relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

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FACULDADE DE AGRONOMIA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA AGR 99003 - ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO MAURÍCIO MOLLINETTI COPAT 00147403 VINHOS SALTON S/A INDÚSTRIA E COMÉRCIO PORTO ALEGRE, NOVEMBRO DE 2010

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Page 1: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

FACULDADE DE AGRONOMIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA

AGR 99003 - ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

MAURÍCIO MOLLINETTI COPAT

00147403

VINHOS SALTON S/A INDÚSTRIA E COMÉRCIO

PORTO ALEGRE, NOVEMBRO DE 2010

Page 2: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE AGRONOMIA

AGR 99003 – ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

Maurício Mollinetti Copat

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR

OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

Orientador do Estágio: Engenheiro Agrônomo Agliberto Bianchi

Tutor do Estágio: Professor Paulo Vitor Dutra de Souza

COMISSÃO DE ESTÁGIOS:

Prof.(a): Lúcia Brandão Franke – Depto. De Plantas Forrageiras e

Agrometeorologia (Coordenadora)

Prof.: Paulo Henrique de Oliveira – Depto. de Plantas de Lavoura

Prof.(a): Mari Bernardes – Depto. de Zootecnia

Prof.: Lair Ferreira – Depto. de Horticultura e Silvicultura

Prof.: Elemar Antonino Cassol - Depto. de Solos

Prof.: Josué Sant’Ana – Depto. de Fitossanidade

Prof.: Fábio de Lima Beck – Núcleo de Apoio Pedagógico

PORTO ALEGRE, novembro de 2010.

Page 3: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

APRESENTAÇÃO

Este relatório consiste na descrição das informações referentes à realização do

estágio supervisionado da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul, realizado na Vinhos salton S/A Industria e Comércio, localizada no

distrito de Tuiuty, em Bento Gonçalves. Tendo a orientação do Engenheiro Agrônomo

Agliberto Bianchi.

A instituição escolhida se caracteriza por estar entre as maiores vinícolas do

Brasil e apresentar tradição em vinhos, sucos e espumantes, nos seus 100 anos de

fundação. Nos últimos anos a Vinhos Salton investiu muito na qualidade de seus

produtos, assim como na busca de tecnologias inovadoras tanto na parte agrícola quanto

na parte enológica. Esse fato foi de fundamental importância na escolha do local do

estágio.

Este trabalho é resultado do acompanhamento feito junto aos fornecedores de

uva, vivenciando a realidade enfrentada e o trabalho em uma grande vinícola da região,

com ênfase na safra de 2010.

I

Page 4: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

SUMÁRIO

ITEM PÁGINA

1- INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1

2- Descrição do meio físico do município de Bento Gonçalves.............................. 2

2.1 - Clima..................................................................................................................... 3

2.2 – Solos e Relevo......................................................................................................3

2.3 – Aspectos sócio-econômicos...............................................................................4

3 – Caracterização da instituição da realização do estagio....................................5

4 – Revisão Bibliográfica...........................................................................................7

5 - Atividades Realizadas.........................................................................................10

5.1 - Visitas técnicas aos fornecedores de uvas e avaliação da qualidade....................10

5.1.1 - Pragas e doenças...........................................................................................12

5.1.1.1 - Traça-dos-cachos da videira Cryptoblabes gnidiella.................................13

5.1.1.2 - Míldio Plasmopara viticola......................................................................14

5.1.1.3 - Podridão da uva madura Glomerella cingulata..........................................15

5.1.1.4 - Podridão ácida..........................................................................................16

5.2 - Orientação de desfolha........................................................................................17

5.3 - Programa Valore.................................................................................................18

6 – Conclusão.................................................................................................................20

7 - Analise Crítica.......................................................................................................21

8 – Referências Bibliográficas...................................................................................22

9- Sites Consultados...................................................................................................24

II

Page 5: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Mapa da localização do município de Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul............2

Figura 2. Localização da Vinhos Salton.........................................................................................5

Figura 3. Fachada da Vinhos Salton...............................................................................................6

Figura 4. Imagem dos tanques da Vinhos Salton...........................................................................6

Figura 5. Distribuição da precipitação pluviométrica na safra 2010, em Bento Gonçalves..........9

Figura 6. Sistema de descarga rápida no recebimento da uva......................................................12

Figura 7. Qualidade fitossanitária da variedade Teroldego..........................................................13

Figura 8. Traça-dos-cachos, lagarta alojada no interior do cacho da uva merlot.........................14

Figura 9. Míldio Plasmopara viticola..........................................................................................15

Figura 10. Sintomas e sinais de Glomerella na uva merlot..........................................................16

Figura 11. Podridão Ácida na uva Merlot....................................................................................17

Figura 12. Desfolha no sistema de condução latada, na variedade Moscato...............................18

Figura 13. Desfolha na variedade Cabernet Sauvignon da Vinhos Salton...................................18

III

Page 6: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

1

1 - Introdução

A vitivinicultura no Rio Grande do Sul teve a origem ligada fortemente a sua

colonização. Seu desenvolvimento, em especial na Serra Gaucha, está relacionada a

identidade do imigrante italiano, que a partir 1875 deu início à colonização agrícola do

nordeste do estado, trazendo consigo as primeiras mudas de videira e o elemento

tradicional de sua cultura, o vinho (Azevedo, 1979).

Hoje, o setor vitivinícola no Rio Grande do Sul apresenta grande importância

econômica e social e envolve um grande volume de negócios. A área plantada com

videira no Brasil, segundo os dados IBGE (2004), é de 59.838 hectares, sendo que

40.351 hectares estão localizados na Serra do Nordeste gaúcha. Vale ressaltar que o

estado concentra 90% do volume total de vinhos finos produzidos no país (Brasil,

2000).

O grande avanço nos últimos anos da indústria vinícola, caracterizado por altos

investimentos nessa área, proporcionou o reconhecimento nacional e até mesmo

internacional. Motivados também por um mercado interno com potencial para consumo

de vinhos finos.

A Vinhos Salton S/A Indústria e Comercio é uma das principais vinícolas do

Brasil, contribuindo muito para o desenvolvimento e crescimento da vitivinicultura

nacional. Localizada no distrito de Tuiuty, em Bento Gonçalves, estado do Rio Grande

do Sul, é a empresa que apresenta o maior faturamento bruto no setor. Devido ao

interesse por fruticultura e o objetivo de adquirir e aprimorar os conhecimentos,

vivenciando a realidade de trabalho, o estagiário optou por realizar o estágio junto à

parte agrícola da Vinhos Salton.

O estágio curricular obrigatório foi realizado no período de 9 de janeiro de 2010

a 4 de março de 2010, totalizando 400 horas, onde pode-se acompanhar todo o

andamento da safra 2010. Junto a equipe de Engenheiros Agrônomos e Técnicos

Agrícolas, foi possível aprender e esclarecer de forma prática as dúvidas em todo o

processo de produção, manejo e entrega, das diversas variedades de uvas para o

processamento. Além das questões técnicas específicas para se produzir vinhos,

espumantes e sucos de qualidade.

Page 7: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

2 – Descrição do meio físico do município de B

A formação administrativa do município de Bento Gonçalves

Estadual n.º 474, de 11 de outubro de

que correspondia as colônias de Dona Isabel e Conde d'Eu. A sua instalação verificou

se no dia 23 do mesmo mês

(Paris, 2009).

O nome dado representa a homen

Silva, presidente da República Rio

de 1892, a instalação do primeiro conselho municipal, sendo que, pelo Decreto

311, de 2 de março de 1938, a sede municip

2009).

O município de Bento Gonçalves está localizado na Encosta Superior da Serra

do Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul entre as coordenadas 29 º 10'17 " de

latitude Sul e 51 º 31'09" de longitude Oeste

aproximadamente 125 Km de Porto Alegre, capital

área de 383 quilômetros quadrados com uma população de aproximadamente 107 mil

habitantes (IBGE 2007). Ao

com Garibaldi e Farroupilha, ao leste com Farroupilha e Nova Roma do Sul e ao oeste

com Cotiporã, Monte Belo do Sul e Santa Tereza.

Figura 1. Mapa da localização de Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul. Fonte: Wikipédia

Descrição do meio físico do município de Bento Gonçalves

dministrativa do município de Bento Gonçalves

stadual n.º 474, de 11 de outubro de 1890, desmembrada de São João de Montenegro,

que correspondia as colônias de Dona Isabel e Conde d'Eu. A sua instalação verificou

se no dia 23 do mesmo mês, com a sede municipal localizando-se em Dona Isabel

O nome dado representa a homenagem ao chefe farroupilha Bento Gonçalves da

Silva, presidente da República Rio grandense. A organização data de 24 de novembro

do primeiro conselho municipal, sendo que, pelo Decreto

311, de 2 de março de 1938, a sede municipal foi elevada a categoria de cidade

O município de Bento Gonçalves está localizado na Encosta Superior da Serra

stado do Rio Grande do Sul entre as coordenadas 29 º 10'17 " de

latitude Sul e 51 º 31'09" de longitude Oeste de Greenwich (Figura 1). A

aproximadamente 125 Km de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul

área de 383 quilômetros quadrados com uma população de aproximadamente 107 mil

Ao norte, Bento Gonçalves limita-se com Veranópolis, ao sul

com Garibaldi e Farroupilha, ao leste com Farroupilha e Nova Roma do Sul e ao oeste

com Cotiporã, Monte Belo do Sul e Santa Tereza.

Figura 1. Mapa da localização de Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul. Fonte: Wikipédia

2

dministrativa do município de Bento Gonçalves se dá pelo Ato

1890, desmembrada de São João de Montenegro,

que correspondia as colônias de Dona Isabel e Conde d'Eu. A sua instalação verificou-

se em Dona Isabel

agem ao chefe farroupilha Bento Gonçalves da

randense. A organização data de 24 de novembro

do primeiro conselho municipal, sendo que, pelo Decreto-lei n.°

al foi elevada a categoria de cidade (Paris,

O município de Bento Gonçalves está localizado na Encosta Superior da Serra

stado do Rio Grande do Sul entre as coordenadas 29 º 10'17 " de

de Greenwich (Figura 1). A distância de

do Rio Grande do Sul. Possui uma

área de 383 quilômetros quadrados com uma população de aproximadamente 107 mil

se com Veranópolis, ao sul

com Garibaldi e Farroupilha, ao leste com Farroupilha e Nova Roma do Sul e ao oeste

Figura 1. Mapa da localização de Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul. Fonte: Wikipédia, 2010.

Page 8: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

3

2.1 - Clima

O clima da região da Serra do Nordeste gaúcha é dita como Cfb, segundo a

classificação de Koppen, apresentando temperaturas moderadas ao longo do ano com

verão ameno e boa distribuição de chuvas. Esse tipo climático apresenta precipitação

total anual de 1.538mm (média do período 1961-1990), sendo a temperatura média nos

meses mais quentes de janeiro e fevereiro inferior a 19,5 °C e a dos meses mais frios,

junho e julho, com temperaturas inferiores a 10,5 °C.

A partir dos dados meteorológicos coletados na estação agroclimática da

Embrapa Uva e Vinho, o município de Bento Gonçalves apresenta temperaturas

mínimas e máximas de -4C e 36°C, temperaturas médias anuais que variam entre 15 e

23 °C. E a precipitação média anual é de 1.500 mm.

A área urbana de Bento Gonçalves está situada a 618 metros de altitude,

enquanto em torno do município a área rural, incluindo o vale dos vinhedos, tem a

variação de altitude com predomínio na faixa de 500 a 700 metros (Falcade & Mandelli,

1999). O efeito mais importante na altitude é a temperatura, podendo compensar a

latitude, já que 100 metros de elevação representam ao redor de 0,6 °C na temperatura

do ar.

2.2 – Solos e Relevo

A geologia da área de estudo faz parte da Formação Serra Geral sendo

composta por basaltos, riolitos e ridacitos, formados por vulcanismo mesozóico

classificado como bimodal, representado por composição básica e ácida (Nardy et al.,

2002). A combinação do clima, com o material de origem e o relevo, de acordo com a

declividade, interferiu a velocidade do intemperismo transcorrido. Assim, se definiu a

formação dos solos rasos ou profundos.

O relevo local apresenta-se desde suave ondulado até montanhoso, a

geomorfologia é na forma de patamares intensamente dissecados e fragmentados com

vales encaixados (Falcade & Mandelli, 1999).

Segundo Spigolon (2002), no município ocorre o predomínio de Cambissolos e

Neossolos Litólocos. Por estar na unidade de mapeamento corresponde a Farroupilha e

Caxias (Streck et al., 2002), possuindo grande heterogeneidade topográficas, geológicas

Page 9: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

4

e climáticas citadas anteriormente, também ocorre Argissolos e Chernossolos, porém

em menor porção.

2.3 – Aspectos sócio-econômicos

A identidade da Serra Gaúcha teve forte influência a partir de 1875 com o

processo de colonização italiana. Nessa região, construíram um espaço caracterizado

pela policultura, principalmente com o cultivo de milho, feijão, trigo, batata, uva e

criação de pequenos animais e gado de leite. Com o passar dos tempos, o excedente da

produção passou a ser comercializado nos centros urbanos maiores.

O imigrante italiano, afeiçoado à viticultura por tradição e por vocação,

obrigatoriamente viria a cultivar a videira em sua terra, como já o haviam feito os

imigrantes que se estabeleceram em outras regiões da América e da Ásia. As

primeiras mudas de videiras, para iniciar o cultivo, foram adquiridas ao descerem a

serra em direção as cidades colonizadas por alemães de São Sebastião do Caí e

Montenegro, para levar seus produtos e buscar suprimentos (Azevedo, 1979).

Em 1967, Bento Gonçalves passa por uma grande transformação, considerada

um marco histórico. A colaboração de dinâmicas lideranças e a ajuda de toda a

comunidade, surge a I Fenavinho, a Festa Nacional do Vinho. O município foi visitado

pela primeira vez por um Presidente da República, o Marechal Humberto de Alencar

Castelo Branco. O principal produto e a força da economia de Bento Gonçalves foram

divulgados em todo o Brasil, tornando a cidade conhecida nacional e

internacionalmente. O município descobre a sua vocação para o turismo de negócios

(Paris, 2009).

Hoje, o município de Bento Gonçalves se caracteriza por ser um dos mais

desenvolvidos economicamente do Estado do Rio grande do Sul, a economia está nas

mais diversas atividades, como: setores metalúrgicos, alimentício, têxtil, artefatos de

couro e borracha, artes gráficas e o setor de plásticos. Porém as indústrias de móveis e

as empresas vinícolas ainda são as principais responsáveis pela base econômica. Bento

Gonçalves é a capital Brasileira da Uva e do Vinho e o maior e mais expressivo pólo

moveleiro do Estado.

A vitivinicultura representa a terceira maior economia, com 12,39% de

participação no mercado (IDESE, 2002). Atualmente são 36 grandes vinícolas

instaladas no município que produzem mais de 127 mil toneladas de uva e 91 milhões

Page 10: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

5

de litros de vinho. No município existem também 335 indústrias moveleiras registradas,

que geram mais de 10 mil empregos diretos e indiretos.

Segundo o IDESE de 2002, é o sétimo município com as melhores condições de

vida no Estado. Sua população rural é em torno de 9%, no entanto, é muito importante

para economia do município, pois direto ou indiretamente está ligada a maioria das

indústrias locais.

3 – Caracterização da instituição da realização do estagio

Localizada na Serra Gaúcha, município de Bento Gonçalves, a Vinhos Salton

S/A foi formalmente fundada em 1910, quando os irmãos Paulo, Ângelo, João, Cezar,

Luiz e Antônio Salton, deram cunho empresarial aos negócios do pai, o imigrante

Antonio Domenico Salton, que vinificava informalmente, como a maioria dos

imigrantes italianos. Os irmãos passaram a se dedicar à cultura de uvas e à elaboração

de vinhos, espumantes e vermutes, com a denominação Paulo Salton & Irmãos, no

Centro de Bento Gonçalves.

Quase um século depois, a Salton é reconhecida como uma das principais

vinícolas do país e, na extensa lista de conquistas nesses 100 anos de história,

comemorando o fato de ser familiar, e 100% brasileira. A matriz da Salton está

localizada no distrito de Tuiuty, cerca de 12 Km do centro de Bento Gonçalves, (Figura

2) onde se produz anualmente aproximadamente de 8 milhões de litros de vinho, 5

milhões de litros de espumante e 2 milhões de litros de suco (Figura 3). Na sua filial,

localizada na cidade de São Paulo, produz um dos produtos principais da linha, o

Conhaque Presidente, líder de vendas em vários Estados, sendo vendidos em média 24

milhões de garrafas por ano.

Figura 2. Localização da Vinícola Salton. Fonte: Vinhos Salton

Page 11: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

6

Figura 3. Fachada da Vinhos Salton. Fonte: Vinhos Salton

Nos últimos anos, foi investido o que existe de mais moderno em equipamentos

enológicos no mundo. A Salton apresenta um armazenamento total de aproximadamente

20 milhões de litros de vinho em aço inox (Figura 4), mais certa de 500 mil litros em

barricas de carvalho para suportar a entrada de todas as variedades de uvas até o final da

safra. Conta com cerca de 600 fornecedores de uva parceiros, sendo que 35 localizam-se

na região da campanha. A empresa também tem vinhedos próprios na região do Vale

dos Vinhedos e Santana do livramento, totalizando 100 hectares.

Figura 4. Imagem dos tanques da Vinhos Salton. (Bento Gonçalves, 15/01/2010).

O departamento agrícola, é composto por 2 Engenheiros Agrônomos e 1 Técnico

Agrícola, sendo estes responsáveis pela busca de qualidade nos vinhedos próprios e nos

vinhedos dos produtores, além de serem difusor de tecnologia para os produtores. Em

Page 12: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

7

2000, iniciaram testes para o cultivo de mudas próprias, visando fornecer também aos

produtores, em um viveiro de 10 hectares instalado em Nova Prata por questões

fitossanitárias, sendo esta uma região isolada de outros parreirais. Hoje a vinícola faz

parte da Agaprovitis ( Associação Gaucha de produtores de Mudas), produzindo mudas

certificadas.

A evolução da empresa nos últimos anos também se deve graças aos

investimentos realizados, destacando-se entre as empresas que possuem a tecnologia

mais avançada no setor, a qual permite a continuidade da qualidade dos seus produtos,

que são conhecidos e consumidos nacionalmente. Assim, com muito trabalho e foco nos

objetivos, nesses 100 anos de fundação, firmou-se como uma das maiores vinícolas do

país.

4 – Revisão Bibliográfica

A “Serra gaucha” apresenta como a maior região vitícola Brasileira responsável

por mais de 90% da produção nacional de vinhos e derivados, por esse motivo a real

importância da vitivinicultura no Estado do Rio Grande do Sul (Brasil, 2000). O clima,

por meio de seus elementos, condiciona vários aspectos na cultura da videira, seja para

consumo “in natura” ou na produção de vinhos, sendo fator preponderante na duração

do ciclo, na qualidade do produto, na fitossanidade e na produtividade da videira

(Sentelhas, 1998).

A videira pode ser cultivada em quase todas as partes do mundo, salvo em locais

que as condições heliotérmicas e hídricas não permitem que ela vegete e possa

amadurecer as uvas. As condições meteorológicas exercem grande influência sobre o

comportamento da videira e interferem diretamente na produção e qualidade da uva.

Estabelecer o comportamento da cultura frente as condições do ambiente , em especial o

clima, são necessários para o planejamento do cultivo (Westphalen, 1977).

Existem cinco regiões consideradas aptas pelo zoneamento agroclimático para a

produção de uvas para vinhos finos no Brasil (Tonietto e Falcade, 1994). Três são no

Rio Grande do Sul - Serra Gaucha, Campanha e Serra do Sudeste - uma em Santa

Catarina , na região de São Joaquim, e outra entre a Bahia e Pernambuco, no vale

submédio do São Francisco. Assim compreende a vasta latitude, desde 8 graus até 32

graus. O zoneamento da videira européia para o Rio Grande do Sul considera como

região preferencial, regiões que apresentam mais de 500 horas de frio abaixo de 7 °C ,

Page 13: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

8

soma de calor efetivo menor que 2.300 graus-dia e índice hidrotérmico menor do que

50. Já para videiras americanas, foram consideradas como regiões preferenciais as que

apresentam mais de 100 horas de frio e índice heliopluviométrico maior que 2 (Rio

Grande do Sul, 1975). As condições climáticas podem apresentar grande influência

numa safra, mas tratando-se da qualidade das uvas e dos vinhos é fundamental levar em

consideração também, as condições de solo, manejo e produção dos vinhedos e

tecnologia de vinificação.

O Estado do Rio Grande do Sul foi identificado como tendo o melhor conjunto

de condições climáticas para a produção de vinhos finos a partir de variedades Vitis

vinifera. A região oeste fronteiriça com o Uruguai demonstra ser a região mais propícia

para produção de vinhos finos, por apresentar, durante o verão, umidade relativa inferior

a 73%, temperatura média do mês mais quente inferior a 24 °C e um número satisfatório

de horas de frio abaixo de 7 °C. De acordo com Westphalen (1977), o Rio Grande do

Sul contribui como a mais de 80% da produção nacional e , deste total, 80%

corresponde a produção de variedades americanas e 20% de Vitis vinifera.

O excesso de chuvas e a elevada umidade do ar influenciam negativamente o

teor de açúcar da uva e contribuem para o aumento da incidência de moléstias,

impedindo a maturação uniforme dos frutos (Westphalen, 1977). Segundo Rizzon &

Tonietto (1982) os mostos das uvas produzidas, nessas condições na “Serra Gaúcha”,

são pouco equilibrados, com baixos teores de açúcar e acidez elevada.

Mandelli (1984), ao analisar alguns índices bioclimáticos para a região de Bento

Gonçalves, RS, referentes ao período de 1965/78, afirmou que as condições térmicas e

de insolação foram adequadas para a videira e que ocorreu, na maioria dos anos,

excesso de precipitação, em comparação com outros países tradicionais produtores.

Na média dos anos, a concentração dos maiores períodos de chuva coincide com

o momento de dormência e com o início do desenvolvimento vegetativo da parreira.

Porém, a boa distribuição das chuvas ao longo do ano acaba sendo uma das maiores

limitações ao desenvolvimento da cultura na região, por implicar em problemas

fitossanitários, como ocorrido na safra de 2010 em comparação com a safra 2005 e a

normal climatológica (Dados médios do período de 1961 a 1990) (Figura 5). A safra

2005 foi caracterizada pela baixa quantidade de chuvas nos meses de Dezembro,

Janeiro, Fevereiro e Março sendo considerada muito boa pelos produtores e vinícolas,

devido a qualidade de uvas produzidas. Representando a precipitação, o fator na safra

Page 14: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

9

2010, que mais contribui nos gastos de manutenção dos parreirais, através do uso de

produtos fitossanitários, além da enorme perda de qualidade da produção.

Figura 5. Distribuição da precipitação pluviométrica (mm) nos anos de 2005 e 2010 nos meses de

novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março em Bento Gonçalves, RS. Fonte: Estação Agroclimática

da Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves 2010.

A uvas destinadas à produção de vinhos são colhidas segundo diferentes

critérios. Na Serra Gaúcha e na maioria dos países, o critério mais utilizado é o Grau

Glucométrico (teor de açúcar) devido a facilidade e qualidade do método. Isto porque o

teor de álcool no vinho advêm dos açúcares da uva pelo processo de fermentação, além

do álcool, outros compostos secundários são produzidos. O aumento no teor de açúcar

também está relacionado com características no vinho como os compostos aromáticos e

os compostos fenólicos (Ribichaud & Noble, 1990).

A medição do teor de açúcar na uva é uma das ferramentas para saber a provável

qualidade do vinho após sua elaboração. O grau glucométrico da uva é medido em

escala de graus BABO, que representa a quantidade de açúcar, em peso, existente em

100 gramas de mosto (caldo da uva), ou em escala de graus Brix, que representa o teor

de sólidos solúveis totais na amostra (%/ volume de mosto), 90% dos quais são

açúcares. Esta medida pode ser feita diretamente no vinhedo, com ajuda de um

equipamento chamado refratômetro.

Existem outros critérios para a medida da maturação da uva, e seu potencial de

produzir vinhos de qualidade. Entre eles pode-se citar os teores de ácidos, taninos e

antocianinas. Estes critérios também são adotados pelas vinícolas, porém em menor

escala, pois requerem mais tempo e somente são feitos em laboratório.

Page 15: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

10

Assim, o acompanhamento da maturação tecnológica (açúcares e acidez) da

maturação fenólica (extratibilidade e teor de antocianinas e taninos), complementando

por avaliações sensoriais constantes da uva, fornece informações suficientemente

precisas sobre o estágio de maturação e permite escolher a data de colheita, visando a

maior qualidade possível.

5 - Atividades Realizadas

No dia 11 de Janeiro de 2010, a Vinícola Salton abriu as portas para o início da

safra, com a expectativa de receber 18 milhões de quilos de uvas, incremento de 20%

sobre a safra 2009. Com um ano de dificuldades climáticas, especialmente em função

do excesso de chuvas a partir de novembro, constituiu-se num grande empecilho na

qualidade das uvas.

Um período crítico, e muito importante na qualidade da uva, é a formação do

fruto até o ponto de colheita, ou seja, todo o processo de maturação da uva. Com o

estágio abrangendo este período, pôde-se acompanhar os problemas fitossanitários

acarretados neste ano de clima propício. Também teve-se a oportunidade de

acompanhar o início do Valore, que é um programa de sustentabilidade realizado pela

Vinhos Salton junto aos produtores.

5.1 - Visitas Técnicas aos Fornecedores de uvas e avaliação da qualidade

Os produtores recebem acompanhamento de um Engenheiro Agrônomo

principalmente nos períodos de poda, adubação e colheita, sendo orientados a contatar a

equipe técnica da empresa caso tenham qualquer dúvida ou necessidade de orientação

durante todo o ano. No período em que se aproxima o ponto de colheita da uva, o

produtor da Salton é orientado a ligar para empresa e agendar uma visita do Engenheiro

Agrônomo. Assim sendo, se analisa toda a condição fitossanitária do vinhedo e a

quantidade de grau brix propícia para se conseguir atingir a meta imposta pela vinícola.

Dependendo da situação do vinhedo, opta-se por antecipar, atrasar ou até mesmo colher

em partes para se conseguir melhores resultados finais.

Durante o estágio a principal atividade realizada foi o acompanhando os

Engenheiros Agrônomos ou Técnicos Agrícolas na assistência técnica aos produtores de

uvas. Pode-se vivenciar os principais manejos adotados nos parreirais para atingir um

Page 16: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

11

programa de qualidade proposto pela vinícola. Caso o produtor não atenda os requisitos

impostos pelo Engenheiro Agrônomo, para se obter uvas de qualidade durante todo o

ciclo de produção, a vinícola poderá não receber a uva do produtor na época da colheita.

Se o produtor acatar as ordens do Engenheiro Agrônomo terá sempre sua uva recebida

pela vinícola, mesmo se as condições climáticas não forem propícias para se ter uvas de

qualidade.

No momento da colheita é levado em consideração o tempo da colheita e a

condição climática do momento. Busca-se colher em períodos secos, visando qualidade

fitossanitária e maiores quantidades de açúcar nas bagas. Os produtores são orientados

sempre a entregar a uva mais fresca possível, sendo assim, se colhidas pela manhã, à

tarde devem estar na vinícola. A maioria dos produtores tem suas próprias caixas,

porém a Salton tem cerca de 26.000 caixas para emprestar aos produtores que

necessitam, facilitando a rapidez da colheita. As caixas são vazadas para não acumular

água ou mosto, além do mais os produtores são orientados colocar no máximo 18 Kg

por caixa para que não ocorram problemas de pós-colheita, comprometendo a qualidade

da uva. Toda a uva é colhida e transportada nestas caixas para sua entrega, pois se

adaptam ao sistema de descarga rápida (Figura 6).

Figura 6. Sistema de descarga rápida no recebimento da uva (Bento Gonçalves, 16/01/2010).

Todas as uvas, antes de entrar na cantina, passam por outra autorização de

controle de qualidade sendo analisadas e classificadas de acordo com aspectos visuais,

como presença de partes vegetativas da videira e outras impurezas, presença de cachos

com podridões, e verdes. A Vinhos Salton faz o pagamento com base na tabela de

preços mínimos da Conab, porém reajusta a mais em forma de prêmio aos fornecedores

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que produzem com qualidade, sendo assim um estímulo aos produtores. Consideram-se

as melhores uvas, aquelas que apresentam qualidade fitossanitária, não apresentam

folhas junto aos cachos ou qualquer outro resíduo, assim como atingirem grau

glucométrico acima da média.

Passando por essa etapa, a carga era autorizada para realizar a pesagem e

posterior descarga. O descarregamento obedece a ordem de chegada, para a partir daí

ser separada de acordo com seu destino dentro da empresa.

As primeiras uvas a desembarcar na vinícola, em Bento Gonçalves, foram as

variedades Concord , BRS Violeta e Bordo, destinadas a elaboração de suco de uva.

Onde receberam cerca de 2,5 milhões de quilos destas frutas, incremento superior a 35

% sobre a safra anterior, isso devido grande demanda dos produtos neste ano.

As variedades brancas entre elas as principais Chardonnay e Pinot noir

destinadas a espumantes somaram em média oito milhões de quilos, o que vai ao

encontro da estratégia da empresa de se manter como a maior produtora de espumantes

do país e líder em sua comercialização nacional. Destacados também,as variedades

Moscato Giallo e Moscato Branco, que somaram 2,7 milhões de quilos, um a mais que

2009. Entre as tintas viníferas, a quantidade recebida foi de cerca de 3,5 milhões de

quilos. As principais variedades, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Shiraz e

Teroldego.

5.1.1 - Pragas e doenças

A quantidade excessiva de chuvas no período da safra 2010 fez com que vários

produtores perdessem parte das uvas. Em geral, nas visitas a campo, constatou-se cerca

de 20% menos quantidade de uva em relação ao ano de 2009. Os produtores que

buscaram ajuda técnica e cuidaram bem de seus vinhedos, fazendo tratamento quando

necessário, conseguiram uvas de excelente qualidade fitossanitária apesar do clima não

ser favorável. Como exemplo de qualidade, pode-se citar a variedade Teroldego colhida

nos vinhedos da vinícola localizados em Nova Prata (Figura 7), sendo esta uma

variedade para elaboração de vinhos finos.

Dentre as pragas e doenças que ocorreram nos vinhedos dos produtores da

Vinhos Salton na Serra Gaucha, no período do estágio, em função da severidade e

freqüência de ocorrência, destacaram-se a traça-dos-cachos da videira (Cryptoblabes

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gnidiella), míldio (Plasmopara viticola), podridões de cachos (Glomerella cingulata) e

podridão ácida.

Figura 7. Qualidade fitossanitária da variedade Teroldego. (Nova Prata 10/02/2010)

5.1.1.1 - Traça-dos-cachos da videira Cryptoblabes gnidiella

A traça-dos-cachos é um microlepidóptero cujas mariposas têm

aproximadamente 10 mm de comprimento e 22mm de envergadura, com coloração

predominantemente cinza. As lagartas têm coloração escura e, quando completamente

desenvolvidas, atingem cerca de 10mm de comprimento.

As lagartas alojam-se no interior dos cachos onde comem a casca do engaço e

das bagas, causando o murchamento e conseqüente queda das uvas (Figura 8). Os danos

causados por insetos praga que atacam os frutos resultam no extravasamento do suco

sobre o qual proliferavam bactérias causadoras da podridão ácida, reduzindo a qualidade

dos vinhos. O controle foi realizado na forma química através do uso de sumithion e

dipterex.

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Figura 8. Traça-dos-cachos, lagarta alojada no interior do cacho da uva Merlot.

(Bento Gonçalves, 20/02/2010)

5.1.1.2 – Míldio Plasmopara viticola

Míldio, também conhecido como mofo ou mufa, é causado pelo pseudofungo

Plasmopara viticola (Berk & Curtis) Berl. & de Toni e pode causar perdas de até 100%

na produção. No período do estágio foram observados poucos casos de incidência desta

doença, porém os produtores que não tiveram devidos cuidados principalmente com a

não aplicação de controle químico preventivo, perderam boa parte da produção.

As condições climáticas ideais para o desenvolvimento da doença são

temperaturas entre 18°C e 25°C e umidade relativa do ar acima de 60%. Essas

condições foram atendidas durante um longo período do estágio, sendo um fator

fundamental no estabelecimento da doença.

O patógeno afeta todas as partes verdes da planta. Nas folhas, inicialmente

aparecem manchas amareladas, translúcidas contra o sol, denominadas de “mancha de

óleo”. Em condições de alta umidade relativa, na face inferior da folha, sob a mancha de

óleo, observa-se um mofo branco que é a frutificação do pseudofungo (Figura 9). Em

seguida, o tecido foliar afetado necrosa e, quando o ataque é muito intenso, ocorre a

desfolha precoce da planta. Os cachos são atacados desde antes da floração até o início

da maturação.

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Figura 9. Míldio Plasmopara viticola. (Bento Gonçalves, 18/01/2010)

5.1.1.3 - Podridão da Uva Madura Glomerella cingulata

A podridão da uva madura causada por Glomerella foi uma das doenças que teve

incidência durante o período de estágio, as condições favoráveis ao seu

desenvolvimento são temperaturas entre 25°C a 30°C e alta umidade, ou seja,

condições climáticas propiciadas no ano de 2010. Epidemias desta doença começaram a

partir de mudanças por melhores padrões de qualidade do vinho, o que resultou em uvas

com melhor maturação (maior ºBrix), associadas a presença de condições climáticas

altamente favoráveis a infecção pelo patógeno e a suscetibilidade neste estágio

fenológico à doença.

A podridão da uva madura da videira é causada pelo fungo Glomerella cingulata

(Stonemam) Spauld & Schrenk, fase perfeita ou sexual de Colletotrichum

gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc., a fase imperfeita ou assexual.

Os sintomas iniciam-se quando pequenas manchas se espalham sobre a baga,

com o desenvolvimento de zonas concêntricas. A baga apodrecida torna-se densamente

coberta com numerosas pústulas cinza-escuras das quais, com tempo úmido, massas

rosadas de esporos são produzidas. Mais tarde, a massa de esporos torna-se escura

(marrom-avermelhada). (Figura 10).

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Figura 10. Sintomas e sinais de Glomerella na uva Merlot. (Bento Gonçalves 15/02/2010)

5.1.1.4 - Podridão Ácida

A podridão ácida foi a doença com maior incidência na realização do estágio,

provocando muitas perdas na qualidade como na quantidade da uva produzida.

Ferimentos nos frutos, chuvas em excesso próximo ao período de colheita e adubação

nitrogenada em excesso favoreceram o estabelecimento dos patógenos. As uvas com

podridão ácida comprometem muito a qualidade do vinho, por isso a vinícola orienta os

produtores a colher somente as uvas que não apresentam podridão.

A polpa se decompõe, o suco começa escorrer pelo ferimento (Figura 11) no

qual iniciou a podridão e contamina as bagas vizinhas. Após o escorrimento do suco, as

bagas secam e escurecem, permanecendo aderidas ao pedúnculo. Nos cachos doentes,

observa-se a presença da mosca Drosophila, responsável pela disseminação dos

microorganismos. Uma das características da podridão ácida é o odor de vinagre

proveniente do ácido acético produzido pelas bactérias. Períodos quentes e chuvosos

quando as uvas estão na fase de maturação, com teor de açúcar acima de 8%, favorecem

a ocorrência da podridão ácida.

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Figura 11. Podridão Ácida na variedade Merlot (Bento Gonçalves 25/02/2010).

5.2 - Orientação de desfolha

Esta atividade é bem difundida pelos técnicos da empresa junto aos produtores, e

tem como principais objetivos: aumentar a temperatura, a insolação e a aeração na

região dos cachos ; melhorar a maturação e coloração das bagas; reduzir a incidência de

podridões e favorecer o controle químico com a penetração dos fungicidas nos cachos

das uvas.

A desfolha é realizada no período da maturação e recomenda-se que seja feita no

lado leste, caso as fileiras se encontram no sentido Norte-Sul, tendo em vista que o sol

pode danificar os frutos se atingir nas horas mais quentes. Importante salientar que

deve-se ter cuidado, pois se for inadequada pode comprometer a atividade fotossintética

da planta.

Em vinhedos no sistema de condução latada (Figura 12) a desfolha é feita em

torno do cacho e juntamente com a poda verde tem sentido de proporcionar a entrada do

sol e um melhor arejamento. No sistema em espaldeira (Figura 13) a desfolha também é

realizada somente na região dos cachos.

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Figura 12. Desfolha no sistema de condução latada, na variedade Moscato (Bento Gonçalves 17/01/2010).

Figura 13. Desfolha na variedade Cabernet Sauvignon da Vinhos salton (Bento Gonçalves 27/02/2010).

5.3 - Programa Valore

Durante o período de estágio, também foi possível acompanhar o início de um

Programa de Certificação Internacional promovido entre a Vinhos Salton e a empresa

Bayer CropScience. Foram selecionados 50 fornecedores de uva para fazer parte do

programa.

O programa Valore parte do princípio de sustentabilidade dos viticultores com o

cumprimento de princípios básicos como adoção de boas práticas agrícolas,

preocupação com o meio ambiente, e a segurança dos trabalhadores. Seguindo o

produtor, viabiliza a conquista dos selos de Globalgap, certificação de segurança

alimentar e comércio justo.

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A certificação Valore garante que a produção é segura, obedece a legislação

vigente, segue boas práticas agrícolas, respeita o meio ambiente e a sociedade. O

objetivo do programa é agregar valor a cadeia produtiva fazendo com que os

agricultores produzam de forma sustentável.

Page 25: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

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6 - Conclusão

Este estágio foi muito importante para se adquirir experiência técnica e

presenciar o ambiente de trabalho de uma grande empresa, conseguindo entender

melhor como funciona o setor vitivinícola.

O estudante teve a oportunidade de experimentar a extensão agrícola e ter o

contato com a realidade de trabalho diariamente, permitindo entender a relação entre a

empresa

Vinhos Salton com seus fornecedores de matéria prima. O estágio também permitiu

entender as dificuldades do trabalho de extensão e a forma com que o profissional deve

interagir com os produtores.

Em relação a cultura da videira pode-se refletir sobre o clima , o solo e a cultura,

levando em consideração uma região tradicional em viticultura, havendo um grande

enriquecimento dos conhecimentos. Além de estar com profissionais bem capacitados, o

estagiário conseguiu acompanhar criteriosamente a melhor forma de se produzir uvas de

qualidade.

É importante também citar, e se pode comprovar, que o trabalho em equipe

proposto pelo departamento agrícola, quando em pleno funcionamento e bem articulado,

gera resultados muito satisfatórios, estimulando ainda mais o estudante de agronomia a

seguir nessa área.

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7 - Analise Crítica

Durante o período de estágio fui muito bem recebido por todos na vinícola,

tendo todo o suporte necessário quanto as condições de trabalho. Os técnicos do

departamento agrícola da empresa foram muito receptivos, sempre buscando orientar o

estagiário, esclarecendo possíveis dúvidas ou questionamentos. O estagiário teve a

oportunidade de fazer muitas saídas a campo, conseguindo visualizar na prática o

trabalho do Engenheiro Agrônomo.

Em geral, observou-se nas saídas a campo que os fornecedores mais antigos da

Vinhos Salton, que obtém a maior renda da viticultura, apresentam excelente qualidade

de vida e boas condições econômicas, demonstrando na prática que a empresa valoriza

o produtor. É evidente o envolvimento da vinícola em projetos de sustentabilidade,

sendo que os Agrônomos da empresa visivelmente estão condicionados a ajudar,

notando-se que o produtor tem um papel fundamental no sucesso da empresa.

Outro fator relevante é que a empresa se preocupa muito com a questão

ambiental, possui um tratamento de efluentes, e toda água dentro da empresa é

reutilizada, quando não é possível, a água é descartada em condições apropriadas, não

poluindo o meio ambiente.

Foi possível observar que o Departamento Agrícola da empresa não conseguiu

suprir a demanda de trabalho no período máximo da safra, ou seja, período em que os

produtores buscaram mais ajuda técnica, demonstrando que é necessária a contratação

de mais mão-de-obra técnica, pelo menos no período que maior demanda de trabalho.

Page 27: Relatório de estágio curricular obrigatório supervisionado

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8 – Referências Bibliográficas

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