renovação cafeeira no oeste da bahia
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Renovação Cafeeira no Oeste da BahiaTRANSCRIPT
A RENOVAÇÃO CAFEEIRA NO OESTE DA BAHIA
Roberto Santinato – Pesquisador do MAPA/Procafé
Toda região cafeeira quando de sua abertura (novas fronteiras) e implantação,
passa, no inicio, por períodos de euforia e desânimo relativo, sendo posteriormente para
uma segunda fase de renovação e redução racional para a estabilização. Neste processo
são selecionados os produtores mais eficientes, ficando de lado os sonhadores,
extrativistas e inovadores inventivos, que vão contra o racional, como a cafeicultura super
adensada, uso de produtos milagrosos e tecnologias que supostamente quebram
paradigmas, que não são paradigmas mas sim a pura natureza regional.
Foi assim em são Paulo (Araraquarense, Alta Paulista, Alta Mogiana, etc.) e
Paraná nas décadas de 1940 e 1950, regiões que permitiam o extrativismo da lavoura em
função da fertilidade alta do solo e boas condições climáticas. Nos anos de 1970 e 1980 o
mesmo ocorreu nas novas fronteiras do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba, Capelinha e
outras. Estas, sem a possibilidade de extrativismo pela baixa fertilidade e também por
condições adversas alternadas de clima, como a necessidade de irrigação e outras
técnicas de manejo.
Mais recentemente, a partir do inicio dos anos de 1990, as novas fronteiras
abertas foram as áreas denominas “quentes”, como o Nordeste e Noroeste de Minas,
Leste de Goiás e o Oeste da Bahia. Nestas regiões o entusiasmo inicial foi exorbitante
com produções iniciais altíssimas, superando tetos de 70 a 80 sacas beneficiadas por
hectare. Posteriormente, com o envelhecimento das lavouras e os preços não atrativos
(40 a 50 dólares por saca), além da multiplicação exponencial dos custos (insumos e
mão-de-obra), teve inicio certo desânimo, o qual os cafeicultores reverteram basicamente
com a renovação das lavouras.
No Oeste da Bahia, há 22 anos o pioneiro João Barata, com o apoio do extinto
IBC, iniciou o processo de implantação da cafeicultura irrigada na região. Depois vierem
outros como a Agronol, Ricardo Garcia Leal, Jacó Lauck, Poleto, etc., e a cafeicultura foi
crescendo e chamando a atenção nacional pelas altas produtividades, que até hoje
perduram nas lavouras bem conduzidas e renovadas.
Mais recentemente, juntaram-se novos produtores como a Agribahia, agricultores
de Santa Rita do Sapucaí e outros Paulistas, Mineiros, etc., totalizando plantios de
18.995,8 hectares, como pode ser observado no Quadro 1. Destes, foram erradicados
3.684,4 hectares em função de diversas razões, como mudança de atividade,
desvalorização do produto no mercado, sub uso das tecnologias necessárias à região,
entras outras.
Quadro 1: Evolução da Cafeicultura no Oeste da Bahia (até dezembro de 2009)
ANOS Plantio anual
Erradicação anual
Evolução do plantio,
subtraído da erradicação (área atual)
Evolução da erradicação anual (ha)
1994 100,00 0,00 100,00 0,00
1995 292,00 0,00 392,00 0,00
1996 1.139,40 0,00 1.531,40 0,00
1997 879,30 0,00 2.410,70 0,00
1998 1.743,50 0,00 4.154,20 0,00
1999 2.167,00 0,00 6.321,20 0,00
2000 3.346,40 0,00 9.667,60 0,00
2001 3.643,00 107,00 13.203,60 107,00
2002 846,00 262,00 13.787,60 369,00
2003 394,80 1.088,00 13.094,40 1.457,00
2004 694,00 0,00 13.788,40 1.457,00
2005 913,00 455,00 14.246,40 1.912,00
2006 487,00 468,00 14.265,40 2.380,00
2007 881,40 224,00 14.922,80 2.604,00
2008 634,00 680,40 14.876,40 3.284,40
2009 835,00 400,00 15.311,40 3.684,40
Balanço 18.995,80 3.684,40 Var. 19,4%
Fonte: Abacafé/Aiba
Paralelamente, através da Aiba, com apoio físico da Agronol, Poleto, etc., e
posteriormente em outras fazendas, vários trabalhos de pesquisa (publicados no CBPC
de nº 24 ao 32) nos deram suporte, juntamente com outras pesquisas em regiões
similares.
Na Cafeicultura Irrigada, de nosso conhecimento em regiões quentes, a grande
vantagem é a velocidade fisiológica no crescimento vegetativo e produtivo, propiciando
nas seis primeiras safras de 300 a 400 sacas/ha, enquanto que nas regiões tradicionais,
em lavouras boas, é de 150 a 200 sacas/ha, conforme detalhes do Quadro 2. Ou seja,
produz em oito safras o que levaria 16.
Quadro 2: Resultados de 108 Pivôs em regiões quentes com lavouras produtivas. PRODUTIVIDADE MÉDIA DE REGIÕES QUENTES (Todos os meses do ano maior que 19º)
1º BIENIO (1ª e 2ª SAFRA) MIN = 59,3 MAX = 71,4
2º BIENIO (3ª e 4ª SAFRA) MIN = 43,8 MAX = 61,3
3º BIENIO (5ª e 6ª SAFRA) MIN = 39,4 MAX = 49,2
TOTAIS 280 a 360 sc
INFORME – PROCAFÉ CAMPINAS – SP/ MG = 51 sc/ha
Evidentemente têm-se percalços e essa produtividade não é regra geral, mas
bastante viável. A partir da 7ª e 8ª safras, pelo “envelhecimento” precoce (crescimento em
altura e ramos laterais), há necessidade de podas, notadamente o decote alto, como por
exemplo, no Quadro 3.
Quadro 3: Um exemplo de cafeicultura irrigada em área quente, com poda média - 02 pivôs (200 ha) MÉDIA DAS 6 PRIMEIRAS SAFRAS a) 49,7
COM DECOTE b) 31,8
SEM DECOTE c) 27,7 SAFRA 8º
C/DECOTE d) 68,3
S/DEDCOTE e) 30,6
TOTAL DA SAFRA a) C/Decote 50,1 b) S/Decote 28,9
Fonte: MAPA/ Procafé Campinas-SP
Analisando a cafeicultura na região Oeste da Bahia existem de 20 a 30% da
mesma necessitando de renovação e aperfeiçoamento de tecnologia, abandonado alguns
modismos e quebrando falsos paradigmas. Um exemplo local de relevância é a Fazenda
do cafeicultor Ricardo Leal, dono do Pivô mais velho em condução na região, com 15
anos. Ricardo iniciou sua renovação com poda há três anos através da recepa baixa de
25/30cm e repovoamento, conseguindo 23 sacas na catação, 57 sacas na primeira
produção, 73 sacas na terceira produção pós a poda e espera-se 60 para a próxima safra,
conforme imagem 1.
Imagem 1: Registro da poda e cenário atual
Este exemplo precisa ser seguido urgentemente, seja com a recepa, decote,
esqueletamento ou outras podas de renovação totais ou parciais, ou até mesmo
erradicação seguido de novo plantio. Cada caso é um caso e o produtor não deve
esquecer das tradicionais e confirmadas técnicas sempre eficientes da calagem
(dolomitica), adubação (orgânica, química e foliar) de macros e micros, tratos
fitossanitários (notadamente Bicho Mineiro e Cercosporiose), além da Ferrugem, Phoma e
Ascochita.
Por último, cabe ao produtor ver para crer e crer para fazer, não ouvindo ou
implementando pseudas técnicas revolucionárias. Sugerimos então que para iniciarmos a
renovação cafeeira do Oeste da Bahia tenhamos que ter:
1º) Levantamento real das condições de cada lavoura da região;
2º) Levantamento das pesquisas realizadas na região e sua utilização;
3º) Levantamento de pesquisas realizadas em região similares e aplicáveis no Oeste da Bahia;
4º) Levantamento de sugestões e conseqüentes ações para procedimento de novas pesquisas regionais;
5º) Busca de incentivos financeiros para pesquisas, visado avaliar as soluções tecnológicas para a realidade local;
6º) Divulgação do potencial da cafeicultura da região Oeste da Bahia.