prolapso genital femina

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REVISÃO Resumo O prolapso genital é condição comum. Ocorre por fraqueza ou defeitos nos órgãos pélvicos de suspensão, que são constituídos de ligamentos, e/ou aqueles de sustentação, constituídos por fáscias e músculos. Sua avaliação constitui uma etapa importante do exame ginecológico, devendo, sempre que possível, ser classificado o grau de prolapso por meio de métodos padronizados. Atualmente, a quantificação é realizada por meio do POP-Q, preconizada pela Sociedade Internacional de Continência (ICS). Embora não seja uma afecção fatal, pode determinar sequelas importantes para a saúde da mulher, comprometendo sua qualidade de vida. Seu diagnostico precoce previne o estágio final da doença. O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico, dependendo do grau do prolapso, idade e estado clínico da paciente. Abstract The pelvic prolapse is a common condition. It’s occurs because of weakness or defects in the suspension pelvic organs – consisting of ligaments, and/or those of support, which consist of fascias and muscles. It’s assessment is an important phase of the gynecological exam and, whenever possible, the degree of prolapse should be identified by means of standard methods. Currently the measurement is performed using POP-Q, as recommended by the International Continence Society (ICS). Although the disease is not considered fatal, it can determine serious sequela for women’s health, affecting their quality of life. It’s early diagnosis prevents the final stage of the disease. Treatment can be conservative or surgical depending on the degree of prolapse, and the patient age and medical condition. Maria Inês de Miranda Lima 1 Claudia Teixeira da Costa Lodi 2 Adriana de Almeida Lucena 3 Mirian Viviane Maciel Barros Guimarães 3 Helena Rabelo Castro Meira 4 Luiza de Miranda Lima 5 Saulo Augusto de Lima 6 Palavras-chave Prolapso genital Prolapso uterino Distopias Keywords Uterine prolapse Genital prolapse Dystopias 1 Doutora em Ginecologia pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Membro da Pós-graduação da Santa Casa de Belo Horizonte; Chefe da Clínica Ginecológica I da Santa Casa de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil. 2 Mestre em Ginecologia pela Faculdade de Medicina da UFMG – Belo Horizonte (MG), Brasil; Professora Assistente em Ginecologia na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais – Belo Horizonte (MG), Brasil. 3 Mestre em Ginecologia pela Faculdade de Medicina da UFMG − Belo Horizonte (MG), Brasil; Assistente da Santa Casa de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil. 4 Pós-graduanda da Faculdade de Medicina da UFMG − Belo Horizonte (MG), Brasil; Assistente da Santa Casa de Belo Horizonte − Belo Horizonte (MG), Brasil. 5 Médica Residente em Ginecologia e Obstetrícia da Santa Casa de Belo Horizonte − Belo Horizonte (MG), Brasil. 6 Acadêmico de Medicina da UFMG − Belo Horizonte (MG), Brasil. Endereço para correspondência: Maria Inês de Miranda Lima – Rua Manoel Teixeira Sales, 35 – Mangabeiras – CEP 30210-130 – Belo Horizonte (MG), Brasil – E-mail: [email protected] Prolapso genital Genital prolapse

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Prolapso genital

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  • REVISO

    Resumo O prolapso genital condio comum. Ocorre por fraqueza ou defeitos nos rgos plvicos de suspenso, que so constitudos de ligamentos, e/ou aqueles de sustentao, constitudos por

    fscias e msculos. Sua avaliao constitui uma etapa importante do exame ginecolgico, devendo, sempre que

    possvel, ser classificado o grau de prolapso por meio de mtodos padronizados. Atualmente, a quantificao

    realizada por meio do POP-Q, preconizada pela Sociedade Internacional de Continncia (ICS). Embora no

    seja uma afeco fatal, pode determinar sequelas importantes para a sade da mulher, comprometendo sua

    qualidade de vida. Seu diagnostico precoce previne o estgio final da doena. O tratamento pode ser conservador

    ou cirrgico, dependendo do grau do prolapso, idade e estado clnico da paciente.

    Abstract The pelvic prolapse is a common condition. Its occurs because of weakness or defects in the suspension pelvic organs consisting of ligaments, and/or those of support, which consist of

    fascias and muscles. Its assessment is an important phase of the gynecological exam and, whenever possible,

    the degree of prolapse should be identified by means of standard methods. Currently the measurement is

    performed using POP-Q, as recommended by the International Continence Society (ICS). Although the disease

    is not considered fatal, it can determine serious sequela for womens health, affecting their quality of life. Its

    early diagnosis prevents the final stage of the disease. Treatment can be conservative or surgical depending on

    the degree of prolapse, and the patient age and medical condition.

    Maria Ins de Miranda Lima1

    Claudia Teixeira da Costa Lodi2

    Adriana de Almeida Lucena3

    Mirian Viviane Maciel Barros Guimares3

    Helena Rabelo Castro Meira4

    Luiza de Miranda Lima5

    Saulo Augusto de Lima6

    Palavras-chaveProlapso genitalProlapso uterino

    Distopias

    KeywordsUterine prolapseGenital prolapse

    Dystopias

    1 Doutora em Ginecologia pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Membro da Ps-graduao da Santa Casa de Belo Horizonte; Chefe da Clnica Ginecolgica I da Santa Casa de Belo Horizonte Belo Horizonte (MG), Brasil.

    2 Mestre em Ginecologia pela Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte (MG), Brasil; Professora Assistente em Ginecologia na Faculdade de Cincias Mdicas de Minas Gerais Belo Horizonte (MG), Brasil.

    3 Mestre em Ginecologia pela Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte (MG), Brasil; Assistente da Santa Casa de Belo Horizonte Belo Horizonte (MG), Brasil.

    4 Ps-graduanda da Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte (MG), Brasil; Assistente da Santa Casa de Belo Horizonte Belo Horizonte (MG), Brasil.

    5 Mdica Residente em Ginecologia e Obstetrcia da Santa Casa de Belo Horizonte Belo Horizonte (MG), Brasil.6 Acadmico de Medicina da UFMG Belo Horizonte (MG), Brasil. Endereo para correspondncia: Maria Ins de Miranda Lima Rua Manoel Teixeira Sales, 35 Mangabeiras CEP 30210-130 Belo Horizonte

    (MG), Brasil E-mail: [email protected]

    Prolapso genitalGenital prolapse

  • Lima MIM, Lodi CTC, Lucena AA, Guimares MVMB, Meira HRC, Lima LM, Lima SA

    FEMINA | Maro/Abril 2012 | vol 40 | n 270

    Introduo

    O prolapso genital um problema de sade que afeta milhes

    de mulheres em todo o mundo. A Sociedade Internacional de

    Continncia (ICS) define prolapso genital com o desceno da pare-

    de vaginal anterior e/ou posterior, assim como do pice da vagina

    (tero ou cpula vaginal aps histerectomia)1 (B). A melhoria das

    condies de sade levou ao progressivo aumento da expectativa de

    vida e, com isso, ao aumento do nmero de pacientes com prolapso

    genital desejosas de tratamento que melhore sua qualidade de vida.

    difcil estimar a real incidncia do prolapso genital, podendo afetar

    intensamente a qualidade de vida das mulheres, causando impacto

    psicolgico, social e financeiro1 (B). As informaes epidemiolgicas

    dessa doena so difceis de serem obtidas, uma vez que muitas

    mulheres escondem o problema ou o aceitam como consequncia

    natural do envelhecimento ou dos partos vaginais2 (A). A prevaln-

    cia estimada de 21,7% em mulheres de 1883 anos, chegando

    a 30% nas mulheres entre 50 e 89 anos. Aos 80 anos, 11,1% das

    mulheres tm ou tiveram indicao cirrgica para a correo do

    prolapso genital ou de incontinncia urinria2 (A).

    O prolapso considerado uma hrnia do contedo plvico e/ou

    intraperitoneal no canal vaginal e vrios fatores de risco para sua

    ocorrncia so sugeridos. A doena pode ser atribuda a uma com-

    binao de condies que varia de paciente para paciente1 (A).

    Mtodo

    Foram utilizados como base de dados o MEDLINE, LILACS

    e PubMed no perodo de 1980 a 2010. As palavras-chave para

    a pesquisa foram: prolapso genital, prolapso uterino e distopias.

    Realizou-se uma busca por artigos nacionais e internacionais

    (nos idiomas ingls, francs e espanhol) das melhores evidncias

    cientficas disponveis, as quais foram classificadas de acordo com

    seu nvel e grau de recomendao. Foram encontrados 530 artigos,

    dos quais selecionamos 94 para anlise, restando 27, que foram

    includos na presente reviso. A seleo inicial dos artigos foi rea-

    lizada com base no desenho dos estudos e, quando relacionados ao

    assunto, buscou-se o texto completo. Deu-se prioridade aos artigos

    mais recentes, pois expem aplicabilidades mais coerentes com

    a prtica atual, artigos com o maior nvel de evidncia, revises

    narrativas e consensos de sociedades mdicas.

    Discusso

    Fatores de risco

    O Quadro 1 resume os fatores predisponentes para prolapsos

    dos rgos plvicos. Pesquisadores concordam que o prolapso

    se origina de causas mltiplas e se desenvolve gradualmente

    ao longo dos anos. No entanto, a importncia relativa de cada

    fator desconhecida3 (A).

    Riscos relacionados obstetrciaMultiparidade

    Parto vaginal o fator de risco citado com maior frequncia.

    No existe consenso sobre o fato de a gestao ou o parto em si

    predisporem a disfuno do assoalho plvico. No entanto, vrios

    estudos mostram que o parto aumenta o risco de a mulher desen-

    volver prolapso. O risco aumenta 1,2% a cada parto vaginal. O

    estudo de Oxford, envolvendo 17 mil mulheres, demonstrou que

    as mulheres que tiveram 2 partos vaginais foram hospitalizadas

    para correo de prolapso 8 vezes mais que as nulparas2 (A).

    Outros riscos relacionados obstetrcia

    Vrias situaes esto envolvidas, como macrossomia fetal,

    segundo perodo do trabalho de parto prolongado, episiotomia,

    lacerao do esfncter anal, analgesia peridural, uso de frceps e

    estimulao do trabalho de parto com ocitocina. Cada um des-

    ses fatores necessita de estudos adicionais, porm no existem

    dvidas de que a soma cumulativa de todos esses eventos ao

    passar no canal de parto predispe ao prolapso.

    Atualmente, duas intervenes obsttricas no so defendidas

    devido falta de evidncia de benefcios: o frceps eletivo e a

    episiotomia. Pelo menos seis estudos randomizados controlados

    comparando episiotomia eletiva e seletiva no mostraram bene-

    fcio comprovado, mas uma associao com lacerao do esfncter

    anal, incontinncia anal e dor no ps-parto4 (A).

    Idade

    A idade avanada est implicada no desenvolvimento do prolap-

    so. No Pelvic Support Study (POSST) em mulheres de 2059 anos,

    1-Gestao

    2-Parto vaginal

    3-Menopausa

    Envelhecimento

    Hipoestrogenismo

    4-Presso abdominal cronicamente aumentada

    Doena pulmonar obstrutiva crnica (DPOC)

    Constipao

    Obesidade

    5-Traumatismo do assoalho plvico

    6-Fatores genticos

    Raa

    Distrbios do tecido conjuntivo

    7-Histerectomia

    8-Coluna vertebral bfida

    Quadro 1 - Fatores de risco associados a prolapso de rgo plvico

    thiagoRealce

    thiagoRealce

  • Prolapso genital

    FEMINA | Maro/Abril 2012 | vol 40 | n 2 71

    a incidncia de prolapso dobra a cada dcada. difcil separar os

    efeitos do hipoestrogenismo do processo do envelhecimento5 (A).

    Fatores genticosDoena do tecido conjuntivo

    Mulheres com distrbios do tecido conjuntivo podem ter

    maior probabilidade de desenvolver prolapso. Pacientes por-

    tadoras da sndrome de Marfan ou Ehlers-Danlos tm maior

    prevalncia de prolapso6 (B).

    Raa

    Diferenas raciais na prevalncia dos prolapsos foram de-

    monstradas em vrios estudos7 (B). Mulheres brancas e asiticas

    apresentam risco mais baixo que as hispnicas. Mulheres negras

    apresentam um arco pbico estreito e pelve androide ou antro-

    poide, mais frequentemente, e isso as protege do prolapso em

    comparao com as mulheres brancas, que apresentam princi-

    palmente pelve ginecoide.

    Aumento da presso intra-abdominal

    Acredita-se que a presso intra-abdominal cronicamente au-

    mentada tenha um papel importante na patognese do prolapso.

    Essa condio est presente na obesidade, constipao crnica,

    tosse crnica e no levantamento repetitivo de peso. Vrios estudos

    identificam a obesidade como fator de risco independente para

    incontinncia urinria8,9 (A, B).

    Classificao

    Os termos cistocele, retocele, uretrocistocele, prolapso uterino,

    retocele e enterocele so tradicionalmente usados para descrever

    a localizao da protruso. Esses termos podem ser imprecisos

    e no refletirem exatamente o rgo prolapsado, por exemplo,

    numa retocele pode-se deparar com um enterocele importante

    e a abordagem cirrgica difere10 (B).

    Apesar de esses termos estarem profundamente enraizados,

    clinicamente mais til descrever o prolapso como, por exemplo:

    prolapso da parede vaginal anterior, prolapso apical da parede

    vaginal, prolapso cervical, prolapso da parede vaginal posterior,

    prolapso perineal e prolapso retal10 (B).

    Em 1999, a ICS11 (A) prope uma nova classificao visando

    padronizar de forma mais reproduzvel e fiel os prolapsos genitais

    conforme descrita por Bump et al. em 199612 (A).

    O sistema proposto pela ICS contm uma srie de medidas

    e pontos especficos de suporte dos rgos plvicos da mulher.

    O prolapso de cada segmento avaliado de acordo com a sua

    posio em relao ao hmen, que um ponto anatmico fixo de

    fcil identificao. A partir desse ponto, as posies so descritas

    por seis pontos definidos e as medidas expressas em centmetros.

    Os valores positivos referem-se a posies abaixo ou distais ao

    hmen, os valores negativos acima ou proximais ao hmen, e se

    a localizao for ao nvel do hmen, denomina-se como zero.

    Os seis pontos so localizados originalmente com referncia

    ao plano himenal, sendo dois na parede anterior da vagina, dois

    na parte vaginal superior e dois na parede vaginal posterior

    (Figura 1).

    Outras medidas incluem o hiato genital, que a medida do

    ponto mdio do meato uretral at o ponto posterior da frcula

    vaginal e o corpo perineal, que a medida da margem posterior

    do hiato genital at a metade da abertura anal. O comprimento

    total da vagina a maior medida, se estende at o ponto mais alto

    da vagina, no fundo do saco posterior, quando h colo do tero

    e na cicatriz da cpula vaginal, quando este est ausente.

    Princpios estabelecidos: o examinador deve identificar o ponto

    de maior distopia pedindo a confirmao da paciente, com esforo

    (Valsalva), inclusive de p ou por meio de trao do ponto mximo

    de prolapso. Ponto fixo: o hmen passou a ser o ponto de referncia

    e o prolapso quantificado em centmetros a partir dele. Se acima do

    hmen, ser negativo (-1,-2 e -3 cm), e se abaixo, ser positivo (+1,

    +2 e +3 cm). Pontos de referncia: dois pontos na parede anterior,

    dois na superior e dois na posterior. Ponto Aa (ponto A da parede

    vaginal anterior): localizado a trs centmetros para dentro do hmen

    na linha mdia da parede anterior da vagina. Sua posio varia de

    -3 cm a +3 cm. Para sua determinao, coloca-se marcao (rgua)

    no ponto -3 cm em repouso e observa onde ele se localiza quando a

    paciente faz esforo. Ponto Ba (ponto B da parede vaginalanterior):

    representa o ponto de maior prolapso na parede vaginal anterior. Na

    ausncia de prolapso, ele se localiza em -3 cm, e se h prolapso total,

    ele equivale ao comprimento vaginal total. Para sua determinao

    Figura 1 - Desenho esquemtico dos pontos da classificao dos prolapsos genitais12.

  • Lima MIM, Lodi CTC, Lucena AA, Guimares MVMB, Meira HRC, Lima LM, Lima SA

    FEMINA | Maro/Abril 2012 | vol 40 | n 272

    utiliza-se espculo de Sims para afastar a parede vaginal posterior

    e pede-se para a paciente fazer esforo, sendo que o ponto que mais

    exteriorizou ser o ponto Ba. Ponto C: ponto mais distal do colo

    uterino ou da cpula vaginal ps-histerectomia. Para determinao

    de seu ponto passa-se espculo de Sims e localiza-se o colo, encosta-se

    a marcao (rgua) no colo e pede-se para a paciente fazer esforo.

    Dessa forma, determina-se at onde o colo vai em direo do hmen.

    Ponto D: localizado no frnice vaginal posterior, no nvel de inser-

    o dos ligamentos tero-sacro. Na ausncia do tero esse ponto

    omitido. Ao se determinar o frnice posterior, coloca-se a marcao

    e pede-se a paciente para que faa esforo e com isso encontra-se o

    ponto D. Ponto Ap: localizado na linha mdia da parede vaginal

    posterior, anlogo do ponto Aa. Ponto Bp: representa o ponto de

    maior prolapso da parede vaginal posterior, anlogo do ponto Ba.

    Comprimento vaginal total (CVT): medida da maior profundidade

    vaginal. Para ser calculado no precisa da realizao de esforo pela

    paciente. Hiato genital (HG): medida do meato uretral externo

    at a linha posterior do hmen ou frcula. Medida determinada

    em repouso. Corpo perineal (PB): medida da frcula at o centro

    do orifcio anal. Tambm no necessita de esforo da paciente para

    sua realizao.

    Estadiamento

    Utilizando o sistema de avaliao descrito acima, os estdios

    de prolapsos dos rgos plvicos so definidos pelas posies de

    cada ponto, esses pontos so colocados em um diagrama 3 x 3,

    e a paciente estadiada em graus I, II, III, IV. Cinco estdios de

    suporte de rgos plvicos podem ser definidos, como a seguir:

    Aps a determinao dos pontos, classifica-se os prolapsos em11 (A):

    Estdio 0: ausncia de prolapso. Os pontos Aa, Ap, Ba e

    Bp esto em -3 cm, e os pontos C e D esto entre o CVT e o

    CVT -2 cm.

    Estdio I: ponto de maior prolapso est localizado at 1 cm

    para dentro do hmen (-1 cm).

    Estdio II: o ponto de maior prolapso est localizado entre

    -1 cm e +1 cm (entre 1 cm acima e 1 cm abaixo do hmen).

    Estdio III: o ponto de maior prolapso est a mais de 1 cm

    para fora do hmen, porm sem ocorrer everso total.

    Estdio IV: everso total do rgo prolapsado. O ponto

    de maior prolapso fica, no mnimo, no comprimento vaginal

    menos 2 cm.

    Fisiopatologia

    O assoalho plvico formado por vrias estruturas que vo

    desde o peritnio parietal posterior at a pele da vulva. No

    sentido proximal para o distal temos: peritnio, fscia visceral

    e endoplvica, msculo elevador do nus, membrana perineal e

    musculatura da genitlia externa. O suporte dessas estruturas

    dado pela sua fixao aos ossos plvicos. As estruturas ligamentares

    do assoalho plvico em conjunto com os grupos musculares que

    vo dar sustentao e suporte aos rgos plvicos. Os msculos

    tm a funo de coordenar, contrair e relaxar a regio perineal. As

    fscias so responsveis pelo suporte atravs da sua ligao com

    msculos e ossos13 (D).

    Durante o esforo, as vsceras plvicas so empurradas para baixo.

    A sustentao, como dito anteriormente, feita pela musculatura

    e ligamentos flexveis e ntegros. Qualquer defeito no comparti-

    mento anterior ou posterior pode resultar em descida patolgica

    dos rgos plvicos assim como disfunes desse assoalho.

    O assoalho plvico no age como uma plataforma esttica e

    sim como um suporte dinmico que responde ao esforo exercido

    sobre ele. Trs principais mecanismos que contribuem para um

    suporte plvico normal so descritos:

    1) suporte derivado da fscia endoplvica que ancora tero e

    vagina parede plvica;

    2) suporte muscular derivado placa elevadora que tende a

    comprimir o lmen dos hiatos do assoalho plvico;

    3) mecanismo valvar exercido pela compresso feita pelas fscias

    e ligamentos, provocando horizontalizao da vagina contra

    a placa elevadora do assoalho plvico13 (D).

    Fundamentos anatmicos segundo a teoria integral

    Com os estudos anatmicos de DeLancey14 (A) e a publicao da

    teoria integral por Petros, em 199011 (A), o assoalho plvico ganha

    a dimenso de estrutura nica, onde a anatomia est intimamente

    relacionada funo. O fechamento e abertura da uretra e outras

    funes e disfunes dos rgos plvicos so resultantes de foras

    opostas entre as estruturas musculares, ligamentares e fasciais.

    Assim sendo, alteraes na tenso dos msculos, ligamentos e

    fscias do assoalho plvico seriam uma importante causa de in-

    continncia urinria, dificuldade miccional, constipao intestinal,

    incontinncia fecal e prolapsos de rgos plvicos.

    Os elementos msculo-fasciais e ligamentos do perneo

    feminino atuam de forma conjunta no mecanismo da mico,

    evacuao e continncia.

    Elementos musculares

    A musculatura do assoalho plvico pode ser classificada em

    trs componentes bsicos:

    Camada superior: com contrao em direo horizontal, com

    participao no mecanismo de continncia. composta pelo ms-

    culo pubococcgeo (contrao em direo anterior) e pelo plat do

    msculo elevador do nus (contrao em direo posterior).

  • Prolapso genital

    FEMINA | Maro/Abril 2012 | vol 40 | n 2 73

    Figura 2 - Suporte plvico (IS: squio; S: sacro; PS: snfise pbica; V: vagina; R: reto; U: uretra; PB: corpo perineal; Ut: tero; B: bexiga) Ligamentos (PUL: ligamento pubouretral; ATFP: arco tendneo da fscia plvica) Msculos (USL: ligamento tero-sacro; PCM: msculo pubococcgeo; LMA: msculo longitudinal do anus; PRM msculo puborretal; LP: placa elevadora fscias; RVF: fscia retovaginal; PM: Autorizado por Petros PP.

    Camada intermediria: com contrao no sentido caudal, respon-

    svel pelas angulaes do reto, vaginal e corpo vesical. O principal

    componente dessa camada o msculo longitudinal do nus.

    Camada inferior: com contrao horizontal e funo apenas de

    sustentao dos componentes mais externos do aparelho genital

    feminino, representado pelo diafragma urogenital3 (A).

    Ligamentos

    Ligamentos pubouretrais: tm sua origem na borda infe-

    rior do pbis, apresentando poro pr-pbica e retropbica.

    Inserem-se bilateralmente no arco tendneo da fscia plvica,

    ao nvel do tero uretral mdio.

    Ligamento uretroplvico: principal estrutura de suporte

    suburetral. Origina-se bilateralmente nos ligamentos pubou-

    retrais, no seu ponto de insero na fscia pubocervical, e se

    fundem na regio central. Atuam em conjunto com os liga-

    mentos pubouretrais.

    Ligamentos tero-sacro: origina-se bilateralmente na face

    anterior do sacro e insere-se na fscia pubocervical no pice

    vaginal, integrando o anel pericervical (Figura 2).

    A estrutura nica do assoalho plvico, proposta por Petros

    na teoria integral, funciona da seguinte forma: em repouso, h

    um equilbrio entre a tenso aplicada para a frente pelo ms-

    culo pubococcgeo e para baixo e, posteriormente, pela placa

    elevadora do nus pelo msculo longitudinal do nus; durante

    a mico h predomnio da fora realizada em direo posterior

    pela placa elevadora do nus e pelo msculo longitudinal do nus

    determinando abertura e afunilamento do colo vesical e reduo

    dos ligamentos sobre o tero uretral mdio11 (A).

    Manifestaes clnicas

    Sintomas so pouco comuns em mulheres com prolapsos

    iniciais (estdios I e II) e frequentemente no correlacionam-se

    com o nvel anatmico dos prolapsos. O quadro clnico envolve

    queixas urinrias, intestinais, sexuais e sintomas locais.

    Muitas mulheres com prolapso leve e moderado no apre-

    sentam incmodos. O agravamento do quadro imprevisvel,

    sendo assim, os benefcios do tratamento devem ser avaliados

    em relao aos riscos. A reabilitao dos msculos do assoalho

    plvico pode ser oferecida s pacientes que desejam impedir a

    progresso do prolapso15 (A).

    Alguns autores16 (B) verificaram que 36 a 80% dos casos de

    prolapsos estdios III e IV, apresentam incontinncia urinria de

    esforo, no entanto, a perda urinria pode ser demonstrada obje-

    tivamente somente aps a reduo do prolapso. Isso se justifica

    pelo efeito obstrutivo das estruturas prolapsadas sobre a uretra, no

    momento do esforo. Por isso, as mulheres candidatas a tratamento

    cirrgico dos prolapsos devem ser investigadas quanto a ocorrncia

    de incontinncia urinria na reduo dos prolapsos.

    Os prolapsos genitais podem afetar a funo miccional, em-

    bora um estudo revele que a maioria das mulheres com prolapsos

    severos ainda urina normalmente. Fitzgerald17 encontrou que

    exames pr-operatrios com reduo de prolapsos com pessrios

    foi o melhor preditor de normalizao do resduo ps-miccional

    aps tratamento cirrgico.

    Outros sintomas: alguns sintomas so claramente atribudos

    a alteraes locais, como presso ou sensao de peso vaginal, dor

    vaginal e perineal ou visualizao de protruso de tecido vaginal

    alm do hmen, podendo, ainda, ser notadas leses ulceradas no

    tecido prolapsado.

    As queixas sexuais esto relacionadas protruso de tecido

    vaginal, ou do prprio tero, podendo dificultar a penetrao, di-

    minuir a sensao vaginal e causar dor ou desconforto ao coito.

    Alteraes da funo intestinal, como constipao, dificuldade

    ou desconforto para evacuar, evacuao incompleta, necessidade de

    auxlio de manobras manuais para esvaziar o intestino, incontinn-

    cia de flato ou fecal, urgncia fecal, ocorrem principalmente nos

    prolapsos de parede posterior da vagina, retoceles e enteroceles.

    Quando o prolapso de longa durao pode surgir leso ul-

    cerada no colo, em geral, de origem traumtica, que facilmente

    sangra e se infecta, constituindo a lcera de decbito18 (D).

  • Lima MIM, Lodi CTC, Lucena AA, Guimares MVMB, Meira HRC, Lima LM, Lima SA

    FEMINA | Maro/Abril 2012 | vol 40 | n 274

    Abordagem do tratamento

    Para mulheres assintomticas ou levemente sintomticas, o

    tratamento expectante apropriado. Para as mulheres sintom-

    ticas o tratamento pode ser conservador ou cirrgico. A escolha

    do tratamento depende do tipo e gravidade dos sintomas, da

    idade e das comorbidades mdicas, do desejo de funo sexual

    futura e/ou fertilidade e dos fatores de risco para recorrncia. O

    tratamento deve ter como objetivo o alvio dos sintomas, mas

    os benefcios devem pesar mais que os riscos3 (A).

    Tratamento no cirrgicoFisioterapia

    Uma das primeiras descries da fisioterapia para restaurar

    a fora do assoalho plvico foi referida por Arnold Kegel19 (A)

    em um artigo de 1948. Estimulado por intensas investigaes e

    experincias com fora muscular, durante a Segunda Guerra Mun-

    dial, ele desenvolveu uma sequncia de exerccios para recuperar a

    musculatura plvica no perodo de ps-parto imediato, e, a partir

    da, ele especulou os benefcios desses exerccios para a preveno

    de prolapsos e obteno de melhores resultados cirrgicos.

    Ainda no existem estudos bem-desenhados que suportem

    o uso de exerccios da musculatura do assoalho plvico que pos-

    sam prevenir as distopias. Alguns autores tm sugerido o uso de

    exerccios de treinamento da musculatura como coadjuvante ao

    tratamento cirrgico tanto de prolapsos quanto da incontinncia

    urinria. Os exerccios agem aumentando a fora muscular usando

    contrao durante o aumento da presso abdominal diariamente.

    No entanto, h uma grande necessidade de que trials controlados

    e randomizados com alta qualidade metodolgica sejam realiza-

    dos usando mtodos de fisioterapia vlidos e reprodutveis para

    qualquer grau de prolapso, com protocolos de treinamento apro-

    priados. Somente aps o surgimento destes trials ser possvel uma

    avaliao do real papel da fisioterapia para preveno e tratamento

    dos prolapsos de rgos genitais18 (D).

    O uso de pessrio no prolapso

    So descritos diversos tipos de pessrios, incluindo metal,

    marfim, cera, esponjas e cortia. Atualmente, os pessrios so feitos

    de silicone ou plstico inerte e so seguros e simples de manusear. So

    frequentemente usados quando a paciente tem forte preferncia por

    tratamento no cirrgico do prolapso ou quando seu risco cirrgico

    elevado, significando alta morbimortalidade20 (B).

    Existem duas categorias principais de pessrios: para suporte e

    para preenchimento. O pessrio para suporte usa um mecanismo

    que repousa no frnice posterior e contra a poro posterior da

    snfise pbica, similar ao diafragma contraceptivo. Eles so eficazes

    em mulheres com prolapsos estdios III e IV, e quando ajustado

    de maneira apropriada, o dispositivo deve situar-se atrs da snfise

    pbica anteriormente e atrs da crvice posteriormente.

    Pessrios para preenchimento mantm sua posio ao gerar um

    vcuo entre o pessrio e as paredes vaginais (um cubo), criando

    um dimetro maior que o hiato vaginal (um biscoito, tipo donut)

    ou por meio de ambos os mecanismos (um Gellhorn). So usados

    para prolapso estdios II e IV e para procidncia completa. A

    escolha do tipo de dispositivo pode ser afetada por alguns fatores,

    como estado hormonal, atividade sexual, histerectomia prvia,

    estgio e local do prolapso (Figura 3)20 (B).

    Aps a seleo, a mulher deve receber o maior tamanho

    que ela possa usar confortavelmente. Aps insero deve fazer

    manobras para verificar a sua adaptao. De modo ideal deve ser

    removido noite, higienizado e recolocado na manh seguinte.

    Complicaes so raras, pode ocorrer sangramento, eroso e dor,

    Figura 3 - Modelos de pessrios.

    Cubo

    Donut Gellhorn

    Hodge

    Anel Anel largo

  • Prolapso genital

    FEMINA | Maro/Abril 2012 | vol 40 | n 2 75

    verificar o tamanho do pessrio e o uso de lubrificantes pode

    prevenir essas complicaes20 (B).

    Tratamento cirrgico

    O tratamento cirrgico est indicado se a condio causar

    algum sintoma ou disfuno que interfira nas atividades normais

    da paciente. Pacientes com pequenos prolapsos no associados a

    outras anormalidades ginecolgicas e sem manifestaes clnicas,

    ao invs de serem imediatamente submetidas ao tratamento

    cirrgico devem ser acompanhadas quanto evoluo.

    O objetivo da teraputica cirrgica aliviar os sintomas,

    restaurar a anatomia e corrigir alteraes funcionais quer sejam

    sexuais, eventual incontinncia urinria ou fecal. Nas mulheres

    jovens, em idade reprodutiva que desejam procriar, indicam-se

    cirurgias conservadoras, preservando o tero. Em todas as demais,

    preconizam-se as cirurgias radicais3 (A). Entre as tcnicas ope-

    ratrias compatveis com a manuteno da funo reprodutora,

    destaca-se a operao de Manchester. Dentre as cirurgias incom-

    patveis com a funo reprodutora, assinalam-se a histerectomia

    vaginal e a colpocleise. importante informar que:

    1) Nenhuma tcnica cirrgica tem eficcia total, sendo neces-

    srio tambm tratar os fatores etiolgicos e agravantes, caso

    presentes, para reduo das recidivas.

    2) As pacientes devem ser muito bem informadas quanto

    etiopatogenia dos prolapsos e doutrinadas a participar ativa-

    mente na recuperao ps-operatria, evitando esforos fsicos

    e identificando o surgimento de situaes de risco, como tosse

    crnica e esforo evacuatrio, a tempo de tratamento antes de

    eventual recidiva do prolapso ou falha cirrgica21 (A).

    Tipos de correo cirrgica

    Colporrafia anterior: para tratamento de defeitos da parede

    vaginal anterior que provoquem manifestao clnica. As tc-

    nicas de colporrafia anterior geralmente envolvem a disseco

    da mucosa vaginal em relao fscia pubovesicocervical. A

    seguir, a fscia suturada na linha mediana, dando suporte

    bexiga e uretra21 (A). Em casos de grandes prolapsos, defeito

    lateral da fscia ou em recidivas de prolapsos, o uso de telas

    sintticas pode ser indicado para uma melhor sustentao.

    A Food and Drug Administration (FDA) americana, em

    2008, publicou uma nota na qual, em virtude da divulgao

    de diversos casos de complicaes de cirurgias com telas nos

    Estados Unidos, fazia recomendaes aos mdicos que se

    propunham a us-las, tais como a necessidade de treinamento

    adequado e a imprescindvel elaborao de consentimento

    informado com a paciente antes do procedimento22 (D).

    Reparo paravaginal: o defeito paravaginal (lateral) carac-

    terizado pelo destacamento da fscia pubocervical do arco

    tendneo da fscia plvica. O arco tendneo da fscia plvica

    uma condensao da fscia que recobre a face medial do ms-

    culo obturador interno e levantador do nus, estendendo-se

    do sulco lateral da vagina at a linha pectnea. A leso desse

    tecido acarreta perda do ngulo uretrovesical, uretrocistocele

    e, com frequncia, incontinncia urinria de esforo6 (B). Pode

    ser uni- ou bilateral, variando na intensidade de leso das fibras.

    A cirurgia est indicada para defeitos laterais da fscia com

    herniao da bexiga. O objetivo dessa tcnica reconstruir a

    fscia pubocervical em sua insero no arco tendneo. Faz-se

    uma sutura da fscia em toda a extenso de sua insero no

    arco tendneo. Essa correo pode ser feita via abdominal ou

    vaginal, com ou sem uso de telas sintticas3,18 (A, D).

    Colpoperineorrafia: indicada nos defeitos da parede poste-

    rior da vagina e corpo perineal. A tcnica cirrgica bsica

    envolve a disseco da mucosa vaginal at o nvel superior

    retocele; a seguir, a fscia retovaginal suturada na linha

    mediana. Os msculos elevadores do nus podem ou no

    ser plicados na linha mediana para melhor reforo do septo

    retovaginal, no entanto, essa prtica implica em cerca de

    30% de dispareunia ps-cirrgica22 (B).

    Operao de Manchester: essa cirurgia foi criada por Donald

    no Reino Unido, em 1888, para correo de prolapso uterino,

    e, posteriormente, sofreu alteraes por Fothergill, 1908. A

    cirurgia inicial consistia em colporrafia anterior, colporrafia

    posterior e posterior amputao do colo uterino. Depois,

    Fothergill difundiu a tcnica e passou a amputar o colo pela

    tcnica de Schroeder e Shaw. Aplica-se no tratamento do

    prolapso uterino ou hipertrofia do colo uterino associado a

    defeito das paredes vaginais. Essa operao mais simples e,

    por no necessitar de abertura da cavidade peritoneal, apre-

    senta menor morbidade que a histerectomia vaginal, sendo

    mais indicada quando a paciente tiver idade mais avanada

    ou apresentar risco cirrgico elevado. A tcnica combina

    colporrafia anterior, amputao plana do colo uterino, fixao

    dos ligamentos cardinais anteriormente ao tero e colpo-

    perineorrafia. Essa tcnica est praticamente abandonada,

    nas pacientes com prole incompleta aumenta o risco de

    insuficincia istmo-cervical, assim como estenose cervical,

    impedindo ou dificultando procedimentos para investigao

    do canal cervical e da cavidade endometrial13,18 (D).

    Histerectomia vaginal: considerada a cirurgia de escolha nos

    casos de prolapso uterino em paciente sem desejo reprodu-

    tivo, empregada nos casos de prolapsos estdios III e IV,

    hoje indicada tambm para os casos de prolapso uterino de

    thiagoRealce

    thiagoRealce

  • Lima MIM, Lodi CTC, Lucena AA, Guimares MVMB, Meira HRC, Lima LM, Lima SA

    FEMINA | Maro/Abril 2012 | vol 40 | n 276

    primeiro grau ou em teros sem prolapso com indicao de

    histerectomia (mioma, adenomiose).

    Diversas tcnicas so descritas para fixao dos paramtrios

    e ligamentos tero-sacros na cpula vaginal, visando diminuir

    a incidncia de prolapso de cpula vaginal. Sempre que neces-

    srio, concomitantemente, devero ser realizadas a colporrafia

    anterior e/ou a colpoperineorrafia18 (D).

    Correo cirrgica de enterocele: se uma enterocele estiver

    presente, o tempo de disseco da colpoperineorrafia dever

    ser estendido at o seu local (frnice vaginal posterior). O

    saco hernirio deve ser dissecado at sua base, geralmente

    o fundode saco de Douglas; seu contedo reduzido, e o

    peritnio, suturado em bolsa na base, sendo o excedente

    ressecado. A seguir, a cpula vaginal recomposta por meio

    de sutura dos ligamentos tero-sacro na linha mediana, assim

    como toda a fscia retovaginal13 (D).

    Fixao no ligamento sacroespinhoso: a fixao da cpula va-

    ginal no ligamento sacroespinhoso foi originalmente descrita

    como bilateral, porm, pela maior probabilidade de leso retal,

    a maioria dos cirurgies prefere a fixao s no lado direito.

    Estudos avaliando os resultados da colpopexia transvaginal

    no sacroespinhoso revelaram taxas iniciais de 90% de cura

    e manuteno de 80% aps 4 anos de seguimento23 (B). O

    sangramento uma das complicaes temidas, exigindo

    transfuso sangunea em, aproximadamente, 2% dos casos.

    As causas incluem leso da artria e veia pudenda, veias pe-

    rirretais ou sacrais. A fixao da cpula vaginal no ligamento

    sacroespinhoso efetiva, porm no seguimento a longo prazo,

    pode haver a recorrncia do defeito, em especial do compar-

    timento anterior. Acredita-se que a acentuada retroverso

    vaginal subsequente a fixao no ligamento sacroespinhoso,

    modificando o eixo da vagina, pode predispor ao surgimento

    da cistocele e da hipermobilidade uretral24 (B).

    Colpocleise ou operao de Le Fort: trata-se de tcnica

    cirrgica obliterativa empregada no tratamento do grande

    prolapso uterino e/ou de cpula vaginal sintomticos,

    em pacientes que no mais desejam ter vida sexual, de

    idade avanada e risco cirrgico elevado. Uma faixa da

    mucosa vaginal anterior e outra da posterior so retiradas.

    A seguir, procede-se sutura da parede anterior com a

    parede posterior da vagina, obliterando parcialmente seu

    lmen, o que cria um septo largo entre as paredes ante-

    rior e posterior da vagina, proporcionando a sustentao

    uterina e da cpula vaginal3 (A).

    Sacropexia infracoccgea: A sacropexia infracoccgea ou IVS

    posterior (intravaginal slingplasty) foi primeiramente descrita

    por Petros, em 1997. O autor referiu como sendo cirurgia

    minimamente invasiva que baseia-se na colocao de uma faixa

    livre de tenso, na poro posterior da vagina, para a suspenso

    da cpula vaginal, criando um neoligamento tero-sacral ar-

    tificial, com mnima disseco e tempo cirrgico aproximado

    de 30 min. Aps seguimento de 1 a 4,5 anos, o autor observou

    taxas de sucesso de 94% em 75 mulheres25 (D).

    Utilizao de telas: o objetivo principal das cirurgias das dis-

    topias do assoalho plvico reconstruir a anatomia corrigindo

    defeitos de fscias e/ou ligamentares. O material sinttico

    uma nova opo para a substituio de tecidos deficitrios e

    lesados das mulheres portadoras de prolapsos. Nos ltimos anos,

    vrias prteses biolgicas e sintticas destinadas a correo de

    prolapsos vaginais foram desenvolvidas, e para a aplicao dessas

    telas foram tambm descritas muitas tcnicas especficas26 (B).

    Os conhecimentos relativos ao emprego de telas na correo

    de hrnias e defeitos de parede abdominal no podem, de ma-

    neira alguma, ser extrapolados ao emprego de telas na correo

    dos prolapsos, quando a tela inserida entre duas paredes de

    vscera, seja vagina e bexiga ou vagina e reto27 (B). Ao se em-

    pregar uma tela, alm das possveis complicaes comuns s

    cirurgias, adicionam-se vrios potenciais riscos de complicaes

    inerentes presena da tela; como infeces graves, disfuno

    sexual com dispareunia persistente devido a enrijecimento da

    parede vaginal, fstulas genitourinrias, migrao do material

    sinttico para vsceras ocas (vagina e reto). Mais estudos quan-

    to s caractersticas intrnsecas e biossegurana dos materiais

    sintticos so necessrios para se obter uma melhor definio

    das mulheres que realmente sero beneficiadas com o emprego

    de telas sintticas. Hoje, os materiais sintticos so indicados

    em casos muito especficos, como as recidivas aps cirurgias

    convencionais, grandes prolapsos em idosas ou nas mulheres

    com muitos fatores de risco para recidiva13 (D).

    Concluso

    O prolapso genital uma preocupao de sade significativa

    para as mulheres. A avaliao deve focalizar os sintomas, sua

    correlao anatmica e seu efeito sobre a qualidade de vida da

    paciente. A escolha do tratamento cirrgico ou no cirrgico

    deve ser compartilhada, baseada em sintomas e avaliao de

    resultados baseados em evidncia.

    A pesquisa atual est focalizada na melhora dos resultados

    do tratamento. No futuro, um conhecimento maior dos fatores

    de risco modificveis, como fisioterapia, obesidade, gravidez e

    o parto podero permitir melhores oportunidades para prevenir

    a ocorrncia do prolapso.

  • Prolapso genital

    FEMINA | Maro/Abril 2012 | vol 40 | n 2 77

    Leituras suplementares

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