    todas as condies: a beleza feminina tornou-se um espetculo para

    folhear em papel brilhante, um convite permanente a sonhar, a

    permanecer jovem e embelezar-se (LIPOVETSKY, 2000, p.158).

    Nesta perspectiva, a nsia de agradar as exigncias estticas e de ser aceito dentro de

    terminado grupo social leva ao individuo, principalmente as mulheres, alvo mais frequente no

    assedio da mdia, a buscar maneiras, as mais diferenciadas, para tentar alcanar aquele modelo

    de beleza que lhe foi apresentado. Vale ressaltar que, muitas vezes no o real desejo do

    individuo parecer-se como aquele padro esttico apresentado, isso significa dizer que, muitas

  • 12

    vezes o real desejo esttico do individuo e colocado de lado em funo do querer pertencer a

    determinando grupo.

    Esta cobrana por uma esttica corporal perfeita agradvel e aceita pelo olhar social trs

    embutida uma srie de neoroses que influenciam, principalmente, a maneira de pensar e de ser

    das mulheres que, muitas vezes, pressionadas sentem-se obrigadas a atender as exigncias do

    padro de beleza imposto.

    Neste contexto, a mdia potencializa as imagens, porm como afirma Gitlin (2003), a

    fora no esta na potncia da imagem, mas sim na repetio promovida incansavelmente pelas

    mdias.

    Os programas televisivos exercem a funo de democratizao do papel esttico da

    mulher, como uma das grandes instituidoras da beleza feminina moderna, ao lado das estrelas do

    cinema (LIPOVETSKY, 2000, p.157), O fato de algumas mulheres no serem consideradas

    bonitas dentro dos padres de beleza apresentados acentua ainda mais a presena dos cones da

    beleza no cotidiano miditico , agravando a desiluso feminina quanto ao seu corpo, a seu perfil

    esttico.

    Desta maneira percebe-se que, as mdias influenciam diretamente nos desejos, sonhos e

    imaginrio feminino criando padres de beleza que so seguidos e admirados pela maioria das

    mulheres que buscam aceitao dentro de determinando meio social.

    Tambm fica evidente que os padres estticos criados e divulgados pelas mdias so

    padres, muitas vezes, irreais e inalcanveis, pois inmeras vezes os corpos expostos nas

    revistas, programas televisivos, novelas, comerciais etc passam por processo de manipulao de

    imagem nos famosos programas de tratamento de imagem( photoshop), as transformaes feitas

    so tantas que em muitos casos os corpos perdem totalmente a sua identidade individual

    mostrando-se at certo ponto plastificado e artificial.

    Porm, essa questes passam despercebidas pelas mulheres que desejosas de sentirem-se

    belas compraram a idia de beleza perfeita vendida pelas mdias e passam a valorizar o

    padro exposto ajudando assim, na criao dos esteretipos de beleza movimentando cada vez

    mais essa fbrica de beleza artificial.

    REFERNCIAS

    ARAUJO, Castilhos de Denise. Corpo feminino: construo da mdia? Revista digital, Buenos

    Aires. n.120, Maio. 2008. Disponvel em: http://www.efdeportes.com/ Acesso em: 05 de

    Jan.2015.

  • 13

    CALABRESI, Carlos Augusto Mota. Com que corpo eu vou? A beleza e a performance na

    construo do corpo miditico. Dissertao de mestrado. Instituto de Biocincias do Campus

    de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista. So Paulo. Rio Claro, 2004.

    COBRA, Marcos. Sexo & Marketing. So Paulo. Cobra Editora & Marketing, 2002.

    COLLING, Ana Maria. Tempos diferentes, discursos iguais: a construo do corpo

    feminino na histria. UFGD, 2014.

    GITLIN, T. Mdias sem limite: como a torrente de imagens e sons domina nossas vidas. Rio

    de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003.

    GOLDENBERG, M. & RAMOS, M.S. A civilizao das formas: O corpo como valor. In:

    GOLDENBERG, M.Nu e Vestido: dez antroplogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio

    de Janeiro: Record, 2002, p. 19-40.

    LIPOVETSKY, G. A terceira mulher: Permanncia e revoluo do feminino. So

    Paulo: Companhia das Letras, 2000.

    MARTN-BARBERO, J. Dos meios s mediaes: comunicao, cultura e hegemonia. Rio de

    Janeiro: UFRJ, 2003.

    SANTAELLA, L. Cultura das mdias. So Paulo: Experimento, 1996.

    SOARES, Carmem (org.) Corpo e histria. Campinas: Autores Associados, 2001.

  • 14

    FEIRA LIVRE DE AMARGOSA: SUA CONSTRUO, SUA HISTRIA

    Adriana Sandes Mota2

    Angela Santana3

    Neiva Silva Pinheiro4

    RESUMO

    O presente artigo aborda o papel da feira livre na organizao do espao da cidade de Amargosa-

    BA, considerando a evoluo geo-histrica no municpio, assim como, sociocultural e poltica,

    alm dos aspectos de distribuio, socializao posto que tal atividade destaca-se no cenrio

    regional por proporcionar a relao campo-cidade. A metodologia focaliza as fases de apanhado

    histrico, trabalho de campo e sistematizao dos resultados. Ademais se considera as feiras

    livres como fenmeno econmico e social antigo que remontam os primeiros agrupamentos

    humanos. Em Amargosa a feira livre tem se mantido por estabelecer um ambiente essencial para

    aquisio de produtos por seus populares e por ser um costume em toda regio. Ao longo dos

    anos a feira do atual municpio sofreu mudanas significativas que vo da sua localizao at a

    estrutura fsica. Sendo que a feira livre hoje uma das formas de comercializao mais

    frequentes na cidade, alm disso, um espao onde h uma interao entre os indivduos. Desta

    forma, as feiras-livres constituiu desde o incio at os dias atuais um marco em relao aos

    aspectos econmicos dos lugares onde trabalham, sendo, consequentemente, uma fonte vital de

    renda para garantir o sustento de seus parceiros comerciais, e conhecida como uma das

    possibilidades de garantir o abastecimento das cidades.

    Palavras-Chave: Feira livre. Espao Geogrfico. Campo- Cidade.

    ABSTRACT

    This article discusses the role of street market in the space organization of the Brazilian

    municipality of Amargosa in the State of Bahia, considering the geo-historical and the socio-

    cultural and political development in the city, in addition to its distribution and socialization

    assets, since this activity stands out in the regional scenario of Amargosa for promoting the rural-

    urban relationship. The methodology focuses on stages of historical overview, fieldwork and

    2Graduanda do VIII semestre do curso de Licenciatura em Pedagogia, pela Universidade Federal do Recncavo da

    Bahia, Centro de Formao de Professores -UFRB/CFP, Voluntria do Programa Institucional de Bolsas de

    Iniciao Docncia- PIBID e monitora de ensino de Currculo. E-mail [email protected]. 3Graduanda do VIII semestre do curso de Licenciatura em Pedagogia, pela Universidade Federal do Recncavo da

    Bahia, Centro de Formao de Professores -UFRB/CFP. 4Graduanda do VIII semestre do curso de Licenciatura em Pedagogia, pela Universidade Federal do Recncavo da

    Bahia, Centro de Formao de Professores -UFRB/CFP. E-mail [email protected]

  • 15

    systematization of the outcomes. Furthermore, the street markets are considered as ancient

    socioeconomic phenomenon dating back to the first human groups. In Amargosa the street

    market remains because it establishes an essential environment to the acquisition of goods by

    locals and because it is a tradition throughout its region. Over the years Amargosas street

    market has undergone significant changes ranging from its location to its physical structure.

    Today, since the street market is one of the most frequent ways of marketing in the city it is also

    a place where there is interaction among individuals. Thusly, the street markets constituted from

    the very start to the present days a milestone regarding the economical aspects of the places

    where they work, being consequently a vital source of income to ensure the livelihood of its

    traders, and is known as one of the possibilities to guarantee the supply of cities.

    Keywords: Street market. Geographic space. Countryside-City.

    1. INTRODUO

    As feiras-livres podem ser caracterizadas como fenmenos econmicos e sociais, tendo

    sido consolidadas na Idade Mdia entre Gregos e Romanos. Dessa forma, tais prticas, so to

    antigas que remontam aos primeiros agrupamentos humanos, desde que o homem deixou de ser

    nmade e fixou-se sobre a terra, domesticando animais e criando a agricultura. Vale destacar

    ainda que os primeiros registros de feira-livre so datados do incio da Era crist. O papel das

    feiras tornou-se verdadeiramente importante partir da chamada revoluo comercial.

    A feira- livre uma instituio econmica e uma prtica social, constituda de uma

    notria dimenso geogrfica. Segundo MOTT (1975), a feira- livre tem atribuies sociais,

    econmicas, culturais e polticas, onde compradores e vendedores se renem com a finalidade de

    trocar, vender ou comprar bens e mercadorias.

    Tendo como foco as feiras-livres, compostas basicamente por produtos agrcolas, mas

    que a partir do incio do sculo XXI passaram a apresentar uma maior diversidade de artigos fez-

    se necessrio realizar uma discusso sobre o processo de formao do espao, nesse caso do

    municpio de Amargosa-Ba.

    Sendo assim, o presente estudo pretende investigar a feira- livre de Amargosa-Ba levando

    em considerao as relaes sociais, econmicas, culturais e polticas presentes em seu mbito,

    bem como, compreender historicamente e geograficamente de que forma se deu a sua

    construo. Analisaremos a importncia desta atividade para a categoria de trabalhador intitulada

    feirante e para a prpria organicidade dessa cidade e a relao que ela estabelece com o

    campo. Nessa direo, foram identificados os aspectos invisveis que movem a feira-livre, os

    elementos de sustentao, da sobrevivncia dos habitantes, dos suportes de abastecimento e do

    substrato cultural que molda o modo de vida daqueles que dependem dessa prtica.

  • 16

    Nesse contexto, questionamentos foram levantados sobre o que marca a feira dentro de

    uma cidade. Como ela interfere na organizao do espao e promove bem-estar as comunidades

    onde est instalada? Como se d as trocas culturais na dinmica desse espao? Vnculos de

    sociabilidade se mantm nesses espaos?

    Nessa perspectiva, nos propomos a realizar um estudo sobre o papel da feira-livre na

    organizao do espao da cidade de Amargosa. O municpio possui populao de 34.340

    habitantes (IBGE, 2008), sendo que a uma parte da concentrao populacional se d no espao

    rural. A proporo da populao que vive no campo indica a importncia da vida rural no

    contexto do municipal, sendo a agricultura uma atividade econmica de subsistncia.

    Discutiremos os fatores que possibilitaram o surgimento da feira-livre do municpio.

    Identificando as mudanas ocorridas, os pontos positivos e negativos referentes a esta

    transformao e ressaltando as relaes existentes na feira- livre de Amargosa-Ba. Embora

    apresentando uma essncia econmica, a feira preenche tambm uma funo social, enquanto

    veculo de comunicao e expresso da cultura do povo, como afirma Almeida (1989, p. 103),

    por se configurar como lugar de encontro, reencontro e lazer para os que ali vivem e para os que

    passam.

    Para a constituio do presente trabalho optou-se, portanto, por uma pesquisa qualitativa,

    visto que LUDKE e ANDR (1986), ressaltam que A pesquisa qualitativa supe o contato

    direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situao que est sendo investigada, via

    de regra atravs do trabalho intensivo de campo. (p. 11)

    Inicialmente foi realizado um estudo bibliogrfico, anlises documentais, observaes,

    conversas informais com os feirantes e tambm com os consumidores, para entender como se

    deu a construo da mesma e os impactos causados pela mudana de espao fsico (Praa Iracy

    Silva para Praa Josu Sampaio Melo).

    Compreendemos que a conversa informal e as observaes utilizadas como tcnicas para

    coleta de dados, ao mesmo tempo em que valorizam a presena do investigador, tambm do

    espao para que o sujeito investigado tenha liberdade de participar e enriquecer a investigao.

    2. HISTRIA DA FEIRA LIVRE

    As feiras-livres existem desde a Antiguidade mais precisamente no Ocidente, a cerca de

    2.000 a.c. Logo aps a queda do Imprio Romano e com a tomada das rotas do comercio

    europeu as mesmas veio extino no ocidente, ms no deixaram de existir no Oriente. As

    feiras- livres s voltaram a existir no Ocidente quando houve a retomada das rotas comerciais

    europias aps as cruzadas. Assim, como no havia na poca um ponto de comrcio fixo as

  • 17

    feiras- livres dinamizavam a economia desses locais, como por exemplo, na Mesopotmia, no

    Egito Antigo, na Grcia Antiga, e na Roma Antiga.

    Como afirma Azevedo (2011) Com a expanso martima e comercial da Europa, a

    tradio das feiras foi levada para as colnias. Na Amrica Latina, existiam lugares que

    conheciam as feiras antes da chegada dos europeus, por exemplo, nos atuais Mxico e

    Guatemala. Em outros lugares, como no atual Brasil, as feiras eram uma inovao e

    desconhecidas da populao nativa. Portanto, as feiras livres brasileiras so heranas das feiras

    medievais portuguesas. (s/p)

    No Brasil, desde o perodo Colonial, as feiras-livres se fazem presentes como importante

    tradio cultural ibrica implantada pelos colonizadores em nosso pas. Nesse contexto afirma-se

    que as feiras medievais portuguesas, cuja periodicidade chegava a ser at semestral ou anual

    devido intensa e rigorosa preparao que exigiam, refletiram na organizao das feiras

    brasileiras. Como uma modalidade peridica de comrcio, elas desempenham um papel

    importante no abastecimento urbano e para o rural possibilitou que esse contingente

    populacional conseguisse vender o que excede em sua produo e ainda pudesse adquirir

    produtos os quais no produziam desde ferramentas a roupas e utenslios domsticos.

    nesse espao vivido que evoluem e se desenvolvem as relaes entre a cidade e o

    campo. E segundo Moreira, uma forma de estrutura em que gnero de vida e modo de vida

    se organiza centrado nos respectivos modos de produo (MOREIRA, 2005, s/p).

    No existe nenhum documento que mostre exatamente quando a primeira feira- livre foi

    criada no Brasil, h apenas um registro feito por D. Joo III em 1548 no qual o mesmo ordenava

    a criao das feiras- livres semanalmente nas colnias. Foi somente em 1732 que surgiu o

    primeiro registro oficial da existncia da feira- livre no pas, que foi a feira de Capoame,

    localizada no Recncavo Baiano. Logo as feiras livres se estenderam por todo territrio

    nordestino ligado produo de acar e da pecuria e cotonicultura. importante lembrar que

    as feiras no sculo XVIII e XIX no se resumiram apenas s do nordeste, houve notcias que

    algumas feiras de animais no interior de So Paulo, mais precisamente na cidade de Sorocaba.

    De incio as feiras- livres aconteciam por conta do comrcio e das festividades, logo se

    tornou fenmenos econmicos e sociais que se expandiram por todo pas, embora ocorreram

    algumas resistncias dos comerciantes locais, esses fenmenos veio se estabelecendo nas

    diversas cidades.

    Segundo Guimares (2010) No Brasil, o costume veio com os portugueses e h registros

    de feiras desde a poca colonial. Existia a presena das populares quitandas ou feiras africanas,

    que eram mercados em locais preestabelecidos que funcionavam ao ar livre. Vendedoras negras

  • 18

    negociavam produtos da lavoura, da pesca e mercadorias feitas em casa. Do mesmo modo, uma

    grande variedade de produtos que chegavam de navio era comercializada informalmente na

    Praa XV, no Rio de Janeiro. At que em 1711, o Marqus do Lavradio, vice-rei do Brasil,

    oficializou-as. (p. 06)

    3. CONTEXTAULIZAO HISTRICA DO MUNCIPIO DE AMARGOSA-BA

    A histria de Amargosa marca um perodo de apogeu, ainda pouco estudado, quando o

    Municpio se destacava enquanto principal plo regional de economia cafeicultora. At a dcada

    de 30. A cidade, beneficiada pelo comrcio do caf, obtinha uma posio de destaque na Regio,

    ficando conhecido como a Pequena So Paulo.

    A histria do municpio sinaliza um perodo de esplendor e de dinmica regional. A

    Regio de Amargosa, no incio do sculo XX era conhecida, por ser uma importante

    agroexportadora baseada na cafeicultura. A funo de centro regional lhe foi conferida, entre

    outros fatores, pela posio de entroncamento ferrovirio, ligando a regio do semirido com o

    litoral.

    A historicidade da regio que tinha como tradio o dinamismo econmico e social

    surpreende o professor Milton Santos que afirma:

    Uma excurso de estudos regio de Amargosa permitiu ao pessoal do Laboratrio de Geomorfologia e Estudos Regionais a surpresa de

    encontrar, rodeada por reas mais dinmicas, contagiadas pelo ritmo de

    vida da sociedade industrial contempornea, uma regio que tentamos

    crismar como sendo uma ilha de inrcia ou uma ilha de arcasmo. A

    surpresa se explica tanto de um ponto de vista emprico, como cientfico.

    O que at ento tnhamos ouvido falar de riqueza regional que contribuiu

    para criar uma sociedade local importante, cujos ecos perduram at hoje

    [...] (SANTOS, 1963, p. 01).

    Alm da ferrovia, que movimentava a cidade e tinha um dinamismo forte entre as

    regies, a feira- livre tambm se tornou um plo econmico para a cidade, permitindo que os

    agricultores das regies circunvizinhas e tambm da prpria regio se beneficiassem da feira

    com vendas e compras de produtos.

    4. FEIRA LIVRE DE AMARGOSA: DA HISTRIA A CONTEMPORANEIDADE

    A feira- livre do Municpio de Amargosa-BA ficava localizada no centro da cidade, na

    Praa Tiradentes, sua origem antiga e teve grande influncia no surgimento do prprio ncleo

  • 19

    urbano, ganhando mais importncia com a construo da estrada de ferro. De acordo com Weber

    (1979) apud LINS e RIOS (2010) o aparecimento das cidades est relacionado estreitamente

    com as feiras, que representavam o embrio de uma nova aglomerao humana a partir da

    atividade comercial. (p. 66)

    Importante elemento concentrador do fluxo de pessoas e mercadorias, a feira livre, intensificava as relaes comerciais e sociais de Amargosa

    com os municpios vizinhos, atendendo os habitantes locais e tambm

    viajantes, oriundos de outros pequenos e grandes ncleos urbanos que se

    deslocavam para a cidade para vender e comprar mercadorias. Sempre

    funcionando aos sbados, os produtos ali comercializados carne seca, farinha, frutas, cereais, entre outros - advinham das reas interioranas da

    Bahia e da prpria regio de Amargosa, onde eram negociados no

    mercado local e escoados para zonas litorneas atravs da ferrovia. Pode-

    se afirmar que a feira livre, um dos elementos significativos que

    contriburam para tornar Amargosa em centro urbano dinmico

    polarizador de seu entorno. (LINS e RIOS, 2010, p. 66-67)

    A feira- livre era estruturada na Praa Tiradentes at a dcada de 90, servindo como um

    ponto de comrcio da cidade, funcionando as quartas e sbados. Suas barracas eram montadas e

    desmontadas, grande parte delas ficavam ao cho. A Feira de Amargosa ocupava quase toda rea

    da Praa, sendo distribuda em partes. Na rea onde hoje a esttua do Cristo Redentor, existia a

    Igreja Matriz da cidade e todo restante do espao era ocupado pela feira.

    No local comercializava uma grande diversidade de mercadorias, dentre elas haviam

    verduras, frutas, feijo de corda, andu, mangal, legumes, farinha de mandioca, sacos de feijo e

    de milho, carne-de-porco e de carneiro, touinho, linguia, panelas e potes de barro, cordas,

    chapus de palha, esteiras, entre muitos outros.

    O espao por no ser asfaltado e est situado em um terreno acidentado, era

    desapropriado para a funo que tinha nos perodos de chuva, pois, formavam-se poas de lama

    junto com as mercadorias. Nesta poca o meio de transporte mais comum dos feirantes eram

    animais, que defecavam pelas ruas e o mau cheiro era constante, sem contar que o espao era

    pequeno, as barracas ocupavam boa parte das vias de acesso entre os bairros da cidade.

    Em decorrncia disto, em 1996a partir de um projeto, a Prefeita Iraci Silva deslocou a

    feira-livre para a Praa Josu Sampaio Melo, onde est instalada hoje. A mesma foi estruturada e

    organizada de forma diferente do modelo antigo, com barracas permanentes, construo de

    tijolos e azulejos, e pavilhes onde so vendidos alimentos como: milho, feijo, farinha de

    mandioca, goma, beijus, farinha de tapioca, entre outros.No espao anterior no existia divisrias

    para categorizar os produtos como: carnes, utenslios domsticos, confeces, hortifrti, gros,

    etc. Ento, com a mudana ocorrida este foi um dos pontos positivos constatado.

  • 20

    Embora a feira-livre de Amargosa tenha recebido uma grande transformao em relao

    ao espao e organizao, ainda foi necessrio realizar outra reforma para melhor atender aos

    consumidores e aos prprios comerciantes. Foi colocado em torno do ambiente, grades de

    proteo e uma cobertura contra chuva. Faz-se necessrio falar a respeito da melhoria ocorrida

    no setor das carnes que antes eram vendidas sobre o piso das barracas e expostas ao ar livre, sem

    uma higienizao adequada, e hoje com a mudana h cmaras refrigeradoras para alm de

    conservar o alimento manter livres de ameaas que possam estragar o alimento. Esse novo reparo

    foi feito em 2014, na administrao da prefeita Karina Borges Silva buscando meios de

    reorganizar e adequar o espao juntos com os feirantes da cidade.

    Com relao limpeza da feira o que antes era um problema e foi um dos motivos que

    levou ao deslocamento da mesma importante salientar que aps o fim do expediente dos

    feirantes encaminhado uma equipe de limpeza na qual higieniza e reorganiza o local, dessa

    forma o ambiente fica adequado para boas condies de trabalho.

    As feiras- livres veio ao logo do tempo se firmando como um local de compra e venda de

    produtos diversos e para que houvesse uma organizao se pensou em subdividi-las, ou seja,

    nesses lugares alm de comprar e vender tornou-se um espao cultural, com Box de lanchonetes

    e restaurantes, aonde as pessoas vo para se alimentar e se divertir. Embora esteja subdividida

    por especificidades, a feira-livre se faz desse aglomerado de barracas em um nico lugar,

    contando tambm com vendedores que no possuem suas barracas, mas que expem seus

    produtos sobre o cho ou em pequenas mesas, locais improvisados, etc.

    Portanto o ambiente da feira um espao de troca de valores, de economia e tambm de

    interao social, transmitindo assim conhecimentos e saberes que so perpassados neste

    ambiente fortalecendo o processo e a histria da feira-livre da cidade de Amargosa-Ba.

    importante salientar a questo do espao geogrfico e sua valorizao econmica e

    social. Aps a implantao da feira- livre na Praa Josu Sampaio Melo, os espaos que antes

    eram pastos, resqucios de fazendas, se transformaram em loteamentos e supervalorizados, ou

    seja, com a chegada da feira- livre nesse espao, a valorizao geogrfica (de lugar), assim como

    sociocultural percebida por todos.

    Refletindo um pouco sobre espao como parte da produo social, a Geografia enquanto

    cincia que estuda a organizao e as interaes existentes no espao geogrfico, passa a

    desempenhar um importante papel neste cenrio atual, sobretudo, na busca da compreenso das

    relaes existentes entre o desenvolvimento regional e o desenvolvimento local. (LINS,2001,

    s/p).No caso da regio de Amargosa, durante muito tempo, a organizao do espao girou em

    torno da feira livre local. As novas relaes econmicas e sociais intervm nesse processo

  • 21

    redefinindo-o. O que observamos atualmente uma intensa valorizao tanto no setor

    habitacional quanto no comrcio.

    Diante disso, as feiras-livres constituiu desde o seu surgimento at os dias atuais um

    marco no que diz respeito a economia local dos lugares onde h a sua existncia, sendo esta uma

    fonte de renda indispensvel para garantir o sustento dos seus comerciantes, e conhecida como

    uma das possibilidades de garantir o abastecimento das cidades. As mesmas trouxeram tambm

    uma grande mudana tanto no quesito geogrfico quanto social, poltico e econmico.

    Sendo assim, entender-se que a feira- livre de Amargosa se constituiu historicamente de

    suma importncia. Hoje a feira- livre uma das formas de comercializao mais usuais da

    cidade, a mesma se destaca como centro de convergncia da produo regional, onde se renem

    produtores, intermedirios, caminhoneiros e outros agentes.

    5. CONCLUSO

    Muito embora a feira-livre seja um elemento comum na paisagem das cidades de um

    modo geral, e no caso de Amargosa-Ba tem um papel importante no contexto local, por

    estabelecer comunicao entre os lugares e trocas no apenas de produtos, mas tambm de

    informaes, possibilidades de lazer queles que vivem em localidades mais afastadas, alm de

    ser o ambiente dos pequenos produtores venderem seus produtos.

    Essa diversidade de produtos leva a configurao da feira como movimento, pois ela no

    a mesma a cada dia que se processa. As barracas mudam, bem como os feirantes que nem

    sempre so os mesmos, principalmente em um local onde no h restries para a aceitao de

    novos vendedores.

    Todavia ao longo dos anos a feira de Amargosa Ba sofreu alteraes significativas.

    Desde a sua localizao at sua estrutura fsica. Sendo que a feira-livre hoje uma das formas de

    comercializao mais frequentes na cidade, alm disso, um espao onde a uma interao entre

    os indivduos.

    Embora essa feira exera uma inexpressiva influncia no contexto econmico da regio,

    observamos uma caracterstica importante como lugar dos encontros, das tradies, das

    conversas, das compras, vendas e permutas, enfim das mltiplas territorialidades, sejam

    econmicas ou culturais, tecidas pelos Amargosenses em consonncia com outros sujeitos

    sociais da cidade e de municpios vizinhos.

    Gostaramos de enfatizar acerca da alterao de espao da feira- livre, que trouxe

    benefcios para os feirantes, que antes montavam suas barracas ao ar livre, sujeitos a transtornos,

    como tempestades entre outros, que por muitas vezes causava prejuzos parcial e at mesmo total

  • 22

    dos produtos. O conforto da mudana de local, tambm foi percebido pelos consumidores, pois a

    nova estrutura alm de proporcionar um espao maior, com facilidade de locomoo, percebe-se

    tambm a questo da higiene que deve ser fundamental, esse espao est contemplando.

    Por tanto, compreendemos que a feira- livre no Municpio de Amargosa uma das

    principais fontes de renda da cidade, sendo a propulsora do crescimento da mesma, assim como,

    a grande abastecedora dos municpios circunvizinhos, sendo responsvel por grandes avanos

    poltico-social e tambm cultural.

    REFERNCIAS

    AZEVEDO, Francisco Fransualdo de; QUEIROZ, Thiago Augusto Nogueira de. As feiras livres

    e suas (contra) racionalidades: periodizao e tendncias a partir de Natal-RN-Brasil.

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    Salvador: Comisso de Planejamento Econmico, 1963. SILVA, Maria das Graas da. Feira

    de So Bento em Cascavel CE (Festa a Cu Aberto). Dissertao (Mestrado em Sociologia),

    UFC, Fortaleza, 2008.

  • 23

    A INCORPORAO DA LEI 10.639 NAS ESCOLAS PBLICAS DE ENSINO MDIO:

    UMA ANLISE DO COLEGIO ESTADUAL DE CACHOEIRA

    Elder Luan dos Santos Silva5

    RESUMO

    Com a aprovao das leis 10639/03 e 11645/08 que alterou a lei 9394 de 20 de novembro de

    1996, o estudo da cultura Afro-Brasileira e Indgena tornou-se obrigatrio em todos os

    estabelecimentos de ensino fundamental e mdio, sendo especificamente abordados dentro das

    disciplinas de Histria, Literatura e Arte. A obrigatoriedade do ensino faz com que os

    professores voltem seus olhares para a Histria da frica, as contribuies e as relaes

    socioculturais e econmicas com este continente que por muito tempo foi esquecido na Histria

    do Brasil, contribuindo assim, para que os estudantes de um modo geral, e em particular a

    populao negra, tenha conhecimento de sua histria e da importncia social, econmica, poltica

    e cultural de seus antecedentes na construo e formao do pas. Diante do exposto, esse

    trabalho objetiva realizar uma reflexo terica, baseada na literatura nacional e na anlise da

    abordagem feita sobre a frica, os africanos e afrodescendentes no componente curricular de

    Histria do Colgio Estadual da Cachoeira,no intuito de entender como vem se dando o ensino

    de Histria da frica e Cultura Afro-Brasileira na cidade de Cachoeira, refletindo sobre as

    dificuldades e avanos do ensino, desde a aprovao da lei, at os dias atuais.

    Palavras-chave: CULTURA AFROBRASILEIRA; HISTRIA DA FRICA; ENSINO;

    EDUCAO.

    ABSTRACT

    With the approval of laws 10639/03 and 11645/08 which amended the 9394 Law of 20

    November 1996, the study of Afro-Brazilian and indigenous culture became mandatory in all

    primary schools and secondary, and specifically addressed within the disciplines of History,

    Literature and Art. The mandatory teaching makes teachers turn their eyes to the history,

    contributions and members, cultural and economic relations with this continent that has long

    been forgotten in the history of Brazil, thus contributing to the students in a way general, and in

    particular the black population is aware of its history and the social, economic, political and

    cultural life of their background in building and training the country. Given the above, this study

    aims to perform a theoretical reflection, based on national literature and analysis of the approach

    made about Africa, Africans and African descendants in the curricular component of History of

    State College waterfall in order to understand how has been giving teaching African History and

    Afro-Brazilian Culture in the city of Cachoeira, reflecting on the difficulties and advances in

    education since the adoption of the law, to the present day.

    KEYWORDS: AFRO-BRAZILIAN CULTURE; AFRICAN HISTORY; EDUCATION;

    EDUCATION;

    INTRODUO

    O que sabemos sobre frica? assim que Anderson Oliva inicia seu texto A Histria

    da frica nos bancos escolares. Representaes e imprecises na literatura didtica publicado

    5Graduado em Licenciatura Plena em Histria pela Universidade Federal do Recncavo da Bahia,petiano egresso do

    grupo PET-Conexes de Saberes Acesso, Permanncia e Ps Permanncia na UFRB. [email protected]

  • 24

    em 2003 pela revista Estudos Afro-asiticos, e com essa mesma pergunta que inicio minha

    reflexo! O que ns, eu e voc que est fazendo essa leitura, sabe sobre a frica?

    Foi em meio a essa reflexo, sobre o que eu, meus colegas de graduao e os professores

    de Histria e/ou Cultura afro-brasileira que atuam na educao bsica sabiam sobre a Histria da

    frica que me motivei a fazer essa pesquisa.

    Talvez, assim como j nos adianta Oliva em 2003, muitos de ns atrevamo-nos a

    formular uma resposta a essa questo, partindo, entretanto, do pressuposto que nas Instituies

    de Ensino Superior o ensino de Histria da frica j est efetivado, como no caso da

    Universidade Federal do Recncavo da Bahia, que desde 2006 inclui no seu currculo a

    disciplina de Histria da frica, acredito que seja fcil, ou no, para estudantes de Histria, que

    tiveram em seus currculos o componente de Histria da frica descreveram em poucas palavras

    os conhecimentos que acumulamos at aqui sobre esse continente.

    No entanto, proponho refletirmos sobre como os alunos do ensino fundamental

    responderiam essa pergunta? Ou mesmo os professores do ensino bsico que atuam nessa rea,

    como formulariam suas respostas?

    Foram essas perguntas que tentei encontrar respostas no Colgio Estadual de Cachoeira,

    no seu programa de Cultura Afro-Brasileira e nos relatos dos professores, atravs da misso de

    realizar uma reflexo terica a respeito da incorporao da Lei 10.639/03 na referida escola,

    analisando em que aspectos a escola cumpre no s a lei, mas o seu papel educativo e social,

    contribuindo assim, para que os estudantes de um modo geral, e em particular a populao negra,

    tenha conhecimento de sua histria e da importncia de seus antecedentes na construo e

    formao do pas.

    Com base nos dados coletados, por meio dessas diferentes fontes de informao, esse

    estudo objetivou realizar uma reflexo terica:

    poltica curricular fundada em dimenses histricas, sociais,

    antropolgicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o

    racismo e as discriminaes que atingem particularmente os negros.

    Nesta perspectiva, prope divulgao e produo de conhecimentos, a

    formao de atitudes, posturas e valores que eduquem cidados

    orgulhosos de seu pertencimento tnico-racial descendentes de africanos, povos indgenas, descendentes de europeus, de asiticos para interagirem na construo de uma nao democrtica, em que todos,

    igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada (

    Parecer CNE, 2004, p. 9).

    Antes de refletir acerca dessa questo, acredito ser interessante, detalhar aqui o porqu da

    escolha do Colgio Estadual, para isso justificarei primeiro a escolha da cidade de Cachoeira.

    Cachoeira, localiza-se no Recncavo da Bahia, a 133Km de Salvador. O Recncavo a principal

    detentora da cultura afro-descente no estado da Bahia (LESSA,2012) e tem sua populao

    majoritariamente negra. O caso de cachoeira em que segundo dados do IBGE 87% da populao

  • 25

    declara-se negra ou parda, e boa parte da populao membro de religies de matrizes africanas,

    e tem prticas culturais estreitamente influenciadas pela cultura africana e afrodescendente. Com

    isso, espera-se, ou esperar-se-ia que Cachoeira fosse referncia no estudo da Histria da frica e

    da cultura africana e afrodescendente.

    Foi a partir dessas suposies, constataes e reflexes que me motivei a refletir sobre a

    efetivao das leis que obrigam o ensino de da cultura Afro-Brasileira e Indgena, focando

    principalmente no Colgio Estadual da Cachoeira, por ser o maior colgio da cidade, e um dos

    espaos de construo de conhecimento e de formao de grande parte dos cidados

    Cachoeiranos.

    sabido que j se passaram dez anos da aprovao da Lei 10.639/03, entretanto sabemos

    tambm que esses dez anos, ao tempo que significam enormes avanos naquilo que tange ao

    ensino de Cultura Afro-brasileira e indgena, expressam tambm um possvel retrocesso, no que

    se refere efetivao com xito e sem esteretipos do ensino de frica nas escolas.

    Aumentou-se a pesquisa e o financiamento desta na rea, cresceu o nmero de ps

    graduao em estudos africanistas, inseriu-se a disciplina de Histria da frica nos cursos de

    graduao em Histria, aumentou-se a formao de professores,a produo cientfica, entretanto,

    algum problema ainda no detectado faz com que esse novo conhecimento sobre o continente

    Africano no chegue, ou em muitas vezes chegue ainda estereotipado e marginalizado nas salas

    de aulas da educao bsica (OLIVEIRA, FERDO, 2010).

    A pesquisa se deu da seguinte forma: no primeiro momento, dediquei-me a leitura e

    levantamento de dados encontrados na literatura acerca da obrigatoriedade do ensino de Histria

    da frica e Cultura Afro-Brasileira, especificamente aquilo que tange a sua implementao na

    sala de aula e no cotidiano escolar.

    Para isso, foram utilizados como elemento de anlise a produo cientfica nacional entre

    os anos de 2003 e 2012, disponvel no banco de dados Scielo, CAPES e LILACS.O segundo

    momento foi o do contato com o Colgio Estadual da Cachoeira, com o componente curricular

    de Cultura Afro-brasileira, e especificamente com os professores que ministram a disciplina

    estudada.

    DAS PRODUES CIENTFICAS SOBRE A APLICABILIDADE DA LEI 10.639 E O

    ENSINO DE HISTRIA DA FRICA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA

    Por meio de um levantamento realizado no Banco de Teses da capes, foi possvel notar

    que entre os anos de 2003 e 2012 foram publicadas 56 teses que se propem a discutir a

    Educao Antirracista e Ensino de Histria da frica e Cultura Afro-brasileira. Classificando a

    quantidade de teses com relao ao ano de publicao, tm-se os seguintes dados:

  • 26

    ANO TOTAL

    2003 1

    2004 0

    2005 1

    2006 2

    2007 8

    2008 10

    2009 10

    2010 14

    2011 9

    2012 0

    A partir desse quadro, e segundo o Banco de Teses da CAPES, que rene cerca de 460

    mil teses e dissertaes defendidas em programas de ps-graduao do pas desde 1987,

    podemos perceber que, somente aps a aprovao da lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003, que

    se comeam as publicaes e estudos sobre as questes ligadas ao ensino de frica e cultura

    afro-brasileira nas escolas Brasileiras.

    Entretanto, as teses publicadas entre 2003 e 2006 se propem apenas a discutir o limite

    do racismo dentro das escolas, pautando questes que refletem e propem prticas antirracistas

    no sistema educacional do pas, sem objetivamente adentrar no campo do ensino de frica ou

    mesmo da cultura afro-brasileira.

    O primeiro trabalho que se prope a analisar e discutir a Lei 10.639, foia tese de mestrado

    da pesquisadora Rute Martins Valentim, O ensino da Historia da frica e a atualidade da

    questo na escola: entre a existncia da Lei n 10.639/03 e o fazer pedaggico do educador.

    Em seu trabalho, Valentim(2007), versa sobre as questes tnico-raciais e o fazer da escola

    frente s manifestaes de discriminao e racismo dentro do espao escolar.

    Nesse mesmo ano de 2007, mais sete pesquisadores publicaram teses sobre os estudos da

    Lei 10.639. a partir da, que comeam a serem publicadas, ainda que de forma tmida, as

    pesquisas sobre a obrigatoriedade do ensino da histria do continente africano. Caracterizo como

    tmido por que, caso comparemos o nmero de publicaes sobre o Ensino de Histria da frica

    com o nmero de teses publicadas sobre o continente africano, perceberemos que os estudos

    sobre especificidades da fricae de sua Histria esto muito mais avanados que os estudos e

    publicaes sobre o ensino.

    Retomando a anlise das teses publicadas entre 2003 e 2012, que esto disponveis no

    banco de teses da CAPES, percebemos que 60% (39 teses) das pesquisas publicadas,

    objetivavam-se apenas a analisar e diagnosticar as prticas de ensino, enquanto apenas 30% (17

  • 27

    teses) tinham como objetivo discutir e propor novas metodologias e abordagens serem feitas

    sobre a frica e a Cultura Afro-Brasileira na sala de aula.

    Com isso, podemos perceber que a grande maioria dos estudos ainda esto preocupados

    em avaliar como vem sendo o ensino, sem de fato, proporem ou apresentarem novas

    possibilidades. No que o processo de analise e diagnose no seja importante, entretanto, no

    basta que s diagnostiquemos o problema, preciso tambm que encontremos solues para

    sanar aquilo que no est dando certo.

    O mesmo pode ser percebido, quando se analisa os Anais dos trabalhos apresentados nos

    Simpsios Nacionais de Histria da Associao Nacional de Pesquisadores em Histria

    ANPUH. De 2003 a 2012 aconteceram cinco simpsios, pois os mesmos so bienais, e no total,

    foram apresentados 14 trabalhos sobre Ensino de Histria da frica e cultura afro-brasileira.

    Classificando por ano, essa publicaes tem a seguinte distribuio:

    ANO TOTAL

    2003 0

    2005 0

    2007 2

    2009 9

    2011 3

    Em 2003, de todos os trabalhos aprovados, apenas trs tratavam sobre a Histria do

    continente africano e nenhum abordava as questes de ensino. Em 2005, o nmero sobe para um

    total de sete trabalhos sobre a Histria da frica e mais uma vez nenhum trabalho sobre ensino

    foi apresentado.

    J em 2007, pela primeira vez, o simpsio traz um grupo de trabalho sobre frica, o que

    faz com que o simpsio tenha dezesseis trabalhos selecionados que tratam do continente

    africano, e pela primeira vez tenha dois trabalhos que abordem as questes do ensino de Histria

    da frica e Cultura Afro Brasileira.

    Em 2009, a produo sobre frica sobe ainda mais, pois o simpsio conta com trs

    simpsios temticos que tratam especificamente do Continente africano, sendo que um deles

    possibilitava o envio de trabalho sobre experincias e estudos ligados educao. Acredito, que

    por isso, que em 2009 tenham sido apresentados nove trabalhos apresentados sobre a lei 10.639

    e os seus desdobramentos. Em 2011, o ltimo simpsio realizado pela ANPUH, esse nmero cai,

    e segundo os anais, apenas trs trabalhos trataram do Ensino de Histria da frica.

    Alm disso, mais um importante veculo de difuso de conhecimento, a Revista

    eletrnica de Histria e Ensino Histria Hoje, da Associao Nacional de Histria ANPUH,

    trouxe em seu primeiro volume, lanado em julho de 2012, um dossi temtico intitulado de

    Ensino de Histria da frica e Cultura Afro-brasileira. A revista divida em sete sesses, a

  • 28

    primeira, o dossi sobre Ensino de Histria da frica e Cultura Afro-brasileira, traz seis

    artigos, que se dividem entre refletir e propor mtodos para o Ensino de Histria da frica.

    Pensando acerca desses dados aqui apresentados, possvel concluir que, entre outras

    coisas, a lei estimula a produo cientfica sobre as experincias e possibilidades de

    aplicabilidade do Ensino de Histria da frica e Cultura Brasileira nas escolas.Nesse sentido,

    Alves (2007)sublinha que a implementao da lei gerou enormes mudanas no cenrio nacional,

    desde ao que tange a intensificao das lutas dos negros e negras no combate ao racismo, (vale

    ressaltar aqui que a sano da lei foi uma conquista do Movimento Negro, e no um presente do

    governo, como muitos ainda pensam) ao que se refere s transformaes pedaggicas necessrias

    para a real execuo daquilo que a lei prev.

    A insero do estudo das negras e negros do pas, assim como da sua e nossa

    ancestralidade, causa, impacta, polemiza e transforma a cultura escolar. No obstante isso, h

    necessidade de ampliao de polticas pblicas, que traga para o ambiente da sala de aula e do

    currculo escolar as discusses voltadas para o Ensino da Historia e Cultura Afro-brasileira e

    Africana. Conforme Bittencourt;

    Procura-se oferecer uma resposta na rea de educao, demanda

    da populao afrodescendente, no sentido de polticas de aes

    afirmativas, isto , polticas de reparaes, de reconhecimento e

    valorizao de sua histria, cultura e identidade. (BITTENCOURT, 2007

    apud Parecer CNE, 2004, p. 2)

    Para alm da obrigatoriedade do ensino, a lei proporciona uma verdadeira reflexo dos

    mtodos, dos contedos, de tudo o que foi feito at ento, gerando assim uma verdadeira

    revoluo no meio cientfico, obrigando, no s as escolas inserirem uma cadeira sobre frica,

    mas tambm as universidades, os encontros universitrios e eventos acadmicos, e todos, ou

    seno quase todos, os espaos de construo e troca de saber.

    A HISTRIA DA FRICA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS BANCOS

    ESCOLARES PS A LEI PASSAR A VIGORAR

    Logo aps a institucionalizao da obrigatoriedade da lei 10.639, em 09 de janeiro de

    2003, o Ministrio da Educao publicou as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educao

    das relaes tnico-raciais e para o ensino de histria e cultura afro-brasileira e africana. S pelo

    ttulo dado s diretrizes que devem, ou ao menos deveria pautar esse novo ensino da histria.

    Logo podemos pontuar que a aprovao da lei e a sua instituio nas escolas no visava apenas

    conhecer e estudar o continente africano, fator aqui j abordado e de extrema importncia para os

    estudos da histria, mas tambm educar os estudantes para as relaes tnicas raciais e prticas

    antirracistas.

  • 29

    Assim salienta Francisco Junior (2008), quando diz, que para alm de uma abordagem

    (des)europeizada, a escola deve trazer a frica, os africanos e os afro-brasileiros para dentro da

    Histria.

    Precisamos superar a situao opressora. Desvelar as diferenas,

    valorizando-as como forma integradora dos diferentes povos, naes e

    grupos sociais, com direitos iguais de acesso aos bens e servios de que a

    sociedade dispe. Para tanto, alguns pontos importantes devem ser

    levados em considerao na educao, que tenha, tambm, como um dos

    pilares sustentadores o combate ao racismo.(FRANCISCO JUNIOR,

    2008)

    Diante desse panorama, a escola, que muitas vezes se constitui enquanto um espao de

    reproduo de desigualdades (JESUS, 2006), deve tambm se transformar, transformar seus

    mtodos e se pautar em uma educao antirracista, que alm de problematizar e repreender o

    racismo contribua na construo de uma sociedade menos discriminatria (FRANCISCO

    JUNIOR, 2008).

    A Educao das Relaes tnico-Raciais tem por objetivo a divulgao e

    produo de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores

    que eduquem cidados quanto pluralidade tnico-racial, tornando-os

    capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam a

    todos respeito aos direitos legais e valorizao de identidade, na busca da

    consolidao da democracia brasileira. (BRASIL, 2004, p.1)

    Oliveira Fernandes e Cacau Ferdo (2010), identificam em seu artigo Educao colonial

    e pedagogia antirracista e intercultural no Brasil de 2010, que o primeiro sentimento para com a

    leifoi de que a mesma para alguns significava concesso, para outros imposio (OLIVEIRA,

    FERDO, 2010). Os autores destacam em seu artigo que mesmo em meio aos conflitos que

    resultaram na aprovao da lei, grande parte dos professores ainda no conseguiam entender a

    necessidade de uma educao antirracista e uma histria no eurocentrada.

    um pouco do que Cavalleiro(2005) trazem sua pesquisa realizada em escolas de So

    Paulo. O autor relata que mesmo depois de dois anos da aprovao da lei, o racismo continuava

    sendo negado nas escolas e os professores continuavam a descartar os prejuzos que o mesmo

    tinha para toda a comunidade escolar, em especial para os estudantes negros e por isso no

    realizavam nenhum tipo de ao que visasse o seu enfrentamento.

    Tal postura, tanto da escola quanto dos professores mostra-nos, que no primeiro

    momento, ou melhor, nos primeiros anos aps a aprovao da lei, a mesma ainda no consegue

    se efetivar nas escolas.

    Outro a tratar dessa questo, Anderson Oliva (2006),em seu artigo A Histria da frica

    nos Bancos Escolares: representaes e imprecises na literatura didtica. Esse autor faz

    referncia Hebe Maria de Matos e o seu trabalho Ensino da Histria e a luta contra a

    discriminao racial no Brasil, e diz que mesmo com o suporte oferecido pelos Parmetros

  • 30

    Curriculares Nacionais, a Histria da frica continua mal contada e negligenciada at mesmo

    nas universidades, o que vem a impactar diretamente na educao bsica.

    Pensemos! Se a universidade, que atualmente o principal espao que temos para a

    formao de novos professores, no cumprir, ou como coloca o prprio autor, negligenciar o seu

    papel dentro da efetivao da lei, de que forma os profissionais ali formados trataro da frica

    em suas aulas?

    Por outro lado, mesmo em meio s dificuldades encontradas pelos professores,

    principalmente aqueles que j estavam a algum tempo nas salas de aulas, e pouco fazem ou

    conseguem fazer para alimentar a sua formao, a autora Roberta de Souza Alves, 2007, em seu

    trabalho de concluso de curso intitulado Ensino de Histria e cultura afro-brasileira e

    africana: da lei ao cotidiano escolar, relata as experincias de um programa do governo de So

    Paulo, Educando pela diferena, para igualdade, que tinha como objetivo auxiliar a prtica

    pedaggica do professor em sala de aula, naquilo que se refere implementao das medidas

    sancionadas pela lei 10.639.O projeto capacitava docentes da Rede Oficial de Ensino do Estado,

    tanto para o combate ao racismo, preconceito, discriminao, segregao e xenofobia, quanto

    formava os profissionais para o ensino de contedos de Histria da frica (ALVES, 2007).

    Em meios as vrias experincias, que nos servem para refletir como a lei foi e continua

    sendo recebida pelos professores do ensino bsico e mdio, ressalto aqui, que foram para esses

    os profissionais que o peso da lei se fez mais presente, fica cada vez mais escuro para ns que a

    resistncia lei se dava e se d, em muitos dos casos, porque mesma quebra com as narrativas

    eurocntricas, com a histria privilegiada e excludente, e traz para o debate em sala parte da

    populao que foi historicamente excluda at mesmo de ser contada na histria.

    Oliva (2003) salienta que esta resistncia, ou em outros casos a ousadia, as vezes positiva,

    as vezes negativa, de profissionais da educao abordar tais temas, se d justamente por que

    muitos dos professores da educao bsica que atuam na educao pblica hoje no foram

    oportunizados, de ter em seus currculos a cadeira de Histria de frica, o que faz, com que reste

    para os mesmos, no fazer, resistir em fazer, ou fazer malfeita a abordagem sobre a frica, os

    africanos e os afrodescendentes.

    Isso nos remota a um problema que talvez ainda seja atual, que o da formao de

    professores para a educao antirracista e de historiadores-professores, pois assim como destaca

    Oliva (2006), no consigo tambm conceb-los separados, habilitados para ensinar e estudar

    Histria da frica.

    Entretanto, no irei me ater a essa questo, por acreditar que existe um problema ainda

    maior. Dentre os artigos analisados, todos eles publicados entre 2001 e 2012, o que mais me

    chamou a ateno, principalmente os artigos de 2008 at o corrente ano, a constatao de que o

    ensino de Histria da frica e Cultura Afro-Brasileira ainda no esto sendo realizados com

    excelncia na maior parte do pas.

  • 31

    O que de certa forma, passa a ser contraditrio, j que a grande maioria, se no todos os

    cursos de Licenciatura em Histria do Brasil j tem em seus currculos a disciplina obrigatria ou

    optativa de Histria da frica.

    Se os egressos em Histria tiveram nos seus bancos escolares a cadeira de frica, o que

    faz com que esse conhecimento ainda no chegue s salas de aula? Como no minha inteno

    fazer um mapeamento nacional sobre essa questo, me aterei a realizar apenas esse

    questionamento. Pretendo, nesse estudo, analisar apenas o Colgio Estadual de Cachoeira, pelos

    motivos j citados no incio desse trabalho.

    A HISTRIA DA FRICA NO COLGIO ESTADUAL DE CACHOEIRA:

    METODOLOGIAS, ABORDAGENS E CONHECIMENTOS CONSTRUDOS

    O Colgio Estadual de Cachoeira, no possui uma cadeira especfica para o ensino da

    Histria da frica. Assim como na grande maioria das escolas, o Colgio cumpre a lei,

    entretanto, o estudo e ensino dos africanos, da cultura afro-brasileira, da luta do negro e a sua

    importncia na formao do Brasil fica a cargo nica e exclusivamente da cadeira de Histria,

    sendo esses assuntos incorporados nos contedos programticos do programa curricular da

    referida disciplina.

    Muitas escolas fazem uma interpretao equivocada e entendem que a obrigatoriedade

    estabelecida pela lei 10.639/2008 seria de responsabilidade apenas da disciplina de Histria,

    entretanto, o que a lei nos diz que os contedos referentes Histria e Cultura Afro-Brasileira

    devem ser ministrados no mbito de todo o currculo escolar. Como o currculo escolar, que por

    vezes encontra-se colocado como uma grade, que aprisiona tantos os alunos quantos os

    professores, se mostra inflexvel e de maneira geral, pouco aberto para mudanas, fica ento

    reservada a Histria, que por direito e dever deve historicizar, e no se esquecer mais da Histria

    dos negros e africanos que muito contriburam na Histria do Brasil.

    O Colgio Estadual da Cachoeira conta atualmente com dois professores de Histria. Os

    dois atendem todas as turmas de Ensino Mdio, que tem em sua carga horria 2h/a de aula

    histria por semana. A pesquisa foi realizada atravs de entrevista feita com os dois professores.

    O Colgio Estadual da Cachoeira conta atualmente com dois professores de Histria, os

    quais atendem a todas as turmas de Ensino Mdio, que tem em sua carga horria 2h/a de histria

    por semana. A pesquisa foi realizada atravs de entrevistas, baseadas em um roteiro semi

    estruturado, feita com os dois professores que atuam na supracitada escola.

    Quando questionados sobre a aprovao da incluso do ensino de frica nas escolas, os

    professores se mostraram favorveis lei.Para eles, o estudo da Histria da frica, dos africanos

    e da cultura afro-brasileira indispensvel para os estudantes, pois possibilita aos mesmos

    conhecerem e valorizarem as suas razes e a sua histria. Um dos professores salienta que a lei:

  • 32

    imprescindvel para todos, entretanto ela ainda mais especial para os

    alunos de Cachoeira, pois estamos tratando de ns mesmos, da nossa

    identidade, da minha histria e da histria deles,pois dentro da histria da

    nossa cidade, temos enormes contribuies dos negros trazidos da frica.

    Ns professores devemos colocar na nossa atuao em sala de aula os

    contedos referentes ao ensino de frica , por que estamos falando de

    cultura brasileira, e falar de populao brasileira falar da frica e suas

    inmeras contribuies para nossa formao, ou seja, tratar de ns

    mesmos, das nossas identidades. (2013)

    A lei contribui para a quebra de preconceitos que por muito tempo foram construdos e

    alimentados dentro da escola, por meio de uma cultura escolar eurocntrica, que sempre estudou,

    valorizou e civilizou os saberes provindos da Europa e condenou,estereotipou e folclorizou a

    cultura, os saberes e as tradies da populao negra (FERNADES, 2005). Trazer a Histria da

    populao negra para dentro das salas de aula contestar um lugar de direito que por muito

    tempo foi negado.

    Os currculos das escolas sempre silenciaram a cultura africana e excluram a

    participao do negro na formao do Brasil. Ao Europeu, sempre foi dado o lugar de superior,

    de uma cultura civilizada, aos Africanos restava s abordagens estereotipadas e a omisso da sua

    condio de sujeito histrico. A escola como um todo, alm de estar moldada nos padres

    eurocntricos desvalorizava a diversidade tnico-racial nos processos de formao

    (FERNANDES, 2005).

    Esta tem sido uma das grandes problemticas do Colgio Estadual da Cachoeira, que

    mesmo com a insero do Ensino de frica, este ainda no est regulamentado dentro do

    currculo. No existe um lugar especfico para os contedos que tratam do continente africano e

    dos seus descendentes, os mesmos passeiam por entre os contedos tidos como normais, o que

    dificulta o trabalho dos professores que trabalham nessa instituio.

    Quando questionados sobre a incluso dos contedos sobre a frica e os

    afrodescendentes, os professores responderam que sempre incluem essa temtica dentro das suas

    aulas. Entretanto, quando perguntou-se como e onde estes contedos esto colocados, os

    professores responderam que os mesmos encontram-se de forma de aleatria. De um lado, um

    dos professores trabalha com a histria temtica, do outro o professor faz uma abordagem

    contedista, porm, em ambos os mtodos de ensino assuntos ligados frica esto isolados e

    subordinados aos contedos ligados ao continente Europeu.

    No existe um currculo para a Histria da frica, e o currculo da escola compreende

    pontualmente os saberes, experincias, trajetrias e histrias da frica, dos africanos e afro-

    descentes. A Escola trabalha e assume a frica no componente curricular de Histria, entretanto

    de uma forma aleatria. O que se percebe que, devido obrigatoriedade da lei e da presso para

    que a mesma seja posta em prtica, os professores acabam apenas incluindo os contedos, sem

    de fato se preocuparem, ou at mesmo se atentarem para uma reflexo e contextualizao destes.

  • 33

    Para Wedderburn(2005), a Histria da frica e do seus povos possuem caractersticas

    especficas, e por isso necessrio que o professor adote uma abordagem transversal e

    transdisciplinar baseada, naquilo que ele chama de dupla diacronicidade, a) e b)

    adiacronicidadeextra-continental.

    Em outras palavras, o que Wedderbum(2005), est dizendo que o estudo da frica, dos

    Africanos, dos afrodescendentes deve ser estudado a partir de suas prprias estruturas. Para esse

    autor, a abordagem de contedos africanos precisa de:

    Um enfoque diacrnico que privilegie tanto as relaes interafricanas

    como a interao do continente com o mundo exterior permitir dar conta

    de fenmenos e de perodos que ainda se mantm na escurido e so

    lacunas do conhecimento mundial. Somente assim se podero descobrir

    as mltiplas maneiras pelas quais a evoluo dos povos africanos

    interferiu e/ou influenciaram eventos nas diversas sociedades do mundo e

    no somente o inverso, como se d o caso at agora. (WEDDERBUM,

    2005, p. 13)

    Ao contrrio do que o Colgio Estadual vem fazendo, que estudar a frica, as vezes

    isoladamente, as vezes subjugada ao continente europeu. O que possvel perceber, que

    mesmo passado os dez anos da aprovao, pelo menos no Colgio Estadual da Cachoeira o

    ensino de histria da frica, ainda no se encontrou. Isso se d muitas vezes, devido a o grande

    problema relatado pelos dois professores, que a formao continuada para a atuao nessa rea.

    sabido que durante toda a histria, assim como j foi dito diversas vezes nesse texto, a

    frica foi negligenciada. Isso, alm de contribuir com os ndices de evaso e de repetncia de

    crianas provenientes das camadas mais populares, implicou na formao de professores e

    contribuiu na manuteno dessa escola eurocntrica. Esses professores, que tiveram uma

    formao etnocentrada no continente europeu, se viram de mos atadas quando tiveram que

    aplicar a lei.

    Um dos professores do Colgio Estadual, quando questionado sobre as dificuldades de

    ensinar assuntos ligados a histria da frica, salienta:

    a formao dos professores ainda no segura, mesmo na Universidade,

    percebemos a carncia de disciplinas que contemplem o tema,

    normalmente so em nmeros insuficientes. Esse problema refletiu na

    pratica pedaggica, j que na formao no tivemos uma preparao

    ideal para isso. No entanto, tento atravs de outros meios e inclusive por

    questes pessoas, buscar adquirir mais conhecimento acerca dessas

    temticas. (2013)

    O que se pde perceber que esses professores, esto, assim como disse Anderson

    Oliva(2003),sendo ousados. Pois, segundo os mesmos, no h nenhum incentivo a formao, ou

    mesmo a especializao dos mesmos na rea. O governo pouco tem feito para contribuir com a

    excelncia do ensino, e esses professores em particular, que as vezes trabalham de 40 a 60 horas

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    semanais, no dispem nem de tempo, nem de recursos financeiros para buscar uma

    especializao.

    Em outro relato, um dos professores frisa que houve um investimento do governo por

    meio de um curso de formao que previa uma carga horria de 120 horas. Entretanto, segundo o

    entrevistado, a Secretaria de Educao do Estado reduziu o curso para 80 horas, visando uma

    economia de custos financeiros, uma vez que caso o curso tivesse sido realizado com a carga

    horria prevista, os professores teriam direito a um aumento de 5% de seu salrio mensal.

    A forma que eles encontram de se preparar e de organizar suas aulas atravs das

    experincias que adquiriram na graduao. Um dos professores teve na sua formao acadmica

    duas disciplinas obrigatrias que tratavam especificamente de assuntos ligados ao continente

    africano, o outro professor, por sua vez, no teve em seu currculo da universidade nenhuma

    disciplina que tratasse do tema. Porm, tanto um, quanto outro, diz se utilizar dos textos, das

    referncias, do contato com seus professores para buscar as fontes e assim preparar os contedos

    a serem abordados em suas aulas.

    Para ambos os professores entrevistados, a internet vem a ser um grande meio de

    obteno de informao. Os sites de pesquisa, as revistas eletrnicas, os peridicos de histria,

    os livros e textos disponveis online se configuram como uma alternativa para suprir as

    deficincias em suas formaes.

    Dentro daquilo que foi descrito pelos professores, foi possvel perceber que a escola

    cumpre, em partes, com aquilo que determina a lei. A frica, que estava silenciada,

    desconhecida e apenas figurava dentre o leque de contedos abordados pela disciplina de

    Histria, passa agora a ter um lugar dentro do programa curricular.

    Segundo os professores de Histria do Ensino Mdio do Colgio Estadual da Cachoeira,

    o Ensino da frica, no s valoriza a histria e identidade desses alunos, como contribui no

    combate ao racismo, ao preconceito e a discriminao. A disciplina de Histria assume um

    carter scio-formativo e acaba gerando pequenas transformaes em toda a escola.

    Talvez, o que nos reste questionar, seria se, de fato, essas experincias relatadas pelos

    professores, esto de fato acontecendo na rotina da escola. E mesmo que aconteam, se elas

    esto atuando na formao de uma conscincia histrica desses alunos, se esses saberes scio

    histricos esto de fato tornando-se conhecimento histrico escolar.

    Ademais, relato que essa pesquisa no compreendeu a entrevista com os alunos, nem

    mesmo a observao das aulas de histria. Apenas os professores e as suas experincias com a

    didtica da lei foram estudados e trazidos como dados para a const