ponto final ed 23

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A presença marcante da música é hoje uma das principais características do movimento da Renovação Carismática Católica Brasi- leira. As letras das canções executadas nos grupos de louvor evocam sentimentos e o ritmo mais animado tem contribuído direta e indiretamente para atrair novos participantes às ce- lebrações católicas. Neste contexto, grupos musicais religiosos, como o Adonai, de Piracicaba, ampliam seu público e ainda utilizam a Internet e as mídias sociais para divulgarem o seu tra- balho. Um dos resultados mais importantes é o enga- jamento dos jovens nestas comunidades e movimen- tos espirituais. Página 4 ALAVANCA VIRTUAL, ARTE E TECNOLOGIA - Página 2 Assessorias de imprensa mudam formas de construção da notícia As redações de jornais, revistas e emissoras de rá- dio e TV recebem a cada dia mais informações pro- duzidas por asses- sorias de impren- sa. São releases e avisos de pauta produzidos por empresas e setores de organizações públicas e privadas especializados em identificar notícias sobre seus clientes que possam ga- nhar espaço na im- prensa. No Brasil o serviço já está incorporado às rotinas do jornalismo desde a segunda metade do século passado, mas vem se amplian- do nos últimos anos, sobretudo a partir dos espaços de comu- nicação criados pela internet e suas mídias sócias. Jornalistas assessores de imprensa, edito- res e especialistas analisam essa tendência. Página 6 O JORNALISMO ENTRE DEMANDAS PúBLICAS E A FORMAçãO PROFISSIONAL Página 2 OPINIÃO EXTENSÃO Projeto Rondon promove ações de cidadania no interior do país Levar conhecimento e pro- mover ações sócio-educativas em municípios carentes do Brasil. Este é um dos principais objetivos do Projeto Rondon, coordenado pelo Ministério da Defesa, que em julho deste ano possibilitou a permanência de um grupo de estudantes da Unimep durante 15 dias na cidade de Amapá (AP), no extremo norte do país. A estu- dante de jornalismo Cynthia da Rocha integrou o grupo e relata a experiência. Demons- tra que a iniciativa promove ci- dadania, contribui para formar profissionais mais conscientes do seu papel na sociedade bra- sileira e, principalmente, ajuda estes estudantes “rondonistas” a entenderem melhor este país imenso e diverso que é o Brasil. Página 7 INTERCÂMBIO A estudante Suzana Carras- cosa Storolli está no México desde o início deste ano, onde teve a oportunidade de cursar um semestre na Umad (Univer- sidad Madero), na cidade de Puebla. O aluno Arthur Belotto passou o primeiro semestre nos Estados Unidos, no Marietta College, em Ohio. Os dois são estudantes de Jornalismo da Unimep e ficaram esta temporada no exterior graças ao Programa de Intercâmbio da universidade, que a cada ano possibilita a discentes de diversas áreas a oportunidade de convivência com outras cul- turas e instituições de ensino do exterior. A experiência é importantíssima para todas as profissões, mas particularmen- te enriquecedora para futuros jornalistas. Página 7 Estudantes de jornalismo passam temporada nos EUA e no México Música atrai fiéis para o movimento carismático Grupos de louvor estimulam sentimento, experiências de fé, e cativam os jovens Crianças despertam para a importância da sustentabilidade e defesa do meio ambiente Karla Gigo Morato Karla Gigo Morato O FUTURO EM BOAS MÃOS Impressão do Jornal de Piracicaba: produção da notícia envolve processo complexo e que requer responsabilidade Homem do século XXI partilha responsabilidades com a mulher Mudanças sutis, como o cuidado com a aparência, a presença em reuniões escola- res, e o interesse pela culinária têm sido observadas no com- portamento dos homens ao longo das últimas décadas. Na tentativa de denominar este novo homem que se mostra na atualidade são cunhados ter- mos como metrossexualidade, mas o fenômeno é mais amplo e envolve dimensões culturais, sociais e econômicas. Novos valores e atitudes ajudam a compor nova identidade masculina A nova identidade masculi- na permite espaço para os no- vos “donos de casa” e também para pais solteiros que assumem ativamente a responsabilidade pela guarda e educação dos filhos. Analistas do comporta- mento humano divergem sobre o significado das mudanças. Enquanto para uns trata-se do reflexo de um novo contexto histórico, para outros, não passa de uma adesão a um novo nicho mercadológico. Página 5 A conscien- tização sobre a necessidade de preservação am- biental é um dos principais desa- fios da sociedade contemporânea e o alvo princi- pal são as crian- ças. Na escola, em casa ou nos espaços de lazer muitas delas já fazem a diferença e se envolvem em ações concretas de susten- tabilidade. Criticam comportamentos antie- cológicos dos adultos, fiscalizam e empregam toda sua energia, cria- tividade e ‘autoridade’ para ajudar a construir um futuro melhor em termos ambientais. Página 3 LEIA TAMBÉM Mensagens de amor são marca das canções que animam as celebrações da renovação Vinicius Boer Laura, 11, impede que os pais usem sacolas plásticas em supermercado Antigas barbearias se sofisticam e agora são verdadeiros “salões de beleza” Bruno Bianchim Martim A estudante Cynthia da Rocha na comunidade de Bicudinho: Arara Vermelha e o Brasil de verdade Arquivo pessoal Fotos: Arquivo pessoal Fortunato Losso Netto 1910 - 1985 pontofinal Projeto Experimental dos alunos do 8º semestre de Jornalismo da UNIMEP Sábado, 19 de novembro de 2011

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Projeto Experimental dos alunos de Jornalismo da Unimep - Novembro de 2011

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Page 1: Ponto Final ed 23

A presença marcante da música é hoje uma das principais características do movimento da Renovação Carismática Católica Brasi-leira. As letras das canções executadas nos grupos de louvor evocam sentimentos

e o ritmo mais animado tem contribuído direta e indiretamente para atrair novos participantes às ce-lebrações católicas. Neste contexto, grupos musicais religiosos, como o Adonai, de Piracicaba, ampliam seu

público e ainda utilizam a Internet e as mídias sociais para divulgarem o seu tra-balho. Um dos resultados mais importantes é o enga-jamento dos jovens nestas comunidades e movimen-tos espirituais. Página 4

AlAvAncA virtuAl, Arte e tecnologiA - Página 2

Assessorias de imprensa mudam formas de construção da notícia

As redações de jornais, revistas e emissoras de rá-dio e TV recebem a cada dia mais informações pro-duzidas por asses-sorias de impren-sa. São releases e avisos de pauta produzidos por empresas e setores de organizações públicas e privadas especializados em identificar notícias sobre seus clientes que possam ga-nhar espaço na im-prensa. No Brasil o serviço já está incorporado às rotinas do jornalismo desde a segunda metade do século passado, mas vem se amplian-do nos últimos anos, sobretudo a partir dos espaços de comu-nicação criados pela internet e suas mídias sócias. Jornalistas assessores de imprensa, edito-res e especialistas analisam essa tendência. Página 6

o jornAlismo entre demAndAs públicAs e A formAção profissionAl

Página 2

OPINIÃO

exteNsÃO

projeto rondon promove ações de cidadania no interior do país

Levar conhecimento e pro-mover ações sócio-educativas em municípios carentes do Brasil. Este é um dos principais objetivos do Projeto Rondon, coordenado pelo Ministério da Defesa, que em julho deste ano possibilitou a permanência de um grupo de estudantes da Unimep durante 15 dias na cidade de Amapá (AP), no extremo norte do país. A estu-

dante de jornalismo Cynthia da Rocha integrou o grupo e relata a experiência. Demons-tra que a iniciativa promove ci-dadania, contribui para formar profissionais mais conscientes do seu papel na sociedade bra-sileira e, principalmente, ajuda estes estudantes “rondonistas” a entenderem melhor este país imenso e diverso que é o Brasil. Página 7

INtercâmbIO

A estudante Suzana Carras-cosa Storolli está no México desde o início deste ano, onde teve a oportunidade de cursar um semestre na Umad (Univer-sidad Madero), na cidade de Puebla. O aluno Arthur Belotto passou o primeiro semestre nos Estados Unidos, no Marietta College, em Ohio. Os dois são estudantes de Jornalismo da Unimep e ficaram esta

temporada no exterior graças ao Programa de Intercâmbio da universidade, que a cada ano possibilita a discentes de diversas áreas a oportunidade de convivência com outras cul-turas e instituições de ensino do exterior. A experiência é importantíssima para todas as profissões, mas particularmen-te enriquecedora para futuros jornalistas. Página 7

estudantes de jornalismo passam temporada nos euA e no méxico

Música atrai fiéis para o movimento carismáticoGrupos de louvor estimulam sentimento, experiências de fé, e cativam os jovens

Crianças despertam para a importância da sustentabilidade e defesa do meio ambiente

Karla

Gig

o M

orat

o

Karla Gigo Morato

O futurO eM bOas MãOs

Impressão do Jornal de Piracicaba: produção da notícia envolve processo complexo e que requer responsabilidade

Homem do século XXI partilha responsabilidades com a mulher

Mudanças sutis, como o cuidado com a aparência, a presença em reuniões escola-res, e o interesse pela culinária têm sido observadas no com-portamento dos homens ao longo das últimas décadas. Na tentativa de denominar este novo homem que se mostra na atualidade são cunhados ter-mos como metrossexualidade, mas o fenômeno é mais amplo e envolve dimensões culturais, sociais e econômicas.

Novos valores e atitudes ajudam a

compor nova identidade masculina

A nova identidade masculi-na permite espaço para os no-vos “donos de casa” e também para pais solteiros que assumem ativamente a responsabilidade pela guarda e educação dos filhos. Analistas do comporta-mento humano divergem sobre o significado das mudanças. Enquanto para uns trata-se do reflexo de um novo contexto histórico, para outros, não passa de uma adesão a um novo nicho mercadológico. Página 5 A conscien-

tização sobre a necessidade de preservação am-biental é um dos principais desa-fios da sociedade contemporânea e o alvo princi-pal são as crian-ças. Na escola, em casa ou nos espaços de lazer muitas delas já fazem a diferença e se envolvem em ações concretas de susten-tabilidade. Criticam comportamentos antie-cológicos dos adultos, fiscalizam e empregam toda sua energia, cria-tividade e ‘autoridade’ para ajudar a construir um futuro melhor em termos ambientais.Página 3

leia também

Mensagens de amor são marca

das canções que animam as celebrações da

renovação

Vinicius boer

Laura, 11, impede que os pais usem sacolas plásticas em supermercadoAntigas barbearias se sofisticam e agora são verdadeiros “salões de beleza”

bruno bianchim Martim

A estudante Cynthia da Rocha na comunidade de

Bicudinho: Arara Vermelha e o Brasil de verdade

arquivo pessoalfotos: arquivo pessoal

Fortunato Losso Netto 1910 - 1985

pontofinalProjeto Experimental

dos alunos do 8º semestre de Jornalismo da

UnimEP

Sábado, 19 de novembro de 2011

Page 2: Ponto Final ed 23

2 sábado, 19 de novembro de 2011pontofinal

acesse nossos sites:

JORNaliSmO é Na UNimeP 31 anos de ensino de qualidade

Conceito 4 no Enade/MEC

3 mil metros quadrados de laboratórios

4 estrelas no Guia do Estudante em 2011, 2010 e 2009

Curso Premiado na Semana Estado de Jornalismo e Expocom

Convênios, parcerias e estágios em empresas de comunicação da região

Programas de Intercâmbio Internacional

Produção em jornal impresso, revista, rádio, televisão e internet

informações: (19) 3124.1676

unimep.br/jornalismo | soureporter.com.br | jornalunimep.blogspot.com

* Paulo RobeRto botão

Em dezembro próximo o Curso de Jornalismo da Unimep forma a sua 34ª turma e há 23 anos a conclusão

dos estudos para estes futuros jornalistas inclui a confecção do Ponto Final. O jornal integra as produções feitas pela turma com vistas à participação no Prêmio Losso Netto de Jornalismo, oferecido pelo Jornal de Pi-racicaba, que terá os vencedores de sua 23ª etapa anunciados no dia 2 de dezembro.

A produção do Ponto Final envolve re-portagem, edição, fotografia, planejamento visual e produção de texto. O desafio é apresentar ao público um jornal impresso atraente, que seduza pela qualidade dos te-mas, que convide à leitura, pela forma com que estes temas são desenvolvidos e, mais importante, que provoque a reflexão sobre assuntos que fazem parte do cotidiano das pessoas e que são relevantes para a sua vida.

As três reportagens que concorrem ao Prêmio Losso Netto abordam dimensões destacadas da contemporaneidade: as relações entre crianças e preservação am-biental; as mudanças de comportamento e perfil do homem moderno; e o impacto da música sobre a religião.

Como complemento, relatos ricos da experiência de estudantes de jornalismo que, para qualificar sua formação, foram conhecer de perto realidades muito distin-tas: México, Estados Unidos e o Amapá, no norte do Brasil. Outro texto analisa mudanças provocadas no processo de produção da notícia graças à ampliação do espaço das assessorias de imprensa em organizações públicas e privadas dos mais variados tipos.

Nossa perspectiva é investir nas ex-periências de ensino que qualificam pro-fissionais ao jornalismo. Trata-se de um trabalho de educação, pois a universidade é espaço privilegiado de experimentação, de crítica, de reflexão, de inovação. É com este espírito que nos lançamos a cada final de ano à produção de mais um Ponto Final, que para os jornalistas que aqui estudam representa na verdade ponto de partida para uma futura carreira profissional.

* Jornalista, mestre em Comunicação Social, diretor editorial e de comunicação do FNPJ (Fórum Nacional de Professores de Jornalismo) e coordenador do Curso de Jornalismo da Unimep

* belaRmino CesaR GuimaRães da Costa

Filósofo da Antiguidade Clássica, Arquime-des de Siracusa formulou o juízo de que bastaria ter uma alavanca para que pudes-

se mover o mundo, num momento da história da humanidade de pouca distinção entre ciência, arte, e religião. As ondas de conhecimento ao longo do tempo, tendo como eixo a racionali-dade da produção industrial e da passagem do real para o virtual, fez com que prevalecesse a cultura do fragmentário e do uso instrumental da tecnologia. O princípio da separação entre tecnologia e destino humano culminou com atrocidades extremadas ao longo do século passado para cá, sendo que paradoxalmente a ci-vilização passa a alcançar estágios adiantados de substituição do trabalho humano pela máquina e de surgimento de mediações tecnológicas que ampliam fluxos de informação e de capacidade de interação e mobilização.

As alavancas tecnológicas que permitem melhor compreensão do homem sobre os fe-nômenos da natureza, da história e sobre seu corpo e sua existência, ultrapassaram os limiares da percepção imediata e inventariam mundos desconhecidos e que, no campo da virtualidade, representam uma passagem de época. Ou seja, as tecnologias digitais que modificam formas de memória, representação do real e atuam nas esferas da linguagem e da comunicação descentrada, planetária, e que são assimiladas nos momentos de acesso à informação e ao entretenimento, atuam nas transformações no mundo do trabalho, nas mediações nos espaços escolares e nas formas de convivência social. Suas rupturas, ainda não calculadas em termos de processo civilizatório, pois é recente seu apa-recimento, produzem ambivalências em termos

* séRGio luiz Gadini

O debate em torno da formação profis-sional em Jornalismo no Brasil passa, neste momento, por dois aspectos

fundamentais. O primeiro diz respeito ao re-cente questionamento da exigência de formação universitária, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal em junho de 2009. O segundo envolve a luta pela aprovação, junto ao Conselho Na-cional de Educação, de diretrizes especificas aos cursos de Jornalismo. É com base nestas duas variáveis que outras questões entram como importantes para discutir o assunto.

Não resta dúvida de que a interdisciplina-ridade deve ser compreendida como estratégia de formação, evitando descentramento do Jornalismo como espaço e forma de produção intelectual nas sociedades complexas da con-temporaneidade.

Da mesma forma, a integração do caráter extensionista e investigador, constituinte da Universidade Brasileira, deve ser compreendi-da em sintonia com o ensino (profissionalizante e, simultaneamente, intelectual) do Jornalismo, perspectiva que só tende a fortalecer o proces-so de formação.

É ai que surge um desafio: mais que iden-tificar, e preciso encontrar formas de atender demandas sociais pelas especificidades de formação de profissionais e também pesquisa-dores em Jornalismo, com diálogos interdisci-plinares, forjando produções de fato centradas em jornalismo.

Eventuais falas sobre crise do Jornalismo, por exemplo, muito provavelmente, decorrem da incompreensão do fato de que algumas transformações da área indicam a falência de ´velhos´ modelos que, no Brasil, poderiam ser identificados por alguns diários que, ain-da, tentam se apresentar como ´grandes´. Os mesmos, aliás, que tentam - em parceria com algumas revistas semanais e redes de TV – in-dicar os rumos de gestão publica, na maioria das vezes, em defesa de interesses privados.

E o que os aproximadamente 350 cursos de graduação em Jornalismo do Brasil têm a ver com esta situação? A pergunta pode ser uma oportuna provocação aos estudantes (mais de 70 mil) e professores (acerca de 5,5 mil) que atuam em Jornalismo nas diversas regiões e estados do País.

Resta aos professores, estudantes e profis-sionais da área repensar as formas de identifica-ção de demandas sociais de mídia, reavaliando as outrora hegemônicas intervenções de gran-des grupos privados de comunicação. E, neste momento, uma das oportunas sugestões é se envolver nos debates sobre marco regulatório de mídia no Brasil. Esta demanda política, obviamente, em nada afronta as preocupações cotidianas da grande maioria da população, em especial por se tratar de um assunto de interesse coletivo. E, da forma como está, a comunicação não pode ficar neste País.

* Jornalista, doutor em Ciências da Comunicação, professor adjunto da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) e presidente do FNPJ (Fórum Nacional de Professores de Jornalismo)

EXPEDIENTE - Ponto Final: Órgão laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba). Reitor: Clóvis Pinto de Castro – Diretor da Faculdade de Comunicação: Belarmino Cesar Guimarães de Costa. Coordena-dor do Curso de Jornalismo: Paulo Roberto Botão – Orientador e Editor Responsável: Paulo Roberto Botão (MTB 19.585). Repórteres: Arthur Berto Be-lotto, Bruno Bianchim Martim, Cynthia Regina da Rocha Silva, Suzana Carrascosa Storolli, Karla Gigo Morato, Vinicius Bôer Barbosa. Produção Gráfica e Arte Final: Sérgio Silveira Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico). Ilustrações: Bruno Soa-res Formágio (Página 5) e Luana Beatriz dos Reis (Página 2), alunos do 2º semestre do Curso de Design da Unimep, sob orientação do prof. Camilo Riani. Versão digital: soureporter.com.br. Corres-pondência: Faculdade de Comunicação – Campus Taquaral – Rodovia do Açúcar, Km 156 – Caixa Postal 68 – Telefone: (19) 3124.1676 – E-mail: [email protected] – Impressão: Jornal de Piracicaba.

Reflexão, crítica e inovação

O Jornalismo entre demandas públicas e a formação profissional

Alavanca virtual, arte e tecnologia

de afirmar valores relacionados à democracia e aos direitos humanos.

Além de seu uso na produção de condições inovadoras para a produção, lazer e informação, as tecnologias digitais e aquelas que permitem formas complexas de simbiose homem e má-quina, remetem também para uma discussão ética com relação à apropriação feita pelas corporações de mídia e pela indústria cultural. A lógica da concentração e a hierarquização de conteúdos permanecem na passagem das mídias tradicionais para o mundo digital, contudo este cria oportunidades para ação política, estética e suscita tensões no campo da linguagem que podem resultar experiências formativas.

No campo da videoarte e das produções estéticas que se utilizam de suportes digitais e da linguagem da rede, cuja perspectiva é mover as sensações e potencializar o juízo interpretativo, com a incorporação de materiais não tradicio-nais, suscitando a participação do observador, e sua mediação construtiva, encontramos opor-tunidades para vivenciar uma espécie de novo Renascimento, qual seja, da transversalidade presente no meio técnico e na sua ocupação pela arte e pela vida. Em outras palavras, tal como na filosofia de Arquimedes, matemático, astrôno-mo, físico, ser inquientante frente às forças da natureza e de sua mente, como na de Leonardo da Vinci, há uma possibilidade imanente nas te-nologias modernas, a de recombinarem ciência e arte, vida e transcendência, pois em cada artefato/ferramenta coexistem múltiplas descobertas, em temporalidades das diversas na história e com a competência de ser uma alavanca para mover e descobrir o mundo e a si mesmo.

* Jornalista, doutor em educação e diretor da Facul-dade de Comunicação da Unimep

Page 3: Ponto Final ed 23

sábado, 19 de novembro de 2011 pontofinal 3

KaRla GiGo [email protected]

Eduardo Henrique Casa-grande Silva tem apenas 7 anos, mas já recicla o

lixo e briga constantemente com seus familiares quando esquecem as luzes acesas ou deixam a água escorrendo sem necessidade. “Se deixarmos a torneira aberta os peixes no rio ficam sem água”, denuncia o jovem ambientalista.

A prática da sustentabilida-de já é compartilhada com o irmão, André Henrique Casa-grande Silva, de apenas um ano. “Vou ensinar para ele tudo o que eu sei, como, por exemplo, que temos que tomar cuidados para não deixar o lápis de cor cair muito no chão, porque cada vez que apontamos mais árvores são usadas”, ressalta.

A atitude de Eduardo não é um caso isolado de criança eco-logicamente correta. Cada vez mais cedo elas têm adotado prá-ticas sustentáveis. E o estímulo para esta consciência ambiental pode partir dos próprios pais, familiares, amigos e da escola.

Claudia Maria Alves de Oliveira, encarregada de de-partamento de pessoal e mãe de Gabriel Alves Machado de Oliveira, de 9 anos, já ‘levou pito’ do filho. “Certa vez eu sem querer joguei um papel para fora do carro. O Gabriel virou pra mim e disse: ‘não mamãe, você não pode jogar, porque vai para o rio e polui’. Ele tinha apenas quatro anos quando isso aconteceu”, conta.

E a opinião sustentável e postura de Gabriel também estão presentes nas atitudes da estudante da 5ª série Mirian Estela Rodrigues, de 11 anos. Ela e sua avó controlam o tem-po de banho de todos da casa, onde moram cinco pessoas. E a estudante justifica: “Eu vi na es-cola os rios transbordando, pois estavam entupidos de sujeira. Aquela imagem ficou na minha cabeça e então eu resolvi tomar uma atitude”.

Estas situações, segundo o jornalista Heródoto Barbeiro, da rádio CBN Notícias, mos-tram que “a educação não se resume à sala de aula, e sim ao espaço aonde você exerce a cidadania”. E hoje em dia são muitos e diversos os espaços nos quais o tema pode ganhar destaque.

O MSN, serviço de mensa-gens instantâneas do Hotmail, serviu como incentivo para

susteNtabIlIdade

POstura CrítiCa e autONOMia deterMiNaM atitudes eM defesa dO MeiO aMbieNte

Um dos grandes desafios na área da educação ambiental é produzir e di-fundir informação de qualidade e, na opinião do jornalista e escritor José Pedro Martins, a mídia hoje ocupa papel de destaque neste cenário. “A responsabilidade que os meios de comunicação têm na formação do cidadão é muito grande, pois desenvolvem o senso critico das pessoas. Isso acontece ainda mais com os jovens, que ainda estão

formando a opinião em relação a vários assuntos”, avalia Martins.

A televisão é o veículo de maior influência, como diz o jornalista

Heródoto Barbeiro: “A televisão tem o papel até mais relevante que outras

plataformas. Ela é o grande veículo de comunicação do século 20, e não estou falando do século 21, pois este é da internet. Todos os lares brasileiros têm televisão. O brasileiro assiste uma quantidade de horas de televisão maior que nos outros países do mundo”.

Mas, a questão não é somente de massificação da informação, e sim de qualificação, do contrário corre-se o risco inclusive de se desgastar certos conceitos. Martins adverte: “Hoje a sustentabili-dade virou uma palavra da moda. Hoje tudo é sustentável, assim como há alguns anos tudo era ecológico. É preciso ter um pouco de noção do que significa sustenta-bilidade e também ter muito cuidado com o que a gente fala, para que o conceito realmente seja transformador. No fundo trata-se de um desafio para as pessoas mudarem seu estilo de vida”.

A qualidade da informação também é ressaltada pelo jornalista André Tri-gueiro, um dos principais especialistas do país em jornalismo ambiental. Em sua opinião, o envolvimento com o tema também pressupõe certo grau de engajamento. “Ser bem informado com relação ao meio ambiente, significa estar preocupado”, enfatiza.

Para a coordenadora de educação ambiental do consórcio PCJ, Andréa Borges, a mídia é essencial para a for-mação do jovem. “Hoje se fala muito de ‘educomunicação’, que é toda essa parte de como a comunicação tem a ver com a nossa educação, e eu acho que tem tudo a ver. Esse papel de formigui-nha, em que cada um faz a sua parte, e a mídia tem como fortalecer.”

Laura Lopes, de 11 anos. Após ver mensagem sobre o desma-tamento no país e a quantidade de animais que morriam em virtude disto, mudou seu com-portamento. “Antes eu achava que isso era coisa para os adul-tos se preocuparem. Hoje eu não deixo meus pais fazerem compras utilizando sacolas plásticas”, enfatiza.

Laura levou a iniciativa tão a sério que montou um projeto e apresentou para um grupo de amigas de sua turma na escola. Giovanna Coelho, Ana Carolina de Melo, Carolina Baltieri e Lavínia Bettoni fo-ram ‘convocadas’ a ajudar. Da preocupação de Laura surgiu o Projeto Ajudando o Nosso Planeta (Panp), que levou à pro-dução e divulgação, na escola, de cartazes com informações e imagens ligadas ao desmata-mento, filhotes de animais sem mães, em perigo ou mesmo em extinção; reciclagem do lixo, entre outros assuntos.

“Com certeza a nossa inicia-tiva surtiu resultados e isso ficou nítido no nosso colégio. O pátio ficou mais limpo após os inter-valos. Antes a quantidade de lixo era muito maior”, avalia Lavínia.

Além de pôr em prática a atitude sustentável na escola, as meninas do Panp aplicaram os novos hábitos em casa e mudaram a rotina dos pais. “Minha mãe usava saquinhos plásticos para carregar as com-pras do supermercado. Agora ela usa caixas de papelão que o supermercado oferece. Até os óleos de cozinha usados são encaminhados para uma instituição que os recolhe, e as pilhas ela descarta no banco”, explica Ana Carolina.

No caso de Marcelo Mis-chiatti, 11 anos, a postura sustentável foi estimulada na escola, a partir da proposta de trabalho de um de seus professores. “Resolvi abordar a questão do meio ambiente para desenvolver um trabalho de conscientização. O objeti-vo foi mostrar quanto tempo cada material demora para se decompor na natureza”, conta.

Para Vinícius Olivetto Fer-nandes, também de 11 anos, o exemplo vem de casa e envolve criatividade e diversão. “Minha mãe separa o óleo de cozinha para fazer sabão, e ela mesma faz. Já eu reutilizo as sacolinhas plásticas. Elas viram rabiola para as minhas pipas”, diz.

A produção de brinquedos, aliás, é uma ótima estratégia

para a educação ambiental com crianças e existem muitos exemplos de sucesso neste campo. A avó de Eduardo Henrique Casagrande Silva, o ensinou a fazer ‘pés de lata’. “É só pegar duas latas de leite em pó, fazer um furo de cada lado, passar uma corda por dentro de cada uma das latas e de-pois amarrar. Pron-to. Depois é só subir nelas e andar”, explica o garoto.

Segundo a coordenadora de educação ambiental do Consórcio PCJ, Andrea Bor-ges, a introdução de jogos didáticos, maquetes e a brin-cadeira auxiliam na promoção da educação ambiental para crianças. “É fundamental para que elas possam observar e sentir na pele o que estão fa-zendo e o que a aquela atitude tem a ver com o meio am-biente. É o que chamamos de aprender brincando”, afirma.

Andrea ressalta que investir na conscientização das crianças é muito produtivo, pois elas ainda estão desenvolvendo opi-niões próprias sobre os assuntos. “Quando se trabalha um adulto, que já há muitos anos escovou os dentes com a torneira aberta, fica difícil criar nele um novo hábito. Mesmo porque muitas vezes esses atos são feitos in-conscientemente”, argumenta.

Crianças que fazem a diferença

Mídia consciente

Estela Rodrigues separa o lixo e faz o descarte consiente; Eduardo Casagrande Silva brinca com os “pés de lata”

Laura Lopes, idealizadora do Pamp usa sacolas retornáveis para fazer compras

acompanhe também na internet

tWitteR - @P_sustentavel

blOG - paposustentavel-jor.blogspot.com

FaCebOOK - Papo Sustentável

SeRViÇO

Marina Campos

fotos: Karla Gigo Morato

Page 4: Ponto Final ed 23

4 sábado, 19 de novembro de 2011pontofinal

ViniCius bô[email protected]

A musicalidade dos grupos de oração da Renovação Carismática Católica

tem se tornado ferramenta poderosa de evangelização e aproximação de fiéis. Origi-nário de tradições cristãs pro-testantes norte-americanas, o movimento carismático surgiu no Brasil na metade do século passado e apresenta caracterís-ticas que aproximam as igrejas evangélicas e católica.

Na comunidade católica, de acordo com o teólogo Osvaldo Elias de Almeida, a renovação promove dinâmica diferenciada nas reuniões de orações. “Os encontros são marcados pela linguagem menos engessada do sermão, maior tempo de louvor e músicas mais alegres acom-panhadas de instrumentos e movimento do corpo”, afirma.

“A música ungida pelo espí-rito santo atinge o emocional, o intelecto e a sensibilidade, de forma que a pessoa começa sentir o poder de Deus”, res-salta a cantora Salete Ferreira, da Canção Nova, para quem o louvor é uma ferramenta po-derosa de evangelização. “Em canções busco relatar todas minhas vivências com Deus, para atingir também as pessoas que ouvem meu testemunho de vida”, diz.

“Eu não dormia há oito anos”. A fala é de Vania San-tarosa e descreve a época que, segundo ela, foi a pior de sua vida. Após perder o filho de três dias, há 24 anos, a dona de casa ficou abalada emocionalmente. “Eu sonhava todas as noites com o mesmo episódio do dia em que eu fiz o parto”, conta. A recuperação teve inicio em um retiro espiritual realizado em Nova Odessa, em 2003, quando um cântico mudou a sua vida, como ela mesma lembra com emoção: “Enquanto o padre ministrava, tocou uma música que falava sobre cura interior. Naquele momento fui modifi-cada e conquistei a paz que eu tanto buscava”.

O alcoolismo e a depres-são foram os principais pro-blemas superados por Lúcia Muterle. “Vivia angustiada, tomava remédios fortes e fa-zia tratamento com psicólogo

Vida novae psiquiatra”, diz. Ao parti-cipar de um grupo de oração foi transformada. “No mo-mento da música, a oração parecia ser direcionada para minha vida. Foi nesse dia que fui curada e hoje sou feliz junto com a minha família”.

Sentimentos de rebeldia e depressão, de acordo com o cantor Laércio Oliveira, são as principais curas relatadas por fiéis nas apresentações das quais participa. “A música tem o poder de juntamente com a fé atender a necessidade do coração humano e ajudar a pessoa a se encontrar mais rapidamente”, explica.

Um centro de recuperação foi o local em que Alexandre Sia teve a primeira experiência de fé. Viciado em drogas, foi encaminhado para uma clínica mantida pela igreja católica em Guaratinguetá. E ele conta que a música foi importante neste

toletto, professor de Filosofia da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), a maior parte das composições carismáticas tem características semelhantes. “São letras que retratam necessidades mate-riais e físicas, falam da realida-de dos sentimentos, emoções e atingem o psicológico”. Em sua opinião, existem dois tipos de músicas: as de boa e as de má qualidade. “Boa é aquela que consegue fortalecer a ex-periência de fé. Ao contrário disso, há um empobrecimen-to”, afirma.

o PodER da música

ritMO aNiMadO e letras que eMOCiONaM dãO Vida a

“lOuVOr” da reNOVaçãO

CarisMátiCa CatóliCa

Este compromisso de evan-gelizar através da musica é o principal objetivo do grupo Adonai, criado há dez anos na Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres, em Piracicaba. O ministério conta com nove participantes e, segundo o vocalista Marcos Tadeu Janu-ário, nasceu com o objetivo de animar celebrações e eventos sociais. “O louvor carismático promove maior participação entre o conjunto, as pessoas que levam a mensagem e os fiéis”, destaca.

Para Edivaldo José Bor-

processo: “Foi nesse lugar que ouvi uma música que me con-vidou a andar na presença do Espírito Santo”.

Em muitas situações, a su-peração de dramas familiares começa por um dos parceiros, que acaba “contaminando” o outro. Cleusa Silva teve uma vida conjugal conturbada e acredita que uma das causas foi ter se casado muito cedo, ainda

na adolescência. Sua história também mudou a partir de uma opção pelo engajamento religioso. “Meu marido nunca teve base religiosa. Ele mal fi-cava em casa. Depois que virei missionária e coloquei a vida dele em minhas orações o re-lacionamento mudou. É outro homem”, relata.

A mudança de vida que atinge fiéis do movimento ca-

rismático também é notada na vida dos jovens, para os quais a música tem um papel decisivo. Para o técnico de som Maurí-cio Trez Ottani, a entrada na renovação mudou a sua visão em relação à igreja. “Achava a missa muito chata. Quando co-nheci a Renovação Carismática vi que a religião pode ser legal. Hoje, minha vida é muito mais feliz do que antes”, conclui.

Tecnologia Todo esse movimento tem

crescido e a internet e as novas tecnologias de comunicação têm contribuído para atrair novos seguidores. A estudante Carolina Gabetel, por exemplo, tem o hábito de criar listas de músicas no celular com pro-gramas disponíveis na rede e, mesmo sem pertencer ao mo-vimento carismático católico, se tornou fã da banda Rosa de Saron, ligada à renovação. “Comecei a escutar sem saber que era católica. As letras me tocam muito. Hoje é uma das

bandas que mais gosto”, afirma.Para o baixista da Rosa de

Saron, Rogério Feltrin, as fer-ramentas disponíveis para bai-xar músicas na internet levam a mensagem para o público de maneira geral. “Nossa banda nasceu em berços carismáticos e hoje alcançamos várias tribos jovens que não pertencem ao catolicismo”. Em sua opinião, através da música é possível atrair novos seguidores para a religião. “A mensagem que levamos faz com que a pessoa reflita, faça escolhas, reveja conceitos e compreenda que a religião é algo bom para a vida”, enfatiza.

Outra forma de divulgar mensagens e músicas são as redes sociais como Twitter, Fa-cebook e Myspace. Segundo o especialista em mídias sociais, Walter Teixeira Lima Junior, a troca de informações é uma das principais características destes espaços. “São ferramentas que modificaram a sociedade. Elas aproximam usuários que têm o mesmo modo de falar, sentir, expressar, de forma a permitir a troca de experiência entre se-res humanos da mesma tribo”.

As mídias sociais, segundo a especialista em comunicação online Pollyana Ferrari, se tornaram canais de relaciona-mento e participação efetivos. “Não é possível pensarmos no leitor ou usuário da rede

com uma leitura passiva e sim o local em que todos partici-pam. Todo brasileiro tornou-se mídia. Bastar ter um celular”, observa.

Para o teólogo Osvaldo Elias de Almeida, com o adven-to da internet também houve mudança na relação entre fiéis e padres. Ele explica: “A participação dos representan-tes carismáticos, com a nova comunicação, fez a linguagem mudar, e o padre passou a ser mais ‘amigo’ dos fiéis. Além disso, o contato, que antes era semanal passou a ser diário, é possível receber mensagens di-árias através das redes sociais”.

Vania: “conquistei a paz que eu tanto buscava

Salete: a música faz o fiel sentir o poder de deus

Celebração na Igreja Nossa Senhora dos Prazeres

Alexandre Sea: “uma música me convidou a andar na presença do

espírito santo”

Lúcia: “a oração parecia ser direcionada para a minha vida”

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Vinícius bôer

o Grupo Adonai, de Piracicaba leva louvor a missas e eventos religiosos

Page 5: Ponto Final ed 23

sábado, 19 de novembro de 2011 pontofinal 5

bRuno bianChim [email protected]

Reinaldo João Martim é o tipo de sujeito que não se torna refém de obser-

vações alheias. Se incomodar com elas? Jamais, até porque, se ligasse, não teria optado por seguir a profissão que o fez ser um dos pioneiros em sua cida-de. Há 24 anos em um salão que leva o nome “Rei do Cabe-lo”, em Rio das Pedras, realiza o ensejo de clientes femininos e masculinos. Quando seus cortes começaram a surgir, as opiniões sobre sua ocupação eram menos cautelosas e mais preconceituosas, garante.

“Hoje, as pessoas têm mais cuidado com classificações de gêneros sexuais, mas, naquela época, cheguei a sofrer resis-tência. Agora, há tanto tempo no ramo, todo mundo sabe que o que faço é por gosto e aptidão”, afirma o cabeleireiro, que aponta o surgimento de um novo perfil de homem em seu salão: os metrossexuais.

“Antigamente, para o ho-mem ser macho, ele tinha que estar suado e não ter cuidados

resPONsabilidade COM Os filhOs, ateNçãO à MOda e CuidadOs COM a saúde Já COMbiNaM COM MasCuliNidade

Desde o final de 2010, o público mas-culino tem à dispo-sição um novo tipo de revista. A Alfa, do grupo Abril, traz as-suntos como moda, gastronomia, cul-tura, cuidados pes-soais e esportes, só para homens. Há pouco tempo, esse nicho editorial não era explorado. Re-flexo destes novos conceitos, ela é a primeira com esse enfoque no país.

“O Grupo Abril sentiu que existia uma forte demanda por um tipo de revista classe A como a Alfa. Foi a partir daí que demos forma a ela, vimos que o público masculino necessitava de uma revista como ela”, afirma o jorna-lista Kiko Nogueira, diretor de redação da Alfa.

Pesquisa da editora Abril, entre os leitores da Alfa no iPad, mostra o perfil do público: a maior parte é composta por homens entre 30 e 39 anos, casados e com filhos; o grau de instrução é alto – 83% dos leitores têm

Valdir Alves de Santana perdeu a esposa há cinco anos e, desde então, cuida sozinho o crescimento de suas duas filhas gêmeas. Não é o único neste campo. Atualmente, cada vez mais os homens assumem ativamente o cuidado com os filhos e o ‘gerenciamento’ da casa, sendo em muitos casos pais e mães ao mesmo tempo.

“No começo tive algumas dificuldades, mas com o tempo elas acostumaram com a criação e não tive problemas”, conta Santana. Mas, ele admite que sua presença muitas vezes causa estranheza. “É estranho ver um pai presente em todas as reuni-ões da escola, um pai que faz a janta e limpa a casa todos os dias. É, no mínimo, diferente”.

Santana relata que uma das suas maiores dificuldades é a falta de tempo, pois a ro-tina diária das filhas é intensa. “Logo pela manhã, quando saio de casa para trabalhar, levo as duas para um clube da cidade onde praticam esportes, tomam banho, almoçam e vão para es-cola. À tarde, após o trabalho, pego elas na escola e vamos para casa, onde preparo a janta e cuido delas”, resume.

Situação semelhante é vi-venciada pelo biólogo Evaristo Luis Artuso, que optou por

mídIa

abril aposta no ‘macho-alfa’criar dois netos – os dois com menos de 12 anos – longe de sua filha e mãe dos garotos. No seu caso, contudo, conta com o apoio da esposa, com quem divide as tarefas: ele com a parte externa (escola, entrete-nimento), e ela, com a interna (cuidado com as crianças em casa). “Acompanho muito eles no rendimento escolar, vou a todas as reuniões, mas sempre deixo os cuidados domésticos como higiene e o preparo de

uM NOVO

uM NOVO

donos de casa

graduação e especialização e desse total, 39% fizeram pós.

Este perfil de leitores aumenta a exigência de qualidade e desafia a equi-pe que produz a revista. Nogueira conta que o di-ferencial em relação às demais não está apenas nos seus textos, mas no seu conteúdo refinado. “Tenta-mos trabalhar, em nossas capas, com heróis e pessoas que conotam essa idéia de um homem diferente, mais requintado”, explica.

tEMPo,

HoMEM

com a aparência. Hoje, esse pa-norama é outro. No meu salão, por exemplo, tiro sobrancelhas e tenho cuidados extras com os clientes. É uma tendência dos últimos dez anos”, diz. Dos clientes atendidos por Martim, 70% são homens.

Esta mudança de perfil sen-tida pelo cabeleireiro vem ganhando força nos últimos anos. Estudo feito pela em-presa L’Oreal, do Reino Unido em 2010, com 1.013 homens, revela que um em cada cinco entrevistados tinge os cabelos para disfarçar os grisalhos. Quase dois terços dos homens (56%) usam produtos cosméti-cos diariamente, e dois em cada cinco (39%) usam produtos de limpeza facial diariamente para cuidar da pele e combater os efeitos do envelhecimento.

Para a professora do Curso de Psicologia da Unimep, Telma Regina de Souza, entretanto, a mudança é menos acentuada do que aparenta. Ela argumenta que hoje, com a facilidade de consumo, os homens aderiram a um novo nicho mercadológico – que também é estimulado pela cultura e tendência global –, mas

isso não os ressignifica dentro de uma escala de rótulos.

“A indústria abriu os olhos para esse tipo de homem me-trossexual, que se importa com a aparência, por isso o reflexo no aumento desse percentual de homens que se preocupam com a beleza tem crescido. Contudo, isso não mostra uma mudança mais brusca no perfil masculino”, explica.

almoço e janta para minha mulher. Dividimos bem o tra-balho para não sobrecarregar ninguém”, explica.

O caso, na visão da psicóloga Telma, é revelador do nível de mudanças que ocorre nesta área, pois apesar de admitir que exista uma participação cada vez maior do homem na educação dos filhos, ela adverte que na grande maioria dos casos a presença da mulher ainda é fundamental. “Pais que cuidam sozinhos dos seus filhos são raros. Na maior parte dos casos, sempre há a participação ou suporte de uma mulher por traz, seja em casa ou no processo educacional. As mulheres ainda são muito mais li-gadas a isso, portanto, não existe um conceito de novo homem”, aponta Telma.

O jornalista e historiador Erick Tedesco acrescenta que o homem é reflexo de um contexto histórico. Então, o novo perfil, na verdade, carrega o sentido da evolu-ção do indivíduo perante as mudanças do tempo.

Tedesco exemplifica as mudanças regredindo ao iní-cio do século 20. Naquele período, no Brasil, o homem se deparava com um universo complexo de novidades, mas ainda carregava a figura do pai de família, austero, semblante imponente e formalmente ves-tido para cada ocasião.

“Hoje, este mesmo homem tem a sabedoria de décadas de transformações, de tabus quebrados e desmistificados e, no quesito vestimenta, por exemplo, tem muitas opções. Neste sentido, entendo que o homem moderno é aquele que compreende as mudanças da história social e consegue se enquadrar onde considera conveniente”, ressalta.

E mesmo aqueles que ado-tam uma nova postura diante do corpo e de sua aparência muitas vezes não gostam de

serem rotulados em razão do seu comportamento. Este é o caso do estudante Ângelo Correa, típico jovem que valoriza a estética e que a cada nova espinha no rosto fica intranqüilo, mas que é taxativo sobre o assunto: “Quase todos os homens de hoje se preocupam com os cuidados pessoas. Eu não sou diferente, mas não gosto de ser chamado de metrossexual, prefiro ficar com o nome de cuidadoso”.

Na visão de Tedesco, o mais importante é não se con-formar com os aspectos cos-méticos das mudanças, pois o indivíduo, no caso, o homem, deve dialogar consigo mes-mo, refletir sobre os próprios limites, as vontades e viver sem enquadramentos. “Numa sociedade do imediatismo, as mudanças são rápidas, as mo-das passageiras e muitos dos conceitos proferidos como ‘modernos’ são descartáveis. Absurdo era, como há séculos, o assunto moda ser blasfêmia entre homens, assim como cozinhar ou cuidar de bebês”, finaliza o historiador

Santana: presença constante nas reuniões escolares

Vaidade masculina estimula mercado de cosméticos

tedesco: “mudanças são rápidas”

Avós dividem as tarefas para cuidar dos netos

fotos: bruno bianchim Martim

del rodrigues

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6 sábado, 19 de novembro de 2011pontofinal

ViniCius bô[email protected]

Especialista em gestão de cri-ses e media training, o jornalista Gilberto Lorenzon, autor do livro Manual de Assessoria de Imprensa (Editora Mantiqueira, 2011), Gilberto Lorenzon defen-de, em entrevista ao Ponto Final, que a atividade exige planeja-mento e profundo conhecimento sobre o jornalismo. Confira:

Qual o papel das assessorias de imprensa na produção da notícia?

A atividade de Assessoria de Imprensa, tal qual conhecemos hoje – uma instituição destinada a trabalhar focada na notícia – é uma criação relativamente re-cente. No Brasil, as assessorias chegaram durante os anos 50, embutidas nas multinacionais que aqui se instalaram. Entre-tanto, aqueles antigos assessores, com formação em Relações Públicas e Propaganda, atuavam, respectivamente, com foco no relacionamento e na sedução.

O desconhecimento do con-ceito de notícia desses antigos profissionais, naturalmente de-sagradava à imprensa. Foi então que alguns pioneiros resolveram reverter a situação: passaram a oferecer à imprensa o que ela mais ambicionava, isto é, a notícia.

Hoje ninguém questiona a importância das assessorias para a produção diária de con-teúdos para a mídia. A impren-sa reconhece que sem a inter-venção dos assessores, muitas informações não chegariam às redações. Pesquisas comprovam que cerca de 80% das matérias diárias são realizadas com o apoio das assessorias.

Quais as principais funções

bRuno bianChim [email protected]

As assessorias de comunica-ção e imprensa empregam cada vez mais jornalistas e se tornam opção significativa de trabalho para boa parte dos formados nesta área. A expansão ocorre tanto no setor público, que tem obrigação de prestar informa-ções à sociedade, quanto no setor privado, que se esforça para ver assuntos de seu inte-resse divulgados na mídia.

“Já é de conhecimen-to de todos que as agên-cias de comunicação estão contratando muitos profis-sionais e esse é um mercado de muito potencial, ou seja, quem entrar agora pode fazer uma carreira rápida em menos tempo do que numa redação, por exemplo, e com salários maiores”, afirma o jornalista Cid Luis de Oliveira Pinto, um dos proprietários da Alfapress Comunicações.

KaRla GiGo [email protected]

Equilíbrio. Essa é a chave para uma boa relação entre assessoria de imprensa e as re-dações dos meios de comunica-ção. A opinião é de editores de jornais de Piracicaba, Limeira e Americana, que admitem, na atualidade, a contribuição e importância das assessorias.

“O trabalho da assessoria é extremamente importante em relação aos jornais, porque elas podem contribuir com in-formações, de forma mais ágil e, por se tratar de jornalistas, sabem – ou deveriam saber – quais são as demandas das redações”, argumenta o editor chefe de A Tribuna Piracicaba-na, Erich Vallim Vicente.

Para o chefe de reportagens de O Liberal, de Americana, João Turquiai, o trabalho das assessorias é importante para complementar as informações que compõem o jornal. “Elas são muito úteis quando apre-sentam sugestões de pauta interessantes e se propõem a

para lorenzon, transparência e interesse público são os princípios

eNtrevIsta

editores recomendam equilíbrio e profissionalismo

Assessoria de imprensa cresce e exige versatilidade dos profissionais

Em sua visão, o ponto forte da atividade é o relacionamen-to. “Hoje as agências de comu-nicação se preocupam muito com o relacionamento com os jornalistas, oferecendo pautas interessantes para os leitores, já que conhecem muito bem os veículos de comunicação, o público e o setor que o veículo cobre”, acrescenta.

A atuação nas assessorias pode também ser espaço para ampliar a formação e o senso crítico dos profissionais, prin-cipalmente quando atuam no setor público. É o que diz o diretor regional do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e assessor da Câmara dos Vereadores de Piracicaba, Martim Vieira. “É uma vantagem que talvez o jornalista de redação não tenha. Na Câmara, por exem-plo, chegam várias demandas populares, como mobilidade urbana e meio ambiente. Por isso, trabalhar em um órgão

público dá uma dimensão que talvez não fosse possível para um setorista de imprensa”, diz.

A carreira exige versati-

do assessor de imprensa?Cabe ao assessor executar

quatro tarefas estruturais. As duas primeiras reportam-se aos anos 60/80, quando os assessores utilizavam a emissão de releases – e o atendimento à imprensa, para estabelecer interlocução com as redações. Durante os anos 80/2000, a profissão subiu dois importan-tes degraus, ao introduzir em sua plataforma de tarefas outras duas ferramentas básicas, ou seja: a preparação de fontes e gestão de crise. O media training, diga-se, aperfeiçoou o discurso público das fontes, permitindo a exploração cons-ciente dos espaços disponíveis na mídia. Atualmente, pode-se dizer que as mídias sociais se constituem na quinta atividade macro da profissão, afinal, a exemplo do jornal, rádio e TV, elas já fazem parte do portfólio

auxiliar o repórter no contato com a fonte”.

Mas, pra que o trabalho se torne eficaz tanto para a reda-ção quanto para a assessoria, é necessário que exista um equilíbrio. “Eu recebo muitos e-mails por dia e não consigo ler todos. Por isso, é bom quando o assessor liga para avisar que enviou uma pauta. Mas, os assessores não podem se esquecer que temos horário de ‘fechamento’, e alguns insis-tem em ligar justamente nesta hora”, conta a jornalista Ude Valentine, editora responsável do Jornal de Piracicaba.

Um problema apontado por todos os editores entrevistados está no fato das assessorias “entulharem” as redações com sugestões de pauta que só inte-ressam a seus próprios clientes. “Eles não entendem que na redação, a visão é mais ampla, pensando mais no interesse público”, defende Vicente.

Outro problema apontado por Turquiai é a falta de expe-dientes aos finais de semana ou fora do horário comercial. “É

imprescindível que o assessor se mantenha disposto a prestar auxílios à imprensa nesses pe-ríodos, principalmente quando se trata de assuntos de grande relevância como, por exem-plo, empresas que fornecem serviços de energia ou gás para uma determinada cidade ou região. Independente do dia ou horário, seus interlocutores (as-sessores) têm de ser facilmente encontrados e, mais que isso, devem se esforçar para apresen-tar informações que auxiliem o repórter.”

Joacir Cury, editor da Ga-zeta de Piracicaba alerta ainda que o profissional de assessoria de imprensa precisa escrever como jornalista de um jornal di-ário. “Não cabem badalações e predicados em texto. Notícia é informação, muitas vezes o jornalista de assessoria não vê isso, nem mesmo no lead.”

Ele completa: “Jornal vive de histórias e as assessorias com certeza têm boas histórias, basta terem a percepção do que é notícia boa e passar para a imprensa”.

lidade. É preciso criar situa-ções para a cobertura sobre as atividades do assessorado, apresentar informações perti-

nentes aos seus interesses no contexto midiático e capacitar o cliente e outras fontes de infor-mação institucionais em relação

ao funcionamento da imprensa.De acordo com a jornalista

Cristiane Sanchez, da MBM Idéias, existem temas que exi-gem um cuidado maior na sua divulgação. “Procuramos sempre nos colocar no lugar do editor e repórter ao avaliar a relevância do assunto. Asses-sores de imprensa experientes sabem avaliar a importância de cada pauta. Há assuntos que rendem notas, outros merecem um tratamento mais cuidadoso, com abordagem direta pelo assessor”, explica.

Para Cristiane, os vínculos entre jornalista e assessor só são estabelecidos quando existe uma relação ética. “Quando você (assessor) oferece conte-údo relevante aos seus colegas, quando você, de fato, age como um facilitador do trabalho da imprensa, e não meramente um defensor dos interesses do seu cliente”, afirma, elencando fatores que auxiliam na relação entre os profissionais da mídia.

de relacionamento das asses-sorias, o que representa, ao mesmo tempo, desafio e opor-tunidade para os assessores.

O assessor de imprensa deve seguir as mesmas orientações éticas que o jornalista dos meios de comunicação?

Já existe um código de ética que regulamenta a atividade de jornalista. Essa carta de princípios é baseada na transparência e no interesse público, princípios que devem pautar a atuação do jor-nalista. Portanto, cabe ao assessor de imprensa, seguir esses mesmo princípios já consagrados.

Como as assessorias de im-prensa devem se preparar para as chamadas “situações de crise”?

Todo mundo sabe o que fa-zer quando começa um incêndio numa fábrica. Existem até bri-gadas, treinadas pelas Cipa. Em contrapartida, poucos sabem o que fazer quando eclode uma crise de comunicação. Do por-teiro, ao presidente. No Brasil, o gerenciamento de crise em comunicação surge em 1996, com a queda do avião da TAM, no bairro do Jabaquara, em São Paulo. Até então, gestão de crise era um tema exclusivo do universo da Engenharia de Segu-rança – e não da comunicação.

Hoje se sabe que as crises não podem pegar todos confu-sos ou despreparados. É neces-sário planejar ações preventivas. Assim, as instituições, com o apoio das assessorias de impren-sa, devem constituir Comitês de Crise. E implementá-los nos momentos de calmaria, não no olho do furacão. Até porque mais cedo ou mais tarde as crises virão. E com elas, os jornalistas.

departamento de Comunicação da Câmara de Vereadores de Piracicaba: informação como serviço público

fabrice desmonts

Gilberto Lorenzon durante palestra aos alunos do Curso de Jornalismo da Unimep, em setembro

Karla Camargo

Redação do Jornal de Piracicaba: desafio de buscar e checar as informações

Karla Gigo Morato

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sábado, 19 de novembro de 2011 pontofinal 7

* aRthuR belotto [email protected]

Sempre quis conhecer os EUA e por mais clichê que isso seja, descobrir que iria morar lá durante quase seis meses foi a realização de um sonho. Cursar uma faculdade em uma típica e pequena cidade americana, morando no campus com ou-tros estudantes americanos e de outras nacionalidades, tornou a experiência mil vezes mais interessante.

Após muita expectativa e minha primeira viagem de avião, desembarquei no ae-roporto de Columbus, Ohio, no dia 04 de janeiro, quase a meia-noite, para dar início ao meu intercâmbio universitário.

Passei os cinco meses se-guintes em Marietta College, fundada em 1835, uma escola privada que oferece 42 cursos de graduação e pós-graduação

Convivência com americanos e

intercambistas enriquece

formação critica e universal

jornalismo no marietta college

* suzana CaRRasCosa [email protected]

Há nove meses estou estu-dando na Umad (Universidad Madero), em Puebla, no Mé-xico, um país divertido, cultu-ral, colorido e mágico. Desde minha chegada todos foram muito receptivos e no começo se mostraram curiosos sobre a cultura brasileira. Também me apresentaram a gastronomia mexicana, e os amigos me levaram para conhecer a mon-tanha Malinche, as pirâmides de Cholula (a maior do mundo em volume total) e a Cerrito de Querétaro, os acampamentos de Atlixco. Conheci a cultura maya, azteca e os sombreros tradicionais.

O mexicano é feliz e tenta ser positivo nas diversas situa-ções do cotidiano. As pessoas são hospitaleiras, carinhosas e detalhistas. Os mexicanos também cultuam as datas co-memorativas, como os feriados da Batalha de Puebla (México

méxico estimula magia da cultura e do conhecimento

* Cynthia da RoCha

Nove de julho de 2011 será sempre um dia especial em minha trajetória profissio-nal. Nesta data, um sábado, embarquei para a experiência mais marcante da minha vida até então. Ao lado de outras dez pessoas, oito estudantes, de diferentes cursos, e dois pro-fessores da Unimep, parti para o Amapá (AP) – é isso mesmo, a cidade do Amapá, no Estado do Amapá – como integrante da equipe do Projeto Rondon, vinculado ao Governo Federal.

No primeiro dia de ativi-dades, na capital do Estado, Macapá, o grupo de ‘rondo-nistas’ ficou hospedado no 34º BIS (Batalhão de Infantaria de Selva). Fomos recebidos pelos soldados e pernoitamos nos alojamentos, meninos de um lado, meninas de outro, tudo muito sério! Na manhã seguinte acordamos tipicamente como soldados, ao som de tiros e cornetas. Tomamos café da manhã e pegamos um ônibus que nos levou até nosso desti-no, a cidade de Amapá (8005 habitantes segundo dados do IBGE de 2011).

Em Amapá desenvolvemos projetos nas áreas de meio ambiente, saúde, informática, teatro, entre outros. Criamos laços de amizade dentro e fora do grupo e a população local nos transformou em “celebri-dades”. Ganhamos frutas e outros presentes, e as pessoas nos paravam nas ruas para nos lembrar das datas e horários das nossas próprias atividades.

Dirigimo-nos às comunida-des mais afastadas e, em uma delas pude ver e tocar uma arara

Amapá, brasil, um ‘outro’ paísProjeto rondon promove integração e leva conhecimento a comunidades carentes

vermelha. Em outra, a de “Bi-cudinho”, no meio da floresta Amazônica, fiquei deslumbrada com a riqueza da mata, e com a generosidade do povo, que nos acolheu com um café da manhã completo (tapioca, macaxeira e cuscuz – diferente do nosso) embaixo de um telhado grande aberto. No local, improvisado, promovemos brincadeira com as crianças, medição de pressão arterial e glicemia e palestras sobre uso de posse da terra (tema muito importante naquela região) e sexualidade.

Em “Bicudinho” também ocorreu o encerramento do projeto, e fomos presenteados

pela comunidade com um convite para uma trilha pela floresta amazônica, uma opor-tunidade especial, única, que me encheu os olhos.

Em muitos momentos fiquei surpresa com a qualidade de vida que esses municípios clas-sificados como carentes podem oferecer. Sem se preocupar com internet, com o tempo corrido das cidades industrializadas, as pessoas podem ver o pôr e o nascer do Sol no Equador,

O Projeto Rondon tem como slogan “Lição de vida e de cidadania” e realmente é o que realiza, mas acredito que a lição serve mais pra quem vai

x França), no dia 5 de maio. Se orgulham da independência do país, comemorada no dia 15 de setembro com festas, grito da independência pelo presidente na Cidade do México, bandei-ras pelas ruas, roupas tradicio-nais e jantar entre as famílias. Em fevereiro celebram o dia da Candelaria e os tamales (um prato salgado, estilo a pamonha recheada), e os pães da tradição dos reis magos.

Neste período como inter-cambista tive a felicidade de assistir à abertura dos jogos Panamericanos de Guadalaja-ra, junto com meus pais, que neste momento também estão no país. Vimos os esportistas brasileiros conquistando suas medalhas, o show do Maná e Juanes, fatos memoráveis e emocionantes. Também pre-senciei o show do David Guetta nas pirâmides, vi a colombiana Shakira em Puebla, conheci a maior rede de televisão do México – Televisa, fui entrevis-tada pela TV Azteca e a rádio

Puebla FM 105.9, trabalhei na área de Comunicação e Multi-mídia Universitária da UMAD e conheci a luta livre.

Freqüentei exposições de comunicação, falei com minha avó por skype, consegui ser correspondente internacional do México no Blog da MTV Brasil (mtv.com.br/tacosypi-tacos) e coloquei em prática, com minha mãe, o sonho de fazer um projeto cultural pela internet, o Arriba Cultura (ar-ribacultura.com). Foi a melhor experiência da minha vida, pois fiz amizades que vão ficar para sempre e só posso agradecer pela oportunidade, aos que me ajudaram em Puebla, Cancún, Querétaro e Cidade do México. Uma coisa é certa: eu nunca mais vou ser a mesma Suzana que todos conheceram!

* Suzana Carrascosa Storolli, é es-tudante do 6º semestre do Curso de Jornalismo da unimep, está em período de intercâmbio na umad (universidad Madero), no México.

e possui atualmente aproxi-madamente 1.400 estudantes. Reconhecida como uma das melhores instituições de ensino de Arte do Centro-Oeste dos Estados Unidos, tem como ob-jetivo formar pensadores críti-cos e líderes capazes de resolver problemas e tomar decisões que influenciem o mundo do século XXI. Lá eu tive a oportunidade de cursar matérias relacionadas ao meu curso – Jornalismo – e

conviver com estudantes norte--americanos e intercambistas de 13 países diferentes.

Aprendi que o importante em uma experiência de inter-câmbio é se abrir, abraçar o novo. Vale a pena conversar com todos, sobre tudo, mesmo que às vezes tenha a impressão de que não está se expressando corretamente, pois as pessoas de outros países vão te achar muito interessante e curtir o seu sotaque.

Outra recomendação é es-quecer aqueles estereótipos que você já deve ter ouvido sobre americanos e pessoas de outras nacionalidades. Após conviver com tantas pessoas diferentes cheguei à conclusão de que há pessoas de todos os tipos, boas ou ruins, em qualquer lugar que você vá. Fiz grandes amigos americanos, mas também chi-neses (por sinal são realmente muito inteligentes e os mais afetados com o choque cultu-ral) e árabes (com os quais fiz uma viagem de quase 16 horas para a Florida no meu Spring Break de carro!).

Conhecer uma nova cultura e a visão que se têm sobre de-terminados temas é imprescin-dível para uma formação mais crítica e universal não só de um jornalista, mas de qualquer profissional. Viver, entender e ser parte de uma cultura te dá uma nova visão não só sobre questões universais da onde você vem e está lhe dá uma nova visão sobre você mesmo, sobre a vida e te deixa mais rico pro-fissionalmente e pessoalmente.

Viver a experiência de ser estudante em uma universidade americana, conhecer pesso-as que se tornaram grandes amigos, e visitar lugares que sempre quis conhecer, como a agitada Nova York e a cinema-tográfica Los Angeles, fizeram minha experiência única e memorável.

* Arthur Belotto, é aluno do 6º semestre de Jornalismo da unimep e realizou inter-câmbio nos estados unidos, no Marietta College, no primeiro semestre de 2011

às comunidades atendidas do que para quem “é beneficiado”. Os amigos que fizemos nesta terra distante, as experiências e tudo que vivemos marcaram nossas vidas, e afirmo isso com conhecimento de causa e circunstância, e foram mui-tas circunstâncias, umas mais belas do que outras, e todas memoráveis.

A experiência é rica para todos os universitários, mas particularmente importante para o estudante de jornalismo, pois a vida é a essência do seu trabalho. A convivência no Amapá nos ensinou a dar valor às pequenas e simples coisas da vida, como um banho quente, ou um simples bom dia sorri-dente a um estranho.

* Cynthia Rocha, é estudante do 4º ano de Jornalismo da unimep e participante do Projeto rondon 2011, na Operação Oiapoque, no amapá.

Fotos mostram realidade das

comunidades visitadas pelos intercambistas

Para Arthur, integração é o ganho principal do intercâmbio

Cynthia durante recreação com crianças na comunidade Bicudinho

Suzana (quinta à direita) participa de festa típica no campus da Umad

fotos: Cynthia da rocha

arquivo pessoal

arquivo pessoal

arquivo pessoal

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8 sábado, 19 de novembro de 2011pontofinal

A busca pela sustentabilidade é cada vez maior e nos dias de hoje as crianças são as principais dissemina-doras dessa consciência ambiental. Ao implantar atitudes sustentáveis muitas delas simplesmente têm mu-dado por completo a rotina dentro de suas casas.

Controlam o banho dos pais, apagam as luzes dos ambientes que não estão sendo usados, reutilizam materiais recicláveis para a confec-ção de brinquedos e não permitem o uso das populosas sacolas plásticas.

Cada vez mais cedo essa consci-ência é fomentada dentro das esco-

las através de jogos e brincadeiras. Dentro de casa, os pais ensinam, mas com a correria do dia a dia acabam se esquecendo de colocá-las em prática, e ai é que entram em cena os que denominamos carinhosamente de “eco-chatos”.

O princípio é o de que á mais fá-cil investir na consciência ambiental das crianças, que estão em processo de aprendizado, do que tentar mudar os velhos hábitos dos adultos. Mas se você pensa que isso é um problema, está enganado. Muitas vezes, alguns adultos inconscientemente acabam se esquecendo de fechar a torneira

enquanto escovam os dentes, por exemplo. Isso seria um problema se estes não fossem vigiados de perto pelas crianças.

Se antes elas já eram considera-das o futuro do nosso país, agora também podem ser a salvação do nosso planeta. Em um trabalho que até mesmo pode ser comparado ao de uma formiguinha, elas lutam pela preservação dos nossos rios e da nos-sa fauna e flora. De pouquinho em pouquinho fazem a diferença nessa importante batalha em busca da tão sonhada sustentabilidade. (Karla Gigo Morato)

No bê-á-bá do jornalismo exis-tem algumas regras que são levadas a ferro e fogo. Entre elas, há, em destaque, aquelas que tornam a dia-lética dos profissionais mais acessível e nítida aos ouvidos e à retina de quem lê, vê ou escuta.

Há, entretanto, um louro do qual a velha guarda dos jornais tenta não se desprender: a objetividade, que, para leigos, é a realidade dos fatos transposta ao grande público, sem interferência de terceiros. Hoje, em falta.

O debate sobre a santidade pa-triarcal jornalística é quase tão velho quanto o ouro, mas, ao reportar

fatos fictícios – ou que, no mínimo, geram alguma suspeita em sua ve-racidade –, quem deixa de checar informações ou abre mão do que é fato, por interesses, comete um cri-me tão grave quanto um homicídio.

Em linhas gerais, se comete homicídio e negligência intelectual ao mesmo tempo em que se deveria contribuir para difundir a pluralida-de de reflexões e formas de enxergar um mesmo acontecimento – afinal, fatos concretos geram inúmeros pontos de vista, ou não?

Quatro anos formam um jorna-lista. Mas quatro anos também são insuficientes para formar um profis-

sional com bagagem cultural, crítica e ética. A prática diária da profissão permeia as relações humanas e, como tal, nada mais digno para tais profis-sionais que serem justos e corretos, sem exceções.

Por isso, como exercício de cog-nição, a matéria objetividade deve ser encarada mais do que como uma definição arcaica ou hoje obsoleta do jornalismo. Ela é algo que deve ser estendido à realidade profissional e de vida de cada um dos que acabam de sair da universidade. Sendo um velho ou novo enunciado do campo, há de se abalizar por ela. (Bruno Bianchim Martim)

Em sentido horário: José M. Vieira Júnior, Larissa Molina, Bruna Sampaio, Syndi Siqueira, Marina Campos, Ivaneide dos Santos, Karla Gigo Morato e Ariane Moreira

educação para o futuro

a ‘santidade’ jornalística

Comunicação, religião e novas tecnologias. Três elementos que parecem manter uma proximidade cada vez maior. Nos dias atuais, as redes sociais proporcionaram o ponto de encontro entre pessoas que compartilham interesses comuns e pertencem à mesma tribo.

A comunidade católica, em es-pecial o movimento da renovação carismática, conta com um pode-roso instrumento de evangelização: a internet. O Papa João Paulo II já afirmava em 1999 que ela seria uma importante aliada para atrair novos

seguidores e unir os fiéis através do mundo virtual. Os padres aprovei-taram a onda do twitter, facebook, myspace e orkut para compartilhar mensagens de fé, o que os tornaram mais “amigos” dos usuários. O re-sultado foi positivo, pois possibilitou um contato maior, antes restrito apenas as missas dominicais.

O Sistema Canção Nova de Co-municação, por exemplo, é resultado do “casamento” entre informação e fé. Além de oferecer programação dirigida ao seu público, principal-mente os católicos carismáticos, o

canal mantém o departamento jorna-lismo para informação dos principais assuntos do dia.

Os sacerdotes pertencentes ao movimento estão inseridos cada vez mais espaços na indústria cultural. Mensagens, músicas e trabalhos sociais dos padres tornaram-se mais frequentes nas emissoras de TV, rádios e sites. Gravadoras mu-sicais, por sua vez, encontraram no sucesso dos padres cantores, uma importante fatia de mercado com menor adesão de produtos piratas. (Vinicius Boer)

a fé na era tecnológica

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Mariane Ferreira, Vinicius Bôer, Letícia Coelho, Cynthia da Rocha, Fernanda Pereira, Anderson Junque e Janaina Moro

Lavínia de oliveira, débora Ferneda, Maria Elvira Evangelista, Camila duarte, Graziela Prezotto, daniele Zanin, Bruno Bianchim Martim e thiago Gaspareto

fotos: anderson Junque

thiago Polacow