reportagem "correntes d'escritas"

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ilustração Ana Moreira entrevista p/04.05 Jorge Pinto destaque p/02.03 Correntes d'escritas "Quem gostar de livros, de ouvir pessoas a falar e a contar histórias, vai gostar de participar" valter hugo mãe } nº01 março 2011 caderno cultural integrante do Jornal Universitário do Porto flash p/06.07 Fantas Porto'11 As artes plásticas vieram ao Fantas. Sobre o tema "Manual de Sobrivivência do Artista Português" }

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"Correntes d'Escritas" - reportagem sobre o 12º Encontro de Escritores de Expressão Ibérica. Texto: Aline Flor, Catarina Cruz e Sunamita Cohen. Suplemento de Cultura da edição de Março de 2011 do Jornal Universitário do Porto. Direcção: Aline Flor e Dalila Teixeira. Paginação: Sérgio Alves.

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Page 1: Reportagem "Correntes d'Escritas"

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Sociedade de Ficção Científica e Fantasia>Quando: Quintas-Feiras das 19.30 às 22.00>Onde: sala 205 ou 408 (ainda por decidir) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

entrevista p/04.05

Jorge Pinto

destaque p/02.03

Correntesd'escritas"Quem gostar de livros, de ouvir pessoas a falar e a contar histórias, vai gostar de participar"valter hugo mãe }

nº01março 2011

caderno cultural integrante do Jornal Universitário do Porto

flash p/06.07

Fantas Porto'11

As artes plásticas vieram ao Fantas. Sobre o tema "Manual de Sobrivivência do Artista Português" }

Page 2: Reportagem "Correntes d'Escritas"

{ parêntesis jup março 201102/destaque

Correntes de afectos, Correntes d’Escritas

Correntes d'escritas

O 12º ENCONTRO DE ESCRITORES DE EXPRESSÃO IBÉRICA – O CORRENTES D’ESCRITAS – ACONTECEU NO FIM DE FEVEREIRO, ENTRE OS DIAS 23 E 26. O JUP PASSOU TRÊS DIAS NO “MAIOR FESTIVAL LITERÁRIO DE PORTUGAL”, COMO O CLASSIFICAM OS PARTICIPANTES ILUSTRES QUE TODOS OS ANOS VISITAM A PÓVOA DE VARZIM.

O Correntes d’Escritas 2011 aparece-nos, antes de mais, como um espaço de partilha. Partilha de realizações, de feitos, de opiniões, de senti-mentos, de paixões. Tudo isto guiado por um ba-ter, uma pulsação literária e poética que parece harmonizar todos os membros da família: desde os escritores e editores até aos organizadores e ao público. Todos separados por diferenças es-tilísticas, ideológicas, linguísticas. Todos unidos no seu amor pela literatura. Todos movidos por um desejo comum de dar voz ao ritmo poético que uns produzem e outros abraçam. Todos jun-tos impedindo que as obras passadas se diluam e que as futuras nunca cheguem a existir.

Nas palavras do escritor Rui Zink, o Correntes d’Escritas “é o festival mais profissional e ao mes-mo tempo é o mais cordial, é uma festa do livro e do leitor, onde toda a gente está à vontade”. Aida Gomes, na apresentação do seu livro “Os Pretos de Pousaflores”, vai mais longe ao descrever o sentimento que encerra o encontro: o Correntes d’Escritas “são ventos amenos de afectos”.

Correntes para todos?Luís Catarino é editor da Deriva e trouxe este ano o escritor argentino Ricardo Romero. Para o editor, o Correntes d’Escritas é uma “festa” onde editores trazem os escritores por ser um lugar onde “eles se sentem bem”. Apesar de ser aberto a qualquer pessoa, “cada vez mais é um encontro para a co-munidade literária, mas há uma relação com o público do Correntes, que vem cá todos os anos”.

Mal entramos no edifício do Auditório Muni-cipal da Póvoa de Varzim, somos recebidos pela organização com um caloroso “bem-vinda ao Correntes d’Escritas”. E tudo aqui é assim, quen-te e acolhedor. O escritor (e ilustrador e músico e mais mil e uma coisas) valter hugo mãe relem-bra mesmo que “a organização recebe muito bem não só os escritores, mas todas as pessoas”. Enfim, por todos os lados encontramos pessoas dispostas a partilhar ideias e sorrisos. “A maior parte dos convidados acaba por ter uma postura aberta e inteligível para todo o tipo de públicos. Quem gostar de livros, de ouvir pessoas a falar e a contar histórias, vai gostar de participar”, explica valter hugo mãe.

mentos pessoais e profissionais, riem, emocio-nam-se. Fazem projectos para o futuro e relem-bram com carinho acontecimentos e pessoas do passado. Como uma grande família.

Pois bem. Isto é o Correntes d’Escritas e este clã é composto pelos seus intervenientes. En-quanto iniciativa aberta, todos nós somos convi-dados a fazer parte desta comunidade, a partilhar experiências, a usufruir de momentos de puro deleite intelectual e artístico.

“A Póvoa é um estado de espírito, onde todos já estivemos desassossegados, mas onde voltamos sempre”. As palavras são de Maria Manuel Viana, condensando numa única frase todo o sentimento de uma semana inesquecível. Para os escritores, para os leitores e para a Póvoa de Varzim.

“É o melhor festival literário de Portugal”Parte da programação do Correntes é passada em mesas de troca de ideias, onde vários escritores dão a sua perspectiva sobre um mote. Este ano, os versos foram retirados de cada uma das obras finalistas do Prémio Literário Casino da Póvoa, trazendo temas desde a criação artística à im-portância das palavras, passando pela magia da poesia e pela própria maneira de ver o tempo e o mundo. O resto do tempo, longe das mesas, é passado em conversas à porta, no pátio, ao almo-ço, nos sofás dos hotéis.

O JUP partiu para o Cor-rentes d’Escritas com as expectativas num nível bastante elevado, dado o burburinho que en-volve as conversas sobre

o evento. Surgiam-nos dúvidas, questões e até mesmo algum cepticismo face à questão: O que é que um encontro de escritores na Póvoa de Var-zim pode ter de tão especial?

À chegada ao Auditório Municipal da Póvoa de Varzim, não salta à vista nenhum indício da mag-nitude que o evento prometia. No entanto, basta aproximar mais um pouco para ir reconhecendo livros e pessoas, do nosso lado, à nossa frente, à distância de uma palavra, para começar a mer-gulhar no verdadeiro ambiente do Correntes.

É preciso imaginar uma grande família. Ou melhor: um clã. Os seus membros vivem sepa-rados: por ruas, por rios, por cidades, por mares, por oceanos. As suas vidas são atribuladas e, por vezes, uma comunicação que se quereria diária torna-se escassa e difícil.

Porém, os membros deste clã fazem questão de se encontrar uma vez por ano. No espaço de tempo em que se encontram, partilham. Contam histórias, falam dos mais recentes desenvolvi-

texto Aline Flor, Catarina Cruz e Sunamita Cohenfotografia Pedro Ferreira

›O Correntes d’Escritas 2011 aparece-nos, antes de mais, como um espaço de partilha. Partilha de realizações, de feitos, de opiniões, de sentimentos, de paixões.

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Correntes aconchegantesO jornalista e escritor Carlos Vaz Marques, co-nhecido pelo programa de entrevista “Pessoal e… Transmissível”, explica que “todos nos tor-namos poveiros durante esta semana de Cor-rentes d’Escritas”. Mas a intensidade com que se vive o Correntes d’Escritas foi cativando o público aos poucos. Numa 12ª edição con-sagrada com auditórios cheios com leitores de todo o país – para além de convidados de todo o mundo – alguns par-ticipantes relembram como foram os pri-meiros anos. “Há um crescendo enorme, no início era um encon-tro muito pequeno em que mesmo o públi-co tardou um pouco a chegar”, recorda valter hugo mãe. Quanto às pessoas que regressam a cada edição, acrescenta que, “se olharmos para a plateia ao longo dos anos, há muitas caras que se repetem de pessoas daqui”.

Rui Zink conta que vem “desde o segundo ano… desde 2000?” Confessa que hoje fica es-pantado porque “não há praticamente sessão que não esteja cheia. Nos primeiros anos era di-fícil motivar as pessoas”. E continua, lembrando que o bom ambiente faz com que as pessoas ve-nham e tragam amigos e experimentem a magia de poder conviver com os escritores.

Pedro Loureiro é fotógrafo da revista LER e está pelo segundo ano consecutivo no Correntes, de-pois de ter estado cá alguns anos atrás. Para Pe-dro, “é o ambiente que faz com que as pessoas voltem, e a descontracção com que podem estar aqui a conversar umas com as outras”. O fotógra-

fo considera que “o facto de até ser fora de um grande centro ajuda as pessoas a estarem mais juntas. E nestes três dias estão mesmo, e conver-sam, discutem ideias, falam sobre os seus livros… é único.” O encontro de escritores de expressão ibérica “é um espaço para [os leitores] ouvirem os escritores que lêem durante todo o ano”, arre-mata Pedro Loureiro.

Esta ideia traz-nos de volta à conversa com valter hugo mãe: “Já ouvi coisas incríveis, sessões, palestras mui-to interessantes e gosta-ria de as repetir. A cada ano há sempre mais uma coisa memorável”, assume o escritor. Não só nas mesas onde as ideias correm soltas, mas todo o encontro é um espaço para parti-lhar vivências e afec-tos entre pessoas com interesses em comum. “Há sempre casos in-críveis que as pessoas contam, muitos convi-

dados que cá vêm têm experiências únicas e são pessoas com mentes brilhantes e coisas incríveis para dizer às pessoas”, sublinha valter hugo mãe.

Episódios que se guardamCada um vive o Correntes à sua maneira. valter hugo mãe conta que aproveita estes dias para “caçar autógrafos, ver pessoas que admira muito, que influíram na sua formação enquanto escritor e enquanto ser humano”.

João Paulo Cuenca é um escritor brasileiro, autor de best-sellers e com dois livros publi-cados em Portugal. Sente um carinho especial pelo Correntes d’Escritas, “pelos amigos que se fazem, as relações que se criam, pelos whiskies que tomamos ontem no hotel”. Numa das mesas, confidenciou que ficou maravilhado quando veio ao encontro pela primeira vez: “e fiquei falando meses por causa do Correntes d’Escritas”.

O editor Luís Catarino relembra encontros que tiveram consequências para além do Correntes. “O último livro editado do Ricardo [Romero]

nasceu aqui. Chegou ao pé de mim uma tradu-tora, a Patrícia, que disse "é o editor que eu espe-rava encontrar para propor dois escritores argen-tinos”, conta-nos. Para Luís Catarino, o encontro é também especial pelas “conversas que para lá das mesas existem aqui e ali”.

Uma semana únicaO escritor argentino, Ricardo Romero, resume estes dias: “que linda é esta vida!” Estivemos lá e comprovamos: são dias únicos, estes que levam as pessoas a enraizarem-se na Póvoa e quererem voltar todos os anos, para rever amigos, aprender mais e levar um pouco disso tudo para a sua vida no resto do ano.O fotógrafo Pedro Loureiro acompanha as activi-dades e os escritores durante o encontro, e sen-te também esse efeito. “Fala-se o ano inteiro da semana que vai haver do Correntes d’Escritas”, explica, “foi incrível o que eu me lembrei disto o ano inteiro!”

O natural fenómeno da intertextualidade aparece assim potenciado: aquele que escre-ve, escreve também (e sempre) aquilo que leu. Quem participa no Correntes ouve e lê. Aprende e reflecte. Toda a produção que se seguirá estará contagiada pelo ambiente que se viveu no even-to: não só as ideias globais das conferências ou as conversas internacionais dos corredores, mas também a pronúncia do norte e o cheiro ao mar da Póvoa do Varzim.

Imperativo aparece, então, recomendar este evento aos leitores. Manuel Rui, na sua participa-ção no dia do encerramento, usou uma expressão, noutro contexto, que parece fazer todo o sentido em relação ao Correntes d’Escritas: "gaivotas que faziam de branco entre o azul do mar e o azul do céu". O Correntes, no panorama cultural literário português, parece desempenhar o papel destas mesmas gaivotas, destacando-se por uma bran-cura e um brilho que se entranham e se tornam familiares, que nos fazem querer mergulhar no mar, sem nunca tirar os olhos do céu. }

Quem gostar de livros, de ouvir pessoas a falar e a contar histórias, vai gostar de participarvalter hugo mãe