pequena história da tv digital brasileira, artur mendes

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1 TV Digital Pequena história SBTVD Artur Mendes

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Pequena história da tv digital brasileira Artur Mendes O testemunho ocular de quem viu de perto o nascedouro da tv digital brasileira

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Page 1: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

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TV DigitalPequena história

SBTVD

Artur Mendes

Page 2: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

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Pequena história da TV Digital BrasileiraSBTVDArtur MendesMTb 8063

AgradecimentosEquipe do Laboratório de TV Digital

da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Gunnar Bedicks Junior

Prof. Dr. Cristiano Akamine

Prof. Fujio Yamada (in memoriam)

Prof. Carlos Eduardo Dantas (in memoriam)

Page 3: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

3

ÍndiceCronologia TV..................................................................................03O princípio digital...........................................................................09O Brasil abre a janela.....................................................................12Mackenzie na vanguarda.................................................................19Definindo os testes...........................................................................24Universidades unidas......................................................................30Apêndices.........................................................................................35

Page 4: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

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1817

• Tudo começou em 1817, quando o cientista sueco Jakob Berzelius

descobriu e isolou o selênio, observando a fotossensibilidade do ele-

mento químico que desprendia elétrons quando exposto à luz.

1884

• Em 1884, o alemão Paul Nipkow patenteou uma proposta de trans-

missão de imagens à distância, e foi chamado de o "fundador da téc-

nica de TV".

1892

• Em 1892, Juluis Elster e Hans Getbel inventaram a célula fo-

toelétrica.

1900

• A palavra televisão foi inventada em 1900, pelo francês Constantin

Perskyi. Vem da junção das palavras tele (longe, em grego) e videre

(ver, em latim). Perskyi apresentou uma tese no Congresso Interna-

cional de Eletricidade, em Paris cujo título era "Televisão".

1906

• Em 1906, Arbwhnett desenvolveu o sistema de televisão por raios

catódicos, que empregava a exploração mecânica de espelhos so-

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1Cronologia TV

Page 5: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

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mada ao tubo de raios catódicos. O mesmo seria feito na Rússia, por

Boris Rosing. Por isso não se pode atribuir a invenção da televisão a

uma única pessoa. Os novos equipamentos eram construídos a partir

de experiências anteriores de outros pesquisadores.

1920

• Em 1920, o inglês John Logie Baira realizou as primeiras trans-

missões através do sistema mecânico baseado num invento de Nip-

tow. 1924

• Quatro anos depois, em 1924, Baira transmitiu contornos de obje-

tos à distância e, no ano seguinte, fisionomias de pessoas. O padrão

de definição possuía 30 linhas e era mecânico.

• O primeiro sistema semi-mecânico de televisão analógica foi

demonstrado em fevereiro de 1924 em Londres por John Logie

Baird com uma imagem do desenho animado “O Gato Félix”.

1926

• Baird fez a primeira demonstração no Royal Institution em Lon-

dres para a comunidade científica e logo após assinou contrato com

a BBC para transmissões experimentais.

1928

• O primeiro serviço de transmissão de tv no mundo foi o da TV

WGY em Schenectady, Nova Iorque, inaugurada em 11 de maio de

1928.

1935

• Em março de 1935, a Alemanha, primeiro país a oferecer um

serviço de televisão pública, emitiu oficialmente a televisão,

adotando um padrão de média definição: 180 linhas e 25 quadros

por segundo.

1941

• Surge a propaganda na TV. A NBC estreou em 1941, com anun-

ciantes e patrocinadores sustentando a programação.

1950

• No Brasil, em 18 de Setembro de 1950 é inaugurado o primeiro

canal de TV da América Latina. A TV Tupi de São Paulo, PRF-3

TV, canal 3, Difusora.

1954

• A rede americana NBC começa a transmitir em cores pela primeira

vez no mundo, com o padrão americano NTSC.

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Page 6: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

6

1962

• A TV Excelsior de São Paulo transmite experimentalmente em

cores o programa Moacyr Franco Show pela primeira vez no Brasil,

no sistema NTSC.

1963

• Em 1963 a TV Tupi de São Paulo também experimenta a transmis-

são em cores e começa a transmitir o seriado Bonanza nas noites de

sábado, tambem em NTSC.

1967

• A Alemanha colocou em funcionamento, em 1967, uma variação

do sistema americano, que recebeu o nome de Phase Alternation

Line, dando as iniciais para o sistema PAL; resolvendo algumas de-

bilidades do primeiro sistema. Nesse mesmo ano, entrou na França

o SECAM (Séquentielle Couleur à Mémoire), não compatível com

o sistema preto e branco francês.

1970

• A Copa do Mundo de Futebol de 1970, no México, chegou em

cores no Brasil em transmissão experimental para as estações da

Embratel, que retransmitia para os raros possuidores de televisão

colorida no Brasil. A Embratel reuniu convidados na sua sede no

Rio de Janeiro, em São Paulo (no Edifício Itália) e em Brasília. O

sinal, recebido em NTSC (padrão americano), era convertido para

PAL-M e captado por aparelhos de TV instalados nas três cidades.•

• A Japão Nippon Hoso Kyokai (NHK) criou a TV de alta definição,

o que seria chamado mais tarde de HDTV - Hi Definition Televi-

sion.

1971

• Em 1971 o governo baixa uma lei determinando o corte da con-

cessão das emissoras que não transmitirem uma porcentagem mín-

ima de programas em cores. O sistema oficial passa a ser o PAL-M,

que é uma mistura do padrão M do sistema NTSC e das cores do

sistema PAL Europeu. O objetivo era criar uma indústria totalmente

nacional com o sistema próprio. Para aumentar as vendas de recep-

tores coloridos a fábrica de televisores Colorado, patrocina replays

de jogos de futebol todas as tardes nas TVs Bandeirantes e Gazeta.

1972

• A primeira transmissão oficial em cores no Brasil ocorreu em 19

de fevereiro de 1972, com a cobertura da "Festa da Uva", na cidade

Page 7: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

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gaúcha de Caxias do Sul, autorizada pelo Ministério das Comuni-

cações. Em 31 de março de 1972, as principais emissoras brasileiras

inauguraram oficialmente suas programações coloridas.

1974

• Com o advento da Copa do Mundo de Futebol de 1974, a venda de

televisores coloridos finalmente decola e coloca definitivamente o

Brasil no mundo da TV em cores.

1980

• A Hi-Vision Promotion Association começou a dar os primeiros

passos na direção da digitalização das transmissões de TV. Surgia

assim o primeiro sistema de transmissão de TV Digital do mundo, o

japonês, DHVB – Digital Hi-Vision Broadcasting.

• Europa começa a desenvolver o sistema DVB - Digital Video

Broadcasting. O DVB foi projetado a partir dos anos 80 pelo con-

sórcio que hoje possui 250 integrantes de 15 países.

1987

• Os Estados Unidos criam o padrão ATSC - Advanced Television

System Committee. O padrão norte-americano de TV Digital, foi

desenvolvido por um grupo de 58 indústrias de equipamentos

eletroeletrônicos.

1991

• O governo Collor de Mello, estabeleceu a Comissão Assessora

para Assuntos de Televisão (COMTV) cuja tarefa principal era re-

unir governo e empresas de comunicação nos estudos e análise da

então chamada “TV de Alta Definição”.

1994

• Em 1994 surgiu o chamado Grupo ABERT / SET que centralizou

seus esforços na pesquisa e desenvolvimento da TV Digital no

Brasil.

1998

• Assinado o acordo de Cooperação Técnica do Mackenzie com a

ABERT / SET – Associação Brasileira de Televisão e Sociedade

Brasileira de Engenharia de Televisão para obter dados técnicos do

desempenho dos sistemas de transmissão de TV Digital

• Em 1998, numa cooperação técnica com a Associação Brasileira

de Empresas de Rádio e Televisão (ABERT), a Sociedade de En-

genharia de Televisão (SET), a Agência Nacional de Telecomuni-

cações (ANATEL) e a empresa NEC do Brasil, foi inaugurado o

Page 8: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

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Laboratório de Televisão Digital da Escola de Engenharia da Uni-

versidade Presbiteriana Mackenzie.

• Em outubro de 98 a TV Digital entra em operação comercial nos

Estados Unidos.

• O DVB entra em operação no Reino Unido e na Austrália.

• Anatel publica a Resolução No. 69 que autorizava a realização dos

primeiros testes de transmissão de TV Digital em circuito fechado

em caráter experimental.

1999

• Anatel expede em 30 de agosto de 1999, o Ato nº 4609, do Con-

selho Diretor da ANATEL, assinado pelo então presidente do con-

selho, Roberto Navarro Guerreiro, autorizando a instalação da

estação transmissora em São Paulo para executar Serviço Especial

para Fins Científicos e Experimentais.

• Começam os primeiros testes com TV Digital no Brasil de com o

aval de especialistas da Universidade Mackenzie.

2002

• Em 12 de setembro de 2002, o professor Eng. Gunnar Bedicks foi

nomeado oficialmente representante do Mackenzie junto a ABERT /

SET.

• Professor Eng. Gunnar Bedicks é empossado pelo diretor presi-

dente do Mackenzie, Sr. Cyro Aguiar, no cargo de Coordenador do

Labarotório de TV Digital em 21 de novembro.

• Selado novo acordo de Cooperação Técnica entre Mackenzie e a

ABERT / SET visando a execução de novos testes e a implantação

de uma estação de teste de TV Digital.

2003

• Professor Eng. Gunnar Bedicks Jr e o Dr. Pedro Ronzelli Jr. vice

reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em visita ao então

ministro das Comunicações, Miro Teixeira, propuseram ao ministro

a criação de um consórcio de universidades para reativar o projeto

da TV Digital.

• Foi realizada no Mackenzie, no dia 6 de junho de 2003, a 1a. Re-

união do Consórcio de Universidade para o Desenvolvimento do

Sistema Brasileiro de TV Digital

• Foi realizado em Campinas, na Unicamp, em 11 e 12 de agosto o I

WorkShop Técnico sobre o Projeto do Sistema Brasileiro de Tele-

visão Digital (SBTVD). Essa foi a segunda reunião do Consórcio de

Page 9: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

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Universidades.

• Entra em operação comercial o sistema japonês de TV Digital

chamado de ISDB-T - Integrated Services Digital Broadcasting Ter-

restrial - Serviço Integrado de Transmissão Digital Terrestre.

2006

• O Presidente Lula da Silva emite o decreto Nº 5.820, DE 29 DE

JUNHO DE 2006 que implanta oficialmente o Sistema Brasileiro de

Televisão Digital Terrestre - SBTVD-T.

• Em 23 de novembro, na cidade de São Paulo, instala-se o Fórun

Do Sistema Brasileiro de TV Digital, órgão que vai acompanhar a

implantacão e o desenvolvimento da TV Digital no Brasil.

Page 10: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

A tecnologia digital tem suas bases associadas ao desenvolvimento dos primeiros computadores eletrônicos

Boole, o percursor digital

O professor de matemática no Quen’s College em Cork na Irlanda,George Boole, publicou certa vez dois trabalhos que serviram debase conceitual para a lógica digital. No artigo “The MathematicalAnalysis of Logic” (1847) e no artigo “The Laws of Thought”(1854), Boole explicou, como processos de lógica fundamental po-diam ser expressos em termos de um e zero por um sistemachamado Álgebra Booleana. Entretanto Boole naquele tempoachava que seu sistema não teria nenhuma aplicação prática. Malsabe ele que seu sistema de Álgebra Booleana tornou-se a baseteórica para todo o desenvolvimento dos circuitos digitais.

Hollerith

Outra invenção, que também ocorreu no século 19 e que foi funda-10

2O princípio digital

Page 11: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

mental para a revolução digital foi a do americano Herman Hol-lerith. Como os dados do Censu Americano de 1880, foram proces-sados, manualmente, durante oito anos. Herman Hollerith,empregado do Census Bureau, desenvolveu uma máquina que us-ando eletricidade, automaticamente selecionava e tabulava dadosque haviam sido gravados em cartões perfurados. Esse sistemaprocessou os dados do Censu Americano de 1890, em apenas doisanos e meio. A partir desse sucesso Hollerith fundou a empresa“Tabulating Machine Company” que acabou se tornando a IBM.

Juntando idéias

As duas invenções foram colocadas juntas em 1937, quando ClaudeShanon, em sua dissertação de mestrado no MIT, combinou a Álge-bra de Boole com os circuitos de chaveamento de relés, usados namáquina de Hollerith, mostrando como máquinas podiam operarcom lógica matemática.

ENIAC, o primeiro computador

Nove anos mais tarde, em 1946 surge o ENIAC (Electronic Numeri-cal Integrator Calculator), construído por J. Presper Eckert e JohnMauchly da Universidade da Pensilvânia. O ENIAC é consideradoo primeiro computador com tecnologia Digital do mundo.

FAX

Do primeiro ENIAC até os anos 70 a tecnologia digital predomi-nava nos ambientes dos computadores. A partir de 1973 surgiram osprimeiros aparelhos de fax produzidos em escala comercial, quecomeçaram a transmitir cópias tipo fac símile com sinais digitaistransmitidas por meio da rede telefônica.

CD

Quase dezoito anos mais tarde, no final dos anos 80, mais uma vezo digital sai dos computadores e migra para os estúdios musicais egravadoras de disco. A humanidade conhece então o compact disc, o

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Page 12: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

CD como é conhecido popularmente até hoje.

Telefone móvel

O próximo aparelho de uso popular a incorporar a tecnologia digitalé o telefone celular. Os primeiros telefones móveis digitais surgiramno final dos anos 80. Hoje quase toda a telefonia móvel funcionaem cima de tecnologias digitais. Quase tudo ao nosso redor hojetem dispositivos digitais. Seja um tocador de musica tipo iPod,aparelhos de CD e DVD, máquinas fotográficas, controladores deluz e tantos outros equipamentos utilizados em diversas áreas deatividade.

O digital na TV

Se na indústria da televisão muitas estações já operavam interna-mente com equipamentos digitais, na ponta do sistema, ou seja nossistemas de transmissão ainda permanciam e se mantém ainda hojeem grande parte analógicos. A TV é um dos últimos dos moicanosque começa a migrar a partir dos anos 2000 para a tecnologia digitalem seus sistemas de transmissão.

Surge a TV Digital

A história da TV Digital, começou em 1970, quando um dosmaiores canais de televisão do mundo, a Japão Nippon HosoKyokai (NHK) criou a TV de alta definição, o que seria chamadomais tarde de HDTV - Hi Definition Television. Como na época ostécnicos da NHK estavam tendo problemas técnicos para transmitirHDTV com toda a gama de informações exigidas pela altadefinição, dentro de uma plataforma analógica em meados de 1980a Hi-Vision Promotion Association começou a dar os primeiros pas-sos na direção da digitalização das transmissões de TV. Surgiaassim o primeiro sistema de transmissão de TV Digital do mundo, ojaponês, DHVB – Digital Hi-Vision Broadcasting.

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Page 13: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

1991, o Brasil acorda para a TV Digital

Se nas década de 80 a TV Digital já engatinhava no Japão, Estados

Unidos e na Europa, no Brasil o assunto começou a ser discutido a

partir de 1991, no então governo Collor de Mello, quando o Min-

istério das Comunicações estabeleceu a Comissão Assessora para

Assuntos de Televisão (COMTV) cuja tarefa principal era reunir

governo e empresas de comunicação nos estudos e análise da então

chamada “TV de Alta Definição”, acompanhando os trabalhos de

implantação do sistema em outros países e as discussões no âmbito

da União Internacional da Telecomunicações. Dessa comissão

faziam parte a Associação Brasileira de Rádio e Televisão que

naquele momento agregava todas as emissoras de rádio e televisão

do país e a Sociedade de Engenharia de Televisão entre outras enti-

dades setoriais diretamente interessadas no desenvolvimento da tec-

nologia. Em 1994 surgiu o chamado Grupo ABERT / SET que

centralizava seus esforços na pesquisa e desenvolvimento da TV

Digital no Brasil.

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3O Brasil abre a janela

Page 14: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

Brasil de olho no mundo

Em 1997, a perspectiva do início da implantação dos sistemas na

Europa e EUA motivou várias emissoras de televisão a solicitarem à

Anatel autorizações especiais para testes de transmissão e recepção

de TV Digital, utilizando equipamentos que já estavam disponíveis

no mercado internacional. O objetivo destes testes era incorporar o

conhecimento das vantagens e problemas que a escolha de um even-

tual sistema de TV Digital poderia trazer ao país.

Começam os testes

Por orientação do Ministério das Comunicações, coube à Anatel es-

tabelecer a coordenação destes pedidos, publicando então a Res-

olução No. 69 que autorizava a realização de testes em circuito

fechado de caráter experimental, possibilitando desta forma que

aquele grupo pudesse se organizar na construção de uma estação pi-

loto e iniciar a execução de testes em sistemas de TV Digital já em

1998. Esta mesma resolução, em seu artigo 3.2 autorizava expressa-

mente a participação de universidades e centros de pesquisa tec-

nológica nos trabalhos de pesquisa de maneira a permitir que

engenheiros brasileiros pudessem contribuir com sua experiência

para o desenvolvimento do projeto. Imediatamente diversas empre-

sas de tecnologia que também estavam interessadas no desenvolvi-

mento dos testes manifestaram seu interesse em participar e

engrossaram as fileiras do grupo ABERT / SET, a quem coube a

missão de acompanhar o desenvolvimento, estudar, analisar e

avaliar os sistemas de TV Digital existentes no mundo, bem como

coordenar a realização dos testes no Brasil, com o objetivo de co-

laborar no processo de definição do padrão a ser adotado no país.

Os testes deveriam avaliar o sistema de transmissão digital, anal-

isando como se comportam um canal analógico e um canal digital

em operação simultânea, porque durante dez a quinze anos teriam

que conviver juntos, já que este seria o período esperado para a

transição dos sistemas.

Mackenzista coordena laboratório

A aliança que compunha o grupo ABERT / SET indicou um grupo

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Page 15: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

de profissionais altamente especializados e cientes das necessidades

técnicas e comerciais do mercado de televisão ABERTa no Brasil.

Entre estes, estava o Engº. Eduardo Bicudo, ex-aluno da Escola de

Engenharia Mackenzie e dirigente da SET, que viria a desempenhar

o papel de coordenador dos trabalhos de laboratório. Por outro lado,

a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) constituiu à Fun-

dação CPqD, que já vinha atuando em convênio como consultoria

para pesquisa e desenvolvimento em diversos projetos, como sua

representante junto ao grupo de pesquisas, com o objetivo de acom-

panhar os desenvolvimentos e complementar os estudos realizados

consolidando os resultados obtidos. A equipe do CPqD foi liderada

pelo Eng° Takashi Tome e contava com a participação destacada

dos Eng°s Antônio França Pessoa e Renato Maroja. Faltava então

definir onde seria montado o laboratório.

O papel do Mackenzie

Era consenso entre todos os participantes que a escolha deveria con-

templar uma universidade que pudesse fornecer os recursos hu-

manos necessários ao trabalho de coleta e processamento dos testes.

Como a Escola de Engenharia do Mackenzie gozava de grande

prestígio em testes de campo e laboratório para diversas empresas

de engenharia e seu corpo de professores era formado na sua maio-

ria por engenheiros com experiência no mercado de trabalho, o con-

vite foi feito a Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Implantacão

A implantação do Centro de Pesquisas deu-se ao longo do ano de

1999, com a importação dos equipamentos e sua instalação, origi-

nando assim ao “Laboratório de TV Digital”, no 1º andar do Edifí-

cio João Calvino. Nessa fase, foi necessário montar também uma

“gaiola de Faraday”, cuja construção foi atribuída ao Centro Tec-

nológico Mackenzie – CTM. Para o trabalho de campo, foi con-

struído um veículo dotado de antenas e equipamentos embarcados,

que passou a cumprir extenso programa de transmissão e recepção

de sinais a partir de pontos previamente estabelecidos dentro da

cidade de São Paulo. Foram essas experiências iniciais que permiti-

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Page 16: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

ram o desenvolvimento das análises comparativas de robustez dos

sistemas, colocando lado a lado os padrões ATSC (americano) e

DVB-T (europeu). Num momento posterior os trabalhos foram ex-

pandidos de forma a compreender também o sistema japonês

(ISDB). Todos esses passos foram precedidos de estudos e dis-

cussões que visavam à definição das estratégias metodológicas,

essenciais para um projeto inédito como esse. Conforme realça o

professor Marcel, “a participação de professores da Escola de En-

genharia, estagiários e técnicos na equipe foi marcada por significa-

tiva excitação e marcante comprometimento”. Os desenvolvimentos

técnicos foram conduzidos por equipes constituídas, principalmente,

por docentes da Escola de Engenharia e alguns profissionais do

grupo SET / ABERT, além de estagiários e auxiliares recrutados

dentro do Mackenzie. O envolvimento de todos foi muito significa-

tivo e, ao longo tempo foi se constituído uma “massa crítica” de alta

competência. Para isso, foi preciso investir não só numa metodolo-

gia de trabalho próprio, como, também, foram estabelecidas inter-

ações com profissionais de indústrias e instituições de ensino e de

pesquisa do Brasil e do Exterior, mediante viagens, visitas feitas e

recebidas, troca de informações, estágios, cursos, simpósios e outros

eventos técnicos.

Equipe pioneira

TV Digital no mundo e principalmente no Brasil é algo novo, tanto

em tecnologia, quanto em negócio. E, como toda novidade sempre

existem os pioneiros, aqueles que acreditam e apostam em novas

tendencias e tecnologias, assim o Mackenzie, que desde a intro-

dução das ferrovias, das primeiras hidrelétricas, tem participado ati-

vamente da modernização do Brasil, mais uma vez coloca sua

marca e seus pesquisadores em favor que tiveram atuação relevante

nas origens do programa: Doutor Adonias Costa da Silveira (então

Diretor-Presidente do IPM), Professores Marcel Mendes (então

Vice-Reitor da UPM), Antonio Carlos Bragança Pinheiro (então Di-

retor da EE), Luiz Tadeu Mendes Raunheitte (então Chefe do De-

partamento de Engenharia Elétrica), Carlos Eduardo da Silva

Dantas, Fujiô Yamada, Cristiano Akamine, Francisco Sukys e Ana

Cecília Munhoz e Engº Ricardo Franzen. Da parte da NEC, foi deci-

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Page 17: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

siva a atuação do Engº. José Yugi Ito e da parte da SET/ABERT, os

Engenheiros Fernando Bittencourt, Joaquim Mendonça e José

Olímpio Franco, que se mostraram entusiastas desse projeto e em-

prestaram grande apoio a todas as iniciativas. Boa parte do êxito das

primeiras ações deve ser creditada ao Engenheiro e ex-Professor

Eduardo Bicudo, que não só promoveu a aproximação entre as

partes envolvidas tornando viável o projeto, como também coorde-

nou tecnicamente as suas primeiras etapas e, num segundo mo-

mento, a atuação do Prof. Gunnar Bedicks, que desde 2002, tem

dirigido e coordenado o laboratório, como também tem sido figura

expoente dentro do desenvolvimento técnico do Sistema Brasileiro

de Televisão Digital representando o Mackenzie em diversos con-

selhos e Fóruns de discussão da TV Digital brasileira.

Convênio NEC x Mackenzie

No contexto do Mackenzie, o interesse pela TV Digital surgiu entre

professores da Escola de Engenharia e profissionais da área de Tele-

comunicações que vislumbraram uma oportunidade de instalar den-

tro do campus um moderno Centro de Pesquisas em TV Digital,

contando para isso com a participação de empresas e entidades com

as quais foram firmados convênios estratégicos.

O primeiro desses acordos de cooperação foi com a multinacional

NEC, que destinou cerca de R$ 2,5 milhões para a compra de

equipamentos e montagem de laboratórios, utilizando recursos in-

centivados pela “Lei da Informática” então vigente (Lei nº 8.248/91

e Decreto nº 792/93).

Convênio SET/ABERT x Mackenzie

O segundo convênio foi com o Grupo SET/ABERT, que viabilizou

o desenvolvimento de pesquisas inéditas nessa área. Coube à Uni-

versidade Presbiteriana Mackenzie entrar com a “inteligência” do

projeto, disponibilizando professores especialistas, alunos de

mestrado e de graduação, além do suporte administrativo e logís-

tico. Toda essa mobilização inicial deu-se nos anos finais da década

passada, tendo os convênios sido assinados em 12 de novembro de

1998.

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Page 18: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

TV Digital coloca Mackenzie no topo

Segundo o vice reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, na

época o professor Prof. Marcel Mendes, este convite veio num mo-

mento especialmente importante pois começava a esboçar-se uma

mudança na filosofia educacional da Universidade. O Mackenzie

que sempre tivera seus esforços voltados para uma experiência

prática de seus alunos e por poucas vezes se dedicara efetivamente a

trabalhos de pesquisa científica estava exatamente naquele mo-

mento iniciando diversos programas de incentivo a pesquisa em sis-

tema de pós-graduação. A criação de um novo laboratório de

pesquisa voltado para uma nova tecnologia seria um incentivo a

mais para que esta mudança pudesse consolidar-se. Esta também era

visão do então presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Dr.

Adonias Costa Silveira, que afirmou na ocasião que a assinatura do

convênio com a NEC inseriu de uma vez por todas o Mackenzie no

cenário das instituições de ponta na área de pesquisa e desenvolvi-

mento.

Nasce o laboratório

Em 1998, numa cooperação técnica com a Associação Brasileira de

Empresas de Rádio e Televisão (ABERT), a Sociedade de Engen-

haria de Televisão (SET), a Agência Nacional de Telecomunicações

(ANATEL) e a empresa NEC do Brasil, foi inaugurado o Labo-

ratório de Televisão Digital da Escola de Engenharia da Universi-

dade Presbiteriana Mackenzie. A montagem do Laboratório levou

cerca de seis meses que incluia a preparação dos sistemas irradi-

antes, a aquisição dos equipamentos de medição, a construção de

uma gaiola de Faraday e a montagem de uma unidade móvel para a

medição do sinais em campo.

Criado com o objetivo de desenvolver e aplicar testes comparativos

entre os dois sistemas de TV Digital existentes na época, o ameri-

cano (ATSC), o europeu (DVB-T) e mais tarde foi comparado tam-

bém o sistema japonês (ISDB-T), o laboratório desenvolveu, ao

longo desses anos, várias pesquisas e projetos em parceria com em-

presas privadas, instituições governamentais e outras universidades

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Page 19: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

brasileiras, entre elas a criação da TV Digital Interativa, em con-

vênio com a TV Escola do Ministério da Educação – MEC.

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Page 20: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

O século XX marcou uma luta entre ciência positivista e ciênciapura, uma defendendo a idéia de que a sociedade devia ser organi-zada como um grande projeto, sob o comando dos especialistas e aoutra lutando por ideais para os quais a ciência não era simples-mente um instrumento de ação da sociedade, mas a busca do con-hecimento amplo e aberto baseado no empirismo, em conexão coma cultura e com a formação humanística. Em diversos momentosestas visões se alternaram influenciando a criação e o desenvolvi-mento das instituições de ensino superior e pesquisa cientifica queoptavam por uma ou por outra orientação. Nas palavras do Prof.Simon Schwartzman, em palestra proferida no VI Encontro Na-cional de Pós-Graduação nas IES Particulares, no final do SéculoXIX, predominava no Brasil a visão positivista da ciência, para aqual sobretudo havia um conhecimento científico, técnico, que erasuperior a outras formas de conhecimento, e que deveria ser uti-lizado para tornar o pais mais moderno, racional e eficiente. Estaapreciação pela ciência não estava associada, no entanto, à apreci-ação pela pesquisa enquanto tal. Não havia um mundo descon-hecido a descobrir, mas uma tecnologia já definida para aplicar.

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4Mackenzie sempre na vanguarda

Page 21: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

Escola técnico professional

Naquele momento, no começo do século XX, desejava-se no Brasila criação de escolas que preparassem nossos estudantes com ênfasecrescente na educação técnico-profissional, de tipo aplicado bem aoestilo da ideologia positivista que predominava nos setores maismodernos do país. Naquele contexto a Escola Americana, matrizgeradora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, gozava doprestígio que acumulara por seus modernos métodos pedagógicos,inspirados na chamada “pedagogia norte-americana”. Apoiando-sena ascendência filosófica dos principios educacionais da religiãoprotestante, fez-se conhecida por suas posições progressistas e liber-tadoras, onde o fazer e o pensar integravam-se.

Abolucionistas e Republicanos

A Escola Americana, naquele tempo também conhecida por Insti-tuto São Paulo, ficara famosa por acolher os filhos de muitos aboli-cionistas e republicanos, alvos da perseguição política nas escolaspúblicas do Império. A Escola apesar de ser nitidamente cristã eevangélica nutria profundo respeito pelas convicções religiosas deseus alunos não protestantes.

Este histórico liberal, associado a alguma correspondência trocadacom José Bonifácio de Andrada e Silva durante seu exílio na Eu-ropa, sensibilizou o advogado norte-americano John TheronMackenzie e o levou a manifestar seu desejo de contribuir para acriação de “uma Escola capaz de ensinar à mocidade brasileira osmodernos conhecimentos da tecnologia relacionada com o trans-porte ferroviário” conforme deixou registrado em seu testamento.

Surge uma nova escola

Mesmo sem jamais ter vindo ao Brasil, o Dr. Mackenzie legou umasonante quantia para a fundação de uma instituição de ensino de en-genharia em nosso país, a Escola de Engenharia Mackenzie. O cenário da educação superior no Brasil, até aquele momento ofer-ecido em regime público e oficial, deslocaria-se assim de forma

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Page 22: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

notável para acolher um novo e importante ator: uma Escola de na-tureza privada, de índole protestante, inspirada em modelo norte-americano.

Escola de Engenharia Privada

Assim nasceu a Escola de Engenharia “Mackenzie College”, cujacriação veio tornar realidade um projeto educativo definido em suadeclaração de princípios e gravada na placa inaugural: “MackenzieCollege - Às Sciencias Divinas e Humannas”. Segundo o Prof. Mar-cel Mendes em sua pesquisa “A escola de Engenharia MackenzieCollege e a questão do reconhecimento”, do ponto de vista formal, aação educacional adotada pelo Mackenzie College impregnou-se deuma concepção educacional moderna e de visão de humanista, sub-limada pela perspectiva cristã reformada que vê o ser humanorevestido de dignidade, responsabilidade e liberdade. Ainda se-gundo o Prof. Mendes, a esse eixo fundamental aliou-se uma pro-funda filiação aos conceitos pragmáticos e filosóficos de umapedagogia norte-americana, adotados com firmeza por seu primeiroreitor, o educador americano Horace M. Lane e que podem explicara tradicional orientação pelas experiências que põem à prova as teo-rias e pelo ensino de caráter utilitário, prático e positivo.

Mackenzie nas ferrovias, Mackenzie nas hidrelétricas

Esse pragmatismo marcou o projeto educacional pelo qual oMackenzie sempre procurou preparar seus alunos para atuarem nosempreendimentos importantes para o crescimento urbano, industriale técnico do país. Eram do Mackenzie grande parte dos engenheirosque trabalharam nos projetos de eletrificação das cidades, nos proje-tos de construção de ferrovias e usinas hidroelétricas e em todos osgrandes projetos de urbanização que marcaram a primeira metadedo século XX em todo o Brasil e especialmente a capital paulista.

Hoje, ao longo de seus 136 anos de existência, a Universidade Pres-biteriana Mackenzie continua fiel aos seu projeto original, baseandosua pedagogia na prática, na realização e na construção do conheci-mento, seguindo os princípios de sua filiação religiosa e filosófica.

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Page 23: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

Canteiro de obras

Essa tradição, sempre viva na Universidade Presbiteriana Macken-zie, materializou-se durante sua história em numerosas e variadasatividades pedagógicas e na criação de centros de estudo e práticatecnológica. De seus primeiros anos pode-se recordar os acampa-mentos de topografia que levavam os estudantes de engenharia aocanteiro de obras por vários dias e onde punham em prática asnoções e teorias adquiridas na sala de aula e que até hoje são praticaregular ou a referência nos prospectos do curso de engenharia“mecânica elétrica” de 1924 que indicava que durante o último anodo curso o aluno deveria “Trabalhar como operário em oficinamecânica, desde janeiro até junho, devendo dar relatórios sem-anais... e trabalhar como empregado em serviço de eletricidade,desde julho até dezembro, devendo dar relatórios semanais ....”Com o passar dos anos e a evolução da tecnologia a Escola de En-genharia desenvolveu novas áreas de atuação e criou novos espaçosde estudos e pesquisas técnológicas como o Laboratório deMetrologia, o Centro de Radioastronomia e Astrofisica, o Labo-ratório de Fotônica e finalmente, e mais recentemente o Laboratóriode Televisão Digital, o LABTVD.

Uma visão de futuro das tecnologias digitais

Nas palavras do professor Marcel, que desde 1982 tem participadoda direção e administração da centenária Escola de Engenharia doMackenzie, “o Laboratório de TV Digital tem potencial para consol-idar-se como centro de referência nacional, não apenas pela quali-dade da sua estrutura física, (que a cada dia necessita deatualizações tecnológicas), mas, principalmente, pela excelenteequipe de profissionais. Não se pode pensar em ilha de excelência,mas em relevante presença e atuação numa rede de centros depesquisas. Esse conceito já está em vigor e deve ser mantido e am-pliado no futuro, envolvendo não só instituições de ensino, como,também, os segmentos produtivos da indústria e dos meios de co-municação”. Segue o professor Marcel, “hoje temos a vantagem dopioneirismo, que não basta como marca histórica, mas constitui umacredencial importante para a continuidade dos trabalhos”. Para oprofessor Marcel, em termos de Brasil e de mundo, não há dúvida

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Page 24: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

de que as tecnologias digitais estão destinadas a uma expansão emescala exponencial, especialmente se forem consideradas as con-vergências das múltiplas aplicações e o enorme potencial de cresci-mento do universo de usuários. Para ele a presença do Mackenzienesse contexto não será marginal, pois, segundo Marcel, o Macken-zie tem cérebros e infraestrutura para acompanhar e até induzirnovos desenvolvimentos. Em termos puramente estruturais de ‘de-partamento’ ou ‘setor’, o professor Marcel, não se arrisca a fazerprognósticos, até porque acho esses aspectos não são fundamentaispara o êxito dos empreendimentos científicos e tecnológicos. ParaMarcel “visão de oportunidade e competência diferenciada, essessim, são aspectos que não podem ser descuidados”.

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Page 25: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

Em 1998, o Congresso da SET havia trazido ao Brasil o Eng. Neil

Pickford, do Communications Lab, orgão assessor do Ministério das

Comunicações Australiano, para que apresentasse os procedimentos

desenvolvidos para os testes de TV Digital na Austrália. Aquela ap-

resentação serviu como importante referência para o trabalho dos

pesquisadores do LABTVD já que os cenários nos dois paises era

comparável em muitos aspectos. Até aquele momento, sómente os

engenheiros australianos haviam testado problemas e distorções dos

sinais digitais da forma que se imaginava necessário para os testes

brasileiros.

Simulação de canais

Nas discussões que se seguiram, o grupo de pesquisadores do

Mackenzie já em estreita colaboração com a equipe do CPqD, optou

por simular os canais digitais já com a presença de fantasmas e in-

terferências, um modelo que avançava sobre os resultados obtidos

pelos australianos e já vinha sendo desenvolvido nos trabalhos ante-

riores do Eng. Antônio França Pessoa, ao pesquisar a segmentação

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5Definindo os testes

Page 26: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

da imagem digital para a avaliação da qualidade da transmissão.

Isso levou a equipe do LABTVD a decidir pelo aprofundamento de

alguns daqueles testes, solicitando a aquisição de equipamentos de

simulação mais sofisticados para garantir a fidelidade dos resultados

brasileiros.

Rigor científico

Todos os métodos de ensaio, as tabelas de resultados que seriam

considerados e a seqüência dos testes de laboratório foram definidas

com cuidado e rigor científicos, de maneira que fosse possível sim-

ular todas a situações de interferência, permitindo assim que se ob-

servasse em ambiente controlado, o comportamento do sinal digital

aplicado as nossas condições e realidade, comparando o desem-

penho de cada sistema, os requisitos de proteção com relação aos

canais adjacentes e canais “taboo” – canais adjacentes passiveis de

interferencias - nas situações digital x analógico, analógico x digital

e digital x digital e, além disso, todas as hipóteses de interferência

do ambiente como os sinais multipercurso e os efeitos do ruído im-

pulsivo.

Segundo os membros da equipe esta foi a fase mais intensa do

processo pois a inexistência à época de testes padronizados obri-

gava a discussão cuidadosa de cada parâmetro de comparação que

pudesse ser utilizado de forma a gerar resultados que pudessem ser

aceitos por todos os interessados, ou seja, os radiodifusores

brasileiros, os representantes dos sistemas internacionais e a Anatel.

Em busca do reconhecimento internacional

Mas, apesar do grande apoio institucional e corporativo ao projeto,

nem tudo foi “céu de brigadeiro” na construção deste modelo de tra-

balho. Para que os resultados fossem aceitos como válidos pela co-

munidade cientifica e tecnológica era preciso obter informações

mais detalhadas junto às equipes técnicas dos padrões interna-

cionais. Para isso era necessário que especialistas estivessem acom-

panhando a evolução do trabalho e fornecendo informações

relevantes para as comparações dos resultados.

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Page 27: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

National Association of Broadcasters

Em 1999 os pesquisadores do LABTVD participaram como convi-

dados da SET da reunião da National Association of Broadcasters

em Las Vegas - EUA. Esta visita tinha o objetivo de apresentar a co-

munidade mundial o projeto dos testes brasileiros e buscar a aproxi-

mação dos responsáveis pelos padrões internacionais, estabelecendo

os necessários canais de comunicação. Num primeiro momento

houve por parte dos representantes internacionais um certo ceti-

cismo da iniciativa brasileira, sendo que alguns nem consideravam

possível que os engenheiros brasileiros pudessem gerar um relatório

fiável. Testemunhas daquelas reuniões relatam que houveram mo-

mentos de muita tensão onde o desconhecimento da realidade

brasileira pelos responsáveis internacionais era tão grande que cri-

ava o risco de inviabilizar todo o projeto. No entanto, com o passar

dos dias, nas sucessivas reuniões que aconteceram, a equipe

brasileira pode demonstrar que para além de fiáveis os testes pro-

postos seriam muito úteis para o desenvolvimento futuro dos

padrões mundiais de TV Digital. Com esses acordos firmados a

equipe retornou ao Brasil com a certeza de que os testes seriam

apoiados e respeitados internacionalmente.

Estudo de viabilidade técnica

Em fevereiro de 1999, foram submetidos à ANATEL o estudo de vi-

abilidade técnica dos canais que seriam utilizados em São Paulo,

bem como as características de instalação e os equipamentos da es-

tação transmissora. A autorização para execução do Serviço Espe-

cial para Fins Científicos e Experimentais e para a instalação da

estação transmissora em São Paulo foi expedida em 30 de agosto de

1999, pelo Ato nº 4609, do Conselho Diretor da ANATEL, assinado

pelo então presidente do conselho, Roberto Navarro Guerreiro.

Ainda em agosto a equipe de pesquisadores apresentou o Relatório

Inicial que descrevia em detalhes cada passo que seria seguido na

execução dos testes de laboratório e de campo. Os testes de labo-

ratório foram desenhados para cobrir uma gama de situações muito

maior do que as que seriam verificadas nos testes de campo. Por sua

vez os resultados dos testes de campo funcionariam como um verifi-

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Page 28: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

cador dos dados que seriam obtidos nos testes de laboratório.

Estação transmissora

A instalação da estação transmissora foi concluída em 27 de setem-

bro, data em que foram iniciadas as transmissões e os ajustes finais

para o início dos testes de campo. Os testes de laboratório foram

iniciados em 8 de outubro e os testes de campo em 8 de novembro

de 1999.

Os testes

Inicialmente havia-se planejado a realização de testes nas cidades

do Rio de Janeiro e São Paulo, mas devido aos custos elevados para

a instalação de duas estações de transmissão o grupo optou por re-

alizar apenas os testes de São Paulo, que apresentava condições de

densidade urbana e relevo que poderiam simular quaisquer situ-

ações, inclusive as existentes no Rio de Janeiro, de forma a colocar

um verdadeiro desafio a performance dos sistemas a serem testados.

Assim a estação de transmissão foi montada nas instalações da TV

Cultura de São Paulo, no Sumaré, um bairro com tradição na

história da televisão brasileira.

126 pontos

Para a continuidade do processo de pesquisa foram selecionados

num grande mapa da cidade de São Paulo, 126 pontos onde seriam

medidos os sinais recebidos de maneira que se pudessem observar o

maior numero possível de situações reais de transmissão e recepção

do sinal digital. Eram pontos que variavam muito em distância

chegando até a localidades na periferia da cidade, a mais de 20 km

da antena de transmissão. Para estes 126 pontos, espalhados nos

quatro cantos da cidade de São Paulo, deslocava-se uma viatura

preparada com uma antena digital montada num braço telescópico e

diversos aparelhos de recepção e medição do sinal segundo quatro

esquemas principais:

A. Comparação do desempenho de cobertura;

B. Comparação em condições domésticas de recepção com simu-

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Page 29: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

lação de situações reais como eletrodomésticos ligados e pessoas

circulando proximas a antena;

C. Interferência no canal adjacente analógico

D. Interferência no canal adjacente digital.

Testes dia e noite

Os testes, realizados tanto de dia quanto de noite, iniciaram com

apenas os sitemas ATSC e DVB que já haviam sido lançados e en-

contravam-se em fase inicial de implementação na Europa e Esta-

dos Unidos. Depois de iniciados os testes de campo surgiu a

necessidade de incluir o ISDB-T que havia sido lançado no Japão na

esteira de uma série de desenvolvimentos técnicos de transmissão e

recepção de sinais digitais para rádio e televisão por um grupo de

empresas capitaneadas pelo NHK, Science and Technical Research

Labs. O sistema havia sido desenvolvido como uma variante do

padrão DVB-T (modulação OFDM) e permitia a difusão integrada

de sinais digitais em banda larga e banda estreita e assim apresen-

tavam excelente potencial para a transmissão simultânea de sinais

para receptores fixos e móveis. A decisão de incluir o sistema

japonês foi tomada por causa da excelente performance dos testes

realizados pelo Tokio Pilot em 1998 e pelo sucesso das transmissões

de TV Digital em alta definição por satélite que haviam ocorrido em

1999. Dessa forma os pontos de recepção foram revisitados para

que fossem feitos os testes de campo também com o padrão

japonês.

Durante os trabalhos, o LABTVD recebeu a visita de diversas dele-

gações de engenheiros e técnicos dos sistemas ATSC, DVB e ISDB

que contribuiram enormente com sugestões e críticas que sempre

que possível foram assimiladas pelos pesquisadores do Mackenzie.

“Brazil Digital TV Testing Procedures”

Os testes foram um marco tanto para a engenharia de televisão no

Brasil como para o Mackenzie que ampliou seu prestígio institu-

cional graças aos resultados positivos obtidos durante os trabalhos e

a sua estreita colaboração com todas as entidades e pesquisadores

envolvidos no projeto. Esta cooperação entre as entidades envolvi-

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Page 30: Pequena história da tv digital brasileira, Artur Mendes

das criou um ambiente que facilitou a realização do trabalho para

além da aplicação de testes já conhecidos, permitindo que se

chegasse a criação de um novo conjunto de procedimentos que hoje

é utilizado como padrão global. São os chamados Brazil Digital TV

Testing Procedures da ITU - International Telecommunication

Union - que foram reconhecidos internacionalmente como procedi-

mentos padrão para os testes de transmissão de TV Digital. Recen-

temente, os receptores de quinta geração do sistema ATSC foram

lançados ao mercado destacando sua compatibilidade com os resul-

tados exigidos pelos testes Brazil A, B, C, D e E.

O trabalho consolidado

Depois de terminados os trabalhos dos testes para o Sistema

Brasileiro de Televisão digital, o LABTVD manteve a sua equipe de

pesquisadores em atividade, trabalhando em testes para a industria

de equipamentos, em testes de digitalização para sistemas de tv

paga, no desenvolvimento de sistemas de TV Digital interativa por

satélite entre outros projetos de forma que todo o conhecimento

acumulado durante as pesquisas não ficasse desatualizado além de

uma produção acadêmica muito rica, gerando artigos em publi-

cações, apresentações internacionais, teses de mestrado e doutorado.

O primeiro relatório

Em abril de 2000 foi encerrada a primeira fase das pesquisas, dando

origem ao relatório técnico que, até hoje, é considerado o primeiro

documento qualificado sobre o tema, no Brasil, compreendendo não

só a síntese do estado-da-arte, mas o resultado de um ano e meio de

trabalhos de campo e laboratório.

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No começo do governo Lula, mais precisamente no dia 3 março de2003, o professor Gunnar Bedicks Jr. e o vice-reitor da Universi-dade Presbiteriana Mackenzie, Dr. Pedro Ronzelli Jr. em visita aoentão ministro das Comunicações, Miro Teixeira, propuseram aoministro a criação de um consórcio de universidades para reascen-der o projeto da TV Digital que andava meio parado. O ministro detão receptivo à idéia gerou alguns dias depois a Minuta de Ex-posição de Motivos nr MC 00034 EM endereçada ao presidenteLula, propondo entre outras coisas a formação de um consórcio deuniversidades brasileiras, públicas e privadas, para se encarregar dapesquisa básica de possíveis soluções tecnológicas, tanto em com-ponentes, quanto em programação. Um trabalho inicial, coordenadopela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, obteve aadesão de laboratórios ou departamentos de engenharia dasseguintes universidades: Universidade Estadual de Campinas (UNI-CAMP), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, Universidadede São Paulo (USP), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), In-stituto Nacional de Telecomunicações (Inatel). Assim, em 6 de

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6Universidades unidas

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junho de 2003, foi realizada a primeira Reunião do Consórcio dasUniversidades para o Desenvolvimento de um Sistema Brasileiro deTV Digital. A histórica reunião, que deu um novo alento ao projeto,ocorreu nas dependências do Mackenzie em São Paulo, e contoucom a presença de representantes das seguintes universidades:Mackenzie, Unicamp, USP, UFPB, PUC, UPM.

No bojo, a Educação à distância

Uma das grandes vantagens da TV Digital é facilidade de agregarfunções interativas dentro da transmissão. E o Mackenzie, além departicipar diretamente na criação do Sistema Brasileiro de TelevisãoDigital, também desenvolveu em parceria com a Secretaria de Edu-cação a Distância, do Ministério da Educação um projeto pilotopara a TV Escola Digital Interativa onde todo o conhecimento acu-mulado em TV Digital, foi aplicado no desenvolvimento de umaplataforma de educação por TV Interativa via Satélite, com certezaum dos promissores sub-produtos da digitalização da TV. Este pro-jeto aprovado pelo ministro da Educação da época, Cristovam Buar-que, foi apresentado na UNESCO e ao ministro da Educação daChina.

O SBTVD nasce por decreto

Em 2003, no primeiro ano de madato do presidente Lula, o GovernoBrasileiro lançou o Programa de Desenvolvimento do SistemaBrasileiro de TV Digital (SBTVD) no Decreto nº 4.901, de 26 denovembro. O decreto assinado pelo ministro das Comunicações deentão, Miro Teixeira, e pelo ministro-chefe da Casa Civil, JoséDirceu, tinha o objetivo de estabelecer uma rede de competênciasnacional, promovendo a integração dos centros de pesquisabrasileiros para apresentar uma solução técnica inovadora, man-tendo e aproveitando a compatibilidade com elementos jápadronizados no mercado mundial de TV Digital. Através do finan-ciamento de projetos articulados de pesquisa e desenvolvimento doSistema de TV Digital Terrestre, um convênio firmado entre oFundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações(FUNTTEL) e a Fundação CPqD designava para o programa, em

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sua fase inicial, uma dotação orçamentária de R$ 65 milhões,cabendo R$ 15 milhões à Fundação CPqD e R$ 50 milhões para acontratação das instituições de pesquisa em todo o país. De acordocom Miro Teixeira, “a televisão digital não é apenas uma evoluçãotecnológica da tv analógica, mas uma nova plataforma de comuni-cação, com profundos impactos na sociedade”, afirmou na época oministro Teixeira.

Convite oficial

No Decreto 4.901 foram determinadas seis áreas principais depesquisa e emitidas cartas convite para que as instituições pudessemparticipar do desenvolvimento. O LABTVD já havia se habilitado aparticipar do processo de seleção das instituições na área depesquisa voltada para “Transmissão e Recepção, codificação decanais e Modulação” e assim recebeu a carta convite 02/2004 ondefoi formalmente convidado a apresentar seu projeto de pesquisa. Oprojeto apresentado pelo Mackenzie incluiu uma parceria com aUniversidade de São Paulo e a Universidade Federal da Paraíba, demaneira que os trabalhos pudessem ser complementados e os resul-tados ampliados na sua aplicação prática.

No ar uma nova Televisão brasileira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou em 29 de junho de2006, no Palácio do Planalto, decreto que define o regime de tran-sição da televisão analógica brasileira para o sistema digital. Naocasião, estiveram reunidos representantes dos governos brasileiro ejaponês, inclusive o ministro do Interior e das Comunicações, HeikoTakenaka; e empresários da indústria eletro-eletrônica e das emisso-ras. “Com essa decisão, ao invés de simplesmente comprarmos osdireitos de um sistema de televisão digital, decidimos criar o Sis-tema Brasileiro de Televisão Digital, com características brasileiras,um projeto não apenas para aqueles que podem pagar por umserviço a cabo ou por satélite”, afirmou, em discurso durante a cer-imônia, o ministro das Comunicações, Hélio Costa.O decreto estabelece prazo de 10 anos para que toda transmissãoterrestre no País seja digital. Nesse período, os sinais analógicos e o

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digital serão transmitidos simultaneamente. O consumidor, caso de-cida desfrutar das vantagens da nova tecnologia, deverá trocar deaparelho ou comprar um adaptador. Senão, poderá continuar com amesma tevê que possuí hoje. “Temos um parceiro de primeira quali-dade e estamos com o melhor sistema de televisão digital domundo, como reconhecem os próprios concorrentes”, discursou naocasião o empresário e conselheiro da Associação Nacional dosFabricantes de Produtos Eletro-Eletrônicos (Eletros), EugênioStaub. “É preciso registrar o papel do ministro Hélio Costa nesseprocesso; colocou o tema na agenda e nos fez chegar até o dia dehoje.”

Tv Digital. O Céu é o limite

A televisão, além de ser uma das raras fontes de lazer da grandemaioria dos brasileiros, é o único serviço de comunicação realmenteuniversal e gratuito no Brasil. Este serviço tão fundamental para opovo brasileiro vem sofrendo crescente concorrência de outras mí-dias, numa clara tendência de fragmentação do mercado, podendovir a perder espaço e reduzir sua participação no bolo publicitário. Aintrodução da TV Digital, certamente, virá recompor o poder com-petitivo da televisão como um todo e devolvendo a atenção tanto detelespectadores quanto dos patrocinadores. Praticamente a tecnolo-gia digital, dará a TV um renascimento e abrirá aos produtores deconteúdo e programadores de TV novas oportunidades em negóciose em formatos de progama.

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Apêndices

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Grandes histórias de sucesso começam aqui.Universidade Presbiteriana Mackenzie

O Sistema Brasileiro de TV Digital, ISDTV, já é uma realidade. Nascido e desenvolvidonos laboratórios de TV Digital daUniversidade Presbiteriana Mackenzie, em breve estará nos lares de milhões de brasileiros. É o Mackenzie colocandoconhecimento a serviço da sociedade.

ISDTV. A próxima atração da tv brasileira nasceuno laboratório de TV Digital do Mackenzie.

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Grandes histórias de sucesso começam aqui.

Bar do Zé.O primeiro bar do Brasil com

TV Digital.

Universidade Presbiteriana Mackenzie

O Sistema Brasileiro de TV Digital, já é uma realidade.Nascido e desenvolvido nos laboratórios de

TV Digital da Universidade Presbiteriana Mackenzie,já pode estar nos lares de milhões de brasileiros.É o Mackenzie colocando conhecimento a serviço

da sociedade e também do Bar do Zé.

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TV DigitalPequena história

SBTVD

Artur Mendes

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