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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Campus de Marília Faculdade de Filosofia e Ciências Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação FERNANDO LUIZ VECHIATO REPOSITÓRIO DIGITAL COMO AMBIENTE DE INCLUSÃO DIGITAL E SOCIAL PARA USUÁRIOS IDOSOS Marília-SP 2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Campus de Marília

Faculdade de Filosofia e Ciências Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação

FERNANDO LUIZ VECHIATO

REPOSITÓRIO DIGITAL COMO AMBIENTE DE INCLUSÃO DIGITAL E SOCIAL PARA USUÁRIOS IDOSOS

Marília-SP 2010

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Campus de Marília

Faculdade de Filosofia e Ciências Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação

FERNANDO LUIZ VECHIATO

REPOSITÓRIO DIGITAL COMO AMBIENTE DE INCLUSÃO DIGITAL E SOCIAL PARA USUÁRIOS IDOSOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências – Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciência da Informação. Área de Concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento Linha de Pesquisa: Informação e Tecnologia Orientadora: Profa. Dra. Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti Financiamento: FAPESP e CAPES

Marília-SP 2010

Vechiato, Fernando Luiz. V396r Repositório digital como ambiente de inclusão digital e social para usuários idosos / Fernando Luiz Vechiato. - - Marília: FLV, 2010. 183f. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, 2010. Orientadora: Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti 1. Repositório Digital. 2. Arquitetura da Informação. 3. Inclusão Digital e Social. 4. Envelhecimento Humano. 5. Tecnologias de Informação e Comunicação. 6. Informação e Tecnologia. I. Autor. II. Título.

CDD 025.4

FERNANDO LUIZ VECHIATO

REPOSITÓRIO DIGITAL COMO AMBIENTE DE INCLUSÃO DIGITAL E SOCIAL PARA USUÁRIOS IDOSOS

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti

Departamento de Ciência da Informação Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista – UNESP

Profa. Dra. Plácida Leopoldina Ventura Amorim da Costa Santos

Departamento de Ciência da Informação Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista – UNESP

Profa. Dra. Isa Maria Freire Departamento de Ciência da Informação Universidade Federal da Paraíba – UFPB

Local: Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Filosofia e Ciências – Campus de Marília

Data: 15/03/2010

Marília-SP 2010

Ao meu grande amigo Odirlei Pereira (in memorian)

À minha namorada Cíntia Pacheco

Aos meus sobrinhos Guilherme Francisco, Leonardo Vechiato, Maria Júlia Francisco, Ryan Vechiato, Tauan Vechiato e

Ana Clara Guarnieri

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Antonio e Odete, minha base.

Aos meus irmãos Leila, Renata e Júnior, meus incentivadores.

Aos meus grandes amigos que souberam me ouvir e me compreender durante toda minha caminhada.

À minha namorada Cíntia, com quem compartilhei todas as angústias, as

preocupações, os medos, o carinho, a felicidade.

Aos alunos da UNATI que tanto me ensinam a cada aula. Obrigado por terem me dado a oportunidade de ter conhecido vocês.

Aos meus companheiros de pesquisa com quem compartilhei conhecimento.

À Profa. Maria Candida Del-Masso pelas ricas contribuições no Exame de Qualificação.

Aos professores do PPGCI – UNESP – Marília, pelos quais tenho grande

admiração. Àqueles que contribuíram diretamente ou indiretamente para a construção do repositório digital da UNATI, em especial os próprios alunos da UNATI, Ana Maria Ferreira, Eduardo Santarém, Liriane Camargo, Bruno Arraes (STI), Milton Shintaku (IBICT), Lucas Salviano, Elvis Fusco e a Profa. Silvana Vidotti.

Às professoras Isa Freire e Plácida Santos que aceitaram o convite para compor a

banca de defesa de minha dissertação e pelas contribuições que enriqueceram meu

trabalho. À FAPESP e à CAPES pelo apoio financeiro e pela oportunidade de desenvolver essa pesquisa.

À minha orientadora Profa. Silvana Vidotti, pelas grandes oportunidades nesse período

e por compreender alguns momentos difíceis pelos quais eu passei, revelando-se

uma grande amiga. À Secretaria da Pós-Graduação, especialmente à Carol Luvizotto, pelo esclarecimento de tantas dúvidas nesse período.

A velhice é a paródia da vida. (Simone de Beauvoir)

VECHIATO, Fernando Luiz. Repositório digital como ambiente de inclusão digital e social para usuários idosos. 2010. 183f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2010.

RESUMO

A sociedade contemporânea, caracterizada como sociedade da informação ou sociedade em rede, encontra-se intimamente relacionada ao uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC), com destaque à World Wide Web (WWW), que possibilita a criação de conteúdo e o acesso à informação sem barreiras de tempo e espaço. Observamos o crescimento do número de adeptos a essa tecnologia desde sua criação, em meados da década de 1990 e, dentre eles, destacam-se os usuários idosos, os quais encontraram na Web um ambiente em que podem desenvolver diversas atividades, como a comodidade em realizar tarefas cotidianas, de se informarem sobre questões relacionadas ao envelhecimento humano entre outras. Entretanto, verificamos que muitos ambientes informacionais da Web não possuem uma Arquitetura da Informação desenvolvida com foco nas necessidades específicas desse público, dificultando sua usabilidade e acessibilidade e, conseqüentemente, dificultando a inclusão digital e social desse grupo de usuários. Nesse contexto, objetivamos identificar elementos que viabilizem a inclusão digital e social dos idosos a partir dos estudos em Arquitetura da Informação, Usabilidade, Acessibilidade e Comportamento Informacional, no contexto da Ciência da Informação, bem como a aplicação desses elementos em um repositório digital construído para a Universidade Aberta à Terceira Idade – UNATI – UNESP. Consideramos que um repositório digital que abarque assuntos de interesse e produções de idosos e que apresente elementos inclusivos viabiliza sua inclusão digital e social. Para a aplicação da pesquisa, utilizamos a pesquisa-ação, que possibilita aos pesquisadores e participantes a identificação dos problemas e objetivos da pesquisa, bem como o planejamento e a execução das ações para sua resolução; e para a execução dessas ações são utilizados principalmente grupos focais para a discussão de como conduzi-las. A pesquisa-ação permeou essencialmente dois objetivos: a inclusão digital dos alunos da UNATI – Marília, por meio de cursos de informática, visando sua capacitação para o uso das TIC; e a construção participativa do repositório digital da UNATI – UNESP, junto aos alunos da UNATI – Marília. A ação para a inclusão digital por meio dos cursos de informática foi possível através da investigação de elementos do construtivismo que direcionaram o processo de ensino-aprendizagem. A construção participativa do repositório digital da UNATI – UNESP, por sua vez, se efetivou com respaldo em estudos que revelaram as necessidades da instituição e dos alunos, contribuindo para a identificação de elementos que favorecem a inclusão digital e social dos usuários idosos. Palavras-chave: Repositório Digital. Arquitetura da Informação. Inclusão Digital e Social. Envelhecimento Humano. Tecnologias de Informação e Comunicação. Informação e Tecnologia.

VECHIATO, Fernando Luiz. Digital repository as an environment of digital and social inclusion for elderly users. 2010. 183f. Dissertation (Master Degree in Information Science) – College of Philosophy and Sciences, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2010.

ABSTRACT The contemporary society characterized as information society or net society is closely related to the use of information and communication technologies (ICT), especially the World Wide Web, which makes possible the creation of contents and the information access with no boundaries of time and space. We can see the increase of people using this technology, since its creation in the beginning of 1990 decade, and we can highlight the elderly users. These users find in the Web an environment in which they can develop different activities, as easily dealing with daily duties and getting information about subjects related to aging, among others. However, we verify that the Web information environments do not have an Information Architecture developed with the specific necessities of this public, making difficult the use and access, and then, making hard the digital and social inclusion of this users group. In this context, our objective is to identify elements that enable the social and digital inclusion of the elderly using the study of Information Architecture, Usability, Accessibility and Information Behavior, in the Information Science context, as well as the application of this elements in a digital repository built for the Universidade Aberta à Terceira Idade – UNATI – UNESP. We consider that a digital repository that deals with subjects of interests and production of elderly and that presents inclusive elements makes possible their digital and social inclusion. We used the action-research to realize the research. The action-research makes possible for the researcher and participants the identification of problems and objectives of the research as well as the planning and execution of actions for its resolution. Also for the execution of these actions, focus groups are mainly used to discuss how to guide them. The action-research permeated essentially two objectives: the digital inclusion of UNATI - Marília students through computer courses, aiming their training to the use of ICT; and the participative building of the digital repository of UNATI – UNESP together with the students of UNATI – Marília. The action for digital inclusion through the computer courses was possible through the investigation of constructivism elements which directs the teach-learning process. The participative building of the UNATI – UNESP digital repository were made based on studies which turned out the institution and students needs and contributed for the identification of elements that were helpful to the users digital and social inclusion. Keywords: Digital Repository. Information Architecture. Digital and Social Inclusion. Human Aging. Information and Communication Technologies. Information and Technology.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Provedores de dados e serviços ............................................................... 33 Figura 2: Os elementos da experiência do usuário .................................................. 40 Figura 3: Página inicial do repositório digital do PPGCI/UFPB ................................. 44 Figura 4: Exemplo de acessibilidade para deficientes visuais – Acessibilidade.net . 65 Figura 5: Exemplo de acessibilidade para deficientes visuais e auditivos – Acessibilidade Brasil.................................................................................................. 66 Figura 6: Interface do LIBRAS – Dicionário da Língua Brasileira de Sinais ............. 67 Figura 7: Exemplo de acessibilidade para deficientes físicos ................................... 68 Figura 8: Exemplo de acessibilidade, considerando barreiras lingüísticas - SciELO .................................................................................................................................. 69 Figura 9: Página inicial do web site SeniorNet ....................................................... 113 Figura 10: Página inicial do web site Maisde50 ...................................................... 114 Figura 11: Página inicial do web site da UNATI - UERJ ......................................... 115 Figura 12: Biblioteca CRDE .................................................................................... 116 Figura 13: Processo de inclusão digital e social em cursos de informática para a terceira idade ........................................................................................................... 126 Figura 14: Blog Internautis ..................................................................................... 131 Figura 15: O modelo ELIS ...................................................................................... 134 Figura 16: Protótipo da página inicial do repositório da UNATI – UNESP - Marília 153 Figura 17: Página inicial do Banco Internacional de Objetos Educacionais ........... 155 Figura 18: Página inicial do Repositório Digital da UNATI – UNESP (1) ................ 156 Figura 19: Twitter da UNATI – UNESP – Marília .................................................... 157 Figura 20: Comunidades e coleções do Repositório Digital da UNATI – UNESP (1) ................................................................................................................................ 158 Figura 21: Comunidades e coleções do Repositório Digital da UNATI – UNESP (2) ................................................................................................................................ 159 Figura 22: Comunidades e coleções do Repositório Digital da UNATI – UNESP (3) ................................................................................................................................ 160 Figura 23: Comunidades e coleções do Repositório Digital da UNATI – UNESP (4) ................................................................................................................................ 161 Figura 24: Coleções do Repositório Digital da UNATI – UNESP: submissão de documento ............................................................................................................... 162 Figura 25: Página inicial do Repositório Digital da UNATI – UNESP (2) ................ 164

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: As quatro funções principais da atenção ................................................. 53 Quadro 2: Principais tipos de memória..................................................................... 54 Quadro 3: Tecnologias assistivas associadas aos tipos de necessidades especiais .................................................................................................................................. 64 Quadro 4: Principais características da Web ............................................................ 80 Quadro 5: Considerações a respeito do início da velhice......................................... 87 Quadro 6: Princípios de usabilidade ....................................................................... 106 Quadro 7: Recomendações de Usabilidade e Acessibilidade imprescindíveis para ambientes informacionais digitais para idosos ........................................................ 108 Quadro 8: Recomendações de Usabilidade e Acessibilidade importantes para ambientes informacionais digitais para idosos ........................................................ 111 Quadro 9: Recomendações de Usabilidade e Acessibilidade opcionais para ambientes informacionais digitais para idosos ........................................................ 111 Quadro 10: O uso de elementos construtivistas em projeto de ação para inclusão digital e social: capacitação de idosos para o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) .................................................................................................. 128 Quadro 11: Resultados da entrevista – necessidades informacionais dos idosos . 139 Quadro 12: Resultados da entrevista – fontes de informação ................................ 140 Quadro 13: Resultados dos Registros em diários – necessidades informacionais e fontes de informação ............................................................................................... 142 Quadro 14: Aplicação do modelo ELIS para o estudo do comportamento informacional de idosos ........................................................................................... 146

LISTA DE SIGLAS

AI – Arquitetura da Informação

ASK – Anomalous State of Knowledge

ATAG – Authoring Tool Accessibility Guidelines

BOAI – Budapest Open Access Initiative

CAT – Comitê de Ajudas Técnicas

CDU – Classificação Decimal Universal

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CNRI – Corporation for National Research Initiatives

CRDE – Centro de Referência e Documentação sobre Envelhecimento

CSS – Cascading Style Sheets

ELIS – Everyday Life Information Seeking

FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FFC – Faculdade de Filosofia e Ciências

FID – Federação Internacional de Documentação

GP-NTI – Grupo de Pesquisa – Novas Tecnologias em Informação

HP – Hewlett Packard Corporation

HTML – HyperText Markup Language

IBICT – Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

IHC – Interação Humano-Computador

IIB – Instituto Internacional de Bibliografia

LER – Lesão por Esforço Repetitivo

LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais

MECBraille – Marco Eletrônico de Correio Braille

MIT – Massachusetts Institute of Technology

NAI – Núcleo de Assistência ao Idoso

OAI – Open Archives Initiative

OAI-PMH – Open Archives Initiative – Protocol for Metadata Harvesting

OMS – Organização Mundial da Saúde

OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde

OSI – Open Society Institute

PET – Programa de Educação Tutorial

PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

PPGCI – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação

PROEX – Pró-Reitoria de Extensão Universitária

PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

RSS – Really Simple Syndication

SciELO – Scientific Electronic Library Online

SEDH – Secretaria Especial dos Direitos Humanos

SESC – Serviço Social do Comércio

TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação

UAAG – User Agent Accessibility Guidelines

UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UFPB – Universidade Federal da Paraíba

UNATI – Universidade Aberta à Terceira Idade

UNESP – Universidade Estadual Paulista

UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo

W3C – World Wide Web Consortium

WAI – Web Accessibility Initiative

WCAG – Web Content Accessibility Guidelines

WWW – World Wide Web

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

1.1 Problema ............................................................................................................. 15

1.2 Hipótese .............................................................................................................. 15

1.3 Justificativa .......................................................................................................... 15

1.4 Objetivos ............................................................................................................. 16

1.5 Metodologia do trabalho científico ....................................................................... 17

2 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO (TIC): relação entre indivíduos, tecnologia e sociedade ......... 20

3 REPOSITÓRIOS DIGITAIS .................................................................................... 32

3.1 Arquitetura da Informação ................................................................................... 37

3.2 Usabilidade .......................................................................................................... 46

3.3 Acessibilidade ..................................................................................................... 59

3.4 Comportamento Informacional ............................................................................ 71

4 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL:

rumo à democratização do acesso à informação?............................................... 77

5 ENVELHECIMENTO HUMANO, TECNOLOGIA E SOCIEDADE.......................... 87

5.1 Alterações físicas e cognitivas do envelhecimento humano e suas implicações

nas interfaces de ambientes informacionais digitais ................................................. 97

6 PESQUISA-AÇÃO: um estudo junto aos alunos da Universidade Aberta à

Terceira Idade (UNATI) – UNESP – Campus de Marília ..................................... 118

6.1 Inclusão digital dos alunos da UNATI: identificação e aplicação de elementos do

construtivismo ......................................................................................................... 121

6.2 Comportamento informacional dos alunos da UNATI........................................ 133

6.3 Repositório digital da UNATI – UNESP como ambiente de inclusão digital e

social: documentação do processo de desenvolvimento......................................... 148

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 166

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 168

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................................ 181

14

1 INTRODUÇÃO

A sociedade da informação vem se consolidando pelas diversas

possibilidades de acesso à informação proporcionadas pela evolução tecnológica.

Entretanto, a democratização da informação não é uma realidade para todos. Os

problemas que permeiam essa realidade estão relacionados à situação sócio-

econômica dos indivíduos, às questões culturais e até mesmo à ausência de

habilidades para avaliar, para selecionar e para utilizar informações nesse contexto.

Refletimos neste trabalho, especialmente, sobre os indivíduos idosos que

possuem características que podem dificultar sua inclusão na sociedade da

informação. Essas características estão relacionadas aos aspectos psicossociais e

biológicos do envelhecimento humano.

Com o passar do tempo, a imagem do idoso perante a sociedade passou por

transformações. Atualmente, a mídia apresenta uma imagem positiva da velhice,

decorrente da importância atribuída à qualidade de vida e ao aumento da

expectativa de vida. Porém, observamos muitas vezes que o tratamento dado a esse

público é incoerente com a realidade divulgada.

Nesse contexto, acreditamos que o idoso pode utilizar as tecnologias de

informação e comunicação (TIC) para o desenvolvimento de habilidades e

competências adquiridas no decorrer da vida e para o compartilhamento de

conhecimento, substituindo o tempo ocioso da aposentadoria por novas atitudes

frente à sociedade. Dessa forma, as TIC podem promover a inclusão digital e social

desses indivíduos.

Para que isso possa acontecer, é necessário que os ambientes

informacionais digitais atuem como espaços inclusivos, tendo em vista que as

alterações físicas e cognitivas do processo de envelhecimento humano podem

dificultar o acesso e o uso das informações.

Os repositórios digitais, em especial, são ambientes informacionais

potenciais para a inclusão desses indivíduos. Embora tenham sido pensados em um

contexto de disseminação de produções científicas, em que os atores são

pesquisadores, esses ambientes têm como uma de suas propostas a preservação

da memória, característica essa que contribuiria para a disseminação e o

compartilhamento de produções intelectuais desse público específico.

15

A compreensão do contexto psicossocial e biológico do envelhecimento

humano possibilita a reflexão de como construir um ambiente informacional digital

para idosos, com enfoque nos repositórios digitais, considerando as necessidades

reais desse público por meio da criação de arquiteturas informacionais mais

inclusivas, visando uma sociedade da informação mais igualitária.

1.1 Problema

Este trabalho é um prosseguimento dos estudos realizados na Iniciação

Científica (VECHIATO, 2007) que enfocaram as relações acerca da construção e da

avaliação de ambientes informacionais digitais específicos para usuários idosos.

Percebemos que os projetistas de ambientes informacionais digitais que

contemplam os idosos como público-alvo ou como somente parte do público desses

ambientes, em geral, não disponibilizam elementos que contribuam para facilitar o

acesso às informações para esse grupo de usuários, dificultando sua inclusão na

sociedade da informação.

1.2 Hipótese

Destacamos como hipótese que a investigação de aspectos psicossociais e

biológicos do envelhecimento humano contribui para a construção de arquiteturas

informacionais mais inclusivas em ambientes informacionais digitais para idosos,

com enfoque nos repositórios digitais. Isso favorece a inclusão digital e social de

idosos via tecnologias de informação e comunicação (TIC).

1.3 Justificativa

Percebemos na literatura nacional que poucos estudos abordam a relação

entre idosos e as TIC, principalmente no âmbito da Ciência da Informação com

enfoque na Arquitetura da Informação de ambientes informacionais digitais.

16

Além disso, averiguamos a não existência de repositórios digitais que

tenham sido produzidos no âmbito das UNATI brasileiras específicos para os seus

membros.

Desse modo, aliamos os estudos em Ciência da Informação à construção de

ambientes informacionais digitais no contexto do envelhecimento humano, o que

possibilitou a idéia do desenvolvimento de um repositório digital para a Universidade

Aberta à Terceira Idade (UNATI) – UNESP tendo como base estudos relacionados à

Arquitetura da Informação

Os estudos realizados a partir deste trabalho poderão contribuir teórica e

metodologicamente para a Ciência da Informação no que diz respeito à construção

participativa de um ambiente informacional digital específico para idosos, a partir do

uso de TIC, bem como para a identificação de elementos relevantes com o intuito de

facilitar e aumentar o acesso desses indivíduos à informação para a construção do

conhecimento no paradigma da sociedade da informação.

1.4 Objetivos

A partir de estudos relacionados à Arquitetura da Informação aplicados em

repositórios digitais, objetivamos identificar recursos, serviços e elementos de

interface para a construção participativa de um repositório digital para idosos, a fim

de contribuir para sua inclusão digital e social.

Desse modo, objetivamos especificamente:

• Abordar aspectos teóricos e metodológicos para a construção e

inserção de elementos em ambientes informacionais digitais

específicos para idosos, com foco em repositórios digitais que visem à

inclusão digital e social desse grupo, a partir de estudos acerca da

arquitetura da informação, usabilidade, acessibilidade e

comportamento informacional, bem como a partir da investigação de

aspectos psicossociais e biológicos do envelhecimento humano;

• Diagnosticar a aplicação de recursos, de serviços e de elementos

inclusivos em ambientes específicos já existentes para idosos;

• Desenvolver um repositório digital para a UNATI – UNESP com uso do

software Dspace e exemplificar a aplicação de elementos formais e de

17

conteúdo de interface visando a construção de uma arquitetura

informacional mais inclusiva;

• Apresentar o repositório como um link ativo na Web, a fim de uma

utilização efetiva pela comunidade local de usuários – alunos da UNATI

– e promover sua divulgação para disseminação de seu conteúdo

informacional, bem como para sua utilização pela comunidade global

de usuários da Web;

• Criar um ambiente de colaboração e ação visando à participação dos

alunos da UNATI para o desenvolvimento do repositório digital da

UNATI – UNESP, com vistas à inclusão digital e social dessa

comunidade.

1.5 Metodologia do trabalho científico

A pesquisa caracteriza-se como do tipo exploratória, descritiva e analítica.

Os estudos iniciaram-se por meio de levantamento bibliográfico em bases de dados

nacionais e internacionais e com base nas teses e dissertações desenvolvidas junto

ao Grupo de Pesquisa ‘Novas Tecnologias em Informação’. O enfoque foi para os

temas Arquitetura da Informação, Usabilidade, Acessibilidade, Comportamento

Informacional, Repositórios Digitais, Inclusão Digital e Inclusão Social, considerando-

os, preliminarmente, em um período de 12 anos (de 1998 a 2009), com textos nos

idiomas português, inglês e espanhol.

Em seguida, os materiais pertinentes à pesquisa foram selecionados,

analisados e documentados para obtenção de conhecimento acerca das temáticas

abordadas.

Para a organização da aplicação da pesquisa foi utilizada a pesquisa-ação

baseada em Thiollent (2004). Esse tipo de pesquisa fornece subsídios para a

identificação de problemas e dos objetivos que direcionam as ações. Neste trabalho,

a ação refere-se à inclusão digital e social dos alunos da UNATI – UNESP – Marília

por meio de cursos de informática ministrados e via tecnologias de informação e

18

comunicação, com enfoque no desenvolvimento de um repositório digital para a

UNATI – UNESP e na sua utilização por parte desse grupo de usuários potenciais.1

Seguem os procedimentos metodológicos:

• Fundamentar teoricamente o trabalho a partir de leitura, análise e

documentação de textos pertinentes à temática do projeto de pesquisa;

• Realizar cursos e palestras para os alunos da UNATI – UNESP –

Campus de Marília a fim de reconhecer suas necessidades e

desenvolver a pesquisa-ação, objetivando a inclusão digital dessa

comunidade;

• Diagnosticar a aplicação de recursos, serviços e elementos inclusivos

para idosos em ambientes específicos já existentes;

• Construir um repositório digital para a UNATI – UNESP utilizando o

software DSpace, escolhido devido à sua facilidade de gerenciamento,

bem como exemplificar a aplicação de elementos que contribuam para

a inclusão dos idosos na sociedade da informação, a partir da

colaboração dos alunos da UNATI.

A estrutura do trabalho científico se apresenta da seguinte forma.

O capítulo 1 – Introdução – trata do problema, da hipótese, da justificativa,

dos objetivos e da metodologia do trabalho científico.

O capítulo 2 – A Ciência da Informação e as Tecnologias de Informação e

Comunicação (TIC): relação entre indivíduos, tecnologia e sociedade – discute as

relações entre indivíduos, tecnologia e sociedade por meio de um resgate histórico

da Ciência da Informação.

O capítulo 3 – Repositórios Digitais – discute as particularidades desse tipo de

ambiente informacional e enfoca suas relações com os estudos de Arquitetura da

Informação, Usabilidade, Acessibilidade e Comportamento Informacional.

O capítulo 4 – Tecnologias de Informação e Comunicação e Inclusão Social:

rumo à democratização do acesso à informação? – aborda sobre a sociedade da

informação e a importância da inclusão social via TIC.

1 Os procedimentos relativos à aplicação dessa pesquisa foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa – Faculdade de Filosofia e Ciências (CEP – FFC – UNESP/Marília) – Processo n.º 2794/2007.

19

O capítulo 5 – Envelhecimento Humano, Tecnologia e Sociedade – discute

sobre a posição do idoso no contexto tecnológico da sociedade da informação e

aborda as alterações físicas e cognitivas do processo de envelhecimento humano e

suas implicações no desenvolvimento de interfaces digitais;

O capítulo 6 – Pesquisa-Ação: um estudo junto aos alunos da Universidade

Aberta à Terceira Idade (UNATI) – UNESP – Campus de Marília – apresenta os

fundamentos da aplicação da pesquisa-ação e os resultados de pesquisa, com

enfoque na documentação do repositório digital da UNATI – UNESP.

O capítulo 7 – Considerações Finais – aborda as conclusões referentes a este

trabalho científico.

20

2 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E AS TECNOLOGIAS DE

INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC): relação entre indivíduos,

tecnologia e sociedade

A transição da comunicação oral para a comunicação escrita possibilitou ao

homem registrar o conhecimento em diversos suportes informacionais. A partir disso,

iniciou-se um processo histórico-evolutivo em que a investigação e o uso de novas

tecnologias facilitaram sobremaneira o processo de comunicação.

Man (2004) elenca quatro momentos nos quais a comunicação atingiu um

novo nível de velocidade e alcance: a invenção da escrita, a invenção do alfabeto, a

invenção da imprensa e o advento da internet. A cada momento dessa evolução, um

número maior de pessoas passou a ter acesso à informação e, em paralelo, mais

informação passou a ser produzida.

Para Le Coadic (2004), uma das características que marcam o futuro da

informação é seu crescimento exponencial concomitante à implosão do tempo de

comunicação. Isso gera uma preocupação com relação à relevância da informação

no que diz respeito à sua seleção, acesso, uso e reuso, bem como com relação ao

seu valor agregado pela sociedade.

A representação, a organização e o armazenamento de informações com o

objetivo de recuperação, acesso, uso e disseminação são elementos de

investigação teórica e prática da Ciência da Informação e, na atualidade, os estudos

enfocam especialmente o desenvolvimento e utilização das Tecnologias de

Informação e Comunicação (TIC) nesses contextos. Essas atuam como ferramentas

indispensáveis em todos os processos citados, além de poderem ser consideradas

como um dos objetos de estudo dessa área, visto que estão inseridas em todos os

momentos da evolução humana e nas relações entre o homem e a informação, o

conhecimento e a comunicação.

O desenvolvimento da Ciência da Informação iniciou-se com a

Documentação, conceito introduzido por Paul Otlet e seu colaborador Henri La

Fontaine. Desde o final do século XIX até as primeiras décadas do século XX, várias

foram suas contribuições, dentre as quais destacam-se a criação do Instituto

Internacional de Bibliografia (IIB) que, anos mais tarde, se tornaria Federação

Internacional de Documentação (FID); a criação da Classificação Decimal Universal

21

(CDU), “[...] que aprimora a Classificação Decimal de Dewey com subdivisões

sistemáticas normatizadas e notações ampliadas, razão pela qual ganhou um

elevado grau de aceitação nas bibliotecas e centros de documentação

especializados” (ROBREDO, 2003, p.41); o lançamento do Repertório Bibliográfico

Universal; e a publicação do Tratado de Documentação2.

[...] as idéias e as realizações dos dois advogados belgas, ao introduzir o novo conceito de ‘documentação’, introduzem, também, um novo paradigma. Com efeito, os repertórios bibliográficos são organizados de forma que uma ênfase especial é dada ao conteúdo dos documentos e à maneira como esse conteúdo é tratado – e analisado – visando a armazenagem organizada da informação correspondente e, sobretudo, sua recuperação direcionada ao serviço do usuário. (ROBREDO, 2003, p.44).

Com vistas à socialização e universalização do conhecimento, Otlet

considerava a importância da criação de uma Enciclopédia Documentária ou Livro

Universal como a grande expressão da Documentação. Além disso, projetou uma

cidade livre que funcionaria como um centro coordenador de uma rede de

informação e conhecimento, um lugar onde as pessoas pudessem ter acesso ao

conhecimento produzido em todo o mundo, a materialização arquitetônica do

conhecimento e da memória. Esse projeto foi encomendado ao arquiteto Le

Corbusier e se chamaria Cite Mondiale ou simplesmente Mundaneum3 (SANTOS,

2006).

Otlet ainda visionou um ambiente em que os usuários poderiam realizar

pesquisas, ler e escrever à sua maneira por meio de uma base de dados mecânica

armazenada em fichas 3x5. Poderiam, ainda, anotar os relacionamentos entre os

originais recuperados e acessar bases de dados de grandes distâncias por meio de

um telescópio elétrico conectado por uma linha telefônica, recuperando uma imagem

do fac-símile que seria remotamente projetada em uma tela lisa. Essa noção de

originais em rede foi definida como “links” por Otlet, a fim de descrever esse tipo de

relacionamento (WRIGHT, 2003).

Percebemos que seus projetos incluíam a pesquisa e a aplicação de

tecnologias emergentes (SANTOS, 2006) visando eliminar barreiras e facilitar o

acesso ao conhecimento humano.

Wright (2003) considera Otlet o antepassado esquecido da Arquitetura da

Informação, devido à sua preocupação em representar, organizar e apresentar a

2 OTLET, P. Traité de documentation. Brussels: Editiones Mundaneum, 1934. 3 Disponível em: <http://www.mundaneum.be>. Acesso em: 17 dez. 2009.

22

informação da melhor forma para os usuários, atribuindo a estes grande importância.

O autor destaca ainda que Otlet imaginou além do que seria a rede mundial de

computadores, a Web e o hipertexto ao idealizar “[...] um sistema simultaneamente

ordenado e auto-organizado, e infinitamente reconfigurável pelo leitor ou pelo autor4”

(WRIGHT, p.5, tradução nossa), o que aponta para o momento atual da Web, que

possibilita a produção de informação pelos usuários conectados à Internet em

ambientes informacionais digitais, gerando um conteúdo intelectual colaborativo e

auto-organizado e contribuindo para a criação de comunidades virtuais no

ciberespaço.

Wright (2003) apresenta um trecho do último livro de Paul Otlet (1935),

Monde5, que permite entender seu posicionamento diante das infinitas possibilidades

relacionadas ao acesso ao conhecimento universal:

Tudo no universo e tudo do homem poderia ser registrado à distância em que foi produzido. Dessa maneira uma imagem móvel do mundo será estabelecida, um verdadeiro espelho de sua memória. De uma distância, todos serão capazes de ler textos, ampliados e limitados ao assunto desejado, projetados em uma tela individual. Dessa maneira, qualquer pessoa sentada em sua poltrona será capaz de contemplar a criação, como um todo ou em certas partes.6 (WRIGHT, 2003, p.6, tradução nossa).

Anos mais tarde, após a Segunda Guerra Mundial, Vannevar Bush publicou

o importante artigo “As we may think” que teve por objetivo incentivar a produção

científica no pós-guerra. Enfatizou a importância da ciência para a comunicação

humana e vislumbrou o memex, “[...] um dispositivo futuro para uso individual, um

tipo de arquivo e biblioteca privados mecanizados.7” (BUSH, 1945, p.10, tradução

nossa). Similar à Otlet, Bush imaginou uma nova tecnologia que possibilitasse o

acesso a informações interconectadas, iniciando uma reflexão sobre o que, anos

mais tarde, seria a rede mundial de computadores e o hipertexto. Isso pode ser

visualizado a partir das principais características do memex, resgatadas do artigo de

Bush:

4 […] a system simultaneously ordered and self-organizing, and endlessly re-configurable by the individual reader or writer. 5 OTLET, P. Monde: essai d’universalisme: connaissance du monde, sentiment du monde, action organisée et plan du monde. Brussels: Editiones Mundaneum, 1935. 6 Everything in the universe, and everything of man, would be registered at a distance as it was produced. In this way a moving image of the world will be established, a true mirror of his memory. From a distance, everyone will be able to read text, enlarged and limited to the desired subject, projected on an individual screen. In this way, everyone from his armchair will be able to contemplate creation, as a whole or in certain of its parts. 7 […] a future device for individual use, which is a sort of mechanized private file and library.

23

• Consiste de um escritório, análogo a uma mesa de trabalho, com telas, teclado,

botões e alavancas, podendo ser operado a distância;

• Possui grande capacidade de armazenamento de informações que poderão ser

consultadas com grande velocidade e flexibilidade;

• Suplemento ampliado e íntimo da memória, permitindo interconexões.

Paul Otlet e Vannevar Bush idealizaram o que seria o hipertexto, cujo termo

foi cunhado no início da década de 1960 por Theodore Nelson a partir do projeto

Xanadu (LÉVY, 1993), que influenciou a estrutura textual dinâmica, interativa,

flexível e não-linear da World Wide Web, anos mais tarde. Segundo Le Coadic

(2004, p.59-60),

O que diferencia o conceito de hipertexto das outras formas de armazenamento eletrônico da informação é a estrutura associativa que reproduz, muito de perto, a estrutura da memória humana e pode tornar-se seu complemento íntimo e ampliado. Permite substituir as estruturas clássicas arborescentes da informação por estruturas mais ricas e mais complexas, organizadas em redes, mostrando um número infinito de caminhos, abertos a todas as navegações e interligando múltiplos objetos.

A explosão da informação nos anos 1950 e a importância da disseminação

da produção científica contribuíram para discussões e realização de eventos, dentre

os quais destaca-se a International Conference on Scientific Information, realizada

em 1958 na cidade de Washington. Esse evento marcou a transformação da

Documentação em Ciência da Informação (ROBREDO, 2003).

Desde então, outros eventos apontaram para discussões acerca da Ciência

da Informação, bem como da forte influência das TIC para o novo campo científico.

Em especial, as conferências do Georgia Institute of Technology, realizadas entre

1961 e 1962, apresentaram os primeiros resultados dos trabalhos realizados, a fim

de formular o que seria e do que se trataria efetivamente essa ciência (ROBREDO,

2003).

Harold Borko formulou um dos primeiros conceitos para a Ciência da

Informação a partir das discussões realizadas nessas conferências, com enfoque

nos conceitos apresentados por Taylor (19668):

Ciência da Informação é a disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam o fluxo de informação e os significados de processamento da informação, visando sua acessibilidade e usabilidade. Ela está preocupada com esse corpo de

8 TAYLOR, R. S. Professional aspects of information science and technology. In: CUADRA, C. A. (Ed.) Annual Review of Information Science and Technology. New York: John Willey & Sons, 1966, v.1.

24

conhecimentos relacionados com a origem, coleção, organização, armazenamento, recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação. Isto inclui a investigação sobre representação da informação em sistemas naturais e artificiais, o uso de códigos para a transmissão eficiente da mensagem, bem como o estudo de dispositivos e técnicas de processamento da informação como computadores e seus sistemas de programação. [...] Ela tem tanto um componente de ciência pura, visto que investiga seu objeto sem considerar sua aplicação, e um componente de ciência aplicada, visto que desenvolve serviços e produtos.9 (BORKO, 1968, p.3, tradução nossa).

Essa definição pode ser considerada a base da Ciência da Informação,

apresentando muitos pontos que são abarcados nas pesquisas atuais, como o

comportamento informacional; a gestão dos fluxos informacionais; a comunicação da

informação com utilização de ferramentas tecnológicas, com destaque às formas de

representação da informação e à recuperação da informação; a natureza

interdisciplinar da Ciência da Informação; a abordagem dos sistemas auto-

organizados, consideradas por Borko (1968) um dos focos de investigação da área

dentre outras. Além disso, o comportamento informacional, a usabilidade e a

acessibilidade da informação parecem conferir uma preocupação com os usuários,

os quais devem participar de todos os processos relacionados à produção da

informação e à construção de ambientes informacionais, percepção que será

justificada no decorrer de todo este trabalho.

A partir de uma investigação epistemológica da Ciência da Informação,

Capurro (2003) defende que o campo nasceu com um paradigma físico, questionado

sob um enfoque cognitivo idealista e individualista, posteriormente substituído por

um paradigma pragmático e social, com influência das tecnologias digitais. O autor

reitera que esse último paradigma já existia nos predecessores da área, tais quais a

biblioteconomia e a documentação.

O período que compreende desde o pós – Segunda Guerra Mundial até os

primeiros anos decorrentes da fundação da Ciência da Informação valorizou o físico

e o sistêmico, herdando uma concepção material e quantitativa do objeto

informação, tendo em vista a influência direta da teoria da informação de Claude

9 Information science is that discipline that investigates the properties and behavior of information, the forces governing the flow of information, and the means of processing information for optimum accessibility and usability. It is concerned with that body of knowledge relating to the origination, collection, organization, storage, retrieval, interpretation, transmission, transformation, and utilization of information. This includes the investigation of information representations in both natural and artificial systems, the use of codes for efficient message transmission, and the study of information processing devices and techniques such as computers and their programming systems. […] It has both a pure science component, which inquires into the subject without regard to its application, and an applied science component, which develops services and products.

25

Shannon e Warren Weaver e da cibernética de Norbert Wiener. Isso propiciou o

desenvolvimento de pesquisas com enfoque mecanicista (CAMPOS; VENÂNCIO,

2006).

Na teoria da informação (ou teoria matemática da comunicação) as mensagens ou sinais são transmitidos, e a informação é quantificada como uma medida de um repertório de signos colocados à disposição e escolhidos pelo emissor, que devem, necessariamente, ser (re)conhecidos pelo receptor. O sentido da informação é desconsiderado para o problema de engenharia delimitado [...]. (CAMPOS; VENÂNCIO, 2006, p.3-4).

Esse momento da história da Ciência da Informação ou mesmo o paradigma

físico, como denomina Capurro (2003), exclui o sujeito cognoscente do processo

informativo e comunicativo, descartando os aspectos semânticos e pragmáticos da

informação.

A partir da década de 1970, os estudos relacionados à informação foram

direcionados ao paradigma cognitivo, influenciado pela ontologia e epistemologia de

Karl Popper. Nesse momento, a idéia de construção do conhecimento passou a ser

incorporada na literatura, porém os aspectos sociais que participam desse processo

não eram considerados (CAPURRO, 2003; CAMPOS; VENÂNCIO, 2006).

O ponto de vista cognitivo relega os processos sociais de produção, distribuição, intercâmbio e consumo de informação a um nível numênico, indicado somente por seus efeitos nas representações de geradores de imagens atomizadas. A construção social dos processos informativos, ou seja, a constituição social das “necessidades dos usuários”, dos “arquivos de conhecimentos” e dos esquemas de produção, transmissão, distribuição e consumo de imagens, exclui-se, pois, da teoria da biblioteconomia e da ciência da informação. (FROHMANN, 199510, p.282 apud CAPURRO, 2003, p.8).

A perspectiva cognitivista cedeu espaço ao paradigma social devido à

importância em se considerar aspectos sociológicos, situacionais, políticos, culturais,

filosóficos, lingüísticos, emocionais, históricos e epistemológicos, direcionando os

estudos a uma visão holística (CAMPOS; VENÂNCIO, 2006).

Esses aspectos estão intensamente presentes em ambientes informacionais,

nos quais não caberia apenas uma abordagem cognitivista, devido à complexidade

nas relações entre os indivíduos e a informação presentes nesses ambientes em

10 FROHMANN, B. Knowledge and power in information science: toward a discourse analysis of the cognitive viewpoint. In: CAPURRO, R.; WIEGERLING, K.; BRELLOCHS, A. (Ed). Informationsethik. Konstanz: UVK, 1995. p.273-286.

26

nível social e cultural. Campos e Venâncio (2006, p.8) resgatam a teoria dos

ambientes informacionais de Taylor (199111), afirmando que ela

[...] analisa o ambiente de uso da informação, considerando os determinantes situacionais dos grupos de trabalho, das classes de problemas, dos ambientes de trabalho e das soluções de problemas. Na consideração do ambiente de trabalho são valorizadas suas características físicas e sociais. Os pressupostos e atitudes comuns que influenciam as necessidades de informações são úteis para identificar os grupos de usuários de informação. Os problemas mais freqüentes são diagnosticados e os modos de solução habitualmente esperados pelos usuários são investigados, um ponto que revela um distanciamento da perspectiva tradicional dos sistemas de recuperação de informação, que procuram soluções a partir do problema delimitado [...]

O contexto dessa investigação considera os indivíduos no contexto social,

conferindo a possibilidade de desenvolvimento de ações em estudos empíricos da

Ciência da Informação, principalmente quando destacamos as TIC como parte

integrante desses estudos.

Em uma outra abordagem, Barreto (2006) apresenta três tempos que

marcam o desenvolvimento da Ciência da Informação: o tempo da gerência da

informação de 1945 a 1980; o tempo da relação informação-conhecimento de 1980

a 1995; e o tempo do conhecimento interativo a partir de 1995 até os dias atuais.

Esses tempos se assemelham aos paradigmas físico, cognitivo e social citados

anteriormente, com algumas diferenças.

O tempo da gestão tinha como foco resolver os problemas relacionados à

explosão informacional no que diz respeito à organização e controle da informação.

Barreto (2006) comenta que o mesmo é feito até hoje, porém, nesse período, esse

era o objetivo principal.

O tempo da relação informação-conhecimento apresenta a importância da

construção do conhecimento nas mentes do receptor, possibilitando ao indivíduo

atribuir sentido à informação. Barreto (2006, p.13) ressalta que, nesse tempo, “[...]

modificou-se a importância relativa da gestão dos estoques da informação

passando-se a apreciar a ação de informação na coletividade”. Percebemos que já

há um direcionamento do cognitivismo ao social, por meio de ações de informação.

O tempo do conhecimento interativo tem relação ao ápice da Internet, ou

seja, a criação da World Wide Web por Tim Berners-Lee, lançada em meados dos

11 TAYLOR, R. S. Information use environment. In: DERVIN, B.; VOIGT, M.J. (Ed.). Progress in Communication Sciences, v 10. New Jersey: Norwood, 1991. p. 217-255.

27

anos 1990, que possibilitou o uso popular e a comunicação entre pessoas sem

barreiras de tempo e espaço.

Desse modo, vemos que a Ciência da Informação se desenvolveu com o

objetivo de resolver os problemas relacionados à informação. Esses problemas

atuam em vários níveis, afetam indivíduos e sociedade e estão intrinsecamente

relacionados à evolução das TIC e a outras disciplinas e campos de estudo.

Saracevic (1996) aponta como principais características da Ciência da

Informação: sua natureza interdisciplinar; a importância das TIC para a área; e sua

participação efetiva, em conjunto a outros campos, na evolução da sociedade da

informação.

Com relação à interdisciplinaridade, Borko (1968) apresenta algumas áreas

as quais a Ciência da Informação apresenta interfaces, como a matemática, a lógica,

a linguística, a psicologia, a ciência da computação, a engenharia de produção, as

artes gráficas, a comunicação, a biblioteconomia, a administração entre outros.

Saracevic (1996, p.48) argumenta sobre a necessidade da interdisciplinaridade da

Ciência da Informação:

Os problemas básicos de se compreender a informação e a comunicação, suas manifestações, o comportamento informativo humano e os problemas aplicados ligados ao "tornar mais acessível um acervo crescente de conhecimento", incluindo as tentativas de ajustes tecnológicos, não podem ser resolvidos no âmbito de uma única disciplina. [...] Problemas complexos demandam enfoques interdisciplinares e soluções multidisciplinares.

A interdisciplinaridade recorrente da área permite uma flexibilidade às

pesquisas quanto ao desenvolvimento de seus aspectos teóricos e práticos.

Entretanto, Gomes (2001) alerta para uma reflexão sobre a delimitação de fronteiras

disciplinares da Ciência da Informação, argumentando que, sem uma base estável

que delimite seu campo teórico e prático, não se estabelecerá como disciplina. A

autora argumenta que há uma necessidade de se estabelecer limites para

compreender efetivamente seu diálogo interdisciplinar.

No que diz respeito ao segundo apontamento de Saracevic (1996) sobre a

Ciência da Informação, relacionado à importância das TIC, constatamos que é

necessário considerá-las como um dos objetos de estudo teórico da área e não

apenas como ferramentas de aplicação, como ainda são abordadas atualmente em

grande parte das pesquisas. Santos e Vidotti (2009) defendem essa perspectiva,

pois a proposta para investigação das Tecnologias de Informação e Comunicação,

ao traçar um paralelo com a Organização da Informação,

28

[...] tem seu olhar enriquecido pela ênfase nos processos de ajustes estruturais, tecnológicos e culturais para com o sujeito em seu meio informacional. É um olhar direcionado para a trama complexa das relações em rede, sem a presença necessária de um líder ou de um centro organizador fixo, que aponta para a relevância das interações que se estabelecem. O entendimento dos ambientes informacionais digitais, com sujeitos psicossociais autônomos conectados em rede, requer estudos interdisciplinares que resguardem a complexidade e a riqueza informacional que os constitui. É também nesse sentido que as Tecnologias de Informação e Comunicação vão além de ferramentas. (SANTOS; VIDOTTI, 2009, p.7).

As TIC estão fortemente inseridas na sociedade por meio da cultura

individual e coletiva e das diversas possibilidades que permitem a comunicação

humana, bem como a produção e o acesso às informações pelos indivíduos. Freire

(2006) também entende que as TIC não são apenas instrumentos técnicos no

contexto da sociedade contemporânea, pois também estão relacionadas ao

potencial cognitivo e cultural do ser humano.

A criação de ambientes informacionais digitais considera todos os aspectos

envolvidos, desde as influências contextuais que atuam em um tempo e espaço

definidos até os envolvidos diretos, tais como pessoas, cultura, comportamento,

sendo que existe sempre um cenário tecnológico e ferramentas tecnológicas

envolvidas que permitirão a construção e o compartilhamento do conhecimento em

um nível atemporal e não espacial.

Nessa perspectiva, percebemos que há uma inter-relação entre ser humano,

tecnologia e sociedade e devem atuar conjuntamente sob uma ótica holística,

diferentemente do que verificamos nas pesquisas que, na maioria das vezes, focam

mais os sistemas de informação e o uso quantitativo da informação que o

comportamento dos usuários e o reflexo social da informação no contexto das TIC.

Quanto à participação da Ciência da Informação na evolução da sociedade

da informação, destacamos a importância da ação. Wersig (1993) caracteriza a

Ciência da Informação como ciência pós-moderna devido à mudança do papel do

conhecimento para os indivíduos, organizações e culturas com o passar do tempo.

Considera que informação é conhecimento para ação, o que indica a importância da

ação perante a complexidade existente na relação entre indivíduos, sociedade e

tecnologias.

29

Ilharco (2003) trata a ação sob a perspectiva da Filosofia da Informação,

investigação iniciada pelo filósofo italiano Luciano Floridi. Segundo o autor, a

filosofia da informação

[...] se dedicaria ao estudo do fenómeno da informação, enquanto fundamento da acção, da comunicação e da decisão, e, também, como manifestação primária e fundamental que parece estar a marcar a nossa época, a qual, sintomaticamente, é referida por ‘sociedade da informação’. (ILHARCO, 2003, p.9).

O contexto de atuação dessa nova investigação é a atual sociedade da

informação, que está intensamente se desenvolvendo por meio das TIC, as quais

assumiram um caráter inovador e estratégico na gestão de fluxos informacionais. À

tríade dados, informação e conhecimento, Ilharco (2003) acrescenta a “acção”,

possibilitando a reflexão de que há uma continuidade nesse fluxo e que esta,

portanto, está intimamente relacionada à tomada de decisões.

Desse modo, a relação entre informação, conhecimento, indivíduos,

sociedade e tecnologia também é investigada sob uma ótica pragmática. E é nesse

contexto em que os ambientes informacionais digitais devem ser construídos,

atribuindo igual importância ao pensar (planejamento) e ao fazer (ação).

Em uma abordagem recente da Ciência da Informação, destacamos o

pesquisador israelense Chaim Zins (2007), que destaca os aspectos mediadores

que permitem a interação de indivíduos, sociedade e tecnologia em nível de

conhecimento objetivo (ou conhecimento universal), como sinaliza em sua definição

para Ciência da Informação.

Ciência da informação é o estudo de perspectivas mediadoras do conhecimento humano universal (conhecimento humano no domínio universal). As perspectivas mediadoras incluem aspectos cognitivos, sociais e tecnológicos e condições que facilitam a disseminação do conhecimento humano do autor para o usuário12. (ZINS, 2007, p.339, tradução nossa).

Diante da investigação de algumas percepções a respeito da Ciência da

Informação, concluímos que a tríade indivíduos-tecnologia-sociedade atua

fortemente em pesquisas sobre informação e conhecimento desde antes mesmo de

a área se estabelecer como campo de investigação. É nessa perspectiva que se

delineia a construção de ambientes informacionais digitais.

12 Information science is the study of the mediating perspectives of universal human knowledge (i.e., human knowledge in the universal domain). The mediating perspectives include cognitive, social, and technological aspects and conditions, which facilitate the dissemination of human knowledge from the originator to the user.

30

Primeiramente, é preciso entender que um ambiente informacional pode

existir fisicamente, como uma biblioteca ou um centro de documentação, ou no meio

digital, como um web site comercial ou um repositório digital. Além disso, o termo

“ambiente informacional” remete a uma abordagem holística, em que se enfatiza a

existência de pessoas, tecnologias, informação, cultura, comportamento, gestão e

sociedade, como abordado anteriormente.

No entanto, observamos que as pesquisas sobre ambientes informacionais

digitais limitam os estudos aos fluxos informacionais, à disponibilização de produtos

e serviços pelas organizações, ao uso do ambiente e às tecnologias empregadas.

Percebemos, ainda, que pouco é explorado sobre: a importância dos usuários na

construção de ambientes informacionais digitais, antecedendo a definição de

aspectos formais e conteúdo de interfaces; questões relacionadas à cultura e ao

comportamento informacional dos usuários; e a contribuição do que é desenvolvido

nesse ambiente para a sociedade.

Nesse trabalho, damos enfoque a um tipo de ambiente informacional, os

repositórios digitais, buscando atribuir maior importância aos usuários em sua

construção, bem como contribuir com a sociedade com a preservação da memória

de uma instituição e de um grupo etário específico. Para isso, buscamos respaldo

em estudos que auxiliam na reflexão dessas questões, quais sejam a Arquitetura da

Informação, a Usabilidade, a Acessibilidade e o Comportamento Informacional.

A Arquitetura da Informação pode ser considerada a disciplina principal, que

permite a construção de ambientes informacionais digitais que considerem as

necessidades informacionais e organizacionais de seus produtores em consonância

às necessidades de seus usuários, e que contemplem as dimensões contexto,

conteúdo informacional e uso (ROSENFELD; MORVILLE, 1998). Além disso,

considera as infra-estruturas tecnológica e informacional para direcionar a

construção do ambiente. A Usabilidade, a Acessibilidade e o Comportamento

Informacional podem atuar como sub-disciplinas.

O Comportamento Informacional permite o levantamento das necessidades

informacionais e fontes de informação mais utilizadas pelas pessoas e o estudo do

comportamento de busca e uso da informação, auxiliando na construção da

Arquitetura da Informação do ambiente informacional digital, com foco em seus

usuários potenciais.

31

A Usabilidade, por sua vez, permite avaliar a interface constantemente com

o objetivo de identificar problemas que dificultam o uso do ambiente. Além disso,

direciona a realização de mudanças a partir da identificação de novas necessidades

informacionais de produtores e usuários.

Por fim, a Acessibilidade contribui para a inclusão de elementos que

propiciam facilidade de acesso de todos os possíveis usuários existentes dentro do

público-alvo estabelecido.

O capítulo seguinte discute sobre os repositórios digitais e como esses

estudos podem ser aplicados a esse tipo de ambiente informacional digital,

considerando a preocupação em alinhar seres humanos (indivíduos e sociedade) e

tecnologia em um plano de equilíbrio no contexto das pesquisas científicas

relacionadas à informação e tecnologia.

32

3 REPOSITÓRIOS DIGITAIS

A comunicação científica vem se transformando ao longo dos últimos anos

devido à inovação tecnológica que trouxe novas possibilidades de disseminação da

produção científica. As publicações eletrônicas proporcionam maior visibilidade ao

conhecimento científico quando comparadas às tradicionais publicações impressas

(CAFÉ; LAGE, 2002) por conta de uma infinidade de recursos que facilitam

sobremaneira a recuperação e o acesso às informações.

Contudo, o mercado editorial ainda dificulta o acesso a parte das

publicações científicas, mesmo que eletrônicas, quando cobra altos preços pelas

assinaturas, prejudicando bibliotecas, instituições de ensino e pesquisa, bem como

os pesquisadores que apenas objetivam divulgar suas produções científicas e pouco

ganham com esse mercado (CAFÉ; LAGE, 2002).

[...] raramente os pesquisadores visam o lucro econômico quando publicam suas pesquisas em publicações científicas. Os objetivos estão muito mais voltados a divulgar seus trabalhos para obter reconhecimento profissional, influência e prestígio junto à sua comunidade, e, principalmente, contribuir para o desenvolvimento da ciência, disseminando o conhecimento. (CAFÉ; LAGE, 2002, p.2).

Refletindo sobre essas questões, um grupo de pesquisadores europeus e

norte-americanos instituiu a Iniciativa dos Arquivos Abertos (Open Archives Initiative

- OAI13), por meio de um encontro realizado em Santa Fé, Novo México, em outubro

de 1999 (WEITZEL, 2006; CAFÉ; LAGE, 2002), objetivando “[...] desenvolver e

promover a implantação e a disseminação dos conteúdos de arquivos de eprint,

chamados arquivos abertos.” (CAFÉ; LAGE, 2002, p.5).

Isso ocorreu devido a várias iniciativas anteriores como o ArXiv14, o

GogPrints15, a Perseus Digital Library16 e a Physnet17, que surgiram como um meio

de compartilhamento de resultados de pesquisas, de relatórios de pesquisa, de

trabalhos ainda não revistos por pares entre outros.

A OAI se dedica a solucionar problemas relacionados à interoperabilidade

entre esses repositórios de arquivos abertos, a fim de ampliar o acesso às

13 Disponível em: <http://www.openarchives.org/>. Acesso em: 15 dez. 2009. 14 Disponível em: <http://arxiv.org/>. Acesso em: 15 dez. 2009. 15 Disponível em: <http://cogprints.org/>. Acesso em: 15 dez. 2009. 16 Disponível em: <http://www.perseus.tufts.edu/hopper/>. Acesso em: 15 dez. 2009. 17 Disponível em: <http://de.physnet.net/PhysNet/>. Acesso em: 15 dez. 2009.

33

publicações científicas e acadêmicas (VAN DE SOMPEL; LAGOZE, 2000; CAFÉ;

LAGE, 2002).

Na convenção de Santa Fé também foi estabelecida a distinção entre

provedores de dados (data providers) e provedores de serviços (service providers)

(WEITZEL, 2006). De acordo com Van de Sompel e Lagoze (2000), um provedor de

dados gerencia arquivos de eprint, fornecendo mecanismos para submissão de

documentos, armazenamento a longo prazo, bem como permite que provedores de

serviços coletem seus dados. Um provedor de serviços, por sua vez, é aquele que

cria serviços para o usuário final com base nos dados armazenados em arquivos de

epint dos provedores de dados.

A coleta automática de metadados (metadata harvesting) de provedores de

dados pelos provedores de serviços é esquematizada na Figura 1 que segue.

Figura 1: Provedores de dados e provedores de serviços. Fonte: Kuramoto (2005, p.9).

Os cilindros menores acima representam os provedores de dados e os

maiores, abaixo, os provedores de serviços. O protocolo Open Archives Initiative –

Protocol for Metadata Harvesting (OAI-PMH) permite a coleta de dados (à

esquerda), bem como de serviços agregadores (à direita), os quais também são

provedores de serviços e podem intermediar o processo de coleta de metadados. A

adoção do padrão Dublin Core pela OAI beneficiou as soluções para promover a

interoperabilidade (WEITZEL, 2006).

Além da interoperabilidade, outro conceito embutido na filosofia dos Arquivos

Abertos é o de auto-arquivamento (self-archiving), que busca “[...] minimizar as

34

conseqüências provocadas pelo controle editorial, pela revisão severa entre os

pares e pela reserva dos direitos autorais” (CAFÉ; LAGE, 2002, p.4).

Com base na definição do site Open Access and Institutional Repositories

with EPrints18, inferimos que o auto-arquivamento implica no depósito de um

documento digital em um ambiente informacional de acesso público,

preferencialmente em repositório compilado para o protocolo OAI. No processo de

submissão, é informado um conjunto de metadados e, por fim, o documento é

anexado ao repositório ou mesmo é indicada a URL em que o documento se

encontra (CAFÉ; LAGE, 2002).

Café e Lage (2002, p.6-7) acrescentam que

Uma das grandes preocupações dos cientistas no que se refere ao auto-arquivamento consiste na qualidade dos trabalhos submetidos ao repositório. É importante salientar que a revisão pelos pares continua a ocupar seu papel essencial no controle do material publicado.

Em dezembro de 2001, foi consolidada a Budapest Open Access Initiative

(BOAI) durante um encontro promovido pelo Open Society Institute (OSI)19 em que

participaram vários representantes de instituições que apóiam o acesso livre (open

access) à literatura científica. “[...] ela pretende uma reorganização do sistema de

publicações, baseada em conceitos mais democráticos de acesso ao conteúdo.”

(CAFÉ; LAGE, 2002, p.9).

Os repositórios digitais surgem como uma das estratégias adotadas pela

Iniciativa dos Arquivos Abertos e pelo Movimento de Acesso Livre como

instrumentos de ação política, ocupando um importante papel na discussão sobre os

direitos autorais e promovendo maior impacto da C&T nos âmbitos científico,

tecnológico e social (FERREIRA, 2008).

Conceitualmente, para Weitzel (2006, p.139),

Um repositório digital é um arquivo digital que reúne uma coleção de documentos digitais. Os repositórios digitais que adotam o modelo OAI, isto é, que adotam o protocolo OAI-PMH (Open Archives Initiative – Protocol for Metadata Harvesting), compartilham os mesmos metadados, tornando seus conteúdos interoperáveis entre si.

Seguindo a mesma linha conceitual, Viana, Márdero Arellano e Shintaku

(2006, p.3) entendem repositório digital como

[...] uma forma de armazenamento de objetos digitais que tem a capacidade de manter e gerenciar material por longos períodos de tempo e prover o acesso apropriado. Essa estratégia foi possibilitada pela queda de preços

18 Disponível em: <http://www.eprints.org/>. Acesso em: 16 dez. 2009. 19 Disponível em: <http://www.soros.org/>. Acesso em: 16 dez. 2009.

35

no armazenamento, pelo uso de padrões como o protocolo de coleta de metadados (OAI-PMH), e pelos avanços no desenvolvimento dos padrões de metadados que dão suporte ao modelo de comunicação dos arquivos abertos.

Tipologicamente, os repositórios digitais podem ser institucionais ou

temáticos. Os repositórios institucionais objetivam o armazenamento, a preservação

e a disseminação da produção intelectual de uma instituição, enquanto que os

repositórios temáticos dizem respeito à produção intelectual de uma disciplina ou

área do conhecimento (COSTA; LEITE, 2006).

Ferreira (2008, p.129-130, grifo nosso) apresenta alguns pontos de vista

relacionados às principais características dos repositórios digitais:

• Ponto de vista tecnológico: mecanismo de recuperação contextualizada dos conteúdos em regime de acesso aberto; padrões de organização, gerenciamento e publicação de conteúdos digitais (metadados normalizados); garantia de preservação digital dos conteúdos (memória da produção científica); interoperabilidade com sistemas congêneres, por meio do protocolo OAI/PMH;

• Ponto de vista gerencial: sistema de gestão mediante integração com outros serviços; regras, normas e padrões para armazenamento, preservação, divulgação e acesso da produção científica;

• Ponto de vista científico: validação das autorias e qualificações correspondentes; incremento da visibilidade; estatuto, imagem e valor público da instituição, servindo como indicador tangível de qualidade e demonstrando a relevância científica, econômica e social das atividades de pesquisa e de ensino da comunidade científica. Ainda atua no controle e preservação da memória institucional;

• Ponto de vista legal: preservação dos direitos autorais em longo prazo: auto-arquivamento; complementação ao acesso aberto descrito e autorizado pelos editores de revistas via verde20;

• Ponto de vista de conteúdo: materiais em distintas fases de publicação (preprints, post-prints e materiais publicados internamente); materiais total ou parcialmente abertos; revisados por pares ou não; inúmeros suportes (vídeos, filmes, textos, multimídia, fotos); distintos formatos (como ppt, pdf, txt e jpeg, entre outros); diversidade de tipos de documentos (artigos, livros, documentos de eventos, teses e dissertações, materiais didáticos, etc.);

• Ponto de vista social: participação efetiva e eficiente na reestruturação da comunicação, possibilitando à comunidade científica reassumir o controle da produção acadêmica, aumentando sua visibilidade e possibilidade de maior inserção social.

No Brasil, especificamente, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e

Tecnologia (IBICT) vem desenvolvendo estudos e versões em português de

softwares que permitem o gerenciamento de periódicos científicos, anais de eventos

e teses e dissertações. Para Weitzel (2006, p.137), as ações do IBICT “[...] têm por

20 Via verde refere-se à “[...] situação em que a revista aceita que o autor deposite o artigo que está publicando num repositório institucional e/ou temático, ou mesmo em páginas web pessoais dos autores”. Enquanto que via dourada refere-se à “[...] revista que já nasce totalmente de acesso público e aberto”. (SOUTO; OPPENHEIM, 2008, p.140).

36

finalidade apoiar iniciativas internacionais e promover no país a transição da

comunicação científica baseada em papel para o formato digital”.

No que diz respeito aos repositórios digitais, o IBICT tem investigado o

software DSpace21 e vem assessorando instituições que implementam seus

repositórios digitais com a utilização desse software.

O Dspace foi desenvolvido pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT)

em colaboração com a Hewlett Packard Corporation (HP) e, segundo Viana,

Márdero Arellano e Shintaku (2006), é o software mais utilizado internacionalmente

para a construção de repositórios institucionais, devido sua facilidade de

gerenciamento. Os documentos são organizados em comunidades e coleções,

possibilitando atender às necessidades de uma instituição.

Ele utiliza o protocolo de comunicação da Iniciativa dos Arquivos Abertos

OAI-PMH versão 2.0 como provedor de dados. Além disso, para assegurar a

preservação dos documentos submetidos ao repositório digital, o DSpace cria

identificadores persistentes para cada item, coleção e comunidade armazenada no

sistema, por meio do Corporation for National Research Initiatives – CNRI Handle

System22 (IBICT, 2009).

Dentre as características desse software, destacam-se:

a) ser um software livre, b) sua arquitetura de software é simples e eficiente, c) uso de tecnologia de ponta, d) direcionado para o acesso aberto, e e) intencionalmente implementado para servir de repositório institucional. No Dspace os dados estão organizados de forma a refletir a estrutura da instituição e se organizam em coleções. (VIANA; MÁDERO ARELLANO; SHINTAKU, 2006, p.9).

Desse modo, o DSpace possibilita a construção facilitada de repositórios

institucionais a partir de planejamento de conteúdos e elaboração de política interna

para submissão e acesso de acordo com as necessidade da instituição promotora.

Além disso, por se tratar de um software de código aberto, pode ser customizado

para ampliar as condições de usabilidade e acessibilidade do repositório digital,

visando satisfazer as necessidades do público-alvo.

No que diz respeito aos tipos de documentos, o DSpace pode armazenar

artigos científicos, preprints, relatórios e projetos de pesquisa, trabalhos em eventos,

livros, teses e dissertações, programas de computador, modelos para visualização e

simulação, publicações multimídia, registros administrativos, versões de livros

21 Disponível em: <http://www.dspace.org/>. Acesso em: 05 jan. 2009. 22 Disponível em: <http://www.handle.net/>. Acesso em: 20 dez. 2009.

37

publicados, notícias de jornais, bases de dados bibliográficas, imagens, arquivos de

áudio e vídeo, coleções de bibliotecas digitais, material de ensino, páginas Web

entre outros, contemplando, assim, os mais variados formatos de arquivo (IBICT,

2009).

Ferreira (2007) aponta para a importância do desenvolvimento de políticas

institucionais para gerenciamento do conteúdo do repositório institucional. Viana e

Márdero Arellano (2006) apresentam algumas políticas que podem ser definidas e

implementadas, relacionadas: aos direitos autorais; ao depósito e à submissão de

documentos; ao acesso à informação; ao engajamento de pesquisadores e autores;

aos editores e revisores; à preservação digital; ao envolvimento dos stakeholders23;

aos centros e departamentos da instituição; à atuação dos responsáveis pelo

repositório institucional; àquelas implementadas em âmbito internacional.

Nesta pesquisa, optamos pela utilização do software Dspace para a

construção de um repositório institucional, demonstrando a importância de utilizar

um software livre no contexto da universidade pública.

Enfocamos a investigação da Arquitetura da Informação, Usabilidade,

Acessibilidade e Comportamento Informacional, contribuindo para que esse

ambiente informacional digital seja planejado e construído tendo como base as

necessidades institucionais e as necessidades dos usuários, visando facilidades de

acesso e uso da interface.

As subseções que seguem são destinadas a discutir sobre esses estudos.

3.1 Arquitetura da Informação

O arquiteto Richard Saul Wurman foi o primeiro a utilizar a expressão

‘Arquitetura da Informação’, em 1976, ao presidir uma conferência organizada pelo

Instituto Americano de Arquitetos. Wurman refletiu sobre esse novo termo

baseando-se em sua formação e preocupando-se com a quantidade e variedade de

informações e de como reuní-las, organizá-las e apresentá-las (LIMA-MARQUES;

MACEDO, 2006).

23 Stakeholder: “é qualquer ator (pessoa, grupo, entidade) que tenha uma relação ou interesses (diretos ou indiretos) com ou sobre a organização.” (FREITAS; QUINTANILLA; NOGUEIRA, 2004, p.96)

38

Anos mais tarde, Wurman (1991) comentaria sobre um dos sentimentos

envolvidos na sociedade atual, a ansiedade de informação, que está atrelada à

preocupação em organizar a grande quantidade de informações decorrente da

explosão informacional. É importante ressaltar que o autor não restringe sua

preocupação às informações registradas em um suporte informacional, o que

permite ampliar as possibilidades de estudos relacionados à Arquitetura da

Informação quando aplicada em ambientes informacionais. Embora os acervos

informacionais sejam passíveis de recuperação, o contexto cognitivo, cultural e

social dos indivíduos devem ser considerados em um projeto de AI.

Desde Wurman, a Arquitetura da Informação foi amplamente discutida em

seu princípio básico de criação de mapas estruturados e organizados para facilitar o

acesso das pessoas às informações. Isso pode ser percebido na abordagem de

Davenport e Prusak (1998) que incluem a Arquitetura da Informação como um dos

elementos em um ambiente informacional empresarial, visando facilitar o acesso a

informações dispersas nas organizações.

Porém, o avanço dos estudos relacionados à Arquitetura da Informação

deve-se aos bibliotecários Louis Rosenfeld e Peter Morville que, em 1998,

publicaram a obra Information Architecture for the World Wide Web, iniciando uma

investigação sobre a estruturação e a organização de informações na Web. Desde

então, os estudos avançaram e a prática passou a ser considerada importante em

projetos de ambientes informacionais digitais. Esses autores apresentam quatro

conceitos para Arquitetura da Informação:

1. O desenho estrutural de ambientes informacionais compartilhados; 2. A combinação de sistemas de organização, rotulagem, busca e

navegação em web sites e intranets; 3. A arte e ciência de estruturar produtos de informação e experiências

que permitam usabilidade e encontrabilidade; 4. Uma disciplina emergente e comunidade de prática focada em trazer

princípios de desenho e arquitetura para o ambiente digital.24 (MORVILLE; ROSENFELD, 2006, p.4, tradução nossa).

O conjunto de conceitos apresentado pelos autores é bastante abrangente.

Podemos notar que eles se preocupam com a usabilidade dos ambientes

24 1. The structural design of shared information environments. 2. The combination of organization, labeling, search, and navigation systems within web sites and intranets. 3. The art and science of shaping information products and experiences to support usability and findability, 4. An emerging discipline and community of practice focused on bringing principles of design and architecture to the digital landscape.

39

informacionais digitais. Vidotti, Cusin e Corradi (2008, p.182) apresentam um

conceito para AI no contexto da Ciência da Informação, englobando a usabilidade e

a acessibilidade:

Arquitetura da Informação enfoca a organização de conteúdos informacionais e as formas de armazenamento e preservação (sistemas de organização), representação, descrição e classificação (sistema de rotulagem, metadados, tesauro e vocabulário controlado), recuperação (sistema de busca), objetivando a criação de um sistema de interação (sistema de navegação) no qual o usuário deve interagir facilmente (usabilidade) com autonomia no acesso e uso do conteúdo (acessibilidade) no ambiente hipermídia informacional digital.

Os conceitos apresentados enfocam diferentes perspectivas, porém são

convergentes e complementares. Acrescentamos ainda que a Arquitetura da

Informação pode ser considerada um campo de estudo, como sugere Camargo

(2010), que possui interdisciplinaridade direta com a Biblioteconomia, a Psicologia, a

Engenharia de Software, as Ciências Sociais, a Educação, a Ciência da

Computação, o Ergodesign, as Ciências Cognitivas, a Ciência da Informação entre

outros (AGNER, 2006).

Para Batley (2007), mesmo diante da complexidade que os estudos em AI

adquiriram com o passar do tempo, alguns autores ainda a consideram como

sinônimo de taxonomia. Uma taxonomia organiza informação e conhecimento em

um caminho significativo e, uma vez construída, permite aos usuários o acesso à

informação estruturada e armazenada, que é tanto buscável quanto navegável. Na

perspectiva desse trabalho, a taxonomia é considerada um dos focos de

investigação da AI.

Garrett (2000; 2003), por exemplo, considera a AI como um dos elementos

de experiência do usuário, como apresenta a Figura 2 que segue.

40

Figura 2: Os elementos da experiência do usuário. Fonte: Garrett (2000 apud MACEDO, 2005, p.119).

O autor parece ter a mesma percepção que Wurman tinha quando pensou

sobre arquitetura da informação, ou seja, relacionada à estruturação e à organização

de espaços de informação para facilitar o acesso intuitivo aos conteúdos. Porém, a

complexidade de sua abordagem abarca elementos que acreditamos ser os focos de

investigação da AI, contemplando desde as necessidades do usuário e objetivos do

site até o design visual, perpassando pela definição do conteúdo informacional.

Batley (2007) comenta que a Arquitetura da Informação não se relaciona

apenas com a criação de estruturas, mas também com a funcionalidade contida

nelas. Para a autora, a arquitetura fornece a estrutura e a informação determina a

funcionalidade.

As teorias funcionalistas foram difundidas após a Primeira Guerra Mundial e

influenciaram fortemente o desenho industrial e a arquitetura tradicional, definindo

uma nova arquitetura, a arquitetura moderna ou modernista, cuja principal

característica é o utilitarismo. Pratschke (2005), em uma abordagem sobre a

aplicação da arquitetura em ambientes virtuais, argumenta que os espaços virtuais

não devem ter o funcionalismo como ponto de partida e sim permitir que os

ambientes virtuais atuem como espaços criativos.

Em uma linha de pensamento similar, Lara Filho (2003, p.8) comenta que

41

As formas de organização devem ser respaldadas por objetivos e cabe aos arquitetos da informação propor caminhos que, sem perder de vista o emitente, façam sentido para os usuários, considerem as diferenças e os locais, explorem as múltiplas possibilidades do hipertexto, e evitem o uso de sistemas altamente estruturados.

A Arquitetura da Informação possui o funcionalismo em sua base,

proveniente da própria prática arquitetônica moderna. Porém, com a evolução dos

estudos; com a tendência de aplicação da AI em tecnologias como celulares, palms,

TV Digital; e com o novo paradigma dos ambientes colaborativos da Web 2.0, é

possível repensar essas questões e refletir sobre novos elementos que permitam

aos usuários maior liberdade na interação com a interface digital.

No que diz respeito às relações entre a Ciência da Informação e a

Arquitetura da Informação, Batley (2007) considera dois aspectos principais: o

primeiro se refere à gestão da informação e seus elementos essenciais, quais sejam

a indexação, a catalogação e a classificação, responsáveis pela representação e

organização da informação; o segundo se refere ao design de sistemas de

informação, com foco nas necessidades dos usuários e na criação de interfaces

intuitivas.

A autora comenta que os profissionais da informação já aplicam a

Arquitetura da Informação, principalmente com relação à encontrabilidade

(findability) (MORVILLE, 2005). Argumenta que o foco da capacitação dos

profissionais da informação é aumentar a possibilidade dos usuários em encontrar a

informação, por meio da representação e da organização da informação e

fornecendo ferramentas e assistência para promover sua encontrabilidade.

Tosete Herranz e Rodríguez Mateos (2004) comentam sobre a teoria e a

prática da AI:

Por um lado a AI é uma disciplina fundamentalmente prática orientada acerca dos processos de criação dos sites. Com o trabalho do dia a dia, tem-se perfilando um conjunto de métodos, técnicas e ferramentas que guiam e facilitam sua produção (avaliação heurística, testes de usabilidade, estudos de mercados, criação de cenários e perfis de usuários [...]) Em contrapartida, existe um grande corpo teórico de conhecimentos sobre o design de sites. A AI se ocupa de sua sistematização, encarregando-se de estudar, avaliar e propor princípios e pauta relativos à sua criação25.

25 Por un lado la AI es una disciplina fundamentalmente práctica orientada hacia los procesos de creación de las sedes. Con el trabajo del día a día se han ido perfilando un conjunto de métodos, técnicas y herramientas que guían y facilian su produccíon (evaluación heurística, tests de usabilidad, estudios de mercados, creación de escenarios y perfiles de usuarios [...] Por otra parte, existe un gran corpus teórico de conocimientos sobre el diseño de webs. La AI se ocupa de su sistematización, encargándose de estudiar, evaluar y proponer principios y pautas relativos a su creación.

42

(TOSETE HERRANZ; RODRÍGUEZ MATEOS, 2004, p.206, tradução nossa).

A prática da arquitetura da informação para ambientes informacionais

digitais tem-se alicerçado às propostas de métodos, técnicas, processos e

elementos que compõem sua teoria, somados aos respaldos teóricos e

metodológicos provenientes, em especial, da Ciência da Informação, da Ciência da

Computação, das Ciências Cognitivas e das Ciências Sociais, com enfoque em

aspectos informacionais, tecnológicos, cognitivos e sociais, respectivamente.

Para Camargo e Vidotti (2006, p.105), a construção de ambientes

informacionais digitais

[...] envolve coleções de documentos digitais em vários formatos, mídia e conteúdo, associados a componentes de hardwares e softwares que operam em conjunto através de diferentes formatos de dados e algoritmos, várias pessoas, comunidades e instituições com diferentes objetivos, política e cultura.

Produtores e usuários participam ativamente da construção de ambientes

informacionais digitais: os produtores (indivíduos e organizações) disponibilizam no

ambiente Web informações sobre os mesmos, criando sua identidade virtual, o que

possibilita seu espaço de contatos e seu conhecimento pelos usuários que deseja

atingir; os usuários, por sua vez, utilizam os recursos que os ambientes de

informação oferecem a partir de suas necessidades e objetivos, e têm o controle

sobre a escolha de acessar ou não determinada informação.

Para que a construção desses ambientes informacionais ocorra de maneira

efetiva e satisfatória, deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar (LARA

FILHO, 2003). Entretanto, o arquiteto da informação, enquanto profissional, deve

conhecer todo o trabalho de sua equipe e não apenas focar-se na estrutura

organizacional, mas também em avaliações de usabilidade, na construção efetiva de

ambientes Web entre outras atividades.

Um arquiteto da informação deve, portanto, ser hábil em desenvolver estruturas de informação direcionadas a contextos específicos; descrever o conteúdo e as facilidades de interação entre sistemas de comunicação mediados por computadores; definir a organização, navegação, rotulação e sistemas de busca; aplicar princípios de desenhos interativos centrados no usuário para desenvolvimento de processos; definir parâmetros de usabilidade e adequação em seu contexto-alvo; planificar mudanças e crescimento; compreender social e culturalmente efeitos do sistema de informação e sua implementação; além de desenvolver novos gêneros de mídia. (LIMA-MARQUES; MACEDO, 2006, p.247).

43

Na perspectiva de Morville e Rosenfeld (2006), o desenvolvimento de um

projeto da AI de um ambiente informacional digital perpassa cinco fases: pesquisa,

estratégia, design, implementação e administração.

Enfocamos a fase da pesquisa que pode ser entendida como a base do

processo de desenvolvimento, pois é nesse momento que os vários elementos

presentes no ambiente informacional são analisados, correspondendo às dimensões

contexto, conteúdo e uso (MORVILLE; ROSENFELD, 2006).

O contexto se refere aos aspectos intrínsecos à organização promotora do

ambiente informacional digital, como missão, objetivos, políticas, cultura

organizacional e informacional, comportamento organizacional e informacional,

tecnologias disponíveis, recursos humanos, necessidades e competências

informacionais do público-alvo entre outros (MORVILLE; ROSENFELD, 2006).

O conteúdo se refere aos documentos armazenados e ao seu tratamento,

perpassando a representação, a organização, o armazenamento e a preservação da

informação (MACEDO, 2005).

O uso, por sua vez, se refere a estudos de comportamento de busca de

informação, necessidades e experiências dos usuários, usabilidade da interface,

entre outros aspectos (MORVILLE; ROSENFELD, 2006).

Essa fase pode ser considerada ampla e trabalhosa, porém possibilita o

entendimento da ecologia da informação por meio de uma análise holística,

contribuindo para que o ambiente informacional digital reflita os interesses e

necessidades de produtores e usuários.

Nesse momento, passamos a discutir sobre a Arquitetura da Informação

aplicada em repositórios digitais. De acordo com Camargo e Vidotti (2008, p.2),

Os repositórios digitais oferecem visibilidade para a instituição, interoperabilidade de dados, controle e armazenamento da produção científica, preservação da informação a longo prazo, auto-arquivamento, acesso livre, minimização de custos de publicação, entre outras vantagens. Entretanto, esses ambientes são recentes no Brasil e ainda necessitam de estudos e análises para aperfeiçoamento [...]

Para esse aperfeiçoamento, as autoras consideram importante o estudo da

Arquitetura da Informação aplicado a esses ambientes específicos, com enfoque à

usabilidade e à acessibilidade.

Um repositório digital construído por meio do DSpace, foco desse trabalho,

possui uma interface padrão que é obtida após instalação e configuração do

software. Consideramos que esse padrão já possui uma Arquitetura da Informação

44

embutida, por se tratar de um ambiente informacional que possui recursos para o

tratamento do conteúdo informacional. Além disso, consideramos que previamente

existiu uma necessidade institucional que impulsionou a ação de escolha e

instalação do sistema.

Com o uso do ambiente após sua instalação, os elementos formais e o

conteúdo da interface começam a ser modificados de acordo com os interesses de

produtores e usuários.

Os elementos formais e o conteúdo da interface podem ser customizados por

meio de alterações nos códigos de programação do DSpace, o qual foi desenvolvido

em linguagem Java.

A incorporação de conteúdo informacional no que diz respeito à criação de

comunidades e coleções e ao auto-arquivamento de documentos pode ser realizada

no próprio sistema, sem a necessidade de programação.

A Figura 3 abaixo apresenta a página inicial do repositório digital do Programa

de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba

(PPGCI/UFPB), o qual possui uma interface que se aproxima ao padrão de interface

do DSpace e será utilizado para exemplificar os sistemas da Arquitetura da

Informação propostos por Morville e Rosenfeld (2006).

Figura 3: Página inicial do repositório digital do PPGCI/UFPB. Fonte: <http://dci2.ccsa.ufpb.br:8080/jspui/>. Acesso em: 10 jan. 2010.

45

Na interface padrão, o logotipo do DSpace é apresentado no canto superior

esquerdo. O PPGCI/UFPB o substituiu pelo logotipo do Programa. Essa

customização facilita a identificação da instituição promotora do repositório.

No painel esquerdo, encontramos a opção de busca simples e busca

avançada, considerados elementos do sistema de busca da Arquitetura da

Informação. Logo abaixo, na seção “Navegar”, encontramos possibilidades de

acesso aos documentos armazenados no repositório. As possibilidades de

navegação constituem o sistema de navegação do ambiente informacional digital.

Na seção “Entrar”, são disponibilizados serviços restritos para usuários cadastrados.

Logo abaixo, são apresentados recursos de Ajuda e Sobre o DSpace. Os rótulos

empregados para identificar os links e as seções constituem o sistema de

rotulagem. Na interface padrão, os textos são apresentados no idioma Inglês. A

comunidade brasileira, usuária do DSpace, utiliza geralmente um arquivo traduzido

para o Português que contempla esses rótulos e outras mensagens.

No painel central, encontramos uma apresentação do Repositório do

PPGCI/UFPB, cuja alteração é possível em um arquivo HyperText Markup Language

(HTML). Abaixo, o recurso de busca é exibido novamente, porém aparece apenas

na primeira página do repositório digital, enquanto que o recurso de busca do painel

esquerdo aparece em todas as páginas, pois o frame é fixo. Em seguida, são

exibidas as comunidades criadas pelos produtores do repositório digital tendo em

vista suas necessidades. A organização das comunidades e coleções constituem o

sistema de organização da Arquitetura da Informação. Elas aparecem em ordem

alfabética em uma estrutura hierárquica, característica padrão do DSpace.

À direita da página, são exibidas notícias referentes ao PPGCI/UFPB que

também podem ser alteradas por meio de um arquivo HTML.

Como padrão de metadados para representação de recursos informacionais

é utilizado o Dublin Core, o que contribui para a interoperabilidade com outros

repositórios digitais.

Percebemos que não foram feitas muitas alterações de aspectos formais de

interface por opção da organização promotora em relação à interface padrão do

DSpace para essa versão. No entanto, os conteúdos informacionais foram inseridos

nos arquivos HTML e as comunidades e coleções foram elaboradas para contemplar

os documentos do PPGCI/UFPB.

46

Partimos do pressuposto que o estudo da Arquitetura da Informação em

repositórios digitais deve considerar as diferenças entre a interface padrão do

DSpace e sua customização. Cada instituição e seus usuários possuem

necessidades e características diferentes, podendo suscitar mudanças na

Arquitetura da Informação padrão do DSpace, visando a usabilidade e a

acessibilidade do repositório digital pelos usuários.

A próxima seção discutirá os fundamentos da usabilidade e sua aplicação no

contexto dos repositórios digitais.

3.2 Usabilidade

Usabilidade, no contexto deste trabalho, refere-se à qualidade de interação

entre os usuários e os ambientes informacionais digitais no momento do uso.

Partindo dessa premissa, podemos sugerir que este estudo está intimamente

relacionado:

• à Interação Humano-Computador (IHC), visto que atua no momento de

interação entre os usuários e a interface;

• à Ergonomia e às Ciências Cognitivas, pois considera a relação entre o

ambiente de interação e o comportamento humano, com enfoque nas

necessidades das pessoas;

• à Arquitetura da Informação, pois permite avaliá-la em todas as fases do

processo de desenvolvimento, sob a ótica dos usuários e também dos

projetistas.

Para justificar essa relação, reunimos algumas definições sobre usabilidade.

Para a NBR 9241-11 (2002, p.3), baseada na ISO 9241-11 (199826), a usabilidade

pode ser definida como “[...] medida na qual um produto pode ser usado por

usuários específicos para alcançar objetivos específicos com eficácia, eficiência e

satisfação em um contexto específico de uso.”

Baseando-se no conceito apresentado, Cybis, Betiol e Faust (2007, p.173)

explicam que eficácia é “a capacidade que os sistemas conferem a diferentes tipos

de usuários para alcançar seus objetivos em número e com a qualidade necessária”;

26 ISO 9241 Part 11. Ergonomic requirements for office work with visual display terminals, Part11: Guidance on usability. 1998.

47

enquanto eficiência refere-se à “[...] quantidade de recursos (tempo, esforço físico e

cognitivo...) que os sistemas solicitam aos usuários para a obtenção de seus

objetivos com o sistema”; e, por fim, satisfação é “a emoção que os sistemas

proporcionam aos usuários em face dos resultados obtidos e dos recursos

necessários para alcançar tais objetivos”.

Nielsen e Loranger (2007, p.xvi) apresentam um conceito para usabilidade,

no qual é possível verificar a importância do usuário na interação com um produto.

A usabilidade é um atributo de qualidade relacionado à facilidade de uso de algo. Mais especificamente, refere-se à rapidez com que os usuários podem aprender a usar alguma coisa, a eficiência deles ao usá-la, o quanto lembram daquilo, seu grau de propensão a erros e o quanto gostam de utilizá-la. Se as pessoas não puderem ou não utilizarem um recurso, ele pode muito bem não existir.

Basicamente, os autores que tratam sobre usabilidade a consideram como a

qualidade da interação entre usuários e produtos e, dentre esses produtos, se

destacam os sistemas computacionais, sendo, portanto, foco de investigação da

IHC.

Segundo Agner (2006, p.104), os primeiros testes de usabilidade, no

contexto da IHC, surgiram quando houve a necessidade de definir quantos botões

um mouse deveria ter. Afirma ainda que, atualmente, “os testes de usabilidade são

empregados largamente na indústria de software dos EUA, no desenvolvimento de

websites e na telefonia móvel”.

Autores como Dias (2003) e Cybis, Betiol e Faust (2007) comentam que a

usabilidade possui suas raízes na Ergonomia. De acordo com Iida (1997),

ergonomia é basicamente o estudo da adaptação do trabalho ao homem,

considerando o ambiente físico e os aspectos organizacionais que influenciam a

relação homem-trabalho. Para isso, é preciso conhecer o comportamento humano,

principalmente quando relacionado à informação, considerando o enfoque, nesse

trabalho, da usabilidade em ambientes informacionais digitais. Nesse sentido, as

Ciências Cognitivas também são consideradas um dos enfoques da usabilidade.

A Ciência da Informação e as Ciências Cognitivas surgiram na mesma

época, em decorrência do contexto científico e intelectual gerado a partir da

Segunda Guerra Mundial (ROZADOS, 2003).

O surgimento do computador, que permitiu realizar as manipulações simbólicas visando resolver os problemas e a teoria da informação, que estabeleceu os princípios da transmissão, trouxeram repercussões importantes para várias ciências, em especial as que tratavam com informação e, por extensão, com cognição. No domínio da informática,

48

Turing concebeu uma máquina capaz de resolver todos os problemas calculáveis; Shannon construiu uma teoria da informação como teoria estática do sinal e dos canais de comunicação; Wiener explicou o comportamento dos organismos através de um mecanismo de casualidade circular denominado feedback, lançando as bases da Cibernética. Em todas as teorias, o aspecto cognitivo está presente na preocupação em considerar a forma como o homem pensa, como manipula a informação, como se apropria do conhecimento. (ROZADOS, 2003, p.79-80)

Para Rozados (2003), assim como a Ciência da Informação, as Ciências

Cognitivas não possuem uma única definição aceita pelos pesquisadores.

Basicamente, sugerimos que elas utilizam a metáfora do computador para explicar o

funcionamento do processo de informação humano na mente de cada indivíduo, pois

caracteriza as pessoas como processadoras de informação e construtoras de

conhecimento.

Desse modo, podemos pensar que o enfoque da usabilidade, quando

refletida e aplicada no contexto dos ambientes informacionais digitais, está atrelada

tanto aos aspectos formais quanto ao conteúdo de interfaces.

Uma das discussões recorrentes à usabilidade é a relação estética e

usabilidade no desenvolvimento de uma interface. A comunidade de pesquisadores

em IHC tem considerado a estética um elemento negativo (BADRE, 2002). Nesse

sentido, resgatamos a origem história dessa relação.

As áreas de Urbanismo, Arquitetura e Desenho Industrial sofreram grandes

transformações com o desenvolvimento acelerado da indústria, decorrente da

Primeira Guerra Mundial (ARGAN, 2002). Nesse contexto, foram difundidas as

teorias funcionalistas, as quais baseavam-se na

[...] eliminação dos adereços “inúteis” e “supérfluos” dos produtos (por exemplo, ornamentos ou efeitos lúdicos); ênfase na padronização dos produtos; custos mínimos de fabricação e administração para obter rendimento máximo; renúncia à configuração de produtos com influências emocionais. (MEDEIROS, 2002, p.2).

Sendo assim, refletia-se sobre um desenho funcional que satisfizesse a

população, abandonando ou não priorizando a estética do produto. Medeiros (2002,

p.3) aponta três funções relacionadas à interação entre usuários e produtos:

Função prática: é a relação entre um produto e seus usuários que se situa no nível orgânico-corporal, ou seja, satisfazem necessidades fisiológicas do usuário. Função estética: é a relação entre um produto e seus usuários que se situa no nível dos processos sensoriais, ou seja, a função estética dos produtos é um aspecto psicológico da percepção sensorial durante o uso. Função simbólica: é a relação entre um produto e seus usuários que se situa no nível espiritual, estimulada pela percepção do objeto, estabelecendo ligações com suas experiências e sensações anteriores.

49

Ao intercalar essas funções com o estudo em usabilidade no contexto da

Ciência da Informação, é possível afirmar que todas são significativas no processo

de desenvolvimento e avaliação de ambientes informacionais digitais, porque estes

podem assumir mais de uma delas. Segundo Medeiros (2002), esse intercâmbio

funcional foi dividido em duas grandes categorias, quais sejam a configuração

prático-funcional e a configuração simbólico-funcional.

A configuração prático-funcional se refere a produtos em que

predominam a função prática, ou estética prático-funcional. Eles tendem a ter pouca

aparência estética e despertam pouco interesse, porém são rapidamente

apreendidos. Possuem pouca função estética/simbólica pelas quais as necessidades

psíquicas poderiam ser satisfeitas. O autor ressalta que

A idéia de configurar os objetos orientando-se principalmente por sua função prática encontrou bastante respaldo da indústria na primeira metade do século XX, graças à difusão das teorias funcionalistas desenvolvidas no século XIX pelos arquitetos Henri Labrouste e Louis Sullivan, e do escultor Horatio Greenough. Estas teorias teriam como seus principais seguidores os arquitetos Adolf Loos, Le Corbusier e Walter Gropius, fundador da Bauhaus, escola alemã que influenciou profundamente o perfil da profissão de design como conhecemos hoje. (MEDEIROS, 2002, p.4).

A configuração simbólico-funcional, por sua vez, se refere a produtos em

que predominam a função simbólica, ou estética simbólico-funcional. Com relação à

aparência desses produtos, as funções estética e simbólica são predominantes,

despertando o interesse dos usuários, porém estes não os apreendem rapidamente.

O autor comenta que este tipo de produto surgiu

[...] durante a Idade Média: os produtos com configuração prático-funcional [anteriormente citados] cobriam necessidades modestas e eram utilizados principalmente pelas classes camponesa e burguesa, enquanto os membros do clero e da nobreza utilizavam produtos que se distinguiam daqueles do povo principalmente pelo uso de adornos caros (luxos estéticos que também implicavam em custos elevados). Os produtos utilizados pelo clero e pela nobreza tinham significado simbólico que sobrepujava a função prática. (MEDEIROS, 2002, p.4).

A partir das reflexões de Medeiros (2002), é possível perceber que o design

possui duas abordagens no contexto de estudo da usabilidade: a que almeja a

satisfação do usuário em utilizar determinado produto a partir de interface prática,

simples e funcional e a que enfatiza a interface rebuscada em que há predominância

da estética, como a utilização de recursos dinâmicos de Flash em ambientes

informacionais digitais.

50

Nielsen (2000, p.11) também considera que “há basicamente duas

abordagens fundamentais ao design: o ideal artístico de expressar-se e o ideal da

engenharia de resolver um problema para o cliente”.

No ambiente Web, verifica-se a ocorrência das duas abordagens. Alguns

ambientes informacionais digitais utilizam interfaces simples e outros não. Há

também aqueles que combinam características de ambas, prevalecendo mais uma

do que outra. O ideal, de acordo com a usabilidade, é que a praticidade e a

funcionalidade sejam predominantes enquanto que a estética seja projetada de

maneira satisfatória, podendo ser utilizada para chamar a atenção do usuário para

as características mais importantes do ambiente, o que deve estar intimamente

relacionado às suas necessidades informacionais.

Badre (2002) argumenta que é possível fornecer uma expressão estética

sofisticada sem violar os princípios de usabilidade. Nielsen e Tahir (2002, p.23)

confirmam essa afirmação ao comentarem sobre o uso do design gráfico em home

pages:

Geralmente, o design gráfico prejudica a usabilidade quando utilizado como ponto de partida para o design da homepage, em vez de como uma etapa final para atribuir enfoque adequado a um design de interação centralizado no cliente. O design gráfico deve ajudar a conceder uma noção de prioridade ao design da interação, chamando a atenção do usuário para os elementos mais importantes da página.

A qualidade de interação do usuário com os ambientes informacionais

digitais está relacionada às suas necessidades informacionais como também às

diversas possibilidades que esse ambiente pode proporcionar. Embora a

combinação de estética e funcionalidade seja uma atividade complexa para os

desenvolvedores, o resultado final pode ser satisfatório se bem planejado. Isso deve

considerar tanto a facilidade de interação como o uso do ambiente de modo criativo

pelo usuário.

O design de interação é a disciplina central em estudos relacionados à IHC.

Preece, Rogers e Sharp (2005) definem design de interação como sendo o “design

de produtos interativos que fornecem suporte às atividades cotidianas das pessoas,

seja no lar ou no trabalho” (p.28) e afirmam que seu objetivo central é “[...]

desenvolver produtos interativos que sejam utilizáveis, o que genericamente significa

produtos fáceis de aprender, eficazes no uso, que proporcionem ao usuário uma

experiência agradável” (p.24). É possível notar a semelhança entre os conceitos e

objetivos do design de interação e da usabilidade.

51

O principal fator que garante o sucesso da usabilidade é o conhecimento das

particularidades do público-alvo em um projeto de Arquitetura da Informação.

Quando se pretende construir um ambiente informacional, seja ele digital ou

tradicional, o estudo dos aspectos cognitivos do público-alvo deve ser realizado

tendo em vista as relações entre os usuários e os aspectos formais da interface e

entre os usuários e o conteúdo informacional.

O pré-requisito essencial para o desenho de ambientes informacionais

digitais, segundo Badre (2002) é a definição do público-alvo. Para o autor, o perfil

dos usuários influencia sobremaneira o design e a avaliação da interface. Nesse

sentido, é necessário considerar as diversidades humanas relacionadas ao público-

alvo estabelecido.

De um modo geral, a diversidade humana abrange várias características dos

grupos sociais humanos, dentre as quais podemos citar a cultura, a religião, o

idioma, as capacidades e as limitações físicas e cognitivas dentre outras (TORRES;

MAZZONI; MELLO, 2007).

No que diz respeito às diferenças individuais, Badre (2002) as divide em

quatro categorias:

• conhecimento, experiência e habilidades: que estão relacionadas à

educação dos usuários, nível de leitura, experiências, habilidades e

competências, estratégias para resolução de problemas dentre outros

aspectos;

• personalidade: relacionada ao temperamento dos usuários e níveis

de tolerância e motivação. Para o autor, esses aspectos interferem

diretamente no momento em que os usuários estão navegando em

um ambiente informacional digital;

• atributos demográficos e físicos: os atributos demográficos estão

relacionados à idade, sexo, status social dentre outros aspectos; e os

atributos físicos referem-se às capacidades e limitações físicas;

• níveis de usuários: relacionados à execução das tarefas. Nessa

perspectiva, os usuários podem ser classificados em novatos,

intermediários, experientes e experts (especialistas).

Badre (2002) também ressalta a importância de avaliar as capacidades e

limitações cognitivas. Portanto, resgatamos alguns conceitos da Ciência Cognitiva

para fundamentar essa ação.

52

Marcos Mora (2004, p.58, tradução nossa) apresenta quatro etapas do

processamento humano da informação, baseando-se em Lindsay e Norman

(197727), que contemplam desde o momento em que um indivíduo recebe um

estímulo sensorial até sua resposta:

• codificação da informação recebida do ambiente em uma forma interna de representação; • comparação de sua representação com as representações armazenadas na memória; • decisão sobre o que vai responder ao estímulo; • organização da resposta e da ação desejada.28

Para que ocorra esse processamento, os indivíduos ativam processos

cognitivos como a atenção, a percepção, a memória, a linguagem, a resolução de

problemas, a criatividade dentre outros. A IHC se interessa por esses processos,

visto que permite compreender como os usuários recebem estímulos na interação

com a interface e como reagem frente a essa situação.

Para Sternberg (2000, p.78), “a atenção é o fenômeno pelo qual

processamos ativamente uma quantidade limitada de informações do enorme

montante de informações disponíveis através de nossos sentidos, de nossas

memórias armazenadas e de outros processos cognitivos”.

O autor comenta que existem várias funções relacionadas com a atenção,

porém ele apresenta quatro delas que são o foco dos estudos cognitivos atualmente:

atenção seletiva, vigilância, sondagem e atenção dividida. Essas funções podem ser

visualizadas no Quadro 1 que segue.

27 LINDSAY, P.; NORMAN, D. Human information processing: an introduction to psychology. Nova York: Academic Press, 1977. 28 - codificación de la información recibida del entorno en una forma interna de representación; - comparación de su representación con las representaciones almacenadas en la memoria; - decisión sobre qué respuesta va a dar al estímulo; - organización de la respuesta y de la acción necesaria.

53

Função Descrição

Atenção seletiva

Estamos constantemente fazendo escolhas com relação aos estímulos aos quais prestaremos atenção e aos estímulos que ignoraremos. Ignorando alguns estímulos ou, no mínimo diminuindo a ênfase sobre eles, assim focalizamos os estímulos essencialmente notáveis. O foco de atenção concentrado em estímulos informativos específicos aumenta nossa capacidade para manipular aqueles estímulos para outros processos cognitivos, como a compreensão verbal ou a resolução de problemas.

Vigilância e detecção de

sinal

Em muitas ocasiões, tentamos vigilantemente detectar se percebemos ou não um sinal, um determinado estímulo-alvo de interesse. Através da atenção vigilante para detectar sinais, estamos primed para agir rapidamente quando detectamos os estímulos sinais.

Sondagem Freqüentemente envolvemo-nos em uma ativa sondagem quanto a estímulos específicos.

Atenção dividida

Freqüentemente, conseguimos engajar-nos em mais de uma tarefa ao mesmo tempo e deslocamos nossos recursos de atenção para distribuí-los prudentemente, conforme necessário.

Quadro 1: As quatro funções principais da atenção. Fonte: Sternberg (2000, p.88).

No caso da atenção seletiva, em especial, os projetistas podem destacar

elementos mais importantes em uma página Web para que os usuários os

encontrem rapidamente (BADRE, 2002). Isso pode ser feito utilizando-se diversos

recursos, como gráficos animados, cores, sublinhado entre outros. Porém, esses

destaques devem ser realmente necessários para que os usuários não utilizem a

atenção seletiva para uma informação que não os interessa (PREECE; ROGERS;

SHARP, 2005).

Os projetistas devem evitar também chamar a atenção dos usuários para

vários elementos em uma mesma página. Desse modo, os usuários ativariam a

atenção dividida e, por mais que as pessoas consigam distribuir sua atenção, em um

determinado momento elas podem se incomodar ou mesmo se distrair devido às

várias possibilidades existentes em uma navegação hipertextual (PREECE;

ROGERS; SHARP, 2005).

A percepção, por sua vez, é o “[...] o conjunto de processos psicológicos

pelos quais as pessoas reconhecem, organizam, sintetizam e fornecem significação

(no cérebro) às sensações recebidas dos estímulos ambientais (nos órgãos dos

sentidos).” (STERNBERG, 2000, p.147). “É um processo complexo, que envolve

outros processos cognitivos, como a memória, a atenção e a linguagem. A visão

constitui-se no sentido dominante, seguida pela audição e pelo tato.” (PREECE;

ROGERS; SHARP, 2005, p.97).

54

A aplicação da percepção ao design de interação engloba a facilidade de

representação dos elementos das páginas Web. Sendo assim, os usuários

conseguem perceber esses elementos de acordo com suas representações mentais.

A memória é o meio pelo qual “[...] as pessoas recorrem ao conhecimento

passado, a fim de utilizá-lo no presente; os mecanismos dinâmicos associados à

retenção e à recuperação da informação.” (STERNBERG, 2000, p.225).

Dentre os tipos de memória que a literatura apresenta, destacamos aquelas

que são mais aplicadas no contexto da IHC, apresentadas no Quadro 2 que segue.

Tipo de Memória

Descrição

Memória de longo Prazo

Possui uma capacidade de armazenamento sem limite e não tem um tempo de retenção definido. A recuperação da informação armazenada sofre um processo que não se conhece, porém muitas vezes recorre a associações mnemônicas. (MARCOS MORA, 2004)

Memória de curto Prazo

Atua quando uma informação é percebida e reconhecida. Apenas uma pequena quantidade de representação sensorial chega a essa memória e permanece com ela durante os dez minutos seguintes, enquanto que o restante da informação é perdida. (MARCOS MORA, 2004).

Memória de trabalho

É parte da memória de longo prazo, mas também abrange a memória de curto prazo. Ela comporta apenas a porção ativada mais recentemente da memória de longo prazo e transfere esses elementos ativados para dentro e para fora da memória de curto prazo. (STERNBERG, 2000).

Quadro 2: Principais tipos de memória. Fonte: Elaborado pelo autor.

Badre (2002) comenta que a organização das informações das páginas Web

deve considerar as limitações da memória de curto prazo.

Nesse sentido, podemos nos reportar à teoria de George Miller (195629),

segundo a qual apenas sete ou mais ou menos duas porções de informação podem

ser armazenadas na memória de curto prazo. Preece, Rogers e Sharp (2005)

argumentam que essa teoria tem grande aceitação na psicologia e causou um

grande impacto aos estudos em IHC. No entanto, os autores atentam que muitos

projetistas passaram a criar menus com cinco a nove opções, barras de ferramentas

também com sete a nove ícones, porém essa não seria a aplicação correta dessa

teoria, visto que esses elementos já aparecem na tela e os usuários não precisam,

portanto, memorizá-los. Preece, Rogers e Sharp (2005) defendem mais o

reconhecimento dos elementos pelos usuários do que sua memorização,

possibilitando, portanto, uma interface mais intuitiva do que mnemônica.

29 MILLER, G. The magical number seven, plus or minus two: some limits on our capacity for processing information. Psychological Review, n.63, p.81-97.

55

No que diz respeito à linguagem, Sternberg (2000, p.252) afirma que

A linguagem – o uso de um meio organizado de combinar as palavras para fins de comunicação – possibilita que nos comuniquemos com aqueles que nos rodeiam, tanto quanto ponderar situações e processos que comumente não podemos ver, ouvir, sentir, tocar ou cheirar, inclusive idéias que podem não ter qualquer forma tangível.

A linguagem possibilita a comunicação. Os elementos de design devem

atuar nessa perspectiva, considerando as variações de linguagem existentes no

contexto de um público-alvo. Abreviações, legendas, sons, imagens devem permitir

aos usuários fácil visualização, reconhecimento e entendimento.

O aprendizado, no contexto da IHC, está relacionado a como utilizar uma

aplicação ou utilizar uma aplicação para entender algo (PREECE; ROGERS;

SHARP, 2005). Esse processo está relacionado à construção de conhecimento.

Preece, Rogers e Sharp (2005) comentam que os projetistas devem criar

interfaces:

• que encorajem os usuários a explorá-las;

• que restrinjam e guiem os usuários na seleção de ações mais

adequadas para o cumprimento de uma tarefa;

• que vinculem dinamicamente representações e abstrações que

precisem ser compreendidas.

A resolução de problemas é um aspecto da inteligência e pode ser

caracterizada como “[...] um processo cujo objetivo é superar obstáculos que

atrapalham o caminho para uma solução”. (STERNBERG, 2000, p.337). Esse

processo envolve as seguintes fases:

• identificação do problema;

• definição do problema;

• construção de uma estratégia para resolução do problema;

• organização de informações sobre o problema;

• alocação de recursos;

• monitoramento da resolução do problema;

• avaliação da resolução do problema.

No que diz respeito ao design, os projetistas devem possibilitar aos

indivíduos todos os insumos necessários para o cumprimento de diversas tarefas

que queiram realizar em ambientes informacionais digitais. Um exemplo é a busca

56

de informação, a qual deve estar respaldada em uma representação prévia do

conteúdo informacional, bem como de facilidades de visualização dos resultados.

Por fim, a criatividade pode ser definida como “[...] um processo cognitivo

que leva à produção de alguma coisa que é, ao mesmo tempo, original e de valor.”

(STERNBERG, 2000, p.337).

Como comentado na seção anterior a partir das idéias de Pratschke (2005) e

Lara Filho (2003), é importante que os usuários consigam interagir com os

ambientes digitais de modo criativo. Portanto, os projetistas precisam incorporar

elementos que não restrinjam os indivíduos a uma estrutura informacional fechada,

mas sim ampliando as possibilidades para que eles possam ir além dos recursos

básicos da Web.

Os indivíduos, portanto, utilizam suas estruturas cognitivas para processar

informações e construir conhecimento. No contexto da IHC, quando as pessoas

aprendem e utilizam um sistema, elas constroem conhecimento sobre como realizar

tarefas nesse sistema e também como esse sistema funciona. Esses dois tipos de

conhecimento são denominados modelo mental do usuário (PREECE; ROGERS;

SHARP, 2005).

Na concepção de Marcos Mora (2004, p.68-69, tradução nossa), os modelos

mentais são

[...] as maneiras pelas quais as pessoas, usuários e designers, vêem, conceituam e compreendem os sistemas. Quando os sistemas são baseados em computador e possibilitam uma interação, o usuário também utiliza seu conhecimento prévio para desenvolver um modelo mental que lhe permite compreender o sistema e prever seu comportamento. Neste processo, o designer pode facilitar a interação desenvolvendo metáforas que ajudem os usuários em seu processo mental.30

Nesse sentido, é preciso entender que os modelos mentais das pessoas que

projetam um sistema é diferente do modelo mental das pessoas que os utiliza.

(CYBIS; BETIOL; FAUST, 2007).

Pesquisar sobre o modelo mental dos usuários pode auxiliar no projeto de

interfaces. De acordo com Young (2008), os modelos mentais fornecem uma ampla

compreensão das motivações e emoções das pessoas. Para isso, são necessárias

30 [...] las formas en que las personas, tanto los usuarios como los diseñadores, ven,conceptualizan y comprenden los sistemas. Cuando los sistemas son de tipo informático y se da una interacción entre la persona y el ordenador, el usuario también recurre a su conocimiento previo para desarrollar un modelo mental que le permita comprender el sistema y predecir su comportamiento. En este proceso, el diseñador puede facilitar la interacción desarrollando metáforas que ayuden a los usuarios en su proceso mental.

57

várias seções e aplicação de métodos a fim de descobrir os comportamentos de

representantes de um determinado público-alvo.

Um exemplo de aplicação dos modelos mentais é o card sorting, um método

que permite descobrir os modelos mentais das pessoas para a organização de uma

taxonomia em um projeto de Arquitetura da Informação.

Até este momento, abordamos questões cognitivas e individuais que

precisam ser consideradas em um estudo de público-alvo para o projeto de

ambientes informacionais digitais. Discutiremos sobre algumas diversidades físicas

no próximo capítulo, em que trataremos sobre a acessibilidade.

Cabe neste momento a discussão sobre a diversidade cultural que atua em

grupos de indivíduos que, quando considerada em estudos de usabilidade,

caracteriza a usabilidade cultural.

Badre (2002) considera cultura como o coletivo de identificar

comportamentos, práticas, sinais, símbolos, valores e crenças dentre outros

elementos que caracterizam um certo grupo. A usabilidade cultural exige que o

projetista considere esses elementos quando é definido um público-alvo.

O autor apresenta categorias de elementos específicos de cultura que

devem ser incorporados em uma interface, bem como modificados a partir de testes

constantes de usabilidade realizados em ambientes informacionais digitais:

• Atributos localizados por gênero: os atributos básicos de expressão e

forma podem ser diferentes dentro de um mesmo gênero cultural. Os

projetistas devem, portanto, estudar atributos e práticas únicos diante de

todas as possibilidades para incorporar elementos em uma interface;

• Comportamentos e práticas: os projetistas frequentemente projetam

interfaces produzindo metáforas do mundo real. Porém, os comportamentos,

práticas e costumes das pessoas mudam entre os países ou mesmo entre

regiões de um mesmo país. Nesse contexto, o alcance da diversidade cultural

deve considerar essas variáveis;

• Ícones, símbolos, ilustrações e artefatos: os indivíduos utilizam esses

elementos para comunicar informações e os projetistas os utilizam como

metáforas para expressar conceitos e transmitir funcionalidade. Porém, os

projetistas devem compreender que as representações e interpretações

desses elementos podem ser diferentes para as pessoas em diferentes

culturas;

58

• Convenções e formatos: os projetistas devem considerar padrões e

formatos que podem ser variáveis em diferentes países, como data e hora,

moeda corrente, escalas de mensuração e unidades de medida, numeração

decimal, cores associadas a determinado significado, calendários, endereços

postais, números de telefone, temperatura, pontuação, tamanho de papel

entre outros;

• Valores e dimensões intangíveis: os valores e dimensões culturais devem

ser considerados em um projeto de interface. Um exemplo são imagens que

podem ser aceitáveis para uma determinada comunidade, porém podem

deflagrar outra com preceitos não aceitáveis por ela;

• Preferência de conteúdo: diante da complexidade em agradar diferentes

comunidades com relação à preferência de conteúdo, os projetistas devem

priorizar o público que querem alcançar. Porém, devem considerar a

possibilidade de atingir o maior público possível dentro do público-alvo

estabelecido.

Considerar a diversidade cultural permite ampliar as possibilidades

relacionadas aos aspectos formais da interface e ao conteúdo. Essa investigação,

conjuntamente à investigação dos processos cognitivos, favorece a constituição de

elementos importantes para o direcionamento da usabilidade de ambientes

informacionais digitais.

No que diz respeito à avaliação de usabilidade, esta pode ser realizada em

qualquer fase do desenvolvimento de ambientes informacionais digitais: inicialmente,

deve identificar parâmetros ou elementos a serem implementados; na fase

intermediária, é útil na validação ou refinamento do projeto; e, na fase final, assegura

que o ambiente atende aos objetivos e necessidades dos usuários. Essa avaliação

deve ser realizada, pelo menos, a partir da fase intermediária. Caso contrário, os

desenvolvedores podem sentir necessidade de modificar todo o ambiente,

culminando em perda de tempo, situação desvantajosa para o desenvolvimento de

qualquer sistema (DIAS, 2003).

A avaliação da usabilidade de repositórios digitais também deve ser refletida

com relação à diferença entre a Arquitetura da Informação padrão do DSpace e a

customização realizada pela instituição.

Geralmente, alguns aspectos inerentes ao DSpace, como a organização das

comunidades e coleções, a navegação e estruturação hierárquica, o sistema de

59

busca, o processo de auto-arquivamento entre outros, não se alteram quando

comparamos diferentes repositórios digitais. Isso porque é um software que possui

em sua essência uma estrutura coerente com sua finalidade, ou seja, as

necessidades de uma instituição para a construção de um repositório digital já estão

embutidas na proposta do DSpace.

A avaliação dos recursos de usabilidade está mais relacionada: à adaptação

de textos de acordo com a linguagem dos usuários; ao uso coerente de cores e

imagens; aos recursos adicionais inseridos; ao remanejamento de comunidades e

coleções de acordo com as necessidades dos usuários; e aos documentos inseridos

no repositório no que diz respeito aos metadados e à relevância do conteúdo para a

comunidade usuária e para a instituição.

Esses elementos precisam ser avaliados constantemente para verificar se

satisfazem as necessidades do público-alvo, bem como para dar abertura para a

identificação de novas necessidades informacionais.

A próxima seção abordará a acessibilidade e sua aplicação no contexto dos

repositórios digitais.

3.3 Acessibilidade

Questões relacionadas à acessibilidade são bastante discutidas atualmente,

gerando projetos de ação que são implementados visando a melhoria da qualidade

de vida dos cidadãos com algum tipo de necessidade especial. Rampas, elevadores,

vagas preferenciais em estacionamentos e banheiros com estrutura diferenciada são

exemplos de projetos que objetivam a facilidade de acesso a recursos físicos.

As iniciativas preliminares referentes à acessibilidade surgiram no período posterior à Guerra do Vietnã, nos Estados Unidos da América. Nesta época os soldados, heróis de guerra, voltavam para casa mutilados ou com alguma deficiência adquirida como resultado de confrontos, situação que resultou na criação de condições para que essas pessoas pudessem ter uma vida digna e independente. (CORRADI, 2007, p.52).

No ambiente digital, a partir de estudos baseados em ergonomia, design e

IHC, também são refletidas propostas que promovem a ampliação do acesso por

usuários com deficiência. Nesse sentido, Carvalho (2003, p.79) comenta que o

desenho acessível, o qual promove a acessibilidade, “[...] diz respeito aos produtos e

construções acessíveis e utilizáveis por pessoas com deficiências”.

60

De acordo com Corradi, Norte e Vidotti (2008, p.71),

No contexto de design de websites e de suas interfaces a acessibilidade é caracterizada pela flexibilidade de apresentação da informação e pela interação ao respectivo suporte informacional, o qual permite a sua utilização por pessoas com diferentes habilidades e condições sensoriais, bem como seu uso em diferentes ambientes e situações, por meio de vários equipamentos ou navegadores.

O próprio termo acessibilidade que, em um primeiro momento, significaria

facilidade de acesso, prevê que todos os indivíduos se beneficiem com as

possibilidades de acesso à informação no contexto dos ambientes informacionais

digitais.

Sendo assim, discutimos sobre o desenho universal ou como é também

denominado: “desenho para todos”, que se baseia no desenvolvimento de projetos

que dêem privilégios e que atendam a todos os tipos de usuários, sem distinção, ou

seja, com elementos inclusivos igualitários (CARVALHO, 2003; DIAS, 2003).

Carvalho (2003, p.87) considera a dificuldade e a complexidade em

desenvolver projetos tendo o desenho universal como objetivo, porém afirma que a

acessibilidade “[...] parece ser o caminho para o Desenho Universal, pois permite [,

por exemplo,] que pessoas com deficiência em algum dos cinco sentidos possam ter

acesso à determinada informação por meio dos sentidos não comprometidos”. Dias

(2003, p.104), por sua vez, comenta que esse tipo de desenho “[...] deve ser tomado

como uma meta a ser alcançada, mesmo que inatingível, porém orientadora no

projeto de produtos”. A autora afirma ainda que o desenho universal visa à produção

de elementos que sejam operáveis por indivíduos:

- Sem a visão: atendendo tanto a pessoas cegas quanto a pessoas cujos olhos estão ocupados em outra atividade (dirigindo um carro, por exemplo) ou em ambientes escuros; - Com visão limitada: por pessoas com certa deficiência visual ou que estejam trabalhando em ambientes esfumaçados ou com monitores de vídeo de baixa resolução; - Sem a audição: atendendo a pessoas surdas, pessoas que estejam em ambientes extremamente barulhentos, em silêncio “forçado” (em uma biblioteca, por exemplo) ou com os ouvidos atentos a outra atividade; - Com audição limitada: por pessoas com certa deficiência auditiva ou que estejam em ambientes ruidosos; - Com destreza manual limitada: atendendo a deficientes físicos e a pessoas que estejam usando roupas especiais que restrinjam os movimentos das mãos ou em ambientes turbulentos que dificultem a precisão manual; - Com capacidade de aprendizado, leitura ou compreensão limitada: por pessoas com deficiências cognitivas, em pânico, sob a ação de medicamentos ou drogas, distraídas, que não consigam ler ou entender o idioma em que [o] conteúdo é apresentado (DIAS, 2003, p.105-106).

61

Observamos que os motivos que levam os usuários de conteúdos digitais a

necessitarem de recursos de acessibilidade são os mais variados e nem sempre

estão relacionados a deficiências individuais temporárias ou permanentes.

Consideramos, portanto, que o ambiente, os equipamentos e as pessoas envolvidas

podem direcionar a necessidade por esses recursos, o que pode ampliar as

possibilidades de acesso e uso ao recurso que se deseja.

Quando um produto é projetado, é preciso refletir sobre quantos usuários

são impedidos de usar e acessar determinada informação na ausência de

implementação de recursos de acessibilidade e de avaliações de usabilidade.

Refletir sobre a arquitetura da informação disponibilizada no ambiente projetado é

considerar o desenho universal e almejar, portanto, o acesso eqüitativo à

informação.

Nesse sentido, é necessário conhecer efetivamente o público-alvo

estabelecido para o projeto do produto, as possíveis deficiências que este pode

apresentar e as tecnologias digitais e assistivas disponíveis para atender a essas

deficiências, procurando sempre atender a todos de acordo com os princípios do

desenho universal, possibilitando a inclusão digital e social da comunidade

estudada.

Para Corradi (2007, p.66), as tecnologias digitais

[...] representam a infra-estrutura de sistemas informacionais, preparados para a implantação, alteração e substituição de recursos de acessibilidade. As tecnologias digitais, em um ambiente projetado no intuito de atender aos princípios do desenho universal, são recursos tecnológicos e informacionais, com protocolos de transferência que garantam a interoperabilidade entre sistemas de informação, além de possibilitar a compatibilidade de softwares e hardwares entre ambientes informacionais digitais e usuários potenciais.

Enquanto que, para o Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) da Secretaria

Especial dos Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República,

Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. (CAT, 2007, p.3).

Neste momento, abordamos os tipos de deficiências e as tecnologias que

são utilizadas como apoio aos usuários de conteúdos digitais, considerando os

princípios de acessibilidade e desenho universal.

62

O Decreto Lei n. 5296 (BRASIL, 2004) considera deficiente visual o indivíduo

cego, que apresenta acuidade visual igual ou menor que 0,05 no melhor olho e com

a melhor correção óptica; o indivíduo com baixa visão, que apresenta acuidade entre

0,3 e 0,05 no melhor olho e com a melhor correção óptica; os indivíduos cujos casos

em que a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou

menor que 60º; os indivíduos em que cujos casos há ocorrência simultânea de

quaisquer das condições anteriores. Para Dias (2003, p.119),

Os deficientes visuais, dentre as pessoas com necessidades especiais, são os que mais têm dificuldades no acesso ao conteúdo das páginas web apresentadas na tela do computador, principalmente por sua natureza gráfica. Há monitores de vídeo com dimensões maiores do que o padrão e programas especiais que aumentam as imagens da tela; outros que lêem, em voz alta, ou transformam em Braille, o conteúdo apresentado. Entretanto, dependendo de como a página web foi projetada, esses monitores e programas não conseguem oferecer o resultado desejado.

No que diz respeito à deficiência auditiva, o Decreto Lei n. 5296 (BRASIL,

2004, p.2) considera deficiente auditivo o indivíduo com “[...] perda bilateral, parcial

ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas

freqüências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 3000Hz”.

Para facilitar o acesso do deficiente auditivo aos arquivos multimídia das páginas, deve-se possibilitar, ao deficiente, controlar o volume do som emitido e receber as mesmas informações auditivas de uma outra forma (áudio com legendas, [bem como disponibilizando comunicação por Língua de Sinais,] por exemplo). (DIAS, 2003, p.124).

Para o Decreto Lei n. 5296 (BRASIL, 2004), o deficiente físico é aquele com

alteração parcial ou completa de um ou mais segmentos do corpo humano,

comprometendo a função física, excetuando-se as deformidades estéticas e as que

não dificultam o desempenho das funções. Dias (2003) cita algumas causas e tipos

desse tipo de necessidade especial: lesão cerebral (paralisia cerebral, hemiplegias);

lesão medular (tetraplegias, paraplegias); miopatias (distrofias musculares);

patologias degenerativas do sistema nervoso central (esclerose múltipla, esclerose

lateral amiotrófica); lesões nervosas periféricas; amputações; seqüelas de

politraumatismos e queimaduras; má formação congênita; distúrbios posturais e

seqüelas de patologias da coluna; distúrbios dolorosos da coluna vertebral e das

articulações dos membros; antropatias; reumatismos inflamatórios da coluna e das

articulações; lesões por esforço repetitivo (LER). A autora considera que

Alguns deficientes físicos têm que usar dispositivos apontadores especiais, diferentes dos usuais, acionados por movimentos de cabeça ou boca. Páginas web que não dão a opção de substituição do mouse por outro dispositivo apontador, ou ainda de controle via teclado, podem causar

63

dificuldades aos deficientes físicos. Exigir que o usuário pressione duas teclas ao mesmo tempo pode também ser um transtorno. (DIAS, 2003, p.127).

O Decreto Lei n. 5296 (BRASIL, 2004, p.2) caracteriza como deficiência

intelectual31 o “[...] funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com

manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas

de habilidades adaptativas”, tais como: comunicação, cuidado pessoal, habilidades

sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e segurança, habilidades

acadêmicas, lazer e trabalho. Para Dias (2003, p.128), as deficiências intelectuais

englobam as “[...] deficiências de raciocínio, memória, linguagem, aprendizado e

percepção causadas por defeitos congênitos, lesões cerebrais, derrame, doenças

diversas e condições relativas ao envelhecimento”. A autora comenta que,

Devido às dificuldades de memória, no encadeamento de ações ou informações, na solução e compreensão de problemas, os deficientes [intelectuais] e de linguagem podem ser beneficiados com a existência, nas páginas web, de conteúdos em pequenos parágrafos, elementos que facilitem sua orientação ou que mantenham um histórico das ações realizadas ou telas visitadas anteriormente (de onde vim, onde estou e para onde vou), telas simples, organizadas de maneira consistente, padronizadas e com seqüências óbvias de interação. Alguns distúrbios neurológicos podem tornar a pessoa sensível ao uso excessivo de animações, caracteres ou imagens piscando em determinada faixa de freqüência. (DIAS, 2003, p.128).

Para Dias (2003), os distúrbios múltiplos ocorrem quando uma mesma causa

provoca mais de uma deficiência. A paralisia cerebral pode ser um exemplo, a qual

causa problemas visuais, auditivos, de linguagem e intelectuais (DIAS, 2003).

As tecnologias assistivas associadas aos tipos de necessidades especiais

são apresentadas no Quadro 3 que segue.

31 A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) realizaram um evento em Montreal, no Canadá, em outubro de 2004, que contou com a participação do Brasil. Esse evento aprovou o documento Declaração de Montreal sobre a Deficiência Intelectual e, por esse motivo, utilizamos nesse trabalho o termo deficiência intelectual ao invés de deficiência mental e cognitiva.

64

Tipos de necessidades

especiais

Tecnologias assistivas Funcionalidade

Deficiências visuais

Software leitor de tela

Permite ao usuário navegar por janelas, menus e controles enquanto recebe informações textuais e gráficas (com certas limitações). Esse software interpreta o que é apresentado na tela e o direciona a um sintetizador de voz (saída em áudio) ou monitor Braille (saída táctil). Imagens sem texto equivalente alternativo associado não são lidas por esse software. Alguns leitores de tela não conseguem distinguir colunas, tabelas, frames e lêem páginas web horizontalmente, misturando textos, imagens e links.

Monitor Braille

Apresenta, linha a linha, o texto que aparece na tela, usando uma série de pinos em forma de símbolos Braille que são constantemente atualizados (abaixados ou levantados) à medida que o usuário navega pela interface.

Tradutor de texto em voz

Traduz texto eletrônico, gerado por software leitor de tela ou navegador textual, em texto falado por meio de um sintetizador de voz.

Navegador Web textual

Navegador web, como alternativa aos navegadores de interface gráfica, que pode ser utilizado em conjunto com software leitor de tela para auxiliar pessoas cegas. Também é usado por pessoas com conexões de baixo desempenho ou que não queiram aguardar pelo download de imagens.

Ampliador de tela Provê o aumento de uma porção ou de toda a tela, incluindo textos, gráficos e janelas, permitindo ao usuário acompanhar o foco de entrada.

Deficiências auditivas

Apresentação de legendas

Apresenta texto referente às palavras faladas ou cantadas em mídia de vídeo, permitindo que deficientes auditivos ou pessoas em ambientes barulhentos consigam acompanhar o diálogo e a ação simultaneamente.

Notificador de sons Provê tradução visual de informações sonoras, desde sinais sonoros de mensagens de alerta ou erro, até vídeos ou imagens congeladas.

Deficiências físicas

Dispositivo apontador alternativo

Provê aos usuários sem controle motor do braço e da mão, ou com controle limitado, a habilidade de controlar os movimentos e funções do mouse com o pé, cabeça ou por sistemas de rastreamento ocular. Alguns teclados alternativos podem emular os movimentos do mouse por meio das teclas numéricas e setas.

Teclado na tela Apresenta na tela as teclas e funções do teclado físico. Normalmente, é utilizado com algum dispositivo apontador alternativo.

Dicionário com previsão de palavras

Aumenta a velocidade da digitação ao prever palavras à medida que o usuário digita os caracteres, oferecendo uma lista com sugestões para sua escolha.

Reconhecimento de voz

Permite, ao usuário sem controle motor do braço e da mão, ou com controle limitado, entrar texto e/ou controlar a interface de usuário por meio da fala.

Quadro 3: Tecnologias assistivas associadas aos tipos de necessidades especiais. Fonte Adaptada: Dias (2003).

É importante ressaltar que existem tecnologias suficientes para tornar os

ambientes informacionais digitais mais acessíveis, tendo como meta o desenho

universal. Os produtores desses ambientes precisam conhecer as peculiaridades do

público-alvo que deseja atingir, enquanto que os desenvolvedores devem explorar

as tecnologias disponíveis para atender às propostas dos produtores, direcionando a

arquitetura da informação disponibilizada, tendo em vista a inclusão desse público

no ambiente digital.

O web site do Serviço Federal de Processamento de Dados – Ministério da

Fazenda (BRASIL, 2009) apresenta as deficiências visuais em três categorias:

65

cegueira, baixa visão e daltonismo. Nesse sentido, observamos que os softwares

leitores de tela, os monitores Braille, os tradutores de texto em voz e os

navegadores Web textuais são indicados para os indivíduos cegos; os monitores de

vídeo com dimensões maiores e os ampliadores de tela são indicados para os

indivíduos de baixa visão; por fim, para os daltônicos, a customização de cores em

uma página Web é a tecnologia mais indicada.

A Figura 4 a seguir apresenta um exemplo de acessibilidade para deficientes

visuais.

Figura 4: Exemplo de acessibilidade para deficientes visuais – Acessibilidade.net. Fonte: <http://www.acessibilidade.net/>. Acesso em: 26 jul. 2009.

O web site português Acessibilidade.net apresenta na home page algumas

opções de acessibilidade. Na parte superior da página é apresentado o link “Este

sítio pode comunicar com o utilizador através de um sintetizador de fala” que

propicia ao usuário cego ouvir o conteúdo das páginas do ambiente. Além disso,

mais abaixo, é apresentado o link “Aqui também pode encontrar o MECBraille –

Marco Eletrônico de Correio Braille”, um outro serviço disponibilizado que

converte mensagens de correio eletrônico em Braille, recurso utilizado também por

usuários cegos. Nesse ambiente, é possível encontrar tecnologias assistivas

atualmente implementadas para os tipos de necessidades especiais.

66

Com relação à deficiência auditiva, Corradi (2007) apresenta ferramentas

para edição de textos, de tradução, de comunicação e de criação de páginas Web

em HTML com suporte à escrita da Língua de Sinais. Essas tecnologias são

indicadas para indivíduos surdos, considerando o conhecimento prévio da Língua de

Sinais. No que diz respeito às tecnologias apresentadas no Quadro 3 para

deficientes auditivos, quais sejam a Apresentação de legendas e o Notificador de

sons, observamos que ambas são indicadas tanto para indivíduos surdos como para

indivíduos com baixa audição, bem como para usuários não deficientes que estão

em ambientes onde não é possível ouvir o recurso disponibilizado por motivos

diversos.

A Figura 5 a seguir apresenta um exemplo de acessibilidade para deficientes

visuais e auditivos.

Figura 5: Exemplo de acessibilidade para deficientes visuais e auditivos – Acessibilidade Brasil. Fonte: <http://www.acessobrasil.org.br/>. Acesso em: 26 jul. 2009.

O web site Acessibilidade Brasil apresenta no topo da home page opções

para movimentação rápida dentro da página bem como opções para alterar o

tamanho da fonte. O primeiro recurso pode ser utilizado tanto por indivíduos cegos

na utilização de um software que “fala” o conteúdo da página, como por indivíduos

que não apresentem deficiência visual e queiram movimentar-se na página de forma

mais rápida. A alteração do tamanho da fonte é um recurso utilizável principalmente

67

por indivíduos com a visão comprometida. No que diz respeito à deficiência auditiva,

esse web site apresenta o LIBRAS – Dicionário da Língua Brasileira de Sinais,

cuja interface é apresentada na Figura 6.

Figura 6: Interface do LIBRAS – Dicionário da Língua Brasileira de Sinais. Fonte: <http://www.acessobrasil.org.br/libras/>. Acesso em: 26 jul. 2009.

O LIBRAS – Dicionário da Língua Brasileira de Sinais, em sua segunda

versão, de 2006, apresenta em sua interface um recurso de busca, uma lista de

termos de acordo com as letras do alfabeto, exemplos, demonstração em vídeo etc.,

como pode ser observado na figura acima, em que foi realizada uma busca com a

palavra “ABACATE”.

As tecnologias apresentadas por Dias (2003) para os deficientes físicos

podem auxiliá-los no uso de ambientes informacionais digitais por meio de

elementos físicos não comprometidos. Porém, ressalta-se a necessidade de criar

mecanismos apontadores diferenciados que sejam compatíveis com o hardware e o

software utilizados por esses indivíduos.

A Figura 7 apresenta um exemplo de tecnologia assistiva para deficientes

físicos.

68

Figura 7: Exemplo de acessibilidade para deficientes físicos. Fonte: Godinho et al (2004). Disponível em: <http://www.acessibilidade.net/trabalho/Manual%20Digital/capitulo4.htm>. Acesso em: 26 jul. 2009.

O ponteiro de cabeça é uma tecnologia assistiva que auxilia pessoas com

deficiências motoras. É ajustado a um dispositivo no formato de capacete,

permitindo o movimento da cabeça e o uso de um dispositivo de entrada de dados,

como o teclado, por exemplo. Esse dispositivo é ideal para pessoas tetraplégicas ou

com paralisia cerebral, porém necessita que esses indivíduos possuam boa

mobilidade ao nível do pescoço (GODINHO et al, 2004). Ressalta-se que, neste

caso, é impossível pressionar duas teclas ao mesmo tempo, fato este que precisa

ser refletido pelos desenvolvedores de softwares e de ambientes informacionais

digitais acessíveis.

As deficiências intelectuais podem estar relacionadas a diversos fatores.

Portanto, uma maneira de atender a esse público especial é a disponibilização de

uma interface mais intuitiva, com poucos ou isenta de elementos gráficos, que

apresente recursos de customização, além de outros recursos que podem ser

cuidadosamente refletidos.

A Figura 8 a seguir apresenta um exemplo de acessibilidade, considerando

barreiras lingüísticas.

69

Figura 8: Exemplo de acessibilidade, considerando barreiras lingüísticas – SciELO. Fonte: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 26 jul. 2009.

O exemplo acima diz respeito às deficiências intelectuais no âmbito das

barreiras lingüísticas. A biblioteca digital Scientific Electronic Library Online

(SciELO) apresenta três opções de idiomas em sua interface, o que permite ao

público-alvo customizá-la para atender ao seu perfil. As opções de idiomas podem

ser encontradas na lateral esquerda da página, em que se observa os idiomas

português e espanhol. O terceiro idioma é o inglês, o qual estava sendo utilizado

no momento do acesso.

Verificamos que atender a todos os tipos de necessidades especiais é uma

tarefa complexa, porém notamos que muitos ambientes informacionais digitais não

disponibilizam sequer um recurso de acessibilidade, o que impede a inclusão de

inúmeros usuários. Nesse sentido, é preciso conscientizar produtores e

desenvolvedores da importância dessas questões e da utilização de metodologias

para o desenvolvimento e/ou avaliação de ambientes informacionais digitais

acessíveis, bem como instrumentos como recomendações, checklists entre outros.

70

A World Wide Web Consortium32 (W3C) é um consórcio internacional que

cria padrões para a Web, visando seu desenvolvimento potencial e crescimento a

longo prazo. De acordo com a página brasileira da W3C33 (2008, p.1),

Basicamente, o W3C cumpre sua missão com a criação de padrões e diretrizes para a Web. Desde 1994, o W3C publicou mais de 110 desses padrões, denominados Recomendações do W3C. O W3C também se envolve em educação e divulgação, desenvolve softwares e atua como fórum aberto para discussões sobre a Web. Para que a Web atinja todo o seu potencial, as tecnologias mais fundamentais da Web precisam ser compatíveis entre si e permitir que todos os equipamentos e softwares usados para acessar a Web funcionem juntos. O W3C chama essa meta de “Interoperabilidade da Web”. Ao publicar padrões abertos (não-exclusivos) para línguas e protocolos da Web, o W3C procura evitar a fragmentação do mercado e, conseqüentemente, a fragmentação da Web.

No que diz respeito à acessibilidade, a W3C incorpora a iniciativa Web

Accessibility Initiative (WAI) que desenvolve recomendações nesse contexto

considerando os seguintes componentes: Web Content Accessibility Guidelines

(WCAG) – Recomendações de acessibilidade para o conteúdo Web (com foco em

conteúdos disponibilizados nos ambientes informacionais digitais); Authoring Tool

Accessibility Guidelines (ATAG) – Recomendações de acessibilidade para

ferramentas de autoria (com foco em ferramentas utilizadas por desenvolvedores de

páginas Web); e User Agent Accessibility Guidelines (UAAG) – Recomendações de

acessibilidade para agentes do usuário (browsers, media players, tecnologias

assistivas, ou seja, com foco nas ferramentas utilizadas pelos usuários para acesso

e uso de ambientes informacionais digitais) (W3C, 2005).

A aplicação da acessibilidade em repositórios digitais deve ser realizada

respeitando-se a flexibilidade e o uso equitativo da informação com relação ao

público-alvo do ambiente. A implementação da acessibilidade pode ser realizada por

meio da programação de recursos inclusivos, adicionados ao DSpace, ou mesmo

pela alteração de tamanhos de fonte, criação de textos alternativos para imagens

entre outros elementos.

A usabilidade e a acessibilidade atuam conjuntamente, pois é na definição

das necessidades informacionais e no estudo do público-alvo que são identificados

os elementos de acessibilidade que precisam ser implementados no ambiente.

A investigação constante das necessidades dos usuários e o

acompanhamento do desenvolvimento dos padrões do W3C permite direcionar o

32 Disponível em: <http://www.w3.org/>. Acesso em: 10 jun. 2009. 33 Disponível em: <http://www.w3c.br/>. Acesso em: 10 jan. 2010.

71

projeto do repositório digital para o desenho universal, contribuindo para que a

Arquitetura da Informação seja cada vez mais inclusiva.

A próxima seção abordará o comportamento informacional e competência

informação e algumas reflexões desses estudos no contexto dos repositórios

digitais.

3.4 Comportamento Informacional

A partir de uma revisão de literatura, Donald Case (2007) afirma que os

estudos sobre o comportamento humano relacionado à informação remontam ao

início do século XX. Nas primeiras décadas, esses estudos eram centrados no uso

de materiais ao invés da preocupação com os usuários e suas buscas. Anos depois,

nas décadas de 1950 e 1960, esses estudos passaram a considerar mais as

necessidades informacionais e o uso de informações.

De um modo geral, as abordagens das pesquisas direcionaram esses

estudos para dois focos principais: a orientação ao sistema e a orientação ao

usuário.

A orientação para o sistema vê a informação como uma entidade externa, objetiva, que tem realidade própria, baseada no conteúdo, independente dos usuários ou dos sistemas sociais. A informação existe a priori, e é tarefa do usuário localizá-la e extraí-la. [...] A orientação para o usuário, por outro lado, vê a informação como uma construção subjetiva criada dentro da mente dos usuários. (CHOO, 2003, p.68).

Os estudos sobre comportamento informacional (information behavior) no

contexto da criação de ambientes informacionais digitais devem ser orientados aos

usuários, abarcando desde a identificação de necessidades de informação até o

comportamento de busca e uso dessa informação, considerando as fontes de

informação utilizadas geralmente pelos indivíduos.

Wilson (2000, p.1, tradução nossa) define comportamento informacional

como “[...] a totalidade do comportamento humano em relação às fontes e canais de

informação, incluindo a busca ativa e passiva de informações, e o uso de

informações34”. O autor acrescenta que isso inclui a comunicação entre as pessoas

34 […] the totality of human behavior in relation to sources and channels of information, including both active and passive information seeking, and information use.

72

e a recepção passiva de informações, através da TV, por exemplo, sem que

qualquer intenção em buscar informações esteja envolvida.

Case (2007, p.5, tradução nossa) apresenta uma definição na mesma linha

de pensamento de Wilson:

Comportamento informacional [...] engloba a busca de informações e a totalidade de outros comportamentos não intencionais ou passivos (tais como “encontrar informações”), bem como comportamentos intencionais que não envolvem busca, como, por exemplo, evitar a informação.35

Vários autores na literatura comentam sobre a aplicação de teorias e

modelos relacionados ao comportamento de busca de informação em ambientes

informacionais digitais, que pode ser considerado uma parte da complexidade do

estudo de comportamento informacional segundo Wilson (2000).

Morville e Rosenfeld (2006) consideram importante conhecer o

comportamento de busca de usuários em um projeto de Arquitetura da Informação.

Kalbach (2007) cita algumas abordagens, tais quais o sense-making de

Brenda Dervin; o anomalous state of knowledge (ASK), de Nicholas Belkin entre

outros; com destaque à aplicação dos estudos no desenho da navegação de

ambientes informacionais digitais.

Bohmerwald (2005) faz uma relação entre o estudo de usabilidade e o

comportamento de busca de informações e propõe uma metodologia de avaliação

de bibliotecas digitais integrando métodos dos dois estudos.

Ferreira e Pithan (2005) também relacionam o estudo de usabilidade no

contexto da IHC e o modelo de comportamento de busca de informações de Carol

Kuhlthau com foco em bibliotecas digitais.

Percebemos que muitos autores abordam o comportamento de busca de

informação, porém é necessário considerar, em um projeto de Arquitetura da

Informação, a complexidade do comportamento informacional dos usuários no que

diz respeito também às fontes e canais de informação utilizados por eles dentro e

fora do ambiente Web, bem como o comportamento relacionado à passividade de

encontrar informações sem intenção prévia.

Choo (2003, p.118, grifo nosso) comenta que aspectos cognitivos,

emocionais e situacionais estão relacionados ao comportamento informacional das

35 Information behavior [...] encompasses information seeking as well as the totality of other unintentional or passive behaviors (such as glimpsing or encountering information), as well as purposive behaviors that do not involve seeking, such as actively avoiding information.

73

pessoas. Nesse contexto, o autor apresenta os conceitos de necessidade de

informação, busca de informação e uso da informação.

A necessidade de informação surge quando o indivíduo reconhece vazios em seu conhecimento e em sua capacidade de dar significado a uma experiência. A busca de informação é o processo pelo qual o indivíduo busca intencionalmente informações que possam mudar seu estado de conhecimento. O uso da informação ocorre quando o indivíduo seleciona e processa informações ou mensagens que produzem uma mudança em sua capacidade de vivenciar e agir ou reagir à luz desses novos conhecimentos.

Case (2007) aponta para a importância do contexto em estudos de

comportamento informacional, que estão relacionados a segmentos profissionais,

sociais e demográficos aos quais os indivíduos pertencem. Grupos diferentes

possuem características que revelam necessidades específicas de informação,

comportamento específico de busca e uso de informação, fontes de informação

específicas e, principalmente, sentimentos que permeiam o trabalho, as atividades e

o dia-a-dia das pessoas. Nesses estudos, podem ser aplicados teorias e modelos36

para a identificação de características comportamentais relacionadas à informação,

atendendo à especificidade da comunidade investigada.

O contexto pessoal é o ponto central de investigação em pesquisas sobre comportamento informacional de indivíduos. Como esses indivíduos determinam o que é relevante ou útil é baseado em suas situações pessoais, bem como outros fatores (por exemplo, experiência prévia, afetividade, restrição de tempo, o formato de informação disponível). Pesquisadores têm investigado vários públicos e contextos de uso, explorando como indivíduos localizam, usam e fazem sentido à informação que os cerca.37 (GIVEN et. al, 2007, p.1611, tradução nossa).

A investigação do comportamento informacional de um público-alvo, como

deve ocorrer no projeto de um ambiente informacional digital, permite, além de uma

abordagem relacionada à informação, perceber quais as dimensões individuais,

culturais e sociais em que esses indivíduos estão inseridos.

Choo (2003, p.79) apresenta alguns apontamentos sobre os estudos

relacionados às necessidades e usos da informação:

1. As necessidades e usos da informação devem ser examinados dentro do contexto profissional, organizacional e social dos usuários. As necessidades de informação variam de acordo com a profissão ou o

36 Em FISHER; ERDELEZ; McKECHNIE (2006), autores apresentam teorias e modelos relacionados ao comportamento informacional. 37 Personal context is a central point of inquiry for current research on individual’s information behaviors. As individuals determine what is relevant or useful based on their personal situations, as well as a host of other factors (e.g., previous experience, affect, time constraints, the format of available information), scholars have examined a range of populations and use-contexts in exploring how individuals locate, use, and make sense of the information around them.

74

grupo social do usuário, suas origens demográficas e os requisitos específicos da tarefa que ele está realizando.

2. Os usuários obtêm informações de muitas e diferentes fontes, formais e informais. As fontes informais, inclusive colegas e contatos pessoais, são quase sempre tão ou mais importantes que as fontes formais, como bibliotecas ou banco de dados on-line.

3. Um grande número de critérios pode influenciar a seleção e o uso das fontes de informação. As pesquisas descobriram que muitos grupos de usuários preferem fontes locais e acessíveis, que não são, necessariamente, as melhores. Para esses usuários, a acessibilidade de uma fonte de informação é mais importante que sua qualidade.

Pode-se afirmar que, quando ocorre um “vazio” no conhecimento dos

indivíduos, há preferência pelo uso das fontes que estão mais próximas,

normalmente informais. As fontes institucionalizadas podem ser menos acessíveis

que as fontes informais. Enfim, as fontes formais são apenas utilizadas em casos

extremos, normalmente quando o “vazio” só pode ser preenchido com informação

cuja fonte é extremamente confiável do ponto de vista do indivíduo.

No que diz respeito à classificação das fontes de informação, Case (2007)

argumenta que as fontes formais, geralmente consideradas as impressas como

livros, enciclopédias e diários, podem abranger também uma conversa com um

especialista. As fontes informais, por sua vez, que podem ser exemplificadas por

contatos com amigos, colegas e família, também pode estar relacionada à cultura

popular, como assistir a programas de TV, ouvir músicas na rádio, participar de listas

de discussões (cuja informação está registrada no suporte digital) entre outros.

Nesse contexto, entendemos que a Web permite a disponibilização de

informação em fontes formais e informais em ambientes informacionais digitais, o

que amplia as possibilidades de se escolher exatamente qual fonte pode satisfazer

uma necessidade informacional. Embora a distinção entre fontes formais e informais

seja um pouco problemática, podemos considerar que a confiabilidade pode ser um

fator decisivo para essa distinção, porém essa avaliação cabe ao indivíduo no

momento em que ele avaliar essa informação disponível nos ambientes

informacionais digitais da Web.

A capacidade de identificar necessidades informacionais, localizar, avaliar e

utilizar informações de maneira eficaz, se refere ao estudo da competência

informacional (information literacy) (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1989).

Dudziak (2003, p.28) define o termo como sendo “[...] o processo contínuo de

internalização de fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades necessários

75

à compreensão e interação permanente com o universo informacional e sua

dinâmica, de modo a proporcionar um aprendizado ao longo da vida”.

As pessoas consideradas competentes em informação são aquelas

[...] que aprenderam a aprender. Elas sabem como aprender, porque sabem como o conhecimento está organizado, como encontrar as informações, e como usar essas informações de uma maneira que outros possam aprender com eles. São pessoas preparadas para a aprendizagem ao longo da vida, porque podem sempre encontrar as informações necessárias para qualquer tarefa ou tomada de decisão38. (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1989, p.1, tradução nossa).

Para Dudziak (2003), a idéia de competência informacional está relacionada

à formação de indivíduos que:

• Saibam determinar a natureza e a extensão de sua necessidade informacional

como suporte a um processo inteligente de decisão;

• Conheçam o mundo informacional e sejam capazes de identificar e manusear

fontes potenciais de informação de forma efetiva e eficaz;

• Avaliem criticamente a informação segundo critérios de relevância, objetividade,

pertinência, lógica, ética, incorporando as informações selecionadas ao seu

próprio sistema de valores e conhecimentos;

• Usem e comuniquem a informação, com um propósito específico, individualmente

ou como membro de um grupo, gerando novas informações e criando novas

necessidades informacionais;/

• Considerem as implicações de suas ações e dos conhecimentos gerados,

observando aspectos éticos, políticos, sociais e econômicos extrapolando para a

formação da inteligência;

• Sejam aprendizes independentes;

• Aprendam ao longo da vida.

Nessa perspectiva, o desenvolvimento de programas institucionais de

competência informacional pode possibilitar a criação de estratégias que permitam

às pessoas o desenvolvimento de seus conhecimentos, habilidades e

potencialidades.

No contexto dos ambientes informacionais digitais, é uma tarefa difícil para

os projetistas conhecerem a competência informacional dos usuários da Web devido

38 [...] who have learned how to learn. They know how to learn because they know how knowledge is organized, how to find information, and how to use information in such a way that others can learn from them. They are people prepared for lifelong learning, because they can always find the information needed for any task or decision at hand.

76

sua abrangência. Por outro lado, eles podem levantar, a partir de um estudo de

comportamento informacional com uma amostragem de usuários, alguns aspectos

da competência informacional intrínseca a esse público.

A criação de interfaces intuitivas para a IHC permite que os usuários

aprendam a utilizar o ambiente a partir de suas representações mentais. Desse

modo, é possível prever algumas competências dos usuários e utilizar elementos

que contribuam para o uso efetivo de informações.

A aplicação de estudos de comportamento informacional no

desenvolvimento de um repositório digital pode fornecer indicativos importantes, pois

é possível conhecer particularidades do público-alvo com relação às fontes de

informação e ao comportamento de busca e uso da informação, contribuindo, por

exemplo, para a definição das comunidades e coleções, bem como de recursos

adicionais que podem ser implementados, possibilitando ao repositório digital se

concretizar como uma importante fonte de informação para a satisfação das

necessidades institucionais e da comunidade usuária.

Garcia e Silva (2006) discutem a competência informacional no contexto do

auto-arquivamento, afirmando que esse conceito não tem sido internalizado pelos

pesquisadores/usuários e que é necessário conscientização por parte desse público

da necessidade de projetos que promovam competências informacionais, com vistas

a se familiarizarem com a complexidade da proposta dos repositórios digitais.

Os pesquisadores, no novo paradigma da disseminação científica promovida

pela Iniciativa dos Arquivos Abertos precisam estar cientes da importância desse

novo contexto tecnológico, o qual tem muito a contribuir com o desenvolvimento

científico (GARCIA; SILVA, 2006).

Esse capítulo forneceu uma visão do conceito de repositórios digitais, com

enfoque à atuação do software DSpace, e como os estudos da Arquitetura da

Informação, Usabilidade, Acessibilidade e Comportamento Informacional podem ser

aplicados no planejamento e construção desses ambientes informacionais digitais.

O capítulo seguinte discorrerá sobre o caráter social das TIC visando a

inclusão de indivíduos na sociedade da informação.

77

4 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E INCLUSÃO

SOCIAL: rumo à democratização do acesso à informação?

A sociedade contemporânea está representada por um novo contexto sócio-

político e econômico advindo do fenômeno da globalização, caracterizando-se como

sociedade da informação ou sociedade em rede (CASTELLS, 1999), na qual a

evolução das tecnologias de informação e comunicação (TIC) é uma constante.

Notamos o impacto dessas tecnologias nos âmbitos social, cultural, educacional e

organizacional (LIMA, 2000) desde a percepção por essas vertentes do papel

fundamental da informação na construção, compartilhamento e preservação do

conhecimento.

De acordo com Mattelart (2002), a sociedade da informação se originou de

uma construção geopolítica, a partir de interesses econômicos e políticos que

direcionaram o desenvolvimento de máquinas coerentes com essa nova realidade.

Tudo isso remonta à matemática e às primeiras necessidades de utilização do

número como representação do pensamento humano, enaltecendo

substancialmente os valores do capitalismo moderno provenientes da

industrialização. O autor destaca que há uma tendência de visão otimista frente a

esse novo contexto e que há necessidade de pensar criticamente diante das

manifestações que atuam além dos fatos.

Santos e Carvalho (2009, p.46) entendem por sociedade da informação

[...] a sociedade que está em constituição, na qual a utilização das tecnologias de armazenamento e transmissão de dados e informação são produzidas com baixo custo, para que possa atender às necessidades das pessoas, além de se preocupar com a questão da exclusão, agora não mais social, mas também digital.

Diante das duas perspectivas, percebemos que estamos em um momento

de transição e que a sociedade da informação é inevitável, porém precisamos estar

atentos aos seus próprios propósitos, bem como ao antagonismo complementar

existente entre os conceitos de inclusão e exclusão nesse contexto.

Caridad Sebastián e Ayuso Sánchez (2004) vão além da sociedade da

informação, abordando sobre a transformação dessa na necessária sociedade do

conhecimento no contexto europeu. Mesmo diante de indicadores que justificam

essa transição, as autoras consideram a complexa realidade relacionada às

diferenças sócio-econômicas entre os países desenvolvidos, ou seja, as economias

78

mais industrializadas do mundo; entre os países em desenvolvimento, ou seja, os

emergentes da nova economia; e entre os países que não superam a pobreza,

apresentando realidades culturais e sociais não coerentes com a era digital

(CARIDAD SEBASTIÁN; AYUSO SÁNCHEZ, 2004).

Para melhor entendimento dessa transição, Pérez Martinez (2004) comenta

que há uma distinção conceitual entre sociedade da informação e sociedade do

conhecimento. A sociedade da informação abarca todas as ferramentas e

oportunidades que a tecnologia tem proporcionado à sociedade, caracterizando-se

pela disponibilização de uma grande quantidade de informações e múltiplas

possibilidades de acesso a ela. A sociedade do conhecimento, por sua vez, refere-

se à exploração da informação em um determinado contexto para a ação, no intuito

de provocar um conjunto de mudanças (PÉREZ MARTÍNEZ, 2004). Preferimos

adotar neste trabalho apenas o termo sociedade da informação, não defendendo

uma perspectiva otimista, mas compreendendo e discutindo suas fragilidades.

A sociedade da informação não é uma realidade para todos. Por um lado, a

inovação tecnológica contribuiu substancialmente para a democratização da

informação no que diz respeito à sua disponibilização por meio de redes de

computadores interconectadas, ampliando as possibilidades de acesso e

contribuindo para o rompimento de fronteiras espaciais e temporais. Por outro, o

contexto sócio-cultural que acompanha o desenvolvimento dos países bem como

características particulares de grupos específicos podem dificultar o acesso dos

indivíduos às informações disponibilizadas.

Além disso, notamos que o poder é agregado à informação nesse contexto,

em que aqueles que têm acesso a ela e sabe como utilizá-la possuem vantagem

com relação a outros indivíduos. Devemos considerar também que muitos possuem

acesso à informação, porém podem não estar incluídos no contexto dessa nova

sociedade, o que gera contradições e inquietações, visto que estamos vivendo em

situações paralelas.

A democratização da informação na sociedade contemporânea é discutível

quando as diversidades sociais, econômicas, políticas e culturais são consideradas.

Essas questões não impedirão a evolução tecnológica e nem poderiam. No entanto,

é preciso refletir sobre a grande parcela da sociedade que não está incluída nesse

progresso, tendo em vista garantir seu espaço.

79

Entendemos que, para que haja inclusão nesse contexto, é preciso

compreender quais os motivos que dificultam o estabelecimento de uma sociedade

da informação igualitária. A primeira problemática que destacamos é a dificuldade

que alguns indivíduos e grupos sociais possuem ao lidar com as informações.

Para Lima (2000, p.2), “[...] um dos maiores problemas com que nos

defrontamos no meio ambiente já não é a falta de informação, mas sim a seleção

adequada ou filtragem daquela que pode nos ser efetivamente útil”. O autor destaca

que a educação permanente é a base da sobrevivência nesse novo contexto.

Precisamos abandonar a idéia de aprender a fazer e concentrar nossos esforços em

aprender a pensar, visto que temos que atuar criticamente diante da sociedade,

possuindo habilidades para selecionar e saber usar as informações e o

conhecimento fragmentados (LIMA, 2000).

Como destacado no capítulo anterior, é preciso que os indivíduos tenham

habilidades e competências para buscar, avaliar e usar essas informações, o que

contribui para sua construção de conhecimento. Acrescentando às abordagens já

mencionadas anteriormente (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1989;

DUDZIAK, 2003), Warschauer (2003) considera que as competências informacionais

envolvem o conhecimento específico de computador, como o uso de navegadores e

ferramentas de busca, bem como posicionamento crítico, por exemplo, nos

processos de análise e avaliação de fontes de informação. Sua concepção de

information literacy considera as ferramentas tecnológicas além da informação

propriamente dita em comparação às outras duas abordagens citadas.

Neste trabalho, consideramos a Internet, em especial a Web, um meio que

pode contribuir para a inclusão social de indivíduos, os quais podem construir

conhecimento e desenvolver habilidades e competências intrínsecas ao paradigma

em questão.

No Quadro 4 que segue apresentamos as principais características da Web

de acordo com Lima (2000).

80

Categorias Características Comunicação • Representa um recurso ou ferramenta que possibilita, de forma igualitária

e democrática, a comunicação entre pessoas, grupos e organizações de forma local e mundial;

• Abre as portas para uma revisão global dos custos do processo de comunicação;

• Facilita o acesso das pessoas às ferramentas disponíveis sem distinções socioeconômicas;

• Oferece recursos e oportunidade de participar do processo de comunicação àqueles que possuem dificuldades físicas ou limitações.

Publicações • É uma tribuna livre para todos aqueles que, democraticamente, querem tornar disponíveis suas idéias;

• Oferece a possibilidade de acesso a informações sem os custos normais de pesquisa ou aquisição;

• Diminui o gap entre o fato e o acesso às informações pertinentes ao mesmo;

• Cria um novo conceito de jornal, revista e livro; • Possibilita um sistema de arquivamento de informações com acesso

seletivo. Comércio • Está revolucionando o conceito de negócio através da venda virtual;

• Elimina a intermediação e reduz os custos finais do produto/serviço; • Elimina a diferença/distinção existente entre grandes e pequenos

negócios; • Revoluciona o conceito de logística e distribuição; • Desenvolve o conceito de alianças e parcerias; etc.

Manuseio da informação

• É depositório livre de informações, acessíveis via diretórios e índices; • Oferece novos recursos e metodologias de procura; • Permite o acesso e navegação não-linear; • Permite acesso a dados disponibilizados em diferentes mídias; • Permite combinações de dados em critérios personalizados, etc.

Recurso educacional

• Está permitindo que dados disponibilizados se transformem em conhecimento;

• Está democratizando o acesso à educação e desenvolvendo o conceito de autodesenvolvimento;

• Está se tornando um importante meio de distribuição de cursos e seminários via educação à distância;

• Permite desenvolver formas de suporte ao processo educativo a distância; • Permite um processo de aprendizagem cooperativa; • Permite um processo de interação e suporte ao aprendizado via

aconselhamento, avaliação de performance, suporte, etc. Quadro 4: Principais características da Web. Fonte Adaptada: Lima (2000, p.33-34).

A Web potencializou o estabelecimento do paradigma da sociedade da

informação para o acesso e a recuperação da informação, pois, com sua

característica hipermídia, permite a produção, a mediação e o uso de informações

em ambientes informacionais por quaisquer indivíduos e organizações, contribuindo

para o aumento da gama informacional e de adeptos a essa tecnologia para sua

utilização direcionada à construção do conhecimento. Além disso, representa uma

forma “hipertextual” de pensar, em que é possível fazer relações e aprender por

intermédio de comunidades virtuais que compartilham informação e conhecimento.

81

Contudo, destacamos a segunda problemática, a qual está relacionada à

escassez de ambientes informacionais digitais da Web devidamente estruturados a

partir de uma Arquitetura da Informação coerente com as necessidades

informacionais de determinados tipos de usuários, o que pode prejudicar o uso,

contrapondo a idéia de democratização da informação.

Consideramos que um ambiente projetado a partir das necessidades das

pessoas pode antecipar e mobilizar as competências informacionais dos indivíduos

quando são utilizadas interfaces intuitivas que facilitam o reconhecimento e,

consequentemente, o acesso à informação.

Uma terceira problemática que deve ser considerada é a situação sócio-

econômica dos indivíduos, bem como sua dificuldade em operar os equipamentos

tecnológicos e os conteúdos digitais, o que dificulta sua inclusão digital

(CARVALHO, 2003). De acordo com Carvalho (2003), “a cada evolução da

tecnologia digital, um contingente enorme de indivíduos deixa de ter acesso às

informações que são armazenadas por meio da nova tecnologia”. Isso pode estar

relacionado à cultura da comunidade no que diz respeito à localização geográfica

em que vivem, ao grupo etário, às oportunidades individuais dentre outros fatores.

Diante das problemáticas levantadas, podemos nos reportar a ações que

são ou podem ser elaboradas e praticadas a fim de proporcionar a inclusão digital e

social de comunidades.

As discussões iniciadas nos capítulos anteriores permitiram compreender as

relações existentes entre os indivíduos, a sociedade e as tecnologias. A construção

de ambientes informacionais digitais, quando refletida com base nas preocupações

relacionadas à diversidade humana, permite que os projetos sejam direcionados em

benefício dos usuários. Essa pode ser considerada uma ação dos projetistas desses

ambientes que viabiliza a inclusão digital.

Porém, apenas a inclusão digital limita aos indivíduos a conhecerem e

operarem os equipamentos e conteúdos digitais, o que não necessariamente implica

uma condição de saber buscar, avaliar e usar informação. Além disso, a inclusão

digital é apenas um caminho para a inclusão social de alguns grupos específicos, o

que confere às tecnologias de informação e comunicação um meio para que isso

possa ocorrer.

Com relação à inclusão social e à exclusão social, Warschauer (2003)

considera que esses conceitos se referem à capacidade de indivíduos e

82

comunidades em participar completamente na sociedade e controlar a si próprios,

considerando uma variedade de fatores relacionados à economia, recursos,

trabalho, saúde, educação, cultura, compromisso cívico entre outros. Na perspectiva

de Almeida (2005, p.348), a exclusão social está relacionada ao “[...] afastamento do

indivíduo da rede de relações sociais a que estão sujeitos alguns grupos, como os

grupos de imigrantes e outras minorias étnicas, jovens e adultos com problemas de

adaptação social, deficientes físicos, idosos, dependentes químicos e alcoólatras”.

Diante desse contexto, Warschauer (2003) destaca a importância das TIC

para a inclusão social:

As TIC são particularmente importantes para a inclusão social daqueles que são marginalizados [...]. Por exemplo, os deficientes podem utilizar as TIC para ajudar a superar os problemas causados pela falta de mobilidade, limitações físicas ou discriminação social. Usando as TIC, uma pessoa cega pode acessar documentos por transferência da Internet e converter o texto em fala; um tetraplégico pode cursar uma certa faculdade sem sair de casa; e uma criança que sofre com AIDS pode se comunicar com outras crianças ao redor do mundo39 (WARSCHAUER, 2003, p.28, tradução nossa).

Percebemos que os indivíduos ou grupos considerados excluídos

socialmente podem atuar de forma mais ativa na sociedade quando utilizam as TIC,

em especial a Web. Os ambientes informacionais digitais permitem discussões sobre

os mais variados temas, criação de redes de relacionamento, compartilhamento de

idéias entre outras características que podem impulsionar e agradar as pessoas,

criando sentimentos positivos e resgatando sua auto-confiança.

Para Spigaroli (2005, p.213), “o objetivo da inclusão é despertar nas pessoas

uma consciência de respeito ao outro, em que este “outro”, antes considerado

ineficiente, sinta-se parte da sociedade. Assim, inclusão digital e social não é apenas

ter acesso ou viver junto, mas é participar, agir, criar, contribuir”.

A discussão sobre o conceito de inclusão é complexa, visto que a própria

palavra antecipa sua problemática. Porém, percebemos que a inclusão digital pode

ser um caminho para a inclusão social. Podemos destacar também a inclusão

informacional, a qual Aun (2007) denomina infoinclusão que, para a autora, “é a

capacidade de acessar, buscar, avaliar, usar e recriar a informação com

39 ICT is particularly important for the social inclusion of those who are marginalized […]. For example, the disabled can make especially good use of ICT to helps overcome problems caused by lack of mobility, physical limitations, or societal discrimination. Using ICT, a blind person can access documents by downloading them from the Internet and converting text to speech; a quadriplegic can pursue a college degree without leaving home; and a child suffering with AIDS can communicate with other children around the world.

83

responsabilidade social apropriando-se dos processos e conteúdos disponibilizados

através, ou não, das tecnologias de informação” (AUN, 2007, p.15). Esse conceito

está diretamente relacionado à concepção de competência informacional.

Os projetos de ação para inclusão digital, especificamente, devem

considerar o direcionamento para a inclusão social, tendo em vista as habilidades e

competências dos indivíduos, bem como proporcionar um aprendizado contínuo a

eles, possibilitando o desenvolvimento de competências informacionais. Demoly,

Wisnievsky e Eder (2005, p.169) consideram que um trabalho de inclusão

digital/social deve abarcar as seguintes características:

- apropriação das tecnologias de informação e comunicação pelos indivíduos;

- posição dos indivíduos frente às tecnologias como autores/criadores; - posição dos indivíduos como autores reflexivos na condição de sujeitos

em “nó” da rede, tanto em produção/conexão como em uso sob qualquer suporte.

Existem inúmeras iniciativas de inclusão digital/social, muitas delas com

propostas viáveis para seu desenvolvimento, porém algumas apresentam problemas

no que se refere ao planejamento, inviabilizando a ação e, muitas vezes, com

resultados contraditórios aos esperados. Projetos de ação com problemas de

planejamento e/ou na própria ação prejudicam a inclusão.

A exclusão digital, apartheid digital (MOTA, 2004) ou mesmo brecha digital

(FREIRE, 2006) mostra a realidade na qual a sociedade da informação está inserida.

A exclusão digital não afeta somente os mais carentes do ponto de vista socioeconômico, mas os trabalhadores das empresas, os indivíduos com necessidades especiais, muitos alunos e educadores que ainda não têm a oportunidade de trabalhar com esses recursos tecnológicos. Também não é um problema restrito a nosso país. Mesmo em países mais desenvolvidos, com melhor distribuição de tecnologia, a inclusão digital [...] é uma preocupação que tem merecido a atenção de pesquisadores e entidades da sociedade civil. (VALENTE, 2005, p.17).

Considerando o contexto brasileiro, Aun e Angelo (2005) avaliaram projetos

de inclusão digital e perceberam que as preocupações são mais direcionadas à

disponibilização de tecnologias. “Ao analisarmos todos os projetos de inclusão digital

criados a nível Federal, observamos que muitos deles são importantes, porém ainda

carecem de vínculos efetivos com a real necessidade do país” (AUN; ANGELO,

2005, p.95).

Santos e Carvalho (2009), que também abordaram projetos de inclusão

digital em nível nacional, argumentam que

84

Percebe-se [...] que a discussão que se faz sobre a inclusão digital é a viabilização do meio, ou seja, a democratização da Internet, utilizando o espaço público virtual como um facilitador para diminuição das desigualdades sociais, fazendo com que a grande rede abra espaço para todos os cidadãos. Mas não basta estar conectado, é necessário também a apreensão, assimilação e utilização das técnicas e procedimentos necessários para o bom uso das informações disponíveis na rede. (SANTOS; CARVALHO, 2009, p.50).

Um exemplo de projeto brasileiro são os telecentros distribuídos pelo país

que disponibilizam equipamentos tecnológicos, porém carecem de pessoas

capacitadas para instruir, ou seja, para ensinar o “aprender a aprender”

(TAKAHASHI, 2000) e possibilitar o desenvolvimento de habilidades e competências

no uso das TIC, tornando os indivíduos investigadores no paradigma da sociedade

da informação.

[...] educar em uma sociedade da informação significa muito mais que treinar as pessoas para o uso das tecnologias de informação e comunicação: trata-se de investir na criação de competências suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meios e ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. (TAKAHASHI, 2000, p.45).

Takahashi (2005) argumenta que a concepção e execução de uma política

nacional de inclusão digital, no contexto brasileiro, precisa considerar também o

direcionamento para a inclusão social e econômica, e isso é tão complexo que

apenas a ação do governo federal pode fazer uma diferença decisiva. O autor

aponta quatro fatores que precisam ser considerados em projetos desse nível:

• Recursos materiais e humanos: para o autor, esses recursos não

faltam no Brasil, pelo contrário, o que falta são apenas decisões de

como usá-los;

• Diretrizes e prioridades: esses elementos precisam ser definidos a fim

de que o governo não se perca entre inúmeras propostas e projetos sem

foco;

• Mecanismos de ação: para o autor, a administração federal é

historicamente deficiente na execução de projetos. Nesse sentido, é

sugerido maior articulação na administração da ação;

• Perseverança na execução: os resultados aparecem a cada passo,

mas apenas se consolidam a longo prazo. Portanto, é preciso

85

perseverar no projeto e não começar tudo novamente, elaborando novas

diretrizes e prioridades a cada mudança de governo.

Em contrapartida a projetos globais de inclusão, como os telecentros no

contexto brasileiro, acreditamos que uma identidade cultural, considerando uma

comunidade local, pode possibilitar projetos de inclusão digital mais efetivos, pois

estão mais próximos das necessidades de uma comunidade específica. Projetos

como o ‘Janelas da cultura local’ de Isa Freire (2006) se inserem nesse contexto. O

resgate da memória por meio da identidade cultural da cidade de Quissamã-RJ é o

foco desse projeto que possui coordenadas de ação para a inclusão digital dessa

comunidade. A autora propõe

[...] o desenvolvimento de ações de informação, de forma participativa, com vistas a promover a competência de pessoas da comunidade em tecnologias intelectuais de informação, incluindo a construção de um hipertexto digital sobre a cultura local, que será o eixo motivacional e operatório da pesquisa” (FREIRE, 2006, p.65).

Propostas que têm como foco a inclusão digital possuem, portanto, as TIC

como ferramentas que podem possibilitar o desenvolvimento de habilidades e

competências, direcionando o indivíduo para a inclusão social. No que diz respeito à

evolução da Web e a importância dada atualmente aos ambientes colaborativos,

consideramos que a identidade individual pode transformar uma coletividade,

estabelecendo comunidades virtuais e teias de comunicação, e também que a

identidade coletiva pode contribuir para o crescimento intelectual individual.

Nesse contexto, para Aun e Angelo (2007, p.78),

As tecnologias permitem o acesso ao conhecimento, mas sua apropriação e construção individualizada é que possibilitam a transformação social dos indivíduos pelo desenvolvimento de consciência histórica, política e ética, associada a ações que levem à cidadania, como, por exemplo, monitorar as decisões governamentais. A Web é um enorme avanço da humanidade para responder pelo “controle” da comunicação de massa. A informação transmitida por esses meios, por muitas vezes, é apresentada de forma maquiada, atendendo a seus próprios interesses [...]

Baseando-se nas opiniões das autoras, podemos destacar que a Web

permite que haja um certo criticismo advindo da investigação que ela possibilita por

meio da interação. Ela permite uma comunicação mais ativa em comparação à

tradicional comunicação de massa e os usuários têm a liberdade de interagir com as

informações que desejam, procurando as mais relevantes dentro de seu contexto de

uso. É necessário apenas que seja refletida uma forma de esses usuários tornarem-

se críticos também nesse ambiente no sentido de avaliar a autenticidade, a

86

segurança e a relevância das informações disponibilizadas por meio do acesso a

ambiente informacionais digitais confiáveis.

O paradigma da sociedade atual precisa de cada vez mais integrantes para

que se estabeleça como sociedade da informação. Muitos projetos para incluir

pessoas nesse paradigma são realizados com alguns, poucos ou nenhum resultado.

Mesmo assim, o pouco que é feito pode direcionar projetos maiores e conscientizar

o governo, entidades em geral e pesquisadores, permitindo ações mais

convergentes. Warschauer (2003) argumenta que as TIC são importantes, mas não

únicas no processo de inclusão social. Um bom governo, boas escolas e saúde

adequada também são fatores críticos que, aliados às TIC, permitem traçar um

caminho em busca da inclusão social.

No capítulo que segue, discutimos sobre as condições do envelhecimento

humano no contexto da sociedade da informação, com enfoque nas tecnologias de

informação e comunicação (TIC).

87

5 ENVELHECIMENTO HUMANO, TECNOLOGIA E SOCIEDADE

Pesquisas recentes demonstram que, em paralelo à diminuição da taxa de

natalidade, aumenta-se a expectativa de vida da população mundial. Destacamos o

aumento da expectativa de vida, confirmado pelo avanço da medicina e pela

disseminação da expressão “qualidade de vida” que reforça a idéia de prevenção. A

Geriatria, campo da Medicina que investiga as patologias do envelhecimento

humano, atua recentemente em conjunto com a Gerontologia, que se trata de

[...] um campo interdisciplinar que visa estudar as mudanças típicas do processo do envelhecimento e de seus determinantes biológicos, psicológicos e socioculturais. É um campo multiprofissional e multidisciplinar. Embora a Gerontologia envolva muitas disciplinas, a pesquisa repousa sobre um eixo formado pela Biologia, pela Psicologia e pelas Ciências Sociais. (CALDAS, 2006, p.18).

A velhice pode ser considerada como o início de um período da vida

humana, denominado Terceira Idade. Esse termo começou a ser utilizado na década

de 1970, na França, quando foi criada a primeira universidade da terceira idade, e

caracteriza um novo estilo de vida (lifestyle) (FRIEND, 2001).

Existem outras denominações para essa faixa etária, porém não se sabe

exatamente em que momento da vida essa fase se inicia. De certa forma,

discussões acerca da idade dos indivíduos e classificações quanto a ser idoso ou

não se esvaem quando se reflete sobre aqueles que parecem velhos aos 45 anos e

outros que são jovens aos 70 anos, como aponta Baldessin (2002). “O fator

biológico nessa época da vida tem seu valor mas não é o único aspecto na

caracterização do envelhecimento” (KACHAR, 2003, p.27).

O Quadro 5 que segue apresenta as considerações de Paschoal (2002) a

respeito da demarcação que anuncia o início da velhice considerando alguns

aspectos:

Aspectos Considerações Biologicamente O envelhecimento humano começa pelo menos tão precocemente quanto a

puberdade (alguns o querem já após a concepção) e é um processo contínuo durante a vida.

Socialmente As características dos membros da sociedade, que são percebidas como sendo de pessoas idosas, variam de acordo com o quadro cultural, com o transcorrer das gerações e, principalmente, com as condições de vida e trabalho a que estão submetidos os membros dessa sociedade, sendo que as desigualdades dessas condições levam a desigualdades no processo de envelhecer.

Intelectualmente Diz-se que alguém está ficando velho, quando começa a ter lapsos de memória, dificuldades de aprendizado e falhas de atenção, orientação e concentração,

88

comparativamente com suas capacidades intelectuais anteriores. Economicamente Algumas vezes se define que uma pessoa se torna idosa a partir do momento

em que deixa o mercado de trabalho, deixa de ser economicamente ativa. Funcionalmente Quando começa a depender de outros para o cumprimento de suas

necessidades básicas ou de tarefas habituais. A deterioração da saúde física e mental, que ocorre com o passar dos anos, leva os demais indivíduos a considerarem tal pessoa como idosa.

Cronologicamente Há uma dificuldade em se definir; a decisão torna-se arbitrária, pois dependendo do desenvolvimento socioeconômico de cada sociedade, os membros apresentarão os sinais inexoráveis do envelhecimento humano, com suas limitações e perdas de adaptabilidade, em diferentes idades cronológicas.

Quadro 5: Considerações a respeito do início da velhice. Fonte: Adaptada de Paschoal (2002, p.27).

Notamos, portanto, que as idades biológica, social e psicológica,

principalmente nesse momento da vida, possuem diferenças significativas. Para

Baldessin (2002, p.492), “[...] não há uma consciência clara através das

características físicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais que anunciam o

começo da velhice”. De certo modo, o início da velhice depende de diversos

aspectos e contexto.

“Não são só os fatores intrínsecos preponderantes no envelhecimento do

indivíduo. Há os fatores extrínsecos que agem benéfica ou maleficamente, ligados

às condições externas a que cada pessoa está submetida, como meio ambiente,

condições psicossociais etc.” (KACHAR, 2003, p.29-30).

Embora exista grande preocupação com os idosos por conta do aumento da

expectativa de vida, sabemos que, em muitos aspectos, essa preocupação ainda

não ocorre. Mesmo com a conquista do Estatuto do Idoso40, questões relacionadas à

identidade e imagem do idoso perante a sociedade ainda não estão resolvidas. Se,

por um lado, os idosos tiveram várias conquistas e as próximas gerações se

beneficiarão delas, por outro sua imagem é muitas vezes deflagrada, por exemplo,

através da mídia, ao cultuar a beleza e o jovem.

Dulce Whitaker, professora universitária aposentada, em seu livro

Envelhecimento e poder: a posição do idoso na contemporaneidade (2007),

comenta, baseando-se em suas próprias vivências, como o idoso foi perdendo o

poder e sua imagem perante a sociedade brasileira. Relaciona o idoso de hoje,

aposentado, e o idoso de alguns anos atrás, proprietário de um pequeno ou um

grande negócio, detendo, portanto, um certo poder que, conseqüentemente,

40 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm>. Acesso em 04 ago. 2009.

89

apontava para uma imagem de pessoa sábia e líder supremo no clã familiar. A

autora elenca alguns motivos que direcionaram a essas mudanças:

• O país se industrializou e se modernizou; • Chegaram as grandes corporações multinacionais e os pequenos

negociantes foram esmagados pela competição que não conseguiram enfrentar;

• Mulheres e jovens se assalariaram, indo trabalhar fora do clã familiar; • A família encolheu, reduzindo-se a marido, mulher e filhos, com alta

porcentagem de mães sozinhas. (WHITAKER, 2007, p.57-58).

Whitaker (2007, p.60) reforça ainda:

Se, para os filhos, genros e noras do século passado, o idoso era o chefe do clã, venerável pela sabedoria acumulada (e pelo poder dado pela propriedade), alguém que deveria sempre “ser levado” ao médico, aos exames laboratoriais, às compras, hoje ele é incentivado a uma vida ativa, dinâmica e auto-suficiente.

Para a autora, o poder foi tirado do idoso por conta das modificações sociais

e econômicas e podemos inferir que a própria cultura contribuiu para que a

sociedade enxergasse os idosos com outros olhos. Ativos e dinâmicos, sim,

qualitativos importantes nesse novo contexto, porém por que auto-suficientes?

Vemos, constantemente, a falta de preocupação das pessoas com os idosos, seja

em supermercados, ônibus urbanos, filas de banco que, embora preferenciais, não

resolvem o problema da espera. O idoso não é incapaz, de forma alguma, mas

precisa de cuidados específicos, como quaisquer pessoas em outras faixas etárias

e/ou em determinadas condições. Para Garcia (2001, p.18),

Na maioria dos países em desenvolvimento não existe uma preocupação com o envelhecimento da população, motivo esse compreensível devido ao crescimento demográfico acelerado, êxodo rural muito acentuado, entre outros fatores. Apesar das pesquisas científicas terem conseguido ampliar um pouco mais o tempo da existência humana, a sociedade não acompanhou esse padrão de longevidade. Com isso, a situação dos idosos tem-se agravado progressivamente, pois os poderes públicos não dispõem de recursos suficientes para elaborar uma política social que atenda às necessidades reais deste grupo etário.

Além disso, a imagem relacionada ao idoso atualmente está associada a

representações sociais negativas (CARVALHO; HORIGUELA, 2007), promovendo

uma discriminação que habita principalmente na concepção de que tudo o que é

velho está obsoleto e ultrapassado (VERAS, 2002). Estamos vivendo em um mundo

em que os jovens são considerados consumidores ativos e todas as representações

estão apontadas para esse público, bem como à saúde e à qualidade de vida, em

que se enfatiza a beleza.

90

Porém, a sociedade capitalista está preocupada com o que ocorrerá daqui a

alguns anos, pois, com o aumento da expectativa de vida, o número de idosos irá

aumentar e um novo perfil de consumidores precisará ser enfocado. Inclusive,

muitos idosos estão inseridos nesse contexto, principalmente ao negar o que já é

esperado e inevitável: o envelhecimento. Nesse sentido, a fase da velhice passou a

ser chamada como fase da “melhor idade” dentre outras denominações positivas e,

diante disso, Salzedas e Bruns (2007, p.17-18) reforçam uma opinião crítica:

[...] a negação da velhice aparece nos codinomes “melhor idade”, “segunda adolescência”, “adulto maior”, criados pela ideologia do velamento da velhice, buscando assim atender aos padrões da sociedade de consumo que encontra na população de idosos possíveis adeptos de modismos vigentes e voláteis, como estilos de vestimentas que se modificam a cada estação ou novos pontos turísticos a serem conhecidos, investindo, mais uma vez, o tempo precioso e breve do ser humano para a finalidade da manutenção da ideologia capitalista.

A fixação pela imagem do jovem vem se orientando desde os anos 1960 na

moda, na música, na propaganda e nos filmes, ou seja, em muitos aspectos

relacionados à cultura, diversão e divertimento. Isso culminou na criação de um

grupo novo e imenso de consumidores. Muitos desses consumidores estão

envelhecendo e acabou surgindo em nossa sociedade um infantilismo adulto, que

marca a negação da velhice por meio de atitudes jovens (SCHIRRMACHER, 2005).

Muitas modificações estão a caminho nesses próximos anos. Abordamos

nesse momento algumas delas a partir das reflexões de Schirrmacher (2005) e

Schwartz (2003). Embora essas reflexões estejam bastante focadas nas ideologias

capitalistas e não tenham sido pensadas no contexto de um país em

desenvolvimento como o Brasil, podemos considerá-las e ampliá-las em nível

mundial, pois o envelhecimento da população será uma realidade.

As pessoas nascidas entre 1950 e 1964 são consideradas babyboomers,

pois houve uma explosão de nascimentos no período pós-guerra. Desde então,

muita coisa mudou em nossa sociedade. E, a partir de 2010, começará um período

em que essa geração irá se aposentar e haverá, portanto, uma explosão de idosos e

aposentados (SCHIRRMACHER, 2005).

De acordo com Schirrmacher (2005), os babyboomers revolucionaram o

mundo, mudando os conceitos de infância e juventude. “Transformaram o mundo

com a sua pura massa, uma massa que criou um poder de compra que nunca

91

estivera antes nas mãos de uma juventude” (p.55). Para Dychtwald (200041), citado

por Schirrmacher (2005, p.55-56),

• Os boomers não ingeriram só alimentos – eles transformaram os lanches, os restaurantes e a indústria de supermercados;

• Os boomers não só usaram roupas – eles mudaram a indústria da moda;

• Os boomers não só compraram carros – eles transformaram a indústria automobilística;

• Os boomers não tinham só encontros – eles mudaram as imagens dos papéis e práticas sexuais;

• Os boomers não só foram ao trabalho – eles revolucionaram o local de trabalho;

• Os boomers não só se casaram – eles mudaram, depois de milênios, a natureza das relações humanas e sua instituição;

• Eles não só tomaram dinheiro emprestado – eles mudaram os mercados financeiros;

• Eles não só usaram computadores – eles transformaram a tecnologia.

Schwartz (2003) considera importante prever algumas surpresas

relacionadas ao futuro e aponta algumas tendências de como será a sociedade com

um número maior de idosos. O autor ressalta que essas tendências não são

aplicadas para todos os grupos ou países, bem como algumas delas dependem da

evolução tecnológica. Apresentamos algumas dessas predições:

• Dentro de 50 anos, muitas pessoas não irão se aposentar, pois se

manterão produtivas até a morte, em idades que superarão os 100

anos;

• Antes disso, em uma tendência de menor peso, a aposentadoria será

dedicada a uma nova vida, uma oportunidade para que os idosos

usem sua experiência e inteligência em contrapartida ao simples

repouso e recreação, possibilitando prosseguir com uma vida

produtiva;

• Muitas doenças que são fatais serão totalmente ou quase eliminadas

ou mesmo controladas, como muitas formas de câncer; a doença de

Alzheimer e outras doenças; a diabetes; a paralisia cerebral; a

esclerose múltipla; doenças cardíacas e várias doenças infecciosas;

• A geração dos babyboomers bem como as próximas gerações

tendem a se sentir mais jovens, mais saudáveis e mais lúcidas que

seus predecessores. “Os idosos do futuro [...] trabalharão, viajarão,

lerão, desfrutarão de uma vida sexual plena e, talvez, até mesmo

41 DYCHTWALD, K. Age power: how the 21st century will be ruled by the new old. New York, 2000.

92

criarão filhos pequenos aos 60, 70, 80 e 90 anos, com bem menos

doenças da terceira idade do que hoje” (p.37);

• As distinções sociais poderão ser ainda maiores e mais intensas. No

que se refere à pobreza e à criminalidade, as pessoas que

cometerem algum crime poderão cumprir suas penas e, ainda,

voltarem à criminalidade, o que pode sugerir um aumento nesse

sentido. Por outro lado, as pessoas atuarão no mercado de trabalho

por mais 30 a 40 anos e os mais ricos, por exemplo, deixarão mais

herança para seus filhos e ainda doarão parte de seu patrimônio para

entidades filantrópicas. Desse modo, assistiremos um crescimento

fenomenal na filantropia;

• Mudanças também relacionadas ao estilo de vida são esperadas, por

exemplo, as concepções de educação, em que as pessoas terão

várias formações; casamento; família, pois poderão existir várias

gerações; e trabalho, pois aumentarão as oportunidades de trabalho

para indivíduos idosos.

Diante do exposto, podemos tentar compreender como os idosos de hoje

podem se socializar e viver uma vida digna como cidadãos. Nesse contexto, a

tecnologia pode facilitar a vida dos idosos, possibilitando novas alternativas para a

realização de atividades cotidianas. Fazer compras e pagar contas pela Internet, por

exemplo, pode ser mais confortável do que se deslocar para um determinado

ambiente físico, considerando que os idosos possuem limitações físicas e cognitivas

decorrentes do processo natural de envelhecimento humano.

É importante comentar que os idosos de hoje acompanharam paralelamente

o surgimento e a evolução das tecnologias de informação e comunicação (TIC),

porém especificamente a Web, serviço da Internet que vem evoluindo

progressivamente desde seu surgimento em meados da década de 1990, é uma

ferramenta que muitos idosos nem sabem que existe. Aqueles que atuaram

profissionalmente podem até ter tido algum contato com os primeiros computadores,

mas a Web surgiu em um momento em que muitos já haviam se aposentado, não

tendo a oportunidade de aprender a utilizar.

A interação idoso-computador é um tema que está começando a ser

desenvolvido em pesquisas científicas. Nessa perspectiva, a Ciência da Informação

tem muito a contribuir com esse público específico, visto que possui necessidades

93

de informação, busca informação nas mais variadas fontes e está interessado em

utilizar os ambientes informacionais digitais da Web como fontes de informação para

a vida cotidiana. Além disso, possui habilidades e competências construídas no

decorrer de suas vidas que poderão auxiliar na interação com os recursos

tecnológicos. Em contrapartida, a tecnologia também auxilia no desenvolvimento

dessas habilidades e competências.

Uma das discussões recorrentes na Ciência da Informação é se estamos ou

não vivendo em uma sociedade da informação. Se estamos, provavelmente, dentre

os públicos não incluídos nesse contexto estão os idosos devido, dentre outros

motivos, ao contexto sócio-econômico e cultural, bem como às dificuldades na

interação humano-computador (IHC).

Nesse sentido, identificamos a importância da inclusão dessa comunidade

através do uso das TIC. Percebemos, por sua vez, que os conceitos de inclusão

digital e inclusão social trazem na sua própria essência a problemática da exclusão.

A inclusão digital e social eqüitativa pode ser ilusória, mas quando conhecemos um

determinado grupo e sabemos suas características e comportamentos, é possível

traçar caminhos considerando a inclusão como meta.

Propostas que têm como foco a inclusão digital possuem, portanto, as TIC

como ferramentas que podem viabilizar o desenvolvimento de habilidades e

competências, direcionando o indivíduo para a inclusão social. E é isso que

pretendemos neste trabalho, o qual visa o conhecimento de uma comunidade

específica, os idosos, e a proposta de inclusão digital como uma meta possível de

ser cumprida. Além disso, aproveitamos um espaço de inclusão já criado, a

Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI), como projeto de educação

continuada que tem por objetivo a reintegração social dos idosos, valendo-se do

ambiente universitário para tal.

A primeira universidade da terceira idade surgiu na França, em 1973, pela

Universidade de Ciências Sociais de Toulouse. A partir daí, a idéia foi difundida para

universidades de outros países, inclusive do Brasil, que adotaram essa modalidade

de educação continuada. Baseando-se no modelo francês, mas com grande

modificação, em 1981, na cidade de Cambridge, nasceu o modelo inglês

(CACHIONI, 1999).

Basicamente, a diferença entre os modelos francês e inglês para esses

programas são apontados por Cachioni (1999):

94

- o modelo francês originou-se do sistema tradicional universitário e passou a ser

oferecido por diversas instituições atendendo uma variedade de pessoas. Os cursos

oferecidos são abertos e concentram-se principalmente nas áreas de humanas e

artes;

- no modelo inglês, os idosos que freqüentam o programa podem atuar tanto como

alunos quanto como professores, podendo até engajar-se em pesquisas.

Cada programa de educação continuada possui suas particularidades,

podendo concentrar características de um, outro ou ambos os modelos, somadas às

características locais. O importante é que o programa atenda às necessidades de

ensino dos alunos principalmente.

Jordão Neto (1998, p. 41) afirma que

[...] a criação das universidades representou uma oportunidade sem igual para fazer os idosos se reencontrarem, redescobrindo o seu potencial, e se perceberem como seres humanos que podiam e deviam se valorizar como cidadãos ativos e participantes; recuperando assim sua auto-estima; resgatando sua auto-imagem e mostrando aos familiares e à sociedade sua capacidade de pensar e de agir por si mesmos; sobretudo, de ir à luta pelos seus direitos e pela conquista de seu legítimo espaço social.

No Brasil, a primeira experiência de educação para a Terceira Idade foi

implementada pelo Serviço Social do Comércio (SESC). Surgiu na década de 1960

com a mesma metodologia de serviço social aplicada para crianças, jovens e

adultos, compreendendo basicamente as seguintes atividades: desenvolvimento

físico-esportivo, recreação, turismo social, biblioteca, apresentações artísticas,

cursos livres e supletivos entre outras atividades (CACHIONI, 1999).

Outras iniciativas semelhantes à do SESC surgiram no Brasil, mas grande

parte não foi levada adiante. Somente a partir da década de 1980, “[...] as

universidades começaram a abrir um espaço educacional, tanto para a população

idosa como para profissionais interessados no estudo das questões do

envelhecimento.” (CACHIONI, 1999, p.161).

Nesse contexto, surgiram as UNATI da Universidade Estadual Paulista “Júlio

de Mesquita Filho” (UNESP) que, segundo Cordeiro (2003), desde 1993, atuam

espalhadas em unidades por todo o Estado de São Paulo. Vinculadas à Pró-Reitoria

de Extensão Universitária, desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão

universitária ligadas às questões de envelhecimento humano. A idade de ingresso

dos alunos no programa pode variar de uma a outra. Como exemplo, a idade mínima

para admissão na UNATI da UNESP, campus de Marília, é de 55 anos,

95

independente do nível de escolaridade. No caso específico desta unidade, seu

trabalho foi iniciado em 1995, oferecendo aos integrantes do programa as seguintes

atividades: palestras, cursos de línguas, biblioterapia, informática, oficinas de teatro

entre outras (CORDEIRO, 2003).

Outro programa que se destaca é a UNATI da Universidade Estadual do Rio

de Janeiro (UERJ). Seu surgimento data de maio de 1992, como prosseguimento de

outro projeto em andamento, o Núcleo de Assistência ao Idoso (NAI), criado no final

da década de 1980. Esse programa é dividido em três áreas: ensino (educação

permanente e formação; desenvolvimento de recurso humanos em geriatria e

gerontologia); extensão (atendimento ambulatorial, jurídico, nutricional e do serviço

social; cursos introdutórios e mais específicos em gerontologia); e pesquisa

(desenvolvimento de projetos que buscam investigar aspectos variados da

comunidade). Os alunos podem ingressar no programa a partir dos 60 anos

independente de seu nível de escolaridade (CACHIONI, 1999).

Através da breve descrição dos programas de educação continuada para a

terceira idade da UNESP e da UERJ, pode-se afirmar que ambas, além de várias

outras espalhadas pelo Brasil, possuem objetivos similares, tendo como principal a

reintegração dos idosos na sociedade e o desenvolvimento de suas potencialidades.

Além de inclusão social, algumas UNATI se preocupam com a inclusão

digital da comunidade da terceira idade, oferecendo cursos de informática, além de

ambientes informacionais disponíveis na Web desenvolvidos especificamente para

essa comunidade.

A UERJ – UNATI, em março de 1999, criou o Centro de Referência e

Documentação sobre Envelhecimento (CRDE) que visa, sobretudo, a

disponibilização de material pertinente à terceira idade. Prado, Amorim e Abreu

(2003, p.2) comentam que os objetivos mais gerais dessa biblioteca digital são:

[...] a organização, a sistematização e a disseminação de informações, através da implementação de bases de dados que contemplem as mais diversas áreas temáticas do conteúdo gerontológico e geriátrico e do estabelecimento de vínculos com instituições afins, buscando integrar redes de informação nesse âmbito do conhecimento.

O CRDE encontra-se disponível no web site da UERJ-UNATI42, onde é

possível consultar: o acervo técnico e científico do CRDE; a base de dados

bibliográficos referente às teses e dissertações sobre envelhecimento humano

42 Disponível em: <http://www.unati.uerj.br>. Acesso em: 25 mai. 2009.

96

produzidas no Brasil, incluindo textos completos; os artigos, em versão integral, do

periódico Textos sobre Envelhecimento43; as revistas científicas nacionais e

internacionais sobre geriatria e gerontologia; os lançamentos editoriais da UNATI,

incluindo textos completos; os programas brasileiros de pós-graduação que contam

com linhas de pesquisa sobre envelhecimento humano; os grupos de pesquisa

cadastrados no CNPq; e a legislação sobre idosos no Brasil (PRADO; AMORIM;

ABREU, 2003, p.3).

Outro projeto que se destaca pertence à Universidade Aberta à Terceira

Idade da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-UATI44), que inaugurou o

primeiro curso virtual para pessoas cuja faixa etária abrange 50 anos ou mais,

incentivando o uso do computador a partir de aulas fora do ambiente físico. Muniz

(2003, p.1) comenta que

A idéia de criar o primeiro curso virtual para os maiores de 50 anos surgiu com a parceria do projeto Universidade Aberta à Terceira Idade e o Laboratório de Ensino a Distância da Unifesp, o primeiro do Brasil especializado na área de saúde. Quando os funcionários do laboratório trabalharam em um oficina de informática na Uati, descobriram que cerca de 50% dos participantes, além de interessados no envelhecer com qualidade de vida, também tinham acesso à computadores e queriam se atualizar tecnologicamente.

Percebe-se que iniciativas para o uso das TIC pelos idosos possibilitam que

os mesmos se sintam atraídos e queiram aprender e se familiarizar com elas. O

problema é que o fato de querer vencer as barreiras pode colidir com o medo e

resistência a essas tecnologias, não permitindo que o idoso consiga atingir seus

objetivos. Isso já não ocorre com os jovens, os quais nasceram e aprenderam a

utilizar os meios eletrônicos nessa geração e, provavelmente, não terão problemas

no futuro. Garcia (2001, p.32-33) comenta que

Os jovens de hoje aprendem a lidar com as novas tecnologias, acompanhando a evolução dos tempos e estão dispostos a aprender a utilizar o computador. São curiosos e com isso, aprendem com maior rapidez. O mesmo, porém, não ocorre com os idosos. Muitos sentem receio, têm medo e criam uma certa resistência em aprender a usar a informática, por acreditarem que vão manusear o computador erroneamente ou que venham a danificá-lo.

Mesmo assim, iniciativas de inclusão digital têm obtido resultados bastante

positivos, possibilitando que o idoso possa se inserir no ambiente digital aos poucos,

43 Cujo título foi alterado para Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. 44 Disponível em: <http://virtual.epm.br/uati/>. Acesso em: 25 mai. 2009.

97

desenvolvendo suas potencialidades juntamente com os outros membros da

comunidade com quem compartilha conhecimento e experiências de vida.

Uma outra iniciativa, além dos ambientes informacionais digitais com

conteúdos específicos para essa comunidade, a qual tem colaborado para a

inclusão digital, são os cursos de informática oferecidos pelas UNATI.

É natural que as pessoas tenham resistência quando se defrontam com o que é novo. Mas a partir do momento em que se conta com uma orientação, ou seja, uma colaboração de pessoas que dominem essa novidade, a tendência é que adquiram confiança, liberando os bloqueios que existem dentro de si. (GARCIA, 2001, p.33)

Sendo assim, a educação para a inclusão digital dos idosos deve ser

cuidadosamente refletida. Nesse sentido, os cursos de informática que as UNATI

oferecem necessitam de metodologia adequada. Para Kachar (2003, p.53),

Algumas universidades abertas para a terceira idade oferecem curso de introdução sobre os recursos do computador dentro do seu leque de opções, porém, como as pesquisas sobre o impacto da aprendizagem e utilização do computador pela terceira idade são escassas no Brasil, acredita-se que os cursos ainda não apresentem uma metodologia de ensino e aprendizagem específica para o idoso.

Nesse contexto, consideramos que uma parte da aplicação dessa pesquisa

se refere à busca da inclusão digital de um grupo de alunos da UNATI – UNESP –

Campus de Marília, por meio de aulas de informática. No próximo capítulo,

abordamos o tipo de pesquisa utilizado, a pesquisa-ação, que propiciou refletir sobre

essas aulas a partir do uso de elementos advindos das teorias construtivistas.

Dedicamos a seção seguinte ao levantamento de alterações físicas e

cognitivas do processo natural de envelhecimento humano, tendo em vista a busca

de elementos para implementação em interfaces de ambientes informacionais

digitais.

5.1 Alterações físicas e cognitivas do envelhecimento humano e suas

implicações nas interfaces de ambientes informacionais digitais

Tomando como base o público idoso, consideramos necessária a reflexão

quanto às características específicas desse grupo de indivíduos e suas implicações

na construção de ambientes informacionais digitais da Web.

98

Segundo Badre (2002), a Web possui potencialmente o benefício de facilitar

as relações dos idosos com sua família e amigos, obter informações sobre

medicamentos e informações relacionadas à saúde, bem como proporcionar a eles o

poder de compra, com todas as vantagens que teriam se estivessem em um

ambiente físico.

Dentre as inúmeras possibilidades na Web, o e-mail é o serviço mais

utilizado por usuários idosos da Web. Depois dele, segue a utilização das

ferramentas de busca para pesquisa sobre um tópico específico, com destaque às

notícias, informações financeiras, viagens, informações metereológicas e hobbies.

(BADRE, 2002; NIELSEN, 2002).

No que diz respeito às ferramentas de busca, Sayago e Blat (2007)

realizaram um estudo experimental com idosos, investigando seu comportamento na

utilização de busca simples e busca avançada do Google e busca no diretório do

Yahoo. Os autores constataram que os usuários idosos encontraram informações

três vezes mais rápido utilizando a busca simples em comparação à busca

avançada e ao diretório. Além disso, utilizaram maior tempo realizando busca no

diretório devido à dificuldade de uso do mouse e à sobrecarga de informações na

interface. A busca avançada possui uma interface complexa, o que dificulta sua

utilização por esse tipo de público.

Com relação à usabilidade dos ambientes informacionais digitais da Web,

Nielsen (2002) afirma que a maioria desses ambientes violam as diretrizes e

recomendações de usabilidade, tornando-os mais difíceis de usar. Segundo o autor,

atualmente esses ambientes são duas vezes mais difíceis de usar por idosos do que

por pessoas de outras faixas etárias.

É importante considerar que os idosos mais velhos possuem mais

dificuldades na utilização da Web que os idosos mais jovens. (BADRE, 2002). Asla,

Williamson e Mills (2006) aplicaram um estudo de comportamento informacional em

idosos da “quarta idade”, em que consideram pessoas com 85 anos ou mais, e

descobriram que as dificuldades na busca e uso de informações são maiores em

comparação aos idosos mais jovens.

Dessa forma, é necessário buscar respaldo das alterações físicas e

cognitivas do envelhecimento humano nas áreas de Geriatria e Gerontologia, bem

como na literatura que enfoca o design de interfaces para idosos, a fim de identificar

elementos que possibilitem maior facilidade no acesso e uso da informação por meio

99

da construção de arquiteturas informacionais mais inclusivas para esse público

específico.

Com relação às alterações físicas, podem ser citadas as mudanças de

ordem osteomuscular, muscular e sensorial (SALES, 2002). De acordo com Duarte

(2002, p.219), no envelhecimento humano

Ocorre geralmente uma atrofia muscular lenta e gradual, em especial no tronco e extremidades, levando a uma perda de força muscular e conseqüente diminuição de força, resistência e agilidade. Pode ocorrer a perda gradativa de cálcio tornando os ossos mais porosos e mais leves e, conseqüentemente, mais propensos a fraturas. Pode ocorrer ainda a calcificação dos ligamentos e o enrijecimento das articulações podendo ocasionar diminuição dos movimentos e a instalação de processos dolorosos.

As alterações de ordem osteomuscular e muscular podem afetar a interação

humano-computador em face aos aspectos físicos de interação (hardware), como

mobília utilizada, disposição e características particulares dos equipamentos dentre

outros aspectos ergonômicos.

De acordo com Badre (2002), as dificuldades relacionadas à coordenação

motora nos idosos afetam, principalmente, o uso do mouse no momento de

navegação em um ambiente informacional digital, bem como no posicionamento do

cursor em um determinado objeto. Segundo o autor, os idosos têm dificuldades em

posicionar o cursor em objetos pequenos, cuja precisão é de apenas 75%

comparada a mais de 90% em objetos maiores.

As alterações de ordem sensorial (órgãos dos sentidos) em conjunto e

relacionadas às alterações cognitivas, em contrapartida, afetam mais a interação

dos idosos com as aplicações (software), dificultando atingir seus objetivos quando

acessam conteúdos digitais que não disponibilizam elementos adequados às suas

necessidades.

Com relação aos órgãos dos sentidos, é pertinente abordar as alterações na

visão e na audição decorrentes do envelhecimento dos indivíduos, pois as

alterações de olfato e de paladar não parecem ter efeito direto sobre a interação

humano-computador (SALES, 2002).

No que diz respeito às alterações visuais, Mansur e Viude (2002) comentam

que elas se iniciam por volta da metade da terceira década de vida e se

caracterizam pelos seguintes fatores:

• Dificuldades para acomodar a visão e discriminar detalhes de objetos próximos;

• Dificuldades para leitura;

100

• Necessidade de maior intensidade de iluminação, que se explica pela diminuição da sensação luminosa e da sensação cromática;

• Dificuldades na acomodação rápida para mudanças de ambientes com diferentes luminosidades;

• Dificuldade para enxergar à noite. (MANSUR; VIUDE, 2002, p.288).

Essas alterações devem ser respeitadas no desenvolvimento das interfaces.

Os idosos possuem dificuldades em discriminar tons da mesma cor, portanto uma

das possibilidades é contrastar, por exemplo, as cores de fundo das páginas e as

cores dos textos. Além disso, é importante disponibilizar o recurso de acessibilidade

que permite ampliar e reduzir o tamanho da fonte, a fim de possibilitar ao usuário

customizar a interface para tornar os textos mais legíveis (BADRE, 2002).

Com relação à audição, Mansur e Viude (2002) comentam que este é o

primeiro dos sentidos a apresentar perdas funcionais e isso ocorre em média aos 30

anos. As autoras apresentam alguns dados relacionados ao declínio auditivo:

• A acuidade auditiva declina com a idade, tanto no homem quanto na mulher;

• Predominam as perdas nas freqüências agudas; • O zumbido é queixa freqüente entre idosos, ou seja, de 3% na segunda

década da vida e de 10% na sexta; • Em condições ideais, a inteligibilidade da fala em situação de

conversação sofre leve declínio, porém piora em situações adversas como ruído ambiental, conversas em grupos (em que se deve administrar os recursos atencionais e realizar maior número de inferências contextuais, pois ocorre maior perda de material verbal);

• Sons altos e vozes de grande intensidade são pouco tolerados. (MANSUR; VIUDE, 2002, p.288).

A disponibilização de sons em ambientes informacionais digitais possibilita

uma outra forma de acesso às informações, principalmente àqueles que possuem

mais degradação visual. Portanto, pensando nesse público, principalmente naqueles

com diminuição da capacidade auditiva, os projetistas precisam conferir se os sons

disponíveis nesses ambientes não possuem falhas (BADRE, 2002).

No que diz respeito ao sistema nervoso, Duarte (2002) afirma que é um dos

sistemas mais vulneráveis às alterações do envelhecimento humano. Entre os 25 a

30 anos, inicia-se um processo de perda neuronial que progride no decorrer da vida.

Essa dentre outras transformações podem trazer conseqüências na vida do idoso,

por exemplo:

• Alguns idosos apresentam diminuição de sua agilidade mental e de sua capacidade de raciocínio abstrato;

• Outros apresentam diminuição na percepção, análise e integração de informação sensorial, diminuição da memória recente e alguma perda na habilidade de aprendizagem;

101

• Pode-se observar também uma alteração na coordenação sensoriomotora, com reflexos no controle postural.

(DUARTE, 2002, p.225).

Essas alterações estão intimamente relacionadas às perdas cognitivas. No

que diz respeito às alterações cognitivas, Mansur e Viude (2002) comentam que elas

podem ser vistas sob duas óticas: fisiológica e patológica. As duas perspectivas

consideram as mudanças morfológicas e cognitivas, porém as interpretam de modo

diferente.

As alterações cognitivas afetam diretamente processos como a inteligência;

atenção; a percepção; a memória; o aprendizado; a linguagem; a resolução de

problemas, o planejamento, o raciocínio e a tomada de decisões.

Com relação à inteligência, Luders e Storani (2002) comentam que ela

pode ser classificada em inteligência cristalizada e inteligência fluida. A inteligência

cristalizada se refere à fonte de informação geral, vocábulo ou conhecimento

adquirido; enquanto que a inteligência fluida se refere à habilidade em perceber as

relações existentes entre as coisas, bem como à manipulação das informações.

De acordo com as autoras, estudos populacionais têm mostrado que as

pessoas mantêm seu nível de inteligência cristalizada até os 70 anos e a partir

desse momento inicia-se um declínio dessa habilidade. A inteligência fluida, por sua

vez, atinge um pico aos 20 anos e então segue um declínio progressivo nessa

habilidade, considerando que aos 60 anos já existe um comprometimento

considerável. Nesse sentido, as autoras comentam que, com o envelhecimento

humano, “[...] as funções que exigem manipulação de novas informações são mais

problemáticas do que as que requerem apenas o manuseio do conhecimento

adquirido” (LUDERS; STORANI, 2002, p.146).

De certo modo, os idosos experimentam com a World Wide Web uma nova

forma de interação, ou seja, ela é mais ativa comparada à passividade de outros

meios de comunicação de massa. Nesse sentido, a disponibilização linear de

informação proporcionada pela TV, rádios e jornais dá espaço a uma

disponibilização hipertextual de informações, análogo ao pensamento humano. Os

idosos possuem dificuldades em meio a essa nova forma de acesso à informação,

porém o principal problema reside na quantidade de informações disponibilizadas de

uma só vez em páginas Web. Portanto, um projeto que considere esse público como

potencial para o ambiente informacional digital, precisa pensar em formas de

102

disponibilizar informações mais relevantes para que os idosos não precisem

manipular novas informações de uma só vez em uma só página Web.

No que diz respeito à atenção, Sales afirma que (2002, p.26), “com o

aumento da idade surge declínio em relação à atenção dividida”, ou seja, há

dificuldade por parte dos indivíduos idosos quanto a se concentrarem em duas ou

mais situações ao mesmo tempo, sendo obrigados a ativar a atenção seletiva, em

que optarão por algo a partir de critérios estabelecidos individualmente.

De acordo com os estudos em IHC, Preece, Rogers e Sharp (2005) apontam

como amenizar problemas relacionados à atenção na construção de uma interface,

de acordo com os conceitos de design de interação e das reflexões sobre o

desenvolvimento de ambientes informacionais específicos para a terceira idade

abordadas nesse trabalho:

• As informações referentes à execução de determinada tarefa pelos idosos

devem estar visíveis;

• Para tanto, é necessário utilizar-se de recursos do design gráfico apenas para

ressaltar esse tipo de informação;

• É importante que os idosos não tenham que utilizar a atenção seletiva dentre

informações não relevantes que apresentam design gráfico inadequado;

• Definição de interfaces simples e intuitivas.

Com relação às alterações de percepção nos idosos, Sales (2002, p.25)

comenta que “[...] há declínios na habilidade de descobrir figuras ou formas

embutidas em padrões complexos e há declínios na habilidade para reconhecer

objetos que são fragmentados ou incompletos”. As implicações quanto ao desenho

da interface a partir desse processo cognitivo são apontadas por Preece, Rogers e

Sharp (2005) e direcionado ao público idoso:

• As representações gráficas devem ser reconhecidas facilmente pelos idosos;

• Os sons disponibilizados devem ser claros e compreensíveis;

• Legibilidade e cores contrastantes com o fundo facilitam a leitura de textos.

No que diz respeito à memória, as maiores alterações se referem à

memória de curto prazo (KACHAR, 2003; BADRE, 2002). Na interação humano-

computador, pode haver uma dificuldade de memorização durante o acesso a um

ambiente informacional digital, dificultando a navegação em um sistema hipertextual

103

que, provavelmente, dificultará o aprendizado. Para tal, a partir dos apontamentos

de Preece, Rogers e Sharp (2005), verificamos que

• Os procedimentos para a realização de tarefas devem ser simples para não

sobrecarregar a memória de curto prazo dos idosos;

• Interfaces projetadas com o objetivo de promover o reconhecimento de

procedimentos através da percepção possibilitam acesso intuitivo dos idosos,

contribuindo para que não precisem memorizar os passos para cumprir as

tarefas.

Vários fatores podem desencadear na dificuldade de aprendizado no

decorrer do envelhecimento humano, como dificuldades de atenção, percepção e

memorização. Esses processos cognitivos, se refletidos no desenvolvimento de

interfaces para esses usuários específicos, podem auxiliar no aprendizado no

momento da interação. É importante que, como comentado anteriormente, sejam

criadas interfaces intuitivas, permitindo o reconhecimento de elementos gerais, bem

como itens específicos quando se trata de uma tarefa específica. Uma interface

projetada com essas reflexões tende a auxiliar os indivíduos no contato com outras

interfaces, bem como torná-los investigadores nesses ambientes, não sendo

necessária a memorização de ações para o cumprimento de tarefas (PREECE;

ROGERS; SHARP, 2005).

A leitura, a fala e a audição são processos significativos para a produção e

recepção da linguagem, envolvendo os sistemas sensoriais visão e audição. As

alterações relativas aos mesmos foram explicitadas anteriormente. A partir dos

apontamentos de Preece, Rogers e Sharp (2005), entendemos que

• O desenvolvimento de menus e instruções comandadas por voz deve limitar-

se às categorias e subcategorias relevantes, possibilitando relações entre as

mesmas e permitindo a condução da facilidade de aprendizado e da

facilidade de memorização;

• Discursos gerados artificialmente, como no caso dos sintetizadores de fala

para cegos ou indivíduos com baixa visão, devem ser desenvolvidos tendo

como base permitir que os usuários consigam ouvir claramente os sons

disponíveis;

• Devem ser oferecidas opções para ampliação do texto, como mencionado

anteriormente, permitindo que pessoas com dificuldades para leitura

104

consigam interagir diretamente com outras formas para entendimento da

informação disponibilizada.

Com relação à resolução de problemas e processos afins, Woods e Birren

(199145 apud KACHAR, 2003, p.42) comentam que

É típico das pessoas da terceira idade experienciar algum declínio no desempenho envolvendo novos estímulos ou habilidades em resolver problemas, porém, muitos indivíduos entre 70 e 80 anos apresentam desempenho em testes psicológicos igual ou próximo ao dos jovens.

Levando em consideração as particularidades de cada indivíduo, os

ambientes informacionais digitais devem fornecer recursos para os idosos que

desejam executar ações com maior eficiência, como realizar buscas no próprio

ambiente ou em toda a Web, juntamente com opções de refinamento de busca,

permitindo que os idosos que já tenham uma dada experiência nesse tipo de

ambiente possam resolver problemas, planejar, raciocinar e tomar decisões

(PREECE; ROGERS; SHARP, 2005).

As reflexões acerca das características específicas de usuários idosos

contribuem para o desenvolvimento de ambientes informacionais digitais,

considerando os fatores humanos envolvidos e possibilitando direcionar a

arquitetura da informação que será disponibilizada nesses ambientes no sentido de

possibilitar sua usabilidade e acessibilidade.

Nesse momento, reunimos recomendações de usabilidade e acessibilidade

com enfoque ao público idoso, obtidas por meio de pesquisa na literatura, as quais

poderão contribuir para o desenvolvimento e a avaliação de ambientes

informacionais digitais específicos, bem como poderão ser utilizadas para a

construção do repositório digital da UNATI – UNESP – Marília, como será relatado

no próximo capítulo.

Em um primeiro momento, investigamos os princípios de usabilidade

abordados por alguns autores, seguido da síntese desses princípios. As abordagens

são listadas abaixo:

• Dias (2003), que apresenta sete princípios de usabilidade a partir de seus

estudos da norma de qualidade ISO 9241-11, bem como apresenta sete

princípios de design universal;

45 WOODS, A. M.; BIRREN, J. E. The psychology of ageing. In: PATHY, M. S. J. Principles and practice of geriatric medicine. 2.ed. John Wiley & Sons Ltd., 1991.

105

• Nielsen (200146 apud PREECE, ROGERS e SHARP, 2005), que apresenta

dez princípios de usabilidade;

• Norman (198847 apud PREECE, ROGERS e SHARP, 2005), que apresenta

seis princípios de design de interação;

• Preece, Rogers e Sharp (2005), que apresentam as seis principais metas de

usabilidade;

• Shneiderman (199848 apud DIAS, 2003), que apresenta oito “regras de ouro”

para o projeto de interfaces;

• Torres e Mazzoni (2004), que apresentam dez princípios de usabilidade e

acessibilidade.

O Quadro 6 a seguir apresenta uma síntese dos princípios investigados:

- Na primeira coluna, são apresentadas denominações arbitrárias para os princípios

a partir dos princípios encontrados em comum entre os autores (em ordem de maior

relevância seguido por ordem alfabética);

- Na segunda coluna, são definidos os princípios apresentados na primeira coluna, a

partir dos conceitos dos autores;

- Na terceira coluna, são apresentados os autores que apontaram princípios

similares que resultaram na síntese demonstrada na primeira coluna.

46 NIELSEN, J. Ten Usability Heuristics. 2001. 47 NORMAN, D. The design of everyday things. New York: Basic Books, 1988. 48 SHNEIDERMAN, B. Designing the user interface: strategies for effective human-computer interaction. 3.ed. Massachusetts: Addison-Wesley, 1998.

106

Princípios investigados

Definição

Autores

Prevenção e tratamento de

erros

O sistema deve apresentar baixa taxa de erros. Caso estes ocorram, por parte do usuário ou do próprio sistema, este deve disponibilizar formas de tratamento destes erros para que o próprio usuário possa resolvê-los.

- Dias (2003); - Nielsen (2001); - Shneiderman (1998); - Torres e Mazzoni (2004).

Consistência

O sistema deve apresentar padronização em suas ações constituintes. Dessa forma, torna-se consistente e o usuário não precisa reaprender a usá-lo a cada ação realizada.

- Dias (2003); - Nielsen (2001); - Shneiderman (1998); - Torres e Mazzoni (2004); - Norman (1988).

Feedback O sistema deve fornecer ao usuário respostas ao final de cada ação realizada, por meio de mensagens, por exemplo.

- Nielsen (2001); - Shneiderman (1998); - Torres e Mazzoni (2004); - Norman (1988).

Controle O usuário, tanto experiente quando inexperiente, deve possuir controle sobre o sistema, e não o oposto.

- Nielsen (2001); - Shneiderman (1998); - Torres e Mazzoni (2004); - Dias (2003).

Eficácia e eficiência

O usuário, ao conhecer o sistema, analisa o quanto este pode ajudá-lo a atingir seus objetivos. A partir do momento que o usuário interage com ele, este deve fornecer subsídios para que o torne freqüente, realizando suas ações de forma rápida e satisfatória.

- Dias (2003); - Nielsen (2001); - Preece, Rogers e Sharp (2005).

Fácil aprendizado

O novo usuário de um sistema e/ou o usuário num sistema reestruturado, busca usá-lo com freqüência. Portanto, deve ser fácil de usar a partir de interface intuitiva.

- Dias (2003); - Preece, Rogers e Sharp (2005); - Torres e Mazzoni (2004).

Flexibilidade No caso de prover acesso a todos os usuários do público-alvo, o sistema deve considerar todas as diversidades humanas possíveis.

- Dias (2003); - Nielsen (2001); - Torres e Mazzoni (2004).

Visibilidade Os usuários devem encontrar no sistema informações facilmente perceptíveis e claras.

- Nielsen (2001); - Torres e Mazzoni (2004); - Dias (2003); - Norman (1988).

Compatibilidade

O sistema deve fornecer similaridade das ações com os sistemas que os usuários já conhecem e com o cotidiano deles.

- Nielsen (2001); - Torres e Mazzoni (2004); - Norman (1988).

Fácil memorização

Ao aprender a interagir com o sistema, o usuário deve lembrar como fazê-lo ao utilizá-lo novamente.

- Dias (2003); - Preece, Rogers e Sharp (2005); - Shneiderman (1998).

Priorização da funcionalidade e da informação

Para que o sistema seja útil e funcional, é preciso que ele amenize a estética que usa apenas para atrair o usuário e não conta com informações claras e precisas.

- Nielsen (2001); - Preece, Rogers e Sharp (2005); - Torres e Mazzoni (2004).

107

Princípios investigados

Definição

Autores

Uso eqüitativo

A partir da definição do público-alvo do sistema, este deve atender a todos dentro do grupo: usuários experientes ou não. Se possível, também o deve fazer com outros usuários fora do grupo que buscam informações nele.

- Torres e Mazzoni (2004); - Dias (2003).

Affordance O sistema deve convidar o usuário a realizar determinadas ações a partir de incentivos, pistas.

- Norman (1988)

Ajuda O sistema deve fornecer módulos de ajuda para auxiliar os usuários em seu uso.

- Nielsen (2001)

Atalhos O sistema deve fornecer caminhos mais rápidos que agilizam a interação dos usuários mais experientes.

- Shneiderman (1998)

Baixo esforço físico

O sistema deve permitir que o usuário não se sinta cansado ao realizar tarefas repetitivas, manipulações complexas, etc.

- Dias (2003)

Restrições O sistema deve restringir, em momento oportuno, o tipo de interação entre ele e o usuário. - Norman (1988)

Reversão de ações

As ações dentro do sistema devem ser reversíveis, encorajando os usuários a explorá-lo. - Shneiderman (1998)

Satisfação subjetiva

Para que o usuário se sinta subjetivamente satisfeito com o sistema, é necessário que considere agradável sua interação com ele.

- Dias (2003)

Segurança O sistema deve proteger o usuário de condições perigosas e situações indesejáveis.

- Preece, Rogers e Sharp (2005)

Quadro 6 – Princípios de usabilidade. Fonte: Elaborado pelo autor.

Em um segundo momento, investigamos recomendações de usabilidade e

acessibilidade abordadas por alguns autores seguida de sua classificação de acordo

com os princípios de usabilidade apresentados no Quadro 6. As abordagens são

listadas abaixo:

• Echt (200249 apud BADRE, 2002; NIELSEN, 2002), que apresenta

recomendações para apresentação de texto específicas para idosos;

• Nielsen (2002), que apresenta também recomendações específicas para

idosos;

• Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007) que realizaram uma revisão

exaustiva na literatura da área de IHC e Envelhecimento Humano, seguido do

desenvolvimento de um conjunto de recomendações baseado na literatura

levantada. Essas recomendações foram testadas e validadas por meio de

avaliações heurísticas;

• Sales e Cybis (2009) que elaboraram um checklist para a avaliação da

acessibilidade Web para usuários idosos a partir de recomendações

49 ECHT, K. V. Visual considerations and design directives. In: MORRELL, R. W. (Ed.) Older adults, health information, and the world wide web. Mahwah, NJ: Erlbaum, 2002.

108

investigadas na literatura, bem como advindas de organizações como o W3C

e de estudos empíricos realizados pelos autores;

• Além disso, foram acrescentadas propostas de recomendações que são

resultados da fundamentação teórica deste trabalho de pesquisa e de

trabalhos anteriores já desenvolvidos com esse público em Vechiato (2007) e

Vechiato e Vidotti (2008).

Os Quadros 7, 8 e 9 a seguir apresentam uma síntese das recomendações

investigadas, classificadas como imprescindíveis, importantes e opcionais,

respectivamente, quando refletidas no contexto da usabilidade e da acessibilidade

de ambientes informacionais digitais para idosos, com enfoque nos repositórios

digitais. Todos os quadros abarcam:

- Na primeira coluna, os princípios de usabilidade investigados;

- Na segunda coluna, a síntese das recomendações investigadas com base nos

autores citados, bem como classificadas de acordo com os princípios pontuados na

primeira coluna;

- Na terceira coluna, os autores que apontaram recomendações de usabilidade e

acessibilidade similares que resultaram na síntese demonstrada na segunda coluna.

O Quadro 7, portanto, abrange as recomendações que consideramos

imprescindíveis para aplicação em um ambiente informacional digital para idosos

Princípios Recomendações Autores

Prevenção e tratamento de

erros

Disponibilizar mensagens claras ao usuário idoso quanto a um erro dele próprio no desenvolvimento de determinada tarefa ou mesmo quanto a um erro do sistema.

- Nielsen (2002); - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007).

Consistência

Leiaute, navegação e rotulação/terminologia devem ser simples, claros e consistentes.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Os rótulos dos links devem ser claros e links com mesmo rótulo não podem ser direcionados a páginas diferentes.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Apresentar informações (ex: mensagens, ícones, rótulos etc.) e objetos de interação (campo de edição, botão de comando etc.), que ocorrem repetidos nas diferentes páginas do site, em posições e formas (ex: cor, fonte, tamanho etc.) consistentes.

- Sales e Cybis (2009)

Feedback Fornecer confirmação para as tarefas realizadas pelo usuário.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Controle Não utilizar menus pull-down.

- Nielsen (2002); - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Não fornecer opções que precisem de clique duplo. - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

109

Princípios Recomendações Autores

Controle

Promover tempo suficiente para leitura das informações. - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Fornecer recursos que contribuam para o controle e liberdade do usuário na interação com o sistema.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Evitar o recurso de rolagem automática de texto, ao menos que seja disponibilizada uma forma simples de desativá-lo.

- Sales e Cybis (2009)

Fornecer links com rótulos legíveis (ex: “página anterior” e “próxima página”) no site para permitir que o usuário retorne ou siga em frente.

- Sales e Cybis (2009)

Links do tipo “clique aqui” e “leia mais” têm grande aceitabilidade por esse público, visto que os direcionam a ações que talvez não consigam visualizar.

- Vechiato (2007); Vechiato e Vidotti (2008).

Eficácia e eficiência

Propiciar ao usuário idoso facilidades no desenvolvimento de suas tarefas com o site.

- Recomendação proposta neste trabalho.

Fácil aprendizado

Utilizar distinção de cores para links visitados e não visitados.

- Nielsen (2002); - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007).

Os ícones devem ser simples e significativos. - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Reduzir o consumo da memória de trabalho do usuário por meio de interface que possibilite acesso intuitivo através do reconhecimento.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Visibilidade

Utilizar fontes não serifadas, como Arial ou Helvetica.

- Echt (2002); - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Para tamanho de fonte, utilizar 12 ou 14 pontos para o corpo do texto e 18 a 24 pontos para cabeçalhos.

- Echt (2002); - Nielsen (2002); - Sales e Cybis (2009).

Utilizar letras maiúsculas e minúsculas; evitar o uso de trechos longos em caixa alta.

- Echt (2002); - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009)

Utilizar posicionamento consistente dos elementos da página. - Echt (2002)

Utilizar um número mínimo de links de hipertexto em uma única linha de texto. - Echt (2002)

Evitar o formato de várias colunas ou frames. - Echt (2002)

Evitar textos que “piscam” ou em movimento. - Echt (2002); - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007).

Para objetivos de controle, como links, botões de comando, barras de rolagem etc., apresentar uma área sensível às ações dos usuários suficientemente grande para permitir um fácil e confortável acionamento por parte do usuário idoso.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

O conteúdo não deve ser apresentado apenas em uma única cor.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Fornecer descrições (por extenso, em legenda etc.) de abreviaturas ou siglas e realçá-las quando da sua primeira ocorrência em cada página.

- Sales e Cybis (2009)

Fornecer links agrupados adequadamente. - Sales e Cybis (2009)

110

Princípios Recomendações Autores

Compatibilidade

Possibilitar ao usuário idoso ações compatíveis àquelas vivenciadas em seu dia-a-dia. - Nielsen (2002)

A linguagem deve ser simples e clara. - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009)

Priorização da funcionalidade

e da informação

Elementos gráficos e animações devem ser pertinentes e não apenas usados para decoração.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Evitar informações irrelevantes. - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Destaque para as informações mais importantes. - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

As informações devem ser concentradas no centro da página.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

As cores devem ser utilizadas de forma coerente com a proposta do ambiente informacional digital.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Evitar intermitência (efeito de piscar) de elementos visuais no site. Se for necessário, inserir recurso para que o usuário possa desativá-la.

- Sales e Cybis (2009)

Affordance Fornecer pistas aos usuários sobre onde estão localizados em um web site no momento de acesso.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Baixo esforço físico

Em páginas com formulários, forneça o posicionamento dos objetos de interação (campo de edição, botão de rádio, lista de seleção etc.) em relação aos seus respectivos rótulos de identificação.

- Sales e Cybis (2009)

Proporcionar ao usuário facilidades na interação com o site, impedindo ações repetitivas. - Sales e Cybis (2009)

Restrições

Quando o site disponibilizar conteúdos restritos aos idosos, fornecer informações consistentes relacionadas à restrição.

- Vechiato (2007); Vechiato e Vidotti (2008).

Não restringir os usuários a uma estrutura informacional fechada, fornecendo recursos que os idosos possam interagir com maior liberdade e criatividade no ambiente.

- Recomendação proposta neste trabalho.

Satisfação subjetiva

Fornecer conteúdos que não estejam relacionados apenas com as doenças do envelhecimento humano, mas que enfoquem qualidade de vida e outros assuntos de interesse geral.

- Vechiato (2007); Vechiato e Vidotti (2008).

Fornecer recurso para que o idoso possa se manifestar quanto sua satisfação no uso do ambiente.

- Recomendação proposta neste trabalho.

Segurança

Informações relacionadas à segurança do idoso frente a cadastro no ambiente bem como download de arquivos devem ser enfatizadas, visto que é um público que se preocupa com a segurança de seus dados pessoais e vírus de computadores.

- Vechiato (2007); Vechiato e Vidotti (2008).

Quadro 7 – Recomendações de usabilidade e acessibilidade imprescindíveis para ambientes informacionais digitais para idosos. Fonte: Elaborado pelo autor.

Os projetistas de ambientes informacionais digitais para idosos podem

utilizar essas recomendações como ponto de partida. Elas enfocam: a facilidade

desse tipo de usuário em compreender as mensagens; a importância da utilização

de elementos consistentes nas diversas páginas do ambiente, no que diz respeito

111

aos termos / rotulagem, cores e fontes; a importância do controle do usuário no

desenvolvimento de suas tarefas; a facilidade de aprendizagem por meio do

reconhecimento, considerando a compatibilidade com as ações cotidianas do

usuário e com sua linguagem; a priorização da funcionalidade e da visibilidade da

informação; o fornecimento de pistas para a localização do usuário no ambiente,

com o intuito de facilitar a navegação; entre outras.

O Quadro 8 apresenta as recomendações que consideramos importantes

para aplicação em um ambiente informacional digital para idosos.

Princípios Recomendações Autores

Consistência

Apresentar texto na voz ativa (ex: “é necessário que você se cadastre” em vez de “é necessário que você seja cadastrado”).

- Sales e Cybis (2009)

Fornecer títulos significativos para os frames do site. - Sales e Cybis (2009)

Visibilidade

Utilizar negrito no texto; evitar itálico. - Echt (2002)

Utilizar texto alinhado à esquerda; evitar centralizado ou justificação completa.

- Echt (2002); - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Utilizar contrastes negativos (texto preto sobre fundo branco).

- Echt (2002); - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Fornecer o menor nível de brilho possível nas cores do fundo da página ou das imagens existentes.

- Sales e Cybis (2009)

Quadro 8 – Recomendações de usabilidade e acessibilidade importantes para ambientes informacionais digitais para idosos. Fonte: Elaborado pelo autor.

Consideramos que essas recomendações são importantes, mas não

imprescindíveis, podendo ser aplicadas em um segundo momento e refletidas de

acordo com as necessidades específicas da instituição promotora do ambiente e de

seus usuários.

O Quadro 9 apresenta as recomendações que consideramos opcionais para

aplicação em um ambiente informacional digital para idosos.

Princípios Recomendações Autores Controle Disponibilizar recurso para dimensionamento do texto. - Echt (2002)

Flexibilidade

Disponibilizar aos usuários diferentes tipos de busca, bem como diferentes tipos de apresentação de resultados, correspondendo a diferentes níveis de habilidade e preferências dos usuários.

- Sales e Cybis (2009)

Fornecer sincronismo para as legendas e descrições sonoras às passagens a que estão associadas nas apresentações multimídia (ex: legenda para uma entrevista em um filme, texto associado a animação visual etc.)

- Sales e Cybis (2009)

112

Princípios Recomendações Autores Flexibilidade Fornecer resumos de figuras e tabelas. - Sales e Cybis (2009)

Visibilidade

Aumentar o espaço entre as linhas de blocos de texto.

- Echt (2002); - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Manter cumprimentos de linha entre 50 e 65 caracteres. - Echt (2002); - Sales e Cybis (2009).

Utilizar título e subtítulos. - Echt (2002); - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007).

Listas de links devem aparecer em uma lista de marcadores.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Tons de azul e verde devem ser evitados. - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Fornecer destaque ao cursor, por meio de formatos e tamanhos que permitam com que ele seja encontrado facilmente na tela por um usuário idoso.

- Sales e Cybis (2009)

Fornecer ao usuário outras possibilidades de destaque para textos importantes (ex: cor+sublinhado, cor+espessura de linha etc.).

- Sales e Cybis (2009)

Fornecer distinção visual de links textuais colocados lado a lado em uma mesma linha (links adjacentes) por meio de caracteres que não funcionem como link (ex: [, |, etc.) ladeados por espaços em branco.

- Sales e Cybis (2009)

Fácil memorização

Não devem ser utilizadas organizações hierárquicas profundas nem grupos de informações sem uma categoria definida.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Uso equitativo

Deve ser utilizado o atributo alt=”texto” para fornecer texto equivalente a todas as imagens disponibilizadas.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Fornecer uma versão exclusivamente em texto para páginas com apresentações visuais ou sonoras caso a acessibilidade não possa ser obtida por outro recurso.

- Sales e Cybis (2009)

Fornecer operação dos componentes do site por meio de diferentes dispositivos, em particular, teclado e mouse.

- Sales e Cybis (2009)

Ajuda Fornecer recurso de ajuda sobre como utilizar o site. - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Atalhos Fornecer um mapa do site. - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007); - Sales e Cybis (2009).

Baixo esforço físico

Evitar barras de rolagem. - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Fornecer apenas uma janela aberta. - Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Fornecer seções curtas para blocos de informação e documentos que sejam extensos. - Sales e Cybis (2009)

Reversão de ações

As ferramentas de busca devem atender às diversas possibilidades de pesquisas feitas pelos usuários, especialmente anéis sinonímicos que remetem termos digitados incorretamente aos termos do vocabulário controlado.

- Zaphiris, Kurniawan e Ghiawadwala (2007)

Quadro 9 – Recomendações de usabilidade e acessibilidade opcionais para ambientes informacionais digitais para idosos. Fonte: Elaborado pelo autor.

113

Consideramos que essas recomendações estão mais relacionadas a

necessidades específicas de produtores e usuários potenciais de ambientes

informacionais digitais para idosos, pois são bastante específicas. Em um repositório

digital DSpace, por exemplo, o conteúdo é organizado em comunidades e coleções

e pode ocorrer constantemente a inclusão de mais itens na hierarquia conforme as

necessidades informacionais vão sendo identificadas.

Nesse momento, alguns ambientes informacionais digitais específicos para

idosos serão comentados tendo como base algumas das recomendações

apresentadas nos quadros anteriores.

Primeiramente, apresentaremos o SeniorNet, que se trata de uma

organização que objetiva propiciar aos idosos educação para o acesso às

tecnologias computacionais com o intuito de trazer melhorias para suas vidas,

permitindo-lhes compartilhar seus conhecimentos com outros membros desse grupo.

A Figura 9 apresenta a página inicial desse web site.

Figura 9: Página inicial do web site SeniorNet. Fonte: <http://www.seniornet.org>. Acesso em: 26 jan. 2010.

Percebemos que o ambiente utiliza diversas cores que estão relacionadas à

sua proposta. Foi utilizada uma fonte não serifada, o que facilita a leitura para

114

usuários idosos e seu tamanho varia dependendo de cada seção da página. Porém,

verificamos que a maior parte dos textos é apresentada em um tamanho coerente

com as recomendações apresentadas. Conferimos também a possibilidade e a

facilidade na realização de buscas, a existência de links do tipo Read more... (Leia

Mais...) que, embora redundantes, têm grande aceitabilidade por esse público.

Como pontos negativos, percebemos que há utilização de menus pull-down,

como é demonstrado na figura, em que posicionamos o cursor do mouse no menu

E-Learning. Os idosos geralmente possuem dificuldades com esse tipo de menu,

principalmente aqueles mais inexperientes. Além disso, a imagem do centro é

alterada constantemente e de forma rápida, o que também pode dificultar a

utilização por usuários que estão aprendendo a utilizar o ambiente.

O próximo ambiente apresentado é o Maisde50. Criado em 1999, esse web

site tem como objetivo possibilitar o uso pelas pessoas com mais de 50 anos ou

outros que se interessem pelos assuntos abordados e contribuir para a discussão

sobre o envelhecimento humano através de textos informativos e canais de

comunicação entre usuários. Além disso, proporciona encontros reais para

aproximação de pessoas que se conhecem apenas no ambiente digital. A Figura 10

apresenta a página inicial desse web site.

Figura 10: Página inicial do web site Maisde50. Fonte: <http://www.maisde50.com.br>. Acesso em: 28 jan. 2010.

115

Como aspectos positivos, podemos destacar o dinamismo na atualização

das informações no ambiente, bem como a abrangência de assuntos que estão

relacionados a todos os aspectos do envelhecimento humano de uma maneira

descontraída, por meio de breves artigos que são escritos por jornalistas e

especialistas. Os usuários desse ambiente podem se cadastrar em uma rede social

disponibilizada, criar seus blogs, participar do chat, possibilitando facilidades de

interação e participação.

Porém, percebemos que, para esse tipo de ambiente, a rolagem da página

inicial é muito longa, contemplando muitas informações, além de um excesso de

imagens e algumas imagens em movimento que podem também dificultar a

aprendizagem de um usuário inexperiente.

O web site da Universidade Aberta à Terceira Idade da Universidade

Estadual do Rio de Janeiro (UNATI – UERJ), que comentaremos a seguir, contém

informações sobre a instituição e abriga o Centro de Referência e Documentação

sobre Envelhecimento (CRDE), criado em 1999. A Figura 11 apresenta a página

inicial desse web site.

Figura 11: Página inicial do web site da UNATI – UERJ. Fonte: <http://www.unati.uerj.br/>. Acesso em: 12 fev. 2010.

116

O web site apresenta conteúdos relevantes para os usuários idosos,

principalmente para os membros da instituição, bem como para especialistas em

envelhecimento humano. Notamos que a fonte utilizada no que diz respeito à sua

tipologia e tamanho é coerente com as recomendações apresentadas.

Porém, o usuário idoso pode se perder nesse emaranhado de informações

da primeira coluna. Essa seção poderia ser repensada de modo que os idosos

consigam distinguir melhor uma notícia da outra.

A Figura 12 apresenta a Biblioteca CRDE, a qual foi comentada na seção

anterior.

Figura 12: Biblioteca CRDE. Fonte: <http://www.crde-unati.uerj.br/crde/crdee.htm>. Acesso em: 12 fev. 2010.

A biblioteca CRDE possui conteúdos muito relevantes acerca do

envelhecimento humano, principalmente no que diz respeito às pesquisas

desenvolvidas na temática. Os projetistas dessa biblioteca poderiam repensar essa

página, pois enfoca mais os usuários especialistas que os próprios idosos. Os

usuários idosos geralmente optam por leituras simples e, dessa forma, poderiam ser

disponibilizadas versões simplificadas de trabalhos científicos, a fim de disseminar a

esse público que pode não estar familiarizado com a linguagem acadêmica utilizada

nos textos.

117

Os ambientes comentados possuem conteúdo informacional relevante para

o público idoso, porém é necessário que os projetistas atentem que, para que o

usuário acesse esse conteúdo sem barreiras, é preciso refletir sobre elementos,

recursos e serviços tornem esses ambientes mais fáceis de acessar e de usar.

A listagem exaustiva de recomendações apresentada por meio dos quadros

contemplam elementos, recursos e serviços que podem ser inseridos em ambientes

informacionais digitais para idosos a fim de tornar suas arquiteturas informacionais

mais inclusivas, contribuindo para que o projeto do ambiente seja direcionado para o

desenho universal.

Em um primeiro momento, elas podem auxiliar também em avaliações

heurísticas quando não é possível ter um grupo de usuários reais ou potenciais para

a aplicação de um método de avaliação como entrevista, questionário ou grupo

focal.

Na avaliação heurística, os avaliadores utilizam recomendações (heurísticas,

princípios e/ou diretrizes) resultantes de estudos de usabilidade. Trata-se de um

método sem a participação de usuários, indicado para qualquer estágio de

desenvolvimento de um ambiente informacional digital. (DIAS, 2003; CYBIS,

BETIOL; FAUST, 2007). É importante mencionar que esse tipo de avaliação conta

apenas com a opinião dos avaliadores sobre um conjunto de recomendações

genéricas.

Vechiato e Vidotti (2008) sugerem a utilização desse método em conjunto

com métodos que permitam a participação de usuários, visto que, mesmo que as

recomendações sejam contempladas para um público específico, o contexto real de

aplicação pode revelar a ausência da necessidade de aplicação de uma

recomendação, bem como outras recomendações ainda não previstas podem surgir.

O capítulo seguinte apresenta a pesquisa-ação realizada no âmbito da

UNATI – UNESP – Marília, visando a inclusão digital dos alunos e o

desenvolvimento de um repositório digital para a UNATI – UNESP que visa a

inclusão digital e social de idosos via tecnologias de informação e comunicação.

118

6 PESQUISA-AÇÃO: um estudo junto aos alunos da Universidade

Aberta à Terceira Idade (UNATI) – UNESP – Campus de Marília

Para a aplicação dessa pesquisa, consideramos fundamental a participação

dos alunos da UNATI no projeto de ensino dos cursos de informática oferecidos e na

construção de um repositório digital para a UNATI – UNESP, uma vez que

contribuem ativamente com todas as ações realizadas para a resolução dos

problemas de pesquisa identificados. Desse modo, consideramos que a pesquisa-

ação contribui sobremaneira para a organização dessa pesquisa, pois se trata de

[...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 2004, p.14).

Seguindo a mesma linha de pensamento, Freire (2006, p.65) acrescenta que

a pesquisa-ação

[...] supõe uma participação e uma forma de ação planejada que atinja os vários elementos das atividades humanas [...], à medida que viabiliza a ação coletiva pautada pela resolução de problemas e por objetivos de transformação.

Ela difere da pesquisa convencional no que diz respeito à maneira como é

conduzida, permitindo o trabalho conjunto de pesquisadores e participantes desde a

identificação dos problemas até sua resolução. A pesquisa-ação ainda está em fase

de discussão e, segundo Thiollent (2004), não é uma metodologia e sim um método

ou uma estratégia de pesquisa que congrega outros métodos ou técnicas, inclusive

aqueles utilizados em pesquisas convencionais, como entrevistas e questionários.

Para o planejamento e condução da pesquisa, utilizamos o roteiro de

organização da pesquisa-ação apresentada e discutida por Thiollent (2004). Devido

à flexibilidade da pesquisa-ação, esse roteiro é considerado pelo autor apenas um

ponto de partida, que auxilia na identificação dos elementos essenciais da pesquisa.

Primeiramente é necessário caracterizar os pesquisadores e participantes da

pesquisa. Esse trabalho envolve duas alunas do Curso de Graduação em

Biblioteconomia (Laura Akie Saito Inafuko e Odília Barbosa Ribeiro) e dois alunos do

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (Ana Maria Jensen Ferreira

da Costa Ferreira e Fernando Luiz Vechiato), todos integrantes do Grupo de

Pesquisa ‘Novas Tecnologias em Informação’ (GP-NTI), sob orientação da Profa.

119

Dra. Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti, vice-coordenadora da UNATI

UNESP – Núcleo Local de Marília.

Os alunos dos cursos de informática são os participantes da pesquisa. É um

grupo que possui diversidade de idades, condições sócio-econômicas e

educacionais, o que contribui para a percepção da relação entre o contexto em que

estão inseridos e a inserção das tecnologias de informação e comunicação (TIC) em

suas atividades informativas cotidianas.

Consideramos como problemáticas aquelas que permeiam a interação

humano-computador (IHC), tanto com relação ao usuário idoso no que diz respeito

às limitações físicas e cognitivas do envelhecimento humano, quanto com relação

aos ambientes informacionais digitais, que geralmente não apresentam elementos

que facilitam a acessibilidade e a usabilidade das informações disponíveis,

dificultando sua inclusão no ambiente digital.

Embora essas problemáticas tenham advindo da literatura científica, o que é

previsto por Thiollent (2004) em sua abordagem sobre pesquisa-ação, elas são

amplamente discutidas com os alunos no âmbito dos cursos de informática, o que

valida a importância atribuída a esses problemas e sua necessidade de resolução.

Desse modo, objetivamos, pesquisadores e participantes:

• A inclusão digital dos alunos da UNATI, por meio dos cursos de informática,

possibilitando o compartilhamento de experiências e conhecimentos entre

pesquisadores e participantes e contribuindo para a integração

intergeracional, em que todos aprendem e constróem conhecimento;

• O desenvolvimento de um repositório digital para a UNATI – UNESP que

contemple elementos que facilitem o acesso e o uso das informações

disponibilizadas, contribuindo para a inclusão digital e social desse grupo de

alunos.

Para o cumprimento do objetivo de inclusão digital por meio dos cursos de

informática, foram desenvolvidas as seguintes ações:

• Identificação de elementos do construtivismo na literatura, a fim de avaliar o

andamento dos cursos de informática no ano de 2008;

• Por meio de grupo focal, elaboração de um plano de ensino junto aos alunos

baseado em suas necessidades, tendo em vista seu conhecimento sobre as

possibilidades tecnológicas que gostariam de investigar no ano de 2009;

120

• Aplicação do construtivismo nas aulas de informática em 2009, a fim de

conduzir o processo de ensino-aprendizagem para a exploração das TIC e

das informações disponíveis de forma crítica e autônoma, contribuindo para o

desenvolvimento de competências informacionais.

Thiollent (2004) comenta sobre as relações entre o saber formal e o saber

informal. Os pesquisadores são munidos principalmente de saber formal derivado da

investigação teórica e da aplicação de pesquisas anteriores e contribuem com os

alunos com seu conhecimento acerca das TIC. Os alunos, participantes da

pesquisa, por sua vez, podem possuir saberes formais e informais, baseados em

sua formação e em sua vivência profissional, bem como percepções de mundo e

opiniões acerca do contexto tecnológico experimentado pela sociedade. As

informações advindas desses saberes contribuem tanto para a construção de

conhecimento individual e coletivo quanto para o desenvolvimento do conhecimento

científico.

Para o desenvolvimento do repositório digital da UNATI – UNESP, foram

desenvolvidas as seguintes ações:

• Por meio de grupos focais, discussão com os alunos sobre possíveis

conteúdos que poderiam ser armazenados no repositório digital,

possibilitando a definição de comunidades e coleções no âmbito da UNATI –

UNESP – Marília;

• A partir de um estudo do comportamento informacional desse grupo de

alunos, identificação das necessidades informacionais e fontes de informação

que utilizam cotidianamente, objetivando refletir sobre elementos, recursos

e/ou serviços que possam ser incorporados a fim de tornar o repositório digital

um ambiente que reúna, além da produção referente à UNATI, informações

que satisfaçam as necessidades informacionais cotidianas dos alunos;

• Mobilização de competências informacionais nos alunos no que diz respeito

ao auto-arquivamento, discutindo políticas para inserção de documentos, bem

como questões relacionadas aos direitos autorais e à representação dos

recursos informacionais;

• Avaliação constante da usabilidade do repositório digital desenvolvido, por

meio de grupos focais, discutindo sobre os elementos formais e conteúdo da

interface, a fim de garantir que novas necessidades informacionais possam

121

ser identificadas em discussões no âmbito das aulas de informática e visando

a inclusão digital e social dos alunos via repositório digital.

As próximas seções apresentam os resultados referentes às ações

executadas na aplicação da pesquisa-ação no que tange aos dois objetivos

formulados.

6.1 Inclusão digital dos alunos da UNATI: identificação e aplicação de

elementos do construtivismo

Os cursos de informática para a UNATI – UNESP – Campus de Marília

começaram efetivamente a ser oferecidos em 2004 pelo Programa de Educação

Tutorial (PET) de Biblioteconomia, coordenado, naquele momento, pela Profa. Dra.

Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti. A partir de 2006, ministramos um curso

de informática para um pequeno grupo de alunos da UNATI que já utilizavam

computador e Internet. As aulas foram direcionadas ao projeto de pesquisa

“Arquitetura da Informação de web sites”, financiado pelo Programa Institucional de

Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (PIBIC/CNPq). Até o final do ano de 2007, os alunos auxiliaram na

avaliação da usabilidade de ambientes informacionais específicos para a terceira

idade. Os resultados apontaram que, nesses ambientes, há disponibilização de

conteúdos relevantes para esse público, porém suas interfaces não são facilmente

intuitivas e apresentam ausência de elementos de usabilidade e acessibilidade.

(VECHIATO; VIDOTTI, 2008)

Em 2008, foram oferecidos dois cursos de extensão universitária com o

objetivo de atrair um número maior de alunos: Formas de comunicação na Internet,

para alunos iniciantes, objetivando introduzi-los às diversas possibilidades

oferecidas pela informática e, em especial, pela Internet; e Ambientes informacionais

digitais: enfoque dos web sites e repositórios, como possibilidade de complemento

aos estudos dos alunos que fizeram os cursos nos anos anteriores e que auxiliam na

avaliação de ambientes informacionais digitais para a terceira idade. Cada curso foi

oferecido uma vez por semana pelo período de duas horas cada.

Em 2009, mantivemos o curso Formas de comunicação na Internet e

substituímos o segundo curso de 2008 pelo Tecnologias de Informação e

122

Comunicação com enfoque aos ambientes colaborativos, visando a discussão e a

investigação de ambientes informacionais digitais que possibilitam a colaboração

das pessoas com conteúdos intelectuais.

Desde 2006, oferecemos palestras anuais para disseminação do curso de

informática a todos os alunos da UNATI, o que possibilitou o aumento da procura por

esse curso. O número de interessados aumentou consideravelmente em 2008 e

2009. Portanto, é necessário refletir sempre sobre o plano de ensino e a

metodologia adotada.

Entendemos que a capacitação de idosos para o uso das TIC deve atuar em

uma perspectiva que considere suas habilidades e competências como ponto de

partida para o projeto de ensino. Nesse sentido, as teorias construtivistas trazem

elementos que podem ser utilizados na prática docente nesse contexto,

proporcionando ao professor-mediador o entendimento do meio em que ele atua,

bem como do aluno consciente, crítico e autônomo no processo de construção de

conhecimento, visando a inclusão digital e social dos alunos.

Para Aznar Minguet (1998), o construtivismo surgiu com a crise do

positivismo, que possuía características tais como: reducionista, metafísico,

ausência de questionamentos, fatos concretos, realidade determinada e verdade

absoluta. Deste modo, o construtivismo atua em um paradigma que traz uma nova

concepção do sujeito: ativo, autoconstrutor e autônomo.

Arja Castañon (2007, p.116) comenta que a concepção filosófica que está

por trás do construtivismo pode remeter à obra de Immanuel Kant:

É a inversão do sentido da relação entre sujeito e objeto que é a raiz do construtivismo. Tradicionalmente, a filosofia ocidental pensava o conhecimento como uma determinação do sujeito cognoscente pelo objeto conhecido. Kant apresenta o processo do conhecimento como a organização ativa por parte do sujeito – através das estruturas da mente – do material que nos é fornecido pelos sentidos. Ou seja, para o construtivismo, o sujeito constrói suas representações de mundo, e não recebe passivamente impressões causadas pelos objetos.

Grande parte dos autores que discutem o construtivismo, como Rossler

(2000), afirmam que a epistemologia genética de Jean Piaget pode ser considerada

o núcleo do pensamento construtivista.

[...] poderíamos definir o construtivismo como um conjunto de diferentes vertentes teóricas que, apesar de uma aparente heterogeneidade ou diversidade de enfoques no interior de seu pensamento, possuem como núcleo de referência básica a epistemologia genética de Jean Piaget, em torno à qual são agregadas certas características que definem a identidade do ideário construtivista como um ideário filosófico, psicológico e

123

educacional, compartilhando, assim, um mesmo conjunto de pressupostos, conceitos e princípios teóricos. (ROSSLER, 2000, p.7).

O arcabouço teórico do ideário construtivista repousa nas seguintes

perspectivas apresentadas por Aznar Minguet (1998):

• Perspectiva filosófica: interação dialética do homem com seu meio;

condicionamento do conhecimento a partir da experiência prévia; a

assimilação de objetos que podem ou não ter relações com

experiências prévias, podendo gerar homeostase cognitiva50 e, por

fim, acomodação; organização ativa e adaptação funcional entre o

conhecimento e a realidade;

• Perspectiva bioantropológica: o homem possui uma estrutura

psicobiológica, tendo como características diferenciais com relação a

outros seres vivos o inacabamento, a indeterminação e a abertura.

Além disso, o homem possui autonomia no processo de construção

do conhecimento que, para Maturana e Varela (2001), depende de

sua auto-organização (autopoiese);

• Perspectiva da genética do comportamento: coexistência entre as

correntes racionalista e empírica no desenvolvimento do indivíduo.

Um exemplo disso é a linguagem humana que, para Morin (1999,

p.133), “[...] é realmente a encruzilhada entre inato e adquirido: a

aptidão à linguagem é inata no homo sapiens, mas toda língua deve

ser aprendida numa cultura e toda língua permite adquirir o

conhecimento de uma cultura”.

O ideário construtivista também abrange uma ampla gama de

pesquisadores, sendo alguns deles Jean Piaget, que investigou os conceitos de

assimilação e acomodação, baseados na experiência prévia do sujeito; Lev

Semenovich Vygotsky, que desenvolveu os conceitos de zona de desenvolvimento

proximal e lei da dupla função; e David Ausubel, que apresenta a teoria da

aprendizagem significativa, a qual permite ser trabalhada por meio da técnica de

criação de mapas conceituais.

Essa ideologia chamou a atenção dos educadores e foi disseminada como

um novo paradigma para o processo de ensino-aprendizagem. Porém, muitos

50 [...] conflito que desemboca em novas realidades que não sejam comuns até que haja ajuste – novas estruturas de significado. (AZNAR MINGUET, 1998).

124

autores como Massabni (2007) e Miranda (2000) apresentam estudos de caso que

mostram alguns elementos construtivistas em práticas docentes que nem sempre

são desenvolvidas de maneira eficiente. Por outro lado, é possível afirmar que nem

todos os elementos construtivistas são eficazes. Cada caso é um caso e é

necessário refletir sobre essas práticas.

O construtivismo, portanto, é alvo de algumas críticas. Rossler (2000, p.18),

por exemplo, comenta que “[...] a presença da sedução na difusão e na incorporação

do ideário construtivista contradiz o objetivo central por ele proclamado: a busca da

autonomia intelectual e moral dos sujeitos”. Essa sedução gera, segundo o autor, a

manipulação ideológica que desencadeia uma série de práticas incorretas que se

auto-justificam como construtivistas, porém na verdade não são.

Arce (2000) reforça a discussão crítica na aproximação ideológica dos

conceitos construtivistas, neoliberais e pós-modernistas iniciada por Newton Duarte

no livro Vygotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e

pós-modernas da teoria vigotskiana. Analisamos, portanto, uma das características

trazidas pela autora, baseada no ideário construtivista: “O ensino e a escola devem

levar o aluno a “aprender a aprender”. Sua realidade e seu cotidiano são as

referências. Conteúdos devem ser reduzidos aos que puderem ser realmente

compreendidos pelos alunos.” (ARCE, 2000, p.51).

Percebemos que essa característica afirma que o conteúdo é limitado à

experiência do aluno. É claro que isso pode ser usado como ponto de partida para

um bom aprendizado, bem como torna o professor mais interado e consciente da

vida cotidiana dos alunos. O problema está na apropriação desse elemento

construtivista como sendo o ponto final, a última instância, limitando o universo do

aluno e extinguindo-lhe as diversas possibilidades, além de reduzir o papel do

professor e o próprio conceito de mediação.

A autora reitera que

[...] o construtivismo, alicerçado nas discussões pós-modernas, pode afirmar de modo categórico que a educação escolar deve ter como fonte principal do processo de ensino-aprendizagem a construção individual do conhecimento, a negociação de significados, centrando no cotidiano os conteúdos, não falando em privação cultural mas em diferenças culturais, assim como o discurso neoliberal não fala em exploração econômica mas em diferenças econômicas saudáveis, frutos da competitividade do mercado. (ARCE, 2000, p.52).

Nessa relação com o neoliberalismo, Arce trata de um aspecto bastante

importante: a privação cultural. O ideário construtivista não deve se tornar tão

125

sedutor a ponto de privar as pessoas de novos conhecimentos ou limitar a

construção do conhecimento aos alunos. Dessa forma, o professor não tem seu

papel reduzido quando atua como mediador.

Tendo em vista o processo de mediação visando a autonomia do aluno,

baseando-se criticamente em elementos construtivistas, retomamos a Ciência da

Informação e a proposta de capacitação de idosos para o uso das TIC. Nesse

contexto, cabe o conceito de mediação da informação de Almeida Júnior (2008,

p.46):

Mediação da informação é toda ação de interferência – realizada pelo profissional da informação – direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular ou plural; individual ou coletiva; que propicia a apropriação de informação que satisfaça, plena ou parcialmente, uma necessidade informacional.

O autor ressalta que existe uma linha tênue entre interferência e

manipulação. No contexto do construtivismo, sua prática “sedutora” e incoerente

com seus próprios propósitos pode direcionar a interferência no sentido de um

discurso manipulado, o que transformaria a transferência de conhecimento em

transferência de verdade absoluta, características positivistas.

Essa problemática pode ser identificada em cursos de informática

tradicionais. Normalmente, as escolas de informática possuem metodologias

diferenciadas para crianças e jovens. Para adultos e idosos é utilizada a mesma

metodologia. Isso não deve ocorrer, pois o contexto social em que estão inseridos

esses grandes grupos é bastante diferente. O primeiro grupo é ou quer estar

extremamente ativo no mercado de trabalho, por isso busca esses cursos. O

segundo grupo, por sua vez, procura aulas de informática com necessidades

específicas, como se comunicar com os filhos, procurar receitas, poesias e

informações sobre saúde na Web, digitar textos etc.

Como explicitado, Vitória Kachar realizou uma investigação com alunos da

Universidade Aberta à Terceira Idade da PUC-SP nessa perspectiva de capacitação

de idosos para o uso das TIC. Em seu livro Terceira idade e informática: aprender

revelando potencialidades (2003), é perceptível o uso de elementos construtivistas

em sua prática de ensino.

Primeiramente, Kachar (2003) comenta sobre a necessidade da construção

de um ambiente educacional interdisciplinar, em que possa haver trocas entre o

professor e os alunos, além da exploração do computador pelos alunos apenas

126

como uma ferramenta, em que poderão realizar diversas atividades e desenvolver

competências.

O ambiente educacional é interdisciplinar, construído para a terceira idade aprender a Informática e, para além da apropriação da linguagem e domínio operacional, demonstrar seu potencial de produção, reconstruir sua auto-imagem e imagem pública, exercitando a cidadania. (KACHAR, 2003, p.129).

Para proporcionar a criação desse ambiente, a autora considera necessária a

re-elaboração contínua da metodologia ou mesmo de toda a proposta de ensino

desenvolvida, pois, com o tempo, as necessidades dos alunos podem mudar, bem

como de todo o ambiente educacional. Essas necessidades de mudanças devem

ser percebidas imediatamente e, para isso, Kachar (2003) comenta sobre a

importância de observar e registrar tudo o que transcorrer nesse ambiente

educacional em relação aos alunos, ao professores e às estratégias de aula.

A partir das abordagens investigadas, sistematizamos na Figura 13 alguns

conceitos que podem ser trabalhados na perspectiva de cursos de informática para

idosos visando sua inclusão digital e social.

Figura 13: Processo de inclusão digital em cursos de informática para a terceira idade. Fonte: Elaborado pelo autor.

Esse esboço inicial do processo de inclusão digital apresenta a mediação

atuando primeiramente na identificação das habilidades, potencialidades e

experiências dos idosos, pois é a partir delas que o professor-mediador vai traçar e

127

elaborar um plano de ensino para a capacitação desses indivíduos. Além disso, esse

mediador carrega consigo suas experiências que são compartilhadas com os alunos.

Em um segundo momento, busca-se competência para o uso das TIC. O

conceito de competência, por si só, não abarca a complexidade da ação de

aprender, muito menos finaliza o processo de ensino-aprendizagem. Pensar em

competência e almejá-la, tendo em vista a capacitação de idosos, reflete na

apresentação de um mundo novo pelo professor-mediador, repleto de

possibilidades, baseando-se também em suas próprias competências. Porém, é

preciso esclarecer que esse mundo novo apenas facilita aquelas ações que eles

sempre realizaram. Por isso, investigar as habilidades e potencialidades dessa

comunidade pode direcionar o ensino das ferramentas tecnológicas.

A autonomia, que aparece no final do processo, representa o direcionamento

da competência para o uso crítico da informação e dos aparatos tecnológicos,

propiciando atingir a meta de inclusão digital desse grupo específico, direcionando

para a inclusão social.

Essa figura também pretende mostrar que o papel do mediador é

extremamente importante, visto que é ele quem interferirá diretamente em todos os

momentos do processo e, em uma relação bilateral como mostra a figura, constrói

conhecimento sobre como esse grupo se comporta e contribui para que o sujeito se

auto-organize e perceba todas as ações que ele pode realizar utilizando as TIC.

No Quadro 10 que segue apresentamos os elementos construtivistas

aplicados à educação retirados do texto de Miranda (2000, p.35-36), bem como as

práticas vivenciadas no curso de informática em 2008, de acordo com esses

elementos.

128

Elementos do construtivismo aplicados à educação

Reflexão da prática de elementos construtivistas nos cursos de informática da UNATI – UNESP –

Campus de Marília Maior autonomia do aluno em seu processo de aquisição de conhecimento e de socialização.

A conquista pela autonomia do aluno idoso no uso das TIC não é uma tarefa fácil. Normalmente, se apegam muito à ferramenta tecnológica e como finalizar os processos, mas se esquecem das verdadeiras possibilidades, bem como que poderiam, em um processo investigativo, agir com maior autonomia em suas ações com a informática. Nesse sentido, cabe ao professor-mediador a tarefa de despertar esse senso de autonomia, porém é pré-requisito que os alunos também explorem o que aprenderam fora do período de aula o que, muitas vezes, não ocorre.

Maior interatividade na relação sujeito-objeto, expressa na relação do aluno com o meio, mediado pelo professor.

As experiências dos alunos e suas necessidades direcionam as relações entre eles e o meio. O compartilhamento das experiências permite o enriquecimento das aulas, e as atividades com o computador atuam diante dessas perspectivas.

Efetiva valorização do processo de aprendizagem, pelo qual a significação dos conteúdos para os alunos se sobreporia a outros critérios de seleção dos mesmos (quantidade, abrangência, relevância social e cultural).

Os conteúdos ministrados são baseados nas experiências e busca-se respaldo teórico e empírico para identificar as necessidades específicas desse grupo etário. Porém, para o uso da ferramenta tecnológica, é necessário que conteúdos mais específicos da informática sejam trabalhados, objetivando o domínio da ferramenta pelos alunos.

Maior dinamismo na atuação do professor que, desobrigado dos afazeres tradicionais na sala de aula, teria oportunidade de ser mais construtivo, mais reflexivo, um verdadeiro “pesquisador”, pois, afinal, ele deverá ser sempre e cada vez mais um aprendiz, um construtor do próprio conhecimento.

Para Paulo Freire (2008, p.23), “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Nesse sentido, considerando o paradigma construtivista, o professor assume realmente um novo papel. Entender o meio em que atua e se especializar cada vez mais são tarefas desse mediador.

Mudança no processo de avaliação, que seria mais processual, mais interativa e mais consistente, valorizando-se o erro como parte constitutiva e imprescindível do processo de aprendizagem. Entende-se, além disso, que a criança, por possuir uma lógica própria de pensamento, quase sempre já traria consigo uma experiência anterior com relação aos desafios vividos na sala de aula.

As teorias construtivistas, com suas bases psicológicas, permitem que o indivíduo e seus erros sejam reconhecidos. Os erros são naturais e enriquecem o processo de ensino-aprendizagem. Porém, nem todo erro é aceitável ao extremo, pois existe uma linha que conduz todo o plano de ensino. Se este foi elaborado a partir da experiência dos alunos e se as aulas apontam para um desenvolvimento evolutivo, determinados erros advindos em certos momentos podem indicar problemas sérios com o aluno que deverá ser avaliado para que possa prosseguir nesse processo. Os alunos idosos costumam esquecer alguns procedimentos para o cumprimento de tarefas. Um erro identificado principalmente no ano de 2008 é que alguns conteúdos foram retrabalhados, pois alguns alunos faltavam às aulas e outros realmente esqueciam do que haviam aprendido. Cabe ao professor-mediador aplicar algumas medidas que conscientizem os alunos com relação a faltas desnecessárias e esclarecer a importância de explorarem o que aprenderam em suas casas e, para aqueles que possuem limitações tecnológicas, a própria UNATI oferece computadores em horário comercial para que os alunos possam utilizar.

129

Elementos do construtivismo aplicados à educação

Reflexão da prática de elementos construtivistas nos cursos de informática da UNATI – UNESP –

Campus de Marília Diferenciação do processo de socialização do aluno, que seria estimulado a ser mais cooperativo e interativo com os colegas, respondendo adaptativamente às demandas imediatas do mundo em constante transformação, transformando-se, portanto, a noção de disciplina na escola.

Uma outra característica importante desse grupo é a ansiedade. Eles sabem o que é possível fazer, mas querem ir além da tecnologia. Isso é um ponto bastante interessante e absolutamente normal, porém é importante que entendam os procedimentos para que possam ter autonomia no momento de uso da tecnologia. Além disso, trocam experiências, conversam, mas o professor-mediador precisa às vezes intervir, pois alguns alunos não conseguem esperar os outros que possuem maiores dificuldades ou às vezes divagam em assuntos que fogem ao foco da aula. Cabe ao professor-mediador limitar algumas situações para que o foco não seja perdido.

Modificação na atuação do professor, que não mais seria “autoritário” e sim “democrático”, aberto ao diálogo com os alunos, que passariam a intervir decisivamente nos processos de decisão.

É fácil ser autoritário e é fácil ser democrático. O difícil é trabalhar as duas características simultaneamente. Portanto, é preciso limitar situações e desencadear outras, trabalhar de maneira efetiva o tempo de aula e criar uma linha de desenvolvimento para que os alunos percebam a introdução e a conclusão de conteúdos, proporcionando uma construção de conhecimento linear, evolutiva e coerente, de acordo com suas necessidades

Uma sala de aula menos ordeira e silenciosa, em que têm lugar a experimentação, a espontaneidade, o ruído e a inquietação do aluno.

O compartilhamento entre os alunos ocorre tanto nas exposições orais dos professores quanto nas atividades práticas.

Um ambiente escolar adequado aos desafios da revolução informacional, mais propício ao desenvolvimento do chamado “novo paradigma do conhecimento”.

De certo modo, isso ocorre desde a proposta inicial do curso de informática. Porém, seria interessante acoplar a essas aulas a leitura e discussão de textos que tratam do envelhecimento humano e também da relação entre os alunos e a informática. Assistir a vídeos também pode ser uma boa alternativa, visto que os alunos precisam sempre repensar e reanalisar os motivos que os levaram a conhecer as novas tecnologias.

Quadro 10: O uso de elementos construtivistas em projeto de ação para inclusão digital e social: capacitação de idosos para o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Fonte: Elaborado pelo autor

A identificação desses elementos propicia o questionamento sobre a prática

docente no contexto da inclusão digital e social de idosos. A partir das reflexões, é

possível notar que nem todos os elementos apresentados podem ser seguidos

efetivamente e tudo, de certo modo, depende do contexto e do público que está

sendo investigado.

A capacitação de um determinado público para o uso das TIC, bem como

para busca e uso de informações relevantes, é objeto de estudo do profissional da

informação em sua atuação como mediador. Nesse contexto, investigar e informar

os idosos são ações que podem culminar em sua inclusão digital e social, visto que

130

é um público que teve diversas perdas com o passar dos anos e, atualmente, com o

aumento da expectativa de vida, esperam recuperar sua imagem e identidade.

A investigação dos elementos construtivistas possibilitou a reflexão da

prática docente no contexto de cursos de informática para idosos oferecidos até o

final de 2008, bem como permitiu repensar algumas estratégias de ensino que foram

desenvolvidas e trabalhadas em 2009.

Como explicitado, no ano de 2009, foram oferecidos dois cursos:

• Formas de comunicação na Internet, com um aperfeiçoamento relacionado aos

conteúdos do ano anterior. Este curso é voltado aos alunos que iniciaram no ano

de 2008, bem como novos integrantes. O conteúdo do curso aborda os seguintes

tópicos:

o Tecnologias de Informação e Comunicação emergentes;

o Portais da Web: navegação e acesso a informações sobre diversos

assuntos;

o Comunicação na Web;

o Recursos do Microsoft Windows;

o Recursos do Microsoft Word;

o Buscadores da Web;

o Ambientes informacionais digitais específicos para idosos;

o Introdução aos ambientes colaborativos.

• Tecnologias de Informação e Comunicação, com enfoque aos ambientes

colaborativos, substituindo o curso de 2008, Ambientes informacionais digitais:

enfoque dos web sites e repositórios, permite novas discussões com o grupo a

respeito dos ambientes colaborativos. O conteúdo do curso abordou os seguintes

tópicos:

o Buscadores da Web e avaliação dos resultados de busca;

o Identificação de elementos colaborativos em ambientes informacionais

digitais;

o Direitos autorais – Creative Commons no contexto dos ambientes

colaborativos;

o Criação e alimentação de blogs;

o Ambientes Wikipedia, You Tube, Orkut e Flickr;

o Discussão bibliotecas digitais e repositórios digitais, com ênfase no

envelhecimento humano;

131

o Microsoft PowerPoint.

Esses conteúdos bem como o cronograma de atividades foram construídos

junto aos alunos no final de 2008, mediante discussões proporcionadas pelo método

grupo focal, baseados em suas necessidades relacionadas ao curso. Em reunião

com os alunos, foi decidido que as aulas poderiam ser melhor aproveitadas no

período de uma hora e meia por turma. Além disso, teríamos um tempo disponível

para aplicação de pesquisas, sem comprometer o tempo de aula.

A pesquisadora de Iniciação Científica Laura Akie Saito Inafuko trabalha

atualmente com a interação de idosos com blogs e criou, em parceria com os

demais pesquisadores, o blog Internautis, que disponibiliza todas as transparências

utilizadas em aula, o cronograma de atividades, informações sobre os

pesquisadores etc. A Figura 14 apresenta a página do blog.

Figura 14: Blog Internautis. Fonte: <http://internautis.wordpress.com>. Acesso em: 02 abr. 2010.

No primeiro semestre, tivemos um aumento do número de alunos nas duas

turmas. Isso foi muito gratificante para todos os pesquisadores e os alunos

veteranos.

Na primeira turma, os alunos ingressantes tiveram mais dificuldades que os

alunos veteranos, o que é absolutamente normal e mostra que os veteranos

132

conseguiram se habituar ao uso do computador em suas casas ou outros locais que

provêem acesso à Internet. Até o momento, percebemos que a turma ficou mais

homogênea, o que sugere que os alunos ingressantes estão se tornando mais aptos

a lidar com as tecnologias de informação e comunicação, em especial, os recursos

trabalhados até o presente momento.

A segunda turma se caracteriza mais pelas discussões acerca dos

ambientes colaborativos do que pelo uso propriamente dito desses ambientes, pois

muitos alunos já os utilizam no dia-a-dia. Os que nunca usaram os ambientes

trabalhados em aula não tiveram dificuldades e puderam participar das discussões

relacionadas sem maiores problemas. Inclusive, alguns alunos da primeira turma

mudaram para a segunda turma por perceber que já tinham conhecimento básico do

computador e do uso da Internet. Alguns também optaram por freqüentar as duas

turmas, a fim de (re)aprender o básico e também participar das discussões que

auxiliam sobremaneira no desenvolvimento das pesquisas.

As discussões dessa turma permearam questões relacionadas:

• ao idoso frente ao novo paradigma colaborativo da Web;

• à questão da propriedade intelectual e dos direitos autorais nesse

contexto;

• à avaliação da relevância de informações disponibilizadas nesses

ambientes;

• à construção de comunidades virtuais, baseadas em necessidades e

interesses próprios;

• aos perigos da exposição pessoal na Web colaborativa;

• à criminalidade no contexto da Internet.

Durante as aulas, os alunos debateram bastante diante dessas reflexões e a

maioria se mostrou bastante favorável ao contexto colaborativo, porém sabem dos

cuidados que precisam ter no acesso aos ambientes informacionais digitais em

geral.

A próxima seção apresenta o estudo do comportamento informacional dos

alunos, o qual contribui para compreender as necessidades informacionais e as

fontes de informação utilizadas cotidianamente por esses indivíduos.

133

6.2 Comportamento informacional dos alunos da UNATI

Para o estudo do comportamento informacional desse grupo, foi utilizado o

modelo de ‘busca de informações para o cotidiano’ (Everyday Life Information

Seeking – ELIS), desenvolvido pelo pesquisador finlandês Reijo Savolainen em

meados da década de 1990. “O desenvolvimento do modelo foi primeiramente

motivado pela necessidade de elaborar o papel de fatores sociais e culturais que

afetam o estilo das pessoas na preferência e uso de fontes de informação em

situações do dia-a-dia51.” (SAVOLAINEN, 2006, p.143, tradução nossa).

Para Savolainen (2006), o ELIS se caracteriza como uma tentativa de

abordar o fenômeno de busca de informação para o dia-a-dia, combinando fatores

sociais e psicológicos. Além disso, o modelo não enfatiza a busca de informação

relacionada ao trabalho, porém segundo o autor, esse tipo de busca é complementar

à busca de informação para o dia-a-dia proposta pelo ELIS.

A Figura 15 apresenta o modelo:

51 The development of the model was primarily motivated by the need to elaborate the role of social and cultural factors that affect people’s way of preferring and using information sources in everyday settings.

134

Figura 15: O modelo ELIS. Fonte Adaptada: Savolainen (2006, p.145).

O ponto de partida para o modelo é o estilo de vida. Esse elemento permite

a investigação de fatores individuais e sociais que afetam o modelo. A base teórica

para a criação do modelo, em especial do elemento estilo de vida, encontrou

respaldo na Teoria do Hábito de Pierre Bourdieu (198452).

Hábito pode ser definido como um sistema socialmente e culturalmente determinado de pensamento, percepção e avaliação internalizados pelo indivíduo. Hábito é um sistema relativamente estável de temperamentos pelos quais indivíduos integram suas experiências e avaliam a importância de diferentes escolhas, por exemplo, a preferência por determinados canais e fontes de informação53. (SAVOLAINEN, 2006, p.143, tradução nossa).

52 BOURDIEU, P. Distinction: a social critique of the judgement of tast. London: Doutledge, 1984. 53 Habitus can be defined as a socially and culturally determined system of thinking, perception, and evaluation, internalizes by the individual. Habitus is a relatively stable system of dispositions by which individuals integrate their experiences and evaluate the importance of different choices, for example, the preference of information sources and channels.

135

A ordem das coisas está relacionada às preferências dos indivíduos no

desenvolvimento de um conjunto de atividades cotidianas que, fundamentalmente,

são orientadas pelos seus hábitos. Essas atividades podem estar relacionadas ao

trabalho, bem como a hobbies, por exemplo. Os fatores que operacionalizam o

conceito de estilo de vida são: administração do tempo, relação entre trabalho e

tempo livre; modelos de consumo, relacionado ao consumo de bens e serviços; e

natureza dos hobbies, relacionado aos hobbies (SAVOLAINEN, 2006).

O domínio de vida implica na resolução de problemas do dia-a-dia,

objetivando manter as “coisas em ordem” (manter as coisas em ordem) e equilibrar

o estilo de vida. A busca de informação é um componente essencial nesse contexto.

Savolainen (199554 apud SAVOLAINEN, 2006, p.144-145, tradução nossa),

na primeira publicação referente ao modelo, definiu quatro tipos de domínio de vida:

• Cognitivo-otimista: é caracterizado por uma forte confiança em resultados positivos para a resolução de problemas. Pelo fato dos problemas serem primeiramente concebidos como cognitivos, a busca sistemática de informação de diferentes fontes e canais é indispensável;

• Cognitivo-pessimista: aborda a resolução de problemas em um caminho menos ambicioso: Existem problemas que podem não ser resolvidos de maneira otimista. Apesar disso o indivíduo pode ser igualmente sistemático na resolução do problema e na busca de informação que a satisfaça;

• Afetivo-defensivo: é fundamentado em visões otimistas no que diz respeito à possibilidade de resolução do problema; contudo, fatores afetivos são dominantes na resolução de problema e busca de informação. Isso significa que o indivíduo pode evitar situações que implicam risco de falha [...];

• Afetivo-pessimista: nesse caso, os indivíduos não contam com suas habilidades para resolver os problemas do dia-a-dia, [pois] [...] reações emocionais e imprudências dominam o comportamento de resolução de problema.55

Diante da abordagem do estilo de vida e do domínio de vida, apontamos

outras características presentes no modelo ELIS, de acordo com Savolainen (2006):

54 SAVOLAINEN, R. Everyday life information seeking: approaching information seeking in the context of “way of life”. Library and Information Science Research, v.17, p.259-294, 1995. 55 - Optimistic-cognitive mastery of life is characterizes by a strong reliance on positive outcomes for problem solving. Because problems are primarily conceived as cognitive, systematic information seeking from different sources and channels is indispensable; - Pessimistic-cognitive mastery of life approaches problem solving in a less ambitious way: There are problems that might not be solved optimally. Despite this the individual may be equally systematic in problem solving and in the information seeking which serves it; - Defensive-affective mastery of life is grounded on optimistic views concerning the solvability of the problem; however,in problem solving and information seeking affective factors dominate. This means that the individual may avoid situations implying a risk of failure […]; - Pessimistic-affective mastery of life can be crystallized in the expression “learned helplessness.” The individual does not rely on his or her abilities to solve every day life problems. […] emotional reactions and short-sightedness dominate problem-solving behavior.

136

• O estilo de vida determina o domínio de vida e vice-versa;

• Valores, concepções e a fase atual da vida afetam o estilo de vida e o

domínio de vida, bem como os bens materiais, sociais e culturais, que

são propriedade do indivíduo. Esses elementos são essenciais para a

busca e uso de informação;

• A capacidade de resolução de problemas inicia a partir da

identificação de necessidades de informação que direcionarão a

seleção de fontes e canais de informação, busca e uso de

informação;

• Projeto de vida, situações problemáticas do cotidiano e fatores

situacionais são elementos que direcionam a busca de informação

no domínio de vida.

O ELIS serviu de base para os estudos da pesquisadora australiana Kirsty

Williamson (1998) que desenvolveu o modelo ecológico de busca e uso de

informação, com foco no comportamento informacional de idosos. O modelo focou a

descoberta acidental de informação e a busca de informação para o cotidiano.

Para a autora, os conceitos de “gaps” cognitivos, de Dervin (2006);

“incertezas”, de Krikelas (HENEFER; FULTON, 2006); “estados anômalos de

conhecimento”, de Belkin (2006); e “mecanismo ativado”, de Wilson (1999); ignoram

o fato que pessoas frequentemente descobrem informação enquanto monitoram sua

vida em uma tentativa de manter seus modelos internos atualizados. Portanto,

reportou ao modelo de Erdelez (2006), que apresenta o termo ‘encontrando

informações’ (information encountering), que permite às pessoas encontrarem

informação acidentalmente. (WILLIAMSON, 1998).

Williamson (1998) também comenta que os teóricos sobre envelhecimento

humano defendem a abordagem que foca esses indivíduos em um ambiente físico,

social e cultural particular, em que a informação presente permeia o dia-a-dia das

pessoas. Isso justifica a escolha pelo modelo de Savolainen (2006).

A criação do modelo de Williamson (1998) resultou da aplicação de uma

pesquisa com 202 idosos a partir dos 60 anos. Tentou ao máximo alcançar variáveis

como gênero, idade, local de residência, educação, ocupação, rendas e comunidade

freqüentadas como associações, bibliotecas, igrejas, clubes entre outros. Como

instrumentos de pesquisa, utilizou diários telefônicos, a partir do registro de

137

chamadas telefônicas recebidas/realizadas por um período de duas semanas; e

entrevistas.

Um problema metodológico que surgiu na aplicação da pesquisa foi a

dificuldade de distinguir a “busca proposital de informação” e a “aquisição acidental

de informação” no uso de algumas fontes de informação.

Os resultados apontaram que nas fontes institucionais, as quais foram

menos citadas pelos participantes, não ocorre a descoberta eventual de informação,

pois são as últimas fontes que procurariam se houvesse uma necessidade de

informação e, portanto, já saberiam exatamente o que precisariam.

O ELIS aparece no modelo de Williamson (1998) em forma de variáveis

contextuais que abarcam as atividades cotidianas dos indivíduos idosos.

Foi nessa perspectiva que ocorreu a aplicação da pesquisa de

comportamento informacional com os alunos do curso de informática da

Universidade Aberta à Terceira Idade – UNATI – UNESP – Marília, por meio de dois

métodos que serão detalhados a seguir:

Entrevista

Participaram da entrevista estruturada 19 participantes:

• Com idades entre 56 e 82 anos;

• Sendo 2 homens e 17 mulheres;

• Sendo 6 participantes com formação em curso primário; 3

participantes com formação em curso equivalente ao ensino médio; 8

participantes com curso superior; 1 participante especialista e 1

participante especialista e mestre;

• Sendo 13 aposentados;

• Sendo que 18 participantes possuem computadores em suas

residências;

A entrevista ocorreu dia 11 de novembro de 2008 e durou em torno de duas

horas. Os dados obtidos foram registrados em um arquivo de texto digital. Os

participantes responderam algumas questões abarcando a seguinte estrutura:

• Dados gerais dos participantes;

138

• Identificação de necessidades informacionais do dia-a-dia a partir das

variáveis apresentadas por Williamson (2006) com foco no

comportamento informacional de idosos:

o Estilos de vida;

o Valores culturais e sociais;

o Aspectos sócio-econômicos;

o Aspectos relacionados ao trabalho;

o Características pessoais e biológicas;

o Influências afetivas e espirituais;

o Ambientes físicos;

• Identificação de fontes de informação utilizadas para a satisfação das

necessidades informacionais elencadas.

Registro em diários

Participaram do registro em diários 13 participantes, mantendo as

características gerais apresentadas anteriormente com relação à idade, gênero,

escolaridade etc.

O registro em diários ocorreu de 12 de novembro a 09 de dezembro de

2008, totalizando 28 dias. Nesse período, foi solicitado aos participantes o registro

de:

• diversas atividades que realizam no dia-a-dia;

• necessidades de informação, bem como situações de busca e uso de

informação;

• fontes de informação utilizadas;

• satisfação quanto à busca, uso e fontes de informação;

• situações em que descobrem eventualmente alguma informação e

quais os sentimentos envolvidos nessa descoberta.

Resultados

A entrevista possibilitou conhecer que tipos de necessidades informacionais

esses alunos possuem, bem como as fontes de informação utilizadas.

139

O Quadro 11 apresenta a lista de necessidades informacionais resultantes

em escalas de 1 a 9 ou seja, das necessidades mais citadas às menos citadas.

ESCALA NECESSIDADES INFORMACIONAIS 1 Metereologia

2 Culinária – receitas Preços de produtos (alimentos, vestuário, livros...)

3 Acontecimentos diários – notícias Viagens

4 Saúde

5 Religião / Espiritualismo

6 Cultura (literatura, teatro...)

7 Pessoais Consertos gerais

8

Mercado imobiliário “Fofocas” Mercado financeiro Temas para desenvolvimento de palestras Localização de logradouros, cidades... Medicamentos Significado de palavras Profissionais (Biomedicina, Química, Marketing, Comportamento humano, Modelagem Industrial – Moda)

9

Esporte Mercado agrícola Cursos (on-line / à distância) Grupos freqüentados (UNATI...) Declaração de imposto de renda Legislação Operações bancárias Lançamentos perfumaria e cosméticos Ensino em sala de aula

Quadro 11: Resultados da entrevista – necessidades informacionais dos idosos. Fonte: Elaborado pelo autor.

Percebemos claramente que, nas escalas 1 a 6 em que se concentram as

necessidades informacionais mais citadas pelos participantes, são encontrados

assuntos mais relacionados à vida cotidiana. As necessidades apresentadas nas

escalas 7 a 9, por serem menos citadas, apresentam assuntos mais específicos,

relacionados mais ao indivíduo do que ao grupo em si, embora alguns desses

assuntos também interessariam aos demais.

As fontes de informação citadas para a satisfação dessas necessidades são

apresentadas no Quadro 12, também na escala de 1 a 9, ou seja, das mais citadas

às menos citadas.

140

ESCALA FONTES DE INFORMAÇÃO 1 Internet (em geral)

2 Amigos

3 Jornais

4 TV

5 Parentes Livros Revistas

6 Telefone Internet (e-mail / skype / MSN)

7 Rádio

8

Lista telefônica Dicionário Estabelecimentos Internet (buscadores)

9

Bibliotecas públicas Folhetos Manuais Profissionais Palestras Bibliotecas digitais

Quadro 12: Resultados da entrevista – fontes de informação. Fonte: Elaborado pelo autor.

Basicamente, os participantes mencionaram fontes formais e informais, de

acordo com o que lembravam no momento da entrevista. As fontes institucionais,

como as bibliotecas, foram as últimas a serem lembradas pelos alunos, resultando

em semelhança ao estudo de Williamson (1998).

As entrevistas permitiram elencar algumas necessidades de informação e as

fontes de informação utilizadas. Esses resultados foram trabalhados na análise do

conteúdo dos diários.

A análise dos diários foi dividida em duas fases:

• A primeira fase é a compilação das necessidades informacionais

encontradas nos diários e as encontradas nas entrevistas, seguindo

as escalas apresentadas no Quadro 11, seguido da identificação das

fontes de informação encontradas nos diários. Isso permite revelar as

verdadeiras fontes de informação utilizadas pelos participantes a

cada necessidade em seu dia-a-dia;

• A segunda fase é a reflexão sobre o modelo ELIS no contexto do

comportamento informacional de idosos, a partir de tudo o que foi

explorado até o momento.

141

O Quadro 13 a seguir contempla uma compilação entre as necessidades

informacionais exploradas na entrevista e nos diários, bem como as fontes de

informação mencionadas nos diários, das mais citadas às menos citadas.

142

ESCALA ENTREVISTA DIÁRIO FONTES DE INFORMAÇÃO

1 Metereologia Previsão do tempo para viagens,

plantio entre outras finalidades. - TV (Telejornais) - Internet (portais) - Parentes (conversa por telefone)

2

Culinária – receitas Interesses por novas receitas ou troca de receitas com outras pessoas.

- TV - Cadernos de receitas e Amigos / Parentes - Internet

Preços de produtos Alimentos, vestuário, livros entre outros.

- Folhetos - Jornais e Internet - Lista telefônica para buscas e conversa por telefone - Pessoalmente nos próprios locais

3

Acontecimentos diários Notícias do dia-a-dia. - TV (Telejornais) e Jornais - Rádio - Internet e Revistas

Viagens - Internet e Revistas

4 Saúde Principalmente Nutrição - TV e Profissionais - Embalagens de Alimentos

5 Religião / Espiritualismo - Locais freqüentados (missas na igreja e palestras em centro espírita)

6 Cultura (literatura, teatro...) Principalmente apresentações freqüentadas

- Corais e concertos - TV

7

Pessoais Informações pessoais e sobre vários assuntos, principalmente sobre moda, festas, filhos, culinária, música e vídeo.

- Amigos e Parentes (utilizando Telefone e Internet – e-mails, principalmente)

Consertos Informações sobre técnicos e profissionais que realizam esse tipo de serviço

- Parentes e Amigos - Pessoas e locais especializados (lista telefônica para buscas e conversa por telefone; alguns casos por e-mail)

8

Mercado imobiliário “Fofocas” - Amigos

- TV Mercado financeiro - TV (Telejornais) e Internet Temas para desenvolvimento de palestras Localização de logradouros, cidades... - Lista Telefônica Medicamentos Principalmente preços e casos mais

urgentes - Parentes - Internet

143

ESCALA ENTREVISTA DIÁRIO FONTES DE INFORMAÇÃO

8

Significado de palavras - Profissionais - Livros e dicionários - Internet

Profissionais (Biomedicina, Química, Marketing, Comportamento humano, Modelagem Industrial – Moda)

9

Esporte Mercado agrícola Cursos (on-line / à distância) Grupos freqüentados (UNATI...) Declaração de imposto de renda Legislação Operações bancárias - Utilização dos serviços em caixas

rápidos - Utilização dos serviços por telefone e Internet

Lançamentos perfumaria e cosméticos Ensino em sala de aula

10

Datas comemorativas - Internet Contato com organizações sobre

produtos e serviços - Pessoalmente - Conversa por telefone

Classificados - Jornais Interpretação de sonhos - Internet Horários de ônibus - Guichê na rodoviária Cadastro em promoções - Internet Consulta de créditos da Nota Fiscal

Paulista - Internet

Trabalho - Clientes (conversa por telefone) Informática - Curso de Informática – UNATI Terceira Idade - Palestras

- Grupos da Terceira Idade - TV

Quadro 13: Resultados dos registros em diários – necessidades informacionais e fontes de informação. Fonte: Elaborado pelo autor.

144

A partir da análise do quadro, chegamos às seguintes conclusões.

Embora apresente uma listagem exaustiva, o quadro aborda os principais

assuntos buscados por esse grupo no cotidiano.

As escalas de 1 a 6, como explicitado, apresentam necessidades de

informação mais relacionadas ao dia-a-dia desse grupo específico. Nota-se que a TV

é vista como uma fonte de informação para a vida diária nesses assuntos.

Considerando a passividade com que as informações são recebidas, apontamos

uma característica importante do grupo de idosos: há um interesse muito grande em

buscar informações na Internet, porém a passividade da TV torna cômodo o

processo de aquisição de informação e construção de conhecimento. Nesse sentido,

é necessário que as pessoas adquiram competências informacionais para avaliar as

fontes de informação que estão usando para preencherem seus “vazios” de

conhecimento. Mesmo com esse resultado em relação à TV, muitos participantes

registraram sentimentos como frustração e tristeza ao assistirem aos telejornais, pois

esses apresentam, segundo eles, más notícias. Um dos participantes registrou no

diário: “estamos acreditando mais na ficção”, diante desse cenário.

O rádio também foi considerado como fonte de informação para o dia-a-dia,

porém menos citado que a TV.

A mídia impressa como jornais, revistas, folhetos dentre outros, tem grande

aceitação por parte desse público.

Notamos também que as fontes informais continuam sendo bastante citadas,

por motivo de facilidade de acesso a algumas informações em que é exigida certa

urgência. Amigos e parentes foram contatados por telefone e também através da

Internet. Normalmente, as fontes formais são consultadas em casos mais

direcionados, não como fonte principal de informação para a vida cotidiana.

Em alguns casos, as pessoas preferem buscar informação diretamente com

pessoas envolvidas, como os profissionais, abstendo-se do uso de telefone e

Internet e preferindo, portanto, o contato físico. Essa é uma questão cultural que

pode ser modificada quando há interesse desse grupo pela aquisição de

competências informacionais para a utilização das TIC.

As escalas 8 e 9 apresentam necessidades que apareceram apenas nas

entrevistas. Em contrapartida, a escala 10 apresenta necessidades de informação

que foram encontradas apenas nos diários.

145

Como no estudo de Williamson (1998), a aquisição acidental de informação

ocorre, principalmente, em fontes informais e mídia, com destaque para os

telejornais da TV. Porém, em conversas com parentes e amigos, normalmente

descobrem informações relacionadas a diversos assuntos, o que causa inúmeros

sentimentos como ansiedade, satisfação, alegria, tristeza etc. Os telejornais, por sua

vez, já fazem parte de um programa pré-determinado de uso de uma fonte de

informação para saber as notícias do dia-a-dia. De certa forma, as descobertas,

nesse caso, são mais previsíveis, principalmente com a antecipação de um

sentimento de frustração ao ouvir notícias que retratam crises, mortes, enchentes

etc.

Sugerimos também que a Internet possibilita às pessoas o acesso a fontes

formais e informais de informação.

A Internet foi o meio para acesso a fontes de informação mais citado na

entrevista. Porém, os diários revelam que poucas são as pessoas que dominam as

ferramentas tecnológicas. Isso ocorreu porque a entrevista foi aplicada em um

ambiente que favoreceu essa resposta, o laboratório de aulas, e os diários revelaram

resultados mais direcionados à realidade dos alunos, por ter sido registrado em um

ambiente em que realizam tarefas do cotidiano, suas próprias residências.

Concluímos que os participantes possuem suas necessidades informacionais e

utilizam diversas fontes de informação para suprí-las. Sabem que é possível

consultar a Internet para tal, porém precisam adquirir conhecimentos relativos ao uso

dessa ferramenta.

A partir da abordagem das necessidades e fontes de informação, é possível

relacionar todo o estudo ao modelo de Savolainen (2006). O Quadro 14 apresenta

os elementos do modelo ELIS e a relação com a pesquisa de comportamento

informacional aplicada com idosos.

146

Elementos do ELIS Comportamento Informacional de Idosos Estilo de vida (“ordem das coisas”)

- A imagem dos idosos passa por diversas transformações desde o século passado, principalmente devido à influência da mídia; - As tecnologias de informação e comunicação (TIC), em especial a Internet, começam a ser utilizadas pelos idosos como fontes de informação para o cotidiano e como forma de comunicação com parentes e amigos. Porém, poucos estão incluídos no progresso tecnológico da sociedade; - As alterações físicas e cognitivas do processo de envelhecimento humano podem dificultar a interação humano-computador. Em contrapartida, o acesso a ambientes informacionais digitais pode se tornar mais prático e agradável em comparação a ambientes físicos; - Os idosos procuram “qualidade de vida”, por isso estão fugindo do isolamento e desenvolvendo suas potencialidades junto a outros membros da comunidade, como grupos da terceira idade, trabalhos voluntários etc.

- administração do tempo - Com a análise dos diários, percebemos que esse grupo se preocupa com a administração do tempo. Tentam regrar seu cotidiano com horários bem definidos. Todos os dias realizam diversas atividades, principalmente fora de casa e junto a outras pessoas.

- modelos de consumo - O consumo está relacionado às necessidades informacionais diárias desse grupo.

- hobbies - Principalmente junto a membros da mesma comunidade, desenvolvem atividades que possibilitem maior “qualidade de vida”.

Domínio de vida (“manter as coisas em ordem”)

- A busca de informação para o cotidiano é constante. Os resultados revelam que são vários os assuntos de interesse dessa comunidade. A ausência do mercado de trabalho, para eles, não cessou a ânsia por se manterem informados. Pelo contrário, utilizam diversas fontes para obterem informações e estarem sempre atualizados.

- domínio cognitive-otimista - Percebemos que a confiança atua principalmente em fontes informais, como parentes e amigos, porém também pode ocorrer com fontes formais. Normalmente, esse grupo opta por fontes informais quando precisam de uma determinada informação e sabem exatamente quem pode ajudar, dentro de um grande círculo de pessoas que os rodeiam, as quais podem viver em diferentes lugares.

- domínio cognitive-pessimista - Está mais relacionado ao tipo de informação que está sendo buscado. Embora o item anterior possibilite a busca em diversas fontes e canais, a motivação também passa a ser maior. Um exemplo, neste caso, seria a busca de informação em uma outra fonte que não costumam utilizar. Essa busca pode ser empreendida de maneira satisfatória.

- domínio afetivo-defensivo - Relaciona-se com o otimismo e a possível redução de possibilidade de falhas. Os idosos precisam caminhar para uma busca otimista, bem como para a escolha da fonte de informação mais consistente com seus propósitos. Para isso, é necessário serem críticos na busca de informações relevantes para preencherem seus “vazios” de conhecimento.

- domínio afetivo-pessimista - Pode ser considerado oposto ao anterior, visto que ocorre em situações em que não há motivação ou mesmo habilidades em buscar a informação. Nesse caso, as pessoas podem ser forçadas a buscar uma determinada informação e não se sentirem satisfeitas com a situação. Podem ocorrer tentativas de busca sem êxito por conta de dificuldades diversas.

147

Elementos do ELIS Comportamento Informacional de Idosos Valores, capital, situações de

vida atuais Valores, atitudes, capitais materiais, sociais, culturais e cognitivos, bem como a situação de vida atual direcionam os elementos anteriores. O grupo de idosos pesquisado possui algumas especificidades como: freqüentam grupos de pessoas com quem trocam experiências de vida, possuem situação financeira estável e valorizam questões religiosas e espirituais dentre outras.

Projeto de vida, situações problemáticas do cotidiano,

fatores situacionais

Dentre esses elementos, os fatores situacionais são aqueles que mais direcionam a busca de informação, especificamente informações sobre viagens, palestras, eventos etc. Essas situações atuam em projetos de vida individuais das pessoas.

Comportamento de resolução de problemas

Os idosos demonstraram reconhecer facilmente suas necessidades informacionais, bem como resolver um problema facilmente a partir da escolha de uma fonte ou canal conveniente para tal. Porém, precisam ainda ter mais abertura para informações disponíveis na Web, bem como em outras fontes, além das tradicionalmente utilizadas. Saber consultar e avaliar as fontes de informações disponíveis permite ao indivíduo construir conhecimento por meio de informações devidamente aceitas de acordo com seus próprios critérios de relevância.

Quadro 14: Aplicação do modelo ELIS para o estudo do comportamento informacional de idosos. Fonte: Elaborado pelo autor.

De acordo com o estudo de comportamento informacional realizado com os

alunos da UNATI, percebemos que os idosos ainda não utilizam a Internet para a

satisfação de suas necessidades informacionais. O curso de informática para esse

público está contribuindo para que os alunos adquiram competência informacional

para utilizar mais os ambientes informacionais digitais como fontes de informação

para as necessidades informacionais do dia-a-dia.

Os resultados dessa aplicação contribuem para o entendimento do perfil

desse grupo quanto às atividades informativas e auxiliam tanto na ação de inclusão

digital por meio dos cursos de informática quanto para a reflexão de possíveis

elementos, recursos e serviços que podem ser aplicados na interface do repositório

digital da UNATI, tanto com relação aos seus elementos formais quanto ao seu

conteúdo informacional.

A seção que segue apresenta o repositório digital da UNATI-UNESP

desenvolvido em conjunto com os alunos do curso de informática, visando a inclusão

digital e social desse grupo via tecnologia.

148

6.3 Repositório digital da UNATI – UNESP como ambiente de inclusão digital e

social: documentação do processo de desenvolvimento

O referencial teórico desse trabalho viabiliza a discussão sobre o

desenvolvimento de repositórios digitais para idosos e como esses ambientes

informacionais podem contribuir para sua inclusão digital e social.

Especificamente as UNATI que possuem um papel relevante como projeto

de extensão universitária, bem como podem atuar fortemente em atividades de

ensino e pesquisa, podem se beneficiar com a construção de repositórios digitais,

visando o resgate e registro da memória da instituição e da comunidade de idosos.

Partimos do pressuposto que os idosos que freqüentam as UNATI buscam

compartilhar conhecimento e experiências de vida com todos aqueles que atuam na

universidade, possibilitando a integração intergeracional. Além disso, podem

desenvolver habilidades e competências por meio das atividades oferecidas e

contribuir com pesquisas científicas.

Toda a produção gerada no contexto dessas atividades, bem como os

documentos institucionais provenientes das UNATI precisam ser preservados, de

modo a garantir sua disseminação. Dessa forma, a reunião desse material e sua

disponibilização em um ambiente informacional digital que possibilite sua

preservação por longo período de tempo propicia a construção de uma identidade

coletiva local que pode ser disseminada.

Para justificar essa importância, resgatamos algumas características dos

repositórios digitais apresentadas no capítulo 3 e como elas podem ser refletidas

nesse contexto, quais sejam o auto-arquivamento e a disseminação da produção

intelectual e científica; a discussão entre os pares de uma comunidade; a

preservação da memória; e o impacto dos repositórios digitais no âmbito científico,

tecnológico e social.

O auto-arquivamento possibilita a uma comunidade de idosos a

disponibilização de produções intelectuais ou informações de interesse em

repositórios digitais construídos, especialmente, no âmbito de uma UNATI. Muitos

dedicam seu tempo para escrever poesias e pensamentos, pintar, compartilhar

receitas de culinária, atividades inerentes a esse público. Os repositórios digitais

contribuem para que esses trabalhos não sejam perdidos com o tempo, mas sim

compartilhados, visando o acesso pelos usuários da Web. Isso contribui para uma

149

nova imagem do idoso, o qual pode criar, recriar e construir conhecimento utilizando

as tecnologias de informação e comunicação (TIC). Consideramos o auto-

arquivamento em um repositório digital para idosos, nessas condições, um elemento

de inclusão social.

As UNATI também podem armazenar produções científicas derivadas de

estudos sobre o envelhecimento humano. Desse modo, os pesquisadores

envolvidos têm a oportunidade de compartilhar conhecimento sobre seus resultados

de pesquisa, bem como os idosos têm a oportunidade de obter acesso mais rápido a

conteúdos relacionados a essa temática.

O processo de auto-arquivamento não é tão simples para esse público, bem

como está relacionado às políticas institucionais elaboradas. Dessa forma, é preciso

refletir sobre essas questões e capacitar os envolvidos para esse processo,

principalmente com relação à representação dos recursos informacionais e à

relevância do conteúdo para o ambiente informacional.

Outra característica sinalizada para repositórios digitais é a revisão pelos

pares. Entendemos que os documentos submetidos podem ser avaliados

constantemente pela própria comunidade usuária. Isso também envolve políticas

para a avaliação e seleção de recursos informacionais e a relevância do conteúdo

informacional. Essa atividade contribui para um trabalho colaborativo entre os

envolvidos, quais sejam pesquisadores, alunos, coordenadores entre outros, o que

também pressupõe uma possibilidade de inclusão social.

O auto-arquivamento de documentos, a participação e a colaboração entre

os membros contribui para a socialização da cultura no contexto de uma UNATI,

direcionando para a preservação da memória dessa comunidade.

[...] a socialização da cultura (linguagem, estética, visão de mundo, valores, costumes) assume papel relevante para a democratização do acesso e uso da informação. Numa leitura antropológica da informação, seu processo de construção como objeto de estudo só se complementa quando se levam em conta, concretamente, as estruturas materiais e simbólicas de um dado universo cultural e as relações práticas e representações dos sujeitos, cada vez mais mediadas por um modo informacional e competente de ser e estar em sociedade. (FREIRE, 2006, p.59).

Isso pode propiciar que a identidade individual interfira nas opiniões da

coletividade, bem como que a coletividade contribua para o crescimento intelectual

individual, além de possibilitar o resgate e registro da memória dessa comunidade,

contribuindo para o exercício da cidadania no contexto do envelhecimento humano.

150

Vianello Osti (2004) comenta que, através da capacidade de memória, uma

comunidade pode construir conhecimento, sua identidade e sua história.

Porém, isso só é possível se a ação perdurar por meio de estratégias que

possibilitem motivação da comunidade para a produção, o arquivamento e a

utilização dos recursos informacionais. Os repositórios digitais, considerando sua

proposta essencial, apenas se consolida a longo prazo, quando é possível acessar o

ambiente informacional e perceber a riqueza do que foi produzido.

No que diz respeito ao impacto dos repositórios digitais no âmbito científico,

tecnológico e social, inferimos que a investigação e o desenvolvimento de

repositórios digitais para idosos contribui significativamente para: o desenvolvimento

da ciência, fornecendo subsídios para que novos estudos e aplicações sejam

realizados no cenário do envelhecimento humano e das UNATI; o desenvolvimento

tecnológico, pois pode suscitar a incorporação de elementos que contribuam para a

comunidade que utiliza o DSpace na construção de seus repositórios digitais; e o

desenvolvimento social, principalmente com relação ao público idoso que pode

encontrar nesse ambiente a manifestação da importância do conhecimento,

experiências e potencialidade do idoso frente a uma sociedade que ainda pode não

reconhecer o seu valor.

Quando a Arquitetura da Informação, a Usabilidade, a Acessibilidade e o

Comportamento Informacional são aplicados ao planejamento e ao desenvolvimento

de repositórios digitais para idosos, entendemos que o repositório digital também se

torna um ambiente de inclusão digital, contribuindo para que não haja barreiras para

o acesso à informação, bem como para que o conteúdo informacional possa ser

utilizado mais facilmente pelos idosos, direcionando a ação para a inclusão social.

No contexto deste trabalho, o repositório digital da UNATI poderá possibilitar

a participação ativa dos idosos, bem como a interação entre os mesmos por meio de

elementos inclusivos implementados na interface, a fim de direcionar o ambiente

informacional para sua usabilidade e acessibilidade.

O primeiro passo do desenvolvimento do repositório digital da UNATI foi o

diagnóstico do contexto organizacional, como propõe a Arquitetura da Informação, a

fim de coletar informações institucionais para direcionar o projeto do ambiente.

A missão da UNATI é proporcionar condições para a integração social do

idoso, mediante o convívio no meio universitário. Seus objetivos, de acordo com o

Artigo 3.º do REGIMENTO DO NÚCLEO UNESP – UNATI (2009, p.1), são:

151

I - possibilitar às pessoas idosas o acesso à Universidade, como meio de ampliação do espaço cultural, bem como a educação continuada, pelo oferecimento de cursos e atividades que propiciem a atualização de conhecimentos, tanto gerais como específicos, aos interesses deste segmento; II - estimular a participação da população idosa nas atividades sociais, políticas, econômicas e culturais da sua comunidade; III - proporcionar informações que permitam a reflexão sobre o processo de envelhecimento; IV - proporcionar espaço gerador de convivência e troca de experiências; V - possibilitar ao idoso acesso a programas, serviços e recursos que atendam seus interesses e necessidades, nas diversas unidades universitárias; VI - incentivar o desenvolvimento de pesquisa e parcerias para formulação de políticas públicas e implementação de ações dirigidas às pessoas idosas; VII - fomentar iniciativas para preparação e/ou aprimoramento de recursos humanos internos e externos à Universidade; VIII - promover intercâmbio de âmbito nacional e internacional com outras instituições visando o desenvolvimento do Núcleo UNESP-UNATI.

O público-alvo refere-se aos alunos matriculados, os quais realizam as

atividades das UNATI pertencentes às unidades da UNESP. Os idosos que residem

nas cidades56 que possuem UNATI podem ser considerados como público potencial

do programa.

No que diz respeito à estrutura de gestão, especificamente da UNATI –

UNESP – Marília, Ferreira (2007) comenta que dois estagiários-bolsistas, alunos de

graduação, trabalham junto à administração do projeto: auxiliam na gestão das

atividades; são responsáveis pelas matrículas, comunicação via telefone e e-mail,

contatos com palestrantes convidados, preparo dos equipamentos utilizados nas

palestras; bem como administram o fluxo de documentos e o arquivo.

A administração do Núcleo local fica a cargo dos coordenadores, cujo

mandato é de dois anos. O Núcleo local está subordinado à Coordenação Central do

Núcleo UNESP – UNATI junto à Pró-Reitoria de Extensão Universitária (PROEX) da

UNESP. As atribuições do coordenador é representar e coordenar o Núcleo local,

elaborando e encaminhando à Coordenação Central o Relatório Anual de

Atividades. Ele tem autonomia para gerir os recursos financeiros e materiais

enviados pela PROEX, bem como para gerenciar os seminários e as atividades de

pesquisa e extensão relacionadas a temas específicos sobre envelhecimento

humano e também a temas de interesse geral (FERREIRA, 2007).

De acordo com Ferreira (2007, p.24),

56 A UNESP possui vinte núcleos UNATI, que atuam nos seguintes campi: Araçatuba, Araraquara, Assis, Bauru, Botucatu, Dracena, Franca, Guaratinguetá, Ilha Solteira, Jaboticabal, Marília, Presidente Prudente, Rio Claro, Rosana, São José dos Campos, São José do Rio Preto, São Paulo (Instituto de Artes), São Paulo (Reitoria), São Vicente e Sorocaba.

152

As primeiras atividades realizadas na UNATI – Unesp – Marília foram palestras oferecidas por profissionais de diversas áreas atendendo o interesse do público da Terceira Idade como médicos, psicólogos, fisioterapeutas, geneticistas, nutricionistas, pedagogos, economistas, administradores dentre outros. Paralelamente foram sendo criadas oficinas de teatro, canto, leitura, cinema e ainda aulas de ginástica, pintura e informática, língua estrangeira como francês, italiano, alemão, inglês.

As palestras ocorrem às quartas-feiras, no período vespertino. É uma

atividade direcionada a todos os alunos da UNATI – UNESP – Marília, contribuindo

para que, pelo menos uma vez por semana, eles se reúnam e possam discutir sobre

um assunto de interesse, além de poderem trocar seus conhecimentos e

experiências.

As oficinas, por sua vez, são oferecidas de acordo com a disponibilidade de

horários dos professores e dos alunos, bem como de locais e de quantidade de

vagas. Os alunos podem frequentar tantas oficinas quanto quiserem, visto que a

matrícula permite que todos realizem quaisquer atividades oferecidas.

Com relação à infra-estrutura tecnológica da UNATI – UNESP – Marília,

existem alguns computadores que podem ser utilizados pelos alunos. Os cursos de

informática da UNATI são realizados em laboratórios de informática da Faculdade de

Filosofia e Ciências previamente agendados, os quais são também utilizados para

aulas dos cursos de graduação e de pós-graduação. A UNATI possui também um

servidor, recebido pela Fundunesp, que também financia o projeto de extensão

universitária da UNATI. Esse servidor abrigará o repositório digital, a revista

eletrônica e o web site da UNATI. Tais ambientes estão sendo construídos e

armazenados localmente, entretanto os coordenadores pretendem congregar todas

as UNATI – UNESP para a utilização efetiva desses ambientes.

Uma problemática que percebemos com relação à infra-estrutura tecnológica

refere-se à ausência de um técnico e/ou programador específico que pudesse

auxiliar na implementação/administração dos ambientes mencionados, bem como na

manutenção dos equipamentos, o que dificulta o desenvolvimento de atividades que

são impulsionadas pelos pesquisadores e têm grande aceitação pelos alunos, bem

como pela instituição.

Nesse momento, enfocamos as atividades realizadas com os alunos da

UNATI que direcionaram a construção do repositório digital no que diz respeito aos

aspectos do conteúdo informacional e uso.

153

Vechiato (2007) e Ferreira (2007) fizeram um estudo com os alunos do curso

de informática da UNATI – UNESP – Marília, por meio de um grupo focal, nos anos

2006 e 2007, a fim de criar uma taxonomia que pudesse ser utilizada na criação de

um ambiente informacional digital para a UNATI, a qual é apresentada em Ferreira,

Vechiato e Vidotti (2008).

Isso possibilitou à Ferreira (2007) construir um protótipo do repositório digital

da UNATI, no qual o conteúdo dessa taxonomia foi reformulado para atuar como

comunidades e coleções. As comunidades principais podem ser observadas na

Figura 16 que segue.

Figura 16: Protótipo da página inicial do repositório da UNATI – UNESP - Marília. Fonte: Ferreira (2007, p.67).

Podemos notar algumas customizações realizadas no repositório,

relacionadas ao logotipo e ao conteúdo informacional em relação ao padrão do

DSpace. As comunidades e coleções disponibilizadas, como explicitado, foram

obtidas por meio de discussões com os alunos, possibilitando inclusive a definição

de rótulos mais adequados para esse público, iniciando já nesse momento a

identificação de elementos de inclusão na busca por termos mais utilizados por esse

grupo de usuários. Isso motivou o pesquisador-autor deste trabalho a prosseguir os

154

estudos na customização do ambiente, na mesma versão 1.4 do DSpace utilizada

pela autora.

No que diz respeito ao público-alvo, o perfil dos usuários potenciais do

repositório digital da UNATI abrange principalmente diferenças individuais, pois os

alunos possuem formações, atuações, idades e experiências diversificadas. Dessa

forma, o ambiente deve respeitar essa diversidade na IHC, bem como os alunos

devem ser capacitados para a utilização desse ambiente que tem como foco

preservar a memória dessa comunidade.

Para a compreensão do funcionamento de repositórios digitais, foram

realizadas reuniões com os participantes da pesquisa, alunos do curso de

informática da UNATI – UNESP – Marília, especificamente para discutir questões

alusivas a esses ambientes informacionais digitais, por meio do método grupo focal.

As discussões iniciaram com uma exposição oral do pesquisador-autor

desse trabalho, buscando fundamentar a importância da customização da interface

do repositório digital da UNATI. Foram apresentados repositórios digitais que

utilizam o software DSpace57 e começamos discutindo sobre elementos de interface.

Os alunos comentaram que existe uma grande proximidade na estrutura de

funcionamento dos repositórios digitais, no que diz respeito às divisões das páginas

(frames); localização de elementos como logotipo e ferramenta de busca; forma de

organização das comunidades e coleções; alguns rótulos com conteúdos similares;

recursos de navegação entre outros.

Alguns repositórios acessados se destacaram por diferenças encontradas

em relação ao padrão DSpace, como o ‘Banco Internacional de Objetos

Educacionais’, que pode ser visualizado na Figura 17 que segue.

57 Disponível em: <http://www.dspace.org/whos-using-dspace/Repository-List.html>. Acesso em 23 jan. 2010.

155

Figura 17: Página inicial do Banco Internacional de Objetos Educacionais. Fonte: <http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/>. Acesso em: 27 jan. 2010.

Observamos que essa interface apresenta as comunidades por meio de

rótulos iconográficos no centro da página em conjunto com o recurso de busca que

possui estratégias pré-definidas e com o recurso Really Simple Syndication (RSS).

Foram alteradas cores e posicionamento dos elementos citados.

No decorrer das reuniões com os alunos foram apresentadas propostas de

interfaces do repositório digital da UNATI para discussões. Além disso, foram

realizadas reuniões com os responsáveis pela instituição que também auxiliaram no

desenvolvimento da interface.

A página inicial do repositório digital da UNATI – UNESP é apresentada na

Figura 18 que segue.

156

Figura 18: Página inicial do Repositório Digital da UNATI – UNESP (1). Fonte: <http://linuxrepositorios.marilia.unesp.br:8080/dspace/>. Acesso em: 02 mar. 2010.

No que diz respeito às cores, foram considerados dois aspectos. Um deles

se refere ao fato de o repositório digital da UNATI estar inserido no âmbito de uma

instituição e deve contemplar o logo e as cores dessa instituição (UNESP58) no

cabeçalho. Dessa forma, atendemos a essa necessidade institucional no cabeçalho

das páginas que constituem o repositório. A posição do logotipo da UNATI, por sua

vez, foi determinada pelos alunos (canto superior direito).

O outro aspecto se refere às cores do corpo da página que foram

selecionadas pelos alunos. Em uma das propostas de interface, apresentamos a cor

branca como fundo do painel central. Isso não agradou os participantes. Eles

argumentaram que a cor branca poderia dificultar a leitura dos elementos do

conteúdo do painel central por ser muito clara. Desse modo, sugeriram um cinza

claro, que não compromete o contraste entre cor de texto e fundo. Selecionaram

também as cores do painel esquerdo e do painel direito.

O azul do painel esquerdo é o mesmo que se encontra como fundo do

Twitter da UNATI – UNESP – Marília, cor que agradou os participantes. A Figura 19

apresenta a página do Twitter.

58 Disponível em: <http://www.unesp.br>. Acesso em: 10 jan. 2010.

157

Figura 19: Twitter da UNATI – UNESP – Marília. Fonte: <http://twitter.com/unati_unesp_ffc>. Acesso em: 02 abr. 2010.

Para o painel direito, sugeriram um cinza mais escuro em comparação ao

painel central. Um aspecto interessante é que não houve rejeição pela cor azul. Uma

das recomendações apresentadas no Quadro 9 para a usabilidade e acessibilidade

de ambientes informacionais digitais para idosos sugere que tons de azul e verde

sejam evitados. Isso comprova que nem sempre uma recomendação testada,

validada e presente na literatura é válida quando aplicada em um contexto

específico. As alterações nas cores foram realizadas em um arquivo Cascading Style

Sheets (CSS), sempre considerando o contraste entre cor de fundo e cor da fonte,

importante recomendação para idosos.

No que diz respeito ao conteúdo textual do repositório, foram realizadas

alterações nos arquivos que correspondem às mensagens em português, sempre

refletindo na importância de facilitar a linguagem para o usuário idoso. No decorrer

do uso do repositório, não houve dificuldades de entendimento das mensagens.

Foram também realizadas alterações no tamanho da fonte dos textos do DSpace por

meio do arquivo CSS, seguindo as recomendações para tamanho de fonte

apresentadas no Quadro 7, o que contribui para a acessibilidade do ambiente por

esse público.

158

As caixas que correspondem aos recursos de busca (painel esquerdo e

painel central) também foram ampliadas para que os usuários tenham mais espaço

para a elaboração de suas estratégias de busca.

Outra recomendação importante está relacionada à diferenciação entre links

visitados e não-visitados, contribuindo para que o usuário idoso saiba quais os

recursos e opções que já acessou. Isso pode ser verificado na Figura 18, em que a

opção Página inicial foi acessada e, portanto, possui uma cor diferente em

comparação aos links não acessados.

O painel central, até um determinado momento, apresentava as

comunidades e coleções originais do trabalho de Ferreira (2007). As discussões

promoveram mudanças em rótulos de comunidades e coleções, bem como novas

comunidades e coleções surgiram. Além disso, em reunião com os responsáveis

pela UNATI, ficou decidido que o primeiro nível de comunidades seria destinado a

cada Núcleo UNATI – UNESP. As Figuras 20 a 23 apresentam a relação de

comunidades e coleções do repositório.

Figura 20: Comunidades e coleções do Repositório Digital da UNATI – UNESP (1). Fonte: <http://linuxrepositorios.marilia.unesp.br:8080/dspace/community-list>. Acesso em: 02 mar. 2010.

159

Na figura, notamos que apenas existem subcomunidades e coleções para o

Núcleo Marília, pois esse é o enfoque desse trabalho. A coordenadora da UNATI –

UNESP, Profa. Maria Candida Soares Del-Masso, divulgará o repositório digital em

breve a outros núcleos, que poderão criar comunidades e coleções específicas.

Nessa figura, observamos a subcomunidade Administração, a

subcomunidade Documentos Administrativos e as coleções que se referem aos

documentos de interesse da UNATI – UNESP – Marília para disponibilização no

ambiente. Os números apresentados em frente de cada coleção correspondem à

quantidade de documentos armazenados nesse momento.

A Figura 21 apresenta as próximas comunidades e coleções.

Figura 21: Comunidades e coleções do Repositório Digital da UNATI – UNESP (2). Fonte: <http://linuxrepositorios.marilia.unesp.br:8080/dspace/community-list>. Acesso em: 02 mar. 2010.

A subcomunidade Atividades – Cursos, Oficinas e Palestras apresenta

outras comunidades, as quais são relacionadas às atividades da UNATI – UNESP –

Marília e suas coleções estão relacionadas a documentos de interesse dos

envolvidos em cada atividade. É importante mencionar que novas comunidades e

coleções podem ser facilmente criadas, o que dependerá das necessidades

informacionais que surgirem.

160

A subcomunidade Criatividade está relacionada às produções dos alunos,

bem como à divulgação de documentos de interesse. A coleção Fotos de pintura já

apresenta fotos de pinturas de uma das alunas da UNATI.

A Figura 22 dá prosseguimento às comunidades e coleções.

Figura 22: Comunidades e coleções do Repositório Digital da UNATI – UNESP (3). Fonte: <http://linuxrepositorios.marilia.unesp.br:8080/dspace/community-list>. Acesso em: 02 mar. 2010.

A subcomunidade Cultura e Lazer apresenta subcomunidades e coleções

relacionadas a entretenimento.

Produções Científicas, por sua vez, permite o armazenamento de

produções dos pesquisadores que investigam o envelhecimento humano,

possibilitando a reunião do que vem sendo desenvolvido sobre a temática no âmbito

da UNATI – UNESP – Marília.

A Figura 23 apresenta a última tela de comunidades e coleções.

161

Figura 23: Comunidades e coleções do Repositório Digital da UNATI – UNESP (4). Fonte: <http://linuxrepositorios.marilia.unesp.br:8080/dspace/community-list>. Acesso em: 02 mar. 2010.

Finalizando a listagem, é apresentada a subcomunidade Saúde, em que

podem ser fornecidas informações sobre medicina alternativa e preventiva.

É importante ressaltar que as comunidades e coleções, bem como os rótulos

que as representam, foram amplamente discutidos com os alunos da UNATI.

Uma problemática que percebemos no decorrer do trabalho está relacionada

ao processo de auto-arquivamento. Percebemos que não seria possível diferenciar

coleções com mesmo nome em comunidades diferentes no processo de submissão.

Portanto, os rótulos precisaram de reformulações para que não houvesse confusão

nesse processo. Além disso, percebemos que haveria a necessidade de codificar os

núcleos para que não ocorresse esse mesmo problema. A Figura 24 apresenta a

lista de coleções no momento de submissão.

162

Figura 24: Coleções do Repositório Digital da UNATI – UNESP: submissão de documento. Fonte: <http://linuxrepositorios.marilia.unesp.br:8080/dspace/submit>. Acesso em: 02 mar. 2010.

A elaboração dos rótulos das coleções deve ser refletida cuidadosamente,

pois no momento de submissão podemos notar que as comunidades às quais as

coleções pertencem não são apresentadas. Por exemplo, se tivéssemos apenas o

rótulo ‘Fotos’ em pelo menos duas comunidades que abarcam esse tipo de

documento, não conseguiríamos distingui-los. O mesmo ocorre entre os núcleos. Se

não houvesse o código NMA para representar o Núcleo UNATI – Marília, não

conseguiríamos diferenciar coleções com mesmo rótulo para núcleos diferentes no

momento de submissão. É fato que é possível administrar as permissões, porém em

algum momento dificuldades poderiam surgir.

Para criar os códigos, nos baseamos nos códigos das bibliotecas da UNESP

com algumas modificações. Os códigos para cada núcleo podem ser conferidos nas

Figuras 20 a 23.

Outra possibilidade para o acesso às comunidades relacionadas a cada

Núcleo UNATI – UNESP é o mapa do Estado de São Paulo disponibilizado na

página inicial do repositório, contemplando as cidades que possuem os núcleos,

como pode ser observado na Figura 18. Desse modo, as comunidades podem ser

163

acessadas por meio de uma organização geográfica ou pela organização alfabética

apresentada abaixo do mapa, possibilitando dois caminhos no decorrer da

navegação até o usuário acessar a comunidade desejada.

O painel da direita, conforme apresenta a Figura 18, possui recursos que

foram refletidos e implementados de acordo com o estudo do comportamento

informacional dos alunos da UNATI – Marília, contribuindo para que o repositório

digital atue como fonte de informação para as principais necessidades

informacionais desse público no cotidiano.

O primeiro recurso refere-se à principal necessidade informacional,

informações metereológicas, conforme demonstrado no Quadro 11. Esse recurso foi

obtido pelo web site Climatempo59. Os demais recursos inseridos agregam RSS de

outros ambientes informacionais digitais. Eles foram implementados com a utilização

do web site RSS Include60, que possui recursos para a criação desses quadros que

são alimentados automaticamente por RSS.

Na Figura 18 percebemos que os dois quadros com fundo branco

representam ambientes desenvolvidos no âmbito da UNATI – UNESP – Marília,

quais sejam o Blog Internautis e o Twitter da UNATI – UNESP – FFC. O primeiro

corresponde ao blog do curso de informática, o qual foi comentado anteriormente. O

Twitter da UNATI, por sua vez, foi desenvolvido e inserido no repositório para que os

alunos conheçam esse recurso da Web, o qual está sendo amplamente utilizado

atualmente. Vale comentar que, no final do ano 2009, os alunos manifestaram

interesse em aprender a utilizar o Twitter no curso de informática em 2010.

A Figura 25 apresenta os demais conteúdos agregados.

59 Disponível em: <http://www.climatempo.com.br/>. Acesso em: 17 fev. 2010. 60 Disponível em: <http://www.rssinclude.com/>. Acesso em: 17 fev. 2010.

164

Figura 25: Página inicial do Repositório Digital da UNATI – UNESP (2). Fonte: <http://linuxrepositorios.marilia.unesp.br:8080/dspace/>. Acesso em: 02 mar. 2010.

Os ambientes informacionais digitais utilizados nos três quadros com fundo

azul referem-se às principais necessidades informacionais dos alunos: o primeiro

possui as últimas notícias do Portal Terra61, contemplando variados assuntos; o

segundo resgata conteúdo do blog Culinária Brasileira62; o terceiro aborda assuntos

relacionados ao envelhecimento humano, com enfoque na qualidade de vida, cujo

conteúdo provém do web site Maisde5063.

Além disso, o repositório disponibiliza o recurso RSS, podendo ser utilizado

por pessoas que tenham interesse em receber notícias relacionadas a atualizações

do repositório, como novas submissões, em seus agregadores de conteúdo.

Os participantes da pesquisa realizaram atividades de auto-arquivamento no

decorrer da aplicação do grupo focal. Para eles, não foi um processo difícil, mas é

preciso capacitação para que seja realizado de maneira eficiente.

Dessa forma, para 2010, o desafio da instituição UNATI – UNESP será

divulgar para seus núcleos esse ambiente já implementado, bem como será

necessária a adoção de políticas para o funcionamento do repositório digital. Cabe

61Disponível em: <http://www.terra.com.br/portal/>. Acesso em: 15 fev. 2010. 62 Disponível em: <http://culinariasbrasileiras.blogspot.com/>. Acesso em: 15 fev. 2010. 63 Disponível em: <http://www.maisde50.com.br/>. Acesso em: 15 fev. 2010.

165

aos professores do curso de informática da UNATI – UNESP – Marília a continuação

desse trabalho por meio da promoção do repositório digital, do incentivo à produção

dos alunos e do desenvolvimento de competências informacionais nos alunos por

meio da capacitação para o auto-arquivamento. Além disso, testes de usabilidade

precisam ser realizados constantemente a fim de descobrir novas necessidades

informacionais que podem auxiliar na identificação de outros elementos que

propiciem a inclusão digital e social via tecnologias de informação e comunicação.

O desafio desse trabalho foi tornar o repositório digital da UNATI um

ambiente informacional que fosse além de seus princípios básicos, buscando

elementos que facilitassem o acesso às informações armazenadas pelos idosos

(inclusão digital) e outros que possibilitassem aos idosos o acesso a informações

que utilizam no cotidiano e o compartilhamento de suas produções intelectuais

(inclusão social).

166

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste trabalho foi possível compreender a estreita relação

existente entre indivíduos, tecnologia e sociedade. A esses elementos deve ser

atribuída igual importância no desenvolvimento de ambientes informacionais digitais.

Isso fica claro quando refletimos que qualquer ambiente informacional

precisa utilizar tecnologias que potencializem o acesso à informação. É necessário

também compreender o usuário como indivíduo, com suas necessidades

informacionais e seu comportamento em relação à informação, bem como também

sendo participante de uma sociedade da informação.

Conferimos que os estudos relacionados aos usuários direcionam o

desenvolvimento de interfaces com arquiteturas informacionais mais inclusivas,

contribuindo assim para sua usabilidade e acessibilidade.

Os idosos, nesse contexto, podem se beneficiar na utilização das TIC.

Percebemos o quanto eles podem desenvolver habilidades e competências por meio

da utilização de ferramentas tecnológicas propiciadoras do favorecimento de sua

imagem perante a sociedade.

A investigação dos aspectos psicossociais e biológicos do envelhecimento

humano pode direcionar o desenvolvimento de ambientes informacionais digitais

mais inclusivos, o que converge com a proposta do repositório digital da UNATI –

UNESP.

Para a organização da aplicação da pesquisa foi utilizada a pesquisa-ação,

com base em Thiollent (2004) que propiciou a definição das problemáticas, dos

objetivos e das ações junto aos alunos do curso de informática da UNATI – UNESP

– Marília.

A inclusão digital por meio de cursos de informática teve respaldo em

elementos do construtivismo, o que permitiu compreender como o processo de

ensino-aprendizagem estava sendo direcionado e refletir sobre novas possibilidades

de ensino a partir desse estudo.

Sugerimos que essa atividade de ensino das TIC para idosos poderia ser

considerada principalmente por cursos de Graduação em Biblioteconomia como um

estágio curricular ou extracurricular, visto que envolve a geração, mobilização e

potencialização de competências informacionais nos indivíduos.

167

O desenvolvimento do repositório digital da UNATI teve a participação direta

dos alunos do curso de informática da UNATI – UNESP - Marília, bem como dos

envolvidos na instituição promotora para a definição de aspectos formais e de

conteúdo da interface. Foi possível perceber o interesse dos alunos nesse ambiente

e isso, provavelmente, será um fator gerador de motivação para a produção

intelectual.

Vale ressaltar que este trabalho transita pela ação de inclusão digital que já

vinha sendo desenvolvida e continuará nesse ano de 2010, tanto com relação aos

cursos de informática quanto ao desenvolvimento do repositório digital da UNATI,

repositório este que deverá passar por testes de usabilidade constantemente para a

identificação de novas necessidades informacionais.

Para pesquisas futuras, sugerimos que, como a relação entre o idoso e as

TIC é uma temática que começa a ser investigada no âmbito da Ciência da

Informação, são extremamente relevantes para o desenvolvimento científico e para o

desenvolvimento da sociedade pesquisas que contemplem a importância da

inclusão digital e social dos idosos.

Outra sugestão refere-se à investigação de TIC que mobilizem e

potencializem comportamentos e competências informacionais sem a necessidade

de um mediador humano para a apropriação de competências por meio da própria

tecnologia.

168

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