rajagopalan, kanavillil - capítulos

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Poli UMA LlNQullTleA e&1'I'IM1 O ra , s e l eva da a o p 4 d a l et ra , a hi p6 tes e, t al q ua l a e la bor am os no inicio deste trabalho, vai de encontro a ambas essas implicacoes da postura m ar xi st a (d. Rajagopalan, 1995 para uma d is cu ss ao p or - m enor izada sobre essa questao). N os sa h ip 6t es e p re ve q ue todas as t eori as s ob re a l in gu ag em ne- cessariamente contem m ar cas de det er mi nado posicionamento i deol o- gic o o u outro p or parte de quem a s co ns troi e , por c ons eguin te, te ra o necessariamente implicar;:5eseticas. Ao contrario do que se depreende da posicao m ar xi st a, a escol ha nao est ari a, e m mo me nt a a lg um , e nt re uma teoria eticamente dimensionada e outra eticamente neutra e descompromi ssada; est ar ia sem pr e ent re t eori as, todas elas com claras i mpli cacoes eticas. Em outras palavras, em nenhum m om ento est ar ia- m as pensando a l inguagem em termos eti co-i deol ogicam ente neutros. Na me dida em q ue tod o po sic iona me nto et ico e nvo lve a d efes a de certos valores em oposicao a outros, ou seja, a hierarquizacao de val or es, a hip6t ese tal qual se acha formulada n es te t ra ba lh o r ed un da em que todas a s dis tinc oes sao no fundo hie ra rquia s (a s vez es mui to b er n d is fa rr ;: ad as o u ' ma qu ia da s' ). No c as o d a l in gu is ti ca , a qu i e st ao alguns exemplos m ai s i lust rati vos: lingua vs, dialeto, l ingua vs. f al a, fal a vs . e sc rita, lo cu tor v s. de sti nata rio, li ngua mate rn a vs . ling ua e st ra ng ei ra , (f al an te ) n at iv e v s. e st ra ng ei ro , e a ss im p or d ia nt e. Para finalizar, que destino teria a mais celebrada de todas as distincoes m et at e6ri cas que qualquer calouro no campo da linguistica e invariavelmente convidado a aceitar - a saber, a distincao entre urn saber descritivo e urn s ab er prescritivo? Be rn , s er p re sc ri ti vo n ao ser ia m ai s 0 exclusivo privilegio dubio dos gram<iticos tradicionais, o s pobre s c oita dos que ja foram e xp lorad os como ' sa c os de pa nca da ' p el a mo de rn a c ie nc ia d a l in gu ag em , a l in gu is ti ca ! 56 OO[]OIJ··· . _____II! I A identidade linguistica em urn mundo globalizado Queir~mos ou nao, vivemos num mundo globalizado. Entre ~u~~as coisas, ISSO s ig ni fi ca que os destinos d os d ife re nt es p ov os q ut ' a i tam a t err a s e e nc on tr am c ad a v ez ma is i nt er li ga do s e i mbri cados uns nos outr f - o . 1. os - enomeno que vern sendo chamado de "transna- Clona izacao" d .d n a n os sa VI a c ul tu ra l e e co no mi ca (R ob in s 1997) 0 outro lado dessa mesm d hama " ,. a moe a se c ama desterritorializacao" d pessoas que . d )-- as - , por motivos iversos, tornam-se em' d vez maior, cidadas d d ' . ' numero ca iI e Ren . 0 mun 0- e suas praticas i dent it ari as (K ra us e ._ WIck, 1996). Essa nova relacao e nt re a s p es so as d as d if er en ts s regioes do mundo, das mais variadas etnias e linguas de hi tori . t di - dif ' s ori as t' ra ico es Ie rente s, se deu c omo co ns equ enc ia ime dia ta do rom Ji ~ en ~o d as b ~r re ir as que, ate pouco t em po a tr as , p ar ec ia m i nt ra ns ~o n rveis e s ervia m d e impe dime nto a qu alqu er forma de ap ro xima ca o entre os povos, a nao ser com propositos nada arnica . E f . d ' . , 19avels. stou mt' ~e erm .0_ a s ~ n~ me ra s b ar re ir as c ome rc ia is , e co no mi ca s, c ul tu ra is {' as restricoes a livre circulacao de informacoes entre ' b . _ d ..- palses, arrelrilS q ue e st ao e smo ro na nd o c om r ap id ez i mp re ss io na nt e. E d aro. q ue se ria d emas iad o ing enu e con duir qu e 0 mundo UP deve, ernergir da derroc ad a d a v elh a orde m v ai es ta r 0 mais pr6xi~O p os siv el de urn p ara iso terre stre , livre da s dis sen s6 es e do s atrito s 57

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P o l i UMA L lNQu l lT leA e & 1 ' I ' I M 1

Ora, se levada ao p4 da letra , a hip6tese, tal qual a elaboramos

no inicio deste trabalho, vai de encontro a ambas essas implicacoes

da postura marxista (d. Rajagopalan, 1995 para uma discussao por-

menorizada sobre essa questao).

Nossa hip6tese preve que todas as teorias sobre a linguagem ne-

cessariamente contem marcas de determinado posicionamento ideolo-

gico ou outro por parte de quem as constroi e, por conseguinte, teraonecessariamente implicar;:5eseticas. Ao contrario do que se depreende

da posicao marxista, a escolha nao estaria, em momenta algum, entre

uma teoria eticamente dimensionada e outra eticamente neutra e

descompromissada; estaria sempre entre teorias, todas elas com claras

implicacoes eticas. Em outras palavras, em nenhum momento estaria-

mas pensando a linguagem em termos etico-ideologicamente neutros.

Na medida em que todo posicionamento et ico envolve a defesa

de certos valores em oposicao a outros, ou seja, a hierarquizacao de

valores, a hip6tese tal qual se acha formulada neste trabalho redunda

em que todas as distincoes sao no fundo hierarquias (as vezes muito

bern disfarr;:adas ou 'maquiadas'). No caso da linguistica, aqui estaoalguns exemplos mais ilustrativos: lingua vs, dialeto, lingua vs. fala,

fala vs. escrita, locutor vs. destinatario, lingua materna vs. lingua

estrangeira, (falante) native vs. estrangeiro, e assim por diante.

Para finalizar, que destino teria a mais celebrada de todas as

distincoes metate6ricas que qualquer calouro no campo da linguistica

e invariavelmente convidado a aceitar - a saber, a distincao entre

urn saber descritivo e urn saber prescritivo? Bern, ser prescritivo nao

seria mais 0 exclusivo privilegio dubio dos gram<iticos tradicionais,

os pobres coitados que ja foram explorados como 'sacos de pancada'

pela moderna ciencia da linguagem, a linguistica!

56

OO[]OIJ··· ._ _ _ _ _ I I ! I

A identidade linguistica

em urn mundo globalizado

Queir~mos ou nao, vivemos num mundo globalizado. Entre

~u~~as coisas, ISSO significa que os destinos dos diferentes povos qut'

a itam a terra se encontram cada vez mais interligados e imbricados

uns nos outr f - o

. 1 . os - enomeno que vern sendo chamado de "transna-Clona izacao" d .d na nossa VI a cultural e economica (Robins 1997) 0

outro lado dessa mesm d hama " ,.a moe a se c ama desterritorializacao" dpessoas que . d )-- as- , por motivos iversos, tornam-se em' dvez maior, cidadas d d ' . ' numero ca iI

e Ren . 0 mun 0 - e suas praticas identitarias (Krause

._ WIck,1996). Essa nova relacao entre as pessoas das diferentss

regioes do mundo, das mais variadas etnias e linguas de hi tori .t di - dif ' s orias t'

ra icoes Ierentes, se deu como consequencia imediata do rom Ji

~en~o das b~rreiras que, ate pouco tempo atras, pareciam intrans~o

nrveis e serviam de impedimento a qualquer forma de aproximacao

entre os povos, a nao ser com propositos nada arnica . Ef . d ' . , 19avels. stou mt'

~e erm .0_as ~n~meras barreiras comerciais, economicas, culturais {'as restricoes a livre circulacao de informacoes entre ' b ._ d ..- palses, arrelrilS

que estao esmoronando com rapidez impressionante.

E daro. que seria demasiado ingenue conduir que 0 mundo UP

deve, ernergir da derrocada da velha ordem vai estar 0mais pr6xi~O

possivel de urn paraiso terrestre, livre das dissens6es e dos atritos

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Po " UMA L INOu l m eA

que marcaram Dutro. tempo. nlo tAo remotos. Com certeza, a queda

do muro de Berlim nAo s1gnificou 0 comeco da tao decantada paz

mundial duradoura, como daramente 0 demonstram as tensoes que

ainda persistern em diferentes partes do mundo, bern como os fre-

quentes conflitos armados que ocorreram no curto espac;:ode tempo

desde 1989. Tarnbem nao nos podemos contentar com 0 fim da era

do imperialismo e de seu avesso,0

colonialismo, mais ou menos emmead os do seculo XX, com a mdependenda em serie de dezenas de

colOnias europeias na Africa e na Asia. Seria temerario e irresponsavel

concluir que a espirito do imperialismo e do colonialismo passou para

as paginas da hist6ria. Em conferencia proferida na Universidade de

York, em Toronto, Canada, em fevereiro de 1993, a critico Iiterario e

comentarista politico Edward Said (1993) acusa as EUA de persistir

em suas prstensoes imperialistas, lembrando que a fen6meno "Estados

Unidos" foi, desde 0 seu comeco, fundado na ideia de urn imperium.

Poi fundado como urn imperio, urn estado soberano que se expandiria

em populacao e territ6rio e aumento de poderio.

E acrescenta:

Curiosamente, porem, tao influente tern sido 0 discurso que insiste

na especificidade [nortejamericana, em seu altruismo, e nas oportu-

nidades [que 0pais oferecel, que 0 imperialismo nos Estados Unidos,

quer enquanto palavra quer como ideologia, tern aparecido rara e so

recentemente em discussoessobre a cultura,politicaehist6ria dosEUA.

Ou seja, Said esta nos alertando sobre a prevalencia de urn cer-

to discurso que so serve para camuflar as verdadeiras intenc;:6es de

certos governantes; persegue-se a velha politica expansionista, porem

agora disfarcada de interesse altruista. As relacoes internacionais

ainda continuam como sempre foram: uma luta de foice onde se

salva apenas quem tern "maior poder de barganha". As tensoes e os

frequentes desentendimentos entre povos, ao que tudo indica, nao

vao desaparecer como num passe de magica. Talvez, ate seja utopico

demais esperar que isso occrra, se admitirmos a hip6tese de que a

propensao a violencia faz parte da propria natureza humana.

58

o meu . ... .• capftulo nAo ~ indagar se est~ ao nosso

alcance 0 sonho antigo da "aldeia global". Gostaria apenas de tecer

algumas reflexoes, em puro espirito especulativo, a respeito das mu-

dancas que sinto estarem em curso na identidade l inguistica de cada

urn de nos como resultado da globalizacao. Digo desde ja, a t itulo de

antecip.a~ao de ~inha principal conclusao, que JBInca na.histcria da

{l.~~~:l1dad~ a__:del1~Q<ldginguistica das _pes~o~_estey:~_t~~_E:ujeita

com~Il°.:_~~a~_~~oje as i~fluencias estrangeiras. Volatilidade e insta- i

bilfdade torna~am-se as marcas regist~a-d~~-~~i;:;-id;;ntidadeso mundo }

p6s~~_9~,:~_0\ Nossas vidasestao sendo cada vezmais literalmente I

invadidas pelas informacoss advindas de fontes de todos os tipos

algumas be~-vindas, outras nem tanto. A Internet nivelou em grand~

parte.as desigualdades que existiam entre a centro e a periferia no que

respeita ao acesso as informacoes, como cada vez mais estao desco-

b~i~do, com espanto, os governantes autocraticos e inescrupulosos em

vanas partes do mundo que historicamente sevaleram da possibilidade

de reter informacoes au ate mesmo do instrumento igualmente eficaz

de desinformacao proposital para manter-se no poder. A radiodifusao e

a televisao via satelite tornaram possivel a transmissao de noticias em

tempo real. Hoje, principalmente nas populacoes urbanas do mundo

inteiro, so vive desinformado quem quer se isalar do resto do mundo

por vontade propria, sendo que as inurneros =t-= e outdoors espa-

l~ados em lugares publicos e outras formas de propaganda agressiva

amda se esforcam para que 0nosso "ludita" contumaz deixe de realizar

seu sonho em plenitude. Estamos vivendo a era da informacao - hoje

somas a que sabemos. E a linguagem esta no epicentro deste verdadeiro

abalo sismico que esta em curso na maneira de lidar com as nossas

vidas e as nossas identidades. Se a identidad~ Iinguisticaesta em crise

i~~s~.~~~e?de u~lado, ~o e~ infor~~-C;:6~~~~ nO~--~i~~~nd~e, P?f outro lado, as instabilidades e contradicoes que caracterizam

tanto a linguagem na era da informacao como as proprias relacoes

entre as povos e as pessoas.

Tenho plena consciencia de que estou propondo algo que certa-

mente incomodara muitos dos meus leitores, uma vez que a perda de

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POR UMA L1NGuiSTICA CRiTlCA: L1NGUAGEM, IDENTIDADE E A QUESTAo ~TlCA I KANAVlLLIL RtuAGOPALAN

identidade e motivo de angustia em qualquer situacao, Na verdade,

tamanha e a angustia que isso ja esta gerando eml1l_':li~_o~_:;~tores

que, como bem ressal ta Samuel Huntington (1997),pode~~:_~.:-~\

tatar duas tendencias, contradit6rias entre si, em franca sxpansao:

a globalizac;:ao e a regionaliza~ao. A segunda se process a a r e v e 1 ic t :. :. _ ~ .

ou, talvez em resposta direta

aprimeira. Em suas proprias ~~la~!~s,_ _.,.=1--- . - . - : - - . 5 Z _ -r. 0\'''''"('0''-

Nesse mundo novo'f;apolit:icaT;~;l e a polit ica da eWa, e a poIrt ica 'i

' 1 , ~ ' , " , ( _ _ EyllcITaleapolitica das civilizac;:~e.s~A r:validade ~as superpote~cias ~--

, I f e substituida peIo cheque das civilizacoes (Huntington, 1997. 21).

! ,I :: i~~~, ao mesmo tempo em que se fala em interesses g!o?ai~,_as

•inacoes estao procurando cada vez mais cuidar dos interesses regie-

nais, haja vista a formacao de zonas livres de co~~i9_jDi~i:@__tk>!lal,

dentre as quais 0 Mercosul. Huntingt~U-~it~em prol da sua tese a

atitude de paises como a Russia, a Polonia, a Hungria, e a Grecia

que, durante a guerra do Kosovo, nao escondiam sua simpatia para

com a Iugoslavia, colocando acima dos seus compromissos 'globais'interesses locais como a etnia (eslava) ou a religiao (ortodoxa), mesmo

tendo oficialmente endossado os bombardeios da OTAN·Huntington

entende qu ja se foi 0 t~~p~"em que os paises se submetiamaos

interesses a1 eios por motivos de vaIlta.:g_e:n..s!IIlediatas ou em razao da !

, i',A~r~,(Jincapacidade~_a.:~tO_9-j:i__rm9-!JAs--relac;:oesinternacionais continuam

11", Jf·-r-'-s-erCOi1.tllrbadas cheias de tensoes e contradicces., ,

t '. ,/)f y~lIP' V -A politica mundial esta sendo configurada seguindo linhas cultu-

, ( 'i ,' Ift'V rais e civilizacionais. Nesse mundo, os confiitos mais abrangentes,

, importantes e perigosos nao se dado entre classes sociais, ricos e

pobres, au entre outros grupos definidos em termos economicos,

mas sim, entre povos pertencentes a diferentes entidades culturais.

As guerras tribais e as confiitos etnicos iran ocorrer no seio das

civiliaacoes (Huntington, 1997: 21).~.

'. _ A analise de Huntington tem muito a ver com a identidade

,~, \lingUistica que esta, s,e formando no mundo inteir",O.pO,r urn lado, ela

mostra marcas inconfundfveis da globa1iza~ao que, segundo alguns

~. CritiCOI. nle pasl' de u rn e u fe m i sm o para a " e st ad u ni za t; :a o " o u um.

• I ~A~' • __ k ~ , ' , .

A IDENTlPADE LINGuiSTICA EM UM MUNDO GLOBALlZADO

nova ordem mundial sob a egide da "Pax (Norte-)Americana". Sabe-se,

por exemplo, que 0 avanco triunfante da lingua inglesa como meio

preferido de comunicacao internacional esta afetando diretamente

as demais linguas do mundo. Em tom propositadamente alarmante,

Phillipson (1992) discute 0 fen6meno de "imperia li smo linguistico" c

fala da "invasao linguistica" a que vern sendo submetidas as demais

nacoes, mediante os emprestimos linguistic os em grandes quantidades.

Ha quem fale em termos de "glotofagia" (Calvet, 1974), " linguic idio",

"matanca linguistica", "canibalismo linguistico" (Phillipson e Skutnabb-

Kangas, 1995) e "genocidio l inguistico" (Day, 1980) etc ., termos qut ',

por si sos, contribuem para desenhar urn quadro macabre e desolador.

Em termos mais ousados ainda, Pennycook (1998) alega que tanto a

lingua inglesa como a disciplina que se diz interessada em questoes

linguisticas - a linguistica - estao impregnadas da ideologia de

colonizacao (voltaremos a essa questao adiante) .

Por outro lado, ha tambem elaros sinais de reacao, Da mesma

forma que prevalecem, conforme Huntington, tendencias opoatas It

cont raditorias de globalizac;:ao e regionalizacao na esfera das rcla~I'Il'1I

internacionais, a identidade linguistica do cidadao do mundo global!

zado tambem se acha rasgada ao meio pelas forcas de submlssao A U

poder avassalador da influencia estrangeira (representada pela HnguQ

inglesa) e de resistencia e enfrentamento com ingerencias sofrldas, A

recente mobilizacao pol it ic a contra estrangeirismos em diversos paise!!,

inclusive 0 Brasil , pode ser vis ta como uma forma de enfrentamento ,

ainda que a ideia de que um punhado de leis e regulamentos locals

possa conter algo que ocorre em nivel global parec;:a urn tanto qui-

xotesca. 0 fen6meno que merece maior atencao por parte de todos

0 1 1 1 interessados no assunto e a formacao de focos de resistencia bern

mais fundamentada em diferentes partes do mundo (Canagarajah,

1999) e a importancia que a chamada pedagogia critica assume cada

VIZ mais nessa empreitada. Contrariamente aos politicos e d emag og o s

. 1 . 1 . querem faturar resultados imediatos incitando a opiniaopubllca

todas aI lnflu~ncias estrangeiras e pregando uma e8p~cte d.

rno como antidote, esses pelquiaadorel.dvoilm

_ . . . .

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POR U M A L lN Gu fS Tl CA . e ro TI CA .: L IN GU A GE M, I DE NT ID AD E E A Q UE ST Ao E TI CA . I K A N A V IL L I L R A .i A GO P A L A NA IDENTIDADE LINGUtSTICA EM UM MUNDO GLOBALIZADO

uma atitude muito mais sadia, que consiste em investir cada vez mais

nas estrategias de "empowerment" - providenciar melhores condicoes

para enfrentar 0 adversario em seu terreno, em vez de se esconder

par tras de uma muralha de autoisolamento.

o trace mais visivel da identidade linguistica nesses tempos pos-

modernos e a mesti<;:agem, da qual nenhuma lingua escapa hoje em

dia. Durante muito tempo, a l inguistica relutou contra a possibil idade

de as linguas se inftuenciarem de outra maneira que nao mediante a

cadeia evolut iva. A cham ada areal linguistics, segundo a qual as l inguas

faladas em regioes geograficamente cont iguas podem, com 0passar do

tempo, infiuenciar uma a outra, a inda encontra focos de desconfianca

e rejeicao, apesar de t rabalhos classicos como 0de Emeneau (1956)

e mais recentes como Thomason e Kaufman (1988). A linguistic a,moderna ainda nao conseguiu se desvencilhar da ideia de que as

(micas mudancas que ocorrem ao longo da trajetor'ia das linguas

particulares devam-se a causas intrassistemicas, is to e, a mudancas

motivadas por fatores internos, geneticos. Trata-se de uma heran<;:

da chamada linguistica comparativa que fioresceu no seculo XIX. E

uma ideia sutilmente preconceituosa - embora a maioria de seus

defensores nao tenha, ao que gostaria de crer, parado para pensar

sobre isso - porque e alimentada pelo mesmo desejo de pureza e

pelo mesmo medo de mesticagem que costumam dar origem a outras

formas de preconceito como racismo. Max Muller (apud Thomason e

Kaufman, 1988:1) foi taxativo em sua afirrnacao de que nao se pode

haver linguas mistas .

Isso nos conduz de volta a Pennycook, para quem a linguistica,

tal qual se encontra hoje, ainda permanece imbuida de ideias pre-

conceituosas advindas da epoca do colonialismo. Talvez devamos ir

mais longe ainda e afirmar, como faz Hutton (1996), que, enquanto

disc ipl ina academica , a l inguistica ainda carrega traces de sua origem

no seculo XIX. Afinal, foi no seculo XIX que nao so 0 imperialismo

europeu atingiu seu apice, mas, inebriado pelo asptrito do Ilummls-

mo, a identidade do homem dito "emancipsdc" ac1qutriu as ma t i • • •

do individualismo exacerbado e da arrogancia em relacao aos seus

pares e a Mae Natureza.

E preciso reconhecer que a linguistica - tal qual se encontra hoje

- esta mal equipada para nos fornecer subsidies para falar da iden-

tidade humana em nosso tempo de globalizacao, Parte da dificuldade

em aceitar a tese de que nossa identidade linguistica se caracteriza

por instabilidades talvez tenha a ver com 0 fato de que simplesmente

nao ha lugar para um falante com tal perfil no mundo da linguistica,

onde as eventuais instabilidades sao tipicamente tratadas ou como

sinais de desvio ou como evidenciando simples falta de competencia

(caso de falantes estrangeiros e pessoas portadoras de deficiencias)

ou como marc as de estagios passageiros (caso de criancas e falantes

de "pidgins") (Rajagopalan, 1997b, 1998a). Contudo, as instabilida

des tern sua origem naquilo que Bakhtin (1981) chama de "as forcas

centrifugas na vida da linguagem". Diz Bakhtin (1981: 273):

A l inguistica, a estilistica e a filosofia da linguagem que nasceram ('

foram forjadas pela corrente das tendencias centralizadoras na vida

da linguagem tern ignorado a heteroglossia dialogica na qual est .to

incorporadas as forcas centr ifugas na vida da linguagem. Por ( - ' 1 ' 1 1 1 '

motivo, elas nao foram capazes de acomodar a natureza dialoglca

da linguagem, que e uma luta entre pontos de vista sociolinguis

ticos, e nao uma luta intralinguistica entre vontades individuals ('

contradicoes logicas.

Ou seja, 0 falante que 0 l inguista quer celebrar e a falante ide

a I, nao contaminado pelo cantato com os outros, uma especie l I ( '

born selvagem (Rajagopalan, 1997a). 0 bom selvagem nunca saiu

do mundo imaginario do seu criador Jean-Jacques Rousseau, para

,p il A r na terra dos mortais comuns. Pelo que se ve, as chances de St'

com ele em nosso mundo pos-moderno globalizado sao cada

mlil remoras.

.---_ munss

 

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r-------i

! [

L _ . . . . . . _ _. l

Lingua estrangeira

e autoestima

N contexte de ensino de lingua estrangeira, uma das per-

guntas quase nunca feitas pelos pesquisadores e professores e: "Por

que e que os alunos querem aprender uma lingua estrangeira?" Nao

e dificil adivinhar 0porque de tamanho descaso e desinteresse em

saber algo que com certeza deveria nortear a elaboracao de curriculos

e conteudos curriculares, a adocao de metodologias apropriadas e a

fixacaode metas a ser alcancadas, 0 simples fato e que, com rarissi-

mas excecoes, sempre se pensou que s6 pode haver urn unico motivo

para alguem querer aprender uma lingua estrangeira: 0 acesso a urn

mundo melhor. As pessoas se dedicam a tarefa de aprender linguas

estrangeiras porque querem subir na vida. Alingua estrangeira sempre

representou prestigio. Quem domina uma lingua estrangeira e admi-

rado como pessoa culta e distinta. Tanto isso e verdade que a palavra

"estrangeira" e comumente reservada para qualificar uma outra linguaque conta com mais respeitabilidade que a lingua materna de quem

fala - par mais incrivel que isso pareca a primeira vista! A maior

prova disso e que, quando a lingua e considerada de menor prestigio,

, quase sempre qualificada como "exotica" au ate mesmo como um

l ldia leto" , e nao como uma "lingua"propriamente dita (a esse respeito,

yal.a pena lembrar a velho ditado que diz: uma lingua e urn dialeto

conta com urn exercito e uma marinha).

 

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POl l UMA LlNGU1STICA eRiTICA: LINGUAGEM, lDENTlDADE E A QUESTAo IiTICA I KANAVILLIL RA.iAGOPALAN

E sabido que alguns dos mais destacados metodos de ens ino de

l ingua estrangeira logo apos 0 termino da Segunda Guerra Mundial

- como 0 metodo audio lingual - foram aperfeicoados a partir das

experiencias acumuladas atraves do estudo de linguas "exoticas", Na

prlmeira metade do seculo XX,quando 0 ensino de linguas estrangeiras

adquiriu importancia estrategica para os Estados Unidos, em grande

parte como resultado das necessidades impostas pelas duas grandes

JUerras, a lingufstica - sobretudo nos EUA - quase exclusivamente

.. resumia ao estudo de linguas "exoticas". A expressao "linguista da

.. I va" (jungle linguist), cunhada pelo filosofo Willard Quine, se refere

precisamente a essa caracteristica distintiva da linguistica da epoca.

Quando requisitados para desenvolver metodos e tecnicas para ensi-

nar ltnguas estrangeiras em urn curto espa~o de tempo, os linguistas

almplesmente transferiam para a campo de ensino 0 conhecimento

acumulado das linguas indigenas/excticas (Rajagopalan, no prelo-2).

Bntretanto, a diferenca crucial entre linguas "exoticas" e l inguas

"•• tr lngeiras" continuou intacta. Afinal, trata-se, nao de uma dife-

r.n~1bjetiva, mas de uma diferenca dependente de uma escala de

v I l o r • • . Trata-se, em outras palavras, de uma distincao com fortes

conota~Oes ideologicas. Como vern chamando a nossa atencao auto-

r•• como Phillipson (1992) e Pennycook (1994, 1998), 0 ensino de

l i n gUA l estrangeiras sempre teve uma dimensao fortemente colonia-

It.ta, Phillipson (1992: 47) entende que 0 imperialismo linguistico faz

parte daquilo que se convencionou chamar de "linguicismo", termo

'Ite que se refere "as ideologias, estruturas e praticas que sao mo-

bllizadas para legitimar, efetuar, e reproduzir uma divisao desigual

de poeler e recursos (tanto materi.al como nao material) entre grupos

demarcados com base linguistica",

NAo seria diftcil demonstrar que a linguistic a enquanto disciplina

moderna e herdeira da antropologia na forma como esta so dcscn

volveu no seculo XIX. A piada recorrente a respei to da antropologla

do dculo XIX, segundo a qual antropologia seria fruto do olhar do

homem branco em direcao ao indio (sen do 0 contrado conslderade. .

LINGUA EsmANliIIIRA H AlIIOHSTIMA

como mitologia), na verdade destaca 0 vies colonialista que, com fre-

quencia, marcou muitos dos estudos feitos nesse campo de pesquisa.

Nao e de estranhar, portanto, que a linguistica tambem demonstre

resquicios da ideologia que tanto infiuenciou sua disciplina mae.

Voltando ao nosso ponto inidal, a principal diferenca, em ter-

mos prat icos, entre uma lingua "exotica" e uma l ingua "estrangeira"

- ou melhor, entre considerar determinada lingua como a primeira

ou a segunda - esta em que, no caso da primeira, nosso interesse

em estuda-la se resume a uma curiosidade cientifica - 0 prazer de

conhecer 0 estranho e 0mitico - ao passo que, no caso da segunda,

somos movidos pelo desejo de ampliar os nossos horizontes culturais

de nos lancar a urn melhor nivel de vida - em suma, de tirar pro-

veito do contato com algo previamente entendido e encarado como

superior ao que ja possuimos.

E par este motivo que, no caso das linguas estrangeiras, sempre

se fixou como meta para os esforcos didaticos nada mais nada menos

que a aquisicao de uma competencia perfeita, entendendo-se por com-

petencia perfeita 0 dominio que 0 falante nativo supostamente possui

da sua lingua. Alias, a partir da chamada revolucao chomskiana na lin-

guistica, tornou-se redundante qualificar a competencia como perfeita.

A competencia do falante nativo de urn idiorna dado, segundo a visao

teorica de Chomsky, e perfeita. 0 falante nativo sabe a sua lingua, e

pronto. De acordo com essa cartilha, cabe ao aprendiz de lingua es-

trangeira fazer 0 possivel para se aproximar da competencia do nativo.

No entanto, havia tambern urn corolario da prernissa inicial _

nAo explicitado como tal, mas sempre tornado como urn pressuposto

no campo de ens ino de linguas: nenhum falante nao nativo jamaispode sonhar em adquirir urn dominic perfeito do idioma. Isso natu-

ralmente levou a consequencia de que 0ensino de lingua estrangeira

fOlSe, durante muito tempo, considerado urn empreendimento com urn

objetivo inatingivel- nao so na pratica, como tambem em principio.

IIconstantes propostas de melhorar a autenticidade do material

IICI.~ICOna esperanca de que a distancia entre 0objetivo almejado e

IfnllIolUI,r;Lg .f.tivlmlnte alcancado fosse cada vez mais diminuido.

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POR UMA L1NGUISTICA CRlTICA: LINGUAGEM. IDENTIDADE E A QUESTAO ETICA I KANAVILLIL RAJAGOPALAN

Ja argumentei em outras oportunidades que 0 proprio conceito

de falante nativo e algo ideologicamente suspeito (Rajagopalan, 1997a,

1997b). Contrariamente a figura do nativo que, na epoca aurea da lin-

guistica estrutural era encarada como uma especie de "born selvagem",

o nativo que emergiu do modelo chomskiano foi urn ser cartesiana-

mente onipotente. Em materia de ensino de lingua estrangeira, tal

concepcao do nativo, marcada por urn grau de veneracao desmedida,

86 deu ampla vazao a ideologia neocolonialista que sempre pautou 0

empreendimento. 0 que seviu foi uma verdadeira "apoteose do native".

Nao e de estranhar que 0 ensino de lingua estrangeira ainda leve

muitos alunos a se sentirem envergonhados da sua propria condi-

~~o Iinguistica, Pois 0 lado mais nocivo e macabro da ideologia que

norteou, durante muito tempo, os programas de ensino de lingua

estrangeira e que, como resultado direto de determinadas praticas e

posturas adotadas em sala de aula, os alunos menos precavidos se

sentiam diminuidos em sua autoestima, pass ando a experimentar

urn complexo de inferioridade. A lingua estrangeira e a cultura que a

sustenta sempre foram apresentadas como superiores as dos discentes.

Felizmente, ha sinais de que a situacao esta comecando a sofrer

rnudancas significativas. Em grande parte, essas mudancas - sem

duvida, ainda timidas - tern a ver com a percepcao de que as lin-

guas naturais nao sao estanques, mas, pelo contrario, suscetiveis a

toda sorte de influencia externa. Num mundo globalizado como 0 de

hoje, as linguas estao sofrendo influencias mutuas numa escala sem

precedentes. As chamadas "linguas francas" do mundo moderno ja

n~o sao mais linguas cujas trajetorias historicas permaneceram con-

tinuas e sem influencias externas ao longo do tempo. Sao todas elas

formas de cornunicacao que tiveram origem no contato efet ivo entre

povos, processo que continua com maior forca nos dias de hoje em

raz~o do encurtamento de tempo e espaco que e a marca registrada

do momento historico em que vivemos. Os chamados "portunhol",

"franglais", "spanglish" sao exemplos concretos da realidade llngule-

tiel do munde de hoje. SA o linguas mist.s 1 m censtante procesac d.

I'. LiNGUA ESTRANGEIRA E AUTOESTIMA

evolucao, inconcebiveis no final do seculo XIX, quando Max Muller,

grande indologo e estudioso das linguas indo-europeias, chegou a

decretar sumariamente a inexistencia de linguas mistas.

A existencia das linguas mistas nos dias de hoje corresponde

a miscigenacao crescente entre povos e culturas no mundo inteiro.

Quem ainda pensa em termos de linguas estrangeiras, falantes nativos

etc. como se tais conceitos fossem definidos de uma vez por todas e

incapazes de serem repensados, na verdade, ainda esta vivendo no

seculo XIX quando entes como nacao, povo, individuo eram conce-

bidos em termos de uma logica binaria segundo a qual so se admitia

uma resposta categorica do tipo "sim" ou "nao" (Rajagopalan, 2002f).

Vivernos, na verdade, uma epoca em que a questao da identidade ja

nao pode ser mais considerada como algo pacifico. As identidades

estao cada vez mais sendo percebidas como precarias e mutaveis,

suscetiveis it reriegociacao constante.

Uma das maneiras pela qual as identidades acabam sofrendo 0

processo de renegociacao, de realinhamento, e a contato entre as pes-

soas, entre as povos, entre as cul turas. E por esse motivo que se torna

cada vez mais urgente entender a processo de 'ensino-aprendizagem'

de uma lingua "estrangeira" como parte integrante de urn amplo pro-

cesso de redefinicao de identidades. Pois as linguas nao sao meros

instrumentos de comunicacao, como costumam alardear os livros

introdutorios. As linguas sao a propria expressao das identidades de

quem delas se apropria. Logo quem transita entre diversos idiomas

esta redefinindo sua propria identidade. Dito de outra forma, quem

aprende uma lingua nova esta se redefinindo como uma nova pessoa.

Num mundo que serve de palco para 0 contato, 0 intercambio

Bern precedentes entre povos, 0 multilinguismo adquire novas co-

notacoes, 0 cidadao desse novo mundo emergente e, por definicao,

multilingue. 0 multilinguismo como lingua franca (cf. Desai, 1995) ja

IItornou uma realidade no continente da Africa e nas comunidades

. .c om o a Uniao Europeia. Ao que tudo indica, 0mesmo deve se repetir

. - = outras partes do mundo, se e que ja nao esteja em curso.

"

 

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- - - - - - - - - - - - - - - - . 1 - - - - - - - - - - - -POR U M A L IN G ui ST lC A e Ri Tr CA : L lN GU A GE M , l DE N TI DA D E E A QUESTAO ETlCA I K A N AV IL L IL R A JA G O PA L A N

Falar de competencia comunicativa em situacoes de multilin-

guismo impliea rever a propria nocao de competencia comunieativa

tal qual Dell Hymes a definiu em seu texto classico (Hymes, 1972).

Pais a competencia eomunieativa de urn falante multilingue e alga

em estado permanente de mutacao. 0 destronamento da famigerada

figura do falante nativo, junto com sua suposta competencia linguis-

tica, signifiea, no entender de Davies (1989: 169), a possibilidade de

pensar em metas mais razoaveis e exequiveis no ensino de lfnguas

estrangeiras. Signifiea, antes de mais nada, que a verdadeiro prop6si-

to do ensino de linguas estrangeiras e formar individuos eapazes de

interagir com pessoas de outras culturas e modos de pensar e agir.

Significa transformar-se em cidadaos do mundo.

As atividades de ensino e aprendizagem de linguas "estrangeiras"

fazem parte de um processo muito mais amplo que podemos chamar

de redefinicao cultural. Nesse processo, nao faz0

menor sentido falarem termos de perdas e ganhos. N6s simplesmente nos transforma-

mos em outras pessoas (Rajagopalan, 2001c). Afinal, e na linguagem

e atraves dela que as nossas personalidades sao constantemente

submetidas a urn process a de raformulacao au aquila que 0 fil6sofo

canadense Charles Taylor batizou de "self-fashioning" (Taylor, 1992).

o importante em todo esse processo e jamais abrir mao do

nosso direito e dever no que tange a nossa "autoestima", E preciso

dominar a lingua estrangeira, fazer com que ela se torne parte da

nossa pr6pria personalidade; e jamais permitir que ela nos domine.

D D D D D [~_j . :

A construcao de identidadesLINGUISTICA E A POLITICA DE REPRESENTA~Ao

[ . .. J aquele objeto ilus6rio dosestudos ( i / o . \ · o / i " " "

a historia interna da cll't"llI.

S T I ! V H 11 1 1 1 . 1 . 1 1 1 <

Entre as pesquisadores que se interessam pela questao c ia

identidade, ja nao ha mais quem, em sa consciencia, acredite qu<, itS

identidades se apresentam como prontas e acabadas. Pelo contrarlo,

acredita-se, em larga escala, que as identidades estao, todas elas, eru

permanente estado de transformacao, de ebulicao, Elas estao scndo

constantemente reconstruidas. Em qualquer momenta dado, as idl'lI( I

dades estao sendo adaptadas e adequadas as novas circunstancias "lilt

vao surgindo. A (mica forma de definir uma identidade e em opolIl\AII

a outras identidades em jogo. Ou seja, as identidades sao definldaa

estruturalmente. Nao se pode falar em identidade fora das rdA.t ;Ool l

estruturais que imperam em urn momento dado.

Em ultima analise, esta nova postura nos obriga a adotar uma vlldlo

nominalista em relacao ao mundo. A funcao de nornear, de "dar n01l1l'1I

aos bois" ou, como diz Shakespeare, " gi ve a l oc al h a b it at io n a nd a namr",

acaba assim se revelando urn ate genuinamente criativo. A linguilgt'lIladAmica,ou melhor, a f o rma como, de acordo com a Bfblia, 0 primolru

horn em e conduzido por Deus a passar em revista todos os animal"

qUI acabara de criar e dar a cada urn deles urn nome, comeca a adqul-

r tr urna interpretacao totalmente nova e com implicacoes profundae,

c l a r urn nome "proprio" a cada animal, distinguindo-o dos dt! lmAI.

o primeiro hornem .I tava dando largada, sob 0olhar a tln to d o

_IitPCII~'lrOIIO. ipr'tlCl cada urn com b .. . n a q u U o q U I