poeira zine #18

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O melhor da música do melhor dos tempos! Assine já a versão impressa da poeira Zine e receba em casa as próximas seis edições bimestrais (1 ano)!

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mundo bolha

“Devemos nossa carreira a Eddie Cochran”

Pois é, segundo muitos críticos de peso, e até músicos de bandas concor-rentes, como o Cream, o Blue Cheer foi o ‘pai da matéria’ no quesito Heavy Metal. Isso aconteceu em 1968, quando o trio lançou sua vigorosa estréia, Vincebus Eruptum, álbum que continha aquela versão avassaladora de “Summertime Blues”, faixa essa que, segundo a própria banda, serviu de trilha sonora da força armada yankee nos campos de batalha vietnamitas.

O que interessa agora é que a banda voltou depois de um hiato de 16 anos longe dos

estúdios, silêncio esse rompido pelos acordes endiabrados de What Doesn’t Kill You, o mais recente atentado do trio de São Francisco.

Dickie Peterson; baixista, fundador, vocalista e frontman do BC está no comando da embarcação, que conta também com a presença ilustre do batera Paul Whaley como convidado, sujeito que foi morto e enterrado por engano pela imprensa rocker, um par de anos atrás. Inclusive sua saúde defi nitivamente não é a mesma, como confessa Peterson: “Paul era tão louco como eu em nossos primeiros dias de banda. As vezes ele sofre alguma reação em função desses excessos de tempos passados, mas posso garantir que Paul está ok agora, inclusive devo admitir que é muito bom tocar com ele novamente. Tocamos juntos, mas a sensação é de como estivéssemos tocando um contra o outro... pura provocação mesmo”. O baixista aproveita e emenda: “Durante as gravações Paul adoeceu, então algumas das faixas foram gravadas por outro baterista, Joe Hasselvan-der, que já tocou com o Raven e com o Pentagram”.

As guitarras do novo disco estão por conta do experiente Andrew “Duck” McDonald, músico que está há 22 anos no Cheer e que manda muito bem em todo o álbum, como comprova a faixa de abertura e novo hino dos motoqueiros mundo afora: “Rollin’ Dem Bones”. Na regrava-ção de “Born Under A Bad Sign”, do mestre Albert King, “Duck” cuida também dos vocais. Pegada forte total.

Segundo Peterson, somente agora foi dada ao grupo a chance de fazer o que der na cuca e o novo álbum é a prova dessa espontaneidade. Tal liberdade fi ca evidente, principal-mente na balada “Young Lions In Paradise”, sim o Blue Cheer pode fazer uma boa balada em pleno século 21 e soar ok.

O líder do Blue Cheer está contente, pois através da asso-ciação do grupo com a geração Stoner Rock dos anos 1990, o público nos shows da banda está cada vez mais jovem: “Nos shows, nosso público atual é composto de jovens; eles apare-cem num número bem superior ao dos nossos antigos segui-dores. Quem vem ao nosso show esperando um trio de coroas fazendo algo nostálgico quebra a cara. A energia é imensa e estamos dispostos a colocar a casa abaixo todas as noites”.

Quanto aos 40 anos do lançamento de Vincebus Eruptumeste ano, Peterson comenta empolgado: “Vamos celebrar na estrada, creio que essa seja a melhor maneira de comemorar. Não faremos como as bandas antigas, que estão tocando seus álbuns clássicos na íntegra durante os shows. Prefi ro pensar em relançar o disco num formato mais atraente e caprichado, ou até pensar no lançamento de um box set cobrindo toda a carreira do Blue Cheer”.

der, que já tocou com o Raven e com o

Segundo Peterson, somente agora foi dada ao grupo a

novasPara os Zappaheads de plantão:

Napoleon Murphy Brock, Don Preston e Roy Estrada estão em digressão pela Inglaterra tocando o creme do material clássico do Mothers. Até agora foram 12 datas em 15 dias de tour! O grupo se apresenta com o nome de The Grandmothers Of Invention.

O selo britânico Market Square lançou no começo deste ano o álbum inédito Abbots Langley, um projeto do sensacional guitarrista Ollie Halsall (ex-Patto, Tempest, Boxer, Kevin Ayers, Rutles e Dre-ambox). A bolacha foi registrada no começo dos anos oitenta e contava com o batera John Halsey, também um ex-integrante do Patto. Abbots Langley é um retrato da fase mais difícil da carreira de Halsall: nesse período o guitarrista vivia numa casa sem energia elétrica e gás e roubava comida e leite da porta dos vizinhos para se manter em pé; gravou o disco com uma guitarra roubada e com um amplifi cador detonado. Para mais informações sobre esse lendário guitarrista, acesse o The Ollie Halsall Archive (www.olliehalsall.co.uk)

Que tal conferir algumas gemas da coleção particular de Bob Hite, o lendário e saudoso crooner e frontman do Canned Heat? Sempre foi sabido que Hite era um ávido colecionador e estudioso do velho Blues, mantendo uma volumosa coleção de discos de 78 rota-ções. Recentemente, graças a um trabalho de garimpagem de seu ex-companheiro de banda, Fito De La Parra, e do DJ Walter De Paduva (Dr. Boogie), uma pequena amostra dos arquivos de Hite chegam ao formato digital via o CD Dr. Boogie Presents Rarities From the Bob Hites Vaults, cortesia do selo Sub Rosa. Neste primeiro exemplar da série temos 19 faixas, dentre elas uma gravação de 1941: “Death Ray Boogie”, original de Pete Johnson. O melhor de tudo: aqui você ouve tais pérolas do jeito que Hite também as ouvia, com todos os ruídos e chiados originais do LP.

Em abril rola uma mega con-venção de fãs do Free na Ingla-terra. O evento comemora os 40

anos do primeiro ensaio do grupo e acontece no Tynemouth’s Park Hotel. Os novatos do Get Vegas estão escalados para fazer um set especial em tributo ao grupo e espera-se a ilustre presença de algum ex-integrante da banda. Mais informações você encontra em myspace.com/freeconvention

Falando em ex-integrante do Free, quem está de banda nova é o batera Simon Kirke. Muito bem acompanhado por sinal: Ian McLa-gan (Small Faces/Faces), John Waite (The Babys/Bad English) e Audley Freed (Cry Of Love/Black Crowes). O nome do combo ainda não foi revelado.

Steve Hackett está trabalhando num novo projeto mais voltado para o rock e que de lambuja traz participações de Chris Squire e Simon Phillips.

promoçãopoeira Zine/Michel Leme

e Rainer Tankred Pappone Rainer Tankred Pappon

Dois dos maiores guitarristas do país estão lançando e divulgando seus novos trabalhos! lançando e divulgando seus novos trabalhos!

O guitarrista, compositor e arranjador Michel Leme, lançou recentemente seu CD Leme, lançou recentemente seu CD Michel Leme & A FirmaLeme & A Firma, contendo nove impecáveis temas. O guitarrista se mostra cada vez mais temas. O guitarrista se mostra cada vez mais abençoado e seu estilo livre e inspirado são a abençoado e seu estilo livre e inspirado são a tônica das composições, todas de sua autoria. tônica das composições, todas de sua autoria. Essa nova orgia sonora de Michel contém mais Essa nova orgia sonora de Michel contém mais de 70 minutos de duração, passeando por de 70 minutos de duração, passeando por diversos climas, andamentos e sabores. Mais diversos climas, andamentos e sabores. Mais informações no site michelleme.cominformações no site michelleme.com

Já o guitarrista Rainer T. Pappon lançou um DVD, DVD, Live in Havaí, produzido pela grande Tati Mello. O divertido DVD traz o Rainer T. Pappon Mello. O divertido DVD traz o Rainer T. Pappon Trio ensaiando, brincando e se divertindo num Trio ensaiando, brincando e se divertindo num clima totalmente ‘em casa’. Os destaques são clima totalmente ‘em casa’. Os destaques são as maravilhosas faixas do mais recente CD as maravilhosas faixas do mais recente CD homônimo de Rainer e os extras do dvd, con-homônimo de Rainer e os extras do dvd, con-tendo versões para clássicos de Zappa, King tendo versões para clássicos de Zappa, King Crimson e Focus. Para adquirir o DVD, que Crimson e Focus. Para adquirir o DVD, que vem acompanhado de uma palheta e de dois vem acompanhado de uma palheta e de dois porta-copos, você pode entrar em contato com porta-copos, você pode entrar em contato com o guitarrista pelo myspace.com/rtpappono guitarrista pelo myspace.com/rtpappon

Ganhe na faixa: CDs do Michel, do Rainer e Ganhe na faixa: CDs do Michel, do Rainer e edições da poeira Zine!edições da poeira Zine!Para levar essa boiada, escreva uma carta pra Para levar essa boiada, escreva uma carta pra gente, escrita a mão, respondendo a seguinte gente, escrita a mão, respondendo a seguinte questão: Quais os nomes de cinco bateristas questão: Quais os nomes de cinco bateristas que já tocaram com Frank Zappa?que já tocaram com Frank Zappa?

Envie sua carta para:Envie sua carta para:Promoção Michel/RainerPromoção Michel/RainerCaixa Postal 12089Caixa Postal 12089Cep 02013-970 - São Paulo/SPCep 02013-970 - São Paulo/SP

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questão: Quais os nomes de cinco bateristas que já tocaram com Frank Zappa?

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mundo bolha

apas HistóricasCapas Históricasapas Históricas

Space Ritual {Hawkwind}United Artists: 1973 Design: Barney Bubbles

do lado de cá...

do lado de lá...

Get Vegas (UK)

Chega a surpreender. De todos os integrantes do Get Vegas, apenas um já ultrapassou a casa dos 20 anos de idade! E sabe qual a principal infl uência dos caras? Free, Bad Company, Montrose e Foreigner.

O grupo tem apenas 18 meses de vida e até agora não assinou contrato com nenhuma gravadora. Os garotos garantem que fazem cerca de seis shows por semana e estão no momento gravando sete faixas para um mini-álbum a ser lançado em julho.

Trechos de quatro sons você confere no myspace da rapazeada: myspace.com/getvegas. A bolachinha pro-

mete, principalmente pelo vocal classudo e cheio mete, principalmente pelo vocal classudo e cheio mete, principalmente pelo vocal classudo e cheio de confi ança de Jonny Cole. Confi ra o poder de de confi ança de Jonny Cole. Confi ra o poder de de confi ança de Jonny Cole. Confi ra o poder de

fogo do sujeito em “Lying Dreams”.fogo do sujeito em “Lying Dreams”.Site: getvegas.co.uk

novasPara os Zappaheads de plantão:

Napoleon Murphy Brock, Don Preston e Roy Estrada estão em digressão pela Inglaterra tocando o creme do material clássico do Mothers. Até agora foram 12 datas em 15 dias de tour! O grupo se apresenta com o nome de The Grandmothers Of Invention.

O selo britânico Market Square lançou no começo deste ano o álbum inédito Abbots Langley, um projeto do sensacional guitarrista Ollie Halsall (ex-Patto, Tempest, Boxer, Kevin Ayers, Rutles e Dre-ambox). A bolacha foi registrada no começo dos anos oitenta e contava com o batera John Halsey, também um ex-integrante do Patto. Abbots Langley é um retrato da fase mais difícil da carreira de Halsall: nesse período o guitarrista vivia numa casa sem energia elétrica e gás e roubava comida e leite da porta dos vizinhos para se manter em pé; gravou o disco com uma guitarra roubada e com um amplifi cador detonado. Para mais informações sobre esse lendário guitarrista, acesse o The Ollie Halsall Archive (www.olliehalsall.co.uk)

Que tal conferir algumas gemas da coleção particular de Bob Hite, o lendário e saudoso crooner e frontman do Canned Heat? Sempre foi sabido que Hite era um ávido colecionador e estudioso do velho Blues, mantendo uma volumosa coleção de discos de 78 rota-ções. Recentemente, graças a um trabalho de garimpagem de seu ex-companheiro de banda, Fito De La Parra, e do DJ Walter De Paduva (Dr. Boogie), uma pequena amostra dos arquivos de Hite chegam ao formato digital via o CD Dr. Boogie Presents Rarities From the Bob Hites Vaults, cortesia do selo Sub Rosa. Neste primeiro exemplar da série temos 19 faixas, dentre elas uma gravação de 1941: “Death Ray Boogie”, original de Pete Johnson. O melhor de tudo: aqui você ouve tais pérolas do jeito que Hite também as ouvia, com todos os ruídos e chiados originais do LP.

Em abril rola uma mega con-venção de fãs do Free na Ingla-terra. O evento comemora os 40

anos do primeiro ensaio do grupo e acontece no Tynemouth’s Park Hotel. Os novatos do Get Vegas estão escalados para fazer um set especial em tributo ao grupo e espera-se a ilustre presença de algum ex-integrante da banda. Mais informações você encontra em myspace.com/freeconvention

Falando em ex-integrante do Free, quem está de banda nova é o batera Simon Kirke. Muito bem acompanhado por sinal: Ian McLa-gan (Small Faces/Faces), John Waite (The Babys/Bad English) e Audley Freed (Cry Of Love/Black Crowes). O nome do combo ainda não foi revelado.

Steve Hackett está trabalhando num novo projeto mais voltado para o rock e que de lambuja traz participações de Chris Squire e Simon Phillips.

Barney Bubbles merecia ser muito mais reconhecido, além do que é cultu-ado. Mais popular? Não seria apro-priado. Não é do mesmo tipo de artista gráfi co que um Roger Dean, cujo apelo é mais para o belo e o épico. Barney (nome real: Colin Fulcher) era o inquieto, o típico freak da Portobello Road, onde viviam os doidões naquela Londres pós-psicodélica. Nesse cenário, nada mais natural do que ele estar associado ao Hawkwind. Toda a concepção da banda casava com o estado de espírito e a arte de Barney. A parceria começou em In Search Of Space (1971), segundo álbum do Hawkwind, e seguiu em Doremi Fasol Latido (1972) e até 1978, tudo muito bem-elaborado e bem-sucedido, incluindo cartazes e ocasionalmente cenários de palco. Mas o trabalho dele que causou mais impacto foi a arte do álbum duplo ao vivo da banda, Space Ritual, de 1973, o segundo LP com Lemmy no baixo e em alguns vocais, e também a primeira gravação ofi cial em disco do muito subestimado artista Robert Calvert.

Abrir a capa da edição original inglesa enquanto se ouvem as bola-chas é viver o que se pode, hoje, da experiência sensorial que era o show

do Hawkwind naquele tempo após o sucesso do single “Silver Machine”. Era um espetáculo com poesia, artes plásticas, o show de luzes de Liquid Len and The Lensmen e a dançarina Stacia ao som em alto volume dos Hawks comandados pelo guitarrista Dave Brock. A capa desdobra-se em seis partes, frente e verso, e mostra uma deusa (Stacia) guardada por felinos, antigas imagens egípcias e balinesas, e o grupo fotografado por Laurie Lewis e Gabi Naseman em plena orgia sonora. Frases de letras de músicas sobre imagens cósmicas conferem um charmoso e simplório mistério a alguns dos painéis, e os envelopes dos elepês são literalmente “decorativos” (mas seu exemplar não estará completo sem eles).

Barney cometeu suicídio em 1983. Além do Hawkwind, também trabalhou com Edgar Broughton Band, The Damned, Ian Dury & The Blockheads, Michael Moorcock e Elvis Costello. Em 1978 criou o novo logotipo do semanário New Musical Express, que seria usado até fi ns dos anos 80.

(Ricardo Alpendre)

Irmandade do blues (SP)

Para afi rmar a importância desse pessoal na música brasileira basta lembrar que eles são a banda de blues de São Paulo que está a mais tempo na ativa: 14 anos. Isso fi ca pra lá de evidente na com-

petência de Good Feelings, o novo trabalho de estúdio da Irmandade.

A banda, formada por Vasco Faé (gaita, voz e gui-tarra), Silvio Alemão (baixo), Edu Gomes (guitarra) e Fernando Lóia (bateria), chega ao seu segundo regis-tro esbanjando bom gosto nos timbres das 14 faixas, dentre elas versões para clássicos de Dave Mason, Janis Joplin, Big Bill Broonzy e Alphonse Mouzon, além de sons próprios.

Site: irmandadedoblues.com.br

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Gentle Gentle GiantGiantGiant“A gente não curtia muito sociali-

zar com outras bandas. Na maioria do tempo, preferíamos contar com a companhia dos integrantes do nosso próprio grupo, conservando e pro-tegendo assim a sinergia que rolava entre nós. A verdadeira força do Gentle Giant era a forma de como tocávamos e encarávamos a música em sua tota-lidade. Apesar de toda essa complexi-lidade. Apesar de toda essa complexi-dade, nosso desejo era extremamente dade, nosso desejo era extremamente simples: apresentar o material com honestidade e humor, convidando o verdadeiro ouvinte a dividir conosco esse nosso pequeno cantinho do mundo”.

Gary Green

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A casa da família Shulman vivia sempre agitada. Músicos amadores e profi ssionais, professores, novos aspirantes e outsiders de meia idade conversavam, rodeados por muitos outsiders de meia idade conversavam, rodeados por muitos outsiders

instrumentos, espalhados pelos quatro cantos da modesta, porém acon-chegante residência. Para quem tinha começado a vida nos Gorbals de Glasgow, na região barra pesada da Escócia, reiniciar tudo num sobrado de Portsmouth, mais precisamente na Eastney Road, Southsea, era bom demais.

O dono da casa, o mentor da família Shulman, era um genuíno repre-sentante da classe operária britânica do pós-guerra. Trabalhava de dia

como representante de vendas, para depois cair na noite tocando como representante de vendas, para depois cair na noite tocando trompete em grupos de jazz. Nas horas vagas ministrava aulas trompete em grupos de jazz. Nas horas vagas ministrava aulas de música, daí o fato de sua residência estar sempre abarro-de música, daí o fato de sua residência estar sempre abarro-tada de gente interessante.tada de gente interessante.

No meio desse clima crescia a nova geração da família No meio desse clima crescia a nova geração da família Shulman: o mais jovem, Raymond, começou tocando trom-Shulman: o mais jovem, Raymond, começou tocando trom-pete aos cinco anos de idade e dois anos depois já dominava pete aos cinco anos de idade e dois anos depois já dominava o violino. Derek se interessava pelo violão e percussão e Phil o violino. Derek se interessava pelo violão e percussão e Phil pelos instrumentos de sopro. A garotada cresceu praticando pelos instrumentos de sopro. A garotada cresceu praticando ao menos uma hora por dia, já que o papai Shulman trazia ao menos uma hora por dia, já que o papai Shulman trazia consigo tradições familiares judaicas e escocesas; musical-consigo tradições familiares judaicas e escocesas; musical-

mente, era um bocado severo com os garotos, mas nunca fez mente, era um bocado severo com os garotos, mas nunca fez imposições religiosas, por exemplo. Logo Derek e Raymond imposições religiosas, por exemplo. Logo Derek e Raymond montaram uma dupla, com Derek na guitarra e Ray no violino. montaram uma dupla, com Derek na guitarra e Ray no violino. Não demorou muito e na adolescência eles já tinham um grupo Não demorou muito e na adolescência eles já tinham um grupo

semi-profi ssional: The Howling Wolves.semi-profi ssional: The Howling Wolves.Rolava o ano de 1965: os Beatles lançavam Rolava o ano de 1965: os Beatles lançavam Rubber Soul e Rubber Soul e Rubber Soul

arquitetavam ainda de forma sucinta uma drástica mudança nos arquitetavam ainda de forma sucinta uma drástica mudança nos rumos da música. Nessa altura do campeonato, Derek e Ray Shul-rumos da música. Nessa altura do campeonato, Derek e Ray Shul-

man estavam mais para o R&B e o blues elétrico de Chicago; infl uên-man estavam mais para o R&B e o blues elétrico de Chicago; infl uên-cia maior de grupos como os Rolling Stones, Animals e Yardbirds. Os cia maior de grupos como os Rolling Stones, Animals e Yardbirds. Os Howling Wolves iam nessa onda e se apresentavam uma vez por mês Howling Wolves iam nessa onda e se apresentavam uma vez por mês na escola local.

Os rapazes tinham apenas um par de amplifi cadores, que preci-Os rapazes tinham apenas um par de amplifi cadores, que preci-savam ser transportados de um local para outro, então a primeira savam ser transportados de um local para outro, então a primeira necessidade da moçada foi descolar uma Van. Como a grana era necessidade da moçada foi descolar uma Van. Como a grana era pra lá de curta para a compra da Van, o jeito foi solicitar os serviços pra lá de curta para a compra da Van, o jeito foi solicitar os serviços de um empresário, Phil Shulman, irmão mais velho da dupla (Phil é de um empresário, Phil Shulman, irmão mais velho da dupla (Phil é cerca de 10 anos mais velho que Derek, que por sua vez é três anos cerca de 10 anos mais velho que Derek, que por sua vez é três anos mais velho que Ray).mais velho que Ray).

O primeiro mérito de Phil foi descolar um show para os rapazes O primeiro mérito de Phil foi descolar um show para os rapazes na escola em que lecionava música, isso por um cachê de 18 libras na escola em que lecionava música, isso por um cachê de 18 libras (cerca de 60 reais). Bastou para a garotada achar que Phil era uma (cerca de 60 reais). Bastou para a garotada achar que Phil era uma espécie de empresário que caiu do céu. Para animar ainda mais a espécie de empresário que caiu do céu. Para animar ainda mais a moçada, Phil tinha uma grana guardada e comprou a tão desejada moçada, Phil tinha uma grana guardada e comprou a tão desejada Van. A glória foi tamanha que resolvem mudar o nome do grupo para Van. A glória foi tamanha que resolvem mudar o nome do grupo para The Road Runners.

Com o tesão adolescente impulsionando-os cada vez mais, resol-Com o tesão adolescente impulsionando-os cada vez mais, resol-vem que precisam incrementar o som e caprichar cada vez mais no vem que precisam incrementar o som e caprichar cada vez mais no R&B. Agora todos tinham amplifi cadores individuais, guitarras Fender R&B. Agora todos tinham amplifi cadores individuais, guitarras Fender e um organista; só faltava algum instrumento de sopro para dar um e um organista; só faltava algum instrumento de sopro para dar um molho, de preferência um saxofone. Claro que sobrou para Phil, que molho, de preferência um saxofone. Claro que sobrou para Phil, que não só adquiriu o instrumento como também passou a tocá-lo em não só adquiriu o instrumento como também passou a tocá-lo em shows e ensaios.

Tocavam coisas diversas, desde Howlin’ Wolf até Johnny Rivers e Tocavam coisas diversas, desde Howlin’ Wolf até Johnny Rivers e rapidamente chegaram à conclusão de que Phil rapidamente chegaram à conclusão de que Phil

não conseguiria empresariar o grupo e ser músico ao mesmo tempo. O jeito foi contratar um sujeito famoso em Portsmouth, que cuidava de alguns outros grupos da região e descolava shows nas mais distantes cidades! O novo manager deu as caras, mas fez exigências: o nome da banda deveria mudar para Simon Dupree and The Big Sound. Apesar de soar oportuno e picareta demais, os irmãos Shulman toparam a parada, mas resolveram deixar tudo em família, contratando o cunhado como novo empresário. O sujeito atendia pelo nome de John King e era produ-tor da conceituada rede BBC de televisão. Não tinha muita experiência com bandas de rock e pop, mas possuía muitos contatos e conhecia as pessoas certas.

King descolava uma média de seis shows mensais para os garotos e um cachê médio de 25 libras, o que ainda não era nada razoável. Pelo menos serviu para deixar o grupo mais conhecido na região Sul da Inglaterra. Nessa altura, um dos pontos altos dos shows do Simon Dupree and The Big Sound era uma versão para uma canção dos Five Americans: “I See The Light”. King sacou isso e colocou a banda para registrar essa faixa num estúdio em Bristol. Sem perder tempo, o empre-sário levou a gravação para os executivos da EMI, que na seqüência recrutou um show particular do grupo. Segundo Derek essa experiência foi traumatizante e uma das mais embaraçosas de sua carreira: fi zeram um show particular, de cerca de uma hora de duração, na frente de três caras engravatados. Apesar da sensação ruim deixada em Derek, a gra-vadora gostou do que viu (e ouviu) e contratou o grupo por cinco anos, o que naquela época signifi cava muito.

Com o contrato debaixo do braço os irmãos Shulman partem atrás de uma agência de negócios e trombam com Arthur Howe, que os coloca na estrada com Beach Boys e Helen Shapiro; bastou para os tablóides sensacionalistas estamparem que o grupo havia assinado um contrato milionário. Claro que não era bem isso...

Segundo Ray, a experiência daquela tour foi muito proveitosa. Pas-saram a tocar para um público médio de 2000 pessoas por noite, sendo que um mês antes apresentavam-se para no máximo 400. No embalo da tour a EMI lança “I See The Light” como compacto. O disquinho entra no Top 50 e a lendária rádio Caroline executa-o à exaustão.

Com cerca de seis shows semanais, Simon Dupree and The Big Sound começava a chamar atenção pelo país. Derek havia encerrado os estudos, no entanto Ray ainda estava no colégio e Phil continuava dando aulas.

No meio tempo a EMI lança mais dois compactos da banda: “Reservations” e “Daytime Nightime”. A projeção dos dis-quinhos serviu para melhorar o cachê dos rapazes, que faziam tours numa van e contavam com um roadie e com uma ainda pequena aparelhagem. Chega-ram a dividir o palco com The Jimi Hendrix Experience em três diferentes ocasiões, sendo uma

Desvendamos Desvendamos os mitos do gigante: os mitos do gigante: a sagaz trajetória dos irmãos Shulman, a dedicação e a busca pela verdade musical, os instrumentos pouco usuais, os discos legendários, as tours equivocadas e muito mais...

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delas durante a gravação do programa germânico de TV Beat Club.

Pouca gente sabe, mas depois dos Beatles e dos Moody Blues, Simon Dupree and The Big Sound foi um dos primeiros grupos a usar o Mellotron no estúdio e nos palcos. O pessoal entrou em contato com a novidade quando gravavam seu primeiro álbum no Abbey Road Studios, em 1967. Durante a noite, os Beatles grava-vam seu Sgt. Peppers no estúdio Sgt. Peppers no estúdio Sgt. Peppers2 e, durante o dia, a banda dos irmão Shulman usava e abusava do mesmo espaço. Segundo Peter O’Flaherty, integrante do Simon Dupree, a atmosfera criada pelos Beatles dentro daquele estúdio era algo imensamente prazeroso: “Ali podíamos fl utuar sem sentir nossos pés”, declarou. sem sentir nossos pés”, declarou. sem sentir nossos pés”Durante as gravações os Beatles não tiravam seu equipamento do local, apenas deixavam tudo amontoado num canto da sala, inclusive o Mellotron. Lógico que os Shulman brothers usavam o mesmo equipamento dos Beatles para gravar suas canções e no fi m de cada sessão colocavam cuidadosamente tudo de volta em seu devido lugar.

Apesar de tudo e de toda essa ousadia sonora, faltava emplacar um hit de verdade. John King sugeriu então que gravassem uma canção chamada “Kites”, mas os rapazes odiaram a canção e se recusaram num

primeiro instante. King insistiu e alertou: “Se não gravarem eu caio fora!”. O grupo cedeu; gravou a canção, participou do conceituado programa televisivo Top Of The Pops e se Top Of The Pops e se Top Of The Popsmandou para uma tour pela Suécia.

“Kites” chegou ao quinto posto das para-das, apimentando os shows e os cachês, mas no fundo os irmãos Shulman não esta-vam contentes; a banda estava agora sendo vendida como a nova salvação do pop. Esse caminho era defi nitivamente o que eles mais queriam evitar. Segundo Ray, infelizmente pelo fato de talvez serem ainda muito jovens, estavam ouvindo demasiadamente a opinião de terceiros e com isso fi cando sem força sufi ciente para controlar o próprio destino musical. Ao vivo, eram uma banda de rock de verdade, um autêntico misto de pré-punk garage sound e garage sound e garage soundfreakbeat soul, mas a imprensa começou a vender o grupo como a nova e careta revelação do mundo pop. Isso, acrescido do ridículo e bufante novo guarda-roupa, acabava minando a paciência dos Shulman’s.

Até 1969, Simon Dupree and The Big Sound lançou um álbum (Without Reservations) e mais cinco avulsos: “For Whom The Bell Tolls”, “Part Of My Past”, “Thinking About My Life”, “Broken Hearted Pirates” e “The Eagle Flies Tonight”. Toda essa profusão não impediu o fi m precoce do grupo.

A gota d’agua aconteceu quando começaram a fazer o circuito de cabarés pela Inglaterra. Aquilo era humilhante demais, então fi cou resolvido que o grupo encerraria suas atividades, pois o mútuo respeito musical entre os integrantes havia desaparecido por completo.

O constrangimento era tamanho que Derek era obrigado a conceder entrevistas como sendo o próprio Simon Dupree: “Era muito embara-çoso, eu me sentia muito mal ao encenar toda aquela falsidade. Durante um período fui obrigado a repetir o que os publicitários me diziam, mas em certo ponto fi quei enfurecido e comecei a falar o que não devia”. Ray também passou a ter ódio dessas estratégias de marketing da gravadora: “Esse exagero de publicidade começou a funcionar contra a gente, pois na grande imprensa rolavam boatos absurdos como o de uma cobra que foi entregue de presente para nós num teatro onde nos apresentaríamos. Falaram que era presente de um fã do oriente e que logo depois a cobra desapareceu...”.

No fi m de 1969 os irmãos Shulman colocam um fi m no projeto. Haviam conseguido grana sufi ciente para passar o próximo ano gerando aquela que seria talvez a mais ousada banda do que viria a ser conhecido como rock progressivo.

Antes de passarmos para a biografi a do Giant, um pequeno toque para os completistas. Por muitos anos foi divulgado entre os fãs que o pré-Giant, Simon Dupree and The Big Sound, teria gravado somente um único compacto, “Kites”. Na verdade, a banda lançou ao todo nove compactos e registrou 16 faixas em estúdio. Todas elas podem ser encontradas no CD Part Of My Past - The Simon Dupree and The Big Sound Anthology, lançado pela EMI em 2004.

Segundo os irmãos Shulman, o que mais os

aborrecia era o fato dos músicos que faziam parte do Simon Dupree and The Big Sound não serem capazes de alçar vôos mais altos, musicalmente falando. Não é segredo, inclusive, que os Shulman ensinavam os caras e mostravam como queriam uma levada de bateria, ou um solo de guitarra ou uma harmonia nos teclados. Uma situação constrangedora para os irmãos era ter que realizar overdubs sobre as partes overdubs sobre as partes overdubsdos demais integrantes e segundo os Shulman’s, quando chegaram a con-

clusão de que tocavam bateria melhor do que o próprio baterista do grupo, era mesmo o fi m. Rapidamente fi cou muito claro que tais músicos certamente não contribuiriam em nada no próximo projeto.

O primeiro passo foi estabe-lecer um padrão para avaliar os novos candidatos. As exigências naturais eram: ser brilhante no próprio instrumento, saber cantar, encarar sem crise o aprendizado de um novo instrumento e não se prender a um estilo musical específi co.

O primeiro novo reforço veio com o nome de Kerry Minnear, um tecladista graduado na Acade-mia Real de Música, indicado por um amigo de Phil Shulman. Kerry havia recentemente passado por uma autêntica roubada: se mandou para a Alemanha com

Simon Dupree and The Big Sound, mais conhe-cido como o pré-Gentle Giant, chegou a gravar uma canção psicodélica sob o pseudônimo The Moles. O compacto, pro-curadíssimo hoje pelos colecionadores, trazia as faixas “We Are The Moles Part 1” e “We Are The Moles Part 2” e seu lançamento foi acompa-nhado de um estrondoso boato entre a imprensa e os clubes noturnos: The Moles nada mais era do que os Beatles disfarçados. Tudo veio por água abaixo graças a Syd Barrett, que revelou ao mundo que The Moles era na verdade o Simon Dupree e não os Beatles. O então líder e mentor do Pink Floyd costumava assistir os ensaios para as gravações do programa Top Of The Pops e des-vendou o mistério. Bastou para as vendas despenca-rem e para Simon Dupree and The Big Sound ser conhecido como um pica-reta de marca maior.

Na foto acima: Simon Dupree and The Big Sound contando com um ilustre integrante; Reg Dwight, ou melhor, Elton John, o segundo

da esquerda pra direita.

Beatles disfarçado

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O GG foi escalado para abrir um show do Black Sabbath em Los Ange-les, durante a terceira tour norte-americana da banda de Tony Iommi. Era a primeira vez que o Giant excursionava pela América e contavam com um pequeno, porém fi el séquito de fãs na costa oeste do país. Apesar disso, a platéia obvia-mente estava lá para assistir o Black Sabbath, o que causou uma tensão imensa sobre o grupo dos irmãos Shulman.

O pior aconteceu quando o GG executava uma de suas calmas passagens com violino e violoncelo: uma bomba de fumaça foi atirada pelo público e estourou em pleno palco!

Imediatamente, Phil, o mais tímido e contido dos irmãos Shulman, inter-rompeu o show, para o espanto de todos os demais integrantes. Che-gando ao microfone ele simplesmente apontou para a platéia e gritou: “Vocês não passam de um bando de cuzões!”. A vaia foi geral e o Giant deixou o palco com o rabo entre as pernas.

GentleSabbathum pesadelopela América

regência e música erudita. Foi essa ânsia que o levou para a Academia Real de Música, onde se graduou em composição, con-quistando um título muito atípico para um músico do ‘universo rock’. Aliás é muito ‘universo rock’. Aliás é muito falado dentre os fãs do GG que quando Minnear se graduou, fazia mais de dez anos que ninguém conquistava esse título na Academia (Outro músico graduado pela Academia foi Rick Wakeman).

Segundo o próprio Minnear, nos anos em que se dedicou aos estudos eruditos na Academia Real ele raramente acompanhou o que acontecia na cena pop. Apenas duas bandas o tiraram de seu casulo: King Crimson e Yes; ambas aprovadas pelo jovem músico, que assistiu seus pri-meiros concertos em 1969. Uma vez por ano, Minnear pintava no Ronnie Scott’s, um conceitu-ado e caríssimo bar de jazz. Lá ele conferia timidamente o que estava despontando no cenário. Sua idéia era lecionar e escre-ver música quando deixasse a Academia, no entanto achou mais interessante ingressar antes num grupo de rock, foi daí que acabou no Rust.

Minnear foi o primeiro músico que os Shulman’s contacta-ram visando o novo projeto. O tecladista chegou a Portsmouth e trouxe um amigo guitarrista a tira colo. Ensaiaram por uma semana e logo o primeiro problema surgiu: os Shulman’s adoraram o estilo de Minnear, mas não

curtiram nem um pouco seu curtiram nem um pouco seu amigo guitarrista; como falar isso para Minnear? Tudo se acalmou quando chegaram a conclusão de que Minnear também não curtia o som do amigo.

O próximo e natural passo foi inserir um anúncio no semanário musical Melody Maker, algo do Melody Maker, algo do Melody Makertipo: “Banda de nome e com con-trato assinado procura guitarrista”. Gary Green foi o 45º guitarrista a ser testado, porém com um tre-mendo diferencial; foi o primeiro a pedir para afi nar sua guitarra com o teclado e com o baixo antes de começar a tocar. Isso encorajou bastante os Shulman’s, que desde o início olharam para o jovem guitarrista com outros olhos. Quando perguntado sobre suas principais infl uências, Gary respondeu: Freddie King, B.B. King e Soft Machine.

Gary havia passado por diversos grupos e era um fanático estudioso do blues, como muito outros músicos de sua geração. Como suas bandas sempre davam em lugar algum, começou a participar do maior número de audições possíveis. Fez cente-nas delas via Melody Maker e foi Melody Maker e foi Melody Makeratravés de uma delas que caiu na banda dos Shulman’s, como relembrou recentemente:

“No anúncio tinha um telefone, então “No anúncio tinha um telefone, então liguei e marquei uma audição num pub, ao norte de Londres. Chegando lá me deparei com um bumbo de bateria que trazia o logotipo de Simon Dupree and The Big Sound. Por um momento pensei que estava fazendo a coisa errada, mas logo percebi que os caras tocavam muito; muito mais do que eu, inclusive. Rapidamente eles estavam pedindo para eu tocar certas coisas e percebi que estavam curtindo. Foi uma bela experiência, já que naquele instante decidi sair um pouco do universo do blues, que eu tanto adorava e ainda adoro. Apesar disso, o blues soava um pouco restrito e o que eu queria era ousar musicalmente, então aqueles eram os caras...”.

Para a bateria veio Martin Smith, também recrutado via anúncio na Melody Maker. Com o grupo formado, ensaiaram pra valer, durante seis meses em Portsmouth, um repertório já par-cialmente escrito pelos irmãos Shulman durante o ano anterior.

O nome Gentle Giant é escolhido e os experimentos sonoros começam a rolar livremente nos ensaios (seis horas por dia, diga-se de passagem). A menor pre-ocupação que tinham era se o público ou as gravadoras iriam ou não gostar do material. O panorama parcial era encorajador: Derek, Ray e Phil Shulman estavam frustrados com a maquinaria pop que havia envolvido e sugado

um grupo chamado Rust. Lá, literalmente comeu o pão que o diabo amassou; passou fome e chegou a dormir na rua, já que a banda foi um fracasso entre os germânicos. Juntou grana por quatro meses para conseguir voltar para a Inglaterra, onde foi repatriado pelos pais. Segundo os Shulman’s, Kerry parecia um refugiado de guerra naqueles idos de 1970.

O tecladista do Giant teve uma infân-cia e uma adolescên-cia completamente musical. Gostava muito musical. Gostava muito de cantar com o seu pai de cantar com o seu pai e aos sete anos de idade já tocava piano. Depois passou para a bateria e pela guitarra e na juven-tude achou que seria uma boa estudar composição,

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As explorações psicodélicas/meditativas de Miles Davis do período 1972-1975 em box de luxo.

On The Corner foi um álbum difícil para Miles. Suas extra-On The Corner foi um álbum difícil para Miles. Suas extra-On The Cornerpolias e fl ertes com o rock psicodélico e o funk e sua admira-ção por Hendrix e Sly Stone angariavam o ódio dos puristas lá pelos idos de 1972, época que Hendrix não estava mais entre nós e Sly estava fritando os poucos neurônios que ainda lhe restavam. Miles por sua vez estava empolgado; sua audiência agora era mais jovem e muito mais ampla. O lendário ícone do jazz sentia que os anos 70 seriam o ápice da música negra norte-americana e não queria fi car de fora da festa. Marvin Gaye, Stevie Wonder e muitos outros eram superstars do momento e Miles apostava que sua música intricada e com-plexa poderia chegar aos jovens negros dos guetos.

No primeiro dia daquele junho de 1972, Miles adentrou o estúdio B da Columbia Records ao lado de 12 músicos, dentre eles, John McLaughlin, Chick Corea e Jack DeJohnette, fi guras que já haviam brilhado ao lado do mestre num divisor de águas chamado Bitches Brew. Herbie Hancock, um tocador de tabla e um especialista em cítara elétrica também estavam presentes para as sessões, assim como o arranjador e multi-instrumentista Paul Buckmaster, sujeito batuta de Bowie e Elton John. Paul trabalhou uma espécie de pré-trilha sonora para as sessões: criou padrões rítmicos de percussão, melo-dias e trechos para sintetizadores, tudo para deixar o pessoal mais a vontade com os improvisos.

De todos os músicos envolvidos, talvez o mais inquieto era o percussionista indiano Badal Roy. Sua inquietação tinha uma razão: Badal nunca havia participado de uma jazz sessionantes. Miles, percebendo a tensão no ar, chegou para o percussionista e ordenou: “Just play like a nigger!” (“Apenas toque como um negro!”).

O então ‘novo’ Miles concentrava-se menos nos longos solos e nas harmonias; jogava mais para o seu próprio time. Timbres, efeitos, texturas e grooves eram as preocupações da vez do músico; seu trompete servia agora de ‘rhythm device’. Segundo Buckmaster, tal fato ocorreu devido ao fascínio do Miles daquela época por Stockhausen. As manipulações de tapes do vanguardista deixavam Miles maluco – em sua Lam-borguini, o cartucho mais executado era Hymnen. Por volta de outubro de 1972, Miles sofreu um grave acidente com essa sua Lamborguini, que resultou em oito semanas de internação num hospital.

The Complete On The Corner Sessions é o nono e último box da Sony dedicado à genial obra do músico; traz 30 takes, sendo que um terço deles ultrapassa a casa dos 20 minutos de duração. O mantra está garantido. Das faixas, 16 delas são inéditas e a maioria retrata as sessões na íntegra, sem os overdubs e cross-fades realizados pelo produtor Teo Macero na versão original do álbum. Alguns trechos e jams deste box também apareceram em outros álbuns de Miles, como Big Fun e Get Up With It.

A parte gráfi ca do lançamento também é um primor; um libreto de 120 páginas traz muitas informações, ensaios dis-sertativos de Paul Buckmaster e Tom Terrell, fotografi as inédi-tas e novas ilustrações de Cortez McCoy, o artista responsável pela capa original do álbum.

The Complete On The Corner Sessions é um marco do genial Miles Davis, que após o verão de 1975 se retirou do showbizz pelo restante daquela década.

Sendo assim, fi ca claro que essas sessões alimentaram o próprio Miles e o jazz por um belo (e triste) par de anos.

Três detalhes que

você precisa saber

sobre On The Corner:

1} Brian Eno credita o álbum

como o pioneiro no quesito

“estúdio como instrumento”, já

que as faixas foram montadas

na pós-produção, onde foram

acrescentados loops, fades e

overdubs.

2} Antes do início das sessões,

Paul Buckmaster passou dois

meses sentado no sofá da casa

de Miles apresentando traba-

lhos de Stockhausen ao músico

norte-americano.

3} Miles tinha um incrível

instinto de induzir seus músi-

cos à um novo território. On

The Corner traz muito disso:

músicos excepcionais tocando

instrumentos pelos quais nunca

tinham tido contato anterior-

mente, tudo por cima de uma

base mantida como segredo.

alargando os limites alargando os limites Miles na esquinaMiles na esquina

alargando os limites do funk hipnótico

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Have A Nice Daybandas que tiveram um ou dois hits

Back is Black<Los Bravos (1966)>

Nos anos 60, época em que estávamos a anos-luz da globalização que hoje impera no mundo, o cenário do pop e do rock era dominado basicamente por grupos e artistas dos EUA e da Inglaterra. Isso até surgir este quinteto espanhol. Criado na primeira metade daquela década através da fusão dos grupos Los Sonor (de onde vieram o guitarrista Anto-nio Martinez e o tecladista Manuel Fernández) e Mike & The Runaways (que contribuiu com o batera Pablo Gómez, o baixista Miguel Viçens e o vocalista Mike Kogel, nascido na Alema-nha), o grupo caiu nas graças de um produtor francês radicado na Espanha, Alain Milhaud, que tratou de arrumar um hit para o quinteto gravar. Ele veio na forma de uma composição assinada pelos ingleses Tony Hayes e Steve Wadey e se chamava “Black Is Black”. Talvez esse nome não te diga absolutamente nada, mas é só ouvir os dois primeiros compassos da introdução para reconhecê-la. Aliás, chama a atenção a competência na execução do tema – que, mais tarde, descobriu-se não ter sido gravada pela banda, mas por músicos de estúdio (entre os quais, diz-se, estaria um

talentoso guitarrista iniciante que atendia pelo nome de Jimmy Page). Apenas Mike teria participado de fato da gravação. O sucesso de “Black Is Black” (um rock bem ao estilo dos anos 60 e com letra falando de uma garota que largou um sujeito falando sozinho) elevou Los Bravos ao status de primeira banda espa-nhola de rock a conquistar sucesso fora de seu país, atingindo o 2º lugar na parada inglesa, o 4º posto nos EUA e vendas superiores a um milhão de cópias em todo o mundo. No ano seguinte, a banda sofreu um duríssimo golpe com o suicídio de Fernández, aos 23 anos – ele se envolveu num acidente automobilístico, aparentemente por sua culpa, em que morreu sua noiva, Lottie Rey, e jamais se recupe-rou da culpa. Os jornais sensacionalistas da época, provando que o mau gosto é uma coisa que não tem limites, passaram a se referir ao caso como “A Tragédia de Romeu e Julieta”...

Depois disso, por mais que se tentasse, o grupo jamais emplacou um hit do nível de “Black Is Black”. Chegaram a ser feitos dois fi lmes com a banda, no espírito daqueles gravados com os Beatles, mas nada aconte-ceu. Os três álbuns (lançados em 67, 68 e 69) tampouco repetiram o êxito de seu primeiro single. Em seguida, Mike Kogel resolveu

chamar a si mesmo de Mike Kennedy e partiu em carreira solo, sendo substituído por Robert Wright e, posteriormente, por Andy Anderson (irmão de Jon Anderson, do Yes). Como nada deu certo, a banda encerrou atividades no início da década de 70. Em 86, Mike, Antonio e Miguel se reuniram e gravaram mais um disco, apenas com músicas antigas, e pouco depois o guitarrista morreria num acidente de moto.

De lá para cá, eventualmente Mike reúne um bando de músicos e se apresenta como Los Bravos apenas para satisfazer os saudosistas de plantão. (Antonio Carlos Monteiro)

O cinema, por incrível que pareça, já rendeu ótimas bandas para o mundo do rock. Dois exemplos clássicos e recentes são The Wonders, grupo em torno do qual gira a ação do divertido fi lme homônimo, que tem Tom Hanks na direção e no elenco, e Steel Dragon, protagonista da história de “Rock Star” e que, numa prova defi nitiva de que nada é perfeito nesta vida, traz lado a lado no elenco a maravilhosa Jennifer Aniston e o tenebroso Mark Wahlberg. Porém, muito antes disso um outro grupo de rock estrelou um fi lme e acabou se tornando maior do que a própria película. Trata-se de Max Frost And The Tro-opers, personagem principal do inexpressivo fi lme Wild In The Streets, lançado há exatos 40 anos. O enredo até que era interessante: o tal do Max Frost, interpretado pelo “famoso quem?” Christopher Jones, é, além de voca-lista de uma banda, um jovem inconformado com tudo que vê à sua volta. Assim, quando sua banda é convidada para participar da campanha de um político americano, Max dá um passa-moleque no sujeito e começa a pregar que o direito de votar seja estendido aos jovens de 14 anos e encerra o show com um tema que levava o pacifi sta título de “Fourteen Or Fight!” (“catorze ou luta!”).

A partir daí, a trama se envolve em episódios rocambolescos que levam Max à presidência dos EUA. Porém, o que realmente resistiu ao tempo disso tudo foi a música “Shape Of Things To Come”, composta pelo casal Barry Mann e Cynthia Weil (que escreveu temas gravados por gente como Dolly Parton, The Animals, B. J. Thomas, Elvis Presley e até o brasileiro Sérgio Mendes) e gravada por músicos de estúdio não creditados. A música, um pop rock denso, muito bem executado e covardemente grudento, a despeito de durar menos de 2 minutos, acabou chegando ao 22º lugar da parada Billboard, além de render um álbum do mesmo nome, lançado também em 68. Além disso, ao longo dos anos foi regra-vada por inúmeros grupos e artistas, como Slade, Ramones, Fuzztones e Gary Moore, entre outros (bem) menos cotados. Curiosa-mente, “troopers” não era o nome da banda de Max no fi lme – na verdade, ela nem tinha nome. Essa palavra teve origem na forma como ele chamava seus parceiros de música – entre eles, o já falecido comediante Richard Pryor, que interpretava o baterista Stanley X – e acabou sendo usada posteriormente para designar a banda. (Antonio Carlos Monteiro)

Shape Of Things To Come <Max Frost And The Troopers (1968)>

rendeu ótimas bandas para o mundo do rock. Dois exemplos clássicos e recentes são The Wonders, grupo em torno do qual gira a ação do divertido fi lme homônimo, que tem Tom Hanks na direção e no elenco, e Steel Dragon, protagonista da história de “Rock Star” e que, numa prova defi nitiva de que nada é perfeito nesta vida, traz lado a lado no elenco a maravilhosa Jennifer Aniston e o tenebroso Mark Wahlberg. Porém, muito antes disso um outro grupo de rock estrelou um fi lme e acabou se tornando maior do que a própria película. Trata-se de Max Frost And The Tro-opers, personagem principal do inexpressivo fi lme 40 anos. O enredo até que era interessante: o tal do Max Frost, interpretado pelo “famoso quem?” Christopher Jones, é, além de voca-lista de uma banda, um jovem inconformado com tudo que vê à sua volta. Assim, quando sua banda é convidada para participar da campanha de um político americano, Max dá um passa-moleque no sujeito e começa a pregar que o direito de votar seja estendido aos jovens de 14 anos e encerra o show com um tema que levava o pacifi sta título de “Fourteen Or Fight!”

Três detalhes que

você precisa saber

sobre On The Corner:

1} Brian Eno credita o álbum

como o pioneiro no quesito

“estúdio como instrumento”, já

que as faixas foram montadas

na pós-produção, onde foram

acrescentados loops, fades e

overdubs.

2} Antes do início das sessões,

Paul Buckmaster passou dois

meses sentado no sofá da casa

de Miles apresentando traba-

lhos de Stockhausen ao músico

norte-americano.

3} Miles tinha um incrível

instinto de induzir seus músi-

cos à um novo território. On

The Corner traz muito disso:

músicos excepcionais tocando

instrumentos pelos quais nunca

tinham tido contato anterior-

mente, tudo por cima de uma

base mantida como segredo.

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Foi graças ao bom Deus que na virada da década de 1960 para a de 1970, praticamente todos os selos respeitáveis

do mercado fonográfi co criaram ambiciosas subsidiárias, totalmente engajadas num único ideal: tratar o rock como uma séria forma de arte.

A RCA lançou a estampa Neon, a EMI pintou com a Harvest, a Pye com a Dawn e a Decca com a Deram, todos esses também altamente colecionáveis e trazendo sempre grandes pérolas do rock mais experi-mental, seja ele progressivo (como depois fi cou conhecido), psicodélico, hard, etc.

Interessante que o mais ‘colecionável’ de todos seja mesmo o selo Vertigo, talvez o que mais honro-samente trabalhava com uma estética não-comercial; colocado no mercado sob a batuta da Philips/Phono-gram. Quando a Vertigo chegou tardiamente ao mer-cado, esse último já estava dominado pelos demais selos anteriormente citados, além de ter também a concorrência de estampas independentes como a Island e a Transatlantic. Isso acabou interferindo talvez Island e a Transatlantic. Isso acabou interferindo talvez nas vendas, mas não na idéia original do selo; oferecer nas vendas, mas não na idéia original do selo; oferecer um novo produto com conteúdo musical ousado, ofere-um novo produto com conteúdo musical ousado, ofere-cido numa embalagem mais elaborada e artística. cido numa embalagem mais elaborada e artística.

Olav Wyper, o manager da Philips britânica, teve um estalo em 1969: “Por que não lançar um selo dedicado estalo em 1969: “Por que não lançar um selo dedicado às bandas mais às bandas mais undergrounds, experimentais e pesa-das?”. Artistas folk e com infl uência esotérica também das?”. Artistas folk e com infl uência esotérica também seriam bem vindos; o que contava era a necessidade de seriam bem vindos; o que contava era a necessidade de extravasar uma total liberdade artística. Wyper declarou extravasar uma total liberdade artística. Wyper declarou no livro no livro Still Dizzy After All These Years: “Apesar da gente reestruturar a companhia, assinando com novas gente reestruturar a companhia, assinando com novas bandas e retrabalhando os antigos contratados com um bandas e retrabalhando os antigos contratados com um certo sucesso; falhamos ao perder um certo impacto certo sucesso; falhamos ao perder um certo impacto emocional. No fi m de cada dia nos encontrávamos no emocional. No fi m de cada dia nos encontrávamos no meu escritório, tomávamos um vinho e discutíamos meu escritório, tomávamos um vinho e discutíamos nosso progresso. Foi numa reunião informal desse tipo nosso progresso. Foi numa reunião informal desse tipo que surgiu a Vertigo. Três meses depois estávamos que surgiu a Vertigo. Três meses depois estávamos lançando o selo”.lançando o selo”.

Outra fi gura que teve papel de suma importância na existência do selo foi o empresário Gerry Bron, que existência do selo foi o empresário Gerry Bron, que ofereceu a Wyper um contrato com uma lista particular de ofereceu a Wyper um contrato com uma lista particular de bandas contratadas: Colosseum, Uriah Heep, Juicy Lucy e bandas contratadas: Colosseum, Uriah Heep, Juicy Lucy e Manfred Mann. Bron depois formaria o selo Bronze.Manfred Mann. Bron depois formaria o selo Bronze.

O primeiro baque levado pelo selo Vertigo aconteceu em 1971, dois anos depois do aparecimento do mesmo. Wysper pediu em 1971, dois anos depois do aparecimento do mesmo. Wysper pediu as contas e se mandou para a RCA, onde lançou, através da subsidiá-as contas e se mandou para a RCA, onde lançou, através da subsidiá-ria Neon, artistas que haviam sido apenas listados anteriormente pela ria Neon, artistas que haviam sido apenas listados anteriormente pela Vertigo: Indian Summer, Dando Shaft, Tonton Macaute e outros.Vertigo: Indian Summer, Dando Shaft, Tonton Macaute e outros.

Pensando no novo público alvo; mais

crescido intelectualmente e monetariamente, a Vertigo tinha mais uma preocupação de suma

importância: o selo que iria adornar seus lança-mentos. O escolhido foi um conglomerado de linhas

pretas e brancas, sobrepostas e repetidas. Ao colocar o elepê para rodar na vitrola, algo inevitável acontecia: o

ouvinte ia ouvindo a música sem tirar os olhos da sedutora estampa, ouvinte ia ouvindo a música sem tirar os olhos da sedutora estampa, que oferecia uma branda sensação de vertigem (“vertigo”). Outra carac-que oferecia uma branda sensação de vertigem (“vertigo”). Outra carac-terística peculiar: todas as informações fi cavam concentradas no selo terística peculiar: todas as informações fi cavam concentradas no selo do lado B; nome das músicas, número de série, data de lançamento, do lado B; nome das músicas, número de série, data de lançamento, créditos das canções (em alguns casos), etc. No lado A temos sempre o créditos das canções (em alguns casos), etc. No lado A temos sempre o desenho tradicional do “redemoinho”, com a inscrição “Side A”. desenho tradicional do “redemoinho”, com a inscrição “Side A”.

Apesar dessa ser mais uma grande sacada da Vertigo, muita polêmica ainda ronda o artista responsável por tal magnífi ca obra. A revista Record Collector cita o conceituado artista Roger Dean como criador do desenho, porém outras fontes citam a designer Linda Glover como autora. Linda trabalhava como capista da Philips na segunda metade dos anos sessenta, então muitos preferem dar na segunda metade dos anos sessenta, então muitos preferem dar crédito a ela do que a Dean.

Island e a Transatlantic. Isso acabou interferindo talvez Island e a Transatlantic. Isso acabou interferindo talvez nas vendas, mas não na idéia original do selo; oferecer um novo produto com conteúdo musical ousado, ofere-

seriam bem vindos; o que contava era a necessidade de extravasar uma total liberdade artística. Wyper declarou

bandas e retrabalhando os antigos contratados com um

nosso progresso. Foi numa reunião informal desse tipo

ofereceu a Wyper um contrato com uma lista particular de bandas contratadas: Colosseum, Uriah Heep, Juicy Lucy e

O primeiro baque levado pelo selo Vertigo aconteceu

A verdade é que o selo “swirl”, da Vertigo nada tem a ver com o estilo , da Vertigo nada tem a ver com o estilo “swirl”, da Vertigo nada tem a ver com o estilo “swirl”de Roger Dean, famoso pelas capas mais ousadas do Yes, Uriah Heep, Budgie, Paladin, Osibisa, Greenslade, Giant, Asia, etc.

Vale lembrar que os colecionadores ingleses não gostam de usar o termo “espiral” para denominar o selo Vertigo. Eles preferem chamá-lo de “redemoinho”, ou seja, “swirl”.

Aarte gráfi ca da Vertigo sempre primou por ousadia e qualidade. A matéria-prima usada na prensagem original

inglesa é de tirar o fôlego: robusto inglesa é de tirar o fôlego: robusto papel cartão, sempre capa dupla (papel cartão, sempre capa dupla (‘gatefold’) e em alguns casos, cortes e dobras ousadas, pôsteres adicionais, etc. casos, cortes e dobras ousadas, pôsteres adicionais, etc. Todos os títulos também contavam com um transado enve-Todos os títulos também contavam com um transado enve-lope (‘inner sleeve’‘inner sleeve’), que além do logotipo ofi cial ampliado, trazia também uma mensagem importante: trazia também uma mensagem importante: “Sacos de plás-tico podem ser perigosos! Para evitar perigo de sufocação tico podem ser perigosos! Para evitar perigo de sufocação mantenha esse plástico longe do alcance das crianças!”.mantenha esse plástico longe do alcance das crianças!”.

Dentre os designers que trabalharam para a Vertigo, Dentre os designers que trabalharam para a Vertigo, podemos destacar Roger Dean e Marcus Keef.podemos destacar Roger Dean e Marcus Keef.

No Brasil, o selo Vertigo chegou ao mercado esbanjando mercado esbanjando

peculiaridades em relação aos lançamentos originais peculiaridades em relação aos lançamentos originais ingleses e alemães. ingleses e alemães.

Alguns títulos saíram com a bandeira “Rock Power” Alguns títulos saíram com a bandeira “Rock Power” como é o caso do álbum como é o caso do álbum Released, do Jade Warrior, lançado por aqui em versão enxuta, sem pôster e com lançado por aqui em versão enxuta, sem pôster e com conteúdo idêntico ao da edição britânica, mas capa da conteúdo idêntico ao da edição britânica, mas capa da edição alemã. Essa série “Rock Power” chegou a trazer edição alemã. Essa série “Rock Power” chegou a trazer também álbuns de bandas como T.Rex, Manfred Mann, também álbuns de bandas como T.Rex, Manfred Mann, Audience, etc, mas nem sempre com o selo da Vertigo.Audience, etc, mas nem sempre com o selo da Vertigo.

Outra exclusividade nossa é o álbum Outra exclusividade nossa é o álbum Break, do Aphrodite’s Child, na verdade o álbum duplo Aphrodite’s Child, na verdade o álbum duplo 666 pico-666 pico-666tado, já que nossa edição era simples. Na capa uma tado, já que nossa edição era simples. Na capa uma reprodução da parte interna do original inglês.reprodução da parte interna do original inglês.

Talvez o mais valioso título ‘swirl’ brasileiro é a ‘swirl’ brasileiro é a ‘swirl’coletânea coletânea Crazy Baby Crazy, de 1971. Nela, artistas do selo, com outros que nunca deram as caras pela do selo, com outros que nunca deram as caras pela Vertigo, aparecem todos juntos, sem intervalo entre as Vertigo, aparecem todos juntos, sem intervalo entre as

faixas, criando uma espécie de faixas, criando uma espécie de ‘sampler’, já que os temas foram edita-dos para encaixar na canção seguinte e consequentemente se adequar a limitada duração do elepê. Em Crazy Baby Crazy temos participações Crazy Baby Crazy temos participações Crazy Baby Crazyde grupos como Sir Lord Baltimore, Lucifer’s Friend, Warhorse, May Blitz, Black Sabbath, Exuma e Blue Cher, escrito assim mesmo na capa, com apenas uma letra ‘e’.

Interessante ressaltar também que o selo foi bem divulgado na época por aqui, com propagandas nas lojas de discos (pôsteres, cartazes, etc.) e anúncios de página inteira na Rolling Stone local.

Outros grupos que tiveram selo “swirl” no Brasil: Warhorse (“swirl” no Brasil: Warhorse (“swirl” Red Sea), Freedom (Through The Years), Beggar’s Opera (Pathfi nder) e outros, Pathfi nder) e outros, Pathfi nderalém dos mais ‘tradicionais’: Uriah Heep, Sabbath, Rod Stewart, etc.

Não podemos encerrar sem comentar os dois compactos duplos do Black Sabbath lançados por aqui pelo selo: um com a capa do Vol. 4, contendo as faixas “Tomorrow’s Dream”/ “Laguna Sunrise”/ “Changes”/ “St.Vitus Dance”; e outro com a capa do Sabbath Bloody Sabbath, trazendo as faixas “Sabbath Bloody Sabbath”/ “Rat Salad”/ “Fluff”/ “Paranoid”. Ambos alcançam uma ótima marca nos eBays da vida.

Fora a Inglaterra, o país que mais rece-beu lançamentos com o selo Vertigo foi a Alemanha. Os colecionadores

costumam dividir o catálogo alemão em dois grupos: um com os equivalentes germâni-cos dos lançamentos ingleses e outro com os lançamentos exclusivos para o mercado alemão, já que diferentemente da maioria dos demais países, ali o selo tinha liberdade para contratar artistas e bandas locais. Dentre os treze títulos exclusivos do mercado alemão, podemos desta-car o Lucifer’s Friend, Atlantis, Frumpy, Agitation Free, Kravetz, Brave car o Lucifer’s Friend, Atlantis, Frumpy, Agitation Free, Kravetz, Brave New World, Odin, Tiger B. Smith, Between e Peter Michael Hamel.

do mercado fonográfi co criaram ambiciosas

iintrodução

o selo

as capas

Brasil

outros paísesoutros paísesoutros paísesoutros paísesoutros paísesoutros países

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PattoPatto(6360016, 1970) ***** B

Um dos maiores pecados musicais da história foi protagonizado pelo Patto. Essa banda de nome engraçado e visual freak foi responsável por alguns dos melhores álbuns do período e o ‘pecado’ é justamente o fato do grupo ser completamente desconhecido até hoje.

A fenomenal estréia dos caras pintou na época certa, já que a banda vinha causando um tremendo impacto nos clubes britânicos, o que chamou atenção de um ex-integrante do Spencer Davis Group, Muff Winwood, irmão de Steve; convertido a produtor e homem de negócios da gravadora.

Misturando licks agressivos de jazz do guitar hero Ollie Halsall e os vocais rudes de Mike Patto, a banda passou a abrir shows de Joe Cocker e do Ten Years After, mostrando a mesma destreza contida nas oito faixas deste LP, que além de tudo ainda trazia uma bizarra capa contendo uma inédita textura que imitava tapeçaria.

CD: RepertoireRepertoire

ColosseumDaughter Of Time(6360017, 1970) **** E

Para o terceiro álbum de sua carreira e o segundo lançado pela Vertigo, o Colosseum pintava com várias mudanças em sua line-up: Clem Clempson vinha para a guitarra, egresso do Bakerloo, um grupo que abria os concertos do próprio Colosseum. No baixo pintava o renomado Mark Clarke e nos vocais estava o experiente Chris Farlowe.

Tão perfeito quanto o álbum anterior, Daughter Of Time tinha como destaques a insolente “Take Me Back To Doomsday” e uma versão glo-riosa para “Theme For An Imaginary Western”, original de Jack Bruce e também revisitada pelo grande Mountain.

O grupo depois se mandou para o selo Bronze, onde lançou um álbum ao vivo, mas logo se desmantelou, com cada integrante partindo para um lado.

Das cinzas dessa grande banda, surgiram membros que participaram de outros geniais grupos como Tempest, Humble Pie, Atomic Rooster, Greenslade, etc.

CD: SanctuaryCD: Sanctuary

Beggar’s OperaBeggar’s OperaAct One(6360018, 1970) *** D

O grupo que pegou seu nome emprestado de uma ópera do século 17 era formado por jovens entusiastas da música erudita.

Oriundos de Glasgow, Escócia, a banda trazia uma garota tocando Mellotron (Virgi-nia Scott), um ousado tecladista (Alan Park) e um excelente guitarrista (Ricky Gardener).

Hoje, a mistura de música Barroca com pirotecnias virtuosas pode soar um tanto indigesta aqui nessa estréia, já que a banda foi amadu-recendo e colocando de lado toda essa pretensão em função de um som recendo e colocando de lado toda essa pretensão em função de um som mais conciso e certeiro.

Na época, o conceitual Act One sofreu severas críticas e trazia, segundo os detratores, a pior tentativa de se misturar rock com eru-dito.

Act One, no entanto, possuía uma grande capa, repleta de surrea-lismo visual, cortesia de Marcus Keef e suas lentes aguçadas.

CD: RepertoireRepertoire

Clear Blue SkyClear Blue Sky(6360013, 1970) **** B

Veja se o que temos no menu lhe agrada: abundantes e implacáveis solos de guitarra, arte gráfi ca estonteante de Roger Dean e uma sonoridade na mesma veia de grupos como Stray e Budgie, forjada por um power-trio onde todos os integrantes tinham menos de 18 anos de idade!

Apesar de termos todo esse emolumento, a produção deixa a desejar e de certa forma arruinou um pouco a proposta inicial da banda, apa-drinhada por Patrick Campbell-Lyons, membro do Nirvana; homem de negócios da Vertigo e também produtor desse álbum.

Na linha de frente do Clear Blue Sky estava o guitarrista e vocalista John Simmons, acusado de ter um timbre de voz semelhante ao de Jack John Simmons, acusado de ter um timbre de voz semelhante ao de Jack Bruce. Simmons compôs sozinho as cinco faixas dessa estréia; infeliz-mente o único álbum lançado pelo grupo. Detalhe: o título original do álbum era Play It Loud, mas foi abandonado no último instante, pois o Slade estava lançando um disco com o mesmo nome. A edição germâ-nica, no entanto, saiu com o nome de Play It Loud.

CD: RepertoireRepertoire

Juicy LucyLie Back And Enjoy It(6360014, 1970, BR) *** D

Após o lançamento de seu álbum estréia o Juicy Lucy quase acabou; três integrantes se mandaram: o baterista, o guitarrista e o vocalista Ray Owen, que partiu para montar um novo grupo chamado Moon.

Quando tudo parecia mesmo encerrado, uma nova versão da banda encetou-se novamente na cena local, trazendo agora o vocalista Paul Williams (ex-Zoot Money) e o guitarrista Micky Moody (ex-Tramline).

Lie Back And Enjoy It marcou por trazer uma genial versão para “Willie The Pimp” de Frank Zappa, localizada ao lado de outros bons números.

Além do teor musical da obra, não podemos deixar de destacar a opulência do trabalho gráfi co. Lie Back And Enjoy It abria em seis partes idênticas, se transformando num pôster gigante. De um lado estavam fotos individuais dos integrantes in action e do outro uma geral do pessoal no palco. Sensacional!

CD: BGOBGO

WarhorseWarhorseWarhorse(6360015, 1970) **** C

Grupo de hard que adquiriu uma modesta fama por trazer em suas fi leiras um ex-Deep Purple (o baixista Nick Simper) e um futuro integrante da banda de Rick Wakeman (o vocalista Ashley Holt). Além deles, o grupo contava também com um ex-integrante do Velvet Fogg, o organista Frank Wilson.

Esse quinteto inglês era também movido a duelos de guitarra e orgão, e teve seu primeiro compacto bastante executado nas rádios, uma versão para “St. Louis”, original dos australianos do Easybeats.

Apesar da boa execução o compacto não foi um sucesso de vendas e acabou sendo incluído como a última canção do lado A desse álbum, que é colocado por alguns fãs mais exaltados (e malucos) ao lado de obras do quilate de um Deep Purple In Rock e Led Zeppelin II.

Warhorse, o álbum, costuma agradar não só os purpleheads de plantão, mas todos aqueles que apreciam o bom hard pesado do início dos 70s.

CD: Angel Air

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Gravy TrainGravy Train(6360023, 1970) *** C

Após o ano de 1968, fi cou estabelecido pela maioria, estupidamente ou não, que qualquer banda que usasse fl auta em seus trabalhos era um pastiche de Jethro Tull. Exageros a parte, o Gravy Train sabia muito bem mesclar passagens mais pesadas e densas com trechos mais rurais e tranqüilos, com um característico som de fl auta de fundo.

O Gravy Train era resultado de uma colaboração entre membros de uma banda soul de Liverpool, o Spaghetti House, com o guitarrista/vocalista Norman Barrett, famoso na época por substituir Jimmy Page no show de Lord Sutch e seus Heavy Friends num festival em Lin-conshire.

A estréia do grupo trazia seis faixas e uma produção assinada por Jonathan Peel, que já havia trabalhado com o Toe Fat e o Panama Ltd. Outro álbum lançado no início do selo Vertigo e ainda demasiadamente desejado pelos colecionadores.

CD: Repertoire

The Keith Tippett GroupDedicated To You(6360024, 1971) *** C

Tippett era fi gura respeitadíssima da cena britânica de jazz. Como pianista de van-guarda, Tippett vivia rodeado de excelentes músicos: Elton Dean, Gary Boyle e Robert Wyatt; todos batendo cartão em Dedicated To You.

Em 1971, Tippett já havia feito muita coisa boa na vida: lançou um álbum solo pela Polydor (You Are Here I Am There); casou-se com Julie Driscoll; tocou em dois álbuns do King Crimson e também fl ertou com uma excelente banda psicodélica, o Blossom Toes.

Talvez o que mais surpreenda em Dedicated To You é o fato dele ter sido gravado em apenas dois dias, o que para muitos seria um empeci-lho, mas não no caso desse experiente agrupamento.

Mais uma capa de Roger Dean, embalando um trabalho que pavimen-tou a estrada para Tippett formar anos depois o seu mais ambicioso projeto, o Centipede, contando com cerca de 60 músicos.

CD: RepertoireRepertoire

CressidaCressidaAsylum(6360025, 1971) **** A

Nesse segundo registro dessa magnífi ca banda, temos faixas mais longas e mais elaboradas e arranjos mais complexos, onde a guitarra tem um pouco mais de espaço do que no álbum anterior.

Hoje, Asylum é um dos álbuns mais bem cotados do selo Vertigo, arrancando uma boa quantia dos bolsos dos colecionadores; mas na época a bolacha foi um fracasso completo – inclusive foi divulgado que apenas 800 cópias foram vendidas, o que serviu de desculpa para o selo colocar todo mundo no olho da rua. Tal constrangedora situação serviu como gota d’agua para o grupo, que encerrou suas atividades imedia-tamente.

Só para constar: depois do precoce fi m do Cressida, dois de seus integrantes integraram outros grupos: o batera Ian Clark chegou a gravar com o Uriah Heep e o guitarrista John Culley se mandou para o Black Widow.

CD: Gott Discs

LegendLegend(6360019, 1970) *** C

Mickey Jupp sempre foi uma espécie de fi gura central da cena pub-rock britânica. Sim, Jupp pode ser considerado o rei do rock de boteco, já que desde o início dos 60s ele perambulava por aí, sempre fi el a suas raízes musicais.

Jupp é o mentor do Legend, que é considerado por muitos como o primeiro grupo de pub-rock da história, tanto que bandas como o Dr. Feelgood prestaram homenagem ao grupo, regravando uma de suas grandes canções: “Cheque Book”, não por acaso, peça fundamental desse disco de estréia.

Fãs ilustres como o DJ John Peel e Tony Visconti, que inclusive assi-nou a produção da bolacha, ajudavam a manter o nome do grupo em alta.

A verdade é que este álbum, conhecido lá fora como ‘fl aming red boot’, até hoje é cultuado por quem gosta de encher a cara e assistir a uma banda se acabar num canto do bar.

CD: RepertoireRepertoire

Gentle GiantGentle Giant(6360020, 1970) **** D

A estréia do Gentle Giant combinava elementos distintos como rock, jazz, música clássica e soul britânico da década anterior.

Poucas bandas da época traziam hinos do seu repertório logo no primeiro álbum: “Alucard”, “Nothing At All” e “Funny Ways”.

A faixa “Giant” foi literalmente o pontapé inicial da carreira da banda; era executada pelos Shulman’s desde as audições para novos músicos e mostrava desde sempre toda a seriedade com que aqueles rapazes encaravam a coisa. Ouvindo-a, fi cava claro o que viria pela frente.

Curiosidade: os rapazes do Giant quase não acreditaram quando literalmente tropeçaram em George Harrisson nos corredores do Trident Studios, durante as gravações deste primeiro álbum. O Trident estava localizado no coração do Soho, bairro boêmio de Londres, então o guitarrista Gary Green comentou que durante as sessões o estúdio vivia repleto de ‘damas da noite e do dia’.

CD: RepertoireRepertoire

Graham BondGraham BondHoly Magick(6360021, 1970) ** D

O avantajado Graham Bond era um ícone da cena R&B britânica da primeira metade dos sixties. De sua mão e de seu grupo, o Organisation, vieram caras como Ginger Baker, Jack Bruce, Dick Heckstall Smith e outros.

Com o fi m do Organisation, Bond tentou emplacar com o Initiation mas logo abriu mão de tudo e formou a banda Magick, enquanto era membro também do exótico Ginger Baker’s Airforce.

Aqui, Bond contracenava com sua esposa/vocalista, Diane Stewart, velejando por viagens musicais regadas a misticismo e astrologia. A idéia de Bond, que nessa altura do campeonato se proclamava como fi lho bastardo de Aleister Crawley, era criar um templo astral ao redor do ouvinte que se aventurasse a degustar esse álbum, assim como seus concertos do período.

Atenção para um aviso contido nas liner notes da bolacha: “Esse disco é dedicado àqueles que procuram pela luz”disco é dedicado àqueles que procuram pela luz”. Profético!

CD: BGO

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Van Halen Brasil’ 83O volume ensurdecedor de uma banda no auge

Durante um bom tempo, show de rock no Brasil e na América do Sul era sinônimo de bandas em decadência. Bastava um disco encalhado e alguns shows vazios no exterior para o pessoal agitar uma tour por esses lados.

Rara exceção foi a excursão do Van Halen pela América do Sul nos primeiros dias de 1983. Há exatos 25 anos e numa era pré-Rock In Rio, o Brasil sentia o gostinho de assistir um dos espetáculos mais concorri-dos do planeta.

A banda vinha embalada com as vendas milionárias de seus cinco primeiros discos e estava prestes a entrar no livro dos recordes; para encerrar o lendário US Festival, de 1983, o grupo dos irmãos Van Halen recebeu um cachê de um milhão de dólares em troca de um set de 90 minutos de duração!

Essa era até então a maior oferta da história do show business para um único concerto.

“Estávamos querendo tocar aqui desde 1980... A única coisa que sabíamos do Brasil é que o Queen já havia tocado por aqui. Ninguém quis nos ajudar, nem a nossa gravadora. Como somos teimosos mesmo, viemos por conta própria. Todos diziam: não vá para a América do Sul! Daí é que quisemos vir de verdade, pois fi camos muito curiosos.” Alex Van Halen

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no fundo do palco já se avistava o pano de fundo do grupo, um feroz leão saltando em direção do público. Logo depois dessas pri-meiras impressões a Patrulha do Espaço fez sua gloriosa apresen-tação (ver box). Enquanto isso, o VH se aquecia no camarim ao som de salsa e merengue.

O Van Halen veio na seqüência e foi protagonista do talvez mais ensurdecedor concerto de rock que este país já viu. Quem esteve no Ibira se lembra perfeitamente da maçaroca sônica altíssima que era expelida dos PAs. Todo esse exagero misturado a péssima acústica do ginásio acabou dei-xando as músicas irreconhecíveis para a maioria dos presentes, que agitavam bastante no refrão de cada som, justamente a parte mais reconhecível.

No repertório, somente clássi-cos do porte de “Little Dreamer”, “Everybody Wants Some”, “Dance The Night Away”, “Unchained”, “Running With The Devil”, “Pretty Woman”, “Mean Street”, “Ice Cream Man” (com David fazendo uma saudação a SP, como de costume em toda a tour, homena-geando cada cidade que o grupo visitava), “Romeo’s Delight”,

“Little Guitars” e “Beer Drinkers and Hellraisers”, original do ZZ Top e resquício de uma época em que o VH era a banda mais fodona da Sunset Strip. O show ainda contou com os solos individu-ais de cada inte-grante, sendo o de Eddie obvia-mente o mais ovacionado. Durante sua execução até os mosquitos do Ibira fi caram paralisados. O solo terminou com suas tradicionais voado-ras pra cima da parede de amplifi cadores.

Detalhe: quem estava pertinho do palco perce-beu: muito dos falantes estavam na verdade desenhados no pano de fundo do palco. Traquinagem sadia de banda divertida como o VH.

Logo na segunda noite de show em Sampa, Alex Valdez, o promoter local, estava preocupado. Segundo ele, na noite anterior o Van Halen havia tocado para a menor platéia de sua carreira, cerca de 11 mil pes-soas. Exagero, principalmente se levarmos em conta os selvagens tempos em que o grupo se atirava nos palcos

beu: muito dos falantes estavam na verdade desenhados no pano de fundo do palco. Traquinagem sadia de banda divertida como o VH.

Valdez, o promoter local, estava preocupado. Segundo ele, na noite anterior o Van Halen havia tocado para a menor platéia de sua carreira, cerca de 11 mil pes-soas. Exagero, principalmente se levarmos em conta os selvagens tempos em que o grupo se atirava nos palcos

e “Beer Drinkers and Hellraisers”, original do ZZ Top e resquício de uma época em que o VH era a banda mais fodona da Stripainda contou com os solos individu-ais de cada inte-grante, sendo o de Eddie obvia-mente o mais ovacionado. Durante sua execução até os mosquitos do Ibira fi caram paralisados. O solo terminou com suas tradicionais voado-ras pra cima da parede de amplifi cadores.

Detalhe: quem estava pertinho do palco perce-

Uma das principais exi-gências de camarim do Van Halen parecia pra lá de bizarra: potes e mais potes de M&Ms espa-lhados pelo backstage. Todos deveriam conter uma peculiaridade: nenhuma pastilha da cor amarela.

Para quem não sabe, M&M é aquele confeito de chocolate coberto com uma ‘casca’ de açúcar colorido artifi cialmente. Como no Brasil de 1983 a importação de alimentos ainda era uma utopia, nossos organizadores se viraram muito bem ofere-cendo a nossa cópia da ‘iguaria’, o nosso popular “confete”.

Mas você deve estar se perguntando: “Por que os caras do VH pediram tantos M&Ms?”.

Na verdade essa tática funcionava perfeitamente bem, pois o tour manager do grupo percebia a con-fi abilidade da organiza-ção de cada espetáculo através deste pequeno ‘grande’ detalhe: se a organização local não deixasse passar nenhuma pastilha amarela nos potes é porque as demais exigências como luz, som, hotel, transporte e comida estariam em cima da pinta e o VH poderia assim deitar e rolar em seus shows.

M&MsM&MsM&MsM&Mspelo BackstageFoi assim que o Van Halen batizou a tour de promoção do

álbum Diver Down, como sempre, um sucesso nas paradas norte-americanas. Antes de chegar na América do Sul, em janeiro de 1983, o Van Halen havia desbravado a porção norte do continente, tocando pela América e pelo Canadá. A primeira ‘perna’ da tour teve 27 shows, com direito a três concorridas noites no lendário Cobo Hall de Detroit. Cobo Hall de Detroit. Cobo HallA segunda parte do giro contou com 19 datas e a terceira estourou a boca do balão: 43 shows em apenas dois meses. Foi nesse pique que o grupo chegou na América do Sul, realizando de cara três espetáculos seguidos no Polie-dro de Caracas, na capital venezuelana. Próxima parada: São Paulo, local onde Alex Van Halen e David Lee Roth já haviam estado em 1980, para promover o álbum Women And Children First e possivelmente agitar uma tour por And Children First e possivelmente agitar uma tour por And Children Firstesses lados. Nessa primeira visita, nada de música, apenas entrevistas em rádios e no Penicilina Bar, além de mere-cidas férias viajando pela Amazônia, tudo regado a muita caipirinha.

Três anos depois, foi debaixo de um temporal de verão que o Van Halen chegou a São Paulo, indo direto para o hotel Hilton, onde um número não tão grande de fãs espe-rava a banda. Durante todos os dias em que o grupo fi cou hospedado ali, os fãs mantinham uma espécie de vigília, fazendo baderna quando aparecia um roadie do grupo, ou mesmo algum segurança da banda, que fi cou a cargo do famoso e temido Fonseca’s Gang. A maioria dos fãs que-riam autógrafos e fotos ao lado dos ídolos. Algumas garotas mais românticas queriam oferecer uma braçada de rosas ao vocalista David Lee Roth.

Na primeira noite em SP, dia 21 de janeiro de 1983, a platéia não chegou a lotar o Ginásio do Ibirapuera, que contava com uma de suas mais heterogêneas platéias: rockers, punks, hippies, cocotas, um garoto fantasiado de Bowie ‘Alladin Sane’, garo-tões suados e fortões sem camisa e alguns travestis. Sim, isso é o que a mídia da época relatou!

Outro detalhe que marcou quem estava presente: um batalhão de autoridades do juizado de menores estava na entrada do Ibira, barrando violentamente os menores de 16 anos de idade. Por mais incrível que pareça, em 1983 ainda estávamos acorren-tados a Ditadura.

Enquanto o VH não subia ao palco, a galera suada era amaciada por uma boa dose de Heavy Metal que ecoava dos PAs e Heavy Metal que ecoava dos PAs e Heavy Metal

The Hide Your Sheep TourVan Halen Brasil’ 83O volume ensurdecedor de uma banda no auge

“Estávamos querendo tocar aqui desde 1980... A única coisa que sabíamos do Brasil é que o Queen já havia tocado por aqui. Ninguém quis nos ajudar, nem a nossa gravadora. Como somos teimosos mesmo, viemos por conta própria. Todos diziam: não vá para a América do Sul! Daí é que quisemos vir de verdade, pois fi camos muito curiosos.” Alex Van Halen

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por Ricardo Seelig

O Colecionadore suas maluquices no mundo dos discos

pZ - Que disco mudou a sua vida?Socram - Uma coletânea da Janis Joplin cha-mada Forever, do início dos anos oitenta.

pZ - De quais grupos você possui mais material?S - Do Jimi Hendrix são cerca de 350 títulos entre LPs e CDs prensados (originais), sem contar as gravações em áudio/CDR – só de uma série organizada por colecionadores cha-mada ATM são 230 discos.

pZ - Qual o item mais raro da sua coleção?Adoro bootlegs editados em LP nos 70s, e teoricamente eles são difíceis de se conseguir, mas com um pouco de paciência e bastante dinheiro no bolso praticamente tudo, vez por outra, aparece nos eBay, Gemm ou Musicstack da vida. Acredito que os itens mais raros que tenho curiosamente são dois box sets não em LP, mas sim em CD: “Cabala” e “51st Anni-versary”, do Led Zeppelin e do Jimi Hendrix respectivamente, ambos trazendo oito discos e um VHS.

pZ - Qual foi o número máximo de itens que você adquiriu de uma única vez?S - Quando começaram a chegar os CDs da Repertoire/Second Battle eu me deparei com um monte de bandas/artistas do qual nunca tinha ouvido falar, e não raro chegava em casa no fi nal da tarde de sábado com mais de trinta ou quarenta CDs – meu cheque especial vivia eternamente no vermelho (risos).

pZ - Qual você considera o item mais estra-nho e curioso do seu acervo?S - Não é propriamente estranho, mas há algum tempo eu cismei que juntaria todos os títulos que foram lançados pela Sábado Som, selo brasileiro dos anos setenta. Um deles, o Dschinn, eu arrumei com um sujeito fora do Brasil. Todas as cópias que achava por aqui estavam absurdamente caras ou eu chegava tarde demais e elas já tinham sido vendidas.

pZ - Tem algum disco que passou pela sua mão e você se arrepende até hoje de não ter fi cado com ele?S - Me arrependo de ter trocado meus LPs por CDs quando houve o boom do formato digital. Ainda bem que, senão todas, pelo menos boa parte das “pepitas” eu consegui novamente.

pZ - Onde você costuma comprar discos?S - O eBay é imbatível, mas há lojistas espe-cializados aqui no Brasil, como o Ray (Blue Sonic/SP) que consegue qualquer coisa, e o Cláudio Fonzi (Renaissance/RJ), que sempre tem bons preços.

pZ - Qual o selo que mais te impressiona?S - Os bootlegs, cujo selo é totalmente branco (risos).

pZ - E a melhor prensagem de disco de vinil, qual é?S - Acho que depende do disco em si. Veja o caso destes discos de 180 gramas da Akarma: alguns títulos são maravilhosos, outros são meio fraquinhos. Aqui mesmo no Brasil temos discos dos anos setenta que possuem quali-dade muito boa, caso do Sweet Fanny Adams, Goodthunder, etc. Por outro lado, há títulos japoneses e europeus que são terríveis – por exemplo: a versão nipônica do E Pluribus Funk do Grand Funk é uma lástima, o Steamham-mer inglês é terrível, enfi m.

pZ - A sua coleção tem fi m? Vai chegar um dia em que você vai parar de comprar discos?S - Só deixarei de comprar quando alguém resolver me dar de presente tudo que eu quero!

pZ - Quem será o herdeiro da sua coleção no futuro?S - A mesma pessoa que assumir as dívidas que eu deixarei (risos).

pZ - Você possui um grande número de gravações ao vivo. Como funciona esse nicho de colecionadores, que trocam gra-vações raras com outras pessoas em todo o mundo? Qual o formato predominante nessas gravações?S - O que posso dizer é que se trata de um mundo à parte, com regras próprias e que, curiosamente, nunca foi muito disseminado no Brasil. Pra mim tudo começou quando comprei o Mudslide, LP “pirata” do Led Zeppelin, com uma gravação de rádio do início de 1970. Fiquei impressionado com aquilo, até então tinha como objetivo ter TUDO, mas percebi que o buraco é bem mais embaixo. Além dos

ofi ciais há muito, mas MUITO mais coisa por aí - respeito quem não curte, mas sem querer ser pedante, acho impossível conhecer a fundo a obra de um artista sem ouvir os seus concer-tos. E, como se não bastasse, descobri algum tempo depois que na realidade os bootlegs são apenas a ponta do iceberg, existe um mercado totalmente subterrâneo formado pelos colecio-nadores de gravações extra-ofi ciais em cas-sete ou fi ta de rolo, que trocam material entre si, prezando a integridade absoluta do registro sonoro tal qual foi realizado – antigamente as trocas eram feitas em fi ta K7, depois passou para CDR e hoje em dia se usa basicamente os torrents de arquivos em “lossless”, que não possuem perda, ao contrário dos MP3, que são considerados um palavrão neste meio, pois ao comprimir o áudio ele também “apaga” uma parte do arquivo. O que acontece é que, ao contrário dos discos ao vivo ofi ciais, onde os overdubs muitas vezes imperam, estas gravações são, digamos, mais “puras” – eu, particularmente, não considero boa parte dos discos ao vivo ofi ciais como sendo legitima-mente ao vivo, mas sim como “colagens de material registrado ao vivo” – alguns títulos descritos na última edição da pZ de “ao vivo” não tem muita coisa...

pZ - Então você considera que estes regis-tros ao vivo “puros” são mais representati-vos que os de estúdio.S - Não é isto, não se trata de um ser melhor ou pior que o outro. Comparo discos de estúdio com cinema e gravações ao vivo com teatro, são coisas semelhantes, porém com algumas características diferentes. Numa a colagem/edição é fundamental, noutra o calor da perfor-mance/improvisação é o que faz a diferença.

pZ - Mas se o músico acha que a perfor-mance teve seus defeitos, ele não teria o direito de consertar?S - Tudo bem, mas daí não é mais o registro de um show ao vivo legítimo. É que nem um jogador de futebol que quisesse consertar uma jogada para que ela aparecesse na TV, saca?

SocramSocram (Marcos A. M. Cruz)

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