redes sociais como ferramentas de jornalismo participativo

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As redes sociais como ferramentas de jornalismo participativo nos meios de comunicação regionais: um estudo de caso Inês Mendes Moreira Aroso * Índice 1 Jornalismo participativo: origens, caraterísticas e consequências 2 2 As redes sociais: oportunidade ou ameaça para o jornalismo? 6 3 O jornalismo participativo no jornalismo regional ...... 7 4 Estudo: a utilização das redes sociais como ferramenta do jornalismo participativo nos meios de comunicação social de Vila Real ............................ 8 Bibliografia ............................ 16 Resumo Em Portugal, jornais, rádios e televisões têm colocado em prática várias iniciativas no âmbito do jornalismo participativo. Na verdade, os media têm vindo a criar espaços destinados à participação cada vez mais ativa dos cidadãos na transmissão de informação. O público é convidado a dar o seu contributo através de comentários, envio de fo- tografias, vídeos ou textos. A maioria dos estudos realizados sobre jor- nalismo participativo versa os meios de cariz nacional e internacional. Porém, interessa-nos saber o que se passa numa dimensão regional e * Professora Auxiliar na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Investi- gadora do LabCom – Universidade da Beira Interior

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Redes Sociais Como Ferramentas de Jornalismo Participativo

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  • As redes sociais como ferramentas dejornalismo participativo nos meios de

    comunicao regionais:um estudo de caso

    Ins Mendes Moreira Aroso

    ndice1 Jornalismo participativo: origens, caratersticas e consequncias 22 As redes sociais: oportunidade ou ameaa para o jornalismo? 63 O jornalismo participativo no jornalismo regional . . . . . . 74 Estudo: a utilizao das redes sociais como ferramenta do

    jornalismo participativo nos meios de comunicao social deVila Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

    Resumo

    Em Portugal, jornais, rdios e televises tm colocado em prticavrias iniciativas no mbito do jornalismo participativo. Na verdade,os media tm vindo a criar espaos destinados participao cada vezmais ativa dos cidados na transmisso de informao. O pblico convidado a dar o seu contributo atravs de comentrios, envio de fo-tografias, vdeos ou textos. A maioria dos estudos realizados sobre jor-nalismo participativo versa os meios de cariz nacional e internacional.Porm, interessa-nos saber o que se passa numa dimenso regional e

    Professora Auxiliar na Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro e Investi-gadora do LabCom Universidade da Beira Interior

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    local, ou seja, saber se existe jornalismo participativo nos meios de co-municao regionais portugueses. Esta comunicao relativa a umponto especfico deste tema de investigao. Em concreto, a questoque se coloca esta: de que forma as redes sociais so usadas comoferramentas para o jornalismo participativo na dimenso regional e lo-cal? Para responder a esta questo, iro apresentar-se os resultados deuma anlise da utilizao das redes sociais por meios de comunicaosocial regionais de Vila Real. Isto porque, como se explicar no estudo,atualmente as redes sociais so uma ferramenta essencial do jornalismoparticipativo, permitindo a colaborao do cidado comum em todo oprocesso jornalstico.

    1 Jornalismo participativo: origens, caratersticas econsequncias

    TENTANDO encontrar as origens daquilo que hoje se considera jor-nalismo participativo, pode dizer-se, que no seu conceito mais lato,este j se praticava nos contactos por carta, telefone ou pessoais dirigi-dos aos meios de comunicao social tradicionais. Desde sempre opblico procurou exprimir e expor o que para si seria importante reve-lar, dar a conhecer (CORREIA e AROSO 2007). Sendo assim, o jor-nalismo colaborativo no nasceu com a web (SILVA 2011). Pode-seacrescentar que qualquer noticirio inclui sempre, em alguma medida, aparticipao de seu pblico. Antes do e-mail, essa participao j ocor-ria atravs de cartas e ligaes, por exemplo, na forma de sugestes depauta ou mesmo para alguma seo do tipo cartas do leitor (PRIMOe TRSEL 2006: 3).

    Portanto, este um fenmeno que, no sendo novo, ganhou novoscontornos com a Internet e com a facilidade de acesso s ferramentasde produo, publicao, cooperao e partilha de informao. Naverdade, a Internet praticamente impede o papel passivo do leitor ou re-cetor, j que obriga-o a debater, refutar ou contradizer determinada in-formao, notcia ou declarao (CORREIA e AROSO 2007). Ento,as tecnologias digitais tm servido como motivador para uma maior in-terferncia popular no processo noticioso (PRIMO e TRSEL 2006:4).

    Participar, partilhar e colaborar so palavras que integram hoje as

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    linhas editoriais de muitos meios. De facto, h uma preocupao dosmedia em integrar nos seus espaos a participao cidad (RODRI-GUES 2008). Esta ocorre de diversas formas, na medida em que opblico convidado a dar o seu contributo atravs de: comentrios,blogs, fruns, redes sociais, chats, envio de fotografias, vdeos ou tex-tos. Tudo isto tem repercusses: no jornalismo nas rotinas produtivas,na agenda, nos recursos e fontes utilizadas ; na relao entre jornalis-tas e pblico; e na prpria profisso h novas funes para jornalistasou at mesmo novas profisses como gestores dos media e de comu-nidades.

    Existem vrios conceitos prximos do jornalismo participativo, taiscomo jornalismo cidado, jornalismo colaborativo, jornalismoopen-source, wiki-jornalismo, jornalismo cvico e jornalismo p-blico. Apesar das diferenas, h um trao em comum: todos se referema uma atividade pelo qual o cidado ou grupo de cidados desempenhaum papel ativo no processo de reunio, anlise e disseminao de not-cias e informao (Cf. CORREIA 2010: 88). Destaque-se o jorna-lismo cvico ou pblico, surgido cerca de 1990, e que visou transfor-mar o relacionamento com o pblico, atravs da referncia ao reforoda participao dos pblicos na cidadania e ao papel que o jornalismopode desenvolver no reforo dessa participao (CORREIA, MORAISe SOUSA 2011: 3). Cada vez mais, este aproxima-se do jornalismoparticipativo e do cidado, pois houve uma reorientao do jornalismopblico no sentido de aproveitar a interatividade prometida pelo on-line para aprofundar dinmicas participativas (CORREIA, MORAIS eSOUSA 2011: 5).

    Apesar das mltiplas formas de participao nos media, s se devefalar em jornalismo participativo quando existem efetivamente jorna-listas e os cidados participam efetivamente na produo, construo etransmisso da informao. Definir jornalismo participativo passa porencar-lo como as prticas desenvolvidas em seces ou na totalidadede um peridico noticioso na Web, onde a fronteira entre produo eleitura de notcias no pode ser claramente demarcada ou no existe(PRIMO e TRSEL 2006: 10). A opo pela designao jornalismoparticipativo no por acaso, tendo por base as ideias de Jane Singere colegas: it captures the idea of collaborative and collective notsimply parallel action. People inside and outside the newsroom are

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    engaged in communicating not only to, but also with, one another. Indoing so, they all are participating in the ongoing processes of creatinga news website and building a multifaceted community (SINGER etal. 2011: 2).

    Algumas das potencialidades que so atribudas ao jornalismo par-ticipativo so as seguintes: fuga aos ditames das agendas polticas e dosmedia; antdoto para os media controlados, concentrados e dominadospor elites; viso diferente e mais completa dos acontecimentos; aproxi-mao entre os media e os seus pblicos; aumento da confiana da co-munidade nos media. Outro papel importante atribudo ao jornalismoparticipativo o processo de correo de erros divulgados por vecu-los jornalsticos (PRIMO e TRSEL 2006: 8). Acerca do jornalismocidado, Joo Correia (2010: 88-89) atenta nas seguintes vantagens:

    Permite o acesso de muitas pessoas produo e divulgao p-blica de mensagens o que constitui uma bvia vantagem compa-rativa por parte de grupos de cidados que queiram constituir-secomo pblicos e que se encontram numa situao perifrica.

    Est menos dependente de dilemas ticos que so colocados aosmedia tradicionais confrontados com a necessidade de retrair assuas crticas pelo receio de perderem dinheiro da publicidade ouo acesso aos nveis mais elevados de deciso politica.

    Permite a cobertura de notcias que os media tradicionais noacham rentveis.

    Autoriza, graas s suas caractersticas interativas (incluindo apossibilidade de adicionar comentrios aos artigos), uma discus-so mais substancial dos acontecimentos da atualidade de umaforma que os media tradicionais jamais poderiam permitir (Joyce,2007: 3).

    No entanto, O jornalismo participativo, apesar de anunciar algu-mas vantagens, como por exemplo fazer ouvir novas vozes, apresentarum olhar fresco sobre os temas, preconizar relaes interessantes entrejornalistas e leitores, representa tambm algumas fragilidades, uma vezque so necessrias cautelas redobradas como a especulao, as fontesannimas e a fiabilidade das informaes transmitidas (RODRIGUES

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    2008). Alis, um dos pontos fracos da participao do leitor na cons-truo das notcias a questo da credibilidade (SILVA 2011).

    Tambm visto como sendo negativo o facto de se utilizarem ma-teriais produzidos por cidados, porque a estes no se pagam, mas otrabalho de produo de notcias no vive s de vontade, preciso: di-nheiro, tempo e dedicao. Tambm se questiona a qualidade da infor-mao, pois os cidados no tm formao slida em mtodos e valoresjornalsticos, surgindo notcias sem interesse, no verdadeiras, ine-xatas e at mesmo ofensivas. Alm disso, a credibilidade informativatambm est em causa: sem qualquer controle da informao, difcilsaber o que verdadeiramente notcia e no mera opinio ou especu-lao.

    Em suma, neste cenrio participativo, o papel do jornalista ser:avaliar, editar e publicar o material produzido pelos cidados, seme-lhana do que faz com qualquer outra fonte de informao; organi-zar comunidades, criando relaes e mobilizando as pessoas reunidaspor interesses e necessidades comuns; fazer a diferena, reforando osprincpios ticos e deontolgicos de verificao a informao, na buscada verdade, com independncia e objetividade, procurando promoverum espao pblico de debate. Isto vai ao encontro da ideia que o jor-nalismo on-line influencia os vrios aspetos da realidade jornalstica.Um desses elementos, ou mesmo o principal, o jornalista que, tam-bm ele, profundamente afetado (AROSO 2003). Perante uma novarealidade profissional, ento, as competncias que so exigidas ao jor-nalista, como natural, tambm mudam (AROSO 2003).

    No jornalismo participativo, devido possibilidade de qualquer ci-dado poder colaborar no processo noticioso, sobressaem as noes degatewatching um conceito de Axel Bruns (2005) para se referir participao do pblico na produo de informao e consequentenecessidade de redefinir o conceito de gatekeeping e de prosumer(consumidor-produtor) os consumidores so simultaneamente produ-tores e o papel do jornalismo passa tambm por fomentar a participao,sendo que o jornalista no um simples mediador (Cf. RODRIGUES2010). Nesse sentido, o webjornalismo participativo no uma ameaaao jornalismo tradicional ou ao prprio webjornalismo e sim mais umaopo na oferta de notcias, e que cria novo relacionamento dos sujeitoscom o noticirio (PRIMO e TRSEL 2006: 16).

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    2 As redes sociais: oportunidade ou ameaa para ojornalismo?

    Um questo que se coloca repetidamente esta: as redes sociais com-petem ou colaboram com o jornalismo? Sem poder dar uma respostaunvoca a esta pergunta, o que certo que se postula a interligaoentre os meios de comunicao tradicionais e os meios sociais: blogs,wikis, redes sociais, entre outros. Na verdade, tal como afirma JooCanavilhas, Con el crecimiento acelerado de los llamados Social Me-dia, los medios de comunicacin tradicionales tratan de adaptarse a esteecosistema meditico en rpida evolucin, optimizando sus sitios webpara potenciar la partilla de noticias (SMO) y ofreciendo espacio paracomentarios (CANAVILHAS 2011).

    Neste contexto, evidenciam-se conceitos como mass self commu-nication (Manuel Castells, 2009) coexistncia entre a comunicaoindividual e de massas e comunicao em rede (Gustavo Cardoso,2009) fuso da comunicao interpessoal e em massa, ligando au-dincias, emissores e editores sob uma matriz de media em rede (Cf.RODRIGUES 2010).

    Reportando ao caso especfico das redes sociais, Catarina Rodriguesalerta para os desafios que estas colocam atividade jornalstica: Onmero de utilizadores de redes como o Twitter e o Facebook permiteequacionar questes fundamentais no jornalismo como o relacionamen-to com as fontes, a ampliao, valorizao e distribuio de contedos,a fidelizao dos leitores e a velocidade informativa (RODRIGUES2010). No caso particular do Facebook, defende: A utilizao do Face-book pelos media um dado adquirido, nomeadamente como agregadorde notcias, como plataforma de difuso de informao e at como umaforma de captar leitores (RODRIGUES 2010).

    Idealmente, as consequncias da presena meios de comunicaonas redes sociais sero o aumento da audincia e o fortalecimento dosvnculos com esta, j que transformam audincias em comunidades. A-lis, podemos decir que el uso de las redes sociales en la distribucin denoticias aumenta el nmero de lectores (CANAVILHAS 2011). JooCanavilhas acrescenta que las redes sociales facilitan un cambio en laforma como los usuarios se relacionan con los medios de comunicacin,fortaleciendo los vnculos. Este enfoque mejora la transformacin de las

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    audiencias en las comunidades, situacin que tiende a generar lealtad delos consumidores por el desarrollo de sentimientos de pertenencia a unacomunidad (CANAVILHAS 2011).

    Enfim, a presena e interao jornalstica com as redes sociais tor-nam notria a necessidade de normas e princpios que regulem esta li-gao. Isto significa que a associao entre o contedo publicado nasredes sociais e a linha editorial de um meio de comunicao social podeimplicar a extenso das regras ticas e deontolgicas (RODRIGUES2010).

    3 O jornalismo participativo no jornalismo regionalQuando se problematiza a utilizao da internet no jornalismo regionalcomo ferramenta do jornalismo participativo, observa-se, desde logo,uma aparente contradio entre o mbito local e o meio global. Porm,a reviso de literatura demonstra que esta matria, no s uma rea deinvestigao relevante, como tambm constitui um ideal que se procuraconcretizar em vrios meios de mbito regional.

    Um exemplo de iniciativa acadmica e emprica nesta rea, em Por-tugal, o projeto de investigao Agenda dos Cidados: jornalismo eparticipao cvica nos media portugueses. Este estudo, desenvolvidopor uma equipa de pesquisadores do LABCOM, na Universidade daBeira Interior, surgiu com o objetivo fundamental de identificar, fo-mentar e experimentar prticas jornalsticas que contribuam para re-forar o compromisso dos cidados com a comunidade e a deliberaodemocrtica na esfera pblica, numa perspetiva de fortalecimento dacidadania, seguindo a inspirao e o exemplo do chamado jornalismopblico e, eventualmente, outras formas de jornalismo comunitrio(CORREIA, MORAIS e SOUSA 2011: 1).

    De acordo com este projeto, a imprensa regional tem potenciali-dades que podem e devem aproveitadas para aumentar a participaocvica dos cidados. Ento, apesar da perspetiva crtica que deve acom-panhar a receo do jornalismo pblico, acredita-se que possvel, es-pecialmente em cidades de pequena e mdia dimenso, servidas pelaimprensa regional, colocar como hiptese o recurso a algumas das su-gestes testadas, direcionadas por estas formas de jornalismo (COR-REIA, MORAIS e SOUSA 2011: 6). Para poder colocar em prtica

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    um ideal de fomentar e experimentar prticas jornalsticas que con-tribuam para reforar o compromisso dos cidados com a comunidadee a deliberao democrtica na esfera pblica, numa perspetiva de for-talecimento da cidadania, preciso conhecer primeiro a realidade daimprensa regional e as suas possibilidades (CORREIA, MORAIS eSOUSA 2011: 6).

    Os dados encontrados, at ao momento, pelos investigadores, apon-tam para alguns aspetos pertinentes sobre a imprensa regional, sobres-saindo a existncia de uma tenso entre a valorizao da cidadania ea participao dos leitores e o apego a valores profissionais que noso compatveis com aquelas premissas tpicas do jornalismo cvico(CORREIA, MORAIS e SOUSA 2011: 26-27). Por outro lado, resul-tante da realizao de questionrios junto das populaes, concluiu-seque os leitores dos diferentes jornais ainda continuam a pensar nos jor-nais regionais enquanto espao sobretudo de informao, sem real poderde interveno e contribuio na resoluo dos problemas. Simultanea-mente, consideram que devia ser dado mais espao aos cidados e aosseus problemas (CORREIA, MORAIS e SOUSA 2011: 27-28).

    4 Estudo: a utilizao das redes sociais comoferramenta do jornalismo participativo nos meiosde comunicao social de Vila Real

    A evoluo e peculiaridade da participao cvica e da introduo da in-ternet no jornalismo de cariz regional e local conduz a uma pergunta deinvestigao: existe jornalismo participativo nos meios de comunicaoregionais portugueses? Sendo esta uma questo muito abrangente, nombito deste estudo, procurou-se uma abordagem exploratria e parce-lar, circunscrita em termos locais e temticos. Assim, sendo certo que asredes sociais so uma ferramenta essencial do jornalismo participativo,permitindo a colaborao do cidado comum em todo o processo jor-nalstico, focou-se a pesquisa nesta interrogao: as redes sociais sousadas como ferramentas do jornalismo participativo na dimenso re-gional e local? Mais concretamente, desenvolveu-se uma investigaoque possibilita responder questo: qual a utilizao das redes sociaispelos meios de comunicao social de Vila Real?

    A pesquisa incidiu sobre as pginas de Facebook dos meios de co-

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    municao social da cidade de Vila Real: radiofnicos, impressos etelevisivos. A nvel da rdio existem duas na cidade que tm pgina noFacebook, por isso estudaram-se a Universidade FM e a Rdio Voz doMaro. Quanto televiso, foram estudadas as pginas de Facebookdas delegaes dos regionais de canais de televiso nacionais sedeadasem Vila Real: TVI Viso Norte Produes Audiovisuais, SIC Vila Reale Porto Canal Douro. Quanto imprensa, o nico jornal com presenanesta rede social o Notcias de Vila Real.

    A observao decorreu em abril de 2012 e procurou traar umaviso sincrnica sobre esta realidade. O objetivo foi muito claro: aferira utilizao que estes meios fazem das redes sociais como potenciaisferramentas de jornalismo participativo, utilizando-se como mtodo aanlise de contedo. Para atingir este desiderato, o mtodo de pesquisautilizado foi a anlise de contedo, sendo que as categorias de anliseincluem: a ligao no stio da internet do meio para a respetiva pginade Facebook; a data de incio da pgina; o nmero de amigos ou fs; adescrio do meio; os contedos; os apelos participao dos cidados;a atualizao; os comentrios; as publicaes no mural; os contactosdos jornalistas e as informaes de contacto do meio.

    Passando para os resultados da investigao, um dos pontos ana-lisados foi a forma como os meios de comunicao social aproveitam ostio na Internet para fazerem a ligao respetiva pgina de Facebook.Como se pode verificar na tabela 1, nem sempre se usufrui deste vnculofundamental.

    Tabela 1 Ligao no stio da internet do meio para a respetivapgina de Facebook

    Outro dado investigado foi a data em que foram criadas as pginas

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    de Facebook destes meios. Conforme se pode observar na tabela 2, comexceo da rdio Universidade FM, cuja pgina teve incio no ano 2010,todas as pginas foram criadas no ano 2011.

    Tabela 2 Data de incio da pgina

    Quanto ao nmero de amigos e/ou fs de cada pgina, constatou-seuma grande disparidade a este nvel, entre os diversos meios, tal comose v na tabela 3. tambm de salientar que no caso do Porto CanalDouro, j se excederam o nmero permitido de amigos na conta indi-vidual (cinco mil), mas a pgina vai ganhando cada vez mais destaque.

    Tabela 3 Nmero de amigos ou fs

    Tambm reveladora da utilizao que feita da pgina de Facebook a forma como estes meios se descrevem, que, como possvel com-provar na tabela 4, muito diversificada.

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    Tabela 4 Descrio do meio

    Relativamente aos contedos publicados nas pginas de Facebook, notrio que, na maioria dos casos, so colocadas notcias produzidaspelo prprio meio de comunicao social. Porm, tal como se concluipela anlise da tabela 5, alguns meios tambm divulgam outro tipos decontedos.

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    Tabela 5 Contedos

    O pedido direto de participao aos cidados raramente acontece,como se observa na tabela 6. Alm disso, quando surge, diz respeitoa inquritos, votaes e, s num dos casos, se solicita a opinio daspessoas sobre determinado assunto.

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    Tabela 6 Apelos participao dos cidados

    A atualizao fulcral no ambiente online, mas tal no parece sertido em linha de conta pela totalidade dos meios estudados, como sedepreende da tabela 7.

    Tabela 7 Atualizao

    No que diz respeito possibilidade de comentar as publicaes, hunanimidade: todos os meios permitem (ver na tabela 8).

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    Tabela 8 Comentrios

    J que no concerne s publicaes no mural, h diferenas entremeios: tanto so permitidas e as publicaes surgem (apenas um caso),como so permitidas e no aparece nenhuma (possivelmente porque sosujeitas a aprovao), como no permitem. Esta diversidade notriaao atentar na tabela 9.

    Tabela 9 Publicaes no mural

    Outra considerao resultante desta pesquisa, visvel na tabela 10, o no fornecimento de contactos individualizados dos jornalistas. Istopermitiria uma comunicao mais direta entre o cidado e o jornalista.No entanto, s se fornecem os contactos gerais dos meios de comuni-cao social. Por outro lado, nem sempre a identificao dos jornalistasvai para alm da assinatura das peas jornalsticas.

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    Tabela 10 Contactos dos jornalistas

    Por fim, as prprias informaes de contacto e outras que so forne-cidas sobre o meio de comunicao social diferem muito, embora pre-valeam, como se constata na tabela 11, os esclarecimentos bsicos.

    Tabela 11 Informaes de contacto do meio

    Perante estes resultados, e ainda que se trate de um estudo prelimi-nar que deve ser aplicado a amostras mais amplas, chega-se s seguintesconcluses:

    as redes sociais so pouco usadas para pedido de participao/colaborao do pblico na construo jornalstica;

    as redes sociais so principalmente utilizadas para publicao daspeas jornalsticas;

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    a interatividade no totalmente explorada, exceto a possibili-dade unnime de comentar as publicaes (com a vantagem de osutilizadores serem sempre identificados);

    so fornecidos contactos dos meios, que embora gerais e no es-pecficos dos jornalistas, podem permitir a participao dos cida-dos;

    a atualizao dos contedos permitida pelas redes sociais nemsempre aproveitada.

    Finalmente, volta-se questo: as redes sociais so usadas comoferramentas no jornalismo participativo na dimenso regional e local?No caso dos meios de comunicao social presentes em Vila Real, a res-posta esta: de um modo parcial e incipiente. No entanto, considera-seque, perante este estudo exploratrio, evidente a necessidade de in-vestigaes mais aprofundadas e cobrindo mais vertentes do jornalismoparticipativo, no s as redes sociais. Neste sentido, em pesquisas fu-turas, em termos metodolgicos, deve combinar-se a anlise de con-tedo com entrevistas e inquritos aos jornalistas e diretores dos meiosde comunicao regional do pas, bem como aos respetivos pblicos.Por outro lado, este estudo tem que alargar-se a todo o territrio na-cional, cobrindo, por exemplo, meios de comunicao regionais dasvrias capitais de distrito. S assim ser possvel traar um retrato dojornalismo participativo nos meios de comunicao regionais portugue-ses.

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