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RECURSOS MINERAIS E ENERGÉTICOS 6 TÓPICO Jefferson Picanço e Maria José Mesquita 6.1 Recursos Minerais e Energéticos e sua importância 6.2 Conceitos Importantes 6.3 Recursos e Reservas Minerais 6.4 História dos recursos minerais e energéticos 6.4.1 Paleolítico ao Mesolítico 6.4.2 Neolítico 6.4.3 A Idade do Cobre 6.4.4 A Idade do Bronze 6.4.5 A Idade do Ferro 6.4.6 A Idade Média e Idade Moderna 6.4.7 Revolução Industrial - Carvão e Petróleo 6.6 Desafios para o Futuro

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AMBIENTE NA TERRA Evolução

RECURSOS MINERAIS E ENERGÉTICOS 6 TÓPI

CO

Jefferson Picanço e Maria José Mesquita

6.1 Recursos Minerais e Energéticos e sua importância6.2 Conceitos Importantes6.3 Recursos e Reservas Minerais6.4 História dos recursos minerais e energéticos

6.4.1 Paleolítico ao Mesolítico6.4.2 Neolítico 6.4.3 A Idade do Cobre6.4.4 A Idade do Bronze6.4.5 A Idade do Ferro6.4.6 A Idade Média e Idade Moderna 6.4.7 Revolução Industrial - Carvão e Petróleo

6.6 Desafios para o Futuro

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6.1 Recursos Minerais e Energéticos e sua importância

Desde os primórdios, é absolutamente impossível pensar em qualquer sociedade que não

tenha uma estreita vinculação com algum tipo de bem mineral. Desde os primeiros artefatos

líticos usados pelos Australopitecus às cerâmicas desenvolvidas no neolítico, aos instrumentos

das idades do bronze e do ferro, até nossa atual sociedade da era digital, baseada na energia

dos combustíveis fósseis e da eletricidade, os insumos minerais estão no centro de nossas vidas,

muito embora às vezes não tenhamos consciência disso.

O desenvolvimento de uma economia industrial depende da habilidade de cada país em

obter matéria prima mineral. Quanto mais desenvolvida economicamente, mais a sociedade faz

uso de insumos minerais, com usos cada vez mais sofisticados. Imagine, em nossa própria casa, o

quanto utilizamos de tijolos, cimento, ferragens, vidros, plásticos etc., todos insumos de origem

mineral. Nos carros, ônibus e aviões, utilizamos principalmente combustíveis fósseis, além de

ligas metálicas cada vez mais leves e sofisticadas. A agricultura moderna depende cada vez mais

de fertilizantes de origem mineral.

O crescimento acelerado da população mundial, combinado com a melhoria do padrão

de vida no mundo, aumenta enormemente a demanda por recursos minerais de todos os

tipos. E essa demanda continuará a crescer nos próximos anos. As estatísticas têm demons-

trado que a população mundial tem dobrado a cada 35 anos, enquanto o consumo de bens

minerais tem dobrado em intervalos de 12 a 25 anos. Para cada 1% no aumento do nível

social de um povo, ocorre um incremento de 5% em sua produção de bens minerais. Os

bens minerais também são um indicador para avaliar o grau de desenvolvimento material

de um país, uma vez que países industrializados consomem mais insumos minerais que os

países em desenvolvimento (Tabela 5.1).

Em toneladas Brasil Alemanha EUA

Minerais & metais 3,1 10,5 17,6

Carvão 0,1 2,5 3,4

Petróleo 0,5 1,6 3,1

Total 3,7 14,6 24,1

Tabela 5.1: Comparação do consumo per capita dos principais recursos minerais entre Brasil, Alemanha e Estados Unidos em 2001, conforme Luz & Linz (2006).

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6.2 Conceitos ImportantesO estudo dos recursos minerais requer um conhecimento básico de mineração e disciplinas

afins. Por isso, começamos com a pergunta: “O que é minério?” Todo bem mineral de valor

econômico é chamado minério. Os minérios são, portanto, minerais ou rochas que podem ser

minerados, processados e entregues ao mercado. Os recursos minerais são incluídos na categoria

de bens não renováveis. A água, único recurso mineral renovável, pode se tornar não-renovável

devido a certas formas de utilização. Mas esse assunto exigiria um tópico à parte.

Os recursos minerais podem ser divididos em quatro categorias (Tabela 6.2): Essenciais, que incluem

água e solo; Energéticos, incluindo combustível fóssil e combustível nuclear; Metálicos e Industriais. Os

combustíveis fósseis derivam de restos de plantas e animais soterrados junto com os sedimentos que

formam as rochas sedimentares. São combustíveis fósseis o carvão mineral, o petróleo e o gás natural.

Foram os grandes protagonistas do Século XX (e ainda o são), pois, para o tipo de desenvolvimento

econômico e social estabelecido, é vital a energia gerada pelos combustíveis fósseis. Os combustíveis

nucleares, usados desde 1950, compreendem seu uso em usinas termonucleares e em armas atômicas a

partir do decaimento radioativo dos elementos urânio e tório. Desde o acidente nuclear de Chernobyl

(1986), seu uso tem sido severamente questionado, embora seja importante em muitos países indus-

trializados, como França, Alemanha e Japão. O recente acidente nuclear na usina de Fukushima, no

Japão, devido ao Tsunami de março de 2011, tem levado países como a Alemanha a anunciar plano de

desativação de todas as suas 17 usinas nucleares até 2022. A Alemanha tem 22% da energia de origem

nuclear e é o primeiro país industrializado a anunciar tal virada energética, como está sendo chamada.

Os recursos minerais metálicos e industriais podem ser classificados conforme as propriedades

físicas e químicas dos materiais e sua utilização, conforme descritos na tabela 6.2. Os recursos metá-

licos foram a base do desenvolvimento industrial do século XIX, prolongando-se pelo século XX.

Energéticos Categorias ExemplosFósseis Óleo, gás, carvão, turfa

Nucleares Urânio, tório

Metálicos Categorias Exemplos

Ferrosos Ferroligas Ferro, manganês, cromo, molibdênio, níquel, cobalto, tungstênio, vanádio

Não-ferrosos Básicos Cobre, chumbo, zinco, estanho

Leves Alumínio, magnésio, titânio, berílio

Preciosos Ouro, prata, platina

Raros Berílio, césio, lítio

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Industriais Categorias ExemplosMateriais de construção Agregados, areias silicosas, argila vermelha,

calcário, rochas ornamentais

Cimento e cal Calcário, argila, gipsita

Cerâmica vermelha (tijolo) e cerâmica branca (louças de mesa, revestimentos, louças sanitárias)

Argila comumcaulim, sílica, felsdspatos, calcário, talco

Material para indústria química Enxofre, fluorita, sais, pirita, cromita, barita, calcário, evaporitos

Agrominerais Fosfatos, minerais de potássio, nitrato, enxofre, calcário

Refratários bauxitas, cromita, magnesita, argilas, sílica, calcário

Abrasivos Coríndon, diamante, granada, quartzito

Isolantes Amianto, mica

Pigmentos Barita, ocre, minerais de titânio,

gemas Diamante, rubi, turmalina, topázio

Essenciais Categorias Exemploságua

solo

Tabela 6.2: Classificação dos recursos minerais e sua utilização

Os recursos minerais industriais são substâncias naturais aplicadas em produtos e processos como

matérias-primas, insumos e aditivos nos mais diversos segmentos industriais. São as matérias-primas

típicas da segunda revolução industrial, imprescindíveis na fabricação de produtos demandados pela

sociedade pós-industrial e urbana (plásticos, fibra ótica, componentes eletrônicos, indústria espacial).

Outro grupo de minerais industriais é o dos chamados minerais sociais, pois tem usos tradicionais

na implantação da infraestrutura urbana como agregados (brita e areia), cal, cimento, tintas, vidros,

cerâmicas, papel etc. É possível fazer um paralelo entre o consumo de recursos minerais industriais

e o desenvolvimento industrial dos países. Nos países menos desenvolvidos, predomina a extração

de recursos minerais metálicos, que são exportados sem beneficiamento para países industrializados

(Figura 6.1). Com o desenvolvimento industrial e o aumento da indústria de manufaturas, aumenta

a necessidade dos minerais industriais, eventualmente superando em valor o dos recursos metálicos.

O minério pode ser composto de minerais de minério e de ganga, que é um material sem

valor econômico. Dependendo das circunstâncias geológicas, o minério pode ocorrer

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disseminado ou confinado na rocha. No minério disseminado, os minerais de minério estão

finamente dispersos na ganga. Neste caso, costuma-se dizer que são depósitos minerais de

baixos teores, em grandes volumes de rochas.

Como exemplo deste tipo de minério disse-

minado temos os depósitos de cobre do

Chile e do Peru, entre os maiores do mundo.

No minério confinado, os minerais de miné-

rio estão concentrados em um pequeno

volume de rocha. Neste caso, diz-se que são

depósitos minerais com altos teores de miné-

rio concentrado. Os minérios confinados

podem ser classificados em relação à rocha

hospedeira (rocha que contém o minério)

em discordantes e concordantes. O minério

discordante corta as rochas e suas estruturas

(acamamento, foliação) e será sempre mais

jovem que a rocha hospedeira. Depósitos minerais deste tipo são os veios, as chaminés vulcâni-

cas e os stockworks. Os depósitos de ouro tipo veio são depósitos de ouro importantes no

mundo todo (Canadá, Austrália, Brasil). O minério concordante posiciona-se paralelamente às

camadas da rocha ou a qualquer outra estrutura da rocha encaixante. Pode ser mais jovem ou

não em relação às rochas encaixantes. Depósitos concordantes incluem os depósitos estratifor-

mes, depósitos lenticulares e depósitos estrato-ligados (stratabound). O depósito estratiforme de

Bushveld, na África do Sul, é um dos maiores depósitos mundiais de níquel, cromo e minerais

do grupo da platina. O minério pode ainda ser chamado de minério maciço, quando a rocha

toda é o minério, como rochas maciças de óxidos, de sulfetos, ou camadas de carvão ou calcário.

Todos esses depósitos minerais descritos neste parágrafo são chamados primários, pois fazem

parte da rocha. O minério secundário é formado da desagregação do minério primário por

intemperismo e erosão, e é encontrado nos sedimentos das praias, rios, mares e lagos.

Outra pergunta pertinente a esta altura do texto é: “O que é mineração?” A mineração é

o processo de extrair recursos minerais de valor econômico da crosta da Terra para benefício

da humanidade. A lavra, por definição, é o conjunto de operações que são realizadas visando à

retirada do minério a partir do depósito mineral. O depósito mineral que está sendo lavrado é

Figura 6.1: Relação entre o desenvolvimento dos países industrial-izados e o aumento em valor dos minerais industriais em relação aos minerais metálicos brutos (Manning, 1995).

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denominado mina. A lavra pode ser bastante simples, com atividades manuais, até altamente meca-

nizada e em larga escala de produção, como ocorre nas minas de ferro do quadrilátero ferrífero em

Minas Gerais, administradas pela companhia Vale (ver Figura 6.6). O garimpo também constitui

uma jazida mineral em lavra, na qual, para a extração de suas substâncias úteis, não foram realizados

estudos prévios. Apesar de rudimentares, os garimpos respondem a uma parcela significativa da

produção de determinados bens minerais como a esmeralda, o diamante, o ouro e a cassiterita.

No início dos anos oitenta, no depósito de ouro de Serra Pelada, localizado na Província Mineral

do Carajás, no estado do Pará, instalou-se uma das mais intensas atividades garimpeiras do Brasil.

As minas podem ser divididas em minas a céu aberto, minas subterrâneas e minas não-invasivas.

As minas a céu aberto - o nome já diz - são instaladas quando o minério a ser lavrado se encontra

na superfície. As minas subterrâneas são minas instaladas em profundidade, variando de dezenas a

centenas de metros. Este tipo de mina requer maiores cuidados na sua instalação e são muito mais

onerosas. As minas não-invasivas são as que extraem óleo e gás, e requerem somente atividades de

sondagens. Outro tipo de mina não-invasiva é a mineração de salmouras, nas quais é introduzida

água quente para solubilizar os sais em profundidade, os quais retornam como salmouras à superfície.

Na maioria das vezes, o minério extraído bruto não se encontra suficientemente puro ou

adequado para ser submetido a processos industriais ou metalúrgicos. O beneficiamento, ou

tratamento de minérios, é um conjunto de processos industriais de separação e/ou purificação

do minério para torná-lo apto à utilização.

6.3 Recursos e Reservas MineraisOs recursos minerais podem ser distinguidos em diferentes classes, conforme o grau de

conhecimento geológico e técnico-econômico de suas diferentes porções, com implicações

legais, políticas, ambientais, sociais e econômicas. O modelo mais utilizado atualmente é o Jorc

Code, um conjunto de normas da Indústria Mineral Australiana (Figura 6.2).

Um recurso mineral é definido como uma ocorrência mineral identificada in situ, a

partir da qual minerais úteis ou valiosos podem ser recuperados. Os recursos minerais

podem ser subdivididos em recursos inferidos, indicados e medidos, os quais refletem

nesta ordem um conhecimento geológico, econômico e confiabilidade crescentes.

Uma reserva mineral é definida como parte de recursos minerais medidos ou indicados, que

pode ser lavrada, inclusive com diluição, e a partir da qual minerais úteis ou valiosos podem ser

recuperados economicamente sob condições realisticamente assumidas.

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Os recursos minerais medidos podem ser convertidos em reserva provável e reserva provada. O

estudo detalhado e quantificado de recursos e reservas minerais pode levar à individualização de

um depósito mineral. O depósito mineral é um volume de rocha, onde substâncias minerais ou

químicas estão concentradas de modo anômalo, quando comparadas com sua distribuição média

na crosta terrestre, e em quantidade suficiente para indicar um potencial mineral econômico.

Em face dos conceitos apresentados, é possível dizer que o papel do geólogo, nestes tempos

de escassez de bens minerais, é transformar recurso em reserva e potencialidades em recurso

mineral, minimizando assim a crise iminente do planeta por suprimento mineral.

6.4 História dos recursos minerais e energéticos6.4.1 Paleolítico ao Mesolítico

Durante os períodos Paleolítico (2,6 milhões de anos a 300 mil anos a.C.) e Mesolítico (300 mil

a 12 mil a.C.), as principais necessidades das populações humanas eram resolvidas com as atividades

caçadoras-coletoras. Os utensílios mais utilizados eram armas e ferramentas para a caça ou a pesca. O

material mais usado para esses fins era o sílex. O sílex é uma rocha sedimentar química, constituída

por quartzo microcristalino. Trata-se de uma rocha muito dura e resistente. Quando quebrado, o sílex

forma fraturas conchoidais, com arestas pontiagudas, sendo ideais para a confecção de diversos objetos,

Figura 6.2: Modelo australiano para estimativa de reserva e recurso de minério, conforme código australiano de 2004, baseado em AusIMM (1996). As reservas minerais (delineadas na caixa cinza) dependem dos fatores indicados, que afetam a extração.

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como cortadores, raspadores, pontas de flecha, martelos e machados. Além do sílex, também podia ser

usada a obsidiana ou vidro vulcânico, que ocorre próximo de regiões vulcânicas. Na ausência destes

materiais, também eram usadas outras rochas, como granitos, dioritos, andesitos e quartzitos.

Ao final do Mesolítico, o desenvolvimento das técnicas de lascamento dos materiais rocho-

sos levou a uma rica indústria lítica, com a fabricação de diversos tipos de instrumentos novos

e especializados, como lanças, dardos e anzóis. O desenvolvimento de rituais funerários mais

complexos, por outro lado, levou à utilização de pigmentos, sendo o principal deles a hematita,

um óxido de ferro bastante comum, com pó de coloração vermelha bastante característica. A

mais antiga mina conhecida é uma exploração de hematita com mais de 40 mil anos de idade,

localizada em Bomvu Ridge, na atual Suazilândia, no sul da África.

6.4.2 Neolítico

O período Neolítico inicia-se há 12 mil anos a.C., marcado por uma série de desenvolvi-

mentos importantes, como o de novos instrumentos (como a tecnologia da pedra polida), o

surgimento da cerâmica e da metalurgia, a domesticação de animais e de plantas, com o início

da pecuária e da agricultura. É também o período de surgimento das primeiras cidades e das

primeiras civilizações históricas. A passagem da predação para a agricultura foi a primeira grande

transformação dos meios produtivos, chamada por alguns autores de Revolução Neolítica.

Com o estabelecimento de comunidades sedentárias, numerosas transformações ocorrem

no interior das novas sociedades. Há a necessidade de mais matéria prima de origem mineral,

principalmente para instrumentos para agricultura, entre outros. O aumento da demanda gera

um boom na exploração de diversos insumos, com o surgimento de regiões mineradoras e um

ativo comércio, que alcança grandes distâncias.

Além de um aumento na procura por sílex de boa qualidade, o sal se torna uma necessidade

por causa das mudanças alimentares da população. O sal também é usado em cerimônias reli-

giosas e como moeda (de onde vem o termo salário). Nesse período, existe uma importante

procura por outras substâncias como o âmbar, vários ocres e pelo mineral estibnita, usados

como ornamentação e como cosmético desde, pelo menos, 3000 a.C..

O primeiro metal amplamente utilizado é o ouro, conhecido principalmente a partir de

6000 a.C.. Encontrado em leitos de rios ou como ouro nativo em afloramentos rochosos, o

ouro é o mais dúctil dos metais, podendo ser facilmente reduzido a fios ou folhas extremamente

finas. Foi inicialmente usado como decoração e adorno pessoal.

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6.4.3 A Idade do Cobre

Embora os minerais de cobre oxidados (malaquita, azurita) há muito fossem conhecidos, eram

usados somente como ornamentação, uma vez que se desconhecia seu conteúdo metalífero.

Acredita-se que o cobre nativo tenha sido a primeira forma de uso do metal. Embora fosse

relativamente mole, o cobre nativo podia ser endurecido com o martelamento, gerando armas e

ferramentas mais fáceis de moldar que o lascamento de pedras. Entretanto, o martelamento exces-

sivo tornava o metal quebradiço. Somente por volta de 4000 a.C. se desenvolveu a metalurgia do

cobre, com o desenvolvimento de processos de fundição do metal com o uso de carvão vegetal.

A tecnologia de fundição do cobre deve ter se desenvolvido na Ásia Menor, Armênia ou Irã,

tendo se espalhado posteriormente por todo o mundo conhecido. No Egito, as ferramentas de

cobre facilitaram o corte de blocos de pedra e possibilitaram a construção das primeiras pirâmides.

6.4.4 A Idade do Bronze

A metalurgia torna-se, a partir de então, mais sofisticada, com o uso cada vez maior de ligas

metálicas. Uma das primeiras ligas utilizadas foi o pewter, uma liga metálica de cobre, estanho,

bismuto e chumbo, alcançada a temperaturas relativamente baixas (170-230oC). No entanto, a

mais importante das ligas metálicas foi o bronze. Obtido a partir da mistura de óxido de estanho

com cobre nativo, resultava numa liga muito mais dura e mais fácil de moldar que o cobre.

O bronze deve ter surgido por volta de 3000 a.C. no atual Irã. No entanto, as fontes pri-

mitivas de estanho, advindas do mineral cassiterita, devem ter sido do sudeste asiático (Malásia)

e da Europa ocidental. Os Celtas foram metalurgistas ativos na Europa Ocidental, dominando

áreas importantes como as regiões estaníferas da Cornualha, Bretanha e Ibéria (Figura 6.3).

Rapidamente, o bronze tornou-se a base da indústria, das artes e da guerra. Nesse período,

desenvolvem-se diversos tipos de bronze a partir de ligas com proporções diversas de cobre e

estanho, com as quais foram feitas obras de arte, ferramentas e armas.

No contexto do Mediterrâneo e Oriente Próximo, diversos povos estiveram ativamente en-

volvidos na extração de cobre e estanho e na produção de bronze. Duas rotas comerciais foram

mais importantes: uma ia do vale do Danúbio ao mar Negro e Anatólia, em busca das fontes

de cobre e estanho da região Nórica (atual Áustria) e na Boêmia. A outra rota, principalmente

marítima, ligava o Egito e a Ásia Menor à Europa ocidental (Hispânia, Itália e Gália), com o

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principal entreposto na ilha de Creta. A civilização minoica, desenvolvida na ilha de Creta, era

a principal importadora e exportadora. As jazidas mais importantes de cobre eram exploradas

na ilha de Chipre (o cobre era chamado pelos romanos “aes cyprum”, ou “minério de Chipre”,

de onde derivou seu nome latino “cuprum”).

Entre 3000 e 2500 a.C. foi desenvolvido, provavelmente na Ásia Menor, o processo da

cupelação, que consistia na separação de ligas de prata e chumbo por volatilização do chumbo.

O processo de cupelação, juntamente com o de “fire-assay” (fusão coletora), ainda é um impor-

tante método na indústria de beneficiamento.

6.4.5 A Idade do Ferro

As formas oxidadas do ferro, como a hematita, eram conhecidas desde o paleolítico, sendo usadas

como pós e pigmentos. A exploração do ferro metálico deve ter sido iniciada com o material reco-

lhido de meteoritos de composição siderítica. Essas rochas são compostas por ferro e contêm 7% de

níquel e algum cobalto. O ferro é puro e maleável, podendo ser facilmente moldado em forma de

espadas e punhais. As primeiras experiências na fundição do ferro terrestre, provavelmente, ocorre-

ram na porção sudeste do mar Negro, por volta do século XIV a.C.. Seguindo a prática adquirida

na metalurgia do cobre, o ferro foi fundido a partir dos minerais magnetita ou hematita submetidos

a forte calor. As temperaturas obtidas não eram altas: era gerada uma massa esponjosa e pastosa

fracamente coerente, com o ferro fundido e muita escória entre os poros, denominada lupa. Esta lupa

era batida ainda quente com malhos para retirar o excesso de escória, obtendo assim o ferro forjado.

O ferro forjado era macio e maleável. Com o passar do tempo, os ferreiros aprenderam que

o minério de ferro, em contato com a lenha, pode absorver pequenas quantidades de carvão.

Este ferro carbonizado era então submetido a temperaturas mais altas e esfriado rapidamente.

Com isso, o ferro era temperado, ou seja, adquiria sua “têmpera”.

Os detentores dos segredos da fundição de metais tinham uma importante posição na so-

ciedade, adquirindo o status de magos. Assim como o agricultor, que com suas práticas tem o

papel sagrado de propiciar a divina fecundação, o trabalho dos metalurgistas ultrapassa o sentido

de arte ou técnica. Era ele o artífice e controlador dos processos naturais. Nessas sociedades

metalúrgicas, assim como nas sociedades agrícolas, a “mãe-terra” é quem guarda em seu ventre

os embriões metálicos, os quais, como sementes, vão se desenvolver e transformar. É aqui que

se gera a concepção vitalista da natureza, segundo a qual os minerais podem passar de um a

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outro, segundo graus diferentes de maturação, numa escala que vai do cobre ao ouro. Este era

considerado o produto final mais maduro desse processo.

Os Hititas foram os primeiros a desenvolver a tecnologia do ferro, por volta de 1385 a.C..

Rapidamente, entretanto, os segredos da fundição do ferro se espalharam por outras regiões do

mundo conhecido. No Mediterrâneo, as diversas civilizações passaram a competir entre si pela

posse das regiões mineradoras e suas rotas. Assim, os fenícios se estabelecem na Hispânia, e passam

a controlar as regiões mineradoras do Mediterrâneo Ocidental, como a região do atual Cinturão

Piritoso Ibérico, a qual possui importantes depósitos de cobre, prata, ouro e estanho (Figura 6.3).

Na Hispânia, os metalurgistas cartagineses desenvolveram um novo processo, a liquação. Através

desse processo, os minérios de prata e cobre eram separados nos fornos pela adição de chumbo.

Como a prata se associava ao chumbo, a liga desses metais era separada do cobre. Depois, a prata

era separada do chumbo por cupelação. O chumbo para o processo era obtido pela exploração de

veios do mineral galena na região de Cartagena (cujo nome significa “pequena Cartago”).

No extremo oriente, o cobre foi utilizado pelo menos desde 3000 a.C. na China, substituído a

seguir pelo bronze e pelo latão, uma liga de cobre e zinco. O latão polido era utilizado na Antiguidade

como espelho, entre outros usos. As primeiras evidências da utilização do ferro datam de 800 a.C., na

região de Shanxi. Embora, em 525 a.C., tenham sido cunhadas moedas de ferro na China, sua utili-

zação principal ficou restrita a instrumentos para a agricultura e para armas de guerra. Também são

famosas as porcelanas chinesas, feitas a partir da “china clay”, compostas principalmente pelo caulim.

A Índia foi, nos tempos antigos, uma das mais importantes fontes de ferro de boa qualidade.

As famosas espadas de Damasco, na Síria, eram obtidas com o ferro proveniente da Índia. Uma

das maiores fontes de riquezas minerais do subcontinente indiano foi, sobretudo, a indústria das

gemas. Desde o século VII d.C. até as descobertas de diamantes no Brasil, no século XVIII, a Índia

foi um grande produtor de diamantes e safiras. A ilha de Sri Lanka, no sul do subcontinente, ficou

conhecida como “ilha das gemas”, pela quantidade e qualidade das pedras que ali se extraíram.

Por volta de 700 a.C., os reis da Lídia, um reino da Ásia Menor (Figura 6.3), começaram a

usar o electrum, uma liga natural de ouro e prata, na confecção das primeiras moedas conheci-

das. Depois substituídas por moedas de ouro e de prata, foi a primeira utilização dos metais

como ativos financeiros. Na Grécia, inúmeras ocorrências de prata foram famosas: a mais famosa

delas foi a região das minas do Laurion, o sustentáculo financeiro de Atenas. Os depósitos do

Laurion, situados a 40 km de Atenas, eram depósitos de galena argentífera, contendo em média

8 a 10% de chumbo e entre 40 e 120 onças/tonelada de prata (1 onça é 28.3495g). Inicialmente

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escavadas a céu aberto, os trabalhos subterrâneos foram desenvolvidos com shafts e galerias que

alcançaram profundidades de até 100 m. Eram empregados moinhos de pedra para cominuição

do minério, que depois era lavado para separar a ganga, mais leve, do minério, mais pesado. O

beneficiamento era feito por oxidação e separação por gravidade em fornos, com a separação

da prata e do chumbo. Os trabalhadores mantidos nessas minas eram escravos capturados em

guerras, como em praticamente todas as minas antigas. Daí a fama de profissão perigosa e de-

gradante, pois os mineradores eram aprisionados, muitas vezes acorrentados, e não saíam mais

das minas subterrâneas. Também eram ricas em ouro as regiões da Tessália e Macedônia, no

norte da Grécia (Figura 6.3). Boa parte do esforço de guerra de Filipe da Macedônia e de seu

filho Alexandre, o Grande, foi financiada pelo ouro dos aluviões macedônicos.

Com as conquistas de Alexandre e o consequente surgimento do mundo helenizado, que ia

do Mediterrâneo à Pérsia, ocorre um período em que essas tradições babilônicas, egípcias, hebreias,

persas e gregas acabam por se conjugar. Um dos exemplos mais notáveis é o da escola alquímica que

se desenvolve a partir de Alexandria, no Egito, nos séculos IV a.C. até o século II d.C.. A Alquimia

Alexandrina conjuga, por exemplo, elementos da astrologia e da numerologia dos babilônios, fazendo

Figura 6.3: Principais zonas mineiras do mundo romano (séculos II a.C – IV d.C)

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relações da posição dos astros no céu com seus respectivos metais: Sol/ouro, Lua/prata, Vênus/

cobre, Mercúrio/mercúrio, Marte/ferro, Júpiter/estanho e Saturno/chumbo. Também são comuns

as referências à magia e o culto dos mistérios, derivados do Zoroastrismo persa.

Outra vertente importante é a filosofia clássica grega, principalmente com Platão e Aristóteles.

Este último, em sua Física, separa as quatro qualidades da matéria (quente, frio, seco e úmido),

as quais, combinando-se entre si, seriam as responsáveis por gerar os elementos (fogo, água, ar

e terra). Através das relações entre esses elementos e suas qualidades, seria possível explicar um

grande número de modificações do meio físico. As ideias de Aristóteles foram o substrato de

diversas formas de pensamento no mundo antigo e medieval, a partir das quais seria explicada

a formação de rochas e depósitos minerais até os tempos modernos.

Com a derrota de Cartago nas guerras púnicas, seguida pela derrota dos gregos e macedô-

nios, no século II a.C., Roma se apodera das principais regiões mineradoras da época, como a

Hispânia e a Ásia menor (Figura 6.3). Na Europa ocidental, os romanos assumem o controle

dos depósitos de estanho da Bretanha e da Cornualha, derrotando as populações celtas que aí

viviam. Finalmente, com o controle dos depósitos de ouro, cobre, prata e estanho da Europa

central, os romanos detêm um controle quase total da extração e produção de metais da bacia

mediterrânea, carreando para Roma imensas quantidades de metais e outros insumos minerais.

Os romanos utilizaram métodos de mineração hidráulica em larga escala para prospecção

de veias de minério, sobretudo uma forma de mineração conhecida como talho aberto. Ela

envolvia a construção de numerosos aquedutos para fornecer água para o topo da mina, onde

ela ficava armazenada em grandes reservatórios e tanques. Quando um tanque cheio era aberto,

a água descia pela vertente e erodia o solo, onde expunha a rocha subjacente e os veios de ouro.

A rocha dura era então atacada por choque térmico. Os romanos também usaram rodas d'água

para a drenagem das suas minas profundas, como as de Rio Tinto, na Hispânia.

Os metais preciosos, como o ouro e a prata, eram utilizados como ornamentação ou

como ativos financeiros, como os famosos denários romanos – que estão na raiz da palavra

portuguesa dinheiro e no dinar dos países árabes, entre outras. Entretanto, a sofisticação

e as novas necessidades de consumo advindas com a “Pax Romana” demandaram metais

e rochas em grandes quantidades para a construção de casas, estradas, pontes e aquedutos.

Boa parte da produção de chumbo era destinada para a impermeabilização de casas e para

a canalização. Nesse período, o pewter (liga metálica de cobre, estanho, bismuto e chumbo)

foi intensamente utilizado na fabricação de utensílios como taças, pratos, aparelhos de

jantar, entre outros.

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RECURSOS MINERAIS E ENERGÉTICOS 6

Com o desenvolvimento do império, verificou-se que o estoque de metais para as atividades

comerciais era limitado, apesar da produção de cerca de cinco toneladas/ano que ocorria nessa

época. Com as fontes de metal escasseando, os imperadores romanos tiveram de aumentar a

quantidade de dinheiro em circulação com a mesma quantidade de moedas. Os últimos anos

do império romano foram anos de intensa desvalorização da moeda.

6.4.6 A Idade Média e Idade Moderna

Com a queda do Império Romano do Ocidente e a ascensão do Islã, no século VI d.C.,

houve um acentuado declínio na atividade econômica europeia. No entanto, outras regiões da

Eurásia e da África, com economias baseadas em atividades mineradoras, foram incorporadas ao

comércio mundial. As minas de ouro da Núbia, no atual Sudão, passam a ser controladas pelos

árabes. Os mercadores árabes obtêm ouro em troca de sal através do comércio com os reinos da

África Ocidental, sobretudo com Mali e Gana. O sal, para esses reinos, como em boa parte da

África nesse período, era intensamente valorizado. Além da África Ocidental, na África Oriental

o reino do Mutapa (Monomotapa), na bacia do rio Zambezi, foi um importante produtor de

ouro até o século XVII, quando foi destruído pelos portugueses.

Como grandes herdeiros da ciência greco-romana, os árabes construíram uma escola origi-

nal, que transcendia a escola Alexandrina com influências persas e chinesas. Alquimistas como

Jabir e Razes foram muito influentes e tiveram várias contribuições originais como, por exem-

plo, os métodos de destilação e o conhecimento de inúmeras substâncias químicas e minerais. O

persa Al-Biruni escreveu, no século XI, um importante tratado sobre pedras preciosas, o Kitab

al-Jawahir. Também foram importantes para a ciência e filosofia os trabalhos do persa Avicena

(Ibn Sinna) e do cordobês Averróis (Ibn Rushd).

Na Europa, durante a chamada “Renascença Carolíngia” (séculos VII-VIII d.C.), ocorre uma

retomada da atividade econômica e, com ela, a procura por metais. Neste período são redescobertas

e exploradas as minas da Saxônia e da Boêmia, centrado principalmente na cidade de Kremnitz.

Durante a alta Idade Média, são descobertos, nos montes Harz, jazidas de molibdênio, tungstênio,

prata, bismuto, cobalto e níquel. A região se transforma num importante centro minerador.

Durante a baixa Idade Média, verifica-se uma intensa retomada comercial e aumenta muito a de-

manda por metais. Antigos centros mineiros são reativados e novas áreas de mineração são descobertas,

mas surgem alguns problemas de ordem técnica: os depósitos têm teores menores, diminuindo o lucro

dos mineradores e desincentivando sua exploração. Boa parte das jazidas agora por explorar é mais

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profunda, gerando dificuldades com problemas de escavação, ventilação e iluminação. Muitas das minas,

exploradas até o nível do lençol freático, estavam inundadas pela água. Ao lado desses problemas de

ordem técnica, no século XIV a peste negra dizimou cerca de 1/3 da população europeia.

Para solucionar os problemas técnicos e os de mão de obra, os mineiros europeus recorreram a

novas tecnologias de extração de minérios de baixo teor e o emprego intensivo de maquinários. Em

diversas regiões mineiras, são construídos reservatórios de água para mover os moinhos de rocha. Os

fornos catalães de fundir ferro, as “fargas catalanas”, existentes desde o século VI a.C., tornam-se maiores

e mais eficientes. Em 1451, Johannes Funcken reintroduz o método de separação de parte do cobre

por liquação com chumbo e subsequente cupelação do produto Ag-Pb com recuperação de chumbo.

Esta inovação torna rentáveis muitas minas desse tipo, impulsionando a mineração europeia do século

XV. São realizados inúmeros intercâmbios entre as áreas mineiras para conhecimento de novas técnicas

de extração e beneficiamento. As minas europeias entram numa fase de grande vitalidade econômica.

A vitalidade econômica europeia fez-se sentir com um maior contato com a cultura orien-

tal, principalmente através de Constantinopla e Veneza. Com isso, foram redescobertos os textos

de Platão e Aristóteles, traduzidos do árabe. Da mesma forma, foram traduzidos os grandes

pensadores árabes, como Jabir, Razes e Avicena, entre outros. Essas ideias foram retrabalhadas

durante o Renascimento, surgindo assim as vertentes do hermetismo e do neoplatonismo dos

séculos XV-XVII. Estas influências deram novas formas a alguns princípios vitalistas usados

para entender a origem dos depósitos minerais. Os alquimistas europeus dos séculos XVI e

XVII acreditavam que os depósitos minerais eram gerados por influências dos raios do sol,

astrológicas ou planetárias. Alguns filósofos, como Atanasius Kircher, enxergavam uma Terra

Viva, que expirava exalações metálicas como uma função regular do “metabolismo terrestre”.

Com a invenção da imprensa, em meados do século XV, surgem inúmeros manuais de mine-

ração e metalurgia. No início, eram manuais simples, de orientação prática, como o Bergwerk

und Probierbüchlein, de autoria anônima. No século XVI, surgem os grandes tratados sobre

mineração e metalurgia, como o De La Pirotecnia (1540), de Vanocchio Birigunccio e o De

Re Metallica (1555), de George Agrícola. Agrícola, que foi burgomestre do importante centro

mineiro de Kremnitz, na Saxônia, escreveu um dos livros mais influentes sobre a mineração

e produção de metais dos tempos modernos. Enriquecido com inúmeras e detalhadas xilo-

gravuras (ver Figura 6.4), mostra as etapas da exploração mineral, desde a exploração até os

processos de beneficiamento de metais, assim como as novas máquinas desenvolvidas para o

desenvolvimento das minas da Saxônia renascentista.

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RECURSOS MINERAIS E ENERGÉTICOS 6

A descoberta e a usurpação colonial das Américas pelos europeus abrem um novo capítulo da

história da mineração. As culturas mais desenvolvidas da América tinham uma metalurgia ainda in-

cipiente, com tecnologias da idade do cobre. Os principais centros de mineração foram a zona do

altiplano, a mais antiga, desde 1500 a.C., e a região do litoral pacífico da Colômbia e América

Central, desde 200 d.C.. As culturas do planalto mexicano têm uma cultura metalúrgica um pouco

mais recente, datando de 650 d.C.. Os principais produtos eram o cobre, o ouro e a prata. No século

XV, os intercâmbios entre as diferentes zonas metalúrgicas estabeleceram redes comerciais, que

abrangiam um território desde o vale central chileno até o centro-norte do México. Os processos

Figura 6.4: De Re Metallica (1555) de Georgius Agricola. A figura mostra operação de lavagem de minério em calhas de madeira (sluice Box).

Figura 6.5 a: Huayra, forno de fundição incaico, utilizado também pelos espanhóis.

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metalúrgicos eram de simples oxidação em fornos, ora com foles de sopro, comuns no México, ora

com as huayras, no altiplano andino (Figura 6.5 a e b). As huayras eram fornos construídos no alto

dos montes, com orifícios, pelos quais o vento mantinha o braseiro e promovia a oxidação do mi-

nério. Os espanhóis utilizaram as huayras até praticamente fins do século XVI.

Nos primeiros tempos da conquista espanhola, os metais preciosos foram simplesmente saquea-

dos dos tesouros imperiais. Assim como fizeram anteriormente em Santo Domingo, os espanhóis,

que conquistaram o México em 1519, exploraram o ouro aluvionar em algumas regiões, como ao

longo do rio Balsas. Posteriormente, foram descobertos inúmeros veios argentíferos em Pachuca,

Zacatecas, Taxco e outros centros mineiros ativos. No Peru, conquistado em 1532, os veios do Cerro

Rico de Potosi foram descobertos em 1543, uma das maiores fontes de prata que já se conheceu.

No entanto, o minério de alto teor rapidamente se esgotou, tanto no México quanto no Peru.

Na busca de uma solução para o problema, em 1557, o sevilhano Bartolomé de Medina inventa e

patenteia em Pachuca, México, o seu “Beneficio de Pátio”. Nesse processo, o mercúrio é acrescen-

tado, pela primeira vez na América, ao minério de prata pulverizado, água, sal e outros compostos.

As “tortas” de minério eram estendidas em pátios, onde eram continuamente revolvidas para ajudar

na mistura. Depois de semanas, o material era lavado e a liga de prata e mercúrio era levada a um

forno, onde o mercúrio era volatilizado. Provavelmente, Medina teve conhecimento do método de

amalgamação através de mineiros alemães. Seu método, aplicado no Peru em 1572, tornaria viáveis

inúmeros depósitos de prata de mais baixo teor na América espanhola. A quantidade de metais pre-

ciosos carreados das Américas pelos espanhóis inundou a Europa e provocou uma crise generalizada

de preços no século XVI. Por outro lado, acabou sufocando a nascente mineração europeia, que

apresentava custos de produção significativamente mais altos.

No século XVIII, bandeirantes paulistas acabam por encontrar os ricos depósitos de Minas

Gerais, Mato Grosso, Bahia e Goiás. O ouro brasileiro contribuiu, no século XVIII, com cerca

de dois terços da produção mundial. Na mesma época, foram descobertos os ricos depósitos

diamantíferos do rio Jequitinhonha, os quais desbancaram a produção da Índia.

A produção mineral americana, no entanto, tinha custos sociais bastante altos. Na América

espanhola, a mão de obra, sobretudo indígena, foi submetida a práticas de trabalho compulsório,

como a encomienda e a mita. Milhões de pessoas acabaram morrendo por fome, doenças e

por resistência à imposição das práticas de trabalho forçado. Na América portuguesa, a es-

cravidão indígena, apesar de formalmente proibida, foi amplamente utilizada, levando a um

desastre demográfico considerável. Com a descoberta do ouro, no século XVIII, intensificou-se

Figura 6.5 b: Forno mexicano pré-hispânico, com canudos ou soplete.

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o comércio negreiro, num período em que foram importados cerca de três milhões de pessoas

para trabalhar como escravos nas minas e lavouras brasileiras.

6.4.7 Revolução Industrial – Carvão e Petróleo

O carvão foi a base da indústria moderna, desde o século XVIII até meados do século XX.

Conhecido desde a Antiguidade, sua utilização começa a se tornar importante, a partir da Idade

Média, como um substituto para o carvão vegetal. Já na Idade Média, o carvão era explorado

em pequenos shafts em forma de sino, na Inglaterra e na Bélgica. Em geral, cavava-se um poço

até o minério, que era içado para a superfície com a ajuda de roldanas. Quando o teto desmo-

ronava e a água preenchia a cava, ela era abandonada.

No início do século XVIII, a queima de carvão vegetal era extensivamente utilizada na fabricação

de cal, tijolos e telhas, na fabricação de vidros, na evaporação de água para obtenção do sal e na

metalurgia em geral. O forno catalão, por outro lado, era um alto consumidor de carvão vegetal. Essa

utilização intensiva levou à exaustão das florestas europeias. A primeira grande utilização do carvão

foi na produção do ferro em altos-fornos. Com isso, iniciou-se o consumo de carvão mineral até a

introdução do coque. O coque é um combustível sólido de carbono e fonte de carbono utilizada para

derreter e reduzir o minério de ferro. Nos alto-fornos, eram colocados o minério de ferro, coque, ar

aquecido e o calcário como fundente. As misturas de calcário e impurezas flutuam para o topo da

camada de ferro fundido e são retiradas após a fusão ser concluída. O ferro obtido era então totalmente

fundido e separado da escória, gerando o ferro gusa. Com o processo do uso do coque na siderurgia a

partir de 1745, a produção inglesa rapidamente aumentou: em 1760, existiam em funcionamento 17

altos-fornos. Em 1775, eram 31, pulando para 81 em 1791. O carvão também passou a ser usado como

combustível nas máquinas a vapor que então se desenvolviam. Era o início da era industrial moderna.

A mineração de carvão apresentava inúmeros problemas, como as questões de drenagem

de cavas e galerias, e a ventilação e iluminação inadequadas de poços e galerias subterrâneas.

Outro problema de natureza logística era o transporte de minério nas galerias e seu içamento

nos poços nas minas subterrâneas. Também eram frequentes as explosões nas minas de carvão,

causadas pelo escape de gases como o metano no interior das galerias.

Durante todo o século XIX, foram feitos inúmeros avanços tecnológicos, que resultaram em

aumento de produtividade na mineração. As primitivas rodas d’água para drenagem de galerias

foram substituídas por bombas a vapor. As bombas d’água tipo Cornish foram superiores em

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AMBIENTE NA TERRA Evolução

economia de combustível em relação às bombas a vapor. Elas também possuíam uma clara van-

tagem, porque trabalhavam sob a água. Com isso, a parte subterrânea do equipamento também

pode ficar durante anos em uma mina inundada, podendo ser reiniciado a qualquer momento.

Hoje, a maior parte das funções de drenagem de mina é feita com bombas elétricas.

O trabalho com rochas duras foi completamente modificado pelos avanços tecnológicos. O

emprego de explosivos torna-se mais comum, mais barato e mais seguro. Desde sua primeira

utilização, nas minas do Harz, em 1638, o uso de explosivos vai se tornando comum na mi-

neração. No século XIX, a descoberta da nitroglicerina e a invenção da dinamite, patenteada

em 1867 pelo sueco Alfred Nobel, foram igualmente decisivas para os trabalhos mineiros. Em

1864, o francês Leschot inventou a coroa diamantada, possibilitando o surgimento do moderno

trabalho de perfuração, melhorando e aperfeiçoando os trabalhos de pesquisa e exploração de

minérios não-aflorantes em superfície. Da mesma forma, a utilização de equipamento de ar

comprimido, notadamente a partir de 1850, foi importante no desenvolvimento de trabalhos

subterrâneos. As perfuradoras pneumáticas foram utilizadas pela primeira vez em 1900.

A iluminação de poços e galerias sempre foi um sério problema. Na era romana, utilizavam-se

lampiões com óleo vegetal ou tochas resinosas. Com o desenvolvimento das modernas lavras de

carvão e com o risco generalizado de explosões, o objetivo geral foi o de produzir uma lâmpada com

chama mais fria que o limiar da temperatura de ignição do metano. A lâmpada de Davy, criada em

1816 e aperfeiçoada durante o século XIX, é uma lâmpada de segurança com um pavio e queima

de óleo de navio. Nas minas não sujeitas à explosão de gases, a iluminação era feita com velas e resinas

em candeeiros simples, muitas vezes por-

táteis. O uso de lâmpadas de acetileno

generalizou-se a partir de 1900. A eficiên-

cia era aumentada com um refletor situa-

do atrás do queimador. A partir de 1920

começou-se a implantar a iluminação de

galerias com energia elétrica.

Outro fator de risco na mineração

é a ventilação. Nos seus primórdios, a

ventilação não era feita, ou feita de

maneira inadequada à saúde dos tra-

balhadores. Agrícola mostra no De Re

Figura 6.6: Mina do Pico do Itabirito, MG. Mina de ferro a céu aberto, explorada pela VALE

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RECURSOS MINERAIS E ENERGÉTICOS 6

Metallica alguns engenhos criados para auxiliar na ventilação de galerias. Somente em 1890

foi identificado que o metano era o causador das explosões. Na tecnologia em ventilação de

galerias usada a partir de 1950, o ar entra na mina por meio de um aumento da ventilação do

eixo ou da galeria, e é distribuído através da mina por aumentos de ventilação interna e rampas.

A extração do carvão em minas subterrâneas era feita pelo sistema de “sala e pilar”, de-

senvolvido pela primeira vez nas minas de Shropshire em 1770. É um método de mineração

subterrânea, onde o minério é extraído através de um plano horizontal, deixando "pilares" do

material intacto para suportar o teto e permitir áreas abertas ou "salas" no subsolo. No final do

século XVIII, o método de sala e pilar, que já se tornava antieconômico pelo material que ficava

sem ser extraído nos pilares, foi substituído pelo método Longwall. Neste método, um bloco

de carvão é extraído em uma única fatia (painel), com 1-2 m de espessura média.

Com o desenvolvimento da Revolução Industrial surge em seu bojo a moderna Geologia. A

geologia e a paleontologia conheceram um grande avanço, ligadas principalmente à velocidade

com que as necessidades de insumos minerais, e de estradas e canais para escoamento da produção,

obrigavam o reconhecimento do terreno. Numerosos espécimes minerais foram descobertos nesse

período. É dessa época o debate entre netunistas e plutonistas, bem como a síntese de Charles Lyell,

em seu “Principles of Geology”, de 1830.

Por outro lado, o uso intensivo de máquinas tornou a mineração mais produtiva e, pela

primeira vez, os trabalhadores assalariados formaram a maioria dos trabalhadores nas minas. A

proibição do trabalho feminino e infantil nas minas de carvão inglesas data de 1841. O nascente

proletariado industrial, o dos mineiros de ferro e de carvão, representou um importante contin-

gente nas manifestações políticas da classe trabalhadora durante os séculos XIX e XX.

Durante o século XIX, o mundo conheceria inúmeros gold rushes: Califórnia (1849),

Austrália (1850), na África do Sul (1886) e no Alaska (1897). Imensas quantidades de ouro

foram retiradas dos aluviões e minas nesses locais. Algumas dessas regiões ainda representam

importantes distritos mineiros. Da mesma forma, a industrialização ensejou a utilização de

diversos insumos, como fosfato, borato, sais de potássio, enxofre etc.

Com a descoberta e o início da utilização da eletricidade, um novo metal se agrega aos metais

industriais: o alumínio. Esse metal, que hoje é o metal não-ferroso mais amplamente usado, foi

sintetizado independentemente, entre 1825/1827, pelo dinamarquês Hans Christian Ørsted e pelo

alemão Friedrich Wöhler. Também trabalhando independentemente, Charles Martin Hall e Paul

Héroult desenvolveram, em 1886, o processo mais prático até hoje utilizado na obtenção de alumínio

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através da eletrólise, denominado método Hall-Héroult. Com isso, a produção de alumínio, antes um

metal caro e raro, difundiu-se amplamente e hoje apresenta inúmeros usos industriais e domésticos.

A indústria do petróleo inicia-se com a substituição, em forma de querosene, ao óleo de baleia até

então usado na iluminação pública. Com o aumento da demanda de óleo, surgem as primeiras explo-

rações comerciais: em 1848 em Baku (Rússia), em 1853 na Polônia e em 1859 nos Estados Unidos. A

invenção dos automóveis, em 1880, inicia seu uso como combustível e amplia sua utilização. Fácil de

extrair, armazenar e transportar, o petróleo cria uma imensa rede de transporte ferroviário, marítimo

e dutoviário de extensões continentais. Hoje, os derivados de petróleo respondem por cerca de 90%

das necessidades de combustível, assim como são a base de muitos produtos químicos industriais, o

que o torna uma das commodities mais importantes do mundo atual. Inicialmente extraído em terra,

desde 1960, o petróleo pode também ser obtido off-shore (em ambiente marinho). Hoje, a fronteira da

exploração marítima atinge regiões de águas profundas, com lâminas d’água de até 4.000 m.

Ao longo dos séculos XIX e XX, ocorreu uma série de avanços na compreensão da dinâmi-

ca da Terra e, consequentemente, na formação dos depósitos minerais. A Teoria Geossinclinal

fez importantes sínteses sobre a geologia dos continentes. Nas primeiras décadas do século XX,

surgiram muitas classificações genéticas de depósitos minerais. Uma das mais importantes é a

de Lindgren, em seu livro “Mineral Deposits” (1907, 1933), que reconhece três tipos principais:

os depósitos hipotermais, de profundidades e temperaturas altas (300º a 500ºC); os depósitos

mesotermais, de profundidades e temperaturas intermediárias (200º a 300ºC); e os depósitos

epitermais, rasos e de baixas temperaturas (50º a 150º/200ºC).

A partir de 1960, a Teoria da Tectônica de Placas unifica a compreensão de fenômenos

continentais e oceânicos, e promove um novo entendimento sobre os mecanismos de formação

de depósitos minerais. Entre as novas técnicas, uma contribuição importante foi a da geocrono-

logia, que permitiu entender a sequência temporal de eventos geológicos e sua estruturação em

continentes e oceanos. A recente utilização conjunta de dados isotópicos, geotermométricos e

geobarométricos propiciou uma nova compreensão sobre a origem, a composição e a evolução

dos fluidos no interior da crosta.

6.5 DESAFIOS PARA O FUTURO A mineração é uma atividade essencial para nossa sociedade. Inúmeros avanços tecnológicos

foram feitos visando à maior produtividade e segurança dos trabalhadores. Entretanto, ainda

presenciamos episódios como o do resgate da mina San José, em Copiapó (Chile), quando 33

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RECURSOS MINERAIS E ENERGÉTICOS 6

mineiros ficaram presos por 70 dias no interior da galeria. Pior, milhares de mineiros chineses

morrem todos os anos nas minas de carvão do seu país. Em anos recentes, a indústria mineral

também é cobrada por mais cuidados ambientais e por maiores preocupações sociais.

Estamos diante de uma crise global de recursos minerais. O suprimento finito de minerais está

sendo usado por uma população que cresce mais rápido que em qualquer outro momento histórico.

Não podemos ignorar esta crise. Exatamente quando precisamos expandir a produção mineral para

alimentar a população sabemos que a Terra atinge seu limite de poluição. Ainda resta muito a fazer.

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