paraguai: de stroessner a lugo

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Professor Ms Graziano Uchôa Professor Ms Graziano Uchôa

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Page 1: Paraguai: De Stroessner a Lugo

Professor Ms Graziano UchôaProfessor Ms Graziano Uchôa

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No tocante à história contemporânea da América do Sul, principalmente no período em que as Forças Armadas despontaram como protagonistas no cenário político dessa região (1960-1970), o Paraguai foi um país que, por vezes, não teve reconhecido o importante papel que exerceu, e ainda exerce, nas relações entre os países latino-americanos. Na história recente da “Nação Mediterrânea do Prata”, a sociedade paraguaia se viu imersa em conflitos, causados pelos interesses de grupos que detinham o poder local naquilo que as ciências sociais denominam de conflito intra-oligárquicos, que foram potencializados em razão das constantes interferências externas, quer no cenário sul americano, quer em disputas envolvendo outros países, com especial destaque a presença inglesa no século XIX e norte americana em meados do XX.

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Stroessner toma o poder em 4 de maio de 1954, mediante um golpe que destituiu o presidente colorado Federico Chaves.

Assume a presidência oficialmente em 15 de agosto de 1954, com o apoio do Partido Colorado ( um dos mais tradicionais partidos paraguaios) juntamente com as forças armadas, Stroessner construiu no Paraguai o que ficou conhecido como “la unidad granítica”.

A ditadura de Stroessner

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Diferente dos outros regimes militares latino-americanos, o regime de Stroessner constituiu um sistema político que tendia a permanecer por tempo indeterminado, não aparecia como uma regime transitório de exceção.

Outra particularidade é que a ditadura stronista se sustentou não somente não forças armadas, foi também desde o inicio apoiada pelo Associação Nacional Republicana (ANR).

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A conjuntura internacional vivida na época era marcada com a chamada Guerra Fria, período caracterizado pela constante confronto entre duas superpotências mundiais (EUA X URSS) disputando áreas de influencia para suas políticas.

Na América latina começava a despontar os regimes militares, a maioria deles seguidores da cartilha da Doutrina de Segurança Nacional (DSN), segundo o autor Joseph Comblin:

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A Ideologia de Segurança Nacional, colocada acima da segurança pessoal, expande-se por todo continente latino-americano [...]. Inspirada nela, os regimes de força, em nome da luta contra o comunismo e a favor do desenvolvimento econômico, declaram guerra a todos os que não concordam com a visão autoritária da organização da nova sociedade. [...] as garantias individuais são suprimidas [...] consiste no abuso do poder do Estado, em prisões arbitrárias, torturas e na supressão da liberdade de pensamento.

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Tomando como base o discurso do anticomunismo, Stroessner implantou no país um regime marcado por uma brutal repressão e estabeleceu um novo controle político e social. Sobre o stronato Clóvis Rossi classifica o Paraguai como uma espécie de “precursor artesanal dos regimes de Segurança Nacional” , e só a partir da década de 1960 teve inicio os regimes militares nos outros países do Cone Sul: no Brasil em 1964, na Bolívia no mesmo ano, no Uruguai e no Chile no ano de 1973 e em 1976 na Argentina.

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O regime de Stroessner a exemplo das outras que ocorreram na América Latina utilizou-se além da violência, um persistente discurso ideológico nacionalista para justificar uma ‘proteção’ a Nação, qualquer tentativa de se questionar o governo de Stroessner implantado no país era ir contra o seu desenvolvimento. Nas palavras de Adan Godoy Jimenez, Ministro da saúde e bem estar social do governo stronista, o modelo “republicano democrático de governo” se daria através de uma “democracia sin comunismo”, esse modelo se caracterizava por uma inviabilidade da convivência pacifica com tal ideologia. Segundo Jimenez “el comunismo solo sirve a los intereses de una potencia imperialista empeñada en conquistar y sujuzgar a los pueblos libres, soberanos, democráticos y nacionalistas como es el Paraguay del presente” A potência imperialista da qual Adan Godoy se refere é a união soviética.

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A falta de perspectiva de reivindicação e da efetivação dos direitos básicos por meios legais fez com que começassem a surgir agrupações armadas (guerrilhas) com a finalidade de tomar o poder das mãos do stronato. Dois grupos tiveram maior expressão: o 14 de mayo e a Frente Unido de Liberacion Nacional (FULNA) Essas guerrilhas começaram suas atividades com uma diferença de meses, e ambos os movimentos introduziram colunas guerrilheiras a partir da Argentina. O número de exilados era grande, a ditadura de Stroessner caçava a qualquer individuo ou organização que se opusesse ao regime. Para a maioria dos que fugiam da ditadura a Argentina aparecia como um dos poucos refúgios para os perseguidos pelo regime. No Movimento 14 de mayo confluíam basicamente liberais e febreristas. Já a Frente Unida de Libertação Nacional era dirigida pelo Partido Comunista.

Os insurgentes

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Para combater a esses grupos Stroessner pode contar com o apoio dos EUA, e para isso “recebeu muito dinheiro, armas aviões e veículos, mandou seus militares treinarem nos Estados Unidos e teve instrutores dentro do Paraguai” . O Brasil também não ficou de fora:

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“o Movimento 14 del mayo, denunciou que o Brasil havia entregue ao General Stroessner 14 metralhadoras pesadas, 25 caixas de projéteis e 258 bombas e mandado que aviões fizessem o reconhecimento das tropas revolucionárias na região de Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Mato Grosso”

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Segundo o historiador Alfredo da Mota Menezes:

O comentário abaixo é parte de um relatório do secretário de segurança do Estado de Mato Grosso na administração Fernando Corrêa da Costa: dia 20 de dezembro de 1960, oito paraguaios cruzaram a fronteira de Mato Grosso, próximo a Paranhos, no município de Amambay [...] No dia 25 de dezembro, um cabo do Exército Brasileiro que tinha sido comprado pela polícia do Paraguai que estava procurando por aqueles refugiados, levou os oito fugitivos para as proximidades da fronteira Brasil-Paraguai onde foram assassinados por aqueles policiais paraguaios.

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Os movimentos guerrilheiros foram sufocados em um período curto de tempo (1959-1961). Segundo Oscar Creydt a luta armada seria suspendida “hasta que se crien mejores condiciones para esta forma superior de lucha em nuestro país”. Na verdade quando CREYDT, Oscar alude a essas ‘condições’, faz referencia a um maior apoio das massas na luta contra o regime. O terror instaurado pela ditadura amedrontava enormemente o povo.

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O regime stronista utilizou-se de um forte esquema repressivo para sua manutenção no poder. Para isso, pode contar com o apoio externo do EUA e do Brasil, e também com o discurso da Doutrina de Segurança Nacional. O que era inesperado para povo paraguaio era que como efeito disso, Stroessner ficaria como chefe de Estado por um período de 35 anos e estabeleceria um sistema ditatorial marcado pela falta de liberdade, deixando os civis por mais de três décadas longe do poder.

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O processo de democratização do Paraguai, após a longa ditadura de 35 anos do regime do general Alfredo Stroessner, foi caracterizada por uma tumultuosa ação política, na qual não faltaram acusações de corrupção no alto escalão, tentativas de golpe militar, assassinato de um vice-presidente, processo de impeachment e renúncia presidencial. Portanto, talvez a característica mais forte da política paraguaia seja a instabilidade institucional.

A herança do governo Strossner

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Fernando Lugo, ex-bispo da Igreja Católica, venceu as eleições gerais e assumiu a presidência em 2008. Na época, sua vitória foi festejada por amplos setores sociais paraguaios, principalmente entre os mais pobres, que viam nele a concreta possibilidade de mudança social e renovação política.

A queda de Fernando Lugo

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O governo de Fernando Lugo surgiu como uma esperança. Derrotou o tradicional Partido Colorado e representava uma mudança social principalmente para os setores mais pobres.

Todavia, do ponto de vista político, um fato que não escapou aos analistas mais atentos da política paraguaia de então, foi que Lugo venceu a eleição para o Executivo mas não conseguiu emplacar uma vitória mínima no parlamento. A base de sustentação do novo governo no legislativo foi irrisória, sinalizando que não seria nada fácil governar o país e, principalmente, cumprir as promessas feitas aos paraguaios durante a campanha eleitoral.

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Para muitos, a vitória eleitoral de Lugo sinalizava o alinhamento do Paraguai aos países governados por presidentes considerados de “esquerda”, como Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e Luiz Inácio Lula da Silva.

Para a classe média Lugo pretendia instalar o caos como parte de seus planos bolivarianos. Fracassada no Brasil na época que Lula governava, tudo indica que essa tese de “venezuelização” prosperou no Paraguai.

O início da queda

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A Gota D'Água, deu-se em 15 de julho. Em um conflito ocorrido em uma fazenda em Curuguaty, a 240 quilômetros da Capital. Em uma troca de tiros o resultado foram 6 policiais foram e 11 camponeses mortos.A fazenda é de um ex-senador e ex-presidente do Partido Colorado, Blas Riquelme.O próprio parlamento que destituiu Lugo, conta com com dois filhos e um sobrinho do general golpista Lino Oviedo. Além disso, conta com Goli Stroessner, como o sobrenome indica é neto do ex-ditador.

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A Igreja Paraguai nunca digeriu bem o fato de Lugo ter se afastado da Igreja para assumir a candidatura à presidência e depois os sucessivos casos de paternidade de Lugo o afastaram ainda mais da Igreja. 

A acusação que Lugo sempre manteve vínculos com grupos de sequestradores, como o Patria Libre e o Exército do Povo Paraguaio (EPP), apontado responsável pela crescente insegurança no país.

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O impedimento do presidente Fernando Lugo, ocorrido no dia 22 de junho, colocou o Paraguai no centro das atenções diplomáticas de toda a região. A maior parte dos países sul-americanos se pronunciou de forma inequívoca contra a maneira pela qual o processo de impeachment foi conduzido pelo parlamento paraguaio.Os acontecimentos no Paraguai servem como aprendizado político. Nenhum governo latino-americano, ainda que eleito, modificará impunemente a ordem social, mesmo que de forma parcial.A julgar pelos precedentes históricos, longínquos e recentes, se essas lições não forem devidamente aprendidas, na América Latina outros golpes virão.

Consideração finais

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ARELLANO, Diana. La lucha no termina: Movimiento 14 de mayo para La liberación del paraguay (1959-1961). In: LACHI, Marcelo. Insurgentes: La resistência armada a la dictadura de Stroessner. Asunción/PY: Arandurã editorial, 2004.

ARCE, Omar Diaz de. El Paraguay contemporâneo (1925-1975). In: América Latina: história de médio siglo. Volume I, México: Siglo Veintiuno editores, 1977, p.327-378.

CHIAVENATO, Julio José. Stroessner: retrato de uma ditadura. -São Paulo: editora brasiliense, 1980.

CREYDT, Oscar. Formación histórica de la Nación Paraguaya. Asunción, Paraguay: Servilibro, 2007.

MENEZES, Alfredo da Mota. A herança de Stroessner: Brasil-Paraguai, 1955-1980. -Campinas, SP: Papirus,1987.