reduzindo o estigma entre usuÁrios de …€¦ · f i gu ra 5 : a construção social do estigma....

18
REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE DROGAS: GUIA PARA PROFISSIONAIS E GESTORES Eixo Instrumentos aberta.senad.gov.br

Upload: lamliem

Post on 26-Sep-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE

DROGAS: GUIA PARA PROFISSIONAIS E

GESTORES

Eixo Instrumentos

aberta.senad.gov.br

Page 2: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

APRESENTAÇÃO

Neste módulo, discutiremos a importância de entendermos em que contextos fazemos nossos julgamentos sobre “o que é usar drogas” e o

que está por trás do que é considerado lícito ou ilícito. Frente à complexidade do tema, deparamo-nos com o grande desafio de organizar

nossos serviços, bem como pensar cuidadosamente nos sistemas de cuidados aos usuários de drogas com o propósito de evitar que eles

tenham visões equivocadas sobre como “resolver o problema das drogas”. O preconceito, a discriminação e o estigma aos usuários são

uma barreira importante para o tratamento. Assim, para além das abordagens técnicas de cuidado, a esfera da relação entre profissional e

usuário aparece como um fator fundamental para o cuidado adequado. Por essa razão, o presente material tem como objetivo apresentar

alguns conceitos e ferramentas úteis para profissionais de diversas áreas e gestores. Pretende-se, desse modo, contribuir para um

tratamento mais adequado do estigma relacionado aos usuários de drogas e também para a realização de intervenções junto a eles, a fim

de reduzir o estigma e, consequentemente, melhorar o cuidado da saúde dessas pessoas.

Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-

CompartilhaIgual 4.0 Internacional. Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em

http://aberta.senad.gov.br/.

AUTORIA

Ana Regina Noto Faria 

http://lattes.cnpq.br/1146514655934224

Graduada em Psicologia pela Faculdade Paulistana de Ciências e Letras e em Farmácia Bioquímica pela

Pontifícia Universidade Católica de Campinas. É mestre e doutora em Psicobiologia pela Universidade

Federal de São Paulo. Atualmente é professora do Departamento de Psicobiologia da Universidade

Federal de São Paulo, coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre Saúde e Uso de Substâncias e do

Centro Regional de Referência em Crack e outras Drogas – CRR-DIMESAD-UNIFESP. 

Pollyanna Santos da Silveira 

http://lattes.cnpq.br/0346176675857863

Graduada em Psicologia, mestre em Psicologia com ênfase em Processos Psicossociais e Saúde pela

Universidade Federal de Juiz de Fora, doutora em Ciências da Saúde, no Departamento de

Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo e pós-doutora, com ênfase em álcool e outras

drogas pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFJF. Atualmente é coordenadora do Centro

de Referência Regional (CRR-UFJF), pesquisadora do Centro de Referência, Pesquisa e Intervenção em

Álcool e outras Drogas e professora da Universidade Católica de Petrópolis.

Telmo Mota Ronzani  

http://lattes.cnpq.br/9239252166751422

Graduado em Psicologia, mestre em Psicologia Social, doutor em Ciências da Saúde e pós-doutor, pela

Universidade de São Paulo e University of Connecticut Health Center, na área de álcool e outras drogas.

Atualmente é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), consultor ad hoc da Secretaria

Nacional de Políticas Sobre Drogas (SENAD) e coordenador do Centro de Referência em Pesquisa,

Intervenção e Avaliação em Álcool e Drogas (CREPEIA) da UFJF. 

 

Page 3: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

COLABORADORES

Ana Luísa Marlière Casela 

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4327356Y2

Bárbara Any Bianchi Bottaro de Andrade

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4310481U0 

Érika Pizziolo Monteiro

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4355494Y5 

Gabriela Correia Lubambo Ferreira

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4415225D3  

Jéssica Verônica Tibúrcio de Freitas

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4325272E01  

REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE DROGAS: GUIA PARA PROFISSIONAIS E

Page 4: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE DROGAS: GUIA PARA PROFISSIONAIS E

GESTORES

 

COMO É POSSÍVEL AVALIAR O AUTOESTIGMA?

Com o intuito de proporcionar um melhor aproveitamento deste módulo, convidamos você a responder um questionário sobre

autoestigma. Para isso, você deverá se colocar no lugar de uma pessoa dependente de substâncias psicoativas.

Sendo assim, é importante destacar que você precisa se imaginar na situação de usuário de drogas e responder como tal, visto que o

somatório das respostas permitirá avaliar o seu autoestigma e levar você a reflexões e questionamentos sobre o tema.

Page 5: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso
Page 6: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

 

 

Quadro 1: questões sobre autoestigma. Fonte: adaptado por NUTE-UFSC (2016).

Como corrigir o questionário acima?

 

a) Some as pontuações das questões de 1 a 29.

b) A pontuação mínima será de 29 pontos e a máxima, de 116 pontos.

c) Compare o valor total da pontuação.

d) Quanto maior a pontuação, mais alto o nível de percepção do estigma internalizado do    dependente de álcool e outras drogas.

 

(medias/files/E03_M04_tabela01_V4.pdf)

Link para impressão

 

Esse questionário possibilita avaliar o estigma internalizado. Há uma escala denominada ISMI-BR: Versão Brasileira da Escala de Estigma

Internalizado de Transtorno Mental adaptada para Dependentes de Substâncias (SOARES, 2011), que, embora não permita uma

classificação direta, pode ser uma importante ferramenta para a compreensão desse fenômeno. A escala é de fácil aplicação e apresenta

bons índices de confiabilidade e validade. O instrumento construído para transtorno mental geral, que foi traduzido e validado no Brasil

para dependentes de substâncias, contém 29 itens agrupados tematicamente em cinco fatores, descritos abaixo:

Page 7: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

Figura 1: fatores que compõem a ISMI-BR. Fonte: Ritsher, Otilingam e Grajales (2003), e Soares (2011) Adaptado por NUTE-UFSC(2016).

REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE DROGAS: GUIA PARA PROFISSIONAIS E

GESTORES

 

CONTEXTUALIZAÇÃO

O consumo de substâncias psicoativas faz parte da história da humanidade e está associado a diversas situações, tendo cada uma delas

sua relevância social, política, econômica e religiosa em diferentes contextos e épocas.

Saiba Mais

As drogas são substâncias que provocam alterações físicas e psicológicas nas pessoas que as consomem. Entre as drogas estão

incluídas as substâncias lícitas, como álcool, tabaco e alguns medicamentos, e as substâncias ilícitas, como maconha, crack, LSD,

ecstasy, opiáceos, entre outras.

Page 8: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

Figura 2: relevância do uso de drogas na história da humanidade. Fonte:  Duarte e Morihisa (2008) adaptado  por NUTE-UFSC(2016).

Vale ressaltar que a relação dos indivíduos com cada substância psicoativa varia em função do contexto e de seu padrão de uso, podendo,

portanto, apresentar baixos riscos. Contudo, determinados padrões de consumo podem ser altamente disfuncionais, acarretando prejuízos

biológicos, psicológicos e sociais.

O abuso e a dependência de drogas acarreta uma série de consequências negativas para a vida, incluindo problemas de saúde (como os

psicológicos), prejuízos nas relações sociais e familiares, além de problemas legais com a Justiça.

Figura 3: vulnerabilidade social associada ao uso de drogas. Fonte: NUTE-UFSC (2016).

Page 9: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

Frente a esse contexto, é importante avaliar o uso de drogas e os usuários em uma relação complexa, na qual a dimensão humana precisa

ser considerada; ou seja, é a forma como a pessoa se relaciona com a droga que deve ser considerada e não a droga em si. Muitos usuários

perdem a oportunidade de terem acesso a um cuidado adequado por serem vítimas de preconceito e estigmatização nos serviços de

saúde. Para reverter essa situação, é preciso haver uma mudança de postura por parte dos profissionais.

O ESTIGMA E OS SERVIÇOS DE SAÚDE

Page 10: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

 O ESTIGMA E OS SERVIÇOS DE SAÚDE

Uma das razões que interferem diretamente no cuidado de dependentes de álcool e outras drogas é o estigma, que faz com que os usuários

sejam vistos como perigosos, violentos e únicos responsáveis pela sua condição. Diversas razões podem justificar a estigmatização do uso

de drogas por parte dos profissionais de saúde, incluindo o fato de que, muitas vezes, o consumo de drogas não é visto como um problema

de saúde, mas como falha de caráter, fazendo com que seja atribuída ao usuário a responsabilidade pelo aparecimento e pela solução do

seu problema. Tal postura restringe as possibilidades de acolhimento e acesso para pessoas que apresentam problemas com o uso de

drogas. O estigma e a discriminação de usuários de drogas afeta negativamente a qualidade dos serviços prestados, podendo constituir

uma barreira para a busca por ajuda, além de limitar o acesso e a utilização dos serviços de saúde. Pode-se, na imagem a seguir, ver alguns

exemplos de crenças estigmatizantes no cenário dos serviços de saúde.

Figura 4: pensamentos e ideias sobre os usuários de drogas compartilhados pela população. Fonte: NUTE-UFSC (2016).

 

Com isso, os profissionais não têm motivação para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento por acreditarem que os

usuários não irão conseguir parar de consumir drogas e, consequentemente, tendem a se afastar desses pacientes.

O QUE É O ESTIGMA?

Page 11: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

 O QUE É O ESTIGMA?

O estigma é uma construção social que representa uma marca a qual atribui ao seu portador um status desvalorizado em relação aos

outros membros da sociedade. Ocorre quando os indivíduos são identificados com base em alguma característica indesejável que possuem

e, a partir disso, são discriminados e desvalorizados pela sociedade. Esse tipo de estigma é chamado de estigma social, ou público.

Os usuários de drogas sofrem constantemente com os efeitos prejudiciais do processo de estigmatização. Consequências como perda da

autoestima, restrição das interações sociais e perspectivas limitadas de recuperação influenciam negativamente no tratamento dos

usuários de drogas. Além disso, as informações deturpadas transmitidas pela mídia, somadas à falta de conhecimento sobre o transtorno,

fazem com que os usuários de drogas sejam temidos e vistos como incapazes de se recuperar. Assim, sofrem com a desconfiança,

estereótipos negativos, preconceitos e discriminação.

É importante compreender que o estigma existe em um círculo vicioso: o estigma encoraja o preconceito e a discriminação, os quais, por

sua vez, reforçam a ocorrência do estigma.

Figura 5: a construção social do estigma. Fonte: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016).

Figura 6: círculo vicioso do estigma social. Fonte: Link e Phelan (2001) adaptado por NUTE-UFSC (2016).

SERÁ QUE OS USUÁRIOS DE DROGAS PERCEBEM O ESTIGMA ASSOCIADO À SUA CONDIÇÃO?

Page 12: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

 SERÁ QUE OS USUÁRIOS DE DROGAS PERCEBEM O ESTIGMA ASSOCIADO À SUA CONDIÇÃO?

A percepção do estigma ocorre à medida que o usuário se torna consciente das visões negativas que as outras pessoas da sociedade têm

sobre o uso de drogas. Essa percepção pode desencorajá-lo a buscar serviços de tratamento na tentativa de evitar que ele seja visto como

parte de um grupo estigmatizado. Além disso, como uma consequência direta da percepção do estigma, os usuários podem passar a

concordar com essa visão negativa da sociedade e aplicar os estereótipos negativos a si próprios, o que caracteriza o estigma internalizado.

Figura 7: processo da internalização do estigma. Fonte: Corrigan e Watson (2002) adaptado por NUTE-UFSC (2016).

O estigma internalizado é um processo subjetivo que faz com que o usuário de drogas tente esconder dos outros a sua condição, a fim de

evitar as experiências de discriminação. As consequências desse processo são extremamente prejudiciais, conforme apresentadas na figura

a seguir.

Figura 8: consequências do estigma internalizado para os indivíduos usuários de drogas. Fonte: Ahern et al. (2007), Corrigan e Rao (2012), e Livingston et al. (2011) adaptado por

NUTE-UFSC (2016).

QUAL O IMPACTO DO ESTIGMA  PARA O TRATAMENTO?

Page 13: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

 QUAL O IMPACTO DO ESTIGMA  PARA O TRATAMENTO?

Ao sofrerem os efeitos da estigmatização, os usuários de drogas evitam buscar ajuda para o tratamento de suas condições, agravando os

problemas de saúde e, mesmo quando procuram o tratamento, a adesão é baixa, caracterizando idas e vindas aos serviços de saúde em

função, muitas vezes, de uma intervenção desumanizada e discriminatória.

Outra consequência direta do estigma internalizado para o tratamento é o impacto negativo da baixa autoestima e baixa autoeficácia que

interferem na realização dos objetivos de vida. Os usuários de drogas não acreditam que possam se beneficiar do tratamento porque se

sentem incapazes. Assim, os sentimentos de desvalorização e de incapacidade fazem com que eles pensem que não existem razões para se

recuperar.

COMO ENFRENTAR O ESTIGMA?

Page 14: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

 

 COMO ENFRENTAR O ESTIGMA?

O tratamento da dependência deve ser visto como uma parceria entre o profissional, o usuário, a família e a comunidade, sem que a

responsabilidade pela recuperação caia inteiramente sobre uma das partes. Antes de se pensar em enfrentar o estigma, é de extrema

importância que os profissionais de saúde estejam conscientes da forma como pensam sobre os usuários de drogas. Percepções

estigmatizantes e estereotipadas podem afetar a motivação do profissional para lidar com o problema de saúde.

 

Quebre o silêncio! Para enfrentar o estigma é preciso falar sobre estigma!

Antes de pensar em estratégias de redução, de que modo vocês, gestores e profissionais de saúde, veem os usuários de drogas?

Figura 9: questionamentos sobre a própria visão sobre os usuários de drogas. Fonte: NUTE-UFSC (2016).

ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE ESTIGMA

Page 15: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

 ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE ESTIGMA

Considerando o impacto negativo da estigmatização para o tratamento dos usuários de drogas, estratégias de redução de estigma têm sido

apresentadas como uma forma de se abordar essa temática nos serviços de saúde. Apresentaremos, a seguir, algumas possíveis estratégias

de enfrentamento para trabalhar as visões estigmatizantes da população em geral e dos próprios usuários acerca do uso de drogas, e com

relação às expectativas negativas sobre o futuro deles.

Figura 10: estratégias de redução do estigma. Fonte: Rusch, Angermeyer e Corrigan (2005), e Livingston et al. (2011) adaptado por NUTE-UFSC (2016).

REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE DROGAS: GUIA PARA PROFISSIONAIS E

GESTORES

ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DO ESTIGMA SOCIAL

Protesto:  mobilização social para combater a divulgação de imagens negativas relacionadas aos usuários de drogas, como o uso de

linguagem pejorativa utilizada pela mídia para referir-se a esses sujeitos.

Contato: trata-se da promoção do contato com usuários de substâncias, tendo o propósito de ajudar a diminuir opiniões negativas a

respeito deles, a partir da troca de experiências, bem como da possibilidade de testar algumas crenças errôneas sobre o uso de drogas.

Educação: significa propor apresentações, discussões, simulações, audiovisuais etc., que visam alterar atitudes e comportamentos em um

nível comunitário, levando à diminuição da discriminação em relação aos usuários de drogas. A Educação geralmente é o primeiro passo e

pode ser combinado com outras estratégias.

ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO AO ESTIGMA INTERNALIZADO

Grupos de suporte: contribuem para a construção de uma noção de identidade, autoestima, habilidades de enfrentamento e integração

social. O suporte mútuo consiste em encorajamento para adesão ao tratamento, no qual há compartilhamento de experiências entre os

membros. Através da troca de informação por meio de abordagens educacionais, o público em geral é incluído no processo.

Autonomia: estratégia que permite trabalhar a promoção de autonomia para que os usuários de drogas se tornem ativos no processo de

recuperação.

Page 16: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

 

 

REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE DROGAS: GUIA PARA PROFISSIONAIS E

GESTORES

 

QUAL O PAPEL DA FAMÍLIA PARA A RECUPERAÇÃO DE DEPENDENTES DE SUBSTÂNCIAS E COMO INCLUÍ-LA NO

TRATAMENTO?

 

A família pode atuar como fonte de estigma!

Como consequência dos problemas relacionados à dependência de drogas, a família pode estigmatizar e rejeitar o dependente,

reforçando a sua vulnerabilidade social.

Por outro lado, a família tem sido considerada como um recurso importante para o tratamento de dependentes de drogas ao fornecer um

ambiente seguro e atuando como fonte de apoio. Ao propiciar atenção, afeto, proteção, conforto e empatia, as famílias são capazes de

promover comportamentos saudáveis, aumentando as chances de esses comportamentos serem mantidos ao longo do tempo.

Como engajar os familiares no tratamento?

1. Identificar qual(is) familiar(es) o usuário de drogas tem como referência.

2. Entrar em contato com o(s) familiar(es) de referência e formar um grupo de suporte. 

3. No grupo, avaliar as crenças dos familiares sobre o uso de drogas e realizar uma psicoeducação do uso de drogas.

 

O engajamento dos familiares nas diversas formas de cuidado é primordial para auxiliar na prevenção de recaídas e monitorar as

situações de risco.

COMO POSSO UTILIZAR ESSE MATERIAL?

Page 17: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

 COMO POSSO UTILIZAR ESSE MATERIAL?

A inclusão do tema estigma nas diferentes formas de atenção ao usuário é muito importante para a melhora da sua ação. Para isso,

sugerimos que gestores, equipe e profissionais procurem planejar ações de redução de estigma, conforme propomos nesse material. O

planejamento em grupo, envolvendo toda a equipe e família, aumenta significativamente o impacto dessa estratégia.

Saiba Mais

Aqui você encontra alguns links que podem ser úteis para ampliar seu conhecimento sobre o tema: Disque 132

(http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/04/disque-132-atendeu-7-mil-pessoas-no-primeiro-trimestre-do-ano),

Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) (http://www.justica.gov.br/sua-protecao/politicas-sobre-drogas),

Campanha Promoção da Saúde do Governo (http://promocaodasaude.saude.gov.br/)Federal.

REFERÊNCIAS

Textos

ABLON, J. The nature of stigma and medical conditions. Epilepsy & Behavior, v. 3, n. 6 ,  p. 2-9, Dec. 2002.

AHERN, J.; STUBER, J.; GALEA, S. Stigma, discrimination and the health of illicit drug users. Drug and Alcohol Dependence, v. 88, n. 2-3, p.

188-196, May 2007.

CORRIGAN, P. W.; RAO, D. On the Self-Stigma of Mental Illness: Stages, Disclosure, and Strategies for Change. Canadian Journal of

Psychiatry, v. 57, n. 8, p. 464-469, Aug. 2012.

CORRIGAN, P. W.; WATSON, A. C. The paradox of self-stigma and mental illness. Clinical Psychology-Science and Practice, v. 9, n. 1, p. 35-

53, May 2002.

DUARTE, C. E.; MORIHISA, R. S. Experimentação, uso, abuso e dependência de drogas. In: BRASIL. Secretaria Nacional Antidrogas; Serviço

Social da Indústria. Prevenção ao uso de álcool e outras drogas no ambiente de trabalho: conhecer para ajudar. Brasília: Secretaria

Nacional Antidrogas e Serviço Social da Indústria. 2008. p. 41-49.

GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

LINK, B. G.; PHELAN, J. C. Conceptualizing Stigma. Annual Review of Sociology, v. 27, p. 363-385, Aug. 2001.

LIVINGSTON, J. D.; MILNE, T.; FANG, M. L.; AMARI, E. The effectiveness of interventions for reducing stigma related to substance use

disorders: a systematic review. Addiction, v. 107, n. 1, p. 39-50, Jan. 2012.

PELUSO, E. T. P.; BLAY, S. L. Community Perception of Mental Disorders: A Systematic Review of Latin American and Caribbean Studies. Soc

Psychiatry Psychiatr Epidemiol, v. 39, n. 12, p. 955-961, Dec. 2004.

RITSHER, J. B., OTILINGAM, P. G.; GRAJALES, M. Internalized stigma of mental illness: psychometric properties of a new measure. Psychiatry

Research, v. 121, n. 1, p. 31-49, 2003.

RUSCH, N.; ANGERMEYER, M. C.; CORRIGAN, P. W. Mental illness stigma: Concepts, consequences, and initiatives to reduce stigma.

European Psychiatry, v. 20, n. 8, p. 529-539, 2005.

Page 18: REDUZINDO O ESTIGMA ENTRE USUÁRIOS DE …€¦ · F i gu ra 5 : a construção social do estigma. Fo n te: Goffman (1978) adaptado por NUTE-UFSC (2016). F i gu ra 6: círculo vicioso

SILVEIRA, P. S. Estigmatização do uso de álcool e outras drogas entre profissionais de saúde de Juiz de Fora. 2010. 99 p. Dissertação

(Mestrado em Psicologia) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, Brasil, 2010.

SOARES, R. G. Validação da versão brasileira da "Escala de Estigma Internalizado de Transtorno Mental (ISMI) adaptada para

Dependentes de Substâncias". 2011. 105 p. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia.

Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, Brasil, 2011.