proposta metodolÓgica para diagnÓstico … · universidade federal de pelotas - ufpel...

19
1 PROPOSTA METODOLÓGICA PARA DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL: UMA ABORDAGEM SISTÊMICA E INTEGRADA DO ESPAÇO AGRÁRIO Sibeli Fernandes Universidade Federal de Pelotas - UFPEL [email protected] Giancarla Salamoni Universidade Federal de Pelotas – UFPEL [email protected] Resumo O trabalho consiste em propor uma metodologia para estudos relacionados a organização do espaço agrário, a qual está ancorada no pensamento sistêmico. Na subárea disciplinar da Geografia Agrária, o método sistêmico propõe tratar conceitos e princípios passíveis de serem aplicados em diferentes campos de estudos, ou seja, a partir de uma visão interdisciplinar da realidade. Para tanto, na elaboração de diagnósticos a abordagem sistêmica auxilia o pesquisador na coleta de informações, sistematização e análise dos resultados de campo, relacionando os elementos sociais, culturais, econômicos e ambientais. Finalmente, a utilização da metodologia dos sistemas agrários em pesquisas geográficas permite caracterizar a agricultura na sua organização espacial, com vistas ao planejamento, no contexto das políticas públicas voltadas para o rural. Palavras- chaves: Pensamento Sistêmico. Sistemas Agrários. Geografia Agrária. Planejamento Rural. Introdução Este artigo tem como objetivo resgatar as contribuições de cunho teórico-metodológico em torno dos estudos sobre a teoria sistêmica e trazer uma proposta para a elaboração de diagnósticos socioeconômicos e ambientais, em diferentes escalas de análise. A evolução do pensamento científico levou ao aprofundamento das especializações, fazendo com que as áreas disciplinares abarcassem algumas subdivisões e temas específicos sobre os diferentes fenômenos da realidade. Assim, os pesquisadores deixaram de estabelecer ligações entre as áreas do conhecimento, o que em um período posterior, levou a um consenso de que a ciência poderia estar em crise por não apresentar uma leitura multi, inter e transdisciplinar do mundo. Na ciência geográfica, pode-se dizer que vários caminhos emergiram como possíveis soluções para a crise epistemológica, e um deles foi à adesão de alguns geógrafos a

Upload: builiem

Post on 07-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

PROPOSTA METODOLÓGICA PARA DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL: UMA ABORDAGEM SISTÊMICA E INTEGRADA DO ESPAÇO

AGRÁRIO

Sibeli Fernandes Universidade Federal de Pelotas - UFPEL

[email protected]

Giancarla Salamoni Universidade Federal de Pelotas – UFPEL

[email protected]

Resumo O trabalho consiste em propor uma metodologia para estudos relacionados a organização do espaço agrário, a qual está ancorada no pensamento sistêmico. Na subárea disciplinar da Geografia Agrária, o método sistêmico propõe tratar conceitos e princípios passíveis de serem aplicados em diferentes campos de estudos, ou seja, a partir de uma visão interdisciplinar da realidade. Para tanto, na elaboração de diagnósticos a abordagem sistêmica auxilia o pesquisador na coleta de informações, sistematização e análise dos resultados de campo, relacionando os elementos sociais, culturais, econômicos e ambientais. Finalmente, a utilização da metodologia dos sistemas agrários em pesquisas geográficas permite caracterizar a agricultura na sua organização espacial, com vistas ao planejamento, no contexto das políticas públicas voltadas para o rural. Palavras- chaves: Pensamento Sistêmico. Sistemas Agrários. Geografia Agrária. Planejamento Rural.

Introdução

Este artigo tem como objetivo resgatar as contribuições de cunho teórico-metodológico

em torno dos estudos sobre a teoria sistêmica e trazer uma proposta para a elaboração de

diagnósticos socioeconômicos e ambientais, em diferentes escalas de análise. A

evolução do pensamento científico levou ao aprofundamento das especializações,

fazendo com que as áreas disciplinares abarcassem algumas subdivisões e temas

específicos sobre os diferentes fenômenos da realidade.

Assim, os pesquisadores deixaram de estabelecer ligações entre as áreas do

conhecimento, o que em um período posterior, levou a um consenso de que a ciência

poderia estar em crise por não apresentar uma leitura multi, inter e transdisciplinar do

mundo.

Na ciência geográfica, pode-se dizer que vários caminhos emergiram como possíveis

soluções para a crise epistemológica, e um deles foi à adesão de alguns geógrafos a

2

abordagem sistêmica. Esta abordagem propunha uma análise a partir do todo e uma

interrelação dos elementos que constituem a sua totalidade.

Este artigo propõe um modelo analítico para estudos relacionados à Geografia Agrária,

ancorado em uma perspectiva sistêmica. Em relação a contribuições para a utilização da

metodologia sistêmica são utilizados autores como Diniz (1984), Christofoletti (1979 e

1999), Ferreira (2002), Silva Neto e Basso (2005) e Alves e Silveira (2008). E, autores

como Guidugli (1980), Lima et al (1995) e Dufumier (2007) como contribuição para a

elaboração da proposta do diagnóstico socioeconômico e ambiental.

Propor uma metodologia relacionada ao pensamento sistêmico serve para articular

idéias/teorias e práticas/técnicas que nortearão futuras pesquisas. Assim, esta deve ser

construída de tal modo que se possam explicar todos os elementos selecionados,

observados e interpretados. A partir disso, se propõe um referencial teórico

metodológico para estudo dos sistemas agrários, aplicados a elaboração de diagnóstico

socioeconômico e ambiental.

O modelo analítico básico orientará a apreensão da realidade concreta, partindo de uma

visão integrada dos elementos como análise de mapas físicos e de elementos humanos,

o qual inclui a seleção, sistematização, processamento a análise de dados e informações

primárias e secundárias.

A proposta está dividida em três momentos. No primeiro, é explicado com mais

profundidade as diferentes contextualizações do paradigma dominante da ciência, para

que se entenda a segunda parte do trabalho, que é a inserção da abordagem sistêmica

nos estudos geográficos. No terceiro e último momento, direciona-se para a análise

geográfica dos sistemas, com vistas à apresentação da proposta metodológica para

análise de sistemas agrários em diagnóstico socioeconômico e ambiental.

Contextualização histórica sobre a teoria sistêmica

A noção de universo orgânico, vivo e espiritual, que os pesquisadores tinham nos

séculos XVI e XVII, foi substituída pela noção do mundo como uma máquina e tornou-

se a metáfora dominante na sociedade moderna. Essas importantes transformações no

pensamento científico são consequências da Revolução Científica, associada às novas

descobertas em astronomia, física e matemática.

Ao analisarmos o quadro 1, percebe-se que a teoria sistêmica tem suas origens na física

quântica, pois a partir da mudança na visão de mundo, o paradigma científico passou da

3

concepção linear-mecanicista de Descartes, Galileu e Newton para uma visão holística e

ecológica. As primeiras características do pensamento sistêmico surgem na década de

20 do século passado e seus precursores foram biólogos, que tinham a concepção dos

organismos vivos como uma totalidade integrada, dessa forma, a ideia central do novo

paradigma referia-se à natureza da vida.

A abordagem sistêmica foi preconizada por Ludwig Von Bertalanffy e R. Defay por

volta dos anos de 1930, com aplicações na biologia e na termodinâmica. Estes autores

são considerados os “pais” da teoria dos sistemas, apesar de existirem, anteriormente a

eles, os trabalhos de Bogdanov e Leduc, que praticamente não são citados ou lembrados

(CAPRA, 1996).

Quadro 1. Sistematização das principais correntes do pensamento científico

Período Principal Pensador

Pensamento Características teórico- metodológicas

Século XVI

Rene Descartes

Analítico Concepção da natureza na divisão da mente e o da matéria, dois domínios independentes e separados, que consiste em analisar qualquer fenômeno complexo em etapas, para compreender o comportamento do todo a partir do estudo de suas partes.

Século XVII

Newton Cartesiano mecanicista

Fragmentação do pensamento e a uma atitude generalizada de reducionismo na ciência, assim, os modelos mecânicos simplistas de organismos vivos foram gradativamente desaparecendo, porém, a essência da ideia cartesiana mecanicista se manteve

Kant Romântico Preocupados com um entendimento qualitativo de padrões e enfatizavam as explicações das propriedades básicas da vida

Século XIX

Evolucionista Todas as propriedades e funções dos organismos vivos seriam explicados em torno das leis da física e da química, assim, o organismo definitivamente deixa de ser visto com um todo.

4

Biologia organística

Se opõe a redução da biologia ligada a física e à química. Aprimoraram muitas das ideias desenvolvidas por Aristóteles, Kant e Cuvier. Algumas das principais características do pensamento sistêmico surgiram das reflexões desta escola

Século XX Paul Weiss Sistêmico Defendeu o conceito que “em todo o sistema complexo o comportamento do todo pode ser entendido inteiramente a partir das propriedades de suas partes”

Fonte: Organizada pelas autoras, 2012.

Diante da necessidade de reorientar a ciência, em décadas passadas, os termos sistema e

pensamento sistêmico foram utilizados por diversos cientistas de diferentes áreas do

conhecimento. As ideias apresentadas por Bertalanffy, de uma Teoria Geral dos

Sistemas, mostraram que o pensamento sistêmico era uma nova forma de pensar

comprovando que seus conceitos e princípios poderiam ser aplicados em diferentes

campos de estudos, explicou ele, “a teoria geral dos sistemas deveria ser um meio

importante para controlar e estimular a transparência de princípios de um campo para

outro”. (BERTALANFFY, 2008, p.151)

Os primeiros enunciados da teoria sistêmica datam de 1925-1926, porém seus estudos

concentraram-se entre os anos 1950 e 1968, essa concepção foi reforçada e utilizada no

pós II Guerra Mundial, onde as equipes de técnicos das diversas áreas do conhecimento,

que trabalhavam nos processos de reconstrução, passaram a atuar de forma

interdisciplinar. Porém, a teoria dos sistemas não surgiu por causa dos esforços feitos

para a guerra, mas sim pelos

esforços que já haviam sido feitos antes.

Com este novo conceito, Bertalanffy (2008) propunha uma “episteme” complexa, mas

buscava uma linguagem científica única, capaz de englobar todos os campos do

conhecimento. Para uma melhor compreensão desta abordagem e da abordagem não-

sistêmica de análise, a Figura 1 e a Figura 2 apresentam as suas principais

características.

5

Figura 1– Abordagem não-sistêmica de análise

Fonte: ALVES E SILVEIRA, 2008, p. 127 Figura 2 – Abordagem sistêmica ou enfoque sistêmico de análise.

Fonte: ALVES E SILVEIRA, 2008, p. 129.

Na figura 1, pode-se observar que os campos de conhecimento estão separados, assim, é

perceptível entender que : a) os elementos representados estão isolados; b) os elementos

não estão integrados; c) a análise realizada nas partes é de forma analítica, e d) a

unidade de análise é homogênea.

Por outro lado, na figura 2, Alves e Silva (2008) mostram a organização do pensamento

científico com a inserção do enfoque sistêmico, contendo as seguintes características: a)

os elementos são analisados a partir do todo; b) os elementos estão em constante

transformação; c) as unidades de análise são heterogêneas, existindo subsistemas em

cada unidade; d) inter-relações entre os elementos, direta ou indiretamente, e) noção de

unidade, multiplicidade, totalidade, diversidade, organização e complexidade.

Essa nova maneira de pensar não surge com o intuito de destituir tudo o que existia a

respeito de métodos de investigação da ciência, mas para buscar uma melhor

compreensão da realidade. A Teoria Geral dos Sistemas emergiu como uma ferramenta

6

adequada para lidar com a complexidade dos fenômenos (naturais e sociais) e com as

ideias comuns às diversas áreas do conhecimento.

Nesse contexto, ocorre a modificação na forma de pensar o mundo, ou seja, alargando a

visão do todo, no entanto, a sociedade precisava entender as conexões existentes entre

os elementos e os fatores, ocorrendo uma integração entre as partes. A análise sistêmica

baseia-se no processo de organização e não no número de elementos, não sendo uma

simples soma das partes.

Ao formular uma nova teoria sobre “sistemas abertos”, Bertalanffy (2008) afirmava que

todos os organismos vivos eram essencialmente um sistema aberto e que sofrem

interações com o ambiente onde estão inseridos. Buscava, assim, uma linguagem

científica única, capaz de englobar todos os campos do conhecimento. Conforme

explica: Seu objetivo é a formulação de princípios válidos para os “sistemas” em geral, qualquer que seja a natureza dos elementos que os compõem e as relações existentes entre eles. A Teoria Geral dos Sistemas, portanto, é uma ciência da “totalidade”, que até agora era considerado um conceito vago, nebuloso e semimetafísico. (BERTALANFFY, 2008, p. 62)

Bertalanffy (2008) relaciona alguns motivos que o levaram a formular a Teoria Geral

dos Sistemas, a saber: a) necessidade de generalização dos conceitos científicos e

modelos; b) introdução de novas categorias no pensamento e na pesquisa científicas; c)

os problemas da complexidade organizada, que são agora notados na ciência, exigem

novos instrumentos conceituais; d) pelo fato de não existirem instrumentos conceituais

apropriados que sirvam para a explicação e a previsão na biologia; e) introdução de

novos modelos conceituais na ciência; f) interdisciplinaridade: a qual resulta do

isomorfismo dos modelos, dos princípios gerais e mesmo das leis especiais que

aparecem em vários campos.

A abordagem sistêmica só veio a se consolidar e expandir sua aplicação no final do

século XX. Porém, ainda encontra certa resistência e críticas (principalmente nas

ciências ditas sociais) como é o caso da ciência geográfica.

Abordagem Sistêmica Aplicada aos Estudos Geográficos

Na ciência geográfica, a abordagem sistêmica dinamizou o desenvolvimento da

chamada “Nova Geografia ou Teorético Quantitativa”, servindo para uma melhor

focalização das suas pesquisas e para delinear com maior exatidão os seus estudos,

7

permitindo também reconsiderações de seus conceitos e uma revitalização de várias

subáreas, com destaque para a Geografia Física. (CHRISTOFOLETTI, 1979)

O surgimento de novas perspectivas para os estudos geográficos está relacionado às

transformações provocadas pela Segunda Guerra Mundial nos segmentos científico,

tecnológico, social e econômico das áreas atingidas direta e indiretamente pela guerra.

Este conjunto de transformações, abrangendo o aspecto filosófico e metodológico, foi

denominado de "revolução quantitativa e teorética da Geografia" e iniciou nos Estados

Unidos, Suécia, Reino Unido e depois se difundindo no mundo todo. Christofoletti

(1979) explica essa denominação:

A primeira expressa à aplicação intensiva das técnicas estatísticas e matemáticas nas análises geográficas e o processo quantitativo pode ser considerado características básicas da Nova Geografia. A segunda salienta os aspectos teórico e metodológico, subentendendo como imprescindível toda a analise quantificativa e engloba os processos de abstração necessários às etapas da metodologia científica e da explicação. (CHRISTOFOLETTI, 1979, p. 71).

A utilização dos princípios e critérios da metodologia científica baseada no positivismo

lógico, visava integrar a ciência geográfica sob os mesmos procedimentos

metodológicos da ciência em geral. Essa revolução dava surgimento às preocupações e

abordagens nomotéticas, e foi ao mesmo tempo, filosófica, conceitual e metodológica.

Paviani (1979) diz que “essa abordagem emergiu da insatisfação de tratar fatos únicos

(velhos paradigmas), de ‘fenômenos’ e localizações sem preocupação em procurar

padrões, teorias, leis ou generalizações.” (PAVIANI, 1979, p. 84).

O pensamento sistêmico foi, então, incorporado pela Nova Geografia, para ser utilizado

como instrumento conceitual que facilita tratar dos conjuntos complexos, como a

organização espacial. A preocupação em focalizar as questões geográficas, sob a

perspectiva sistêmica, representou a principal característica que favoreceu e dinamizou

o desenvolvimento da Nova Geografia, no entanto, a aplicação da teoria dos sistemas

aos estudos geográficos serviu para definir o objeto de estudo desta ciência, além de

propiciar oportunidade para considerações críticas de muitos dos seus conceitos.

A utilização da abordagem sistêmica nas análises geográficas tornou-se um instrumento

conceitual satisfatório. Nessa perspectiva, Reis Junior (1999) apresenta uma

justificativa, elaborada por Christofoletti, dedicada à teoria sistêmica:

8

[...] a novidade reside na maneira de abordagem, na concepção teórica envolvida e na linguagem utilizada. A abordagem reside na análise sistêmica, a teoria implícita é a do equilíbrio dinâmico e a linguagem, como é óbvio, emprega o vocábulo específico de tais concepções. Ela realiza aquilo que sempre se procurou fazer, mas cujas deficiências técnicas e teóricas não permitiam. (CHRISTOFOLETT apud REIS JUNIOR, 1999, p.11).

No mesmo sentido, Christofoletti (1984) apresenta três distintos momentos da aplicação

da teoria geral dos sistemas na Geografia: a) fase introdutória: assinalou as vantagens e

assegurou que a abordagem sistêmica era a metodologia mais apropriada para uma

Geografia científica; b) fase produtiva: procurou identificar as propriedades sistêmicas

dos objetos e eventos do mundo real e utilizar tais propriedades na formulação e solução

de problemas de pesquisa e c) fase da utilização: surgimento de livros e cursos que

difundem os conceitos fundamentais da análise de sistemas.

A aplicação da teoria geral dos sistemas favoreceu as pesquisas em Geografia, as

primeiras pesquisas realizadas com essa abordagem foram feitas por geógrafos físicos,

com destaque aos estudos ligados a geomorfologia. Foi introduzida por Strahler, em

1950, onde o autor trabalhou com sistemas de drenagem, considerando-o como um

sistema aberto. Após Strahler figuram também Culling (1957), Hack (1960), Chorley

(1962), Howard (1965), Chorley e Kennedy (1971), trabalhos estes voltados para a área

de Geomorfologia, sendo que o último, figura como a contribuição de maior interesse

para a Geografia Física, a qual passa a pesquisar de modo integrado.

(CHRISTOFOLETTI, 1979).

Na subárea disciplinar da Geografia Agrária, o método sistêmico também foi

amplamente utilizado, principalmente entre os autores alinhados a Escola Teorético-

Quantitativa. Pensar o espaço rural, para a Geografia, promoveu o desenvolvimento de

várias técnicas e métodos de abordagem, entretanto, alcançou papel de destaque no

contexto contemporâneo ao impulsionar o desenvolvimento da geografia científica do

século XIX e início do século XX. As transformações que ocorreram na sociedade

proporcionaram a geografia uma aproximação com as outras ciências, que enfocavam

suas temáticas de maneiras distintas, porém, sempre atrelado aos movimentos de

transformação da sociedade. Ferreira (2002) que pesquisou sobre a produção em

Geografia Agrária até o início da década de 1990, explica:

A história do pensamento geográfico retratou o próprio surgimento dos campos de interesse, à medida que os novos paradigmas ou escolas tendiam a adequar-se às necessidades de interpretação impostas pelas transformações da sociedade. (FERREIRA, 2002, p.25).

9

Definir um conceito único de Geografia Agrária, para os pesquisadores da época, não

foi tarefa fácil, pois um dos entraves principais esteve no fato de a Geografia Agrária ter

como objetivo uma atividade estudada também por outras áreas do conhecimento.

Evidencia-se que o estudo da agricultura não é exclusivo do geógrafo agrário.

Inicialmente a Geografia Agrária era desenvolvida como parte da Geografia Econômica

e seu foco principal era os estudos na agricultura. A complexidade de relações que se

estabeleceram, a partir da década de 1950, levou a definição de novos campos e a

agricultura passou a ser um sistema econômico constituído por elementos e partes. Por

consequência, surgiram novos campos de conhecimento e por esse motivo foi

necessário à definição exata de cada campo de estudo.

Dentro da lógica de analisar a construção do conceito adequado de Geografia Agrária

cabe destacar as contribuições de autores clássicos como Orlando Valverde (1964), Max

Derruau (1977), Léo Waibel (1979) e Alexandre F. Diniz (1984). Em seus estudos,

Alves (2009) cita os trabalhos do pesquisador Valverde (1964) o qual se preocupava em

definir claramente quais seriam os caminhos a serem trilhados pela Geografia Agrária:

[...] não deve restringir-se a uma simples classificação de sistemas agrícolas. Deve ir além, e tratar de todos os elementos culturais que repercutem na paisagem agrícola. Não tentamos, pois, invadir os domínios da Geografia Humana strictu sensu. A dificuldade de demarcar os diversos ramos da Geografia resulta da própria unidade desta ciência. A Geografia Agrária é, em ultima análise, a interpretação dos vestígios que o homem do campo deixa na paisagem, na luta pela vida, quotidiana e silenciosa. (ALVES, 1964 apud VALVERDE, 2010 p. 170).

Nessa perspectiva, Derruau (1977) entende a Geografia Agrária como sendo

essencialmente sintética:

[...]Não perde de vista o conjunto agrário, aquilo que poderia designar por sistema agrário, quer dizer o enquadramento espacial (formas dos campos, divisão das propriedades) e temporal (sucessão de culturas ou permanência de uma dada cultura num mesmo campo) e suas relações com técnicas e práticas sociais (estrutura da propriedade, costumes e tradições das comunidades). (DERRUAU, 1977, p. 255).

Por outro lado, Waibel (1979) sistematiza a Geografia Agrária em três campos

(estatístico, ecológico e fisionômico) e classifica a Geografia Agrária como:

Denominação dada a uma disciplina preocupada com a diferenciação espacial da agricultura. Considerada como um fenômeno da paisagem, são vários os métodos e pontos de vista que advêm daí. Agricultura é um importante

10

fenômeno da superfície da terra e é sua atribuição tentar descrever a sua diferenciação espacial, procurando ao mesmo tempo esclarecer as forças atuantes. (WAIBEL, 1979, p.30)

E ,ainda, Diniz (1984) define a concepção de Geografia Agrária como:

A Geografia Agrária ou da Agricultura, sempre se preocupou com a caracterização dos lugares em função de atributos agrícolas. O seu caráter espacial está assentado há muito tempo e, embora as definições variem, todas coincidem neste ponto. [...] Deve-se deixar claro que a Geografia Agrária seja essencialmente espacial, não pode ser restringida apenas à distribuição de produtos e rebanhos. É claro que as variações espaciais são fundamentais para nós, mas também nos preocupamos com as unidades de produção e os resultados agrícolas, em suma, com sistemas mais complexos. (DINIZ, 1984, p. 30).

Então, a partir dos conceitos apresentados, acredita-se que o geógrafo agrário, deve

levar em conta, em seus estudos, os elementos naturais (solo, vegetação, geomorfologia

e sistema hídrico), as condições econômicas e sociais, associadas aos processos

histórico-culturais, as tradições agrícolas dos agricultores e as transformações que

ocorrem na paisagem rural. Com estes instrumentos básicos, o pesquisador poderá

iniciar a análise dos processos histórico-espaciais, para assim compreender a

organização atual do espaço agrário. Em resumo, o geógrafo agrário deve contar com

uma grande quantidade de informações, capaz de descrever a complexidade dos

fenômenos.

No Brasil, José Felizola Diniz é um dos geógrafos agrários que mais se destacam e que

adotaram esse método nos seus trabalhos, foi o primeiro a pensar a agricultura na forma

de sistemas para diagnosticar a realidade agrária e entender as dinâmicas presentes no

espaço agrário, através de tipologias sobre o Sistema da Agricultura.

Seu principal trabalho - Geografia da Agricultura- discute um momento específico que

marcou a mudança metodológica da Geografia Tradicional para a Geografia

Quantitativa. A partir disso, o conhecimento científico sobre a agricultura torna-se cada

vez mais importante. Entretanto, pensar o que é agricultura, é pensar longe a respeito do

seu funcionamento e, somado a isso, pensar nos campos interdisciplinares da ciência,

não só no campo geográfico, pressupõe ao geógrafo agrário contar com uma grande

quantidade de informações, capaz de descrever a complexidade dos fenômenos.

Segundo Diniz (1984):

A ciência geográfica tem muito a contribuir com os estudos da agricultura. Há muito tempo a geografia vem estudando a agricultura e hoje a análise

11

continua, com técnicas capazes de ajudar a responder às nossas exigências e complexas questões. (DINIZ, 1984, p.33).

A abordagem sistêmica permite uma explicação dos fenômenos da agricultura, em

termos das relações entre os elementos e do seu dinamismo. Silva Neto e Basso (2005)

definem o sistema agrário como:

Geograficamente, um sistema agrário não possui uma dimensão fixa, pois esta depende do grau de abrangência da análise efetuada, a qual, por sua vez, é definida pelos objetos específicos do estudo. Um sistema agrário é determinado a partir de um conjunto de critérios, ligados aos seus diferentes componentes ou subsistemas. (SILVA NETO E BASSO, 2005, p. 18).

A Figura 3 representa o sistema da agricultura, o qual é composto por uma divisão de

três subsistemas internos e quatro subsistemas externos.

Figura 3: Sistema da Agricultura: subsistemas internos e externos

Subsistemasocial

Subsistema político

Subsistema demográfico - cultural

Subsistema

econômico

Subsistema

ecológico

Subsistemafuncional

SubsistemaDe produção

Agricultura

Fonte: DINIZ, 1984, p. 58

Cabe explicar que o sistema da agricultura é composto por uma divisão de três

subsistemas internos da agricultura, onde: o subsistema social permite a caracterização

do produtor; o subsistema funcional engloba os elementos técnicos e o último,

subsistema de produção trata de caracterizar o output do sistema da agricultura. Em

torno disso estão quatro subsistemas externos: o econômico (o desenvolvimento dos

mercados e a busca da especialização conduzem as zonas rurais a uma dependência

cada vez maior dos centros urbanos, dos transportes, da infraestrutura industrial e do

capital), o ecológico (relatividade e rigor das condições naturais, a distribuição do

12

tempo de trabalho aplicado na elaboração de uma produção agrícola subordina-se a

ciclos biológicos e climáticos, e as condições naturais impõem limites geográficos às

diversas categorias de produção agrícola), o demográfico-cultural (englobam as

tradições e os padrões de cultura das populações agrícolas, e indicadores demográficos

puramente – taxa de masculinidade, composição etária, potencial migratório) e o

político (este tipo de atuação procura disciplinar e corrigir as distorções de certos

setores – política de controle e proteção dessa atividade), que fornecem as condições em

que se desenvolvem os tipos de agricultura. Este conjunto de subsistemas permite o

estabelecimento de relações entre os elementos da organização sócio-produtiva

existente no espaço agrário. (DINIZ, 1984).

A metodologia apresentada por Diniz (1984) não é a única na Geografia brasileira que

busca compreender as realidades agrárias. Atualmente, alguns autores retomaram a

abordagem sistêmica combinada com outros métodos de análise. Com a utilização desta

metodologia é possível caracterizar a agricultura na sua organização sócioespacial, com

vistas ao planejamento rural.

O estudo dos sistemas agrários na elaboração de diagnósticos e as relações com o planejamento rural Na Geografia a valorização do tempo e do espaço é fundamental para qualquer estudo,

pois os geógrafos tratam com objetos em movimento, em processo e com suas

mudanças. A partir disso, a utilização da metodologia dos sistemas agrários, em

pesquisas geográficas, permite caracterizar a agricultura na sua organização

sócioespacial, com vistas ao planejamento rural.

Nessa perspectiva a inserção da abordagem sistêmica nos estudos geográficos foi de

grande importância para alguns geógrafos que a incorporaram em suas pesquisas. Esta

propunha uma análise a partir do todo e a interrelação dos elementos que constituem

essa totalidade. Assim, os geógrafos agrários optam pela abordagem sistêmica como

sendo a metodologia mais adequada para estudos da problemática agrária. De acordo

com Silva Neto e Basso (2005)

Entende-se que a abordagem em termos de sistemas agrários é adequada na medida em que: (a) leva em consideração a dinâmica histórica que tornou efetivos os sistemas praticados e (b) permite visualizar as potencialidades e os limites de cada tipo de sistema em função do valor agregado que gera e da modalidade de sua apropriação por parte dos agentes sociais envolvidos ao longo do processo de produção. (SILVA NETO; BASSO, 2005, p.111).

13

Pesquisar a respeito da abordagem sistêmica significa responder as indagações

prementes em um dado momento e é em busca dessas respostas que a ciência geográfica

se desenvolve. Entretanto, para que se possa entender ou redefinir a realidade de hoje é

necessário considerar como ela se configurou em tempos passados. A metodologia dos

sistemas agrários permite uma melhor explicação do fenômeno agrícola, em termos das

relações entre os elementos e do seu dinamismo.

O sistema agrário é um instrumento intelectual que permite apreender a complexidade

de cada forma de agricultura e de perceber, em grandes linhas, as transformações

históricas e a diferenciação geográfica das agriculturas humanas. (MAZOYER, 2010)

Por outro lado, quanto ao planejamento, embora haja inúmeras definições, entende-se

que se trata da formulação sistemática de um conjunto de decisões, portanto, é um

processo dinâmico. Planejar é uma ação humana, ou seja, um pensamento que têm em

vista o futuro é pensar de forma interdisciplinar onde muitos podem contribuir.

Geografia agrária e planejamento rural possuem uma relação e ambas preocupam-se

com o uso do espaço e com sua classificação além da preocupação com os processos

sociais e produtivos. Somente como uma visão integrada dos elementos de pesquisa é

que o investigador terá caminhos que o conduzam à uma prática e significativa solução

dos problemas humanos.

O planejamento rural deve iniciar com uma breve leitura do território rural, observando

suas particularidades, necessidades e funções, por exemplo, a forma de usar e ocupar o

solo. Nesta perspectiva, é proposta uma metodologia sistêmica que abarque desde

questões socioculturais, econômicas e ambientais.

O diagnóstico de sistemas agrários é uma ferramenta que auxilia na coleta de

informações, sistematização e análise dos resultados de pesquisas de campo e de

pesquisas documentais, seu principal objetivo é a elaboração de estratégias de

desenvolvimento tendo como foco principal o planejamento rural. Este deve dar conta

da complexidade e caracterizar a realidade agrícola. Dufumier (2007) completa

explicando que:

A análise-diagnóstico das realidades agrárias tem por objetivo principal identificar e classificar hierarquicamente os elementos de toda natureza (agroecológicos, técnicos, socioeconômicos...) que mais condicionam a evolução dos sistemas de produção e compreender como eles interferem concretamente nas transformações da agricultura. (DUFUMIER, 2007, p.58).

14

A utilização de diagnósticos dos sistemas agrários permite compreender o contexto

local, dos pontos de vista ambiental, econômico e social e identificar as características

dos grupos sociais e do meio natural no qual estão inseridas. Concretamente um

diagnóstico de sistemas agrários deve permitir: a) fazer um levantamento das

características socioeconômicas e ambientais da área a ser pesquisada; b) identificar e

caracterizar os principais sistemas de produção adotados pelos agricultores, as suas

práticas sociais, técnicas e econômicas e os seus principais problemas; c) identificar e

explicar os principais elementos - ecológicos, sociais, técnicos, culturais, econômicos,

políticos, que combinados representam a realidade do recorte territorial em questão e, d)

sugerir políticas, programas e projetos de desenvolvimento.

Além disso, o diagnóstico deve ser rápido e operacional, para que tenha aplicabilidade

no planejamento rural. Mas deve ter rigor científico, não apenas descrevendo a

realidade, mas, sobretudo, explicando-a.

O importante é prever futuras transformações nas realidades rurais, e a elaboração do

diagnóstico é capaz de esclarecer as perspectivas para o futuro. O diagnóstico não deve

apenas basear-se em dados estatísticos, é necessário, principalmente, observar as

diferenças manifestadas diretamente pela realidade, bem como, explicar as causas mais

relevantes. Pode-se ainda, recorrer a elaboração de classificações e tipificações,

tentando destacar os fatores de diferenciação entre os agricultores e/ou as suas

agriculturas.

O modelo analítico, elaborado com base na abordagem sistêmica, permite avaliar as

relações entre as características socioeconômicas e ambientais. A figura 4 apresenta a

esquematização do modelo analítico básico que orienta a apreensão da realidade

concreta, a partir de uma visão integrada dos elementos, como análise de mapas físicos

e de características humanas, o qual inclui a seleção, sistematização, processamento a

análise de dados e informações primárias e secundárias.

Assim, trata-se de elaborar uma caracterização dos agricultores, a partir da combinação

do combinação do Sistema Ambiental (análise de mapas físicos e sistema hídrico), e

Sistema Socioeconômico (sistema da agricultura e sistema histórico-cultural). Somando

a isso, aproprio-me das ideias expostas por Fernandes e Salamoni (2011) ao explicarem

sobre a futura coleta de dados:

[...] podem ser utilizadas para a coleta de dados e informações primárias, entrevistas baseadas em roteiros estruturados e semiestruturados, levantamento fotográfico, georreferenciamento dos dados físicos e diário de

15

campo. Ainda, os dados e informações secundárias poderão ser obtidos sobrepondo cartas topográficas, mapas temáticos de mesma escala (solos, geomorfológico, vegetação, entre outros). (FERNANDES; SALAMONI, 2011, p.11).

Figura 4: Modelo analítico para Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental

Fonte: Desenvolvido pelas autoras, 2012.

No sistema ambiental será feito uma sistematização e análise através de mapas físicos

de mesma escala, o objetivo é fazer rapidamente uma sobreposição de mapas, onde

pode ser possível identificar as limitações e potencialidades das diversas formas e

práticas de utilização do solo e exploração da natureza. Além disso, será analisado o

subsistema hídrico, ou seja, a utilização da água, no uso doméstico e no uso agrícola,

para assim caracterizar a maneira que este recurso é utilizado no espaço rural. Ao passo

que a água é um bem tão importante, ela também pode se tornar perigosa à medida que

as ações do homem alterem suas características naturais.

Nos últimos séculos, o homem passou a utilizar os recursos ambientais de uma forma

indiscriminada, apenas visando atender questões relacionadas aos interesses do modelo

de produção vigente, em busca de obtenção do lucro capitalista, onde a produção de

mercadorias não respeita nem tem a mínima preocupação com a disponibilidade de bens

naturais e com a capacidade de regeneração dos mesmos, tornando a pressão antrópica

sobre os recursos naturais insustentável.

16

Aliada à caracterização do Sistema Ambiental, no Sistema Socioeconômico prioriza-se

o sistema da agricultura, o qual serve para uma compreensão sistêmica das diferentes

realidades agrárias.

A metodologia proposta busca atingir um grau de explicação da realidade, a qual resulta

da interação humana, que utiliza e organiza os elementos naturais, com os

condicionantes da natureza para atingir determinados objetivos. Assim, a compreensão

das formações dos sistemas agrários e a compreensão das formações geofísicas originais

são, no entanto, indispensáveis para melhor entender a organização socioespacial da

agricultura em diferentes escalas. (SILVA NETO e BASSO, 2005)

Para se estudar e analisar os sistemas torna-se necessário delimitar as “fronteiras” do

que é definido como um sistema nesta pesquisa. Considera-se que a propriedade rural

pode ser entendida como um sistema básico de análise, entretanto, diverso e dotado de

relações/interações, endógenas e exógenas, onde o produtor, sua unidade de produção e

sua família constituem as partes centrais da investigação. Valendo-se de racionalidades

socioeconômicas distintas, os produtores fazem escolhas diferentes no que se refere ao

trabalho, a organização produtiva, as práticas agrícolas e as técnicas utilizadas.

Por fim, cabe ressaltar, a importância de se considerar nesse referencial teoórico-

metodológico um conceito amplo de sistema agrário, que engloba tanto o patrimônio

natural (paisagens), quanto o patrimônio cultural (memória) das áreas de estudo.

Considerações Finais Finalizando, ressalta-se que a abordagem sistêmica e integrada das relações entre o

sistema socioeconômico e ambiental permite entender a organização do espaço e, a

partir daí, elaborar diagnósticos/porgnósticos que possam subsidiar ações voltadas ao

planejamento rural visando o desenvolvimento.

Considera-se, ainda, que o pensamento sistêmico pela sua importância e contribuição

nos estudos da ciência geográfica, possibilita uma compreensão das diferentes

realidades agrárias. As contribuições desta abordagem trouxeram uma nova maneira de

observar o todo e permite que o pesquisador defina os principais elementos e variáveis a

serem estudadas de acordo com os objetivos pretendidos na pesquisa. Ressalta-se que o

pensamento sistêmico surgiu como um método adequado para relacionar diversas

temáticas e várias áreas do conhecimento, valorizando as relações que as ciências

possuem. Para tanto, pode-se começar a investigação por algumas questões

17

consideradas como parte dos elementos internos do sistema da agricultura: “quem é o

produtor rural?”; “como é produzido?”; e “quanto, o que, para quem é produzido?”. Não

se deve esquecer que, em torno dessas questões, existem elementos, que fornecem

condições de desenvolvimento e reprodução da produção e do produtor rural (elementos

econômicos, ecológicos, demográfico-culturais e políticos).

Conclui-se, assim, que a metodologia sistêmica é um dos caminhos a ser seguido

assim como as demais metodologias existentes. A partir do esquema proposto, o modelo

analítico básico orienta a apreensão da realidade concreta, a partir de uma visão

integrada dos elementos como análise de mapas físicos e de elementos humanos, o qual

inclui a seleção, sistematização, processamento a análise de dados e informações

primárias e secundárias. A partir das concepções apresentadas, pode-se perceber que a

teoria sistêmica é entendida como um conjunto de elementos interrelacionados com um

objetivo comum, ou seja, todas as áreas do conhecimento possuem sistemas, assim

permitem ao pesquisador definir os elementos a serem estudados, de acordo com os

objetivos de pesquisa.

Referências ALVES, Flamarion Dutra e SILVEIRA, Vicente Celestino Pires. A metodologia sistêmica na Geografia Agrária: um estudo sobre a territorialização dos assentamentos rurais. Sociedade & Natureza. Uberlândia-MG,vol.1,n.20, p. 125-137, jun, 2008. ALVES, Flamarion Dutra. Mudanças teórico-metodológicas da geografia agrária brasileira: a produção em periódicos científicos de 1939 – 2009. 2010. 350p. Tese (Doutorado em Geografia), Instituto de Geociências e Ciências Exatas, UNESP, Rio Claro, 2010. ARGENTO, Mauro Sérgio F. Abordagem sistêmica aplicada à planície Deltaica do Paraíba do Sul. Geografia. V. 9, n. 17-18, p.115-131, Rio Claro, SP. 1984. BERTALANFFY, Ludwig von. Teoria Geral dos Sistemas. Tradução de Francisco M. Guimarães. Petrópolis: Vozes, 2008. CAPRA, Fritjof. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996. CHRISTOFOLETTI, Antonio. Análise de Sistemas em Geografia. São Paulo: Hucitec, 1979. ______. Perspectivas em geografia. São Paulo: DIFEL, 1982. ______. Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo: Editora Edgar Blüncher Ltda., 1999.

18

______.O espaço Geográfico. Geografia. V.4, N. 7, p.94-99, Rio Claro, SP. 1979. ______. Abordagem Contextual em Geografia. Boletim de Geografia Teorética. v. 12 n. 23/24,p.77-81, Rio Claro – SP, 1982. DEMO, Pedro. Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1981. DERRUAU, Max. Geografia Humana. São Paulo: Editora: Presença, 1977. (v.I) DINIZ, José Alexandre Felizola. Geografia da Agricultura. São Paulo: DIFEL, 1984. DUFUMIER, Marc. Projeto de desenvolvimento agrícola: manual para especialistas. Salvador: EDUFBA, 2007. p.57-115. ETGES, Virgínia Elisabeta. Geografia Agrária: a contribuição de Leo Waibel. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2000. FERREIRA, Darlene Aparecida de Oliveira. Mundo Rural e Geografia. Geografia agrária no Brasil: 1930-1990. São Paulo: Editora UNESP, 2002. FERNANDES, Sibeli e SALAMONI, Giancarla. Proposta metodológica para análise de sistemas agrários aplicada na elaboração de diagnósticos socioambientais. In: SIMPÓSIO NACIONAL O RURAL E O URBANO, 3, 2011, Porto Alegre, Anais do 3º Sinarub. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2011. p.1-15. GUANZIROLI, Carlos E. et al. Agricultura familiar e reforma agrária no século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. GUIDUGLI, Odeibler Santo. Geografia e planejamento problemas e perspectivas de uma interface. Boletim de Geografia. v 5, n. 9/10, Rio Claro, SP, 1980. INCRA/FAO. Análise e Diagnóstico de Sistemas agrários – Guia metodológico. Brasília: INCRA/FAO, s.d. LIMBERGER, Leila. Abordagem Sistêmica e Complexidade na Geografia. Geografia, Londrina, n.15, vol. 2, jul./dez. 2006. LIMA, Arlindo Jesus Prestes de. Et al. Administração da unidade de produção familiar: modalidades de trabalho com agricultores. Ijuí: UNIJUÍ, 1995. MAZOYER, Marcel. História das agriculturas no mundo: do neolítico à crise contemporânea. Laurence Roudart; [tradução de Cláudia F. FalluBalduino Ferreira]. São Paulo: Editora UNESP; Brasília, DF: NEAD, 2010. MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. Geossistemas a história de uma procura. São Paulo: Contexto, 2000. PAVIANI, Aldo. Método Científico e Análise Geográfica. Geografia. n 7,vol 4, p.83-87,Rio Claro, SP. 1979.

19

REIS JUNIOR, Dante Flávio da Costa. História de um pensamento geográfico: Georges Bertrand. Geografia. n 2, vol 32, p.363-390,Rio Claro – SP. 2007. ______. Pensamento Geossistêmico oriental (Voz e Reverberação).Geografia. n 3, Vol. 32, p.555-569, Rio Claro – SP. 2007. ______.Valores e Circunstâncias do Pensamento Geográfico Brasileiro: A Geografia Teorética Transitiva de Antonio Christofoletti. Geografia. v.34. n.1, p.5-32, Rio Claro – SP, 2009. SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21 ed. São Paulo: Cortez, 2000. SILVA NETO, Benedito; BASSO, David. Sistemas Agrários do Rio Grande do Sul: uma análise e recomendações de políticas. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005. WAIBEL, Leo. Capítulos de Geografia Tropical e do Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1979.