palavras-chave a medicina dentária moderna destaca-se...

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Dentistry Clínica EDIÇÃO PORTUGUESA Dentistry Estética Setembro 2010 www.dentistry.pt A Medicina Dentária moderna destaca-se pelos tratamentos multidisciplinares, uma união das diversas especialidades, na busca pelo melhor resultado funcional e estético. Uma especialidade sozi- nha não consegue, na maioria das vezes, conceder ao paciente os resultados finais que ele espera. Neste con- texto, a integração entre a Ortodontia e a Medicina Den- tária Estética tem-se destacado, seja pelas várias possi- bilidades de tratamentos associados, tais como laterais conóides, desproporção entre tamanho e largura dos dentes, diastemas pós-tratamento ortodôntico, seja pela satisfação dos pacientes que receberam esta filosofia de tratamento. 1 O tratamento ortodôntico baseia-se no estabeleci- mento de oclusão funcional adequada, preservação da saúde do periodonto e das estruturas de suporte, esta- belecimento de tratamento estável dentro dos limites da fisiologia e obtenção de harmonia estética dentária e facial. 2 Porém, na prática clínica, o ortodontista depara- se com discrepâncias relacionadas com a anatomia den- 26 A equipa da Universidade Estadual de Ponta Grossa descreve como com um diagnóstico correcto e a elaboração de um plano de tratamento adequado entre a Ortodontia e a Medicina Dentária Estética, se pode chegar ao objectivo final, ou seja, à estética e à relação funcional, bem como à satisfação do paciente com o resultado obtido. Dr. Cristian Higashi. Mestre em Dentística Restauradora UEPG/PR. Doutorando em Dentística Restauradora UEPG/PR. Dr. Sérgio Paulo Hilgenberg. Mestre em Dentística Restauradora UEPG/PR. Dr. Antônio Setsuo Sakamoto Jr. Mestrando em Dentística Restauradora UEPG/PR. Dra. Osnara Maria Mongruel Gomes. Professora Adjunta Doutora da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG/PR. Dr. João Carlos Gomes. Professor Associado. Doutor da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG/PR. Contactos: Cristian Higashi Av. Presidente Getúlio Vargas, 1811; Apto. 42; Bairro Água Verde. CEP.: 80250-180 Curitiba, Paraná, Brasil. [email protected] Finalização estética em dentes anteriores pós-tratamento ortodôntico: 36 meses de acompanhamento Figuras 1, 2 e 3: Fotos iniciais, frontal e lateral, para estudo e planeamento do caso clínico Resumo Os tratamentos multidisciplinares vêm ganhando es- paço na Medicina Dentária moderna, onde cada espe- cialidade actua com as suas intervenções em momen- tos distintos do tratamento. Na clínica ortodôntica, os espaços residuais entre os dentes anteriores são fre- quentes devido à discrepância de Bolton. Desta forma, cabe à Ortodontia uma correcta distribuição dos espa- ços e cabe à Medicina Dentária Estética o fechamento dos mesmos com resinas compostas por meio de res- taurações estéticas. Estas restaurações são uma alter- nativa conservadora e versátil para a resolução destas situações. O presente artigo visa descrever a sequên- cia clínica de fechamento de espaços pós-tratamento ortodôntico, com detalhes técnicos para planeamento e execução do tratamento restaurador, com acompa- nhamento satisfatório de 36 meses. Palavras-chave Ortodontia. Dentisteria operatória. Resinas compostas. Estética dentária. Figuras 4, 5 e 6: Fotos iniciais de registo de cor com a escala de cores do próprio sistema Figura 7: Isolamento absoluto realizado de forma modificada para controlo do campo operatório com visualização dos tecidos gengivais Figura 8: Condicionamento do esmalte por ácido fosfórico 37%, com protecção dos dentes adjacentes realizado com uma fita de teflon

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Dentistry ClínicaEDIÇÃO PORTUGUESA

Dentistry26

EstéticaSetembro 2010www.dentistry.pt

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A Medicina Dentária moderna destaca-se pelos tratamentos multidisciplinares, uma união das diversas especialidades, na busca pelo melhor

resultado funcional e estético. Uma especialidade sozi-nha não consegue, na maioria das vezes, conceder ao paciente os resultados finais que ele espera. Neste con-texto, a integração entre a Ortodontia e a Medicina Den-tária Estética tem-se destacado, seja pelas várias possi-

bilidades de tratamentos associados, tais como laterais conóides, desproporção entre tamanho e largura dos dentes, diastemas pós-tratamento ortodôntico, seja pela satisfação dos pacientes que receberam esta filosofia de tratamento.1

O tratamento ortodôntico baseia-se no estabeleci-mento de oclusão funcional adequada, preservação da saúde do periodonto e das estruturas de suporte, esta-belecimento de tratamento estável dentro dos limites da fisiologia e obtenção de harmonia estética dentária e facial.2 Porém, na prática clínica, o ortodontista depara-se com discrepâncias relacionadas com a anatomia den-

26

A equipa da Universidade Estadual de Ponta Grossa descreve como com um diagnóstico correcto e a elaboração de um plano de tratamento adequado entre a Ortodontia e a Medicina Dentária Estética, se pode chegar ao objectivo final, ou seja, à estética e à relação funcional, bem como à satisfação do paciente com o resultado obtido.

Dr. Cristian Higashi. Mestre em Dentística Restauradora UEPG/PR. Doutorando em Dentística Restauradora UEPG/PR.

Dr. Sérgio Paulo Hilgenberg. Mestre em Dentística Restauradora UEPG/PR.

Dr. Antônio Setsuo Sakamoto Jr. Mestrando em Dentística Restauradora UEPG/PR.

Dra. Osnara Maria Mongruel Gomes. Professora Adjunta Doutora da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG/PR.

Dr. João Carlos Gomes. Professor Associado. Doutor da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG/PR.

Contactos: Cristian HigashiAv. Presidente Getúlio Vargas, 1811; Apto. 42; Bairro Água Verde. CEP.: 80250-180 Curitiba, Paraná, Brasil. [email protected]

Finalização estética em dentes anteriores pós-tratamento ortodôntico: 36 meses de acompanhamento

Figuras 1, 2 e 3: Fotos iniciais, frontal e lateral, para estudo e planeamento do caso clínico

ResumoOs tratamentos multidisciplinares vêm ganhando es-paço na Medicina Dentária moderna, onde cada espe-cialidade actua com as suas intervenções em momen-tos distintos do tratamento. Na clínica ortodôntica, os espaços residuais entre os dentes anteriores são fre-quentes devido à discrepância de Bolton. Desta forma, cabe à Ortodontia uma correcta distribuição dos espa-ços e cabe à Medicina Dentária Estética o fechamento dos mesmos com resinas compostas por meio de res-taurações estéticas. Estas restaurações são uma alter-nativa conservadora e versátil para a resolução destas situações. O presente artigo visa descrever a sequên-cia clínica de fechamento de espaços pós-tratamento ortodôntico, com detalhes técnicos para planeamento e execução do tratamento restaurador, com acompa-nhamento satisfatório de 36 meses.

Palavras-chave Ortodontia. Dentisteria operatória. Resinas compostas. Estética dentária.

Figuras 4, 5 e 6: Fotos iniciais de registo de cor com a escala de cores do próprio sistema

Figura 7: Isolamento absoluto realizado de forma modificada

para controlo do campo operatório com visualização dos

tecidos gengivais

Figura 8: Condicionamento do esmalte por ácido fosfórico

37%, com protecção dos dentes adjacentes realizado com

uma fita de teflon

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tária3, necessitando assim, da interacção com a Medicina Dentária Estética. Isto é justificado pelo facto de que o tamanho reduzido e excesso de largura dos dentes podem ocasionar fracasso da terapia ortodôntica, por insatisfação do paciente ou por recidiva do tratamento ortodôntico.4-5

Desta forma, é imprescindível que o planeamento ortodôntico-restaurador seja realizado desde o início, para ser economicamente viável e esteticamente adequa-do.6 Particularmente, quando a estética é o objetivo7, a interacção e a comunicação entre o paciente e os profis-sionais envolvidos, para definir o correcto diagnóstico, a elaboração do plano de tratamento e o tratamento propriamente dito, fazem a diferença entre o sucesso e o fracasso no resultado final.7 Desta forma, a combina-ção dos conceitos da estética ortodôntica com os novos materiais restauradores estéticos disponíveis na actuali-dade fornece ao paciente um excelente resultado final.8 Porém, não basta somente almejar o belo, é preciso que os procedimentos realizados sejam funcionais e dura-douros ao longo do tempo. Com este intuito, é essencial que o clínico acompanhe e controle os casos para manter os resultados sempre satisfatórios.

O presente artigo propõe-se descrever um caso clí-nico de uma paciente portadora de uma má-oclusão de Classe I de Angle, com mordida profunda, tratada por meio de aparatologia fixa, que após tratamento orto-dôntico se submeteu à intervenção restauradora para potencializar ao máximo a harmonia estética dos dentes

anteriores, logo após o tratamento e após 36 meses de acompanhamento.

Revisão de literaturaEntre os problemas que podem contribuir para prejudi-car a harmonia e o equilíbrio da oclusão dentária nor-mal estão as ausências dentárias, presenças de diastemas entre os incisivos superiores, giroversões, apinhamentos, alterações de morfologia dentária, sobremordida e a so-bressaliência.9 Define-se como diastema o espaço entre os dentes ou ausência de contacto entre dois ou mais dentes consecutivos. Os diastemas patológicos, que têm relação etiológica definida, são os causados pelo freio la-bial, agenesia e microdontia do incisivo lateral superior, discrepância entre as bases ósseas e o tamanho normal dos dentes, fusão imperfeita na linha mediana, entre ou-tros.10

A discrepância do tamanho dentário, conhecido como discrepância de Bolton, pode ser observada no excesso ou na redução da largura dos dentes, e ocorre num número considerável de pacientes que procuram o tratamento ortodôntico.5 Face a isto, o ortodontista pode ter algumas dúvidas no momento de propor o tra-tamento restaurador, seja pelo momento exacto, como também pela forma de intervenção restauradora. Apesar de haver diferentes abordagens clínicas para a resolução do problema, a primeira e mais simples técnica é repre-sentada pelo recontorno cosmético, constituindo-se ape-nas pelo condicionamento ácido dentário e pela inserção

de resinas compostas em locais adequados, não exigindo nenhum tipo de desgaste.

Fechamento de diastemas Existem diversas opções para o fechamento de diastemas entre os dentes anteriores, das quais se podem citar o tra-tamento ortodôntico, as restaurações com resinas com-postas, as facetas laminadas e as coroas totais cerâmicas sendo que, em muitos casos, a inter-relação de diversas especialidades se faz necessária para a obtenção de resul-tados estético-funcionais mais satisfatórios. O fechamento dos espaços com resinas compostas pode ser realizado durante ou após a finalização ortodôntica, desde que haja uma comunicação por parte dos profis-sionais para o estabelecimento do plano de tratamento mais adequado.

Face a esta situação, é natural o questionamento por parte do ortodontista sobre a região na qual se devem posicionar os espaços anteriores remanescentes no final do tratamento. Em presença de grandes espaços, é pre-ferível que estes sejam distribuídos por entre todos os dentes anteriores ou com espaços um pouco maiores em regiões mesiais dos incisivos laterais. Uma divisão homogénea dos espaços favorece o resultado estético final de forma mais agradável e harmoniosa, ao invés da concentração de todo o espaço em apenas uma ou duas regiões. Na situação de pequenos espaços, a área de preferência será sempre a mesial dos incisivos laterais e a distal dos centrais.

Figura 9: Inserção de um fio afastador muito fino (Ultrapak

000 – Ultradent, USA) no interior do sulco gengival para

contenção do fluido crevicular

Figura 10: Aplicação do sistema adesivo simplificado

de frasco único, de acordo com as recomendações do

fabricante

Figura 11: Fotopolimerização do sistema adesivo durante 20

segundos

Figura 12: Inserção de uma resina composta nanohíbrida

(Sinergy - Coltène) cor Enamel White Opalescente (WO) na

região incisal para simular o halo incisal opaco encontrado

em dentes claros de pacientes jovens

Figura 13: Inserção de uma resina composta nanohíbrida

(Sinergy - Coltène), cor Universal Enamel (UE), posicionada na

região cervical para confecção da anatomia vestibular

Figura 14: Resina composta nanohíbrida (Sinergy - Coltène),

cor WO, pincelada na região do terço médio e incisal do

dente para a finalização da anatomia vestibular e proximal

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Figura 17: Remoção do fio afastador

do interior do sulco gengival, após o término

da restauração

Figura 18: Remoção dos excessos de resina da

região sub-gengival com uma lâmina de bisturi

n. 12

Figuras 19 e 20: Acabamentos iniciais do contorno da restauração para obtenção do formato

que será a referência para a restauração do dente homólogo

Figuras 15 e 16: Aplicação de um gel hidrossolúvel após a fotopolimerização da última camada

de resina da restauração e sobre-polimerização mais 60 segundos

Figura 21: Aspecto final da restauração do

dente homólogo com a mesma estratificação

de resinas realizada no dente 11

Figura 22: Aplicação da resina de dentina, cor

White Bleach (WB) dentin, na região inciso-

distal do dente 12, para diminuição do espaço

interdentário

Figuras 23 e 24: Aplicação das resinas UE no terço cervical e WO no terço médio e incisal para

finalizar a restauração do incisivo lateral superior direito

Figuras 25 e 26: Incisivo lateral superior esquerdo restaurado com resina de cor White Bleach (WB)

dentin na região inciso-distal e inciso-mesial; UE no terço cervical, WO no terço médio e incisal

Algumas técnicas que visam a ilusão de alturas e lar-guras aparentes podem ser utilizadas para os casos clíni-cos de espaçamento. Termos como reflexão (feixe de luz que retorna directamente ao observador) e deflexão (fei-xes de luz dispersas, que não retornam ao observador) são utilizados por Rufenacht11 para a explicação destes fenómenos de ilusão de óptica, utilizados para que os dentes aparentem dimensões semelhantes. Por exem-plo, pode ter-se a sensação de um dente mais estreito com o escurecimento proximal, deslocando as arestas proximais medialmente, realçando as linhas verticais, aumentando as ameias vestibulares. Um dente pode aparentar uma largura maior que a real aplainando-se a superfície vestibular, deslocando as arestas para pro-ximal, realçando as linhas horizontais e diminuindo as ameias vestibulares.11

Podem também ser feitas algumas considerações em relação ao posicionamento e alinhamento dos dentes anteriores. Dentre os aspectos de alinhamento que influenciam a percepção do sorriso, talvez o longo eixo axial seja o principal. Os incisivos centrais devem, pre-ferencialmente, estar com o ápice levemente inclinado para distal ou rectos, os laterais podem posicionar-se um

pouco mais inclinados, principalmente nas mulheres, e os caninos levemente inclinados também para distal. Se o alinhamento não for possível no final do tratamento ortodôntico, o recontorno cosmético pode oferecer uma solução bastante satisfatória por acréscimo de resinas compostas em áreas específicas, mas somente executado após o fim das movimentações e estabilização do caso clínico.

Descrição do casoPaciente FBF, sexo feminino, 22 anos, compareceu na Clínica de Dentística da Universidade Estadual de Ponta Grossa, insatisfeita com a harmonia do seu sorriso. Após um minucioso exame clínico, observou-se a presença de uma má-oclusão Classe I de Angle, com mordida profun-da, além de discrepância dentária.

A paciente foi encaminhada à Ortodontia para elabo-ração de um plano de tratamento adequado. Ao exame clínico do ponto de vista ortodôntico, observou-se que a paciente apresentava relação molar classificada como classe I de Angle, com o canino direito numa posição de Classe II ¼. O tratamento proposto pela Ortodontia baseou-se no alinhamento e nivelamento dos arcos, com

uso de elásticos intra-orais na finalização do caso.No final do tratamento ortodôntico, observou-se a

presença de diastemas no arco superior, que são espa-ços fisiológicos gerados devido ao comprimento dos arcos dentários (Figs. 1-3). Desta maneira, a paciente regressou à clínica para a realização do planeamento dos procedimentos restauradores a serem executados para fechamento dos diastemas e proporcionar a resolução da queixa principal da paciente, via integração das especia-lidades médico-dentárias.

O planeamento das restaurações pode ser auxiliado por fotografias intra-orais (Figs. 1-3), que permitem a montagem de um plano de tratamento sem a presença física do paciente no consultório.

Para realizar esta análise criteriosa das possíveis alte-rações a serem realizadas, alguns princípios estéticos devem ser observados. Esses princípios englobam a linha do sorriso (alta, média ou baixa), além do grau de exposição dos incisivos superiores e a relação de para-lelismo existente entre as linhas imaginárias que passam sobre os bordos dos dentes antero-superiores, o lábio inferior e os pontos de contacto interdentário.12

Outros princípios estéticos, como os eixos dentários,

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devem ser observados no planeamento das restaurações, pois numa relação harmoniosa no arco dentário, o longo eixo dos dentes anteriores possui inclinação para distal, o que não ocorre nos incisivos laterais superio-res no caso apresentado (Figs. 1 e 3).

Pode observar-se na figura 2 que o bordo incisal do dente 11 se apresenta irregular e que o seu posicionamento no arco se encon-tra mais para palatino; assim, um acréscimo de resina composta em regiões específicas podem solucionar estes problemas.

Para o início do tratamento, previamente aos procedimentos restauradores, foi rea-lizado um clareamento dentário de forma associada, e após 14 dias do término do clareamento, a escolha das resinas compos-tas foi realizada com a escala do sistema utilizado. Neste sistema das resinas Sinergy (Coltène/Whaledent, Suíça), a escala de cor é composta por cores para a dentina (Figura 4), para o esmalte (Fig. 5) e, logo após, as mesmas devem ser sobrepostas para simular a cor final da restauração (Fig. 6).

Para realizar as restaurações, optou-se por um isolamento do campo operatório do tipo modificado, em que se pode conseguir um bom controlo da humidade, manutenção do campo operatório seco, sem perder as referências das margens gengivais, que são extremamente importantes para os proce-dimentos restauradores estéticos em dentes anteriores (Fig. 7). O condicionamento da estrutura dentária com ácido fosfórico foi realizado durante 30 segundos na estrutura do esmalte, com protecção dos dentes adja-centes realizada com uma fita de teflon (Fig. 8). Um fio afastador muito fino Ultrapack 000 (Ultradent, EUA) foi inserido no interior do sulco gengival para manter o controlo do fluido crevicular durante a confecção da restauração (Fig. 9) e, sequencialmente, o sistema adesivo One Coat Bond (Coltène/Whaledent) foi aplicado de acordo com as recomendações do fabricante (Fig. 10) e fotopolimerizado por um período de 20 segundos (Fig. 11).

O procedimento restaurador iniciou-se pelo bordo incisal do dente 11, para facili-tar a visualização do contorno externo do dente, regularizar o comprimento e simular os efeitos ópticos presentes nos dentes natu-rais (Fig. 12). Na região cervical, foi inserido um incremento de resina para aumentar o volume da face vestibular (Fig. 13) e no terço médio e incisal, uma resina de saturação mais clara foi adicionada para a finalização da escultura dentária (Fig. 14).

Sabendo que a presença de oxigénio inibe

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a polimerização das últimas camadas de resina, um gel hidrossolúvel deve ser aplicado no final da restauração (Fig. 15) e uma sobre-polimerização deve ser realizada durante 60s para possibilitar uma polimerização mais efectiva (Fig. 16).

Logo após este procedimento, o fio afastador deve ser removido do interior do sulco gengival (Fig. 17) para iniciar a remoção dos possíveis excessos de resina pre-sentes nesta região (Fig. 18). Os acabamentos iniciais do comprimento, volume e contorno da restauração devem ser realizados na sequência, pois um formato mais pró-ximo da anatomia final deve servir de referência para a confecção da restauração do dente homólogo (Fig. 21).

Para a realização da restauração do dente 12, incisivo lateral superior direito, foi inserido um incremento de resina opaca na região inciso-distal para iniciar o fecha-mento dos espaços interdentários e diminuir a passagem de luz nesta região (Fig. 22). Na superfície incisal, ves-tibular e proximal, a mesma estratificação dos incisivos centrais foi utilizada para finalizar a restauração do dente 12 (Figs. 23 e 24) e 22 (Figs. 25 e 26).

Para os procedimentos de acabamento, inicialmente foram delimitadas com grafite as cristas marginais, para verificação das áreas de espelho dos dentes restaurados (Fig. 27). Deve existir uma relação de simetria entre os dentes do lado direito e os dentes do lado esquerdo do arco. Se isto não estiver presente, pode ser realizado um acabamento de contorno com o auxílio do disco abrasivo Sof Lex Pop-On vermelho (3M ESPE, EUA) (Fig. 28).

A texturização da superfície horizontal foi realizada com uma ponta diamantada esférica 1014 (KG Sorensen, Brasil) (Fig. 29) e para a texturização vertical usou-se

uma ponta diamantada de granulação fina 3195F (KG Sorensen) (Fig. 30).

Por fim, foi realizado um acabamento de superfície com o auxílio de uma borracha siliconizada de granulação grossa (Astropol Cinza, Ivoclar Vivadent, Liechteinsten) para eliminação das irregularidades excessivas geradas pela texturização (Fig. 31).

O polimento das restaurações foi realizado, inicial-mente, com o uso de uma borracha siliconizada de média granulação (Astropol Verde, Ivoclar Vivadent) (Fig. 32), seguido pela utilização de uma escova de pêlo de cabra para contra-ângulo (Ultradent) (Fig. 33) e finalizado com um disco de feltro Flexibuff (Cosmedent, EUA), utilizado com uma pasta de óxido de alumínio (Enamelize, Cosmedent) (Fig. 34).

O resultado final obtido imediatamente após o fim do tratamento restaurador pode ser observado na figura 35. Após uma semana, nas figuras 36, 37 e 38 pode obser-var--se o resultado funcional-estético extremamente satisfatório, com maior naturalidade do sorriso, obtido após a integração da Ortodontia aos procedimentos da Medicina Dentária Restauradora.

O resultado após 36 meses de acompanhamento pode ser observado nas figuras 39 a 43.

DiscussãoNo presente caso, visualiza-se a importância do trata-mento integrado entre Ortodontia e Medicina Dentária Estética. A Ortodontia, além do equilíbrio funcional e facial, possui a fiel observância de alguns princípios ma-cro-estéticos tais como: linha do sorriso, linha gengival, linha média, inclinação do plano oclusal, curva do sor-

riso, entre outros.14-15 Contudo, se as discrepâncias do tamanho dos dentes não forem observadas inicialmente, no final do tratamento ortodôntico, elas “aparecem” por meio de diastemas entre os incisivos centrais e laterais e caninos (Figs. 3-5). Essa ocorrência é explicada pela diferença do tamanho dentário, que não corresponde à proporção áurea.3,16 Isso dá origem a satisfação parcial em relação aos resultados obtidos após o tratamento or-todôntico.5

Se o tratamento for feito de forma integrada entre o ortodontista e o especialista em estética, esses espaços serão dispostos no arco, de forma a potencializar a intervenção restauradora dentro de padrões estéticos de excelência, principalmente, lembrando-se que os dentes pequenos influenciam o perfil facial.15 A maior vantagem do fechamento dos espaços residuais após o tratamento ortodôntico corresponde à compatibilidade permanente e biológica do resultado final.17 Desta maneira, é funda-mental a inclusão, no início do tratamento ortodôntico, de uma análise do tamanho dentário, como forma de obter um diagnóstico mais completo, e assim propor-cionar um planeamento mais adequado, interdisciplinar, e aumentar o índice de sucesso tanto por parte dos pacientes como por parte dos profissionais.3,5

Observa-se nas figuras 1, 2 e 3 que existe despropor-ção entre os dentes, devido especialmente ao tamanho diminuído dos incisivos laterais superiores. A forma mais corriqueiramente conhecida e utilizada para o tra-tamento de casos como este é a regra da proporção áurea, cujo objetivo é facilitar o planeamento.18 Contudo, deve sempre ter-se em consideração a proporção entre altura e largura, particularmente entre os incisivos centrais

Figura 27: Delimitação das cristas marginais e

áreas de espelho dos dentes restaurados

Figuras 29 e 30: Texturização horizontal realizada com uma ponta diamantada esférica e texturi-

zação vertical realizada com ponta diamantada de granulação fina 3195F (KG Sorensen, Brasil)

Figura 28: Acabamento do contorno com

disco abrasivo Sof Lex Pop-On Vermelho (3M

ESPE, EUA) para obtenção de simetria entre

os dentes homólogos

Figura 31: Acabamento da superfície realizado

com uma borracha siliconizada de granulação

grossa (Astropol Cinza, Ivoclar Vivadent, Liech-

tenstein)

Figura 32: Polimento da superfície realizado

com uma borracha siliconizada de média

granulação (Astropol Verde, Ivoclar Vivadent)

Figura 33: Polimento da restauração com uma

escova impregnada com carbeto de silício

(Jiffy Brush, Ultradent)

Figura 34: Polimento final da restauração com

disco de feltro (Flexibuff, Cosmedent, EUA) e

pasta de óxido de alumínio (Enamelize, Cosme-

dent, EUA)

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superiores, que são os dentes dominantes no sorriso. A proporção entre altura e largura dos incisivos centrais superiores está entre 75 e 80 por cento, considerados esteticamente adequados.19-20

Previamente ao procedimento restaurador, deve observar-se a coloração dos dentes, pois ela desempe-nha um papel importante na actual tendência estética, uma vez que influencia a atractividade.21 O clareamento proporciona uma cor mais homogénea, diminui dis-crepâncias entre os diferentes terços do dente, além de tornar mais fácil a escolha de cor dos procedimentos restauradores. Neste contexto, o clareamento associado (consultório e caseiro) proporciona resultados em menor tempo, pois acelera o processo e, quando utilizado de forma racional, tende a minimizar os efeitos adversos. Infelizmente, apesar do apelo das empresas para o uso de aparelhos que aceleram o agente clareador, não há indícios de que isso ocorra.22-23

A facilidade de restaurar dentes clareados deve-se ao facto de que várias resinas compostas disponíveis no mercado brasileiro têm cores especialmente designadas para dentes clareados, tais como: Sinergy (Coltenè/Whaledent); 4 Seasons (Ivoclar Vivadent); Vit-l-escense (Ultradent); e Opallis (FGM). Nestas resinas compostas não há indício de que o fotoiniciador tenha sido modifi-cado, como ocorre em alguns outros produtos resinosos disponíveis comercialmente,24 mas apenas a diminuição no conteúdo da quantidade de canforoquinona (CQ) e de co-iniciadores.25

Em casos em que se objetiva modificar a estética do sorriso, o uso do isolamento absoluto de forma clássica pode prejudicar a inserção e o acabamento do material restaurador, particularmente, nas áreas das ameias gen-givais. A modificação vista na figura 7 garante a ausência de contacto com saliva e com a humidade relativa da res-piração do paciente e, associada ao fio retractor, garante a diminuição da contaminação do fluido gengival. Mesmo assim, se houver qualquer contaminação incipiente, os

adesivos hidrófilos da técnica convencional diminuem a possibilidade de tal prejudicar o procedimento restaura-dor.26 Associado à modificação realizada no isolamento, o uso da matriz tracionada27-28 facilita a obtenção de um correcto ponto de contacto, pois reduz a quantidade de excessos a ser removidos durante o acabamento e polimento. É sempre necessário mencionar que, para a execução desta técnica no lado proximal de um dente, por exemplo, distal do dente 12, é fundamental que a face mesial do dente 13 esteja o mais lisa possível, para que diminua a possibilidade de os dentes ficarem unidos durante o procedimento restaurador.

Os procedimentos de acabamento e polimento demonstram uma importância fundamental no caso descrito, pois, além de proporcionar uma superfície lisa e brilhante na restauração, diminuem as possibilidades de acumulação de placa e irritação dos tecidos gengivais, bem como permitem obter melhor definição da forma dos elementos dentários que foram submetidos ao pro-cedimento restaurador.29 O acabamento e polimento foram essenciais para reproduzir os princípios estéticos discutidos anteriormente. Julgou-se necessário realizar tais procedimentos sete dias após a finalização das res-taurações, pois neste período obtém-se uma superfície mais regular30-32 e menos ocorrências de infiltração marginal nas resinas compostas.2

Devido à alta frequência da realização de proce-dimentos restauradores estéticos utilizando a técnica directa, como no caso relatado, observa--se a obtenção de bons resultados inicialmente, sendo por isso conve-niente avaliar a durabilidade destas restaurações a médio e longo prazo.33 Desta forma, é de suma importância controlar e acompanhar cuidadosamente os materiais utilizados nas restaurações anteriores pelos clínicos, a fim de se evitar possíveis falhas que possam comprome-ter o trabalho realizado. 34-35

O sucesso obtido no fim de qualquer procedimento restaurador é a associação do conhecimento técnico do

clínico com o conhecimento dos materiais utilizados e as suas limitações, que resulta em trabalhos satisfatórios e duradouros, como é observado no caso demonstrado após 36 meses, que se apresenta esteticamente satis-fatório,33 necessitando somente de um repolimento como manutenção para restabelecer novamente o brilho superficial das restaurações.

Em relação às margens, não foram observadas pig-mentações nem micro-infiltrações durante este período, visto que todas as margens, excepto a margem cervico-interproximal, são de fácil acesso na escovagem diária, removendo a placa e reduzindo o risco de cárie. A cervi-cal é a região mais susceptível à pigmentação e infiltra-ção, pois em certos casos a margem da restauração pode terminar sobre dentina na junção cemento/esmalte, afectando a performance a médio e longo prazo, pois o clínico desatento, por estar a trabalhar sobre esmalte, pode seleccionar um sistema adesivo que não possua primer, não condicionando adequadamente o substrato para receber a restauração.35

Considerações finaisPercebe-se que a integração entre as diversas especiali-dades da Medicina Dentária permite um resultado esté-tico bastante favorável, como no caso descrito. Com um diagnóstico correcto e a elaboração de um plano de tra-tamento adequado entre a Ortodontia e a Medicina Den-tária Estética, pode chegar-se ao objectivo final, ou seja, à estética e à relação funcional, bem como à satisfação do paciente com o resultado obtido. Portanto, o envolvi-mento destas duas áreas, aliado aos materiais disponíveis no mercado médico-dentário torna possível obter um excelente resultado estético e funcional. n

ReferênciasPedido de referências para [email protected]

Figura 35: Resultado final obtido imediata-

mente após o final do tratamento restauradorFiguras 36, 37 e 38: Resultado final do tratamento. Pode observar-se nestas figuras frontais e laterais a maior naturalidade do sorriso da

paciente obtida após a integração da Ortodontia e da Medicina Dentária Restauradora

Figuras 39 a 43: Resultado após 36 meses de acompanhamento. Pode observar-se que o tratamento se manteve estável e natural durante todo este período