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1 PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E MUDANÇA CLIMÁTICA OTCA/GEF/PNUMA Subprojeto II.1 Investigação dirigida sobre a compreensão da base de recursos naturais da bacia do Rio Amazonas Atividade II.1.1 Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos amazônicos Atividade III.1.1 Manejo de ecossistemas aquáticos em hotspots Foto: Roberto E. Reis Relatório Parcial Produto 3 O médio rio Negro Brasília, Brasil Fundo Para o Meio Ambiente Mundial Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

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PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS

RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO

RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E

MUDANÇA CLIMÁTICA

OTCA/GEF/PNUMA

Subprojeto II.1 Investigação dirigida sobre a compreensão da base de

recursos naturais da bacia do Rio Amazonas

Atividade II.1.1 Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos

amazônicos

Atividade III.1.1 Manejo de ecossistemas aquáticos em hotspots

Foto: Roberto E. Reis

Relatório Parcial – Produto 3

O médio rio Negro

Brasília, Brasil

Fundo Para o Meio Ambiente Mundial

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

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PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS

RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO

RIO AMAZONAS, CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E A

MUDANÇA CLIMÁTICA

OTCA/GEF/PNUMA

Subprojeto II.1 Investigação dirigida sobre a compreensão da base de

recursos naturais da bacia do Rio Amazonas

Atividade II.1.1 Melhorar o conhecimento dos ecossistemas aquáticos

amazônicos

Atividade III.1.1 Manejo de ecossistemas aquáticos em hotspots

Relatório Parcial – Produto 3

O médio rio Negro

Coordenador dos Componentes

Cleber J. R. Alho

Coordenação da Atividade

Norbert Fenzl

Consultor

Roberto E. Reis

Agosto/2013

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O MÉDIO RIO NEGRO

RESUMO EXECUTIVO

O rio Negro está inteiramente contido na bacia sedimentar Amazônica, sendo o maior tributário

da margem esquerda do rio Amazonas. A maior parte dessa bacia está sobre um platô de terras

baixas, com 100-250 m a oeste e descendo para cerca de 50 m de elevação próximo a sua foz. O

rio Negro tem um clima de floresta tropical com temperatura média anual em torno de 26ºC. A

precipitação média anual varia entre 1.850 e 3.500 mm, com a maioria das chuvas ocorrendo

entre abril e julho. Os hábitats aquáticos da bacia incluem rios e igarapés de baixo gradiente, que

atravessam solos sedimentares formados principalmente por espodossolos sujeitos à inundação

sazonal. A água do rio Negro é extremamente pobre em conteúdo mineral, com condutividade

tão baixa como 8 mS, e é extremamente ácida, com pH variando de 2,9 a 4,2. Maior rio de água

preta do mundo, o rio Negro se estende por 2.230 km, tem uma bacia de captação de 691.000

km2, e uma vazão média de 28.000 m

3/s, o que representa 14% da vazão média anual da bacia

Amazônica. A estimativa atual da riqueza de espécies na bacia do rio Negro ultrapassa 750

espécies descritas. Das 11 ordens já registradas, Characiformes e Siluriformes representam cerca

de 74% das espécies. Dezenas de novas espécies são conhecidas, uma das quais representa uma

nova família para a ciência. A riqueza total de espécies deve estar próxima a 1.000 espécies.

Mais de 90 espécies são consideradas endêmicas da bacia do rio Negro, assim como seis gêneros

monotípicos. O rio Negro é o lar de mais de 100 espécies que são utilizadas no comércio de

peixes ornamentais.

As áreas visitadas nesta expedição encontram-se localizadas na margem esquerda do rio

Negro (igarapé do Zamula, na margem esquerda, em frente a Barcelos e igarapé Daraquá, em

frente à comunidade de Daraquá), no rio Aracá (comunidade de Bacabal e igarapé Murumuru),

bem como na margem direita, no rio Quiuini (comunidade de Ponta da Terra e Igarapé do

Mamulé). A cidade de Barcelos tinha, até cerca de 10 ou 12 anos atrás, cerca de 600 famílias

vivendo da pesca de peixes ornamentais. Esse número está hoje reduzido para menos de dez por

cento desse número, e as principais atividades econômicas passaram a ser a agricultura, comércio

e pesca esportiva – especialmente de tucunarés. A pesca comercial, por outro lado, é incipiente

em Barcelos. Basicamente, todo o pescado resultante da pesca comercial é vendido e consumido

em Barcelos. Não há envio de peixes para Manaus ou outras cidades. A pesca de peixes

ornamentais ocorre junto à margem do igapó, onde a profundidade é pequena. Nesses locais

observamos a pesca de peixes ornamentais, especialmente cardinais. Pescadores utilizam uma

rede de mão chamada rapiché e um remo de canoa. A rede é mantida dentro da água e os peixes

são lenta e cuidadosamente conduzidos para dentro do rapiché com o remo. Alternativamente,

pescadores utilizam uma pequena armadilha chamada cacuri, que é iscada e deixada na margem

do igapó para ser recolhida mais tarde. Usualmente os peixes são mantidos por vários dias em

pequenos currais ou viveiros feitos de rede plástica, antes de serem novamente colocados nas

caçapas para envio à Barcelos. De Barcelos os peixes seguem em recreios para Manaus, para

exportação.

O grau de ameaças ambientais detectadas aos corpos aquáticos e peixes do rio Negro foi

considerado baixo. As mais sérias ameaças identificadas são ameaças à pesca de peixes

ornamentais e a sobrevivência desta atividade econômica. A pesca ornamental já foi a principal

atividade econômica da cidade de Barcelos e de outras comunidades do médio rio Negro, tendo

sido iniciada entre os anos 40 e 50 do século passado. Até o final da década de 90, cerca de 60%

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da economia da cidade de Barcelos estava baseada na pesca de peixes ornamentais, e

aproximadamente 80% dos seus 20 mil habitantes trabalhava direta ou indiretamente na

atividade. Estima-se que, na época, cerca de 20 milhões de peixes eram exportados todos os anos

a partir de Barcelos, 80% destes sendo da espécie cardinal (Paracheirodon axelrodi). Segundo

uma estimativa desse período, a região do médio rio Negro possuía uma área produtiva de cerca

de 1,5 milhões de ha, em cerca de 300 pesqueiros espalhados por centenas de quilômetros de

rios. Essa área era explorada por 600-700 pescadores, o que representa uma área de mais de

2.000 ha por pescador. Durante os últimos 10-15 anos, no entanto, toda a cadeia produtiva da

pesca ornamental no médio rio Negro entrou em franco declínio. A causa direta e imediata desse

declínio foi a forte diminuição na demanda por peixes ornamentais pelos exportadores, que

ocorreu em função dos altos custos das tarifas aéreas e o despreparo das companhias aéreas e

aeroportos brasileiros para enviar peixes vivos, e a falta sensibilidade e agilidade, por parte do

IBAMA, para revisar a lista de espécies com permissão para exportação e normatizar os

processos da atividade. Outras causas que contribuíram para o colapso da pesca de peixes

ornamentais foram a concorrência dos novos e crescentes mercados de exportação de peixes

ornamentais no Peru, Venezuela e, principalmente, Colômbia, que praticam preços ainda mais

baixos que o Brasil, e o inicio da reprodução em cativeiro das espécies do rio Negro em países

asiáticos, europeus e nos Estados Unidos. O caso específico de Barcelos, entretanto, foi mais

grave, pois cerca de 80% de toda a sua produção de peixes ornamentais era comprada por um

único atravessador e exportada por uma única empresa de Manaus. Essa empresa parou de operar

no início dos anos 2000, culminando com o colapso de uma atividade econômica sustentável,

que preserva o meio ambiente e que gerava recursos para a subsistência de mais de 600 família

na região de Barcelos. A atividade econômica envolvendo a pesca esportiva tornou-se muito

importante na região de Barcelos com o declínio da pesca de peixes ornamentais. Geralmente, a

pesca esportiva é uma atividade de baixo impacto nas comunidades de peixes. Na região de

Barcelos, entretanto, o número de pescadores esportivos durante a estação de pesca (agosto à

fevereiro) é muito grande, e provavelmente o impacto sobre as populações de peixe é

significativo. Por outro lado, a agricultura comercial na região do médio rio Negro é incipiente.

Como a paisagem do médio rio negro é dominada por matas inundáveis, a agricultura é praticada

em pequenas roças nas porções de terra firme, junto às comunidades, e a bacia do rio Negro é

uma área sem vocação para a agricultura extensiva. Finalmente, as mudanças climáticas que

tendem a afetar a bacia amazônica, especialmente intensificando as cheia e as secas, podem ser

especialmente prejudiciais aos peixes, especialmente as secas, pois diminuem a área de igapó,

local de refúgio, alimentação, e reprodução dos peixes.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Canal do rio Negro em frente a cidade de Barcelos, onde destaca-se a Igreja Matriz e o porto. Foto:

Roberto Reis.

Figura 2. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada no rio Negro e seus afluentes, destacando os

principais pontos referidos no texto. As coordenadas geográficas dos pontos mencionados são: Comunidades:

Bacabal: 0°29’08”S 62°55’21”W; Daraquá: 0°30’27”S 63°12’48”W; Ponta da Terra: 0°46’18”S 63°08’34”W.

Pontos de pesca de peixes ornamentais: Igarapé do Zamula: 0°50’15”S 62°45’34”W; Igarapé Murumuru: 0°27’34”S

62°56’08”W; Igarapé Daraquá: 0°27’52”S 63°09’15”W; Igarapé do Mamulé: 0°50’19”S 63°13’48”W.

Figura 3. Casa da comunidade de Daraquá em uma ilha inundada do rio Negro. Foto: Roberto Reis.

Figura 4. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando trecho do rio Negro em frente a Barcelos, enfatizando a

complexidade de ilhas, canais, furos, paranás e lagos.

Figura 5. Demonstração do uso do rapixé na área rasa do igapó. Foto: Pedro Aquino.

Figura 6. Demonstração do uso do cacuri na área rasa do igapó. A, Cacuri iscado e pronto para instalação. B,

Piabeiro escolhendo a localização para instalação do cacuri. C, Cacuri em posição de pesca no igapó. D, Piabeiro

com caçapa para recolhimento do cacuri. Fotos: Roberto Reis.

Figura 7. Caçapas cheias de neons do rio Branco sendo embarcadas em recreio para envio de Barcelos para um

exportador em Manaus. Foto: Roberto Reis.

Figura 8. Detalhe de caçapa com neons sendo enviados para Manaus. Foto: Roberto Reis.

Figura 9. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial ou esportiva na região do médio

rio Negro. A) Anuanã; B) Jaraqui; C) Aracu-flamengo (Schizodon); D) Aracu-branco; E) Aracu-flamengo

(Leporinus); F) Matrinxã; G) Pacu-branco; H) Piranha-preta; I) Pacu-listrado; J) Traíra; K) Surubim; L) Piranambu;

M) Anujá. Fotos: Roberto Reis.

Figura 10. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial ou esportiva na região do

médio rio Negro. N) Pescada; O) Acará-açu; P) Tucunaré-tauá; Q) Tucunaré-açu; R) Tucunaré-paca; S) Tucunaré-

paca; T) Acará-baré; U) Cágado em casa de pescador; V) Caixa de pescado puxada por motocicleta em Barcelos.

Fotos: Roberto Reis.

Figura 11. Reprodução de folheto das espécies de peixe ornamentais capturados no rio Negro, de acordo com o

Projeto Piaba. Veja lista das espécies com nomes corrigidos e em classificação no Apêndice II.

Figura 12. Reprodução de folheto das espécies de peixe ornamentais capturados no rio Negro, continuação.

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O presente relatório refere-se ao Produto 3, sobre a terceira viagem ao campo (terceiro hotspot),

confrontando os dados existentes na literatura sobre ameaças aos ecossistemas aquáticos, à

biologia pesqueira, à questões relacionadas à pesca e degradação ambiental. Os hotspots, como

utilizados neste projeto, são as cabeceiras do rio Xingu, o baixo rio Tocantins, nas proximidades

de Tucuruí e o médio rio Negro, nas proximidades de Barcelos. Esses hotspot foram definidos

pelo projeto do Banco Mundial-Global Environment Fund “Manejo Integrado dos Recursos

Aquáticos da Amazônia – Aquabio”.

I. A BACIA DO RIO NEGRO

A bacia hidrográfica

Ao contrário das duas primeiras expedições, que exploraram ambientes aquáticos que drenam o

Escudo Brasileiro, o rio Negro está inteiramente contido na bacia sedimentar Amazônica, sendo

o maior tributário da margem esquerda do rio Amazonas. A bacia do rio Negro inclui as

Ecorregiões Aquáticas 314 (Rio Negro) e parte da Ecorregião 315 (Amazonas Guiana Shield –

que inclui o rio Branco e outros tributários menores), do mapa das ecorregiões de água doce do

mundo de Abell et al. (2008). A ecorregião Rio Negro inclui a bacia de drenagem do rio Negro

Figura 1. Canal do rio Negro em frente a cidade de Barcelos, onde destaca-se a Igreja Matriz e o porto. Foto:

Roberto Reis.

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desde Manaus, junto a sua foz, até o sopé da cordilheira dos Andes na Colômbia. Ela inclui a

parte baixa das bacias do rio Branco e do rio Jauaperi, sendo limitada ao norte pela divisa

montanhosa com a bacia do rio Orinoco e ao sul pelo divisor de águas entre as cabeceiras dos

seus afluentes da margem direita e os afluentes da margem esquerda do rio Solimões. O rio

Negro drena três áreas principais: os tributários do norte se originam na porção sul do Escudo

das Guianas, as cabeceiras a oeste nascem no sopé dos Andes Colombianos e os afluentes da

margem direita nascem nas terras baixas da Amazônia brasileira. A maior parte dessa bacia está

sobre um platô de terras baixas, com 100-250 m a oeste e descendo para cerca de 50 m de

elevação próximo a sua foz. A porção mais alta da bacia é dominada por afloramentos graníticos

do Escudo das Guianas, como as serras de Tapirapecó e Imeri ao longo da fronteira Brasil-

Venezuela, com a mais alta elevação no Pico da Neblina a quase 3.000 m sobre o nível do mar.

Esta ecorregião tem um clima de floresta tropical com uma temperatura média anual em torno de

26ºC. A precipitação média anual varia entre 1.850 e 3.500 mm, com a maioria das chuvas

ocorrendo entre abril e julho (Petry & Hales, 2013).

Figura 2. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando a área visitada no rio Negro e seus afluentes, destacando os

principais pontos referidos no texto. As coordenadas geográficas dos pontos mencionados são: Comunidades:

Bacabal: 0°29’08”S 62°55’21”W; Daraquá: 0°30’27”S 63°12’48”W; Ponta da Terra: 0°46’18”S 63°08’34”W.

Pontos de pesca de peixes ornamentais: Igarapé do Zamula: 0°50’15”S 62°45’34”W; Igarapé Murumuru: 0°27’34”S

62°56’08”W; Igarapé Daraquá: 0°27’52”S 63°09’15”W; Igarapé do Mamulé: 0°50’19”S 63°13’48”W.

Hábitats aquáticos. Rios e igarapés de baixo gradiente atravessam solos sedimentares formados

principalmente por espodossolos sujeitos à inundação sazonal. A água do rio Negro é

extremamente pobre em conteúdo mineral, com condutividade tão baixa como 8 mS, e é

extremamente ácida, com pH variando de 2,9 a 4,2. Maior rio de água preta do mundo, o rio

Negro se estende por 2.230 km, tem uma bacia de captação de 691.000 km2, e uma vazão média

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de 28.000 m3/s, o que representa 14% da vazão média anual da bacia Amazônica. Seu principal

afluente, o rio Branco é, por outro lado, um rio de água branca. Embora não seja tão turva como

a do rio Amazonas ou rio Madeira, é barrenta na época das cheias, e os sedimentos são visíveis

até cerca de 200 km à jusante da confluência com o Negro. Na porção superior da bacia a estação

das cheias ocorre entre maio e setembro, com pico em julho. Flutuações do nível da água no

curso inferior são ditadas mais pelo rio Amazonas, e ocorrem um pouco mais cedo. Nessa região,

a estação das chuvas vai de fevereiro a julho, com o pico das águas em junho. A flutuação anual

média do rio varia de 4 a 5 m no curso superior e até cerca de 10 m nas partes mais baixas.

Estima-se que uma área de 30.000 km2 da bacia do Negro seja inundada sazonalmente entre 4 e

8 meses do ano. As maiores planícies de inundação ocorrem ao longo dos afluentes da margem

direita, bem como entre a rede de ilhas ao longo do médio e baixo rio Negro. Existem muitos

ambientes insulares ao longo do curso principal do rio Negro, incluindo mais de 600 ilhas na

parte inferior e média do rio. Ao longo do seu curso principal e dos afluentes estão vastas

planícies cobertas por florestas alagadas e campinas e caatingas inundadas (campinaranas), assim

como muitos lagos de várzea e lagoas marginais ao longo dos canais. Durante a estação seca

enormes praias de areia são encontradas ao longo de toda a extensão dos rios. O fundo dos rios

são rochosos, com grandes rochas ou cascalho na porção superior da bacia, e arenosos na parte

média e inferior. Afloramentos rochosos e cataratas revelam evidências do Escudo das Guianas

em pontos ao longo dos cursos superior e médio do rio Negro (Petry &Hales, 2013).

Figura 3. Casa da comunidade de Daraquá em uma ilha inundada do rio Negro. Foto: Roberto Reis.

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A fauna de peixes

A estimativa atual da riqueza de espécies na bacia do rio Negro ultrapassa 750 espécies descritas.

Das 11 ordens já registradas, Characiformes e Siluriformes representam cerca de 74% das

espécies. Dezenas de novas espécies são conhecidas, uma das quais representa uma nova família

para a ciência. A riqueza total de espécies deve estar próxima a 1.000 espécies. Mais de 90

espécies são consideradas endêmicas da bacia do rio Negro, assim como seis gêneros

monotípicos - Tucanoichthys, Ptychocharax, Atopomesus, Leptobrycon, Niobichthys e

Stauroglanis - atualmente encontrados somente nesta bacia. O rio Negro é o lar de mais de 100

espécies que são utilizadas no comércio de peixes ornamentais. A iridescência de algumas

espécies como o cardinal (Paracheirodon axelrodi), pode ser uma característica adaptativa à

água preta do rio Negro. Fenômenos ecológicos interessantes incluem grandes migrações dos

bagres doradideos, dos characídeos como Brycon e dos prochilodontideos do gênero

Semaprochilodus. O jaraqui (Semaprochilodus insignis), por exemplo, migra das águas pretas do

rio Negro para os rios de água branca para desovar. Há também assembleias únicas de espécies

em depósitos de folhas, e muitas formas miniaturizadas. Espécies relictuais nessa região incluem

o pirarucu (Arapaima gigas, Arapaimidae), um dos maiores peixes de água doce no mundo com

mais de dois metros de comprimento, o aruanã (Osteoglossum bicirrhosum, Osteoglossidae) e o

endêmico aruanã preto (O. ferreirai) (Petry &Hales, 2013).

II. O HOTSPOT DO MÉDIO RIO NEGRO

Durante a viagem a campo para o médio rio Negro priorizou-se a estratégia de inspeção

ambiental direta, através de deslocamento por barco e entrevistas com membros das

comunidades. A equipe ficou hospedada no Hotel da Cidade, no município de Barcelos, na

margem direita do rio Negro, Amazonas (Fig. 1). A partir dessa cidade diversas excursões em

barco rápido (voadeira) foram empreendidas a áreas de pesca de peixes ornamentais em igarapés

e igapós, comunidades ribeirinhas, e os diferentes ambientes aquáticos do entorno. As áreas

visitadas encontram-se localizadas no rio Negro (igarapé do Zamula [0°50’15”S 62°45’34”W],

na margem esquerda, em frente a Barcelos e igarapé Daraquá [0°27’52”S 63°09’15”W], em

frente à comunidade de Daraquá [0°30’27”S 63°12’48”W]), no rio Aracá (comunidade de

Bacabal [0°29’08”S 62°55’21”W] e igarapé Murumuru [0°27’34”S 62°56’08”W]), bem como na

margem direita, no rio Quiuini (comunidade de Ponta da Terra [0°46’18”S 63°08’34”W] e

Igarapé do Mamulé [0°50’19”S 63°13’48”W]) (Fig. 2). Todo o trabalho foi registrado

fotograficamente e as áreas visitadas nos rios foram georeferenciadas através de GPS.

A floresta do médio rio Negro. A bacia do rio Negro é formada primariamente por grandes

áreas de floresta de igapó, devido ao elevado número de igarapés e rios de água preta. Este tipo

de floresta ocorre em terras que são inundadas todos os anos e tem solos arenosos, oligotróficos,

e pobres em nutrientes. Espécies de árvores abundantes incluem a ucuúba (Virola elongata), as

matamatás (Eschweilera longipes e E. pachysepala) e a fava amarela (Pithecellobium

amplissimum). Há também áreas de floresta de várzea, que ocorrem nas várzeas dos rios de água

branca como o rio Branco, rio Padauari e rio Demini, que tendem a conter material em suspensão

e nutrientes elevados. As florestas de terra firme, um terceiro tipo florestal, nunca sofrem

inundações e tem uma composição florística semelhante à floresta de várzea. Espalhadas por

estas florestas estão grandes áreas de campinarana (campina inundável) que formam um mosaico

de tipos de vegetação desde savanas herbáceas até florestas de dossel fechado. Estes ocorrem

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principalmente em torno de depressões pantanosas circulares de espodossolos arenosos e pobres

em nutrientes.

A área visitada nesta expedição situa-se no médio rio Negro, onde grandes áreas de mata

de igapó e pequenos trechos de terra firme se sucedem. A inspeção de imagens de satélite mostra

que as florestas do médio rio Negro estão muito bem preservadas e apenas recentemente, com o

declínio acentuado da pesca de peixes ornamentais, começam a abrir-se áreas para agricultura de

subsistência (Fig. 2).

Figura 4. Imagem de satélite (Google Earth) mostrando trecho do rio Negro em frente a Barcelos, enfatizando a

complexidade de ilhas, canais, furos, paranás e lagos.

Comunidades ribeirinhas visitadas. Além da cidade de Barcelos, três outras comunidades

foram visitadas durante as excursões de barco no rio Negro, e alguns de seus moradores foram

entrevistados. Comunidade de Daraquá (Fig. 3): localizada em uma ilha inundada do próprio rio

Negro, até cerca de 10 anos atrás possuía mais de 20 famílias, todas vivendo exclusivamente da

pesca de peixes ornamentais. Com o declínio da pesca de ornamentais as famílias foram pouco a

pouco abandonando a comunidade e mudando-se para áreas de terra firme, onde outras

atividades econômicas são possíveis. Atualmente apenas uma família, pai e filho, continuam em

Daraquá, vivendo da pesca de ornamentais e produção de artesanato. Comunidade de Bacabal:

localizada no curso inferior do rio Aracá, essa comunidade é formada primariamente por

indígenas. As suas atividades econômicas são principalmente a agricultura (mandioca) e

produção de farinha de mandioca. A criação de animais (porcos) e a pesca de peixes

ornamentais, complementam a renda familiar. Comunidade de Ponta da Terra: localizada

próximo à foz do rio Quiuini, é a maior das três comunidades. Possui uma escola de ensino

básico recentemente construída e bem aparelhada e durante a visita testemunhamos a ocorrência

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de atividade letiva, merenda escolar e zeladoria da escola. Da mesma forma que nas anteriores,

até cerca de 10 anos atrás todas as famílias nessa comunidade viviam da pesca de peixes

ornamentais. Hoje ninguém mais na comunidade pratica a pesca de peixes ornamentais e a

principal atividade econômica é a agricultura. Para tanto, uma área considerável de floresta de

terra firme foi removida para acomodar as plantações de mandioca, milho, e outras.

Figura 5. Demonstração do uso do rapixé na área rasa do igapó. Foto: Pedro Aquino.

A cidade de Barcelos tinha, até cerca de 10 ou 12 anos atrás, cerca de 600 famílias

vivendo da pesca de peixes ornamentais. Esse número está hoje reduzido para menos de dez por

cento desse número, e as principais atividades econômicas passaram a ser a agricultura, comércio

e pesca esportiva – especialmente de tucunarés. A estação de pesca esportiva, que ocorre entre

agosto e fevereiro movimenta a cidade, tanto social como economicamente. Existem diversos

hotéis, barcos-hotéis e pousadas na cidade e no entorno, que somente funcionam neste período.

A companhia aérea que serve a cidade (Azul) aumenta os voos para Barcelos de dois voos

semanais para voos diários na estação da pesca esportiva. Várias pousadas na floresta possuem

hidroaviões para levar os seus hóspedes, alguns vindo diretamente de Manaus. A pesca de

tucunarés tem gerado alguns conflitos com a pesca comercial, uma vez que competem

diretamente tanto pelos peixes como pelos locais de pesca. Assim, existem zonas de pesca

esportiva delimitadas para diferentes operadoras de pesca. Estas muitas vezes não são respeitadas

assim como as áreas de pesca de comunidades locais e comunidades indígenas.

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A pesca comercial, por outro lado, é incipiente em Barcelos. Basicamente, todo o

pescado resultante da pesca comercial é vendido e consumido em Barcelos. Não há envio de

peixes para Manaus ou outras cidades. Curiosamente, não há em Barcelos um mercado de peixes

ou um mercado geral onde sejam vendidos peixes. Existem, ao contrário, vários vendedores

ambulantes que percorrem a cidade de bicicleta ou motocicleta com um reboque com gelo, e

vendem os peixes de porta em porta. Um exame e registro fotográfico de alguns desses

vendedores, e a visita à casa de um vendedor que possuía freezer com peixes para venda,

permitiu o levantamento de 29 espécies de peixes comercializados na época da visita. Pescadores

ainda relataram outras espécies comuns, mas não encontrados nessas visitas. A lista das espécies

e fotografias de algumas encontram-se ao final deste relatório (Figs. 9 e 10).

Figura 6. Demonstração do uso do cacuri na área rasa do igapó. A, Cacuri iscado e pronto para instalação. B,

Piabeiro escolhendo a localização para instalação do cacuri. C, Cacuri em posição de pesca no igapó. D, Piabeiro

com caçapa para recolhimento do cacuri. Fotos: Roberto Reis.

Ambientes aquáticos visitados. A expedição ao médio rio Negro foi conduzida durante o final

da estação de cheia, quando o rio está ainda vários metros acima do nível normal. Os ambientes

visitados de barco foram rio de grande porte (Negro), rios de médio porte (Aracá, Demini,

Quiuini), igarapés (Zamula, Daraquá, Murumuru, Mamulé) e áreas de igapó, ou mata inundada.

Todos esses ambientes são de água preta, exceto o rio Demini que apresenta água branca. As

dimensões na Amazônia central são gigantescas, e o rio Negro é o maior rio de água preta do

mundo. Na região de Barcelos a sua largura está entre quatro e oito km, mas se a área contígua

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de floresta inundada for considerada, a largura do corpo de água passa para 30 a 40 km. O rio

Negro possui muitas centenas de ilhas, canais, furos, paranás e lagos, formando um intrincado

emaranhado de ambientes aquáticos (Fig. 4). Os rios de médio porte são bastante convolutos e

com muitos meandros, canais e lagos, e também possuem uma extensa área de floresta inundável

em suas margens.

Os ambientes de igapó são muito interessantes e fundem-se com os igarapés em uma

extensa área de floresta inundada com até cerca de 10 metros de profundidade de água sobre o

solo da floresta. Peixes e outros organismos aquáticos deixam o leito do rio para se abrigar e

alimentar na mata inundada. Nessa mesma época ocorre a frutificação de algumas árvores da

mata inundável, fornecendo valioso recurso alimentar para os peixes. Também, uma grande

quantidade de invertebrados, especialmente insetos, ocupam as florestas inundadas e são

consumidos pelos peixes. Finalmente, muitas espécies de peixe utilizam o igapó para

reprodução, que ocorre durante a enchente quando os juvenis ficam protegidos pelo ambiente

inundado.

Áreas de pesca visitadas. Durante a inspeção da área, visitamos quatro locais de pesca de peixes

ornamentais. Dois na margem esquerda do rio Negro (igarapé do Zamula e igarapé Daraquá), um

no rio Aracá (igarapé Murumuru), e um no rio Quiuini (igarapé do Mamulé) (Fig. 2). A pesca de

peixes ornamentais ocorre junto à margem do igapó, onde a profundidade é de no máximo 50

cm. Assim, sempre guiados por um morador local e pescador de peixes ornamentais, seguimos o

procedimento usual de pesca de ornamentais, e entramos com o barco – às vezes apenas uma

canoa de madeira a remo por causa das passagens estreitas entre as árvores – por igarapés, até

encontrar a margem do igapó. Nesses locais observamos e praticamos a pesca de peixes

ornamentais, especialmente cardinais. Basicamente os pescadores utilizam uma rede de mão

chamada rapiché (Fig. 5) e um remo de canoa. A rede é mantida imóvel dentro da água e os

peixes são lenta e cuidadosamente conduzidos com o remo para dentro do rapiché. Quando o

cardume se encontra dentro da rede está é suavemente erguida e os peixes são apanhados com

uma pequena bacia, ou cuia, e colocados dentro de caixas plásticas, ou caçapas.

Alternativamente, pescadores utilizam uma pequena armadilha chamada cacuri (Fig. 6), que é

iscada e deixada na margem do igapó e recolhida mais tarde. Usualmente os peixes são mantidos

por vários dias em pequenos currais ou viveiros feitos de rede plástica, antes de serem

novamente colocados nas caçapas para envio à Barcelos. Em Barcelos acompanhamos o

carregamento de um grande barco (recreio) com caixas plásticas de neons (Paracheirodon

simulans) que foram trazidos do rio Branco em um pequeno barco de pescadores, e seguiam para

Manaus, para exportação (Figs. 7 e 8).

Principais entrevistas. Diversas pessoas, atores das várias atividades da cadeia produtiva da

pesca comercial, esportiva e ornamental de Barcelos foram entrevistadas. Três dessas pessoas

merecem especial destaque pela sua importância, qualidade das informações prestadas, e

profunda experiência com a pesca.

Sr. Robertto L. Souza (Betão): Secretário do Meio Ambiente de Barcelos e ex-Presidente

da Colônia de Pescadores de Barcelos.

Sr. Raimundo Ribeiro: Principal comprador/atravessador de peixes ornamentais de

Barcelos até o colapso da atividade no início da década de 2000. Ex-pescador de peixes

ornamentais e profundo conhecedor de toda a cadeia produtiva da pesca de ornamentais.

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Sr. Nivalso Maia. Proprietário do barco que utilizamos para os deslocamentos pelo rio

Negro. Ex-pescador e profundo conhecedor da região, das comunidades, das pessoas e seus

costumes.

Figura 7. Caçapas cheias de neons do rio Branco sendo embarcadas em recreio para envio de Barcelos para um

exportador em Manaus. Foto: Roberto Reis.

Figura 8. Detalhe de caçapa com neons sando enviados para Manaus. Foto: Roberto Reis.

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As ameaças aos peixes e ambientes aquáticos. Contrariamente ao observado nas duas

primeiras expedições, o grau de ameaças ambientais detectadas aos corpos aquáticos e peixes do

rio Negro foi considerado baixo. As mais sérias ameaças identificadas são ameaças à pesca de

peixes ornamentais e a sobrevivência desta atividade econômica, que já foi de alta importância

para a região.

Ameaças à pesca ornamental. A pesca ornamental já foi a principal atividade econômica

da cidade de Barcelos e de outras comunidades do médio rio Negro, tendo sido iniciada

entre os anos 40 e 50 do século passado. Até o final da década de 90, aproximadamente

60% da economia da cidade de Barcelos estava baseada na pesca de peixes ornamentais,

e cerca de 80% dos seus 20 mil habitantes trabalhava direta ou indiretamente na

atividade. Estima-se que, na época, cerca de 20 milhões de peixes eram exportados todos

os anos a partir de Barcelos, 80% destes sendo da espécie cardinal (Paracheirodon

axelrodi). Segundo uma estimativa desse período, a região do médio rio Negro possuía

uma área produtiva de cerca de 1,5 milhões de ha, em cerca de 300 pesqueiros espalhados

por centenas de quilômetros de rios. Essa área era explorada por 600-700 pescadores, o

que representa uma área de mais de 2.000 ha por pescador (Paulo Petry, TNC, Comun.

Pessoal). Para acompanhar essa atividade e garantir a sua sustentabilidade, foi criado em

1989 o Projeto Piaba, liderado pelo ictiólogo da UFAM, Dr. Labbish Chao, cujo objetivo

fundamental era determinar que sistemas sócio-culturais e ecológicos seriam capazes de

garantir a preservação dos peixes ornamentais e da sua pesca sustentável. As premissas

do Projeto Piaba se baseavam na ideia de que, ao contrário de garimpo, extração de

madeira ou agricultura, a extração de peixes ornamentais não é uma atividade destrutiva.

Muito pelo contrário, pois segundo os responsáveis pelo Projeto Piaba, os piabeiros

(como são conhecidos os pescadores de piabas ou peixes ornamentais) sabem que se

preservarem a floresta também estarão assegurando as suas fontes de rendimento. Essa

percepção está muito claramente expressa no slogan do Projeto Piaba: “Compre um peixe

e salve uma árvore”. Um folheto do Projeto Piaba com as espécies ornamentais mais

importantes da região do médio rio Negro é reproduzido nas Figs. 11 e 12.

Durante os últimos 10-15 anos, no entanto, toda a cadeia produtiva da pesca

ornamental no médio rio Negro entrou em franco declínio. A causa direta e imediata

desse declínio é clara: a forte diminuição na demanda por peixes ornamentais pelos

exportadores. As causas indiretas, subjacentes à diminuição da demanda, entretanto, são

menos claras e tem múltiplas origens. Aparentemente a concorrência dos novos e

crescentes mercados de exportação de peixes ornamentais no Peru, Venezuela e,

principalmente, Colômbia, que praticam preços ainda mais baixos que o Brasil, aumentou

as dificuldades na colocação dos peixes brasileiros pelos exportadores. Em 2003 o preço

pago aos piabeiros em Barcelos era entre 10 e 14 reais por milheiro de cardinais – esse

valor encontra-se hoje entre 12 e 15 reais por milheiro. Além disso, várias das espécies

ornamentais comumente exportadas a partir do rio Negro passaram a ser reproduzidas em

cativeiro a custos reduzidos por países asiáticos, como Malásia e Singapura. Também, a

principal espécie das exportações do rio Negro, o cardinal, passou a ser reproduzido em

cativeiro nos Estados Unidos e na República Tcheca, ainda que em pequena escala.

No entanto, as principais causas que minaram o interesse dos exportadores de

Manaus (em sua maioria brasileiros, mas alguns estrangeiros), foram o custo da

exportação e, principalmente, os seguidos problemas enfrentados com o IBAMA. O alto

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custo das tarifas aéreas e o despreparo das companhias aéreas e aeroportos brasileiros

para enviar peixes vivos – por vezes atrasos inesperados acarretavam a morte de milhares

de peixes embalados para exportação – acresciam muito no preço final do produto.

Também, uma reclamação recorrente dos exportadores é o pequeno número de espécies

ornamentais com permissão para exportação pelo IBAMA. Na época, a exploração de

peixes ornamentais continentais era regulada pelas Portarias 062-N/92 e 080-N/94, que

listavam 174 espécies e três gêneros passiveis de exportação de todo o Brasil (menos de

100 da região do rio Negro). Muitas das espécies que poderiam ser exportadas e garantir

a viabilidade econômica da exportação de peixes ornamentais não o eram, pois não

estavam listadas nas portarias do IBAMA. Arraias e aruanãs, por exemplo, eram espécies

muito procuradas e de alto valor comercial, mas de exportação proibida. Aparentemente,

apesar da pressão ocorrida na época, o IBAMA não teve a sensibilidade e agilidade

necessárias para revisar a lista de espécies com permissão para exportação e normatizar

os processos da atividade, o que acabou contribuindo para o colapso da atividade no

médio rio Negro. A falta de normatização deixava uma lacuna que era explorada tanto

pelos exportadores, que tentavam fazer passar espécies proibidas na suas exportações,

como por agentes do IBAMA, que aceitavam subornos para liberar guias de exportação.

O conjunto desses problemas culminou com o encerramento das atividades de exportação

de muitas empresas de Manaus, que enviavam para a Europa, Ásia e América do Norte os

peixes do rio Negro. O caso específico de Barcelos, entretanto, foi mais grave, pois cerca

de 80% de toda a sua produção de peixes ornamentais era comprada por um único

atravessador, o Sr. Raimundo Ribeiro, que provia emprego e renda para quase 500

famílias, com as quais cultivou relações pessoais por mais de 30 anos. Esse comprador

enviava os peixes para o Sr. Asher Benzaken, da Turkys Aquarium, exportador israelense

radicado em Manaus desde os anos 70, que encerrou as suas atividades no inicio da

década de 2000 em grande parte por causa de dificuldades sistemáticas como o IBAMA,

por não aceitar o modo de operação daquela agência. A Turkys Aquarium era a empresa

com maior volume de exportação porque era muito bem conceituada no mercado exterior

por produzir peixes de alta qualidade, com baixas taxas de mortalidade, possuindo,

inclusive, certificação ISO 14000. Essa cadeia de problemas e a falta de entendimento ou

interesse por parte de autoridades brasileiras de diversas esferas, culminaram com o

colapso de uma atividade econômica sustentável, que preserva o meio ambiente e que

gerava recursos para a subsistência de mais de 600 família na região de Barcelos.

Pesca esportiva. A atividade econômica envolvendo a pesca esportiva tornou-se muito

importante na região de Barcelos com o declínio da pesca de peixes ornamentais.

Geralmente a pesca esportiva é uma atividade de baixo impacto nas comunidades de

peixes. Na região de Barcelos, entretanto, o número de pescadores esportivos durante a

estação de pesca (agosto à fevereiro) é muito grande. Relatos de guias e piloteiros de

barcos de pesca sugerem a visita de milhares de pescadores esportivos a cada ano,

especialmente estrangeiros. Essas informações são corroboradas pelo grande número de

barcos-hotéis, pousadas e operadoras de pesca existentes na região. Como descrito acima,

os ambientes aquáticos do médio rio Negro são muito grandes, mas a retirada contínua de

peixes pela pesca esportiva pode ser um impacto considerável para as populações de

peixes, especialmente de tucunarés, sobre os quais é dirigida a maior parte do esforço de

pesca esportiva. Apesar da alegação de baixas taxas de mortalidade pela pesca esportiva,

não existem dados concretos que corroborem esta situação. Existe uma grande

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disparidade nas técnicas de manejo dos peixes por parte dos guias e principalmente por

parte dos pescadores, que contribuem significativamente para a mortalidade dos

exemplares que são soltos após a captura.

Agricultura. A agricultura comercial na região do médio rio Negro é incipiente. No

entanto, com o declínio da pesca de peixes ornamentais ao longo da última década, um

grande número de famílias ribeirinhas está mudando a sua atividade comercial da pesca

de peixes ornamentais para a agricultura e para a pesca esportiva. Como a paisagem do

médio rio negro é dominada por matas inundáveis, a agricultura é praticada em pequenas

roças nas porções de terra firme, junto às comunidades. A dinâmica de inundação sazonal

dominante na região, além da baixa qualidade dos solos e a ausência de culturas

adaptadas à condição climática da região, no entanto, fazem da bacia do rio Negro uma

área sem vocação para a agricultura extensiva, e esta ameaça é considerada de pequena

importância.

Mudanças climáticas. Dados levantados por diferentes estudos e sintetizados por

(Merengo et al. 2010) indicam que a situação pode ser preocupante na Amazônia em

geral e no rio Negro. Em 2005, uma forte estiagem – a maior dos últimos 103 anos,

somente comparável com a estiagem de 1962-1963 – atingiu o oeste e o sudoeste da

Amazônia. Alguns grandes rios da bacia Amazônica chegaram a baixar 6 cm por dia.

Milhões de peixes morreram e apodreceram nos leitos de afluentes do rio Amazonas, os

quais serviam de fonte de água, alimento e meio de transporte para comunidades

ribeirinhas. As possibilidades de ocorrerem períodos de intensa seca na região da

Amazônia podem aumentar dos atuais 5% (uma forte estiagem a cada 20 anos) para 50%

em 2030 e até 90% em 2100. No lado oposto dos extremos climáticos, em 2009 a

Amazônia enfrentou uma enchente de dimensões históricas, superior aos máximos

históricos registrados no porto de Manaus nos últimos 100 anos, maiores que os níveis

recordes registrados em 1953. Segundo o Serviço Geológico do Brasil, o ano de 1953

marcou a história de Manaus como o período da pior enchente da cidade. Na ocasião, o

nível do rio Negro atingiu a marca de 29,68 m, valor que foi ultrapassado em 2009,

atingindo 29,78 m (Merengo et al. 2010). No caso específico do rio Negro, secas muito

intensas são mais prejudiciais aos peixes, pois diminuem consideravelmente a área de

igapó, local de refúgio, alimentação, e reprodução dos peixes.

A fauna de peixes importante para a pesca comercial e esportiva. As espécies listadas abaixo foram levantadas como parte das principais espécies alvo da pesca

comercial e esportiva (marcadas com [esp]) na região do médio rio Negro, e a sua ocorrência foi

confirmada através de identificação taxonômica positiva em visitas a vendedores de pescado

durante o trabalho de campo. No total, 29 espécies de importância para pesca comercial e 12 para

a pesca esportiva no médio rio Negro são apresentadas abaixo, listadas em uma classificação

seguindo Reis et al. (2003). Os dados apresentados sobre as famílias dessas espécies são

amplamente adaptado de Reis et al. (2003) e de referências nesse livro, e os autores dos capítulos

individuais são citados ao final do texto de cada família. As espécies são ilustradas com imagens

obtidas durante a visita a vendedores de peixe, nas Figs. 9 e 10.

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Actinopterygii

OSTEOGLOSSIFORMES

Osteoglossidae

Osteoglossus bicirrhosum – Aruanã

Osteoglossus ferreirai – Aruanã-preto

[Osteoglossidae consiste em cinco espécies de peixes de água doce tropicais. Duas dessas

espécies ocorrem na região Neotropical, uma nas águas doces do sudeste da Ásia, e as duas

restantes na Austrália e Nova Guiné. Osteoglossídeos são semelhantes em aparência aos

Arapaimídeos e foram, até recentemente, consideradas como fazendo parte de uma família.

Espécies de ambas as famílias são alongados, tem corpos delgados e com grandes escamas, mas

diferem por várias outras características. Na América do Sul a distribuição das duas espécies é

bastante diferente. Uma espécie, Osteoglossum ferreirai, parece estar restrita ao sistema do rio

Negro da bacia do Amazonas. A segunda espécie, O. bicirrhosum, ao contrário, ocorre

amplamente através das águas da planície da bacia amazônica, bem como os rios da Guiana, e no

rio Oiapoque. Ambas espécies são importantes como pescado, bem como para o mercado de

peixes ornamentais (Ferraris, 2003). O aruanã, apesar de atingir até 90 centímetros de

comprimento, não é uma espécie muito apreciada pelos pescadores.]

CLUPEIFORMES

Pristigasteridae

Pellona flavipinnis – Apapá-branco

Pellona castelneana – Apapá-amarelo, peixe-ouro

[Espécies de Pristigasteridae são sardinhas superficialmente semelhantes aos Clupeidae, as

sardinhas verdadeiras. Pristigasteridae inclui sardinhas marinhas costeiras, distribuídas em todos

os oceanos tropicais e nas águas doces da América do Sul e do Sudeste Asiático.

Pristigasterídeos podem ser distinguidos externamente das sardinhas verdadeiras, por sua

nadadeira anal longa, com pelo menos 30 raios. Além disso, em quase todos os Pristigasterídeos,

a pequena nadadeira pélvica é marcadamente deslocada anteriormente, de modo que a ponta da

nadadeira peitoral atinge ou ultrapassa a vertical que passa pela base da nadadeira pélvica (de

Pinna & Di Dário, 2003). As duas espécies mais comuns e apreciadas pela pesca comercial dessa

família são o apapá-branco (Pellona flavipinnis), mais comum e abundante e que foi registrado

na região de Tucuruí, e o apapá-amarelo (Pellona castelneana), menos frequente.]

CHARACIFORMES

Prochilodontidae

Semaprochilodus taeniurus – Jaraqui

[Os membros da família Prochilodontidae são de tamanho moderado a grande (até 74 cm de

comprimento total) e podem ser distinguidos de outros peixes pelos seus lábios carnosos

equipados com duas séries de numerosos dentes pequenos, falciformes ou espatulados,

frouxamente inseridos nos lábios. Os lábios, quando protraídos, formam um disco oral

arredondado e circundado por dentes, que os peixes utilizam para explorar detritos e perifíton em

superfícies subaquáticas. A prevalência desses recursos em águas doces permanentes e na

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floresta periodicamente inundada (Goulding et al, 1988) é provavelmente responsável pela

abundância de Prochilodontidae na região Neotropical. Como consequência do hábito de se

alimentar de detritos e de suas grandes populações, os Prochilodontidae possuem um importante

papel no fluxo de energia nos sistemas aquáticos que habitam (Winemiller, 1996) sendo

funcionalmente dominantes e alguns ecossistemas aquáticos. Espécies de Prochilodontidae

fazem migrações massivas associadas com alimentação e reprodução, com alguns indivíduos

viajando pelo menos 1.500 km entre locais de marcação e recaptura. Prochilodontidae são

famosos pela sua habilidade de ultrapassar obstáculos encontrados durante a migração com

natação vigorosa e saltos dramáticos de vários metros (Castro & Vari, 2003).

Membros de Prochilodontidae são muito importantes na pesca comercial e de

subsistência em toda a área de ocorrência da família. No baixo rio Negro, mais de 90% da pesca

comercial consiste de duas espécies de Semaprochilodus (Goulding, 1988) e os Prochilodontidae

estão se tornando progressivamente mais importantes na pesca comercial na porção central da

bacia Amazônica (Ribeiro & Petrere, 1990).]

Anostomidae

Leporinus agassizi – Aracu-branco

Leporinus fasciatus – Aracu-flamengo

Schizodon fasciatus – Aracu-flamengo

[Os Anostomidae se distinguem de todos os demais Characiformes pela presença de uma única

série de três ou quatro dentes em cada premaxila ou dentário, dispostos em escada. A maxila é

pequena e excluída da borda da boca. Espécies desta família são amplamente distribuídos do sul

da América Central até as regiões sub-tropicais da América do Sul. Os Anostomidae são todos

fusiformes e incluem espécies que variam de 10 a 80 cm de comprimento. Muitas espécies são

conhecidas pelo seu hábito de se alimentar em posição inclinada e constituem uma porção

significativa da biomassa de peixes em diversos hábitas aquáticos. Graças a posição variável da

sua boca e longos intestinos, os Anostomidae são eficientes em utilizar esponjas, detritos, insetos

e itens vegetais como sementes, folhas e algas filamentosas. Algumas espécies de grande

tamanho dos gêneros Leporinus e Schizodon são conhecidos por fazer migrações reprodutivas na

bacia Amazônica. Por causa dessas migrações anuais, essas espécies são exploradas pela pesca

comercial e de subsistência como um importante item na América do Sul (Garavello & Britski

2003).]

Characidae

Brycon falcatus – Matrinxã [esp]

Myleus sp. – Pacu-branco

Myleus sp. – Pacu-listrado

Pygocentrus nattereri – Piranha-vermelha, piranha-caju [esp]

Serrasalmus rhombeus – Piranha-preta [esp]

[Por causa do tamanho extremamente grande da família Characidae e a sua natureza

extremamente heterogênea, as suas espécies são agrupadas em subfamílias. A subfamília

Serrasalminae tem corpo alto, comprimido lateralmente e com uma série de espinhos abdominais

na linha média e, exceto os gêneros Colossoma, Piaractu e Mylossoma, um espinho dirigido

anteriormente na frente da nadadeira dorsal. Algumas espécies possuem uma única fileira de

dentes em cada maxila – as piranhas. Esses dentes muito afiados e pontiagudos, tricúspides em

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Pygocentrus, Pristobrycon e Serrasalmus, e pentacúspides em Pygopristys. Em Acnodon,

Colossoma, Piaractus, Metynnis, Myleus, Mylossoma e Utiaritichthys – os pacus e tambaquis, os

dentes são molariformes e fortemente implantados nas maxilas, e principalmente usados para

quebrar frutos e sementes. Em Mylesinus, Ossubtus and Tometes – pacus de cachoeiras, os

dentes são incisiviformes e tricúspides, fracamente implantados e principalmente utilizados para

cortar folhas. As maiores espécies desse grupo chegam a 70 ou 80 cm de comprimento, e

pertencem aos gêneros Colossoma e Piaractus, e juntamente com Mylossoma, são considerados

como peixes de alta qualidade da América do Sul. Estas espécies são as mais importantes da

subfamília na pesca comercial e na piscicultura (Jégu, 2003).

As espécies da subfamília Bryconinae são peixes de tamanho médio a grande, com

espécies entre 15 e 70 cm de comprimento. Os Bryconinae não podem ser diagnosticados por um

conjunto único de caracteres, mas a combinação de três fileiras de dentes na premaxila, a

presença de dentes maiores na fileira interna, e a presença de um dente sinfiseal atrás da fileira

principal de dentes são incomuns entre os demais Characidae. As espécies de Brycon são

importantes na pesca por toda a América do Sul e Central. Algumas espécies são importantes em

pescarias comerciais em muitas bacias hidrográficas e são também cultivados em vários países

da América do Sul. As espécies de Brycon são omnívoras, utilizando principalmente itens

alóctones como frutas, sementes e insetos. Estas espécies são conhecidas por fazer migrações

reprodutivas, algumas delas em grandes distâncias (Lima, 2003). Como outras espécies de

Brycon, a piabanha é um peixe altamente móvel e utiliza uma grande variedade de hábitats

incluindo o canal de grandes rios, floresta inundada, planícies de inundação e pequenos

tributários (Flávio Lima, Comunicação Pessoal).] A espécie não é abundante no médio rio

Negro, mas é apreciada pelos pescadores comerciais e esportivos.

Erythrinidae

Hoplias malabaricus – Traíra [esp]

[Os peixes da família Erythrinidae são caracterizados por possuir o corpo cilíndrico, nadadeira

caudal arredondada, nadadeira dorsal com 8 a 15 raios, nadadeira anal curta, com 10 ou 11 raios,

nadadeira adiposa ausente, e numerosos dentes no palato. As espécies de Hoplias são de

tamanho médio a grande, variando de 30 a 100 cm de comprimento. Eles são encontrados em

uma grande variedade de hábitats como lagos, lagoas, e pequenos e grandes rios, e são

relativamente importantes como alimento em muitas regiões da América do Sul (Oyakawa,

2003). São espécies residentes (não migradoras) que depositam seus ovos em ninhos de

vegetação em locais rasos e os cuidam até a eclosão.]

SILURIFORMES

Loricariidae

Pterygoplichthys gibbiceps – Acari-bodó

[Os Loricariidae, ou cascudos e acaris, como são popularmente conhecidos, constituem a maior

família de bagres na região Neotropical e, de fato, no mundo. Atualmente, mais de 800 espécies

são reconhecidas e várias novas espécies são descritas a cada ano. Loricariídeos são distribuídos

ao longo da região neotropical, desde a Costa Rica ao norte de Argentina. A grande maioria das

espécies é encontrada no lado oriental dos Andes, e habitam praticamente todos os tipos de

ambientes aquáticos do continente. Os loricariídeos são principalmente herbívoros, raspadores de

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perifíton, com espécies de hábitos diurnos e outras de hábito noturno. Os loricariídeos são

ovíparos e, com raras exceções, colocam poucos ovos adesivos e apresentam cuidados parentais,

cuidando dos ovos e dos estágios iniciais da prole.] Loricariídeos apresentam diversos tipos de

interesses econômicos, uma vez que várias espécies são suficientemente grandes para serem

importantes para a alimentação, como o acarí-bodó do rio Negro, enquanto que outras são

importantes no comércio de peixes ornamentais, como as espécies de Otocinclus, Peckoltia,

entre outros do médio Negro.

Pimelodidae

Brachyplatystoma filamentosum – Piraíba, filhote [esp]

Brachyplatystoma rousseauxii – Dourada [esp]

Brachyplatystoma vaillantii – Piramutaba

Phractocephalus hemiolioterus – Pirarara [esp]

Pinirampus pirinampu – Piranambu, barbado, barba-chata

Pseudoplatystoma punctifer – Surubim [esp]

Zungaro zungaro – Jaú

[Ainda que os Pimelodidae não possuam uma única característica visível externamente, seus

membros podem ser identificados dentre outros Siluriformes Sul Americanos por uma

combinação de características: pele nua (poucas espécies possuem ossículos da linha lateral

levemente aumentados), canais laterosensoriais cutâneos ramificados, teto do crânio nunca

coberto por musculatura epaxial e sua pele usualmente fina, e ossos do teto do crânio

ornamentados com quilhas estriadas, pequenos tubérculos, ranhuras e nunca lisos. Os adultos de

muitos Pimelodidae situam-se na faixa de tamanho entre 20 e 80 cm de comprimento, mas

existem tamanhos extremos na família como por exemplo a piraíba, ou filhote

(Brachyplatystoma filamentosum), que atinge mais de 2 m de comprimento. A maioria dos

Pimelodidae são carnívoros ou omnívoros que consomem grandes números de pequenos peixes

ou invertebrados. Algumas espécies, como as do gênero Brachyplatystoma (piraíba, dourada,

piramutaba), são predadores de natação ativa, enquanto que outros como os Pseudoplatystoma

parecem ser mais sedentários, usando uma estratégia de ficar parados e esperar pelas presas.

Algumas espécies de Brachyplatystoma fazem longas migrações reprodutivas rio acima na bacia

Amazônica, as vezes de milhares de quilômetros. As larvas e juvenis dessas espécies flutuam rio

abaixo na estação de cheia até as áreas de planícies de inundação onde crescerão. Os

Pimelodidae habitam uma grande variedade de hábitats desde pequenos rios até grandes rios de

água branca, preta ou clara, como também lagos, onde eles estão entre os peixes mais

abundantes. Muitas espécies grandes de Pimelodidae, como Brachyplatystoma spp. e

Pseudoplatystoma spp., são recursos alimentarem muito importantes na maior parte da América

do Sul tropical, estando já sobreexplotadas em alguns lugares. Varias espécies de Sorubim e

Pimelodus são populares na indústria de peixes ornamentais enquanto outros como

Phractocephalus hemiolioterus e Brachyplatystoma tigrinus alcançam altos preços no mercado

de espécies ornamentais (Lundberg & Littmann 2003).]

Várias espécies desta família estão presentes na pesca da região do médio rio Negro, com

destaque para a piraíba e a pirarara, entre os grande bagres.

Auchenipteridae

Trachycorystes trachycorystes – Anujá

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[Membros desta família podem ser facilmente reconhecidos por possuir a região pré-dorsal do

corpo coberta por placas ósseas suturadas entre si e visíveis através de uma fina pele, barbilhão

nasal ausente, nadadeira adiposa pequena, mas raramente ausente, olho coberto por tecido

adiposo e sem uma margem orbital distinta. Os Auchenipteridae são únicos entre os bagres em

ao menos um aspecto da sua biologia reprodutiva – todas as espécies apresentam fertilização

interna e as fêmeas não necessariamente expelem os seus ovos imediatamente após a fertilização.

Em vez disso, carregam óvulos maduros, porém não fecundados, e pacotes de esperma dentro do

seu trato reprodutivo, por certo período de tempo, antes de iniciar a fecundação e liberação dos

ovos. Este comportamento presumivelmente permite que a fêmea tenha tempo de procurar um

local adequado para desovar após a fertilização. Os Auchenipteridae são tipicamente noturnos,

apesar de que espécies de Auchenipterus, Ageneiosus e alguns Centromochlus parecem

alimentar-se ativamente durante o dia. A maioria das espécies que tiveram seus hábitos

alimentares estudados se alimenta de insetos, especialmente aqueles que caem na superfície da

água. Algumas espécies da família, como por exemplo as do gênero Auchenipterus são

planctívoros, enquanto que espécies de Ageneiosus são primariamente piscívoros. Os maiores

Auchenipteridae são do gênero Ageneiosus, cujas maiores espécies chegam a cerca de meio

metro de comprimento. Umas poucas espécies desta família são exportadas como peixes

ornamentais (Ferraris, 2003).] Apesar de ser muito apreciado para o consumo, nenhuma espécie

mandubé (Ageneiosus) foi registrado no médio rio Negro. O anujá, por outro lado, é

relativamente comum e, apesar do tamanho médio a pequeno, é muito apreciado pelos moradores

de Barcelos.

PERCIFORMES

Sciaenidae

Plagioscion squamosissimus – Pescada [esp]

[A família Sciaenidae inclui cerca de 78 gêneros e 300 espécies que habitam primariamente o

ambiente marinho. Seis gêneros, entretanto, são restrito a ambientes de água doce, podendo

também ocorrer em estuários. Entre estes, o gênero Plagioscion é endêmico dos rios da América

do Sul e suas espécies são conhecidas localmente como corvinas ou pescadas. As espécies de

Plagioscion são piscívoras e são encontradas principalmente em grandes rios, onde suportam

importantes pescarias comerciais e esportivas (Casatti, 2003).]

Cichlidae

Astronotus ocelatus – Acará-pirarucu, acará-açu

Cichla orinocensis – Tucunaré-açu [esp]

Cichla nigromaculata – Tucunaré-tauá [esp]

Cichla temensis – Tucunaré-paca [esp]

Uaru amphiacanthoides – Acará-baré

[Os Cichlidae representam a maior família de peixes de água doce não-Ostariophysii em

ambientes de água doce de todo o mundo e uma das maiores famílias de vertebrados com pelo

menos 1.300 espécies e estimativas se aproximando de 2.000 espécies. Na América do Sul

existem cerca de 480 espécies. Os Cichlidae são reconhecidos por vários caracteres

evolutivamente derivados, especialmente da sua anatomia óssea, mas podem ser facilmente

reconhecidos por possuir a linha lateral dividida em dois segmentos. A maioria das espécies

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dessa família varia entre 5 e 20 cm de comprimento, mas alguns tucunarés podem alcançar até 1

m de comprimento. A maioria dos Cichlidae neotropicais ocupa hábitats lênticos em rios e

riachos, e se alimenta de uma variedade de invertebrados e matérias vegetais. Espécies de alguns

gêneros como Cichla, Crenicichla, Petenia e Astronotus, entre outros, se alimentam de peixes e

grandes invertebrados. A maioria dos Cichlidae neotropicais são moderadamente a fortemente

dimórficos sexualmente, e se reproduzem em pares. Ovos são tipicamente depositados no

substrato e ambos os pais guardam os juvenis por várias semanas. Por causa da diversidade de

comportamento e coloração usualmente atrativa, os Cichlidae são comumente exportados como

peixes ornamentais. A pesca esportiva é concentrada nos tucunarés, para os quais existe um forte

mercado incluindo safáris e concursos de pesca, predominantemente no norte do Brasil. Todas as

espécies de grande porte são utilizadas como alimento, com uma tradicional pesca artesanal e de

subsistência. Praticamente todos os mercados na Amazônia brasileira corriqueiramente oferecem

espécies de Cichla, Astronotus e outras espécies maiores de 10-15 cm que sejam disponíveis.

Espécies de Astronotus e, ainda de forma incipiente, Cichla, são utilizadas para aquacultura no

Brasil (Kullander, 2003).] Das três espécies de tucunarés ocorrentes no médio rio Negro, o

tucunaré-açu e o tucunaré-tauá são bastante abundantes, e o tucunaré-paca é medianamente

abundante. Essas três espécies estão sujeita a uma grande pressão de pesca, comercial ao longo

do ano e, especialmente, esportiva, entre os meses de agosto e fevereiro.

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Figura 9. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial ou esportiva na região do médio

rio Negro. A) Anuanã; B) Jaraqui; C) Aracu-flamengo (Schizodon); D) Aracu-branco; E) Aracu-flamengo

(Leporinus); F) Matrinxã; G) Pacu-branco; H) Piranha-preta; I) Pacu-listrado; J) Traíra; K) Surubim; L) Piranambu;

M) Anujá. Fotos: Roberto Reis.

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Figura 10. Espécies de peixe que representam os principais alvos da pesca comercial ou esportiva na região do

médio rio Negro. N) Pescada; O) Acará-açu; P) Tucunaré-tauá; Q) Tucunaré-açu; R) Tucunaré-paca; S) Tucunaré-

paca; T) Acará-baré; U) Jaboti em casa de pescador; V) Caixa de pescado puxada por motocicleta em Barcelos.

Fotos: Roberto Reis.

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Figura 11. Reprodução de folheto das espécies de peixe ornamentais capturados no rio Negro, de acordo com o

Projeto Piaba. Veja lista das espécies com nomes corrigidos e em classificação no Apêndice II.

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Figura 12. Reprodução de folheto das espécies de peixe ornamentais capturados no rio Negro, continuação.

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IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APÊNDICE I. Lista das espécies de importância na pesca comercial, identificadas nos pontos de

venda de pescado em Barcelos. Peixes com importância na pesca esportiva são marcados

com [esp]. Os peixes estão classificados de acordo com Reis et al. (2003).

Actinopterygii

OSTEOGLOSSIFORMES

Osteoglossidae

Osteoglossus bicirrhosum – Aruanã

Osteoglossus ferreirai – Aruanã-preto

CLUPEIFORMES

Pristigasteridae

Pellona flavipinnis – Apapá-branco

Pellona castelneana – Apapá-amarelo, peixe-ouro

CHARACIFORMES

Prochilodontidae

Semaprochilodus taeniurus – Jaraqui

Anostomidae

Leporinus agassizi – Aracu-branco

Leporinus fasciatus – Aracu-flamengo

Schizodon fasciatus – Aracu-flamengo

Characidae

Brycon falcatus – Matrinxã [esp]

Myleus sp. – Pacu-branco

Myleus sp. – Pacu-listrado

Pygocentrus nattereri – Piranha-vermelha, piranha-caju [esp]

Serrasalmus rhombeus – Piranha-preta [esp]

Erythrinidae

Hoplias malabaricus – Traíra [esp]

SILURIFORMES

Loricariidae

Pterygoplichthys gibbiceps – Acari-bodó

Pimelodidae

Brachyplatystoma filamentosum – Piraíba, filhote [esp]

Brachyplatystoma rousseauxii – Dourada [esp]

Brachyplatystoma vaillantii – Piramutaba

Phractocephalus hemiolioterus – Pirarara [esp]

Pinirampus pirinampu – Piranambu, barbado, barba-chata

Pseudoplatystoma punctifer – Surubim [esp]

Zungaro zungaro – Jaú

Auchenipteridae

Trachycorystes trachycorystes – Anujá

PERCIFORMES

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Sciaenidae

Plagioscion squamosissimus – Pescada [esp]

Cichlidae

Astronotus ocelatus – Acará-pirarucu, acará-açu

Cichla orinocensis – Tucunaré-açu [esp]

Cichla nigromaculata – Tucunaré-tauá [esp]

Cichla temensis – Tucunaré-paca [esp]

Uaru amphiacanthoides – Acará-baré

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APÊNDICE II. Lista das espécies de importância na pesca de peixes ornamentais do rio Negro,

de acordo com o Projeto Piaba. Os peixes estão classificados de acordo com Reis et al.

(2003).

Chondrichthyes

MYLIOBATIFORMES

Potamotrygonidae

Paratrygon aireba – Arraia

Potamotrygon schroederi – Arraia

Potamotrygon motoro – Arraia

Actinopterygii

OSTEOGLOSSIFORMES

Osteoglossidae

Osteoglossus bicirrhosum – Aruanã

Osteoglossus ferreirai – Aruanã-preto

CHARACIFORMES

Anostomidae

Pseudanos trimaculatus – Anóstomos

Leporinus fasciatus – Aracuzinho

Chilodontidae

Chilodus gracilis – Xilodo

Crenuchidae

Crenuchus spilurus – Cabocão

Characidium sp. – Canivete

Hemiodontidae

Hemiodus gracilis – Cruzeiro

Gasteropelecidae

Carnegiella marthae – Borboleta branca

Carnegialle strigata – Borboleta rajada

Characidae

Bryconops caudomaculatus – Bricon

Bryconops sp. – Bricon negro

Brittanichthys axelrodi – Britanictis

Catoprion mento – Catalina

Chalceus macrolepidotus – Ararí

Exodon paradoxus – Miguelzinho

Hemigrammus bleheri – Rodóstomo

Hemigrammus vorderwinkleri – Piaba olho vermelho

Hemigrammus sp. – Piaba dourada

Hemigrammus sp. – Piaba linha dourada

Hemigrammus sp. – Piaba brava

Hemigrammus sp. – Rabo de fogo

Hemigrammus sp. – Meio rabo de fogo

Hyphessobrycon bentosi – Rosáceus pingo amarelo

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Hyphessobrycon copelandi – Rosáceus brava

Hyphessobrycon erythrostigma – Rosáceus pingo de sangue

Hyphessobrycon socolofi – Rosáceus

Metynnis sp. – Pacu

Moenkhausia cotinho – Piaba brava

Moenkhausia sp. – Piaba vermelha

Paracheirodon axelrodi – Cardinal

Paracheirodon simulans – Neon, neon verde

Poecilocharax weitzmani – Tetra ouro

Pristobrycon sp. – Piranha xidawa

Serrasalmus rhombeus – Piranha-preta

Tucanoichthys tucano – Tucano

Erythrinidae

Hoplerythrinus unitaeniatus – Jeju

Lebiasinidae

Copeina guttata – Copeina

Copella nattereri – Copela

Nannostomus unifasciatus – Lápis

Nannostomus bifasciatus – Lápis

Nannostomus trifasciatus – Lápis

Nannostomus marginatus – Lápis

Nannostomus eques – Lápis

Pyrrhulina semifasciata – Pirrulina

SILURIFORMES

Cetopsidae

Cetopsis sp. – Candirú açu

Helogenes marmoratus – Orelinha

Aspredinidae

Bunocephalus sp. – Bodó banjo

Trichomycteridae

Vandellia cirrhosa – Candiru

Callichthyidae

Corydoras adolphi – Coridora adolfi

Corydoras burguessi – Coridora burgesa

Corydoras davidsansi – Corudora david

Corydoras melini – Coridora melini

Corydoras nijsseni – Coridora nijsseni

Corydoras parallelus – Coridora paralelos

Corydoras robineae – Coridora robine

Corydoras schwartzi – Coridora schwartz

Corydoras sp. – Coridora ascher

Loricariidae

Ancistrus sp. – Bodó luminol

Farlowella sp. – Farlowela

Hypostomus sp. – Bodó

Otocinclus sp. – Limpa vidro

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Peckoltia vittata – Bodó zebra amarelo

Peckoltia sp. – Bodó mapa

Pseudoacanthicus sp. – Bodó espinho

Pseudoacanthicus sp. – Bodó jauari

Pterygoplichthys gibbiceps – Bodó onça

Rineloricaria sp. – Bodó cachimbo

Sturisoma rostratum – Bodó cachimbo

Pimelodidae

Pimelodus blochii – Mandi dourado

Doradidae

Amblydoras sp. – Reco reco

Acanthodoras spinosissimus – Vaca leiteira

Auchenipteridae

Centromochlus existimatus – Mandi peruano

Liosomadoras oncinus – Anujá onça

Tatia intermedia – Tatia

GYMNOTIFORMES

Rhamphychthyidae

Eigenmannia virescens – Sarapó transparente

Apteronotidae

Apteronotus albifrons – Ituí cavalo

CYPRINODONTIFORMES

Poeciliidae

Fluviphylax zonatus – Olho-de-vidro

PERCIFORMES

Polycentridae

Monocirrhus polyacanthus – Peixe folha

Cichlidae

Acarichthys heckelii – Acará branco

Aequidens tetramerus – Aequidens

Apistogramma agassizii – Apistograma agassiz

Apistogramma diplotaenia – Apistograma diplotaini

Apistogramma elizabethae – Apistograma Elizabete

Apistogramma gephyra – Apistograma gefira

Apistogramma gibbiceps – Apistograma gibicep

Apistogramma hypolitae – Apistograma hipolita

Apistogramma mendezi – Apistograma mendez

Apistogramma paucisquammis – Apistograma paucisquamis

Apistogramma pertence – Apistograma pertence

Astronotus ocelatus – Acará-pirarucu, Acará-açu

Biotodoma cupido – Acarazinho

Crenicichla notophthalmus – Jacundá

Discrossus filamentosus – Xadrez

Dicrossus sp. – Xadrez gigante

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Geophagus sp. – Geophagos

Heros severus – Acará peneira

Hypselecara coryphaenoides – Acará papagaio

Ivanacara adoketa – Nanacara

Laetacaar sp. – Letacara

Mesonauta insignis – Acará bauari

Pterophyllum altum – Acará bandeira

Symphysodon discus – Acará disco

Satanoperca lilith – Papaterra

Uaru amphiacanthoides – Acará-baré, bararuá

PLEURONECTIFORMES

Achiridae

Hypoclinemus mentalis – Soia

TETRAODONTIFORMES

Tetraodontidae

Colomesus asellus – Baiacu