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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA RELATÓRIO FINAL PIBIC 2006/2007 AFRICANOS ENTRE AÇORIANOS: ROTAS DO TRÁFICO ATLÂNTICO E IDENTIDADE ÉTNICA AFRICANA NO LITORAL CATARINENSE (1750 – 1888) BOLSISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SIMONI MENDES ORIENTADORA BEATRIZ GALLOTTI MAMIGONIAN Sub-projeto FÉ E LIBERDADE NA IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, DESTERRO 1799 – 1830. FLORIANÓPOLIS, AGOSTO DE 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

RELATÓRIO FINAL

PIBIC 2006/2007

AFRICANOS ENTRE AÇORIANOS: ROTAS DO TRÁFICO ATLÂNTI CO E IDENTIDADE ÉTNICAAFRICANA NO LITORAL CATARINENSE (1750 – 1888)

BOLSISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICASIMONI MENDES

ORIENTADORABEATRIZ GALLOTTI MAMIGONIAN

Sub-projeto

FÉ E LIBERDADE NA IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROS ÁRIO, DESTERRO 1799 – 1830.

FLORIANÓPOLIS, AGOSTO DE 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

RELATÓRIO FINAL

BOLSISTA: SIMONI MENDES

ORIENTADORA: BEATRIZ GALLOTTI MAMIGONIAN

FLORIANÓPOLIS, AGOSTO DE 2007.

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ÍNDICE

1. RESUMO.....................................................................................................................................................42. INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................5

2.1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................................62.2. JUSTIFICATIVA...............................................................................................................................152.3. OBJETIVOS......................................................................................................................................15

3. MATERIAIS E MÉTODOS.....................................................................................................................164. RESULTADOS FINAIS...........................................................................................................................185. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................................216. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................................227. ANEXOS...................................................................................................................................................24Grafico1.........................................................................................................................................................25Grafico2 ........................................................................................................................................................25Grafico 3 .......................................................................................................................................................26Tabela 1 ........................................................................................................................................................26Tabela 2 ........................................................................................................................................................26Tabela 3 ........................................................................................................................................................27Tabela 4 ........................................................................................................................................................27Tabela 5 ........................................................................................................................................................27Tabela 6 ........................................................................................................................................................27Tabela 7 ........................................................................................................................................................28Tabela 8 ........................................................................................................................................................28Tabela 9 ........................................................................................................................................................28Tabela 10 ......................................................................................................................................................29Tabela 11 ......................................................................................................................................................29Tabela 12 ......................................................................................................................................................29Tabela 13 ......................................................................................................................................................30

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1. RESUMO

Este é o relatório final da pesquisa, que faz parte do projeto Africanos no Sul do Brasil: Rotas do Tráfico eIdentidade Étnica Africana no Litoral Catarinense (1750 – 1888), coordenado pela Profª Dra. Beatriz GallottiMamigonian. Este trabalho pretendeu adentrar em mais um ramo pouco explorado pela historiografia catarinense,que é a religiosidade dos escravos e libertos, através da participação na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, deDesterro. Visamos desmistificar a idéia de que a irmandade era um local no qual os escravos e libertos poderiamreviver sua cultura africana, e mostrar que a instituição era muito mais que isso, era um espaço de sociabilidade doescravo no novo mundo. Pretendemos entender como funciona a irmandade, qual a importância na vida social deseus membros, e sobretudo analisar a participação dos libertos dentro da Irmandade do Rosário de Desterro.

PALAVRAS CHAVE : Libertos, escravos, irmandade, religiosidade, Desterro.

Pesquisadora de Iniciação Científica: Simoni MendesRua Cristo Rei, 2645 -Barreiros, São José – SC. CEP: 88.113 –420.

Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Gallotti Mamigonian.

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2. INTRODUÇÃO

As irmandades surgiram no século XII, na Europa, eram grupos de pessoas que se

reuniam em nome de uma determinada santidade, e buscavam auxiliar os pobres e membros que

delas participavam. Tinham a intenção de se entregar às práticas e virtudes cristãs, com espírito

de responsabilidade coletiva pelo bem-estar do próximo. As irmandades formadas apenas por

negros surgiram na Península Ibérica, no século XV.1

Desde a formação da colônia portuguesa até os tempos de Império, o Brasil tem grande

número das chamadas confrarias e irmandades que visavam aglomerar, no âmbito religioso,

leigos interessados nesse envolvimento cristão, porém, sem ter que se dedicar exclusivamente a

Igreja. A irmandade muitas vezes cumpria seu papel em locais em que até mesmo a igreja não

chegava, mostrando-se como uma opção para a população que buscava um contato com a

religião. A participação nas irmandades era regida por normas descritas nos seus Compromissos,

que identificavam e limitavam o grupo que delas participavam, e expunham regras de seu

funcionamento.

No Brasil fundaram-se Irmandades para agregar os africanos e crioulos que eram

proibidos de freqüentar as igrejas ditas dos brancos, as irmandades negra de maior destaque se

organizavam em torno da devoção a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Além desta

devoção, tiveram destaque também aquelas a Santa Efigênia e a São Benedito, que geralmente

utilizavam o altar lateral da Igreja do Rosário e outras vezes se constituíram em irmandades

separadas. Foram inúmeras as irmandades do Rosário espalhadas pela colônia, com destaque para

Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia.

A Irmandade era sobretudo um local de auxílio mútuo, no qual era possível e preciso

praticar a caridade. De cada membro era cobrado uma taxa, pré-estabelecida no Compromisso da

Irmandade; essa taxa ficava a cargo do tesoureiro da Irmandade e desse cofre é que saía o

dinheiro para ajudar os necessitados, principalmente os membros da Irmandade, quando estes

passavam por alguma necessidade financeira. O auxílio ia desde socorrer algum membro como

também dar a eles a oportunidade de um enterro digno e pomposo, cheio de honrarias, prática

esta muito cobiçada na época. Além das importâncias já descritas acima, uma das principais delas

era sem dúvida dar a alguns membros a oportunidade de deixar a vida de cativeiro para trás e

ingressar na vida livre. Segundo Célia Borges, “as confrarias auxiliavam aos seus associados em

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diversas circunstâncias: nas doenças, nos infortúnios cotidianos, na pobreza e na partida para as

peregrinações”.2

Na Vila de Nossa Senhora do Desterro, pode-se identificar a fundação de 11 irmandades,

sendo que a maioria delas proibia a participação de escravos e libertos. Dessa forma, a Irmandade

de Nossa Senhora do Rosário, fundada em 1750, surgiu como o destino para esse grupo excluído,

firmando-se como uma irmandade exclusiva para africanos e crioulos. As questões defendidas e

praticadas na Irmandade podem ser conferidas nos compromissos da Irmandade, sendo o

primeiro deles, que se tem noticia, foi regulamentado em 1807 e o segundo em 1841.3

Neste projeto, o estudo se concentrou sobre a participação de libertos na Irmandade do

Rosário de Desterro. O estudo desse grupo oferece um novo ângulo de analise no papel das

Irmandades, principalmente no que diz respeito à composição social e relações internas dos

grupos integrantes.

2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para a compreensão da dinâmica da escravidão no Brasil, inicialmente partimos de

leituras de trabalhos da nova historiografia sobre a escravidão, como os de Barickman, com seu

estudo a respeito da diversidade das atividades econômicas e posse de escravos no Recôncavo

Baiano, Stuart Schwartz, que traz uma análise sobre a sociedade escravista e a hierarquia entre os

escravos, além de Manolo Florentino e João Fragoso, que analisaram o dinamismo da economia

colonial na virada do XVIII para o XIX. Para entrar mais no tema do projeto, consideramos

necessário ler um dos mais detalhados e ricos estudos publicado recentemente sobre a escravidão,

a obra de Mary Karasch4.

1 RUSSELL-WOOD, AJR. Escravos e Libertos no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Civilizações, 2005, p. 191.2 BORGES, Célia. Escravos e Libertos nas irmandades do Rosário, Devoção e Solidariedade em Minas Gerais –Século XVIII e XIX. Minas Gerais: Ed. UFJR, 2005, p. 45.3 MORTARI, Cláudia. Os Homens Pretos do Desterro. Um estudo sobre a Irmandade de Nossa Senhora doRosário (1841-1860). Dissertação de Mestrado em História: Pontifícia Universidade Católica – RS, 2000, p., 30 e 33.4 KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro, 1808-1850 São Paulo: Companhia das Letras,2000.

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Nessa obra, a autora faz um amplo e diversificado estudo sobre a escravidão na cidade do

Rio de Janeiro, Karasch detalha a experiência escrava na cidade na metade do século XIX,

mostrando desde a comercialização de novos escravos, as ocupações e funções desenvolvidas, as

doenças que sofriam, os castigos e causas da morte, até as formas de alcançar a tão sonhada

alforria. Como fonte primária, Karasch utiliza um leque de documentos, como registros notariais,

registros eclesiásticos, censos, petições, casos jurídicos, correspondências oficiais, testamentos,

mais registros da Santa Casa de Misericórdia.

Em virtude da proposta dessa pesquisa, nos detemos mais nas observações de Karasch a

respeito da religiosidade e dos libertos, objetos centrais desse estudo. A autora coloca a devoção

religiosa como elemento importante para o status social, explicando que o status do escravo

estava diretamente ligado ao status social de seu senhor, e que o catolicismo era a norma, mostra

que crianças escravas de uma família de elite, por exemplo, possuíam uma maior mobilidade

social, em virtude da posição na hierarquia social que seu senhor ocupa. Para movimentar-se na

hierarquia social, o escravo poderia participar de duas instituições: as Forças Armadas e a Igreja

Católica. Ainda assim haviam limitações, como ela descreve “escravos negros e mulatos podiam

participar apenas como leigos e membros de irmandades religiosas; somente os nascidos livres e

legítimos podiam entrar para o sacerdócio.”5

Além dessa restrição dentro da Igreja Católica, as Irmandades de negros ainda tinham que

aceitar a hierarquia correspondente às irmandades, que eram divididas em grau de importância,

primeiro vinham as irmandades de brancos, seguidas pela de pardos e, por fim, a irmandade de

negros.

Quando adentramos no tema específico desse projeto, tivemos contato com a obra do

pesquisador Russell-Wood6, sem dúvidas, um estudo de muita importância sobre a escravidão, no

qual o autor faz uma grande síntese, incluindo no seu estudo diversos temas pertinentes à

escravidão no Brasil colonial, dispensando um capítulo para a abordagem do tema irmandade, e

um outro sobre os libertos, também utilizado para essa pesquisa.

No que concerne as irmandades, Russel-Wood prende-se mais a explicar o funcionamento

desta e o papel dela na sociedade, sempre se centrando nas Irmandades de negros e pardos. Sobre

esse funcionamento, vemos descrição de como eram organizadas e compostas as mesas que

5 Ibidem, p. 130.6 RUSSELL-WOOD, AJR. Escravos e Libertos no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Civilizações, 2005.

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comandavam as irmandades. Essas mesas eram constituídas por membros eleitos anualmente, a

forma como esta eleição ocorria é que poderia mudar de acordo com o compromisso da

Irmandade, no entanto, o mais comum era que não havia reeleição, apenas o atual eleito poderia

indicar três candidatos para a próxima eleição, o que ocasionaria uma oligarquia. A mesa era

constituída pelo presidente, escrivão, tesoureiro e alguns irmãos, e o rei e rainha que eram

coroados na festa de reis do Rosário.

Sobre o papel social da irmandade, Russell-Wood chama atenção para o papel da mulher

dizendo que “as mulheres pertencentes à irmandade tinham um papel vital e essencial na

prestação de serviços sociais aos irmãos atingidos pela doença ou pela pobreza”7. É dessa forma

que a irmandade presta seu papel social, auxiliando seus membros em momentos de desespero,

por meio de empréstimos financeiros, comparados pelo autor como casas de câmbio, bem como

auxílio na pobreza, emprestando moradia e dando alimentos, cuidando da doença, e até mesmo

emprestando dinheiro para que esses membros pudessem se tornar livres, devolvendo a quantia

quando conseguissem ganhar dinheiro com o suor do seu trabalho livre.

O dinheiro fornecido para tais ajudas vinha do cofre da irmandade, no qual se armazenava

o dinheiro arrecadado de cada membro anualmente, e no momento da adesão à irmandade. Desta

forma, o auxílio que a irmandade era capaz de fornecer ocorria de acordo com o número de

membros que essa irmandade possuía. Para o autor, as irmandades de negros e mulatos eram

quase sempre as mais precárias, arrecadando sua renda através de contribuições, finanças e

donativos.

No estudo sobre a Irmandade do Rosário, um estudo bastante significativo devido a sua

riqueza de detalhes foi a obra de Célia Borges8. A autora busca discutir vários temas relativos as

irmandades do Rosário no Brasil, mostrando o histórico dessas irmandades, com esclarecimentos

sobre funcionamento, organização e a importância desta na vida de seus membros.

Célia Borges relata que a difusão da Irmandade do Rosário é atribuída a Ordem dos

Dominicanos, que em 1475, segundo registros, formou a primeira confraria do Rosário na cidade

de Colônia, na atual Alemanha. No Brasil, essa difusão foi realizada por conta dos jesuítas, que já

no inicio do século XVI, por iniciativa do padre José de Anchieta, fundou em São Paulo a

7 Ibidem, p. 208.8 BORGES, Célia. Escravos e Libertos nas irmandades do Rosário, Devoção e Solidariedade em Minas Gerais –Século XVIII e XIX. Minas Gerais: Ed. UFJR, 2005.

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primeira irmandade dedicada ao culto de Nossa Senhora do Rosário no Brasil, para abrigar a

religiosidade dos negros, que como já foi mencionado, não podiam freqüentar as igrejas dos

brancos.

Esse estudo quebra a teoria de que as irmandades eram locais em que africanos se reuniam

para cultuar seus deuses da religião africana, dita pagã, um local para esconder sua verdadeira

opção religiosa e reviver a terra-mãe. Pelo contrário, a autora coloca que a irmandade era um

local que possibilitava uma certa inserção social no mundo dos brancos, cultuando a mesma

religião, podendo participar de uma instituição comum à vida dos seus senhores. “[...] nenhuma

outra instituição terá talvez expressado tão nitidamente os contornos dessa sociedade local, seus

conflitos, articulações e solidariedade”9, ou seja, Dentro do âmbito das irmandade havia

distinções baseadas nos dos critérios de classificação da sociedade: cor, etnias, origem social;

todas essas questões colocadas pela sociedade, eram vividas dentro da instituição, mostrando que

a irmandade era muito mais do que uma entidade religiosa.

Apesar de apontar as irmandades como uma forma de participação social, a autora mostra

que a cultura trazida da África não foi totalmente abandonada, explicando que quase sempre

esses escravos se apropriaram da religiosidade católica como bem lhes conveio: “Os negros no

processo de interação com a cultura dos grupos dominantes tenderam a assimilar o cristianismo a

partir de suas necessidades, conservando-se fiéis às suas lógicas culturais”10. Assim, a irmandade

não era uma válvula de escape, mas também não era uma plena adesão da cultura branca, era sim

um local onde foi possível associar suas antigas crenças às novas, onde escravos enfrentavam os

traumas do cativeiro com algum conforto espiritual.

Apesar de trabalhar com as irmandades de Minas Gerais, sobre as quais descreve as

constantes interferências do alto clero, que ameaçados pelo crescimento dessas instituições de

leigos impuseram em alguns Concílios certa resistência, Célia Borges também apresenta um

estudo de muita utilidade para a compreensão do funcionamento dessa instituição, pois apesar de

haver diferenciação de uma para outra em virtude do compromisso adotado, todas tinham uma

espécie de estrutura comum.

Outro aspecto que buscamos abordar por meio de leituras, foi a das manifestações

culturais realizadas no âmbito das irmandades, na forma de festas organizadas por seus membros,

9 Ibidem,p. 59.10 Ibidem, p. 133.

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que mais do que uma diversão, significavam uma maneira de “adorar” sua santa de proteção e

reforçar laços entre os membros. Para tanto, li o estudo etnográfico que Patrícia Brandão Couto

(2003)11, no qual a autora acompanha diariamente os quatro dias da Festa de Nossa Senhora do

Rosário na cidade mineira de Bom Despacho, uma festa contemporânea, mas que busca manter a

tradição da festa realizada pelos negros na Irmandade do Rosário.

Nesse estudo, Couto faz uma análise da simbologia desse rito organizado pelo congado,

grupo cultural responsável pela organização da festa, formado por membros da Irmandade do

Rosário, no qual destacam-se dois planos: as práticas coordenadas pela instituição religiosa, ou

seja, a Igreja Católica, e a importância pessoal dessa festa para cada um dos membros,

considerada por eles como uma expressão cultural, na qual é possível relembrar seus

antepassados e fundadores da irmandade, os escravos africanos.

O funcionamento dessas festas ocorre da seguinte forma: a escolha dos dias em que ocorre

a festa é feita por cada irmandade, sem haver um dia, ou período para as festas de Rei Congo. O

fato é que os ritos são comandados por membros da irmandade divididos em grupos chamados

ternos, como os congados, moçambiques, catopés, entre outros. Esses grupos são os responsáveis

pelo momento mais esperado da festa, que ocorre quando chamados um a um na Igreja, os grupos

carregando suas respectivas bandeiras, promovem a subida dos mastros, rito em que se pede a

benção do santo a ser festejado. Os grupos eram divididos em ternos, no qual os membros se

agrupavam de acordo com a etnia, os ternos mais conhecidos são o de congos e o de

moçambiques.

De acordo com Patrícia Couto essas festas foram muitas vezes, ao longo de sua história,

proibidas pela Igreja Católica, e apontadas como sendo uma manifestação da cultura africana

dentro dos limites da Igreja, até mesmo os congados foram vistos como feiticeiros e bêbados12.

Mesmo com essa recriminação, a festa sobreviveu, sendo ainda hoje realizada como meio de

relembrar e reviver o que seus antepassados escravos sofreram na dura vida de cativo, e continuar

ainda hoje, buscando a proteção de seus padroeiros.

O tema que associa irmandades à conquista da liberdade foi abordado tanto por Russell-

Wood quanto por Maria Inês Cortes de Oliveira13.

11 COUTO, Patrícia Brandão. Festa do Rosário: Iconografia e Poética de um Rito. Niterói: Ed. EdUFF, 2003.12 Ibidem, p. 59.13 OLIVEIRA, Maria Inês Cortes de. O Liberto: o seu mundo e os outros: Salvador 1790 / 1890. Salvador:Corrupio, 1988.

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Os autores fazem análises parecidas sobre esse momento peculiar na vida de um escravo,

o momento em que o indivíduo passa da condição de propriedade de uma determinada pessoa,

para ser dono de si mesmo. Ambos buscam mostrar esse caminho percorrido até o momento em

que adquiriram a carta de alforria, mostrando os meios para que se chegue nela, e o que isso

influenciaria na sua vida após a liberdade.

Maria Inês de Oliveira nos faz concluir que a vida do escravo na condição de liberto

dependia diretamente da vida que tinha em cativeiro, uma vez que a atividade executada pelo

escravo lhe possibilitava ter uma vida boa ou ruim após a liberdade, chamando atenção para o

fato de que o liberto jamais chegaria à condição de livre.

A autora atribui importância à irmandade na vida desse liberto, principalmente no

momento da morte, já que era ela que oferecia um funeral decente para seus membros. A vontade

do morto quase sempre foi atendida graças à existência, em alguns casos, de testamentos; “[...] o

objetivo dos testamentos entre os libertos não era apenas o de organizar a herança de seus bens,

mas, sobretudo dar providências quanto à realização de seus funerais”14.

Além da questão funerária, as irmandades também tinham papel importante no momento

da conquista da carta de alforria, muito embora, em virtude de seu cofre empobrecido não fosse

possível auxiliar seus membros na conquista da liberdade tanto quanto ambicionavam. Russell-

Wood ainda coloca que a irmandade tinha o poder de interceder por seu membro quando o

proprietário deste se recusava a conceder a carta de alforria. Sobre a ajuda financeira, Russell-

Wood coloca o seguinte:

É impossível fazer qualquer avaliação, em termos de númerosconcretos, do impacto das irmandades de negros e mulatos napromoção da alforria de seus membros; mas, em vista dos recursosfinanceiros limitados destas organizações, é improvável que onumero de beneficiados excedesse dois ou três a cada ano. Em seusobjetivos, contudo, estas irmandades foram precursoras coloniaisdas sociedades de manumissão pós-independência.15

Sobre a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da vila de Desterro, temos poucos

estudos, porém, tivemos a oportunidade de ler a tese de mestrado de Cláudia Mortari (2000)16.

Apesar de trabalhar com um período posterior ao período analisado nessa pesquisa, podemos usar

14 Ibidem, p. 88.15 Russel-wood, op Cit. p. 6816 MORTARI, Cláudia. Os Homens Pretos do Desterro. Um estudo sobre a Irmandade de Nossa Senhora doRosário (1841-1860). Dissertação de Mestrado em História: Pontifícia Universidade Católica – RS, 2000.

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seu estudo para entendermos o funcionamento dessa irmandade, quem dela fazia parte, suas

questões e crises interiores.

No decorrer da sua dissertação, Cláudia Mortari cita seu Trabalho de Conclusão de Curso,

no qual ela tenta questionar Oswaldo Cabral, que afirma ser a Irmandade do Rosário um espaço

de resistência das populações africanas de Desterro. Cláudia afirma que não, que a irmandade era

muito mais que uma válvula de escape, atribui a ela uma importância social, na qual era possível

estabelecer estratégias de solidariedade e assistência mútua, mostrando que a irmandade, como

toda instituição social, era um local que envolvia pessoas de várias procedências e condições

sociais, refletindo os conflitos existentes na sociedade.

É e sobre esses conflitos o argumento central da tese. Nela, a autora analisa um

documento encontrado no arquivo da irmandade, que retrata um conflito entres os membros

relatado pelo escrivão. O conflito em questão se deu entre “pretos” e “pardos”. Tudo começou

quando os pardos conseguiram autorização da Igreja Matriz para estabelecer sua imagem em um

altar lateral dentro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A partir de então, teve início uma série

de conflitos na mesa diretora da irmandade, uma vez que essa se encontrava dividida entre os

crioulos da Irmandade de Nossa Senhora do Parto dos Irmãos Crioulos, os pardos, e os pretos do

Rosário. Os irmãos pretos acreditavam que os crioulos e pardos estavam querendo “roubar” o

direito que os pretos tinham de dirigir a irmandade por já estarem lá há muito tempo.

O que chama a atenção nessa abordagem de Cláudia Mortari é tornar público um conflito

tão peculiar dentro da irmandade, mostrando que as relações dos pretos com os pardos nem

sempre eram pacíficas, que eles não eram um único grupo, e sim muitas vezes, opositores.

Um outro estudo de Cláudia Mortari17 foi utilizado nessa pesquisa parar a compreensão

das relações sociais definidas pelos libertos de Desterro, trata-se da tese de doutorado da autora.

Nesse estudo, Mortari aborda as vivencias de africanos escravos e libertos em Desterro, entre

1788 – 1850, apontando a existência de vínculos familiares que possibilitavam uma reinvenção

das identidades africanas.

O trabalho teve por objetivo pontuar, valorizar e analisar esses vínculos formados por

africanos, que serviam como elemento diferenciador entre os cativos, além de facilitar o caminho

na conquista pela liberdade. Para tanto, a autora utilizou-se de registros de batismos de Desterro,

17 MORTARI, Cláudia. Os africanos de uma vila portuária no sul do Brasil: criando vínculos parentais ereinventando identidades – Desterro, 1788 –1850. Tese de doutorado em História: Pontifícia Universidade Católica –RS, 2007.

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do fim do século XVIII e início do XIX, além de documentos oficiais da Câmara Municipal de

Desterro, da Capitania e da Província, carta de alforria e relato de viajantes.

O casamento entre escravos era permitido pela Igreja, condicionado ao cumprimento das

Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia de 1720, no qual se declarava que o

proprietário do escravo não poderia impedir a união deste com uma mulher de qualquer condição

jurídica. De acordo com os registros de batismos, nos quais é possível constatar a união e a

procedência dos pais da criança, os africanos forros tendem a relações endogâmicas, ou seja,

buscam unir-se a alguém que possua a mesma procedência que a sua, que pode ser visto como

um critério de escolha na hora de contrair matrimônio.18

É comum também, entre os libertos, encontrar-se membros de outras localidades

batizando filhos em Desterro, o que aponta, segundo a autora como uma forma de exercer essa

nova liberdade, procurando libertar-se de sua antiga condição, ou seja “a liberdade de escolha

estendida a todas as questões da vida”19.

No que diz respeito ao compadrio, criado a partir do batismo este, é visto por Mortari

como uma forma de se criar laços afetivos de proteção e de ajuda mútua, o que era visto pela

Igreja como firmação de laços espirituais. O apadrinhamento de adultos recém-chegados da

África é possivelmente realizado a partir de uma escolha do proprietário, já que o africano não

possuía ninguém com quem tivesse interesse de firmar vínculos afetivos, no entanto, essa escolha

que pode ser por antigos escravos da propriedade pode ser de grande ajuda parar esses recém-

chegados, uma vez que são esses padrinhos que vão lhes ensinar o trabalho, a nova língua, entre

outros.

Já entre as crianças, a escolha do padrinho cabia aos pais, era comum que os escravos

buscassem pessoas livres ou forras, alguém que pudesse lhes ajudar com algum auxílio

financeiro, ou até comprar a alforria da criança, como pode ser visto em alguns registros, o que se

chama de alforria na pia batismal.

Em uma das análises que a autora faz a partir de registros de batismo, conhecemos a vida

de Francisco de Quadros, um africano forro que batizou 27 crianças. O que mais nos interessa na

vida de Francisco, no entanto, é sua participação ativa na Irmandade do Rosário em Desterro: o

18 Ibidem, p. 118.19 Ibidem, p. 120.

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liberto foi Juiz da Irmandade por três vezes, Irmão da Mesa por doze vezes, Procurador da

Irmandade e Procurador de Caridade por duas vezes.

Francisco participou ativamente da Irmandade de 1829 a 1850, tendo provavelmente

participado do conflito firmado por conta do Compromisso de 1842, no qual os africanos não

poderiam ser eleitos pra juízes. Francisco de Quadros faleceu em 1853, e na condição de membro

da Irmandade, recebeu pompas no enterro e inúmeras missas foram rezadas em seu nome, como

era de praxe acontecer quando um membro da Irmandade falecia.

O que é importante constatar com esse estudo de Cláudia Mortari é como esses africanos

criaram seus vínculos familiares e reinventaram suas identidades em um outro contexto, com uma

realidade tão contrária a que eles viviam na África. Fazendo escolhas, lidando com incertezas,

mas mais do que tudo, buscando um caminho para chegar a maior vitória de suas vidas: a

liberdade.

Por fim, vimos o estudo de Mariza Soares20 a respeito da organização dos grupos étnicos

de escravos e libertos, em uma terra totalmente diferente da sua terra-natal. Essa diferença étnica

por vezes envolve conflitos, no interior das Irmandades. Nesse trabalho especifico, Soares trata

do conflito ocorrido entre pretos minas na Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia, no Rio

de Janeiro do século XVIII.

De acordo com a autora, as Irmandades se organizam de forma que possam regulamentar

a entrada de seus membros segundo a cor e as nações africanas, o que ao longo do tempo acaba

criando nessas instituições grupos contrários, que leva muitas vezes ao processo de segmentação

dos membros, em novos grupos de novas devoções.

A Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia é constituída por africanos de língua gbe,

da Costa dos Escravos, o seu compromisso deixa claro que a Irmandade aceitava moçambiques,

minas e africanos da região de São Tomé, todos divididos por grupos étnicos e cada um no seu

devido lugar. Não era permitida a participação de Angolas ou crioulos. Devido ao número maior

de representantes, os minas controlavam a Irmandade.

O crescimento significativo da Irmandade, formada por diferentes grupos leva a

constantes desentendimentos; o mais grave conflito ocorreu entre os membros da Congregação

dos Minas, a maior de todas dentro da Irmandade, levando a cisão do grupo com a formação de

20 SOARES, Mariza. Devotos da Cor: Identidade étnica, religiosidade e escravidão. Rio de Janeiro, CivilizaçãoBrasileira, 2000.

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dois novos grupos, os mahis e os dagomés. Cria-se assim dois grupos opostos que

constantemente entram em atrito nas questões de poder, já que ambos desejam esse poder visando

que um de seus representantes seja eleito rei.

A principal questão nesse estudo é sem dúvida a questão étnica que envolve o mundo do

africano, e de que forma ela se manifesta nessa nova vida, mostrando também que as irmandades

enquanto instituições que agregam esses diferentes grupos também acabam se constituindo como

local de negociações das identidades étnicas.

2.2 JUSTIFICATIVA

O estudo da religiosidade entre os escravos, mais precisamente nas irmandades, mostrou-

se como um novo caminho a ser trilhado na história social da escravidão em Santa Catarina. São

inúmeros os trabalhos realizados a respeito desse tema por todo o Brasil, no entanto, em Santa

Catarina, esse campo, bem como outros temas da história da escravidão, se mostra seriamente

defasado.

Segue-se a linha proposta pelo “Projeto Africanos entre açorianos”, que visa desmistificar

várias tradições apresentadas pelos antigos historiadores catarinenses, no que concerne a

participação do escravo, principalmente o africano na sociedade catarinense. Nessa pesquisa

especificamente buscamos analisar a participação dos libertos, principalmente africanos, nesse

âmbito religioso, buscar compreender as experiências vividas nesse tipo de instituição.

2.3. OBJETIVOS.

Neste trabalho visamos explorar um tema da história da escravidão de Santa Catarina, que

é o contraste no envolvimento religioso de libertos e escravos africanos em relação a crioulos.

Em virtude da leitura de diversas obras referentes ao tema nas grandes vilas do Brasil

colonial e imperial como no caso de Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro, podemos fazer uma

análise mais profunda no que concerne as razões para a existência dessas instituições. E

juntamente com essas informações, confrontá-las com a realidade da Irmandade de Nossa

Senhora do Rosário, em Desterro.

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Estudos sobre as demais regiões do Brasil são vastos, porém quando tratamos de Santa

Catarina mais uma vez nos confrontamos com escassos trabalhos, entre os trabalhos mais antigos

temos a obra de Oswaldo Cabral, porém com análise defasada. Novos historiadores têm iniciado

novos trabalhos sobre este tema, no entanto, quase todos se encontram em andamento ainda, essa

nova análise vem se formando na atual historiografia catarinense, bem como as amplas

discussões que vem ocorrendo no cenário catarinense no que concerne a um novo olhar sobre a

escravidão no sul do Brasil.

Além da falta de estudos sobre o tema, ainda é possível se deparar com um outro

problema, que é a fragmentação da documentação e suas lacunas. Esse estudo vem para ajudar a

contar a história os africanos do Rosário de Desterro através de documentos eclesiásticos, dessa

vez adentrando também no mundo dos libertos.

3. MATERIAIS E MÉTODOS.

No presente trabalho nos propomos a reconstruir a composição social dos integrantes da

Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, na vila de Desterro, e parar isso utilizamo-nos de fontes

primárias e secundárias. Entre as fontes primárias utilizamos os livros de óbitos de livres e de

escravos, ambos disponíveis no Arquivo Histórico Eclesiástico de Santa Catarina, além da

documentação transcrita da Irmandade, cedida por Cláudia Mortari Já para um auxílio teórico,

servimos-nos de fontes secundárias como livros publicados, teses e artigos.

Os livros de óbitos se dividiam em livros de escravos e livros de livres, e nos últimos foi

possível destacar os libertos falecidos nesse período. Para os libertos foram utilizados os

seguintes livros: Livro 2 (1799 – 1804), livro 3 (1805 – 1816) e livro 4 (1816 – 1830). Quanto

aos escravos, foi utilizado o livro 1 (1799 – 1834).

Além da documentação eclesiástica, tivemos contato também com os Mapas

Populacionais de Desterro para os anos de 1812, 1813 e 1814, do acervo da Biblioteca Nacional

nos possibilitando mostrar uma fotografia da população deste período.

Inicialmente foi feita uma pesquisa superficial nesses livros de óbitos de livres, que estão

disponibilizados no Arquivo Histórico Eclesiástico de Santa Catarina, visando observar se seria

possível encontrar registros dos libertos dentro desses livros identificados como “livres”. Visto

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que esses registros procurados de fato existiam naqueles volumes, foi iniciado o processo de

transcrição dos óbitos, e assim começou-se a fazer o levantamento dos óbitos a partir de 1794,

data do primeiro livro disponível para pesquisa. A busca pelos óbitos foi feita, pois uma vez que

os falecidos que integravam as irmandades em geral se faziam enterrar na igreja ou cemitério das

irmandades e este registro consta nos assentos de óbito. Sendo assim, os falecidos sepultados na

Igreja do Rosário tinham grande probabilidade de ser membro da Irmandade.

Uma vez transcritos, os assentos foram colocados em tabelas de excel para a preparação

do banco de dados que seriam comparados com os óbitos de escravos. Esses óbitos de escravos,

por sua vez, já haviam sido transcritos e colocados nas tabelas durante o trabalho coletivo na

disciplina Laboratorio de Pesquisa em História Social da Escravidão, e encontram-se disponíveis

no Laboratório de História Social do Trabalho e da Cultura, no Centro de Filosofia e Ciências

Humanas, da UFSC.

A ida a campo, no caso o Arquivo Histórico Eclesiástico trouxe alguns percalços, sendo

que durante três meses o arquivo foi fechado para reforma, dificultando assim o andamento da

pesquisa. Os livros também em alguns momentos nos foram um problema, já que a péssima

conservação dos documentos nos obrigou a deixar alguns livros de lado, como no caso do livro

de livres referente aos anos de 1830 a 1850, uma vez que a proposta inicial era fazer um recorte

de 1799-1850, para que houvesse uma observação das mudanças no perfil dos libertos antes e

depois da proibição do tráfico em 1831.

No decorrer do relatório vão aparecer algumas observações necessárias para um melhor

entendimento do texto. Por exemplo, a denominação “crioulos presumíveis”, criada para

categorizar as crianças de até 10 anos de idade que não apresentavam em seu registro a

procedência, uma vez que pelas circunstâncias foi possível acreditar que elas não eram africanas

e sim, presumivelmente, crioulos.

O banco de dados dos assentos de libertos encontra-se em arquivo próprio e do orientador,

que poderão ser utilizados por futuros pesquisadores.

As fontes secundárias utilizadas foram estudos recentes a respeito de Irmandades, com

importantes obras sobre essa instituição em todo o Brasil mostrando o papel social, as realizações

e o significado delas na vida desses escravos e libertos. Além das irmandades, utilizamo-nos de

materiais sobre os libertos, sua integração social após a alforria e o meio com que esta foi

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18

adquirida, para que no presente estudo fosse possível aliar esses fundamentos teóricos e entender

a participação do liberto dentro do funcionamento da irmandade.

4. RESULTADOS FINAIS

A partir dos dados levantados durante a pesquisa no Arquivo Eclesiástico de Santa

Catarina, foi possível reunir dados significativos acerca da população escrava e liberta de

Desterro nas primeiras décadas do século XIX. Os dados foram divididos em três momentos

(1799 - 1808 / 1809 – 1819 / 1820 – 1830) para facilitar a análise, comparar os resultados com o

passar dos anos e observar mudanças demográficas decorrentes de alterações no fluxo do tráfico

atlântico.

Em primeiro lugar, buscamos observar o percentual de libertos falecidos dentro da vila de

Desterro, e podemos acompanhar uma queda nesse percentual, já que entre 1799 – 1808, temos

um número de 6% de libertos dentre o total dos falecidos, na década seguinte esse percentual cai

para 4%, seguido de 2%, entre os anos de 1820 – 1830. Observando os gráficos 1, 2 e 3, vemos o

número anual de falecidos, no qual, é possível perceber uma queda bastante significativa do

número de registros de óbitos de libertos, mantendo-se os livres com um número de falecidos

quase que constante, e os escravos despontando para um crescimento gradativo.

Quando isolamos os óbitos de libertos e escravos adultos, e buscamos dividi-los de acordo

com a origem de seus membros, vemos um índice bastante significativo de crioulos libertos no

primeiro período analisado. Dos óbitos de libertos ou escravos, 16% eram libertos, e destes

61,7% crioulos e 3,2% africanos. Entre os adultos, dos libertos falecidos (de origem identificada),

29 ou 81% eram crioulos e 7 ou 19% eram africanos.

Nos dois períodos seguintes, no entanto, vemos uma queda significativa nos óbitos de

libertos, o que pode indicar uma diminuição na concessão de alforrias em virtude do crescimento

econômico pelo qual passava a cidade de Desterro na época, absorvendo cada vez mais a mão-de-

obra escrava. O que mais chama atenção, no entanto, é a diminuição da presença entre os

falecidos de libertos crioulos e libertos africanos. O crescimento do número de escravos, faz com

que a proporção dos libertos na população negra diminuísse para 10%

É interessante perceber a queda drástica sofrida nos óbitos de crioulos libertos na primeira

para a segunda década analisada, entre 1799 – 1808 o percentual desses óbitos era de 27%,

enquanto que na década seguinte, 1809 – 1819 esse percentual cai para 3,8% (ver tabela 2 e 3).

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Esta queda aponta para um dado ainda inexplorado da escravidão em Desterro: ou os crioulos

escravos, uma vez libertos, migravam para outras localidades e lá morriam, ou caiu muito o

numero de alforrias entre o fim do século XVIII e as primeiras décadas do XIX, o que pode estar

associado à integração crescente da Ilha de Santa Catarina no mercado atlântico e intensificação

do uso de mão-de-obra escrava neste período estudado.

Para os anos de 1812, 1813 e 1814, temos o Mapa Populacional da vila de Desterro, no

qual podemos observar na tabela 4 uma constante na porcentagem de libertos na população,

mantendo-se nos três anos analisados com o percentual de 3%, equivalendo a 191 libertos em

1812, 149 em 1813 e 120 no ano de 1814. São dados que servem para dar uma fotografia geral da

vila de Desterro nesses anos.

Constatamos também um alto índice de sub-registro da origem desses libertos, o que torna

nossa pesquisa nesse ângulo um pouco deficitária, pois muitas informações são omitidas na hora

de registrar esses óbitos. Essa omissão no que se refere a origem só faz crescer ao longo dos anos:

entre 1799 – 1808 temos uma margem de 20% dos óbitos, na década seguinte esse numero

aumenta para 24,7%, e na última o percentual quase duplica, atingindo 40% dos óbitos.

Ao observarmos a idade desses libertos, vemos uma situação curiosa: a discrepância entre

o sexo masculino e feminino, especialmente entre as crianças. Na primeira amostra (tabela 5),

apesar de termos um percentual final de 50% e 50%, deparamos-nos com a diferença entre as

crianças de 40% (masculino) e 60% (feminino), mostrando assim que as meninas tinham mais

chances de receberem alforria, especialmente quando observamos que muitos dos pais dessas

meninas eram escravos, e depositavam nas meninas uma maior esperança de liberdade. Entre

1809 – 1819 (tabela 6), embora entre as crianças a participação mais freqüente das meninas ainda

persista, entre os adultos esse quadro se altera, resultado final passa a apontar mais mulheres

(62%) e homens (38%), além de que essa diferença ocorre tanto entre africanas e crioulas, ambas

se alforriam mais do que os homens, ao contrario do primeiro período, onde entre africanos os

homens eram quase que unânimes. Importante observar que entre escravos, há uma maior

porcentagem de homens (tabela 7).

Na década seguinte esse quadro sofre nova alteração com a inversão do percentual entre

homens e mulheres africanas, que dessa vez seguem a tendência dos escravos, no qual 71% são

homens e 29% são mulheres, entre os libertos 67% são homens e 33% são mulheres (tabela 8).

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Por fim, analisamos também o local de sepultamento, no qual buscamos procurar a

relação dos libertos sepultados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, por ser um indício de que

estes pudessem ser possíveis membros da Irmandade do Rosário de Desterro.

Observando os três períodos analisados, vemos de antemão que a Igreja do Rosário é a

mais procurada nos três momentos, a Igreja Matriz de Desterro também é bastante procurada,

uma vez que esses óbitos utilizados são frutos dessa igreja, ainda assim a Igreja do Rosário é a

mais procurada. Essa grande procura se traduz claramente, por ser a Igreja do Rosário sede da

irmandade, mostrando que há uma grande procura, no entanto, é importante ressaltar que de

acordo com o compromisso da Irmandade emitido em 1841, artigo 12, para ser enterrado no

cemitério da Irmandade do Rosário não é obrigado a ser membro desta:

Quando alguma pessoa falecer, não sendo Irmão destairmandade, e queira ser acompanhado dela ou servir-se doEsquife, para ir nele, poderá a dita Irmandade ir acompanha-locom o Esquife ou sem ele, pagando a Irmandade três mil, eduzentos reis, como se tem praticado.21

Tratando-se do percentual, entre 1799 –1808, 36% dos falecidos eram sepultados no

cemitério da Igreja do Rosário, na década seguinte, temos um aumento de 10%, passando a

contar com 46% dos sepultamentos, e por fim, na última década esse percentual se concentra em

43%. (Tabelas 9, 10 e 11). Dentre escravos também a uma procura significativa pela Igreja do

Rosário (Tabela 12), embora seja menor que o numero de sepultados na Igreja Matriz.

De acordo com a tabela 13 na qual temos o percentual de falecidos enterrados na Igreja do

Rosário nas três décadas divididos de acordo com a procedência, vemos que 11% desses óbitos

são de africanos, e 20% de crioulos e 69% são de crioulos presumíveis ou pessoas sem origem

identificada.

21 Arquivo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (Florianópolis). Pasta “Documentos”. Requerimento à

Câmara dos Negócios Eclesiásticos e Constituição da Assembléia Legislativa de Santa Catarina, 10/3/1842. A grafia

dos documentos foi atualizada.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

No decorrer da pesquisa, participamos de um evento muito importante relacionado a ela,

que foi o IIIº Encontro de Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, realizado entre os dias 2

e 4 de maio de 2007, na Universidade Federal de Santa Catarina, no qual foi possível expor a

pesquisa, embora ainda se encontrasse em andamento.

Essa participação ocorreu através da exposição de um banner e um resumo, publicado nos

anais do evento. Sem dúvidas, a participação foi muito produtiva, uma vez que foi possível trocar

informações com os demais pesquisadores da área, informações estas, que foram incluídas nesse

relatório final.

Além dessa participação, ainda teremos a exposição e apresentação desse estudo na

Semana de Iniciação Cientifica, da Universidade Federal de Santa Catarina.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARICKMAN, B.J. Um contraponto baiano: açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780 – 1860.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

BORGES, Célia. Escravos e Libertos nas irmandades do Rosário, Devoção e Solidariedade em Minas Gerais –Século XVIII e XIX. Minas Gerais: Ed. UFJR, 2005.

CASTRO, Hebe Maria Mattos de. Das cores do silêncio: os significados da liberdade do sudeste escravista – Brasil,século XIX. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1993.

COUTO, Patrícia Brandão. Festa do Rosário: Iconografia e Poética de um Rito. Niterói: Ed. EdUFF, 2003.

FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento: Fortuna e Família no Cotidiano Colonial. Rio de Janeiro:Nova Fronteira, 1998.

FRAGOSO, João L. R., FLORENTINO, Manolo. O Arcaísmo como Projeto: Mercado Atlântico, SociedadeAgrária e Elite Mercantil no Rio de Janeiro, c. 1790 – c. 1840. Rio de Janeiro: Diadorim, 1993.

KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro, 1808-1850 São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

MORTARI, Cláudia. Os Homens Pretos do Desterro. Um estudo sobre a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário(1841-1860). Dissertação de Mestrado em História: Pontifícia Universidade Católica – RS, 2000.

MORTARI, Cláudia. Os africanos de uma vila portuária no sul do Brasil: criando vínculos parentais ereinventando identidades – Desterro, 1788 –1850. Tese de doutorado em História: Pontifícia Universidade Católica –RS, 2007.

OLIVEIRA, Maria Inês Cortes de. O Liberto: o seu mundo e os outros: Salvador 1790 / 1890. Salvador: Corrupio,1988.

REGINALDO, Lucilene. Os Rosários dos Angolas: irmandade negras, experiências escravas e identidades na Bahiasetecentista. Dissertação de doutorado em Historia: Universidade Estadual de Campinas, 2005.

REIS, João José. A Morte é uma Festa: Ritos Fúnebres e Revolta Popular no Brasil do Século XIX., SãoPaulo:Companhia das letras, 357 p. 1992.

RUSSELL-WOOD, AJR. Escravos e Libertos no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Civilizações, 2005.

SCHWARTZ, Stuart B. Burocracia e sociedade no Brasil Colonial, 1550 – 1835. São Paulo: Perspectiva, 1979.

SOARES, Mariza. Devotos da Cor: Identidade étnica, religiosidade e escravidão. Rio de Janeiro, CivilizaçãoBrasileira, 2000.

6.1 Fontes Primárias

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Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora de Desterro. Livros 1, 2 e 3. Disponível no Arquivo Eclesiásticode Santa Catarina.

Livro de óbitos de Escravos, Matriz de Nossa Senhora de Desterro. Livros 1 e 2. Disponível no Arquivo Eclesiásticode Santa Catarina.

Arquivo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (Florianópolis). Pasta “Documentos”. Requerimento à Câmara

dos Negócios Eclesiásticos e Constituição da Assembléia Legislativa de Santa Catarina, 10/3/1842. A grafia dos

documentos foi atualizada.

Mapa Populacional de Desterro, L. 31, 29, 18, n. 4, 5 e 6. Anos de 1812, 1813 e 1814. BN.

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7. ANEXOS

Gráfico 1: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1799 – 1808).

Gráfico 2: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1809 – 1819).

Gráfico 3: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1820 – 1830).

Tabela 1: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1799 – 1808).

Tabela2: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1809 – 1819).

Tabela 3: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1820 – 1830).

Tabela 4: Mapa Populacional de N. S. do Desterro (1812 1813 e 1814).

Tabela 5: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1799 – 1808).

Tabela 6: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1809 – 1819).

Tabela 7: Escravos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1809 - 1819).

Tabela 8: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1820 – 830).

Tabela 9: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1799 – 1808).

Tabela 10: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1809 – 1819).

Tabela 11: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1820 – 1830).

Tabela 12: Escravos sepultados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário em N. S. de Desterro (1799 – 1808 /1809 – 1819 / 1820 - 1830).

Tabela 13: Origem dos Libertos sepultados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário em N. S. Desterro (1799 –1830)

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Gráfico 1: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1799 – 1808).

131157

44

120 121

67

118

233

82101

8 185 6 0 3 13 23

9 193152 50 46 46 52

67

95

3551

0

50

100

150

200

250

1799 1800 1801 1802 1803 1804 1805 1806 1807 1808

Livre

Libertos

Escravo

Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 2 e 3. AHESC.

Gráfico 2: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1809 – 1819).

187

132108 111

252

142 135

193

155142

194

19 18 9 7 5 10 9 10 4 4 14

87 83 74 67

132

89 87 9460

78 83

0

50

100

150

200

250

300

1809 1810 1811 1812 1813 1814 1815 1816 1817 1818 1819

Livre

Liberto

Escravo

Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 3 e 4. AHESC.

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Gráfico 3: Distribuição anual dos óbitos em N. S. de Desterro, por condição social (1820 – 1830)

133 125148 150

169

118

414

162

72

134106

2 4 0 2 4 1 15 0 1 7 11

68 59 5178 72

102

185

70 85 8368

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

1820 1821 1822 1823 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830

Livre

Lberto

Escravo

Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 4. AHESC.

Tabela 1: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1799 – 1808).

Origem Escravos % Libertos % Total %

Africanos 214 96,8 7 3,2 221 100

Crioulos 18 38,3 29 61,7 47 100

Crioulospresumíveis

215 82,1 47 17,9 262 100

Origem nãoinformada

78 78,8 21 21,2 99 100

Total 525 83,5 104 16,5 629 100Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 2 e 3. Livro de óbitos de escravos,Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 1. AHESC.

Tabela2: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1809 – 1819).

Origem Escravos % Libertos % Total %Africanos 367 95% 20 5% 387 100%Crioulos 55 73% 20 27% 75 100%Crioulospresumíveis

347 89% 42 11% 389 100%

Origem nãoinformada

165 86% 27 14% 192 100%

Total 934 90% 109 10% 1043 100%Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 3 e 4. Livro de óbitos de escravos,Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 1. AHESC.

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Tabela 3: Origem dos Escravos e Libertos falecidos em N. S. do Desterro (1820 – 1830).

Origem Escravos % Libertos % Total %Africanos 252 98,8% 3 1,2% 255 100%Crioulos 224 96,1% 9 3,8% 233 100%Crioulospresumíveis

215 93,1% 16 6,9% 231 100%

Origem nãoinformada

230 92,3% 19 7,7% 249 100%

Total 921 95,1% 47 4,9% 968 100%

Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 4. Livro de óbitos de escravos, Matrizde Nossa Senhora do Desterro, Livro 1. AHESC.

Tabela 4: Mapa Populacional de N. S. do Desterro (1812 1813 e 1814).Anos População

TotalLivres % Libertos % Escravos %

1812 5903 4022 68% 191 3% 1690 29%1813 4962 3124 63% 149 3% 1689 34%1814 4721 3134 66% 120 3% 1467 31%Fonte:....

Tabela 5: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1799 – 1808).

Homens % Mulheres % Total %

Africanos 6 86% 1 14% 7 100Crioulos 15 52% 14 48% 29 100CrioulosPresumíveis

19 40% 28 60% 47 100

Origem nãoinformada

12 57% 9 43% 21 100

Total 52 50% 52 50% 104 100Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 2 e 3. AHESC.

Tabela 6: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1809 – 1819).

Homens % Mulheres % TotalAfricanos 8 40% 12 60% 20Crioulos 6 30% 14 70% 20CrioulosPresumíveis

18 43% 24 57% 42

Origem nãoinformada

10 37% 17 63% 27

Total 42 38% 67 62% 109Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 3 e 4. AHESC.

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Tabela 7: Escravos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1809 - 1819).

Homens % Mulheres % TotalAfricanos 253 69% 114 31% 367crioulos 24 44% 30 56% 55Crioulos

presumíveis168 48% 178 52% 347

Origem nãoinformada

82 50% 81 50% 165

Total 527 56% 403 44% 934

Fonte: Livro de óbitos de escravos, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 1. AHESC.

Tabela 8: Libertos falecidos em N. S. de Desterro, segundo sexo e origem (1820 – 1830).

Homens % Mulheres % TotalAfricanos 2 67% 1 33% 3Crioulos 2 22% 7 78% 9CrioulosPresumíveis

7 44% 9 56% 16

Origem nãoinformada

3 16% 16 84% 19

Total 14 30% 33 70% 47Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 4. AHESC.

Tabela 9: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1799 – 1808).

SepultamentosAfricanos % Crioulos % Origem não

informada% Total %

Cemitério daMatriz

3 43% 11 14% 6 29% 20 19%

Cemitério daCaridade

0 0% 5 7% 1 5% 6 6%

Cova deFabrica

1 14% 24 32% 3 14% 28 27%

Cova deAlmas

0 0% 7 9% 3 14% 10 9%

Rosário 2 29% 28 37% 7 33% 37 36%Capela daLagoinha

0 0% 1 1% 0 0% 1 1%

Local nãoinformado

1 14% 0 0% 1 5% 2 2%

Total 7 100% 76 100% 21 100% 104 100%

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Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 2 e 3. AHESC.Tabela 10: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1809 – 1819).

SepultamentosAfricanos % Crioulos % Origem não

informada% Total %

Cemitério daMatriz

7 35% 19 31% 6 22% 32 29%

Cemitério daCaridade

1 5% 2 3% 1 4% 4 4%

Cova deFabrica

1 5% 13 21% 1 4% 15 14%

Cova deAlmas

0 0% 2 3% 1 4% 3 3%

Rosário 9 45% 25 40% 17 62% 51 46%Cova de

Espírito Santo0 0% 0 0% 1 4% 1 1%

Misericórdia 2 10% 1 2% 0 0% 3 3%Total 20 100% 62 100% 27 100% 109 100%

Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 3 e 4. AHESC.

Tabela 11: Local de Sepultamento dos Libertos falecidos em N. S. de Desterro (1820 – 1830).

SepultamentosAfricanos % Crioulos % Origem não

informada% Total %

Cemitério daMatriz

2 67% 8 32% 4 21% 14 30%

Cova deFabrica

0 0% 5 20% 7 37% 12 25%

Rosário 1 33% 12 48% 7 37% 20 43%Local nãoinformado

0 0% 0 0% 1 5% 1 2%

Total 3 100% 25 100% 19 100% 47 100%Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 4. AHESC.

Tabela 12: Escravos sepultados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário em N. S. de Desterro (1799 – 1808 /1809 – 1819 / 1820 - 1830).

Período 1 % Período 2 % Período 3 % TotalRosário 68 13 114 12 92 10 274

OutrosLocais

457 87 820 88 829 90 2106

Total 525 100 934 100 921 100 2380Fonte: Livro de óbitos de escravos, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 1. AHESC.

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Tabela 13: Origem dos Libertos sepultados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário em N. S. Desterro (1799 –1830)

Origem %Africanos 12 11

Crioulos 22 20Crioulos presumíveis 31 29Origem nãoinformada

43 40

Total 108 100Fonte: Livro de óbitos de Livres, Matriz de Nossa Senhora do Desterro, Livro 2, 3 e 4. AHESC.