realidade psiquica

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27 Cad. Psicanál.-CPRJ, Rio de Janeiro, v. 35, n. 28, p. 27-48, jan./jun. 2013 Da realidade psíquica ao laço social: a função de mediação do conceito de fantasia Psychic reality to the social bond: the mediation function of the concept of fantasy Mardem Leandro* Daniela Paula do Couto** Maria dos Anjos Lara e Lanna*** Resumo: Este artigo investiga a forma pela qual a fantasia faz a mediação entre a realidade psí- quica e o laço social. O conhecimento de como a fantasia se constitui mediadora entre a realida- de interna do neurótico e a realidade factual do mundo exterior é de fundamental importância, tal como Freud assinala em A interpretação dos sonhos. Nesta obra, o radical da realidade se confirma como resultado de uma distorção capaz de abordar o desejo; o que, por sua vez, situa o conceito de fantasia como um conceito basilar para a Psicanálise, ao revelar a dinâmica da formação da realidade mediante uma composição simbólico-imaginária em contraposição ao Real. Palavras-chave: Realidade psíquica, Real, fantasia, sonho, laço social. Abstract: is paper investigates how the fantasy exerts a mediatory function between psychic re- ality and the social bonding. e knowledge of how fantasy works as a mediator between the inter- nal reality of the neurotic and the factual reality of the outside world is of considerable importance, as referred by Freud in e interpretation of dreams. In this work, the radicalness of reality vali- dates itself as a result of a distortion that can approach desire; which, in turn, establishes the con- cept of fantasy as a basic concept for psychoanalysis, by displaying the dynamics of reality formation through a symbolic-imaginary construction as opposed to the Real. Keywords: Psychic reality, Real, fantasy, dream, social bond. * Psicólogo, mestrando/Departamento de Psicologia/Universidade Federal de São João del- Rei, integrante da Linha de Pesquisa Conceitos Fundamentais e Clínica Psicanalítica. ** Psicóloga, mestranda/Departamento de Psicologia/Universidade Federal de São João del- Rei, integrante da Linha de Pesquisa Conceitos Fundamentais e Clínica Psicanalítica. *** Psicóloga, cientista social, doutora em Linguística/UFMG, estágio sanduíche na Université de Genève – Diplôme d’Études Approfondis em Linguistique, profa. PUC-MG, líder do Grupo de Pesquisa Articulações Interdisciplinares/CNPq.

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Realidade psíquica

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  • Da realiDaDe psquica ao lao social: a funo De meDiao Do conceito De fantasia

    27Cad. Psicanl.-CPRJ, Rio de Janeiro, v. 35, n. 28, p. 27-48, jan./jun. 2013

    Da realidade psquica ao lao social: a funo de mediao do conceito de fantasia

    Psychic reality to the social bond: the mediation function of the concept of fantasy

    Mardem Leandro* Daniela Paula do Couto**

    Maria dos Anjos Lara e Lanna***

    Resumo: Este artigo investiga a forma pela qual a fantasia faz a mediao entre a realidade ps-quica e o lao social. O conhecimento de como a fantasia se constitui mediadora entre a realida-de interna do neurtico e a realidade factual do mundo exterior de fundamental importncia, tal como Freud assinala em A interpretao dos sonhos. Nesta obra, o radical da realidade se confirma como resultado de uma distoro capaz de abordar o desejo; o que, por sua vez, situa o conceito de fantasia como um conceito basilar para a Psicanlise, ao revelar a dinmica da formao da realidade mediante uma composio simblico-imaginria em contraposio ao Real.Palavras-chave: Realidade psquica, Real, fantasia, sonho, lao social.

    Abstract: This paper investigates how the fantasy exerts a mediatory function between psychic re-ality and the social bonding. The knowledge of how fantasy works as a mediator between the inter-nal reality of the neurotic and the factual reality of the outside world is of considerable importance, as referred by Freud in The interpretation of dreams. In this work, the radicalness of reality vali-dates itself as a result of a distortion that can approach desire; which, in turn, establishes the con-cept of fantasy as a basic concept for psychoanalysis, by displaying the dynamics of reality formation through a symbolic-imaginary construction as opposed to the Real.Keywords: Psychic reality, Real, fantasy, dream, social bond.

    * Psiclogo, mestrando/Departamento de Psicologia/Universidade Federal de So Joo del-Rei, integrante da Linha de Pesquisa Conceitos Fundamentais e Clnica Psicanaltica.

    ** Psicloga, mestranda/Departamento de Psicologia/Universidade Federal de So Joo del-Rei, integrante da Linha de Pesquisa Conceitos Fundamentais e Clnica Psicanaltica.

    *** Psicloga, cientista social, doutora em Lingustica/UFMG, estgio sanduche na Universit de Genve Diplme dtudes Approfondis em Linguistique, profa. PUC-MG, lder do Grupo de Pesquisa Articulaes Interdisciplinares/CNPq.

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    Artigos temticos

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    O conceito de realidade psquica: contribuies freudianas

    A primeira vez em que Freud (1950a [1895]/1996) aborda a questo da existncia de diferentes tipos de realidade, denominadas por ele como reali-dade do pensamento e realidade externa, em 1895, no Projeto para uma psicologia cientfica.

    Cinco anos mais tarde, a noo de realidade psquica aparece no fim do Captulo 7 de A interpretao dos sonhos: O inconsciente a verdadeira rea-lidade psquica; em sua natureza mais ntima, ele nos to desconhecido quan-to a realidade do mundo externo (FREUD, 1900/1996, p. 637, grifo do autor). Um pouco mais adiante no mesmo texto, o autor continua a relacionar a rea-lidade psquica ao inconsciente, fazendo uma distino clara entre ela e outro tipo de realidade: Se olharmos para os desejos inconscientes, reduzidos a sua expresso mais fundamental e verdadeira, teremos de lembrar-nos, sem d-vida, que tambm a realidade psquica uma forma especial de existncia que no deve ser confundida com a realidade material (FREUD, 1900/1996, p. 644, grifo do autor).

    Entretanto, em 1913, no ltimo ensaio de Totem e tabu, que o termo re-alidade psquica demarcado para designar uma realidade contraposta rea-lidade concreta: O que caracteriza os neurticos preferirem a realidade psquica concreta, reagindo to seriamente a pensamentos como as pessoas normais s realidades (FREUD, 1913 [1912-13]/1996, p.160-161). Nesse mo-mento, o autor destaca a importncia da realidade psquica e a sua preponde-rncia, no que diz respeito aos neurticos, em relao realidade externa. Em Totem e tabu, Freud (1913 [1912-13]/1996) mantm o termo realidade psqui-ca como a realidade caracterstica do inconsciente. No entanto, como informa James Strachey, tradutor das obras freudianas da lngua alem para a inglesa, as edies de A interpretao dos sonhos apresentam expresses diferentes para designar a realidade oposta realidade psquica. A expresso realidade mate-rial aparece na edio de 1919, substituindo realidade factual, presente na edio de 19141 (FREUD, 1900/1996).

    A distino entre os dois tipos de realidade superada pela relao dial-tica que ambas mantm. Assim, a realidade psquica corresponde a uma reali-dade interna ao sujeito que mediada por uma realidade externa, o que proporciona uma assimilao entre as representaes do mundo exterior e in-terior.

    1 Informao retirada da nota 1 da pgina 644 de A interpretao dos sonhos (FREUD, 1900/1996).

  • Da realiDaDe psquica ao lao social: a funo De meDiao Do conceito De fantasia

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    Freud parte de estabelecer as diferenas entre uma realidade e outra para assim poder tornar mais evidente o alcance da realidade psquica. Nesse senti-do, ele [...] instituiu o conceito de realidade psquica [como] ncleo irredut-vel do psiquismo, registro dos desejos inconscientes dos quais a fantasia a expresso mxima e mais verdadeira (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 224). A fantasia, complementam estes autores, diz respeito vida imaginria do su-jeito, bem como a forma pela qual ele representa sua histria para si mesmo. Isto significa que a realidade precisa ser investida pelo sujeito para ser signifi-cada e a fantasia que o permite.

    Nas primeiras proposies de Freud (1940-41 [1892]/1996), a causa da neurose estava relacionada a uma hiptese traumtica, partidria da realidade efetiva, enquanto condio suficiente para o sofrimento psquico. No entanto, tais proposies so refutadas pelo autor na Carta 69 dirigida a Fliess, em 21 de setembro de 1897: No acredito mais em minha neurtica [teoria das neu-roses] (FREUD, 1950b [1892-99]/1996, p. 309, grifo do autor). Este ponto de virada na investigao da etiologia da neurose abre espao para a formulao da fantasia como condio suficiente do sofrimento psquico. O autor prosse-gue a carta confessando que a partir dessa desiluso assumiu a convico [...] de que, no inconsciente, no h indicaes da realidade (FREUD, 1950b [1892-99]/1996, p. 310), o que equivale a tentar distinguir realidade externa de realidade psquica.

    Desta forma, fica patente, por assim dizer, a entrada em cena da noo psicanaltica de fantasia:

    Quando, contudo, fui finalmente obrigado a reconhecer que es-sas cenas de seduo jamais tinham ocorrido e que eram apenas fantasias que minhas pacientes haviam inventado ou que eu prprio talvez houvesse forado nelas, fiquei por algum tempo inteiramente perplexo [...]. Quando me havia refeito, fui capaz de tirar as concluses certas da minha descoberta: a saber, que os sintomas neurticos no estavam diretamente relacionados com fatos reais, mas com fantasias impregnadas de desejos, e que, no tocante neurose, a realidade psquica era de maior im-portncia que a realidade material (FREUD, 1925b [1924]/1996, p. 39-40).

    Considerando a centralidade do conceito de realidade psquica na Psica-nlise e a grande expresso dessa teoria na atualidade, pode-se afirmar que tal conceito se constitui como uma das grandes revolues epistemolgicas do sculo XX, pois quando Freud (1950b [1892-99]/1996) assume que no pode mais confiar em sua teoria das neuroses, presume que outra realidade deva ser

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    levada em considerao, pois se trata de uma realidade que, mesmo no sendo material, tambm produz efeitos. Desta conjuno surge a suspeita, constante-mente confirmada em anlise, da existncia de uma realidade do psiquismo. Neste sentido, cabe o seguinte questionamento: qual problema se esconde por trs da formulao do conceito de realidade psquica? Para tentar responder a tal pergunta, preciso resgatar o contexto em que surgiu o conceito de realida-de psquica.

    A realidade psquica no nasce como conceito. O fato de no haver uma definio conceitual, dada de antemo, significava, para Freud (1915/1996), que o trabalho inicial de qualquer cincia era muito menos o de propor ideias rgidas do que o de descrever os fenmenos da experincia em questo. Desse modo, o conceito de realidade psquica se figura enquanto uma noo que permite articular o que poderia levar a Psicanlise a se perder em aporias bio-logizantes. nesse sentido que Freud busca apoio nas noes de fantasia e de desejo para caracterizar a realidade psquica, como pode ser observado com relao ao abandono de sua teoria da seduo.

    A teoria da seduo havia levado Freud (1940-41 [1892]/1996) a um im-passe em que pesava sua concepo de sujeito: ou todos os pais seriam perver-sos ou todas as histricas seriam mentirosas. Nessa condio, o sujeito poderia ser definido como assujeitado a um ato perverso da parte de seus cuidadores e das consequncias advindas deste, ou ento, tal como o sujeito transcendental kantiano, algum que contribuiria de alguma maneira com a construo da realidade em que vive. No bastasse esse imbrglio epistemolgico, o abando-no da teoria da seduo implicava ainda em se pensar na consequncia do trauma para o aparelho psquico.

    O trauma era visto como causa desencadeadora da maioria dos sintomas histricos, ou seja, Qualquer experincia que [pudesse] evocar afetos aflitivos tais como os de susto, angstia, vergonha ou dor fsica [...] (BREUER; FREUD, 1893/1996, p. 41). Com o impasse imposto pela teoria da seduo, Freud e Breuer (1893/1996) percebem que, apesar de o plano dos fatos ser ir-redutvel ao plano do significado, a cena traumtica impunha-se na vida do sujeito e os sintomas histricos no poderiam ser tomados como veleidades mdicas somente. Nesse momento, o salto terico de Freud se refere passa-gem da semiologia mdica, incapaz de compreender a sintomatologia histri-ca, para a hermenutica enquanto um instrumental metodolgico.

    Se no registro semiolgico, o critrio de verdade se referia adequao dos sintomas e signos aos fatos e objetos, no regime hermenutico o critrio de verdade remetia a uma construo de sentido entre as palavras e as prprias

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    palavras, apontando para uma relao interminvel. A consequncia imediata dessa passagem a possibilidade de se pensar uma noo outra de realidade, em que os fatos s fariam sentido em seu modo singular de serem encadeados por uma funo que os atravessaria e os alinhavaria conferindo a eles signifi-cado. Essa funo nasce como correlata da noo de realidade psquica e rece-be o nome de fantasia.

    A fantasia seria menos uma produo aleatria do desejo e da ociosidade imaginria do que uma funo que conferiria inteno ao ato de significar, denunciando assim que os processos cognitivos no seriam neutros. A fantasia seria uma manifestao do desejo no que esse teria de mais radical, seu carter de mediao na relao possvel entre sujeito e objeto. Nessa perspectiva, Safa-tle (2009, p. 31) afirma que o desejo seria condio de percepo do mundo [...] revelando sua funo intencional determinante na interao do sujeito com o meio. O desejo (Wunsch), segundo Quinet (2003), seria a realizao de um anseio e, se este anseio motivo de transformao/construo da realida-de, porque ele intermitente e no se realiza somente na cena objetiva, mas, sobretudo, na cena subjetiva, onde ganha fora pela possibilidade de um mun-do que pode gerar.

    Dessa forma, a passagem do plano semiolgico para o hermenutico re-vela o desejo como uma funo negativa, na mesma medida em que postula a fantasia como uma funo positiva, ou seja, o que falta ao desejo, a fantasia providencia. Ao desejo falta o objeto, pois o desejo pura negatividade, no sentido de ser um ato psquico que busca realizao por meio dos recursos fornecidos pela fantasia. A positivao do objeto, ento, uma funo exclusi-va da fantasia.

    No sem razo que a noo de realidade psquica ganhe condio de futuro conceito em A interpretao dos sonhos. Uma vez que os sonhos foram elevados condio de fenmeno psquico digno de investigao, a cena ps-quica na qual se v desenrolar o evento onrico se configura como uma realida-de, tanto por sua natureza espontnea, quanto pelos efeitos produzidos por ela.

    A realidade onrica a realidade do inconsciente, mas submetida censu-ra. O modo como as representaes (Vorstellungen) se associam, permite a Freud (1900/1996) deduzir a dinmica dos processos que regem esta outra cena, o que corrobora ainda mais a noo de realidade psquica e o que permi-te trat-la como um conceito. Nessa obra freudiana, o radical da realidade o que se confirma como o resultado de uma distoro capaz de abordar o desejo. Em outras palavras, a realidade psquica uma construo capaz de abrigar o desejo na mesma medida em que o toma como causa das associaes das re-

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    presentaes possveis sua realizao e toda esta atividade mediada pela fantasia. a fantasia que alinhava as representaes pelo recurso do sentido, permitindo que toda esta associao seja traduzida pelo regime da histria do prprio sujeito.

    Em A Interpretao dos sonhos est implcito tanto o mtodo o interpreta-tivo quanto o objeto desse mtodo as produes onricas submetidas s asso-ciaes. Sem a noo de realidade psquica, o mtodo interpretativo no faria sentido, pois a produo onrica teria de ser interpretada com referncia aos acontecimentos ou mesmo a uma malha de smbolos com resultados prximos aos da exatido, lembrando muito o mtodo semiolgico abandonado por Freud.

    Nesse sentido, a realidade psquica no seria um dado ao qual se poderia ter acesso por qualquer forma de manifestao sensvel. Com isso, a pergunta que orientaria a possvel compreenso da necessidade de se formular tal constructo terico : quais as exigncias tericas que levaram Freud a propor o conceito de realidade psquica? algo dessas exigncias e tambm das estratgias encontra-das por Freud que animar a investigao da noo de realidade psquica at que ela se desdobre num conceito por meio do qual se deduza a prpria noo de mundo ou o modo como este mundo significado e dotado de sentido.

    Da realidade psquica ao Real: contribuies lacanianas

    Se com Freud a fantasia diz respeito a um modo de se teorizar a realidade por um vis psicanaltico, no sentido de que a fantasia forneceria elementos para se conjugar realidade interna e externa, com Lacan a fantasia a prpria realidade em oposio ao Real.

    Lacan retoma a realidade psquica proposta por Freud para distingui-la do que ele denominar de Real. Essa distino entre realidade e Real

    [...] relativiza a distino entre dentro e fora, privilegiando a oposio entre o mundo da cultura e o mundo em si, tal como o veramos se pudssemos olh-lo. Como isto no possvel, fica-mos com este mundo simblico e alguma noo do mundo real, inacessvel de maneira direta, quer com nossos rgos de per-cepo, quer com os instrumentos mais aperfeioados que pos-samos construir, pois o jogo de representaes e de traos da cultura estaro (sic) sempre l atuando como prismas, como ele-mentos difratores da viso ntida do real (VIEIRA, 2003, p. 6).

    Nessa distino, percebe-se o eco da proposta kantiana sobre o estatuto da realidade como efeito da transformao do Noumenon (a coisa-em-si) em fe-

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    nmeno (a coisa-em-mim). Kant (2003) j acenava para a questo de que a realidade em si incognoscvel. Freud (1915/1996) considera tal proposta como ndice do vu que separa a percepo do mundo e o mundo enquanto experincia imediata, afirmando ser necessrio levar em considerao as con-tingncias da percepo no ato de descrever a realidade. Assim, possvel afir-mar que se a realidade no questionada ao nvel de sua concretude ela passa muito facilmente como sendo o Real impossvel de ser simbolizado do qual ela efeito.

    pelo vis de compreender o modo pelo qual o desejo se traduz como sendo uma ao que redefine constantemente a realidade externa pelo critrio da realidade interna, que Freud (1911/1996) utiliza-se do conceito de fantasia, pois por meio desse expediente que um amplo aspecto da realidade vai se constituir. Dessa forma, a fantasia opera como recurso que fornece sentidos para os acontecimentos da realidade externa, como no caso do trauma, em que para se tomar um acontecimento como traumtico, necessrio que ele faa sentido primeiro para o sujeito que o vivenciou. Assim, a fantasia faz media-o, inicialmente, entre os fatos e os sentidos dos fatos, ou seja, os aconteci-mentos e a interpretao dos mesmos por parte do sujeito.

    A partir do momento em que Lacan (1967a/2003) substitui a oposio freudiana entre realidade interna e realidade externa pela proposta de oposi-o entre Real e fantasia, esta se torna mais que o artifcio por meio do qual a realidade passa a ser teorizada. A fantasia se torna a prpria realidade em opo-sio ao Real, que continua sendo impossvel de ser inscrito, de ser simboliza-do nas tramas do psiquismo e por isso gera um vazio em torno do qual algumas representaes privilegiadas vo gravitar.

    Estas representaes formam uma matriz psquica a partir da qual a relao com a realidade comea a se estabelecer. Tal matriz psquica efeito do recalque originrio e corresponde fantasia primordial, aquela que forja as primeiras re-laes do sujeito com o mundo, funcionando como o primeiro anteparo contra as invases atrozes do Real, que permite ao sujeito certa segurana. Nesse senti-do, a fantasia, diz Lacan (1967a/2003, p. 259) vai se constituir como uma janela para o real. Jorge (2010) acrescenta que essa janela vai enquadrar o Real e transformar as exigncias de um gozo absoluto em um gozo moderado, pontua-do pela significao flica, ou seja, limitado pela ameaa da castrao. Dessa forma, ao responder o que vem a ser a fantasia, este ltimo autor diz que ela pode ser tomada como sendo a prpria realidade, ao menos para o sujeito falante, uma vez que [...] s existe realidade psquica para o sujeito falante, j que a realidade dita objetiva ficou perdida para sempre (JORGE, 2010, p. 147).

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    Como afirma Lacan (1967b/2003, p. 352), essa realidade dita objetiva [...] no pode ser questionada em si mesma: Anank, como nos diz Freud dita-me cego. Tal realidade objetiva seria o Real, caso fosse possvel termos acesso sua manifestao. No entanto, o Real no possvel de ser apreendido. O acesso do sujeito a ele se d em funo do carter de mediao da fantasia, que assim passa a compor no somente as relaes do sujeito com o Real, mas tam-bm com a realidade, como efeito simblico e imaginrio para dar conta de outro registro que os causa. Disso decorre que a realidade efeito de uma operao simblica e imaginria para dar conta do impossvel do Real.

    Retornando questo da fantasia, para Vieira (2003), o que singulariza o sujeito a trama de suas histrias e fantasias que, mesmo j dispostas na cultura, so amarradas de forma particular pela pulso, enquanto o que se distingue do instinto animal, aparecendo como [...] deduo necessria, porque o universo de representaes e de ideias, a satisfao obtida pela obteno dos objetos/sentidos do mundo da realidade, nunca bastante (VIEIRA, 2003, p. 8). Assim, prossegue o autor, a pulso explica porque o sujeito est sempre buscando uma satisfao com os objetos, passando a outros objetos e assim, indefinidamente. Isto porque o objeto que se busca no tem significao, no tem nome, o objeto a.

    A questo a ser posta se seria possvel haver um objeto que no fosse um objeto capturado pela fantasia. Pois se a fantasia tem por funo oferecer ao desejo seus objetos, ento ela est diretamente associada ao princpio do pra-zer no sentido de possibilitar certa constncia da economia psquica e assim suscitar algo como uma homeostase psquica.

    A atividade fantasstica est ligada, primeiramente, a um modo de defesa contra o desprazer decorrente da impossibilidade do aparelho psquico de li-dar com o Real do gozo, de represent-lo de alguma forma e, posteriormente, com as exigncias e divergncias impostas pelo mundo exterior.

    As exigncias do mundo exterior, ou como Freud (1930 [1929]/1996) elo-quentemente afirma, a rudeza da realidade externa s possvel de ser supor-tada com o recurso da fantasia. Tal realidade, para o autor, preexistia ao sujeito, de modo que a possibilidade de sua existncia enquanto realidade psquica era relativa, em primeiro plano, a uma disposio do aparelho psquico em repre-sentar e fantasiar o que o atravessava. Em segundo plano, uma disposio de subjetivar estes atravessamentos, o que est ligado introjeo e projeo. A introjeo se refere ao modo por meio do qual o sujeito toma para si aquilo que considera inicialmente como prazeroso e a projeo se relaciona forma com que o sujeito expulsa aquilo que no aceita como sendo seu por ser despra-zeroso (FREUD, 1925a/1996).

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    Este momento na vida do sujeito funda as noes de interior: o prazeroso, o que tomado como prprio, pelo recurso do narcisismo. E o exterior: o des-prazeroso, o que alheio e estranho. Este o prottipo das noes de realidade para a criana (1915/1996). O que Freud percebe na clnica a maneira como esta dinmica interior/exterior passa a ser enviesada pelo recurso da fantasia, de forma que a noo de interior prprio e prazeroso, regida pela lgica do princpio do prazer, possa ter sua continuidade a partir do recurso do princ-pio de realidade.

    Nesta perspectiva, cabe fantasia o agenciamento dos princpios do pra-zer e da realidade para que ambos funcionem de modo a gerar a noo de uma realidade contnua, no sentido de que suas descontinuidades so resultado da investigao clnica e terica. Tambm compete fantasia uma forma de ativi-dade constante no sentido de tornar menos hostil a realidade exterior gerando um mnimo de satisfao s exigncias contnuas da pulso. Assim, a fantasia condio necessria, ao menos para a perspectiva neurtica, para que algo como uma realidade possa ser inferida da relao do sujeito com o Real, ou paradoxalmente, para que o Real possa ser inferido da relao entre o sujeito e a realidade.

    No livro que trata dos fundamentos da Psicanlise a partir da clnica da fantasia, Jorge (2010) levanta as possibilidades de a fantasia ser tomada como conceito fundamental da Psicanlise, na medida em que ela definida como articulao possvel entre o inconsciente, a pulso, a transferncia e a repeti-o. Assim, somente a partir da transferncia no plano clnico que o incons-ciente pode ser proposto como uma hiptese terica. Na mesma medida, foi por meio da repetio que a pulso pde ser mais bem teorizada por Freud (1920/1996) com base nas evidncias referentes s brincadeiras das crianas, aos sonhos traumticos e ao sofrimento psquico.

    A fantasia uma histria imaginada a partir do que se pode apreender do Real, mas no no sentido de este poder se inscrever, pois aqui ele permanece como uma falta absoluta (VIEIRA, 2003). Isto possibilita justificar tanto a ao psquica do desejo, no sentido de esta ser constante e acenar que algo falta quanto ao psquica da fantasia, visto que ela corresponde ao ato de de-monstrar o que falta.

    Sendo assim, a fantasia , de certa maneira, o que justifica a importncia dada pela Psicanlise forma como o sujeito vivenciou um acontecimento e no este em si, como um fato absoluto, desprovido da possibilidade das cons-trues de sentido (VIEIRA, 2003). no desencontro com o Real, comple-menta o autor, que o sujeito tece uma rede de fantasias a partir das quais

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    amarra, de forma particular, por meio da pulso, aquilo que disposto pela cultura. Ou seja, a fantasia encerra um destino subjetivo na neurose, assim como a alucinao e o delrio encerram outro destino subjetivo na psicose, de forma que a fantasia o recurso que enreda o sujeito nas tramas da cultura por gerar uma noo de continuidade pelo expediente da satisfao.

    Nesse aspecto, as histrias do sujeito permitem que ele tenha um contato com o Real, na perspectiva do modo como ele pode vir a ser tomado: como falta, impossvel, trauma. Ao mesmo tempo, proporcionam-lhe um sentido, uma simbolizao.

    Na perspectiva de Lacan (1967a/2003), a fantasia estabelece uma inter--relao entre o Real e o sintoma, na medida em que ela ao mesmo tempo, condio para a formao do sintoma e o nico acesso possvel ao Real. Com isso, a entrada em anlise se d em funo do sintoma, que leva sempre a uma construo fantasstica. O fim de anlise tem relao com o que o autor deno-minou de travessia da fantasia. Uma operao que desvela sempre algo de Real por trs da estrutura psquica. esse Real que fornece os indcios para se pen-sar uma realidade construda que tenta dar conta da condio inassimilvel do recalque que, por no ser simbolizado, torna-se fundamentalmente traumti-co, evocando no psiquismo um modo de defesa.

    O recalcado de certa forma uma ideia que representa a pulso (JORGE, 2010). Entretanto, existe algo na pulso que da ordem do Real. Tal como a proposta freudiana, h algo no seio da pulso fadado insatisfao, [...] esse impossvel de ser satisfeito o real inerente prpria pulso (JORGE, 2010, p. 66). Mas por haver essa insatisfao que a fantasia se dispe como [...] uma das formas privilegiadas de satisfao da pulso (JORGE, 2010, p. 68), justa-mente por conseguir fazer face ao impossvel de ser simbolizado e, consequen-temente, satisfeito.

    da lacuna entre o Real e a realidade que se deduz a fantasia em sua funo mediadora, tambm suposta na articulao entre a pulso e o in-consciente, pois a fantasia que gera uma dimenso de representaes que vo se associar pelas leis do processo primrio e do princpio do prazer, ou seja, vo se associar de modo a gerar uma satisfao possvel para a constan-te presso exercida pela pulso em busca de satisfao. O processo primrio, explica Freud (1911/1996), pode ser tomado como a lgica fundamental da realidade psquica, que tem por princpio a busca do prazer, no se confun-dindo com o processo secundrio em que pesa a fora da realidade, nem tampouco com o princpio de realidade, por meio do qual o sujeito opera na realidade.

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    Entretanto, o avano em jogo neste estudo, vai na direo de propor, tal como afirma Lacan (1959/1988), que o princpio de realidade est a servio do princpio do prazer, ou como afirma Jorge (2010), o princpio de realidade sucedneo do princpio do prazer.

    Para Godino Cabas (2005), a fantasia revela o objeto da catexia, ou seja, ao se perguntar de que forma o objeto real pode vir a se inscrever no psiquismo, afirma que a fantasia expressa a relao peculiar entre a identificao e o obje-to e sustenta que todo objeto seria submetido a uma determinao narcsica. Assim, [...] em funo desse narcisismo que a catexia nunca contnua, nunca permanece totalmente voltada para o objeto, e sim vai sendo regulada em frequncias sintonizadas de catexia objetal e catexia narcisista (GODINO CABAS, 2005, p. 8). A captura fantasstica oscila entre investir no eu e investir nos objetos e se o investimento no objeto ocorre, ele tambm determinado pela projeo dos contedos narcsicos.

    Portanto, a funo do eu muito menos a percepo e sntese da oscilao do investimento (em direo ao prprio sujeito ou ao objeto), que a projeo de esquemas mentais no mundo (SAFATLE, 2009). , ao recalcar as possibili-dades de sua origem, que o desejo entra em cena incluindo o desejo do Outro como condio de desejar. Desta forma, o objeto vai receber o estatuto de ob-jeto reencontrado, tal como afirma Freud (1905/1996, p. 210), [...] o encontro do objeto , na verdade, um reencontro, pois o que se projeta tem relao di-reta com o que supre a ausncia constante do objeto.

    A percepo do mundo se d por meio de um conjunto de referncias que lhe so aparentemente prprias, j que faz meno ao atravessamento do sujei-to pelo desejo, como Lacan (1949/1998) explicita no Estdio do espelho. No entanto, esse atravessamento ocorre ao nvel de fazer do desejo do Outro o seu objeto, atualizando assim a frmula lacaniana de que o desejo do sujeito o desejo do Outro. Dessa forma, a partir do plano do desejo que o sujeito vai se constituir, visto que nesse plano que ele se dispe a abrir mo de seu prprio desejo para se alienar no desejo do Outro (LACAN, 1964/1998).

    Se fantasia cumpre fornecer os objetos, os elementos, a realidade poss-vel ao desejo, ento o enredo que o sujeito cria para fazer face ao enigma do desejo do Outro que vai sustentar sua condio de sujeito, j que este enredo se configura como a trama mnima de sua constituio. Assim, por meio dessa noo do grande Outro, o desejo aponta para a fantasia como mediadora na construo da realidade e da formao dos laos que possibilitam as relaes sociais, justamente pelo fato de o enredo sempre fazer referncia relao do sujeito com o Outro.

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    A fantasia como a realidade dos laos sociais na neurose

    possvel localizar proposies que sustentam a ideia de lao social, em Totem e tabu, como as metforas do mito da horda primeva e do assassinato do pai totmico para descrever o advento da cultura e da instituio social (FREUD, 1913 [1912-13]/1996). Baseando-se em pesquisas antropolgicas e etnolgicas, o autor destaca dois tabus fundamentais: o assassinato do animal totmico e a proi-bio do incesto. Assim como os membros da tribo desejavam inconscientemen-te infringir tais leis, os neurticos tambm mantm um desejo inconsciente de ter a me e afastar o pai. Freud (1913[1912-13]/1996), portanto, estabelece um paralelo entre os tabus totmicos e o complexo de dipo. Dessa forma, o que torna o cl coeso, o que enlaa seus membros a lei a que todos devem respeitar.

    Nas palavras de Poli (2004, p. 42-43), enquanto o mito da horda primeva e do assassinato do pai totmico fundam [...] o princpio de equidade como regulador da relao entre os irmos; [...] o lao social, por sua vez, refere-se s diferentes formas que as fratrias tm de lidar, ao longo da histria, com as con-sequncias e os retornos deste ato primitivo. Ainda de acordo com a autora, [...] os laos sociais estabelecem a histria, eles inscrevem ao longo do tempo as formas de enlace que os humanos constituem entre si (POLI, 2004, p. 43).

    A partir de Psicologia de grupo e a anlise do ego, o fundador da Psican-lise estabelece a relao entre a Psicologia do indivduo e a Psicologia social: Algo mais est invariavelmente envolvido na vida mental do indivduo, como um modelo, [...] de maneira que, desde o comeo, a psicologia individual, nes-se sentido ampliado mas inteiramente justificvel das palavras, , ao mesmo tempo, tambm psicologia social (FREUD, 1921/1996, p. 81). Esse algo mais do qual fala Freud (1921/1996), pode ser pensado como um lao social, ou seja, aquilo que permite ao sujeito se relacionar com o outro e obter satisfao pulsional. Quando o sujeito consegue se enlaar ao outro, considerando que ali h algum a quem enderear seu afeto, possvel falar de um bem-estar social, de um sujeito inserido no discurso social.

    J em O mal-estar na civilizao, Freud (1930[1929]/1996) afirma que as relaes humanas so a maior causa de sofrimento na vida. O autor resgata o provrbio romano O homem o lobo do homem para falar da agressividade inerente ao homem e que se constitui como um enorme impedimento civili-zao. A afirmao freudiana de que preciso limitar os instintos humanos agressivos aponta para a questo de como se manter o lao social. Faz-se ne-cessrio ao sujeito renunciar a uma parte da satisfao pulsional para garantir sua permanncia na sociedade. Na interpretao de Lacan (1969/1992), des-

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    crita a seguir, a constituio do lao social implica em aceitar a perda de uma parcela de algo, a saber, o gozo.

    Se o avano terico de Freud se deu pelo recurso da fundamentao clni-ca, ento no lhe passou despercebido que no existe clnica sem sujeito e que este se constitui pelos atravessamentos em jogo em suas relaes. E por no haver clnica sem sujeito, os atravessamentos sociais precisam ser igualmente teorizados, na qualidade de serem causa e consequncia do mal-estar. Assim, Freud (1921/1996) percebe que a civilizao se constitui a partir de um interdi-to que exige uma renncia pulsional e prope o carter homo por trs do fen-meno da formao do grupo. Esse fundamento homo, como denomina tambm Quinet (2006), o ideal que torna iguais os componentes do grupo, por meio da identificao dos indivduos na composio do mesmo lao social.

    No entanto, Quinet (2006) afirma que Lacan tratou de acentuar o elemen-to htero (outro) como objeto a, o que excludo da civilizao, o objeto da pulso. Com isso, falar de desejo implica fazer aluso a um modo de gozo que impele o sujeito a encontrar-se com o outro. Assim, se os encontros se definem pelos laos sociais estabelecidos, sustentar o lao social implica aceitar uma perda de gozo.

    Consequentemente, o sujeito passa a ter certo acesso ao gozo, pois o Real do gozo permanece inacessvel, sendo somente intudo por vezes, pelo recurso de ser pensado como a satisfao absoluta, a mesma que tambm poderia des-truir o sujeito pelo excesso de tenso em jogo. Desta forma, o sujeito tem aces-so ao gozo de modo parcial, pois este acaba sendo emoldurado pela atividade fantasstica (JORGE, 2010), sem a qual a humanidade no poderia existir, [...] na verdade, os homens no podem subsistir com a escassa satisfao que po-dem obter da realidade, afirma Freud (1917 [1916-17]/1996, p. 374).

    A fantasia uma forma singular de cada sujeito lidar com o Real. neste sentido que Jorge (2010, p. 242) afirma que [...] a fantasia constitui a realidade psquica para cada sujeito, pois ela que vai operar a mediao entre o Real e o sujeito, interpondo-se como uma matriz psquica, por meio da qual o desejo vai ser sustentado na medida em que vai ser fixado ao sujeito pela ao dela. E o desejo passa de uma cifra singular do gozo a um modo de compor com o outro a realidade dos laos sociais pelo recurso do discurso.

    Assim, se na cena do discurso que se desenrola a anlise, o dispo-sitivo clnico que vai propor uma forma de ultrapassar algo da realidade fanta-sstica construda na neurose, no sentido de ser esta realidade um enredo que fixa o sujeito numa forma nica de gozo que o faz sofrer, por se ver cifrado e barrado, no sentido de ser dividido. na condio de ter que sustentar a re-

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    nncia ao objeto pulsional e de constituir lao com quem tambm sustenta essa mesma condio que o mal-estar dos laos sociais precisa ser pensado, pois o objeto da renncia ocupa um lugar diferente de acordo com o discurso do sujeito (LACAN, 1969/1992).

    Entretanto, enquanto o sujeito partilha suas histrias a partir de uma perspectiva trgica, referindo seu mal-estar a uma exterioridade absoluta, sinal de que algo ainda resiste a ser subjetivado, algo desta sua condio de sujeito faltoso. Segundo Vieira (2003), o dispositivo analtico vai, justamente, em direo mudana do foco de percepo revelando o carter de construo do enredo fantasmtico, permitindo assim modificar o estilo de sua expresso. Para Safatle (2006), essa modificao da forma de expresso recebe o nome de travessia da fantasia fundamental. No dispositivo clnico, a fantasia fundamen-tal seria o enredo mnimo que organiza a ao do sujeito em sua realidade, sendo para o sujeito a realidade mais fundamental, o ncleo duro de sua signi-ficao sobre a realidade.

    A travessia da fantasia se configura como processo que precisa ser supera-do de alguma maneira no sentido de que a mesma fantasia que compe a reali-dade para o sujeito tambm o fixa num modo de relao neurtico com esta construo. Igualmente, Safatle (2006, p. 204), percebe que se Lacan pode as-sim afirmar que a realidade prpria ao sujeito fundamentalmente fantasmti-ca, significa que esta realidade demanda ser atravessada, ultrapassada em seu regime fixo de sentidos, abrindo espao para algo que no permanece evidente para o neurtico: o carter de construo de sua prpria realidade. Evidncia esta que permitiria a gerao de um espao para se tentar novas formas de rela-o, tanto com os objetos de sua realidade, como consigo prprio.

    Assim, a travessia da fantasia implica uma destituio subjetiva, no senti-do de que ela sustenta a instituio subjetiva, ou seja, na medida em que a re-lao do sujeito com os objetos assegurada por suas identificaes, a fantasia que emoldura esta realidade:

    A fantasia o que d enquadramento da relao do sujeito com a realidade: sua janela para o mundo. dela que o sujeito tira a segurana do que fazer diante das situaes que a vida lhe apre-senta. A anlise, ao levar o sujeito a atravessar a fantasia, promo-ve um abalo e uma modificao, nas relaes do sujeito com a realidade, levando-o a uma zona de incerteza, pois ele largado pela ncora da fantasia (QUINET, 2002, p. 104).

    A travessia da fantasia no significa eliminar a fantasia, mas sim fazer a travessia de um lado ao outro deste regime de sentido imposto pela cena da

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    fantasia fundamental, para que deste modo possa ser percebido justamente o carter fantasmtico desta travessia. Assim o sujeito no deixaria de fantasiar, ao contrrio, ele perceberia as vantagens inerentes ao ato de fantasiar, no sen-tido do que este implica: uma constante construo de sentidos, ao contrrio do j referido sentido absoluto imposto pela fantasia fundamental.

    Do que foi exposto, resta uma questo identificada por Safatle (2006, p. 205): como operar a travessia da fantasia sem que o sujeito seja arremessado definitivamente, [...] de uma vez por todas, no silncio absoluto da angstia?. Ou seja, de que forma o sujeito poderia ultrapassar a condio rgida de sua neurose, imposta em partes pela sua formao de compromisso e em partes pelo limite imposto por um carter neurtico inflexvel que o impede de agir? Uma resposta gil poderia ser: por meio de uma anlise. O sujeito poderia atravessar a fantasia ao se implicar em sua anlise, no sentido de que faz-la, do incio ao fim, implica na travessia da fantasia. A destituio subjetiva em jogo na travessia no se refere dissoluo da categoria de sujeito, mas sim de uma ultrapassagem da sntese fantasstica a qual este mesmo sujeito submete toda sua sorte de objetos e relaes, inclusive sua relao com o analista.

    De acordo com Safatle (2006), quando Lacan fala de uma destituio sub-jetiva, ele acena para o amor como um sentimento capaz de promover esta destituio. Tanto o amor de transferncia que ocorre na cena analtica quanto o amor exterior a esta cena. O neurtico no seria, afinal de contas, aquele sujeito que no conseguiria exercer os dois verbos identificados por Freud e que afinal o fazem sofrer? Se a cura da neurose o que permite ao sujeito poder amar e trabalhar, o amor poderia ser tambm o motor desta destituio, no sentido de deslocar o neurtico de sua completude subjetiva. Esta comple-tude flica, oriunda de um narcisismo precoce, efeito da realidade na qual se encerra o neurtico, a saber, no limite tenso de seus sentidos fixos positivados pela fantasia.

    Desta forma, o ato de amar impediria que seu desejo assimilador se fe-chasse em um narcisismo mortfero, que ao mesmo tempo em que tornaria impraticvel uma relao com o outro da diferena, tambm o impediria de trabalhar. Este narcisismo mortfero impediria ento a composio do lao social, j que tornaria impraticvel a ao, tornando-a inadequada de acordo com a noo neurtica de tempo: ou tarde demais, ou cedo demais. Neste pon-to, reside o mal-estar na atualidade, tal como apontado por Birman (2009, p. 25): O que justamente caracteriza a subjetividade na cultura do narcisismo a impossibilidade de poder admirar o outro em sua diferena radical, j que no consegue se descentrar de si mesma. Este autor caracteriza a sociedade

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    atual de narcisista e denuncia que a realidade do sujeito especular, em que lhe interessa somente o engrandecimento exagerado da prpria imagem.

    Neste contexto, a possibilidade da travessia da fantasia revela algo da lgi-ca do que condiciona este mal-estar, a saber, a impossibilidade de o sujeito sair de si para se posicionar com relao aos sentidos propostos pelo outro, ou de se relacionar com os demais de modo que a natureza de seus laos no se redu-za ao enredo idiossincrtico que precisa ser ultrapassado para que a noo mais geral de intersubjetividade possa ser uma realidade crescente frente ao constante mal-estar na atualidade.

    Assim, a travessia da fantasia seria o ndice do fim da anlise. Nessa pers-pectiva, a fantasia ocuparia todo o horizonte de investimento terico da Psica-nlise, sendo condio para a reflexo dos elementos nas proposies iniciais relativas aos fenmenos do inconsciente at ser condio da realidade dos la-os sociais, passando por se propor como uma manifestao ao ser atravessa-da, por revelar-se como uma construo. E sendo uma construo possvel gerar outras que possam tornar mais leve a rdua condio da realidade.

    A funo de mediao do conceito de fantasia

    A proposio da realidade psquica significou um considervel avano terico empreendido por Freud para tentar conciliar clnica e teoria, de modo que a questo do sentido, em jogo em toda a investigao analtica, passasse a ser vista por outra perspectiva, ou seja, pela perspectiva de uma construo de sentido. Enquanto recurso terico, a realidade psquica abriu espao para que os acontecimentos pudessem ser relativizados no que eles possuam de mais radicalmente objetivos, possibilitando um lugar para a reflexo das con-sequncias dos efeitos da subjetividade sobre tais acontecimentos.

    Freud percebe os limites impostos pela noo puramente objetiva dos acontecimentos no mbito de sua clnica. Quando abandona a teoria da se-duo, ele, de certa forma, deixa para trs uma noo de acontecimento que pudesse se referir a um fato precisamente circunscrito em algum lugar do tempo e espao exterior. Este gesto freudiano se d em funo do que ele antev como recurso de investigao presente na noo de realidade psquica e na forma como os acontecimentos poderiam ser representados. Nesse mo-mento, o autor j se antecipa s consequncias tericas de se formular uma teoria do psiquismo que tomasse a questo da representao pelo recurso da adequao a algum modelo preexistente na realidade exterior. Assim, prope a realidade psquica como uma soluo para os reducionismos implcitos

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    na perspectiva da adequao entre a representao psquica e um referente exterior.

    Neste sentido, a proposio de uma realidade psquica significou uma gil ultrapassagem da secular questo filosfica sobre o problema da represen-tao, que desde Plato no encontrava soluo no plano da reflexo epistemo-lgica. A maior parte das formulaes estava direcionada a um modelo que poderia ser encontrado em algum lugar no exterior. Plato acenava que o lugar da representao era um locus ideal, mas ao forar sua localizao numa exte-rioridade, impedia que a questo dos limites da linguagem na descrio do mundo fosse subjetivada.

    A passagem da semiologia mdica para a hermenutica perpetrada por Freud significou um avano no plano do sentido. Este agora era referente ao plano psquico e o problema da representao se reduzia articulao infind-vel entre as prprias palavras. Assim, o que reformulado o prprio estatuto dos acontecimentos, que deixam de se referir a uma objetividade absoluta, in-discutivelmente localizada num plano exterior para fazer meno aos sentidos construdos pelo recurso da fantasia.

    Tem-se assim uma nova teoria do trauma, em que este deixa de ser o pon-to fundador de toda produo discursiva, por ser tomado como um aconteci-mento objetivo crucial que costura os traos psquicos, para fazer meno a uma questo mais fundamental: o encontro do sujeito com o Real, encontro que se torna possvel a partir da funo de mediao da fantasia. Nessa pers-pectiva, a produo de sentido passa a ser efetuada pelo imperativo do desejo inscrito nas cenas fantassticas, revelando que todo acontecimento possui algo de Real que precisa ser fantasisticamente suportado. As solues de Freud para dar conta deste aspecto de Real nos acontecimentos foi tom-lo como um in-cognoscvel kantiano, ou seja, considerar que a realidade em si incognoscvel. Assim, Freud, estabelece uma distino fundamental entre uma realidade inte-rior e uma realidade exterior.

    Partindo de Freud, Lacan avana no sentido de fazer com que toda reali-dade seja abordada pelo recurso de ser psquica. O que est em jogo neste avano so os dois pontos fundamentais deste estudo. O primeiro diz respeito a se postular algo como o Real impossvel e suas consequncias no sentido de se pensar a realidade. Ou seja, se h uma distncia irredutvel entre um e outro, entre Real e realidade, ento a realidade se configura como uma produo in-terminvel, o que abre espao para se pensar o dispositivo clnico como lugar da escuta e da construo de sentido. Se o Real impossvel, como postula Lacan, mas e se mesmo assim ele se configura como um registro, ao lado do

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    imaginrio e do simblico, ele s poderia se registrar de forma negativa, justa-mente pelo que ele no no plano da experincia subjetiva, a saber, falta abso-luta, impossvel, gozo absoluto, etc.

    O outro ponto fundamental corresponde funo de mediao da fan-tasia, visto que esta se encontra em meio ao Real impossvel e realidade possvel, fazendo face a este impossvel ao positivar objetos para dar conta da falta absoluta. O desejo mantm uma relao estreita com a falta ao tornar recorrente o movimento incessante e sempre falhado de tentar suprimir esta falta.

    Este ponto ainda se desdobra em outra considerao, que a que permite associar realidade psquica e fantasia, a saber, a de que a fantasia a realidade possvel do neurtico. Esta afirmao pode ser ilustrada pelo que Freud (1900/1996) denominou como a via rgia do inconsciente: os sonhos. O so-nhar tambm uma realidade possvel para o neurtico, na medida em que as formaes da fantasia (Phantasiebildungen) se constituem como sendo o [...] ponto de partida e matria-prima do trabalho do sonho e da formao do sin-toma, as quais, apesar do carter altamente organizado, permanecem recalca-das tal como afirma Garcia-Roza (2004, p. 241).

    o que se pode verificar no captulo VII de A interpretao dos sonhos, quando Freud (1900/1996) afirma que os acontecimentos psquicos, mesmo os conscientes, no possuem nada que os possa qualificar como sendo arbi-trrios. O que pressuposto nesta afirmao o fato de haver uma lgica inconsciente. Este pressuposto corroborado pela existncia mesma da cen-sura efetuada pelos sistemas PCs e Cs. O fato de os pensamentos onricos estarem sujeitos a deformaes no significa que seja por eles serem da or-dem do no sentido, mas por haver uma forma outra de encadeamento do que se submete deformao, pois se se tratasse de contedos puramente desconexos e caticos, no haveria motivo para serem distorcidos pela cons-cincia.

    Assim, existem elementos para se considerar o sonhar como uma realida-de possvel para o neurtico por um duplo motivo. O primeiro bem localiza-do na metapsicologia freudiana a partir do desenvolvimento do conceito de recalque e os destinos das representaes inconscientes. O segundo diz respei-to ao fato de que o sonhar se configura como uma possibilidade outra, na qual se v subvertida a represso imposta pelo pragmatismo e o automatismo, mo-dos de funcionamento e captura caractersticos da sociedade contempornea e determinante na conformao das possibilidades de expresso da conscincia. Deste modo, o sonhar se qualifica como uma realidade outra, na qual prevale-

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    cem os atravessamentos da outra cena, dispondo o sujeito em sua relao com o Outro como o contedo do que encenado.

    Desta forma, o desejo, pelo recurso da fantasia, vai em direo de fazer da falta localizada no Outro um empuxo ao encontro com o outro da cena social, no sentido de este fazer parte do enredo proposto pelo sujeito para dar conta do Real impossvel. por este recurso que a fantasia a realidade possvel do neurtico, justamente por acenar que o lao social uma captura do outro num modo de relao que faz meno constante s primeiras experincias de satisfao, que passariam a ser alucinadas, sonhadas e fantasiadas. E aqui se encontra o ponto de bscula em que a fantasia tomada no dispositivo anal-tico como um processo a ser ultrapassado, pois do contrrio, as relaes do sujeito so reduzidas aos efeitos de um narcisismo mortfero em cena no mal--estar na atualidade.

    Estes pontos fundamentais so desdobrados em consequncias diretas para que fique claro o papel de mediao do conceito de fantasia. A primeira consequncia diz respeito ao fato de que a realidade oriunda de um movi-mento da fantasia de fazer face ao Real, que por sua vez gera representaes para dar conta do sem sentido em jogo. A segunda consequncia tem relao com o fato de o princpio de realidade estar a servio do princpio do prazer, o que justifica a ampliao do alcance da fantasia no plano exterior, sobretudo, no plano das relaes, justificando tambm a ao do enredo fantasstico ao qual tem de se submeter o outro da cena social para que seja encenada a rela-o. A terceira referente constatao de que os laos sociais, na experincia subjetiva do neurtico ao menos, so enquadres fantassticos. Sendo assim, justifica pensar o alcance que poderia haver na proposta de travessia da fanta-sia fundamental como recurso frente ao mal-estar contemporneo.

    Se a experincia clnica aponta para o fim da anlise como possibilidade de ocorrer uma destituio subjetiva e os laos poderem ser compostos a partir das diferenas em jogo, outras solues, exteriores ao dispositivo analtico, no passam despercebidas. Solues como o amor e o trabalho se configuram como aes impraticveis na realidade do sofrimento neurtico. A experincia do amor, por exemplo, implica uma destituio subjetiva na medida em que leva o neurtico a reconhecer o ponto por meio do qual a falta passa a ser subjeti-vada e a completude flica deixa de ser o aspecto mais importante de sua vida. Portanto, da realidade psquica composio do lao social, a fantasia ocupa um amplo horizonte de investigao da Psicanlise, desde o incio, como con-tedo da realidade psquica, at como condio a ser ultrapassada, para que o enredo que submete o sujeito e o outro da cena social servido voluntria seja

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    reconhecido pelo vis de perceber no desamparo constitutivo um empuxo ao encontro com o outro no que este possui de mais estranho e familiar.

    Mardem Leandro Daniela Paula do [email protected] [email protected]

    Maria dos Anjos Lara e [email protected]

    TramitaoRecebido em 22/10/2013Aprovado em 13/02/2013

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    De que so feitos os sonhos?Da realidade psquica ao lao social: a funo de mediao do conceito de fantasiaTempo do sonho, tempo da rverie e o terceiro-analticoA dor (ou o gozo) de existir*O caso Valkria R.Consideraes sobre a formao do analista: tica, saber e transmissoCuidado, maternidade e temporalidade: repensando os valores contemporneos da eficinciaA dor de no existir: uma reflexo sobre a questo dos limites nas patologias alimentares*O vu do inconsciente e a questo da angstia*Psicanlise e Educao: do barulho batucadaUma anlise psicanaltica da compulso e da impulso a partir da perspectiva do gozo e do ato.O homem transicional: para alm do neurtico & borderlineNormas para submisso de artigos para publicao nos Cadernos de Psicanlise CPRJ