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Residência para a terceira idade Dezembro/2016 ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 Residência para a terceira idade Andréa Pedrosa Vinagre – [email protected] Master em arquitetura e Iluminação Instituto de Pós-Graduação - IPOG João Pessoa, PB, 04 de março de 2016 Resumo O aumento da expectativa de vida da população tem sido uma realidade enfrentada por diversos países, o que demanda equipamentos e infraestrutura adequada. Diversos fatores influenciam tal fenômeno, tais como mudanças tecnológicas, evolução científica dos conhecimentos, mudança de hábitos, entre outros. Nesse contexto, a população brasileira também tem envelhecido. No entanto, o mercado da construção civil não tem acompanhando tal mudança e como resultado, essa população ainda carece de edifícios residenciais, institucionais ou comerciais adequados para suas reais necessidades. Diante dessa lacuna de propostas projetuais que contemplem também as necessidades deste grupo social, este trabalho tem como objetivo realizar um estudo sobre o tema da arquitetura residencial para idosos, de forma a aprofundar os conhecimentos acerca deste nicho de projeto, que embora seja classificado como arquitetura residencial, pode agregartambém características de arquitetura voltada para o cuidado da saúde e assim, apresenta especificidades que necessitam compreensão diferenciada. Para isso, fez-se necessário estudar a evolução desses espaços de moradia e o contexto social brasileiro, além de analisar estudos de casos bem-sucedidos no mundo todo que contribuem para o aprofundamento das particularidades inerentes a este grupo social. Ao final, percebe-se que há ainda uma defasagem na quantidade existente, assim como, nos investimentos financeiros para a construção desses espaços na sociedade brasileira, o oposto da realidade internacional, principalmente europeia. Palavras-chave: Arquitetura residencial. Moradia. Condomínio. Idoso. 1. Introdução A temática deste trabalho é a arquitetura residencial para idosos e como o projeto arquitetônico pode influenciar desde a sua saúde física aos relacionamentos sociais. Estudar a complexidade do envelhecimento, suas implicações e particularidades, torna-se tema cada vez mais relevante nos países em desenvolvimento, assim como nos países desenvolvidos, em virtude do grupo formado pela população idosa apresentar um crescimento maior em relação aos demais grupos etários. (DEUS, Suelma. 2010) Em um contexto de grandes mudanças sociais e econômicas, podemos destacar o crescimento significativo da expectativa de vida no Brasil e também ao redor do mundo, resultando em transformações nas formas de cuidado à população idosa, já que esse fenômeno reflete diretamente no sistema de valores e na configuração dos arranjos familiares, passando a enfraquecer os laços de solidariedade entre gerações.Todas essas mudanças têm implicações diretas no modo de morar do idoso, e revelam que

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Residência para a terceira idade Dezembro/2016

ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016

Residência para a terceira idade

Andréa Pedrosa Vinagre – [email protected] Master em arquitetura e Iluminação Instituto de Pós-Graduação - IPOG

João Pessoa, PB, 04 de março de 2016

Resumo O aumento da expectativa de vida da população tem sido uma realidade enfrentada por diversos países, o que demanda equipamentos e infraestrutura adequada. Diversos fatores influenciam tal fenômeno, tais como mudanças tecnológicas, evolução científica dos conhecimentos, mudança de hábitos, entre outros. Nesse contexto, a população brasileira também tem envelhecido. No entanto, o mercado da construção civil não tem acompanhando tal mudança e como resultado, essa população ainda carece de edifícios residenciais, institucionais ou comerciais adequados para suas reais necessidades. Diante dessa lacuna de propostas projetuais que contemplem também as necessidades deste grupo social, este trabalho tem como objetivo realizar um estudo sobre o tema da arquitetura residencial para idosos, de forma a aprofundar os conhecimentos acerca deste nicho de projeto, que embora seja classificado como arquitetura residencial, pode agregartambém características de arquitetura voltada para o cuidado da saúde e assim, apresenta especificidades que necessitam compreensão diferenciada. Para isso, fez-se necessário estudar a evolução desses espaços de moradia e o contexto social brasileiro, além de analisar estudos de casos bem-sucedidos no mundo todo que contribuem para o aprofundamento das particularidades inerentes a este grupo social. Ao final, percebe-se que há ainda uma defasagem na quantidade existente, assim como, nos investimentos financeiros para a construção desses espaços na sociedade brasileira, o oposto da realidade internacional, principalmente europeia. Palavras-chave: Arquitetura residencial. Moradia. Condomínio. Idoso. 1. Introdução A temática deste trabalho é a arquitetura residencial para idosos e como o projeto arquitetônico pode influenciar desde a sua saúde física aos relacionamentos sociais.

Estudar a complexidade do envelhecimento, suas implicações e particularidades, torna-se tema cada vez mais relevante nos países em desenvolvimento, assim como nos países desenvolvidos, em virtude do grupo formado pela população idosa apresentar um crescimento maior em relação aos demais grupos etários. (DEUS, Suelma. 2010)

Em um contexto de grandes mudanças sociais e econômicas, podemos destacar o crescimento significativo da expectativa de vida no Brasil e também ao redor do mundo, resultando em transformações nas formas de cuidado à população idosa, já que esse fenômeno reflete diretamente no sistema de valores e na configuração dos arranjos familiares, passando a enfraquecer os laços de solidariedade entre gerações.Todas essas mudanças têm implicações diretas no modo de morar do idoso, e revelam que

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edificações voltadas para o público da terceira idade, devem compor não só as redes de assistência e de saúde, mas também a de habitação, fazendo parte da infraestrutura da cidade.No decorrer desta pesquisa, percebeu-se que há uma grande variedade desse tipo de residência nos países desenvolvidos, podendo ou não estar vinculada às instituições de cuidado ao idoso. Já no Brasil, o número de residências especificamentevoltadas para a terceira idade é relativamente baixo, atendendo (com capacidade máxima) apenas a 0,5% da população idosa do país. Além disso, pode-se perceber uma disparidade muito grande na distribuição dessas instituições no território nacional, estando, a maior parte, concentrada na região sudeste com 63,5% do total de instituições, enquanto que na região nordeste existe apenas uma parcela ínfima de 8,5% (IPEA, 2011). A organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que, em 2025, existirão 1,2 bilhão de pessoas com mais de 60 anos, sendo que o “muito idoso“, de 80 anos ou mais, constitui o grupo etário de maior crescimento (MESSORA, 2006). Diversos estudiosos têm se preocupado com esta questão e estima-se que em 2025 o Brasil será o sexto país com a maior população de idosos no mundo (BRUM, TOCANTINS & SILVA, 2005 apud QUEIROZ, 2010). No Brasil estas mudanças já estão começando a serem sentidas e segundo oInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Brasil está deixando de ser um país de jovens. Isso é resultado da alta fecundidade observada nos anos 1950 e 1960, período conhecido como baby boom, aliada à redução da mortalidade em todas as idades em curso no país desde este período, assim como o aumento da expectativa de vida, que alteraram a composição etária e contribuíram de forma significativa para o processo de envelhecimento populacional.

Legenda:

Gráfico 1: Pirâmides etárias – divisão da população brasileira por idades em 1960, 2000 e 2010 Fonte: IBGE

De acordo com o Estatuto do Idoso, Art. 37: “O idoso tem direito à moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou privada”; entretanto, ainda existe resistência da população brasileira, quanto à internação em instituições de cuidado ao idoso, o que faz com que a grande maioria dos idosos procure alternativa, seja morando só ou com seus familiares. Em contrapartida, o mercado imobiliário ainda não se encontra apto para esta camada da população, conforme afirma o presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Imobiliários (IBEI), Paulo Viana, em entrevista para a revista eletrônica Redimob “o mercado imobiliário ainda não acordou para a oportunidade de atender este segmento da população”, visto que em outros setores da economia já se observa um movimento diferente(DEUS, 2010). Isso é constatado tanto nos imóveis existentes, como nos que

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estão sendo lançados atualmente, visto que não possuem a infraestrutura residencial adequada para moradia de pessoas com mais idade. Por essa situação, setorna por necessário a realização de reformas e adaptações de espaços, mas que nem sempre são viáveis e acabam por criar improvisações que põem em risco a saúde e a própria vida do idoso.Por outro lado, já há uma sinalização de que a realidade, aos poucos, está se alterando, por exemplo, o prazo para a aquisição de moradias antes estipulado pelas seguradoras em torno de 75 anos, agora é de 80 anos e 6 meses(DEUS, 2010). Diante destes fatos, o presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo sobre o tema de forma a aprofundar os conhecimentos acerca deste nicho de projeto, que embora seja classificado como arquitetura residencial, pode agregar também características de arquitetura voltada para o cuidado da saúde e assim, apresenta especificidades que necessitam compreensão diferenciada. Deste modo, justifica-se a sua importância por tratar de uma problemática atual e com projeções futuras que implica mudanças no modo de morar de todos que atingem a terceira idade. 2. Metodologia adotada Na elaboração do presente trabalho, foram seguidas as etapas de levantamento de dados e a análise dos dados. Para o embasamento teórico, foram realizadas pesquisas direcionadas à temática escolhida, através da leitura de livros, dissertações, monografias, artigos, materiais pesquisados na internet, etc. Após o levantamento, foram analisados todos os dados obtidos na primeira etapa para a elaboração do referencial teórico. Foi feito, ainda, um estudo analítico dos projetos correlatos de modo a obter informações acerca de relações espaciais e pessoais, programa de necessidades, dimensionamento de ambientes, sistemas construtivos, etc. 3. Referencial teórico Antes da análisedos correlatos, fez-se necessáriouma compreensão decomo esses locais surgiram e evoluíram ao longo do tempo, além de entender como se configuram as suas diferentes tipologias e o contexto sociocultural em que elas atuam no país.

3.1 Evolução dos espaços de moradia para idosos Na literatura não é possível identificar uma linha histórica da evolução das instituições asilares para idoso, o que é bastante destacado é a fundamental participação das associações religiosas, filantrópicas e de imigrantes nesta atividade (BORN e BOECHAT, 2006 apud CHRISTOPHE, 2009). O que se percebe é que na medida em que as sociedades se desenvolviam, separadamente e em épocas diferentes, as instituições de caridade ficavam mais específicas nos tipos de cuidados oferecidos. De acordo com Micheline (2009), no início os idosos não existiam na sociedade como uma parcela significativa, a divisão social era feita exclusivamente pelas condições financeiras, rico e pobre. Por isso, os asilos surgiram como uma forma de acolher a população pobre e necessitada, mendigos, órfãos, loucos, idosos, excluídos de maneira geral, através do trabalho das instituições religiosas. No mundo ocidental, o primeirogerontocômio(do grego géron, gérontos, velho + koméo, cuidar)parece ter sido fundado pelo Papa Pelágio II (520-590), que transformou sua própria casa em hospital para idosos (REZENDE, 2002 apud CHRISTOPHE, 2009). Somente quando os idosos começaram a surgir como grupo distinto na sociedade é que lhes foi dado um local de hospitalidade cujo maior exemplo registrado vem da Holanda,

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em 1606: a fundação do Hofjie, na cidade de Haarlem. Até hoje existem hofjies em funcionamento para acolher especialmente mulheres idosas (CHRISTOPHE, 2009). Essas instituições de residência de caridade passaram a se especializar, dividindo os seus beneficiários: crianças em orfanato, loucos em hospício e idosos em asilos. Atualmente encontram-se asilos em todo o planeta (BOIS, 1997, REZENDE, 2002, NOVAES, 2003 apud CHRISTOPHE, 2009). Alguns asilos que começaram abrigando idosos pobres dentro da ótica filantrópico-assistencialista foram perdendo este caráter e se tornaram instituições privadas, onde a grande maioria funciona como um mundo à parte, isolados do que acontece no restante da cidade.

3.2 Tipologiase suas aplicações no Brasil Como já foi dito anteriormente, o crescimento do número de idosos no Brasil gerou implicações na forma de moradia dessa parcela da população, o que fez com que surgissem outras tipologias de moradia. Essas novas tipologias, ainda que com capacidade de atender um pequeno número, buscam satisfazer, de forma mais específica, às necessidades do idoso, além de se adequarem melhor ao contexto sócio cultural do país. Para aprofundar os conhecimentos acerca deste nicho de projeto se fez necessário uma investigação dessas modalidades de moradias e como elas se configuram, conceituando-as em:

República: vem atender ao idoso em estado de vulnerabilidade social. É alternativa de residência para idosos independentes, organizados em grupos, viabilizada em sistema de autogestão, com número de moradores previamente estabelecido, que possuam recursos financeiros próprios. O serviço tem por objetivo proporcionar condições para que os idosos se organizem e encontrem uma alternativa habitacional diferente da institucionalização nos moldes asilar.

Casa-lar: Instituição mantida por órgãos governamentais e não governamentais, integrada por idosos, sob sistema participativo, em caráter residencial com ou sem suporte familiar, podendo ser gratuito ou não, tendo por objetivo a promoção do bem-estar e da autonomia do idoso, com capacidade máxima para 12 (doze) residentes.

Instituição de longa permanência: Instituição mantida por órgãos governamentais e não governamentais, destinada a proporcionar atenção integral em caráter residencial, com condições de liberdade e dignidade, cujo público alvo são as pessoas acima de 60 anos, com ou sem suporte familiar, de forma gratuita ou mediante remuneração.

Condomínio: Conjunto de unidades residenciais autônomas, distribuídas de forma vertical ou horizontal em terreno comum, obedecidas às prescrições para condomínio de acordo com a legislação federal em vigor. Além disso é um modelo já tradicional de moradia para a sociedade como um todo.

Percebe-se que as tipologias podem se diferenciar principalmente no tipo de assistência que o idoso irá receber no local e a quantidade de idosos que é assistida. Pode-se dizer, então que o modelo de casa-lar se assemelha, em menor escala, a umaInstituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), visto que é nessa categoria que se oferece cuidados mais específicos, especialmente para idosos que já não são mais capazes de desempenhar as atividades da vida diária. Uma pesquisa apresentada pelo IPEA em 2011, sobre as condições de funcionamento e infraestrutura das ILPI no Brasil, mostra que o número de instituições no Brasil é

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relativamente baixo, são 3.548 instituições operando com quase toda a sua capacidade (91,6% dos leitos estavam ocupados), mas que ainda assim apenas 0,5% da população idosa do país residem nelas. Além disso, pode-se perceber uma disparidade muito grande na distribuição dessas instituições no território nacional, estando a maior parte na região sudeste com 63,5% do total de instituições, enquanto que na região nordeste existe apenas uma parcela ínfima de 8,5%. Entre os anos de 1940 e 2009, mais intensamente nas últimas décadas, 2.897 novas instituições foram abertas, sendo que a maioria privada e com fins lucrativos. Apesar disso a grande maioria das instituições brasileiras ainda é de caráter filantrópico, incluindo as religiosas e leigas. Desse modo, as instituições brasileiras públicas ou mistas representam a menor quantidade existente, mostrando tanto a falta do interesse público para com este tipo de trabalho como a resistência da sociedade brasileira para esse tipo de instituição que em muitos casos ainda lembram os modelos asilares do passado. Muito embora as ILPI’s não possam ser consideradas instituições de saúde,esses serviços são os principais oferecidos por elas, além dos serviços de terapia ocupacional e psicológicos. Por outro lado, a oferta de atividades que geram renda, bem como de lazer e/ou cursos diversos, é baixa, predominando as atividades voltadas para as mulheres, que constituem 57,3% dos residentes. O papel dessas atividades é o de estimular algum grau de integração entre os residentes, e até mesmo, ajudá-los a exercer um papel social. Apesar de o enfoque das instituições serem voltado para os serviços de saúde a maioria dos residentes é independente (34,9%). Já as tipologias de República e Condomínio são semelhantes (embora que também em escalas distintas) pois atentem a idosos que ainda possuem autonomia para desempenhar as atividades da vida diária e são financeiramente capazes de se sustentarem. Elas surgem como uma alternativaa evitarou retardar a necessidade de institucionalização do idoso. Para estas tipologias entende-se que a terceira idade não mais se caracteriza por uma fase de senilidade, mas sim de pessoas dispostas física e psiquicamente, porém com limitações próprias da idade como: redução da capacidade visual e auditiva, dificuldade total ou parcial de locomoção, diminuição da estabilidade e lentidão nas reações defensivas (Cambiaghi, 2005 apud Ribeiro 2006). Deste modo, é oportuno observar que as residências dessas pessoas requerem uma infraestrutura diferenciada, pois embora apresentem quaisquer dessas dificuldades, essas pessoas também trabalham, dormem, fazem suas refeições e estudam, mas não o fazem com relativo conforto, segurança e satisfação como antes da velhice. A reestruturação das residências para idosos reduz esforços desnecessários, bem como acidentes domésticos, além de proporcionar uma melhor qualidade de vida ao idoso. Portanto foi escolhida a tipologia de Condomínio para ser aborda nos estudos de caso, visto que é uma modalidade muito difundida em países desenvolvidos, mas ainda muito recente no Brasil e pouco explorada em virtude da falta de interesse da iniciativa privada e morosidade das políticas públicas.

3.3 Terceira idade O Brasil tem cerca de 13 milhões de pessoas com mais de 60 anos, que são responsáveis por um terço dos atendimentos de lesões traumáticas nos hospitais segundo o SUS – Sistema Único de Saúde. Aproximadamente 75% destas lesões acontecem nas próprias casas dos pacientes, em quedas que poderiam ser evitadas em ambientes mais favoráveis, com um índice de melhoria da qualidade de vida bastante apreciável, já que 34% das quedas gera algum tipo de fratura. O trajeto do quarto ao banheiro, principalmente à

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noite, é considerado o de maior risco na moradia, pois se sabe que 46% das fraturas “domiciliares” são provenientes de acidentes ocorridos nesta situação. (Arquiteta Cybele Barros – Projeto Casa Segura: Uma arquitetura para a maturidade.)

A prática de exercícios físicos para pessoas acima de 60 anos é uma necessidade, que traz significativa melhora no condicionamento físico e mental, ajudando a retardar os sinais de senilidade. Quem chega à terceira idade, deve buscar exercícios que melhorem a flexibilidade, fortaleçam os grandes complexos musculares e favoreçam o equilíbrio do corpo. Além disso, a recuperação física nessa fase da vida é obviamente mais difícil que na juventude, pois no período de convalescença o idoso está propenso a desenvolver complicações, provocadas pela falta de exercícios regulares. Segundo Rebeschini (2009), uma limitação física só pode ser considerada deficiência quando restringe as atividades físicas e/ou sociais de uma pessoa, caso contrário, uma limitação física é simplesmente um conflito isolado e provavelmente temporário. Dessa forma, a idade avançada não pode ser considerada como de fato uma deficiência, já que este é um processo complexo relacionado a mudanças fisiológicas e psicológicas, mas que é vivenciado de maneiras diferentes pelas pessoas, dependendo de condições intrínsecas, individuais e do ambiente no qual elas estão inseridas.As alterações físicas mais comuns encontradas são: a diminuição tanto da força muscular quanto da flexibilidade e agilidade, redução da capacidade auditiva e visual, alteração da memória, diminuição da densidade óssea (osteoporose), entre outros.

3.4 Ergonomia O tamanho e dimensão do corpo são os fatores humanos mais importantes para a Arquitetura, justamente pela sua relação com a adaptação ergonômica do usuário ao entorno. O espaço habitado tem sido projetado ao longo dos anos para um tipo físico médio – sexo masculino, jovem, adulto e saudável. Mas o fato é que apenas uma parte da população atende a estes requisitos. As pessoas são diferentes em suas necessidades físicas e isso deve ser considerado no projeto.(Arquiteta Cybele Barros – Projeto Casa Segura: Uma arquitetura para a maturidade.)

Buscando uma arquitetura e design mais centrados no ser humanoe em sua diversidade, o Desenho Universal segue sete princípiosmundialmente adotados em planejamentos e obras de acessibilidade:

Equiparação nas possibilidades de uso: ser útil e comercializável às pessoas com habilidades diferenciadas;

Flexibilidade no uso: atender a uma ampla gama de indivíduos, preferências e habilidades;

Uso Simples e intuitivo: o uso deve ser de fácil compreensão, independentemente de experiência, nível de formação, conhecimento do idioma ou da capacidade de concentração do usuário;

Captação da informação: comunicar eficazmente ao usuário as informações necessárias, independentemente de sua capacidade sensorial ou de condições ambientais;

Tolerância ao erro: minimizar o risco e as consequências adversas de ações involuntárias ou imprevistas;

Mínimo esforço físico: ser utilizado com um mínimo de esforço, de forma eficiente e confortável;

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Dimensão e espaço para uso e interação: oferecer espaços e dimensões apropriados para interação, alcance, manipulação e uso, independentemente de tamanho, postura ou mobilidade do usuário.

No Brasil, foi criada a norma NBR 9050 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) “Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos”, determinando que as edificações residenciais multifamiliares, condomínios e conjuntos habitacionais devem ser acessíveis em suas áreas de uso comum. Além disso, ela traz algumas definições, entre elas:

Acessibilidade: possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização com segurança e autonomia de edificações, espaços, mobiliário, equipamento urbano e elementos;

Desenho universal:Aquele que visa atender à maior gama de variações possíveis das características antropométricas e sensoriais da população;

Adaptado:Espaço, edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento cujas características originais foram alteradas posteriormente para serem acessíveis;

Adequado:Espaço, edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento cujas características foram originalmente planejadas para serem acessíveis;

Portanto, para entender a relação do homem com o ambiente, arquitetos e designers precisam entender os aspectos físicos e psicológicos do indivíduo que ocupará o espaço. Ao projetar para idosos, os profissionais devem observar detalhes peculiares de suas vidas e, a partir daí estarem atentos às questões estéticas aliadas ao conforto, segurança, limitações físicas e visuais dos mesmos. O idoso até então estava somente preocupado com sua saúde, mas à medida que ele percebe que sua presença no convívio social é importante, ele começa a se preocupar com o futuro havendo, consequentemente uma preocupação maior com sua segurança e conforto.(COSTA, 2000 apud RIBEIRO, 2006). 4. Estudo de Casos Com a compreensão do surgimento, evolução e organização desses locais, assim como o entendimento das necessidades e exigências projetuais, se fez possível analisar os projetos seguintes. 4.1 Wozoco – Amsterdã, Holanda

Cliente Het Oosten Housing Association, Amsterdam

Localização Amsterdam, Holanda Arquitetura MVRDV Área 7.500 m2

Ano 1997 Figura 1: Edifício Wozoco – Amsterdam, Holanda

Fonte: www.mvrdv.nl Encomendado pelo Het Oosten Housing Association, o edifício residencial Wozoco foi construído entre 1994 e 1997 e possui 100 unidades habitacionais para população com mais de 55 anos. Situado em uma região de Amsterdãque vinha sendo ameaçada pela perda de áreas verdes e espaços livresdevido aogrande crescimento da densidade

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populacional,a edificação teve comopremissa a não ocupaçãototal do pavimento térreo, deixando mais espaço livre para o gozo comume integração com o entorno.O desafio então, era criar um edifício capaz de contrastar com a monotonia de algumas obras já realizadas naqueles anos nos subúrbios das grandes cidades e uma arquitetura que visasse o respeito da qualidade urbana e crescimento. A forma surpreendente nasceu nas primeiras dificuldades encontradas durante o projeto que,devido àsrestrições de regulamentação do zoneamento e normas de iluminação natural, limitou o número de apartamentos em 87 unidades. Então as 13 unidades que faltavam para atender à quantidade de 100 apartamentos exigida pelo cliente foram literalmente penduradas no lado norte do corpo principal, criando grandes gavetas suspensas e evitando assim a ocupação do solo. Isso resultou em uma solução com um sistema construtivo mais complexo de estrutura metálica, onde as unidades restantes foram suspendidas em balanço na fachada norte conectando-se com a galeria transparente do bloco principal, erecebendo iluminação natural nas fachadas leste e oeste, e criando ainda, espaços livres e parcialmente cobertos no térreo. A estrutura pôde ser embutida das paredes, que são mais grossas, devido às exigências de isolamento acústico.

Figura 2 e3: Cortes transversais para o entendimento da estrutura em balanço

Fonte: www.archdaily.com.br

Figura 4 e 5: Esquema da estrutura em balanço e cortes transversais.

Fonte: www.pt.wikiarquitectura.com e www.archello.com respectivamente

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Apesar de marcante e poético, a decisão aumentou os custos da obra que tiveram de ser revistos em outras partes do projeto, como uma solução mais econômica para a laje principal e revestimentos, para que pudesse cobrir os gastos das unidades em balanço. No pavimento tipo as unidades do bloco principal são iguais, com exceção de uma para permitir o encaixe da circulação vertical. Elas se organizam ora lado a lado, ora espelhadas. Já as unidades em balanço variam em profundidade e largura, estando dispostas desigualmente.

Legenda:

Ambientes de longa permanência

Ambientes de curta permanência

Circulação horizontal

Circulação Vertical

Figura 6, 7 e 8: Esquema da modulação do bloco principal, setorização das unidades de acordo com os ambientes das unidades e setorização da circulação, respectivamente.

Fonte: www.talleragg4-2011afv.blogspot.com.br Apesar do layout interno nas unidades habitacionaispossuírem características intrínsecas ao contexto cultural local, percebe-se que a área dos ambientes de maior permanecia é priorizada em relação aos ambientes de menor permanência e possuem um arranjo espacial fluido e contínuo.Além do mais, cada apartamento tem uma pequena varanda e janelas, sendo algumas delas com balaustradas. Esses elementos foram explorados com diferentes tamanhos e vidros de cores variadas, formando uma composição que conferem às fachadas planas uma exposição de elementos coloridos e vibrantes. A ideia é que cada componente desse expresse a singularidade de cada morador, além de permitir a interação social entre vizinhos e o entorno. A fachada norte é formada por um grande plano de vidro e estrutura metálica, que faz o fechamento das galerias de acesso aos apartamentos. Já a fachada sul, assim como as unidades suspensas, recebeu acabamento em tapume de madeira, criando um contraste entre esse material, o metal e o vidro, dos outros elementos de construção, aumentando a qualidade dinâmica do exterior.

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Figura 9 e 10: Vista completa e aproximada, respectivamente, da fachada Sul. Fonte: www.archello.com

Figura 11 e 12: Vista completa e aproximada, respectivamente, da fachada Norte.

Fonte: www.archello.com Ao ser construído, surpreendentemente o projeto foi considerado como sendo o projeto de habitação social com os mais baixos custos em Amsterdam, sendo a qualidade e originalidade das unidades suspensas uma maneira inteligente de atender à exigência do programa, aparentemente impossível. A obra recebeu quatro premiações importantes e quase 10 anos depois o local ainda é referência recebendo muitos turistas arquitetos para visitar os arredores das chamadas cidades-jardinsocidentais e ver as casas penduradas de Amsterdam. 4.2 Residencial Vila dos Idosos – São Paulo, Brasil

Cliente COHAB-SP Localização São Paulo – SP, Brasil Arquitetura Vigliecca & Associados Área 8.290 m²

Ano 2007 Figura 13: Residencial Vila dos Idosos – São Paulo, Brasil

Fonte: AZUL SERRA O Residencial Vila dos Idosos é um empreendimento ligado à Superintendência de Habitação Popular, por isso tem como finalidade ser uma alternativa habitacional para idosos de baixa-renda do município de São Paulo. O gerenciamento do lugar é de responsabilidade da Secretaria da Habitação, através da Superintendência de Habitação Popular – HABI, sendo de sua competência coordenar, monitorar e avaliar o programa, selecionar a demanda e desenvolver o trabalho social, para garantir assim a sustentabilidade do empreendimento. O programa consiste em 145 unidades, distribuídas entre o andar térreo e mais três pavimentos, sendo 48 apartamentos de 43m² (contendo um dormitório), e 72 quitinetes de 29 m² cada uma. Conta ainda com três salas para TV e jogos, quatro salas de uso múltiplo, salão comunitário com cozinha e sanitários, quadra de bocha, área verde, espelho d’água e horta comunitária. Organizado em quatro pavimentos e duas caixas de circulações verticais com escadas e elevadores, possui 25% das unidades já adaptadas a portadores de deficiências físicas, e as outras facilmente adaptáveis, caso seja necessário.

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Figura14 e 15: Planta baixa da quitinete e planta baixa do apartamento com 01 dormitório,

respectivamente. Fonte: www.vigliecca.com.br

Legenda: Unidade quitinete Unidade c/ 01 dormitório Sala de TV e jogos Circulação horizontal Circulação vertical Circulação vertical com elevador

Figura 16: setorização da planta baixa do pavimento tipo. Fonte:www.vigliecca.com.br

Ao atender ao número de unidades proposto, o programa optou por uma implantação contínua das unidades, com o objetivo de promover a maior quantidade e variedade de contatos de vizinhança dentro do conjunto, e entre o conjunto e a cidade.Além disso,o formato do terreno permitiu que a bibliotecaMunicipal Adelpha Figueiredo, localizada na mesma quadra, fosse integrada à proposta do projeto criandouma integração através de áreas verdes entre os dois.

Legenda:

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Figura 17: Implantação. Fonte:www.vigliecca.com.br

Percebe-se que esse modo de disposição das unidades lado a lado com circulação periférica, utilizado também no edifício Wozoco, anteriormente analisado, apresenta uma melhor solução para as condicionantes climáticas (ventilação e iluminação). Além de se adequar melhor a terrenos com formas mais alongadas. Para a concepção do projeto foi levada em consideração as condições econômicas dos moradores, e as limitações orçamentárias, entendendo-se que os materiais utilizados deveriam ser padronizados, porém de alta durabilidade e pouquíssima necessidade de manutenção. Dessa forma foi estabelecida a simplificação dos acabamentos, com laje aparente, eliminando os revestimentos das paredes e pisos.

Figura 18: Vista de satélite da implantação e entorno.

Fonte:Google Maps

Figura 19 e 20: Vista para a fachada sudoeste interna e vista interna da circulação horizontal do 2º

pavimento na fachada sudoeste interna, respectivamente. Fonte:www.vigliecca.com.br

Figura 21 e 22: Vista externa para a fachada noroeste e vista da fachada de acesso principal a noroeste,

respectivamente. Fonte:www.vigliecca.com.br

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Neste conjunto, os idosos são acompanhados diretamente por uma equipe técnica composta por uma assistente social, uma pedagoga, uma coordenadora geral e uma supervisora (assistente social). Essa equipe trabalha na capacitação dos moradores para as diferentes responsabilidades a serem assumidas para a preservação e manutenção do conjunto de forma autônoma. Através desses e outros procedimentos é que o projeto adquire aspectos que odiferencia de instituições asilares e evita o isolamento social, sendoprincipalmente essa integração social, aliado de uma arquitetura consciente das necessidades do usuário, que permitiram o sucesso deste tipo de empreendimento no Brasil. 4.3 Condomínio Cidade Madura – Paraíba, Brasil

Cliente CEHAP – PB Localização João Pessoa – PB, Brasil Arquitetura CEHAP – PB Área 5,07ha Ano 2011 - 2014

Figura 23: condomínio cidade madura – Paraíba, Brasil Fonte: CEHAP

O Residencial Cidade Madura é um condomínio horizontal com área de 5,07 hectares, mas que a princípio se utilizou de apenas 34% (1,72ha) na realização da primeira etapa de toda a área destina ao projeto,restando 66% para futuras ampliações. Localizadono bairro Cidade Verde, João Pessoa, Paraíba que recebe a primeira unidade do projeto.

Figura 24: condomínio cidade madura – Paraíba, Brasil

Fonte: CEHAP Inaugurado em junho de 2014, o Cidade Madura é produto do Programa Habitacional de mesmo nome, desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento Humano (SEDH), responsável pela implementação e manutenção do projeto social, e pela Companhia Estadual de Habitação Popular (CEHAP), responsável pela construção e manutenção da obra, com o objetivo de viabilizar moradia digna à pessoa idosa. O Programa é regulamentado pela Política Estadual do Idoso através de Decreto n° 35.072, 2014. O empreendimento foi projetado pela equipe técnica do setor de Projetos da CEHAP, sob a liderança dos arquitetos Júlio Gonçalves e Rafaela Mabel Silva Guedes. A obra durou cerca de 18 meses e custou em torno de R$ 4 milhões. O local de implantação foi escolhido de acordo com a disponibilidade de terreno dentre as opções que já eram abastecidas de infraestrutura básica (água, energia elétrica, telefonia, transporte público) contudo, terreno encontra-se em uma quadra segregada, haja vista que o seu entorno imediato ainda não é pavimentado e não está ocupado.

5,07ha

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Figura 25: condomínio cidade madura – Paraíba, Brasil Fonte: Google Maps e CEHAP, adaptado pela autora

Figura 26e27: acesso e entorno do condomínio

Fonte: Bárbara Reis, 2014 O projeto partiu das configurações básicas de um condomínio fechado: uma vila com uma via central e equipamentos coletivos. Objetivando dotar de conforto e habitabilidade, o condomínio possui somente 40 residências, sendo permitido um morador ou um casal por residência e vetada a presença da família como moradora, somente como visitante. Para desenvolver o projeto, a equipe usou como diretrizes referências de ILPI's e as normas técnicas, especialmente a NBR 9050, que diz respeito à acessibilidade. O condomínio foi construído com recursos do Governo do Estado da Paraíba e cedido a esses idosos em comodato vitalício, não lhes sendo permitido modificar, emprestar, locar ou ceder os imóveis. O conjunto atende exclusivamente a idosos com mais de 60 anos, que possam morar sozinhos ou com seus cônjuges, e que tenham autonomia para poder realizar as atividades da vida diária, sendo eles os próprios responsáveis pelo pagamento das taxas de água, energia elétrica e condomínio. Em caso de perda da autonomia, a família é comunicada e o idoso é encaminhado para uma ILPI (instituição de longa permanência para idosos), por não se encaixar mais nos critérios exigidos para participar do programa, e assim a propriedade da casa é devolvida ao Estado e um novo morador é convidado a participar do programa. Além das casas, o condomínio é composto por área para lazer e blocos de serviços. No que diz respeito aos serviços, o local possui um Núcleo de Assistência à Saúde, equipado para promover atendimento preventivo através da ação de profissionais de enfermagem e psicologia; bloco de administração com banheiros adaptados para deficientes e sala para depósito de materiais, visto que a limpeza geral é de

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responsabilidade do governo, e na portaria, a segurança noturna é feita por policiais da reserva (Guarda de Reserva) em parceria com o Governo do Estado.

Legenda:

Figura 28: planta baixa das unidades habitacionais – sem escala

Fonte: CEHAP As unidades habitacionais foram distribuídas em 20 blocos com duas casas geminadas cada um. Cada uma das 40 unidades habitacionais temárea de 54m² e cadacasa é conectada à vizinha geminada pelo mesmo acesso que leva às suas respectivas varandas. As casas são compostas por uma sala, um quarto, um banheiro, área de serviço, cozinha e varanda, nesta sendo possível colocar rede e cadeira de balanço, elementos bastante utilizados na região Nordeste. Dentre os ambientes, somente o banheiro é adaptado para deficiente, os demais ambientes não são adaptados para acesso de cadeira de rodas, visto que não possuem dimensões mínimas para a circulação e giro de cadeira de rodas, embora as portas obedeçam à largura mínima exigida pela NBR 9050 (80cm).

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Figura 29: planta baixa das unidades habitacionais – sem escala Fonte: Bárbara Reis, 2014

Ao mesmo tempo em que a configuração do condomínio com as áreas de uso comum no centro do terreno é positiva na questão do uso dos equipamentos e incentiva o estreitamento os laços de relacionamento; ela também exige a distribuição das unidades com posicionamentos diferenciados em relação à ventilação e insolação, o que resultou em prejuízo para algumas unidades habitacionais, visto que foi projetado um único modelo de habitação e esse foi rebatido, gerando as casas geminadas. Essas duplas foram mais uma vez "espelhadas", originando casas posicionadas de frente às primeiras sem que houvesse alterações de planta baixa. Nesse modelo de vila, no qual existe uma reprodução e espelhamento da planta baixa sem modificação na disposição dos ambientes, verifica-se que parte das residências não recebe ventilação adequada e alguns ambientes podem receber insolação excessiva e inadequada, causando desconforto térmico. Com área verde distribuída em toda sua extensão, o paisagismo é constituído por elementos construídos e vegetação, porémnão existem árvores adultas que ofereçam sombreamento, o que torna os equipamentos instalados ao ar livre (como a praça e a academia da terceira idade) subutilizados, já que na região Nordeste existe um índice de insolação alto, fazendo com que as pessoas procurem esses espaços somente no início da manhã, fim de tarde ou à noite.

Figura 30 e 31: bloco administrativo e portaria, respectivamente

Fonte:Bárbara Reis, 2014

Figura 32 e 33: bloco de vivencia e unidades habitacionais, respectivamente

Fonte:CEHAP

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Figura 34 e 35: bloco administrativo e portaria, respectivamente

Fonte: Bárbara Reis, 2014

Figura 36: bloco administrativo e portaria, respectivamente

Fonte:Bárbara Reis, 2014 Além da população estar envelhecendo e vivendo mais, outro fato que despertou a atenção dos idealizadores do projeto foi o testemunho presenciado em muitos conjuntos habitacionais já construídos pela Companhia,onde os idosos viviam verdadeiramente à sombra dos seus familiares. Dessa forma, para dar a eles vontade própria e condições de viver com liberdade e independência, foram analisadas as características sociais e econômicas dos idosos para enfim, idealizar, criar e implantar um empreendimento habitacional que promovesse a qualidade de vida dessa população especifica, além de promover ações no campo habitacional voltada para esta faixa da população. 5. Conclusão Simultâneo ao aumento da expectativa de vida no país, é que se dá a problemática aos que alcançam a terceira idade: a falta de infraestrutura adequada nas cidades,problema este também de ordem habitacional, devido, principalmente, ao fato da população brasileira ainda não ter assimilado esta nova realidade. Em contrapartida, há muito tempo que a sociedade europeia vem tratando desta problemática e é por isso que as edificações por eles realizadas já apresentam um maior grau de maturidade e qualidade. O exemplo do edifício Wozoco em Amsterdam, construído em 1997, mostra que é possível construir de forma econômica com um elevado apelo estético, desde que este venha a partir de questões funcionais. Já o residencial Vila dos Idosos em São Paulo mesmo com premissassimilaridades ao Residencial Wozoco, ainda não atinge o mesmo nível de integração espacial e social

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que ele, construído 10 anos antes. Percebe-se que isso acontece pela relação de espaço público x privado, onde no ed. Wozoco essa relação acontece de forma muito sutil, o projeto permite o transito livre de pedestre em boa parte da sua área térrea. Em contrapartida, o Vila dos Idosos tem o acesso físico dos pedestres controlado através da própria edificação e limitado pelos muros de gradis e até mesmo outras edificações. E é mais explícito ainda no caso da Cidade Madura (2014), em que todo o condomínio é murado com cerca elétrica, tendo o acesso controlado em uma única guarita. Isso mostra que a carência de políticas públicas que promovam a segurança no Brasil transmite a responsabilidade da segurança social para o arquiteto no momento de propor soluções arquitetônicas, especialmente as que envolvem interações público x privado.Tornando desafiador, ou até mesmo contraditório, a busca por integração social e segurança em uma edificação de cunho social e habitacional para idosos, levando se em conta que muitos deles já não têm mais disposição ou capacidade de exercer atividades fora ou longe do lar. Percebe-se que dentre os três casos analisados, a arquitetura que menos se adapta ao contexto ambiental inserido, é o Cidade Madura; que por ser um projeto com tipologia pioneira ainda necessita de melhorias. Apesar disso, o seu conceito não ficou restrito ao simples habitar, se colocou fundamentalmente como um espaço que compreende e ao mesmo tempo motiva os idosos a vencerem os limites da idade. Todavia, essesexemplos provam que o poder público é capaz de promover moradia digna aos idosos, indo muito além da ideia de abrigo, considerando também as suas finalidades sociais e humanas, no intuito de promover aos mais velhos um convívio social ideal através da sua inserção no cotidiano da sociedade que abre espaço para uma nova realidade. Referências

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