pais presentes, pais ausentes, regras e limites

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Livro de Paula Inez Cunha Gomide

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  • Dados Internacionais dc Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Gomide, Paula Inez Cunha.Pais presentes, pais ausentes : regras e lim ites/

    Paula Incz Cunha Gomide. - Petrpolis, RJ : Vozes, 2004.ISBN 85.326.2947-41. Educao de crianas 2. Famlia - Aspectos morais

    e ticos 3. Pais e filhos I. Ttulo.

    03-6077 CDD-649.1--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ------------ ------------------------------------------------------------------ *

    ndices para catlogo sistemtico:1. Educao de crianas : Vida familiar 649.1

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    Este manual foi disponibilizado em sua verso digital a fim de proporcionar acesso pessoas com deficincia visual, possibilitando a leitura por meio de aplicativos TTS (Text to Speech), que convertem texto em voz humana. Para dispositivos mveis recomendamos Voxdox (www.voxdox.net). LEI N 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.(Legislao de Direitos Autorais)Art. 46. No constitui ofensa aos direitos autorais:I a reproduo:d) de obras literrias, artsticas ou cientficas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sempre que a reproduo, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatrios;http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1998/lei-9610-19-fevereiro-1998-365399-normaatualizada-pl.html

  • ^ 'aula/ c(im A u ' cjG fnidey

    ^ a l s / p a e & e n t e s / , p a i s / a u s e n t e a

    e/ Lmites/

    3a Edio

    A EDITORA VOZES

    Petrpolis2004

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  • 2004, Editora Vozes Ltda. Rua Frei Lus, 100

    25689-900 Petrpolis, RJ Internet: http://www.vozes.com.br

    Brasil

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poder ser reproduzida ou transmitida por

    qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de

    dados sem permisso escrita da Editora.

    Editorao e org. literria: Ana Kronemberger Ilustraes: Ademir V. da Paixo

    ISBN 85.326.2947-4

    Este livro foi com posto e im presso pela E d ito ra Vozes Ltda.

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  • f gm A ecim eii tas-

    Aas' meus' pJva& crVinciS' & 3 (m w par- taitumenia' m atcm idtido/ w m elAai' d& indas* as m in im a expvuticts.

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  • S u m /u o /

    Introduo, 91. A importncia das regras, 132. O hum or instvel, 263. A punio fsica, 334. A supervriso estrcssante, 415. A monitoria positiva, 506. A negligncia, 677. O modelo moral, 76 Concluso, 85

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  • I n t r o d u o

    A famlia ainda o lugar privilegiado para a promoo da educao infantil. Embora a cscola, os clubes, os companheiros e a televiso exeram grande influencia na formao da criana, os valores morais e os padres d e conduta so adquiridos essencialmente atravs do convvio familiar. Quando a famlia deixa d e transmitir estes valores adequadamente, os demais veculos formativos ocupam seu papel. Nestes casos, a funo educativa, que deveria ser apenas secundria, muitas vezes passa a ser a principal na formao dos valores da criana.

    Este livro se prope a auxiliar pais e educadores na difcil tarefa de educar crianas. At meados do s- culo passado, as regras estabelecidas por nossos antepassados para a cducao de filhos eram inquestionveis. Os pais puniam e castigavam como um direito legtimo de educador. Era dever dos educadores corrigir, mesmo que com rigor fsico, as rebeldias infantis. Aqueles que no corrigissem seus rebentos seriam

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  • questionados pela sociedade e at culpabilizados pelas desordens por eles cometidas.

    A revoluo de costumes dos anos 50 trouxe consigo uma srie de questionamentos quanto maneira de educar crianas. A severidade habitual de costumes foi confrontada inicialmente atravs da liberdade sexual e em seguida pela flexibilizao das regras na educao das crianas. Os novos pais, ps-revolu- o sexual, tambm se rebelaram quanto s regras rgidas de educao de filhos. Passaram a conceder mais, repudiaram a punio fsica, quiseram se tornar mais amigos dos filhos. Comearam a utilizar o dilogo como fonte de educao.

    Porm, essa nova maneira de educar trouxe conseqncias inesperadas. Os filhos ficaram desobedientes, no respeitando seus pais e professores, muitas vezes deixando de estudar, no querendo assumir compromissos profissionais, tornando-se rebeldes c, por via de conseqncia, alvo fcil de grupos desviantes.

    Qual seria o problema com essa forma de educar? As regras punitivas e rgidas utilizadas pelas geraes passadas eram mais aversivas que as atuais? Conversar a melhor maneira de se resolver situaes de conflito? Ser amigo do filho melhor do que ser um pai autoritrio e distante?

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  • verdade que os mtodos utilizados pela gerao passada para educar eram mais rigorosos. igualmente verdade que o dilogo a melhor maneira de se resolver conflitos e tambm prefervel um pai amigo do que um pai distante e autoritrio. N o entanto, os pais modernos, para conquistar este novo tipo de relacionamento, abriram mo, muitas vezes, do seu papel de educadores. Deixaram de estabelecer regras, esqueceram que os pais so o modelo moral para seus filhos, passaram a usar a conversa de forma punitiva (horas de sermo e de ameaas) e no como uma forma de reflexo. Romperam com a punio e se tornaram permissivos.

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  • Neste livro discutiremos os principais pontos que devem ser enfrentados pelos pais, se quiserem levar a cabo uma educao promissora. Quais os principais erros e como eles podem ser corrigidos. Como estabelecer um relacionamento amoroso com o filho sem perder a autoridade. E, por fim, como inibir o desenvolvimento de comportamentos anti-sociais a partir da maneira de educar.

    Esperamos que ao final da leitura deste livro voc esteja se sentindo mais seguro a respeito das decises que tiver de tomar. O contato com alternativas adequadas para educar, sem punio fsica, pode deix-lo mais confiante na escolha da sua maneira de lidar com o relacionamento infantil e educar.

    Pais presentes, pais ausentes e um livro que pretende apenas contribuir com algumas ideias para a educao de crianas e adolescentes, sem ser uma proposta literria. Se pudermos colher bons frutos por esta semente plantada, estaremos plenamente satisfeitas como psicloga e pesquisadora que somos.

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  • A i m p o r t n c i a d a s r e g r a s

    O s pais e educadores esto sempre se questionando sobre as regras. Devemos fazer regras em nossa casa, nas salas de nula ou em outros ambientes? Quais regras precisam ser estabelecidas? Como elas devem e! feilns? Quais os castigos que podem ser usados? E os qiu- no devem ser aplicados? O que acontece se no fizermos regras? O que acontece quando no cumprimos as regras por ns estabelecidas? Adianta ameaar? Podemos premiar o bom comportamento? Enfim, so muitas as questes que nos preocupam como educadores.

    Em primeiro lugar, devemos considerar a importncia de estabelecer regras em nossa relao com nossos filhos ou alunos. Sim, devemos estabelecer regras. Elas devem ser criadas para permitir um relacionamento adequado entre os membros da famlia, respeitoso em relao aos valores e hbitos daqueles que convivem cm um determinado lugar. Deve-se,

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  • em linhas gerais, buscar o estabelecimento de poucas regras, que sejam flexveis e realmente possam ser cumpridas.

    Os pais no devem estabelecer regras excessivas, rgidas e difceis de serem cumpridas. Quando os pais ou professores criam muitas regras, os filhos ou alunos, por saturao, deixam de prestar ateno a grande parte delas, ignorando-as e burlando-as. Quando as regras so difceis de serem cumpridas, porque so muito rgidas, a chance de que sejam desrespeitadas aumenta, e a possibilidade de os pais ou professores permitirem seu descumprimento grande. Raramente uma criana atinge os critrios rgidos estabelecidos pelos pais ou professores nas primeiras tentativas. Portanto, a chance de fracasso e muito grande, gerando desapontamento para ambas as partes. E mais vantajoso para todos que se inicie gradualmente a implantao de uma regra nova.

    Vejamos. Se uma me deseja que o filho junte os brinquedos da sala, ela poder iniciar o treinamento da seguinte forma: no princpio ela ir ajud-lo mostrando como fazer, elogiando o seu desempenho e in- centivando-o a colocar os brinquedos 110 lugar certo. Estes primeiros passos devem ser dados muito cedo, quando a criana ainda pequena, entre dois ou tres anos. A me deve pegar na mozinha da criana e co-

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  • loc-la sobre o brinquedo apreendendo-o. Nest momento a me deve dizer, sorrindo, que est contente, que ele (a) est indo muito bem. Gradualmente, a me deve deixar de ajudar a guardar os brinquedos, apenas orientando e elogiando o filho ao final da tarefa, at que o comportamento esteja bem estabelecido. Desta forma a criana aprende a regra, passo a passo, e se sente capaz de executar o pedido da me.

    Por outro lado, se a me diz arrume seu quarto, junte os brinquedos, faa a tarefa, penteie os cabelos, corte as unhas etc., para uma criana que no executa nenhuma destas atividades, a chance de fracasso enorme. Diante de muitas tarefas para as quais no foi preparado convenientemente o filho procura se esquivar de todas ou tenta manipular a me emocionalmente. Esta manipulao tem o objetivo de provocar pena no educador, facilitando o desrespeito regra estabelecida. Em geral, para se livrar da chorominga- o os pais descumprem as regras, esquecem que deram uma ordem e deixam a criana em paz.

    Tomemos o exemplo contrrio s cenas os quadrinhos. A me estabelece uma regra - chegar s 10 horas mas o filho resiste em cumpri-la. Ela, ento, estabelece um castigo: no ver tev por uma semana. O filho por sua vez no cumpre o castigo e continua assistindo tev. A me tenta faz-lo cumprir

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  • o castigo, mandando desligar a tev, porm, na segunda tentativa, desiste. Inicialmente, e preciso avaliar se a regra estava adequada. Se for um dia de semana, parece adequado que os pais determinem que o filho esteja em casa s 10 horas, porm, se essa situao ocorrer aos sbados e o filho for adolescente, esse horrio se mostrar irreal. Logo, esta e uma regra rgida e que dificilmente ser cumprida. Nos finais de semana os pais devem ser mais flexveis e, caso fiquem preocupados, o que natural, podem organizar formas para ir buscar os filhos nas festas (fazer rodzio entre pais, por exemplo).

    O segundo ponto a ser analisado no exemplo acima diz respeito ao castigo estabelecido. Quando a me fixou o castigo, no pensou se teria condies de fazer cumprir o que determinara, ou seja, ela conseguiria manter a tev desligada? Ela teria persistncia para desligar o aparelho tantas vezes quantas ele o ligasse? Ela estaria em casa para controlar o cumprimento do castigo? Ela ficaria com pena da criana e resolveria encerrar o castigo? Caso os pais no tenham meios de controlar o cumprimento do castigo, ele no deve ser estabelecido. Deve-se escolher um castigo possvel de ser cumprido e, principalmente, que os pais consigam controlar. Se os pais estabelecem uma punio muito severa (no viajar nas frias de fi-

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  • nal de ano, ficar sem ir a a playground por um ms, nunca mais falar com o namoradinho etc.), este castigo acaba se tornando uma ameaa, que dificilmente ser executada, A ameaa se d quando sinalizamos um castigo que tanto os pais como os filhos sabem que no ser cumprido. A ameaa no controla o comportamento, ou seja, ela no capaz de mudar ou de enfraqueccro comportamento indesejado. Ela Apenas torna a relao entre pais e filhos aversiva, de- a gradvel, irritante e desgastante.

    | Quando os pais descumprem, sucessivamente, as regras por eles estabelecidas, ensinam aos filhos trs atitudes indesejveis: () que as regras no so para serem cumpridas; (2) que a autoridade (pais ou professores) pode ser desrespeitada; alem de (3) ensinar a manipulao emocional. Esta aprendizagem ter srias conseqncias para as atitudes futuras da criana ou do adolescente. Aprender que as regras podem ser descumpridas leva os jovens a no aceitarem normas sociais. Placas, avisos ou informaes presentes em rodovias, escolas ou instituies podem ser desconsiderados, pois no tm significado algum. As autoridades que formulam as regras - pais, professores, dirigentes etc, - no merecem respeito visto que no foram capazes de fazer valer o cumprimento das regras. Por fim, eles aprendem a manipular emo-

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  • cionalmente os educadores: fazem chantagem, choram, mostram caras arrependidas ou, ainda pior, ficam agressivos e, com esta atitude, conseguem interromper o castigo, gerando culpa nos educadores.

    Ainda se, sistematicamente, os pais relaxam no cumprimento das regras ao mesmo tempo em que ensinam aos filhos o desrespeito s regras e autoridade, desenvolvem nas crianas e adolescentes insegurana sobre o que certo ou errado, sobre valores morais ou ticos, sobre respeito aos direitos hum anos e s pessoas, Estas crianas no aprendem, com seus pais, a respeitar as instituies e as pessoas, por isso, so malcriadas com as professoras, instrutoras ou colegas. Elas no aprendem que as regras devem ser estabelecidas com justia e, logo, no sabem avaliar se uma determinada regra est adequada a uma dada situao devendo, portanto, ser cumprida.

    Esse tipo de prtica tem efeitos desastrosos. Infelizmente, so encontrados muitos jovens com comportamento anti-social, cujos pais criam regras para dcscumpri-las sistematicamente e que usam a ameaa como prtica educativa. Os pais e professores ameaam, mesmo que estejam conscientes de que a ameaa no funciona. Talvez acreditem que falando, ameaando, estejam cumprindo, ao menos cm parte, seu papel de educadores e se sintam menos culpados.

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  • Mas importante que observem como a ameaa ineficaz. Os filhos e alunos no obedecem por causa da ameaa; eles s vo obedecer se souberem que a ameaa ser seguida pelo castigo prometido. S assim eles iro relacionar o comportamento inadequado com o castigo, e ento, para se livrar da punio, mudam o comportamento indesejvel.

    O castigo nunca deve produzir privao de necessidades bsicas (alimento, sono, carinho) ou produzir dor. recomendvel, por exemplo, que este determine a retirada de algum tipo de lazer por um perodo curto de tempo, como ficar sem ver tev ou jogar vi- deogame por um ou dois dias, ficar sem comer doces etc. Privar a criana de carinho um grave erro. A criana deve ter segurana do amor paterno ou materno sempre, mesmo quando est sendo castigada. Os pais devem estabelecer o castigo (retirada de um privilegio) sem demonstrar raiva ou dio. O comportamento indesejado deve ser punido e no a criana. Quando mostramos dio, estamos informando criana que a reprovamos como ser - a totalidade de sua essncia - e no ao seu comportamento. Este fato extremamente importante, pois perturba a criana de modo que ela no sabe o que fazer para atender ao que os pais desejam dela. se ela errada, como mudar? A criana precisa saber exatamente o que deve mudar, o

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  • que os pais esperam dela. Dar informaes dbias, confusas, gera atitudes instveis nas crianas. Se ao aplicarmos um castigo usamos frases como voc vai ficar no quarto porque no quero ver sua cara, odeio voc, voc s faz coisas erradas, preferia que no tivesse nascido, os pais no esto tentando corrigir o comportamento indesejado e sim esto despejando seu dio sobre o filho. O filho recebe o dio e no sabe o que fazer para atender s expectativas dos pais. Todo ie est errado. Como mudar?

    ( )utra questo importante sobre o tempo entre a ocorrncia do comportamento indesejado e a apli- ( ao do castigo. O castigo no deve ser aplicado aps ter passado muito tempo; importante que seja apli- < ado em seguida ao comportamento indesejvel ter ocorrido. No funciona dizer que a criana no vai ganhar a bicicleta no Natal, quando ela tirou uma nota baixa em abril. Mesmo porque, provavelmente, no Natal, tambm os pais j se esqueceram do castigo ou np desejam estragar a festa de todos fazendo cumprir uma determinao to inadequada.

    Quando uma situao como essa ocorre - filhos com notas baixas os pais devem tomar as providncias desde o incio do ano. Estabelecer horrios de estudo, contratar professores particulares, acompanhar pessoalmente as tarefas escolares etc. Criar

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  • um ambiente favorvel para que todos da famlia faam suas tarefas uma excelente alternativa. O pai pode sentar-se perto do filho para ler seu jornal ou fazer sua contabilidade, a me para ler sua revista, fazer tric ou corrigir provas da escola e as crianas para fazerem suas tarefas, Este momento, de uma ou duas horas aps o jantar, por exemplo, cria hbitos de estudos duradouros nas crianas e desenvolve habilidades de estudo eficientes. As crianas aprendem que estudar uma tarefa de todos e agradvel.

    Em algumas ocasies, os pais tentam corrigir ocomportamento dos filhos impondo-lhes um castigoou obrigando-os a cumprir uma tarefa estabelecida esc surpreendem quando estes respondem de manei-

    /ra agressiva. E possvel que certas mes recuem diante da agressividade do filho, preferindo no enfrentar aquela situao desagradvel, por medo ou por no saberem que atitude tomar. Este recuo fortalece o comportamento agressivo do filho e leva-o a pensar que agir agressivamente poder ser uma forma de obter o que deseja. Os pais e professores devem evitar mostrar medo ou insegurana diante do comportamento agressivo de uma criana ou adolescente porque esta a principal forma de aprendizagem de comportamento violento. Caso as mes ou professoras sintam que so mais fracas que seus filhos ou alunos e no podem control-los, devem evitar o con-

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  • fronto. Devem procurar identificar formas criativas para dar as instrues e aplicar as regras.

    O comportam ento aprendido nesse confronto com os pais facilmente generalizado para outras situaes. A criana passa a agredir verbal ou fisicamente colegas, inspetores, professores. Nestas circunstncias rotula-se a criana de m au-elemento, delinqente, marginal, violento etc. Ao ser rotulada na escola e no bairro, a criana passa a se sentir desconfortvel naqueles ambientes e procura se integrar cm grupos ou gangues, onde recebem aprovao pelos seus comportamentos violentos e pela sua ousadia, coragem, inteligncia, criatividade. Desta forma a criana deixa a escola, afasta-se do convvio familiar e passa a pertencer ao grupo da rua.

    Alguns pais acreditam que todas as regras devem ser conversadas e discutidas com as crianas e, por assim pensarem, transformam suas casas em constantes assemblias. N o entanto, mesmo concordando que muitas situaes devam ser discutidas com os filhos para que democraticamente as decises sejam tomadas, os pais devem saber distinguir entre o que deve ser colocado em discusso democrtica e o que deve ser resolvido pelo adulto responsvel pelo bem- estar da criana. Escovar os dentes aps as refeies e antes de dormir, por exemplo, no uma atividade

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  • negocivel e que possa ficar na dependncia de uma deciso da criana. A me, no entanto, no precisa impor a regra de forma agressiva, poder dizer para a criana: escove seus dentes e dcite-sc que contarei uma historinha para voce. Desta forma ela estar incentivando-a a escovar os dentes e tornando uma tarefa possivelmente aborrecida em uma tarefa com um final feliz. Elogiar os dentes limpos, sem cries, o bom hlito etc. fazem parte da aprendizagem da tarefa de escovar os dentes e, com o passar do tempo, a prpria criana passa a ter orgulho de seus bons dentes e compreende a importncia de manter sua higiene.

    Se os pais do salgadinhos, sorvetes, chocolates ou mamadeira para as crianas a qualquer hora, devem estar cientes de que no esto desenvolvendo bons hbitos alimentares em seus filhos. Se os pediatras aconselham uma criana a comer frutas, legumes, verduras e protenas para seu pleno desenvolvimento, os pais devem verificar o que esto fazendo para incentivar seus filhos a adquirirem o hbito de ingerir estes alimentos. A melhor maneira oferecer o alimento desde cedo - como sopinhas de verduras com caldo de carne e papinhas de frutas - para que as crianas se habituem com os diversos sabores. Se a criana rejeita um sabor, deve-sc oferecer outro similar na prxima refeio, jun to com um alimento que ela aprecie. Alimentar-se deve ser um ato praze

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  • roso para a criana e no uma hora de estresse para ambos, me e filho. O modelo representado pelos pais, geralmente, um bom incentivo para as crianas. Elas procuram imitar seus pais em tudo o que fazem, inclusive naquilo que comem.

    Em resumo, os pais devem sim estabelecer regras. Estas devem ser poucas, progressivas e possveis de serem cumpridas. Precisam ser aplicadas logo aps o comportamento inadequado ter ocorrido. O castigo nunca deve provocar dor ou privao de necessidades bsicas. Jamais usar a retirada do carinho, do afeto como castigo. A ameaa ineficaz e gera um relacionamento irritadio. As crianas que so educadas com regras frouxas tornam-se adolescentes que no respeitam as regras na escola e demais instituies, no respeitam os professores e demais autoridades e aprendem que a manipulao emocional e a agressividade so boas formas para se resolver problemas e enfrentar tentativas de estabelecimento de regras. Finalmente, quando se sentem rejeitadas, estas crianas - ou adolescentes - afastam-se, gradualmente, da escola e da famlia sendo atrados para grupos marginais, onde encontram reforo para seus comportamentos desviantes e valorizao de sua agressividade.

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  • O h u m o r in s t v e l

    O hum or dos pais ou professores pode ter efeitos sobre a educao dos filhos ou alunos? Analisaremos neste captulo como isto ocorre; quais as conseqncias desta maneira de educar; e, ainda, o que os filhos aprendem quando recebem castigos em funo do hum or dos pais, seja ele positivo (alegria), seja negativo (raiva).

    Evidentemente, devemos reconhecer, inicialmente, que nosso hum or altera nossa disposio para agir, No fcil corrigir um filho quando estamos alegres, rindo, nos divertindo. Corrigir, fazer cumprir regras, dar limites, enfim educar pode, em certas ocasies, perturbar nosso estado emocional positivo. O que dizer ento das influncias dos estados emocionais negativos? Como ficam as mes e professoras durante o perodo de tenso pr-menstrual? E os pais, aps um a discusso no trabalho ou no trnsito? Enfim, so muitas as situaes que alteram o nosso hum or,

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  • para melhor ou para pior. Como este estado de h u m or afeta nossa tarefa educativa? Com o afeta nossos filhos?

    g u a n d o aplicamos ou no uma punio em funo de nosso estado de hum or e no em funo de um mau comportamento, estamos ensinando a discriminar nosso humor e no a reconhecer o mau comportamento executado/ criana aprende que quando o pai est bravo, mal-humorado, o castigo ser severo. Nestas circunstncias, se puder, foge de casa, se esconde, esperando que o hum or melhore. Por outro lado, ela percebe que, quando o pai est alegre, ele no ir castig-la, tenha feito o que for. Possivelmente, ele ir at brincar a respeito do mal feito.

    Discriminar o estado de hum or dos pais no ajuda a criana a aprender valores e nem o que certo ou errado. Crianas e adolescentes que vivem sob esse tipo de prtica educativa no sabem reconhecer quais os comportamentos desejados pelos pais. Sabem apenas que o hum or de seus pais varia e que precisam se livrar dos momentos ruins.

    Quando os pais castigam sob efeito de forte em oo, muita raiva, por exemplo, em geral, se arrependem assim que a raiva passa. Nesses casos, comum pedirem desculpas ao filho, sentindo pena da criana e de si mesmos. Novamente a criana aprende que,

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  • neste momento, chantagear emocionalmente os pais vantajoso. A aprendizagem se d cm virtude das emoes envolvidas e no dos maus ou bons comportamentos que desejamos ensinar.

    Quando um dos pais perceber que tem se descontrolado seguidas vezes ao tentar educar seu filho, deve procurar um servio de Aconselhamento de Pais. U m profissional poder ajud-lo a melhor perceber suas dificuldades e orient-lo nesses aspectos. Muitas vezes uma orientao no e suficiente para resolver este tipo de dificuldade e, ento, o profissional poder aconselhar o cliente a fazer terapia. Se o pai ou a me violento com o filho porque perde o controle, e depois se arrepende, sinal que alguma situao emocional importante est provocando esta reao. U m a terapia poder ajudar esses pais a resolverem tais problemas e trazer harmonia para a famlia, principalmente evitar que o filho sofra com o desequilbrio dos pais.

    Durante o processo educativo fundamental que a criana saiba exatamente o que desejamos dela. Aqueles comportamentos julgados pelo casal que devem ser incentivados, apoiados, elogiados, precisam receber esta conseqncia sempre; assim como aqueles que devem ser recriminados, evitados, extintos, sempre precisam ser seguidos pela desaprovao.

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  • Os pais no devem mudar de idia sobre o que certo ou errado durante o processo educativo; isto confunde a criana e a deixa desobediente. Se ela no sabe se aquele comportamento e errado ou certo, porque ora lhe e dito que pode, ora que no pode, ela deixa de obedecer. Com o j foi dito no captulo anterior, poucas regras devem ser selecionadas durante as vrias etapas educativas. O que desejamos que nossos filhos aprendam? Tcr horrios para estudar? Estudar e obter boas notas? Ter horrio para ver teve? Alimentar-se de forma saudvel? Tomar banho todos os dias? Escovar os dentes aps as refeies? Enfim, resolvido o que importante, naquela etapa do desenvolvimento infantil, devem-se deixar as demais questes de lado, ou seja, os outros assuntos podem ser tratados de forma flexvel. Da mesma maneira devemos selecionar aquilo que realmente importante que os nossos filhos no faam. Gazear aulas, agredir o irmo, mentir, comer salgadinhos antes das refeies etc. N o decorrer do desenvolvimento da criana, novas regras surgiro em funo das variadas necessidades infantis e juvenis. As regras j internalizadas devero ser substitudas por novas regras, apropriadas nova situao.

    Estamos habituados a pensar e acreditar que apenas pais drogados, violentos, criminosos podem ser

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  • responsveis pelo desenvolvimento de comportamento anti-social nos filhos. Mas o modelo agressivo em qualquer caso certamente tem influncia no comportamento dos filhos. O ditad o filho de peixe, peixinho tem sua verdade. Se o pai reage de forma agressiva, violenta, diante dos problemas familiares, e sua reao tem o efeito desejado (impede que a esposa cobre algo dele, afasta os filhos que solicitam sua ateno, intimida etc.) a criana aprende a se comportar desta maneira, por imitao. N o futuro, quando estiver em uma situao-problema, poder usar a agressividade como forma de enfrentar a questo. Por outro lado, se o modelo dado pelos pais for o de conversar sobre as dificuldades ou problemas familiares, incluindo a as desobedincias das crianas, a imitao ser a de usar o dilogo como maneira de solucionar dificuldades. Os castigos podem e devem ser apresentados s crianas de uma forma pacfica.

    O alerta que se pretende neste captulo refere-se ao fato de que o humor, ou melhor, a variao de h u mor, durante as interaes educativas, tem prejuzos relevantes para a educao das crianas e adolescentes. Sem aprender valores, pois estes so passados de forma confusa e instvel, os filhos crescem tateando o ambiente para descobrir o certo e o errado. Este processo desencadeia enorme instabilidade emocio-

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  • nal nas crianas deixando-as ansiosas e agressivas, em funo das frustraes decorrentes de no saber o que fazer para agradar aos pais.

    Essa instabilidade emocional tem tambm como conseqncia a perda da autoridade paterna. Os filhos percebem a instabilidade e aprendem que os pais no tem segurana em seus valores e propsitos educativos. Passam a rejeitar orientaes vindas dos pais e no os reconhecem como modelos morais adequados.

    Esse modo de educar nocivo ao desenvolvimento saudvel da criana, mas pode ser corrigido. Identificar que se est educando em funo das variaes do hum or e no em benefcio dos comportamentos adequadosj e um primeiro passo. Se for necessrio, os pais devem procurar ajuda para modificar estas atitudes e as mudanas viro cm favor de toda a famlia. As crianas agradecero para sempre.

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  • 3A p u n i o fs ic a

    B ater ou no bater, eis a questo. Qual o limite entre dar palmadas, bater e espancar? Esta pergunta vem sendo feita pelos pais. A prtica da palmada e milenar mas, atualmente, os estudiosos vm condenando com veemncia o seu uso. Existem conseqncias negativas para crianas que apanham? Bater sempre prejudicial? At que ponto?

    Bater e um comportamento agressivo dos pais para com os filhos ou um procedimento educativo, disciplinar? Na grande maioria das vezes os pais batem com raiva c, naquele momento, o que menos importa e o carter educativo do meio disciplinar utilizado. Se, ao bater, o pai ou me demonstra raiva, diz palavres, agride verbalmente o filho, humilhando-o, a criana ir aprender que ela errada e no o seu comportamento. Esta prtica atinge o ser da criana e no o comportamento que estamos querendo modificar. Se ela est errada, como fazer para mudar? O

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  • comportamento errado pode ser modificado, porem a criana errada, como pode ser modificada? Dizer criana, quando est sendo castigada com raiva, que ela e burra, idiota, uma peste, capeta etc. gera a intro- jeo, a assimilao, a incorporao destes valores. Isso diminui sua auto-estima e a torna insegura.

    Os pesquisadores tem demonstrado que crianas e adolescentes com baixa auto-estima procuram as drogas e grupos delinqentes, onde, mediante atos anti-sociais, infratores, proibidos, conseguem melhorar sua auto-estima. Isso acontece porque este tipo de atitude, de alguma forma, necessita de coragem, valentia, criatividade ou inteligncia para seu desempenho. Todos estes valores so reforados pelo grupo. Os pais, sem saber desta sria conseqncia negativa, em contraposio, continuam a diminuir a auto-estima de seus filhos pela humilhao ou agresso.

    A maioria das pessoas reconhece que crianas espancadas sero adultos problemticos. As pesquisas mostram que 95% dos adolescentes infratores foram espancados na infncia. Seus pais ou padrastos usaram ferramentas ou objetos para bater, provocando srias leses em seu corpo, alm de usarem o espancamento como meio mais freqente para corrigir os maus comportamentos.

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  • Os pais pensam que ensinaram criana, por meio da surra, pois, naquele momento, apenas naquele momento, o comportamento cessa. N o entanto, os estudiosos da punio j demonstraram, a partir de pesquisas, que o comportamento reprimido reaparece assim que a criana estiver fora do alcance dos pais ou daquele que a puniu. A punio, geralmente, s capaz de controlar o mau comportamento diante daquele que pune. A criana no aprende que no para fazer alguma coisa; aprende que no e para fazer tal coisa diante dos pais. Longe deles ela continuar fazendo. E quando no mais tiver medo dos pais, ir enfrent-los ou fugir de casa.

    H tis pais ficnm confusos, decepcionados, pois, ainal, fizeram tudo para educar, foram enrgicos, surraram. E assim mesmo aqueles ingratos no aprenderam. Muitos atribuem esta ineficcia educacional aos genes dos antepassados do outro cnjuge, naturalmente. A me diz: ele no aprende porque sofre dos nervos, igualzinho ao av do meu marido; o pai rebate dizendo: *ele e assim nervoso, no obedece, porque puxou o irmo de minha mulher, que vive internado.

    Crianas que apanham com muita freqncia ou com violncia podem se tornar apticas, medrosas, desinteressadas. Ela no discrimina o certo do erra

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  • do em seu comportamento, porque a surra atinge o seu ser e no o seu mau comportamento. Ela procura estar parada, quieta, sem ao, assim, talvez, tenha alguma chance de evitar a surra. Seus pais provocam medo e no respeito. Os professores devem suspeitar que uma criana espancada quando observarem alunos com baixa responsividade. Alunos que no se interessam por atividades agradveis, que sorriem pouco, que no mantm contato visual, podem ser crianas espancadas. Nestes casos, preciso investigar e denunciar aos Conselhos Tutelares. A criana no pode se defender da agresso, e preciso ajud-la.

    U m beb no pode apanhar, em hiptese alguma. se uma me se descontrola e bate em seu beb deve imediatamente ser encaminhada a um servio psicolgico especializado. Os bebs choram porque tm fome, sono, esto sujos, precisando carinho, esto desconfortveis ou tm dor. So necessidades biolgicas bsicas do ser humano, que, ao serem atendidas, faro cessar o choro. Os pais precisam conhecer o beb para atender suas necessidades o mais rapidamente possvel. Observar o beb, investigar, comparar suas reaes, apalp-lo, pode ajudar a descobrir o que aflige o beb.

    E as palmadas? Um a palmada na mo ou no bum bum no gera conseqncia negativa se for apenas

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  • uma e no for acompanhada de raiva, nem de palavres. Deve ser acompanhada da palavra no mais a informao clara do que est sendo proibido. Por exemplo, no coloque a mo no fogo, no ponha o dedo na tomada, no faa birra (quando a criana se atirou no cho do supermercado porque queria o chocolate que a me no comprou). fundamental que os pais estejam prontos para reafirmar seu afeto e amor aos filhos nessas circunstncias.

    A maioria das vezes basta segurar com mais energia no brao da criana impedindo-a do movimento, ou levantando-a do cho. Isto suficiente para que ela perceba a autoridade dos pais e obedea. Neste momento os pais devem repetir apenas a instruo sem longos discursos e longas explicaes, que podem atrapalhar a aprendizagem. Aqueles pais que falam muito e agem pouco no obtm bons resultados no controle de birras e desobedincias. fundamental lembrar aos pais que o seu comportamento educativo deve ser coerente, consistente. Atitudes vacilantes como num dia dizer no, 110 outro deixar pra J produzem a criana desobediente. Ela fica sempre 11a expectativa de ser o dia do sim.

    Jamais se bate no rosto de um filho. Bater no rosto humilhante, no educativo. Os modelos veiculados pelos personagens das novelas em que pais ba

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  • tem na cara dos filhos quando esto discutindo representam um pssimo exemplo.

    N o reino animal, entre os primatas, observa-se uma fmea de macaco-aranha, por exemplo, dando uns tapas ou empurres em seu filhote macho, quando este tenta mamar. Isto ocorre quando ela est ensinando o filhote a se alimentar de frutas e que o leite no est mais disponvel. O filhote macho mais resistente que a fmea a esta aprendizagem e insiste. Muitas vezes se observa uma reao mais rigorosa da me s investidas do filhote. Porm, essas aes maternas no so mediadas pela raiva. As mes no apresentam faces e posturas tpicas de raiva ao educ ar seu filhote. No se observa na natureza mes espancando seus filhotes para ensinar-lhes o que quer que seja.

    Esse poderia ser o grande segredo da educao. O equilbrio entre aplicar as regras e manter-se afetivo. Mostrar ao filho que sempre est disponvel para o afeto. Jamais dizer a um filho que no o ama mais ou que preferia que ele no tivesse nascido. So frases capazes de gerar srios problemas para a criana, problemas cjiie vo desde a depresso ou apatia at o uso de drogas e delinqncia. Quando a criana recebe, daqueles que deveriam proteg-la, rejeio ou agresso, sua auto-estima fica rebaixada, suas expec

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  • tativas d e futuro ficam comprometidas, prejudicadas. No tem motivao para executar tarefas um pouco mais complexas.

    Sem auto-segurana a criana no consegue fazer boas escolhas, perde oportunidades de receber elogios, incentivos. Fica margem dos benefcios que podem ser oferecidos pelo grupo social a que pertence. Sem estmulo para estudar, por exemplo, ir tirar notas baixas, no ser elogiada pela professora, receber crticas na escola e em casa. Seu desempenho sofrvel ir combinar com os valores que lhe foram atribudos: burro, idiota etc. Sua auto-irnagem passa a ser a de um ser inferior, ser mau. Esta auto-ima- gem leva o adolescente a buscar a rua, apoiar-se cm grupos marginais, a usar drogas, a cometer atos infra- cionais. Todos estes comportamentos so selecionados pelo adolescente porque esto de acordo com sua au- to-imagem negativa. Pessoas ms fazem coisas ruins.

    O cuidado na seleo dos procedimentos punitivos na educao de nossos filhos faz a grande diferena entre crianas saudveis, seguras, criativas e crianas amedrontadas, inseguras, indisciplinadas.

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  • s u p e w s u e s t i v s x a n t e y

    s 4 superviso estressante se caracteriza pela exagerada vigilncia ou fiscalizao dos pais em relao aos filhos e pela alta freqncia de instrues repetitivas. Telefonar a cada hora para o filho para verificar se ele est mesmo na casa do amigo ou no shopping, ir at o quarto para ouvir a conversa dele com os amigos, escutar telefonemas, ler o dirio, repetir insistentemente para que ele arrume o quarto ou guarde os brinquedos, dizer todos os dias que no estudou e que no ir passar de ano, falar vrias vezes ao dia para ele parar de abrir a geladeira, reclamar sobre como ele a enlouquece, deixando voc exausta de tanto arrumar ou consertar as porcarias que ele faz etc. so situaes que revelam a superviso estressante.

    Inicialmente, esse tipo de procedimento educativo demonstra quo ineficaz est sendo a educao realizada pelos pais. Eles no confiam nos filhos, deixando isto claro t m todos os momentos. E preciso

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  • fiscalizar porque, caso contrrio, ele far algo errado. E preciso evitar problemas. Os filhos percebem a desconfiana dos pais e passam a tentar burlar a fiscalizao: mentem, desligam o telefone celular, fingem que no ouviram a ordem, ocultam seus objetos pessoais, conversam baixinho, se escondem etc. Os pais por sua vez ficam cada vez mais fiscalizadores, bravos, irados com as dificuldades criadas pelos filhos que os impedem de atingir plenamente seus objetivos. Este tipo de relacionamento gera muitas discusses e agresses verbais. Os filhos ficam irritados e agressivos, pois querem ter liberdade e privacidade e se sentem prejudicados pela falta de confiana dos pais; e os pais raivosos e im potentes diante das d ificuldades encontradas para evitar que problemas maiores ocorram, por no fiscalizarem e controlarem seus filhos.

    Os pais acreditam que repetindo vrias vezes as ordens arrume a cama, estude, chegue cedo, por um passe de mgica o filho ir obedecer, ou ento, apesar de reconhecerem que no sero obedecidos, mantm este comportamento porque sentem que, ao menos, esto cumprindo a sua obrigao. Os pais tambem acreditam que o filho no obedece porque desobediente a me est cansada de orientar e dizer o que para ser feito. Os consultrios de orien

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  • tao para pais reccbem inmeros casais que chegam com a seguinte queixa: j fiz de tudo, ele no obedece mesmo. No sei mais o que fazer. Os pais, principalmente as mes, que fazem a superviso estres- sante, geralmente, so pessoas ansiosas e mostram extremo cansao e frustrao com a tarefa educativa. Sentem que se esforam e no obtm bons resultados. Cuidam muito e os ingratos continuam trazendo problemas. Eles no correspondem a toda ateno a eles dispensada. As mes dizem: me sacrifico por ele, e nem ao menos reconhece.

    E importante salientar que pais que se utilizam desse tipo de superviso para educar os filhos pensam que so dedicados e que esto fazendo o melhor possvel. Que se sacrificam pelos filhos, que merecem retribuio, que esto perdendo o melhor de sua

    Vvida para educ-los. Infelizmente, na opinio destes pais, os filhos no valorizam seus esforos.

    Os filhos, por sua vez, no sentem que esto sendo cuidados, amados. Sentem que os pais no confiam neles, que os fiscalizam, que invadem a sua privacidade e que precisam fazer de tudo para garantir sua independncia, sua singularidade. Desenvolvem extrema criatividade buscando proteger seus segredos. Tornam-se agressivos, porque em algumas situaes conseguem inibir o rosrio de reclamaes. A

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  • me, para evitar que o clima de tenso entre a fam- lfa seja exacerbado interrompe a reclamao, o filho fica feliz e percebe que, quando fica agressivo, se livra da reclamao.

    Repetir as ordens muitas vezes cria uma saturao de informaes que faz com que a criana passe a selecionar aquilo que realmente a interessa. Em verdade, ela no ouve a instruo como algo que deva ser cumprido; ela ouve como uma ladainha que dita todos os dias, que no tem conseqncia alguma. Os pais que fazem a superviso estressante no estabelecem as regras, apenas repetem ordens. De maneira que os filhos no obedecem porque no h conseqncia para a desobedincia, como j foi explicado 110 captulo sobre a importncia das regras.

    Muitas vezes, os pais perdem o controle emocional - j falaram, falaram e nada aconteceu e acabam batendo ou dando um castigo severo. A, logo que a raiva passa, se arrependem e liberam a criana do castigo. Com o tambm j foi explicado no captulo sobre o hum or; este procedimento cria apenas insegurana e no estabelece o certo e o errado.

    Em outros casos de superviso estressante, os pais perguntam exaustivamente para os filhos com quem estavam, o que falavam, cheiram suas roupas, revistam seus quartos etc. Imaginam que esto cuidando

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  • dos filhos. N a realidade, estes pais no esto se interessando, de veraade, pelos filhos. Esto fiscalizando, investigando, mas no esto educando. A desconfiana um mau mediador para a educao. J o afeto um excelente mediador para a aprendizagem. As pesquisas mostram que as crianas aprendem muito melhor quando h afeto entre elas e os educadores, j no retm a aprendizagem quando os envolvidos so hostis ou indiferentes.

    A relao entre os pais e os filhos e extremamente irritadia e hostil quando o cotidiano familiar mediado pela superviso estressante. Os pais cobram e os filhos se justificam. O tom, na comunicao verbal, e sempre agressivo. O sentimento de ambos o de frustrao. Os filhos sentem que jamais sero compreendidos e os pais que jamais sero obedecidos.

    No e fcil alterar essa situao, pois os sentimentos negativos de raiva, rancor, frustrao esto mediando as relaes desta tamlia. O primeiro passo reconhecer e identificar cm que situao se est u tilizando a superviso estressante. Depois, entender que este tipo de disciplina no capaz de obter resultados positivos, ao contrrio, gera estresse na relao familiar e no ensina as regras que esto sendo constantemente verbalizadas. Em seguida, os pais devem se propor a mudar. Podem comear por selecionar

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  • algumas regras e estabelecer conseqncias para o seu no cumprimento, como foi explicado no captulo 1. Por exemplo, se no arrumar os brinquedos espalhados no recebe a semanada. Estas regras devem ser discutidas com as crianas antes, e o casal precisa estar de acordo entre si. As regras devem ser introduzidas pouco a pouco, para que os filhos possam cumpri-las e entend-las. Simultaneamente, preciso parar de fazer a superviso estressante. Esta a parte mais difcil. Controlar-se e acreditar que os filhos iro cumprir as regras a parte mais difcil desta mudana de atitude.

    importante que os pais estejam de acordo sobre a regra e suas conseqncias. Nada pior para a educao infantil que a me estabelecer o castigo e o' pai no cumprir, ou vice-versa. O casal deve conversar sobre estas regras antes. Caso no cheguem a um acordo, procurem ajuda de algum de confiana e credibilidade. s vezes, a opinio de uma tercira pessoa, no envolvida com as questes familiares, pode ser de muita ajuda. Porm, cuidado para no fazer de um amijjo um consultrio psicolgico. s e os pais perceberem que a procura por ajuda se tornou muito freqente melhor buscar um profissional, que certamente poder ajudar sem se sentir explorado emocionalmente.

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  • Os pais precisam confiar, abandonar as ameaas: olhe bem, estou confiando em voc, caso no cumpra o combinado vocc vai ver so. Este tipo de verbalizao interfere negativamente no cumprimento da nova regra estabelecida. preciso mostrar confiana, acreditar verdadeiramente no outro, mostrar afeto, mostrar que est esperando o melhor do filho. Estas mudanas surpreendem o filho e o fazem experimentar uma nova maneira de agir. Quando o filho agir de acordo com as novas regras, os pais devem elogiar, mostrar que ficaram satisfeitos. Nunca dizer: isto sua obrigao, no pense que fez algo extraordinrio. Em verdade, se o filho cumpriu a regra, ele fez sim algo extraordinrio, fez algo que nunca havia feito antes.

    Os pais tambm fizeram algo extraordinrio, estabeleceram uma regra, suas conseqncias, e confiaram que o filho seria capaz de cumpri-la. A famlia est de parabns. Todos foram capazes de mudar de atitude e devem reconhecer que sero mais felizes com este novo procedimento.

    Alguns pais que acreditam que, quando os filhos tiram boas notas, arrumam os quartos, levam o cachorrinho para passear, no fizeram mais que a obrigao esto privando a famlia da utilizao de excelentes fontes de motivao e prazer. Receber elogio

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  • tn ui to bom. Todos gostam. Por que privar seu filho deste benefcio? Sejamos generosos na utilizao de elogios, de agrados, de carinhos e sejamos econmicos quanto a crticas, condutas implicantes, reclamaes, xingamentos.

    Imaginar que estamos comprando nossos filhos com elogios e um ledo engano. Quando a me faz uma comida gostosa e recebe um elogio da famlia, certamente ela pensa que mereceu aquele elogio e a tarefa (ficar na cozinha toda a manh) ficou mais leve. Se a famlia disser para a me voc no fez mais que a sua obrigao certamente isto a deixar magoada ou furiosa. O mesmo acontece com o filho que tirou uma boa tuna na escola; se receber um elogio ficar feliz, se sentir amado e ter mais chance de repetir a proeza no futuro.

    Essa forma de agir pode ser experimentada por todos os educadores que tero a oportunidade de observar seus rpidos e eficientes efeitos. Os pais sero mais felizes e os filhos tambm.

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  • 1.

    s 4 m&mfcydw ptx&itAjL/

    r r lesmo as pessoas mais carrancudas e m al-hum oradas so sensveis ao sorriso de um beb. Nosso corao se enternece, nossas pupilas se dilatam e sentimos imediata vontade de sorrir, de acariciar ou de brincar. Sentimentos positivos so despertados pelo sorriso e gracinhas que um beb capaz de fazer. Estas reaes so naturais e biolgicas na espcie humana. Isto significa dizer que todos ns nascemos com a capacidade de nos enternecer diante de um beb, e conseqentemente, de cuidar dele. Quando esta tendncia natural deixa de ocorrer porque algo de ruim, de anormal, aconteceu na vida desta pessoa, impedindo-a de demonstrar seus afetos genunos.

    Se estivermos prontos biologicamente para reagir positivamente ao sorriso do beb porque necessitamos desta interao prazerosa para o nosso desenvolvimento saudvel. Quando sorrimos para uma criana, comunicamos aprovao, satisfao, alegria. A

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  • criana percebe nossa comunicao e reage a ela. T o dos os bebs sabem distinguir expresses de raiva, de medo, de tristeza, de alegria, de nojo, de espanto e de desprezo. So chamadas as emoes bsicas. Os bebs aprendem com nossas expresses e so capazes de imit-las1.

    Da mesma forma que nos aproximamos do sorriso, nos afastamos do rosto raivoso. A criana aprende a sentir medo de objetos ou animais pela observao das expresses de medo da me; as crianas, filhas de mies medrosas, so muito mais medrosas que as filhas de mes que expressam pouco medo. Evidentemente, existem situaes naturais que provocam o medo, estas situaes sequer precisam ser ensinadas. U m rudo estridente produz o choro instantneo no beb, produz uma acelerao dos batimentos cardacos do adulto, colocando-o em estado de alerta. So estmulos capazes de produzir medo pela sua natureza aversiva. Quando uma situao similar a esta ocorrer, a me deve segurar o beb no colo, abra-lo e tentar acalm-lo com palavras tranquilizadoras, assegurando sua presena, dizendo tudo bem, mame est aqui, j vai passar etc. Isto , normalmente, suficiente para acalmar a criana.

    ara aprofundam ento desse assum o veja, O sorriso e seus significados, de r.inm a O tta.

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  • Os contatos de pele, abraar, fazer carinho, ficar de mos dadas, dar beijinhos so fortes inibidores do desenvolvimento do comportamento agressivo2. Estas relaes afetivas permitem o estabelecimento de uma relao agradvel entre os membros da famlia, facilitando, inclusive, a superao das divergncias, Toda famlia tem suas divergncias. So raras aquelas que vivem em perfeita harmonia. O que se busca so formas apropriadas de lidar com elas e, sobretudo, super-las. As relaes afetivas positivas fornecem um excelente caminho para este difcil desafio.

    Os pais so os principais mediadores entre a criana e o mundo. A criana aprende sobre o mundo pelos olhos dos pais, de suas reaes, de suas experincias. So os pais que ensinam as crianas a serem seguras, a terem boa auto-estima, a resolverem problemas. Ensinar a criana, desde tenra idade, a solucionar problemas um excelente caminho para desenvolver a sua segurana, in ib indo, conseqentemente, o aparecimento de distrbios srios como a depresso infantil. Quando uma criana ou adolescente acredita que nada do que possa fazer alterar seu mundo, pode entrar em depresso. A depresso a representao deste fracasso imaginado e sentido,

    2. Tocar o significado humano da pele, de Ashlcy M ontagu (1988), publicado peta Sum m us, e um livro essencial parn o en tendim ento deste assunto.

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  • dc que no capaz de m udar o meio, de que no consegue se fazer compreender, de no se sentir amada.

    Dc forma que dem onstrar para seu filho que ele im portante, amado, capaz, faz parte das obrigaes daqueles pais que desejam criar e cuidar de crianas felizes e bem adaptadas. Com o se revela real interesse pela criana? Existem diversas formas para se demonstrar este interesse. Os pais devem escolher o seu prprio m odo de agir, aquele que mais se adapta ao seu estilo. Se a famlia tem o hbito de fazer ao menos uma refeio conjunta diariamente, este pode ser o melhor m om ento para se perguntar como foi o dia das crianas, para se colocar disponvel para resolver alguma dificuldade de relacionamento ou para valorizar as conquistas obtidas pelos integrantes da famlia. Este o m om ento de elogiar efusivamente as boas notas, de aceitar reclamaes sobre professores etc. Os pais devem demonstrar que o dia das crianas to importante quanto o seu prprio. No devem usar estes horrios, quando a famlia est reunida, para dar bronca, fazer queixas e vom itar suas desavenas. As broncas devem sempre^acontecer em particular e os elogios publicamente. A vantagem de se dar broncas particularmente que so evitados os constrangimentos naturais provocados pela presena de outros, como irmos que aproveitam a situao

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  • para tirar um sarro, prejudicando o entendimento, a reflexo e o posterior arrependimento do ato.

    O entendimento, reflexo e a autocrtica so os principais passos para a reparao de um mau comportamento. Os pais devem expor seu pensamento e, em seguida, dar um tempo para que o filho fale sobre o assunto. Juntos podem encontrar a maneira de reparar o dano ou de acertar os termos do castigo, caso este seja necessrio. Quando a reflexo e o arrependimento so sinceros, normalmente, no necessria a administrao de qualquer tipo de castigo. Os pais devem estar seguros de que no esto sendo manipulados emocionalmente. Suspeita-se de manipulao quando existe reincidncia do fato. O real arrependimento deve ser suficiente para que o filho evite comportar-se de maneira inadequada no futuro. Quando ele est manipulando, mostra arrependimento, faz ar de tristeza, inibe a bronca dos pais e consegue se livrar da punio; no entanto, em seguida repete o mesmo ato.'

    U m adolescente que se excedeu na bebida em uma festa, entrou em coma alcolica e foi parar no hospital deve ser atendido pelos pais, na primeira vez cm que isto acontece, com preocupao e seriedade. U m a conversa sincera deve ocorrer, em que os perigos da intoxicao por lcool precisam ser explica-

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  • dos; em seguida, os pais devem ouvir o filho, incentivando-o a fazer a autocrtica, ou seja, como ele poder evitar isto no futuro, como ele se sentiu nesta situao (vergonha, culpa, pena de si mesmo, tristeza, no incio euforia, depois sentiu-se mal, enjoado etc.). Fazer o filho reconhecer o erro a melhor maneira de promover a aprendizagem de bons comportamentos. Nestas situaes os pais devem falar um pouco sobre os valores morais da famlia e da sociedade. Dar a bronca sem perm itir a reflexo e a autocrtica no produz mudana de comportamento. Se este fato (embebedar-se) se repetir vrias vezes os pais devem procurar a ajuda de um profissional. No normal um adolescente beber exageradamente duas ou trs vezes por semana. E preciso tomar providncias urgentes. Investigar o possvel alcoolismo do filho. Todas as medidas teraputicas devem ser tomadas o mais rapidamente possvel para que os m elhores resultados sejam obtidos.

    Muitas vezes os pais no procuram os profissionais especializados esperando que o problema por si s se resolva. Sentem vergonha, culpa, imaginam-se responsveis e no querem se expor, e evitam discutir, fora da famlia, o problema. Este um grave erro. Os problemas devem ser resolvidos quando ainda so pequenos. Lembrem-se do dito popular de pe-

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  • queno que se torcc o pepino. Identificar os problemas, reconhecer que no sabe resolv-los, procurar ajuda especializada sinal de maturidade e responsabilidade, e no de fraqueza ou de fracasso.

    A vida moderna, que profissionalizou a mulher, trouxe algumas questes importantes para a educao dos filhos. 0 'cuidado com os filhos responsabilidade do casal. Certos casais, por fora de suas profisses, passam o dia no trabalho, justificando assim a sua ausncia no acompanhamento dos filhos. M uitos delegam esta importante funo s babs ou avs. Seria possvel mostrar interesse, afeto, ateno pelos filhos a distncia? O telefone est a disposio de pais ocupados para exercer esta funo conciliatria. Conversas rpidas ou longas podem ser feitas durante o dia ou noite (no caso de uma viagem) para que este contato positivo se instale na relao familiar. T udo bem com voc? Como foi seu dia na escola? J saiu a nota de portugus? Acertou aquele problc- minha com o colega da escola? E a festa estava boa? etc. - so formas de se iniciar uma conversa telefnica. Demonstram interesse e permitem o acompanhamento positivo.

    Os pais precisam saber perfeitamente a distino entre mostrar interesse e fiscalizar. A superviso es- tressante foi discutida no captulo 4. Interrogar o filho

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  • sobre seu dia na escola ou sobre a fcstinha da noite anterior no mostrar interesse. Revelar interesse estar disponvel para ouvir aquilo que o filho gostaria de relatar, vibrando com suas conquistas e colocando-se disposio para resolver os problemas que surgirem.

    As principais pesquisas da rea de educao infantil tm demonstrado que em famlias nas quais os pais acompanham de forma positiva as atividades das crianas e adolescentes no so encontrados usurios de drogas e indivduos com comportamentos anti-sociais. Os pesquisadores esto apontando para este tipo de educao como o mais eficaz na preveno dos mais freqentes problemas que surgem na adolescncia, como o uso de lcool ou drogas, baixo desempenho escolar, abandono da escola ou comportamentos agressivos cm geral.

    Por que este estilo de educar to determinante para se evitar problemas? Primeiramente, o acompanhamento e interesse positivo informam criana que ela amada. Este o passo inicial para a construo de uma pessoa segura e feliz. Em segundo lugar, a ateno dos pais voltada para aspectos positivos do comportamento da criana inibe o desenvolvimento dos aspectos negativos, pois a criana sabe o que fazer para atender s expectativas dos pais; no precisa fazer coisas erradas para receber ateno suficien-

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  • te, para se sentir feliz. Em terceiro lugar, a relao estabelecida entre pais e filhos de confiana. Os filhos podem errar sem provocar um desapontamento nos pais; sabem que tero oportunidade para refletir e fazer a autocrtica, sem que isto represente um fracasso. Descobrem tambcm que quando acertam so elogiados. Em quarto lugar, aprendem a elogiar e reconhecer o esforo dos outros, pois seus esforos foram reconhecidos. A empatia uma das caractersticas mais importantes e evoludas do comportamento humano. Os homens que tm empatia so capazes de se colocar no lugar do outro, evitando preconceitos, segregaes, discriminaes e injustias. Em quinto lugar, com este estilo parental, podemos permitir o amadurecimento apropriado das emoes. Ao ouvir os relatos de nossos filhos, percebemos suas tristezas, alegrias, mgoas, raivas etc. Nestas situaes, juntos, podemos encontrar formas de lidar com as emoes negativas e compartilhar as emoes positivas. Nada mais desagradvel do que pessoas que no sabem compartilhar sentimentos, no vibram com o sucesso de amigos ou no sabem dar aquele ombro amigo nas horas de tristeza.

    Nada h de errado em se dar pequenos presentes ou at mesmo presentes significativos para os filhos mediante a conquista de objetivos. Os pais devem sa-

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  • ber diferenciar este procedimento de uma chantagem emocional. Neste caso do presentes por culpa, por se acharem responsveis pela infelicidade ou insucesso do filho e tentam compensar este desequilbrio lhes dando tudo o que pedem. Isto chantagem e deve ser seriamente evitado. Quando um filho se esfora, estudando 12 a 14 horas por dia, para passar no vestibular e passa, nada h de errado em se presentear o novo calouro. Este adolescente fez um real esforo para atingir um objetivo e no devemos encarar o fato como sua obrigao. Devemos vibrar e presentear, caso os pais tenham condio. As crianas pequenas tambm podem ser presenteadas, e principalmente elogiadas, pela realizao de tarefas que representem conquistas. Por exemplo, para levar ao dentista uma criana que tem pavor do consultrio odontolgico, os pais, por uma negociao, podem combinar que iro, aps o tratamento, ao parquinho da Mnica. Este procedimento pode ser considerado perfeitamente educativo e apropriado, desde que acompanhado de uma explicao simples da necessidade do atendimento odontolgico. Crianas que no comem verduras ou frutas podem ter assegurado pelos pais que recebero seu doce preferido aps a^ingesto destes alimentos. Fazendo deste modo garantimos a ingesto dos alimentos necessrios boa nutrio infantil. Lembrem-se

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  • de que os doces seriam ingeridos de qualquer forma. Os educadores esto apenas utilizando o gosto por estas guloseimas para obter bons resultados na alimentao de suas crianas.

    As reaes contrrias a esses procedimentos ad- v vm de maus usos dos presentes nas relaes familia

    res. Justamente o mau uso freqente porque o procedimento muito eficaz. totalmente condenvel que um pai prometa um presente para um filho mentir para a me tornando-o cmplice de um adultrio; ou que uma me prometa aumento de mesada para o filho se ele ficar em casa fazendo companhia a ela. So chantagens que nada tm de educativas e no representam evoluo na vida da criana, apenas esto servindo para beneficiar pais manipuladores.

    Mes e pais modernos tm confundido interesse e acompanhamento positivo quando procuram se tornar os nicos amigos ntimos de seus filhos. Os filhos precisam criar repertrios sociais apropriados mediante o convvio com outros de sua idade. Q uando os pais ocupam este papel esto inibindo o estabelecimento destas novas e positivas relaes. Por meio destes contatos fora da famlia eles podero checar e discutir seus valores, reafirmar suas convices e trazer suas dvidas para conversar com os pais. Os pais devefti estar disponveis para atender s questes rc-

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  • lativas sexualidade dos filhos, mas no precisam entrar em detalhes ntimos da vida amorosa ou sexual dos adolescentes. Os amigos adolescentes podem ouvir sem julgar, j os pais no. De maneira que, pensando que esto favorecendo o desenvolvimento da personalidade do filho, por estar sempre jun to dele, estas experincias podem estar sendo totalmente dirigidas pelos pais, inibindo o desenvolvimento da prpria identidade do adolescente. Com o na maioria das vezes os temperamentos e as habilidades dos filhos no so iguais aos dos pais, essa identificao exagerada tem altas chances de criar problemas para a identidade-do filho. A criana, por imitao ou por estar sendo constantemente estimulada a agir como os pais, deseja fortemente corresponder a esta expectativa, porm, em geral, no tem as habilidades necessrias para tal, pois ainda est se desenvolvendo. Permitam que seus filhos tenham suas prprias experincias e confiem que o investimento que vocs fizeram, lhes dando amor e ateno, os tornaro pessoas sadias e capazes de escolher corretamente.

    No basta dizer simplesmente que se importa, que ama, que cuida; preciso que se demonstrem, simultaneamente, estes afetos. Demonstrar o interesse significa acompanhar a criana ou adolescentes em atividades significativas para^eles. Perguntem se

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  • cies gostariam que vocs os acompanhassem. Ir ao shopping com o filho no sbado tarde no parece ser uma boa idia para demonstrar acompanhamento, porm, assistir apresentao de bal da filha iniciante configura-se um ato de interesse e amor.

    Muitas vezes os pais acham aborrecido ir a certos compromissos estabelecidos pela escola. Porm, na maioria d^s vezes a sua presena fundamental. Certa vez, a escola de meu filho convocou os pais para uma reunio s trs da tarde, sem dizer o assunto. Eu estava com uma srie de compromissos considerados inadiveis na universidade. Porm, dez minutos antes da reunio tive um mpeto e larguei o que estava fazendo e fui correndo para a escola. L chegando, fiquei estarrecida com o trauma que eu poderia ter causado a meu filho de seis anos de idade. Todas as crianas tinham uma rosa na mo para entregar s suas mes e eu quase faltei por no saber do que se tratava. Teria deixado meu filho com uma rosa na mo sem ter a me para entregar. A escola queria fazer uma surpresa: era vspera do dia das mes. Quase fomos todos negativamente surpreendidos.

    A educao moderna m udou muito em relao antiga. Os pais conversam cm lugar de dar castigos. Os pais conversam em lugar de dar limites. Os pais convrsam em lugar de bater. Hoje em dia os pais

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  • conversam. Mas o que ser que tanto pais como filhos esto entendendo por conversar? Infelizmente, parte deste conversar est sendo entendida como dar broncas. Quando uma criana ouve vamos conversar, ela imediatamente sabe que vai ouvir um belo sermo. Na escola a mesma coisa est ocorrendo. A professora diz para o aluno que se no se comportar ir conversar com a diretora ou orientadora. O aluno se prepara para receber uma bronca ou uma advertncia. De forma que, nos dias de hoje, conversar sinnimo de reprimenda, de bronca, de sermo. Os pais acreditam que no se deve bater ou castigar e, portanto, conversam. Acabam no estabelecendo limites e regras de boa convivncia. Perdem o controle na educao de seus filhos. E o pior, o conversar adequado, aquele conversar em que existe uma troca de idias, em que h interao, em que se compartilham * sentimentos, no tem espao na relao familiar. Todo o espao est ocupado pela superviso estressante e pela conversa tipo bronca. Os pais pensam que esto cumprindo sua tarefa educativa e, no entanto, sen- tem-se extremamente frustrados com os resultados obtidos. Os filhos so desobediente, mal-educados, indisciplinados, tem baixo desempenho escolar. De que est adiantando tanta conversa?

    Alguns terapeutas relatam que seus pequenos clientes quando convidados a conversar se recusam fe-

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  • ( liando bem a boca. Nada de conversar, demonstram eles. Conversar ruim. Os pais e educadores podem reagir e se apropriar da forma correta de conversar. O conversar que estamos defendendo neste texto aquele em que se estabelece uma troca, uma interao de idias e sentimentos, em todos os momentos. Como dizem os padres nas cerimnias de casamento: na alegria e na tristeza. Conversar de forma descontrada, interessando-se pelo assunto do filho, oferecendo sua opinio, ouvindo a dele.

    N em sempre os assuntos entre pais e filhos podem ser discutidos e a deciso tomada por consenso. Os pais no devem ter medo de tomar decises que contrariem a opinio dos filhos. O que preciso ser descoberto so quais assuntos podem ser liberados para que os filhos aprendam com suas prprias experincias e quais deles so da obrigao de somente os pais tomarem a deciso. Por exemplo, fazer ou no tatuagem pode ser um assunto que traga divergncias na famlia. Os pais podem e devem dar sua opinio, caso no mudem a idia do filho podem permitir a experincia. J se o filho quiser abandonar a escola para curtir, certamente os pais no podetn concordar exdevem procurar toda a ajuda necessria para evitar este desfecho. Os prejuzos para a criana sero grandes e, neste caso, somente os pais tm a viso

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  • completa das conseqncias futuras e cabe a eles a dcciso, mesmo contra a opinio da criana ou do adolescente.

    Em sntese, acompanhar de forma positiva o crescimento e desenvolvimento de uma criana ou adolescente e lhes mostrar real interesse, tanto por suas atividades, como por seus sentimentos. Significa, por meio do elogio e de atitudes, demonstrar para o filho que ele amado e e importante. Conversar significa falar e ouvir. Conversar significa compartilhar sentimentos e idias. A verdadeira essncia do dilogo, para Sponville3, est cm construir sobre o argumento do outro e no em desvaloriz-lo.

    3. Cf. Pequeno tratado das grandes virtudes, de A ndr C om te-Sponville , publicado pela M artins Fontes, 1997.

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  • A n e g l i g n c i a

    N o incio do sculo XX os cientistas ainda discutiam sobre o que era mais importante para o desenvolvimento do beb: o alimento materno ou o calor materno. Alguns argumentavam que o beb se ligava sua me porque era esta que o amamentava e, portanto, supria sua necessidade bsica - a fome. Outros defendiam a tese de que o vnculo com a me ocorria porque ela mantinha o beb em seus braos e o aquecia. U m pesquisador chamado Harlow realizou um famoso experimento com macacos que bastante ilustrativo desta questo. Ele criou um filhote rfo em uma sala onde existiam duas mes, uma de pano e outra de arame. Eram bonecas que imitavam as formas de uma fmea, sendo que urna era revestida de um tecido aveludado e fofo e a outra era toda de arame. Na me de arame o pesquisador pendurou um a mamadeira com leite morno. O cientista observou que o filhote passava a maior parte do tempo

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  • abraado me de pano. Em algumas ocasies, provavelmente quando sentia fome, dirigia-se me de arame bebia o contedo da mamadeira e voltava para a me de pano. Ocasionalmente I Iarlow produzia barulhos estridentes na sala para observar o comportamento do filhote. O orfaozinho corria e se abraava me de pano. Em outra ocasio o pesquisador levou o filhote para uma sala onde se encontravam outros filhotes, no rfos, brincando. Nesta sala havia frutas, cordas penduradas, escadas etc. O rfao no se aproximou dos demais, no explorou o ambiente e quando provocado pelos outros para brincar iniciou uma luta, que precisou ser interrompida pelos pesquisadores. O filhote rfao constantemente apresentava comportamentos autodestrutivos, batendo a cabea na parede e mordendo as mos.

    Quando vemos este relato imediatamente nos vm memria cenas de documentrios ou de^ reportagens em que se viam denncias sobre os rrial- tratos sofridos por crianas institucionalizadas. Har- low conseguiu mostrar que o calor materno tanto ou mais importante que o alimento materno. Porm, mostrou tambm que preciso muito mais que calor materno. Esta me de pano, que no reagia, nao acariciava, no mantinha contato visual, no emitia sons, no mostrava o certo e o errado, era uma me negligente.

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  • A negligncia caracterizada pela desateno, pela ausncia, pelo descaso, pela omisso ou, simplesmente, pela falta de amor. Estamos dedicando um captulo especialmente a este tpico porque a negligncia de pais ou daqueles que deveriam cuidar, como babs ou atendentes de crcche ou abrigos, e extremamente prejudicial criana. A negligncia considerada um dos principais fatores, seno o principal, a desencadear comportamentos anti-sociais nas crianas, est muito associada histria de vida de usurios de lcool e outras drogas e de adolescentes com comportamento infrator.

    N o experimento d e Harlow acima descrito fica fcil identificar a negligncia; porm, na maioria das vezes, ela ocorre de uma forma mais sutil. Sequer os envolvidos percebem que esto negligenciando seus filhos. Via de regra, a negligncia ocorre em famlias com pais muito ocupados, executivos que viajam muito, chegam cm casa tarde, cansados, sem disposio para manter um bom contato com seus filhos. Ou, ento, ocorrcm com mes que tm problemas conjugais, so depressivas, vivem em seu prprio m undo, no conseguem estabelece^ um dilogo ou prestar ateno s necessidades do filho.

    Em famlias de baixa renda, cujas mes trabalham o d^a todo e voltam noite para casa cansadas, irrita

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  • das, doentes, famintas ou com frio e encontram seus filhos, que foram cuidados pela vizinha ou filha mais velha, chorando, reclamando, pedindo, encontramos, com freqncia, um ambiente negligente. Essas mes, normalmente sem companheiros, esgotaram, ao longo do dia, sua energia e no conseguem atender s necessidades de seus filhos. Os filhos crescem sem que as mes saibam o que eles pensam, sentem ou gostam. A falta de interao, de vnculo afetivo positivo, de demonstrao de interesse gera a situao de negligncia.

    U m a cena clssica no cinema americano explorada tradicionalmente pelos diretores para demonstrar negligncia, abandono ou desinteresse de pais executivos ou muito ocupados. A cena apresenta o filho insistindo com o pai para que ele assista ao final do jogo de futebol; na seqncia, 6 visto o pai envolvido com atividades intransferveis, e, cm seguida, o filho, triste, olhando para um lugar vazio na arquibancada. Em filmes nos quais o diretor quer apresentar um final feliz, o pai chega atrasado e esbaforido, e o filho abre um largo sorriso de felicidade. Certa feita, perguntaram a vrias crianas sua definio de amor e uma delas respondeu: amor quando estamos apresentando um recital de piano e olhamos na plateia e nosso pai est sorrindo; s ele est sorrindo.

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  • A negligncia pode se dar em vrios nveis, desde os mais graves, como descritos acima, at os mais leves. Os psiclogos ou pedagogos tm dificuldade em identificar uma situao de negligncia familiar, pois os vestgios no so muito evidentes cm curto prazo. s vezes a famlia presenteia demais a criana, fala dela com preocupao, coloca muitas pessoas a seu servio, como bab, motorista, cozinheira, professora particular, professor de msica etc., e o profissional no consegue visualizar o descncadeador do problema. Todos estes cuidados podem ser totalmente adequados; no entanto, podem ser, tambm, insuficientes, caso venham sem a ateno, o afeto, o olhar carinhoso, o abrao, o real interesse de que tanto falamos no captulo anterior. Se os cuidados citados acima forem feitos por pais desatentos, distantes e desinteressados, estaremos caracterizando uma situao de negligncia.

    Vejam como difcil identificar a negligncia. Certa vez, fui visitar uma instituio e a responsvel pelo berrio, de maneira orgulhosa, disse-me: veja, professora, como nossas crianas so boazinhas. Eram cerca de vinte crianas em seus beros, que no balbuciavam, no sorriam e no ergueram seus braci- nhos para mim quando entrei na sala. Fiquei sem flego e me controlei pedindo para ver o banho. A

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  • atendente dava banho em uma delas, sem falar, sem cantar, sem sorrir, sem olhar nos olhos. Parecia um pacotinho que estava sendo lavado, embrulhado e guardado. O motivo de minha visita era a existncia de uma denncia de um nm ero excessivo de crianas com retardamento mental nessa instituio. No era de admirar. Tudo era feito para se obter este resultado. Ausncia total de estimulao e de afeto. Negligncia. Os responsveis acreditavam que estavam fazendo um bom trabalho. O melhor possvel.

    E muito maior do que se imagina o nmero de bebs que vivem em famlias negligentes. Poucos sabem que os efeitos causados pela negligncia so to severos quanto aqueles gerados pelo espancamento. Crianas negligenciadas e espancadas tornam-se adolescentes e adultos infratores, usurios de drogas, agressivos, enfim, com uma srie de condutas anti-sociais que inviabilizam a sua adaptao sociedade. A negligncia impede o desenvolvimento da au- to-estima, que o principal antdoto ao aparecimento do comportamento anti-social. A criana negligenciada insegura, seu olhar no tem brilho. Por no ter recebido o afeto que alimentaria seu ser, ela frgil. Pesquisadores encontram crianas negligenciadas se comportando e forma aptica ou agressiva, mas nunca de forma equilibrada.

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  • Mes depressivas, que demonstram desinteresse pelo que est ocorrendo a sua volta, nem apoiam e nem punem seus filhos. Em virtude de suas limitaes desconsideram as necessidades dos filhos deixando-os buscar no seu crculo familiar estendido ou nas relaes de amizade as respostas para suas inquietaes. Infelizmente, pesquisas recentes demonstraram que os pais no suprem as falhas educativas apresentadas por mes depressivas: eles atuam da mesma forma que elas, ou seja, de forma negligente. A criana desamparada pelo pai e pela me procura parentes, empregados, vizinhos e amigos para interagir. Algumas vezes consegue compartilhar sua vida cm outra esfera social, mas, muitas vezes, vtima da negligncia dos pais, crcsce sem amparo e sem ateno. O uso de drogas ou lcool, o comportamento violento ou a prostituio so formas encontradas pelos adolescentes negligenciados para reagir ao sofrimento causado por esta rejeio.

    A criana negligenciada cresce acreditando que e m, por isso ningum gosta dela. Seus comportamentos agressivos so desenvolvidos a partir desta crena. Sou m, ento fao o mal. Cxrta vez, atendendo a um garoto muito agressivo que estava interno por furto no Educandrio So Francisco, ouvi dele a seguinte histria: Minha me me jogou em

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  • um tanque de lavar roupa porque eu sou o capeta. Mae boa. Se ela me jogou fora porque sou mau. Por isso, bato nos outros.

    Muitos casos foram relatados pela literatura e por meio de filmes de crianas que viveram em isolamento. Foram trancadas em quartos, pores ou amarradas em rvores. Esses casos extremos de negligncia so os responsveis pelo desenvolvimento de psico- patas e serial killers (matadores em srie). Evidentemente que, em casos como estes, cm que se encontram crianas sendo torturadas, uma avaliao especializada da sanidade psicolgica dos pais deve urgentemente ser feita, e a criana encaminhada a um servio de proteo infncia. So casos que incluem os requisitos jurdicos necessrios para a cassao do ptrio poder. O Art. 395 do Cdigo Civil determina que Perder por ato judicial o ptrio poder o pai ou me que: 1) Castigar imoderadamente o filho; 2) O deixar em abandono; e 3) Praticar atos contrrios moral e aos bons costumes.

    Com o foi dito no captulo anterior, cuidar de seu beb, aliment-lo, brincar corri ele, acarinh-lo so atos naturais na espcie humana. Somos feitos para isto. s e no cuidarmos de nossos bebs de forma cai/inhosa porque srios problemas psicolgicos ocorreram em nossas vidas. E preciso trat-los urgentemente.

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  • Q uando se aprende com o erro, errar deixa dc ser uma experincia ruim e passa a ser uma situao a mais que nos ajuda a crescer. As situaes que podem, num primeiro momento, parecer desesperadoras, se olhadas do ponto de vista educativo seno capazes de fornecer vrios elementos que permitiro aos pais e filhos refletirem sobre valores morais. Diante de falhas consideradas graves pela famlia, como bater ou furtar o carro do pai, gazear aulas ou ainda reprovar o ano escolar, muitas vezes os educadores passam direto para a punio ou permanecem dando as famosas broncas sem ajudar a criana 011 adolescente a refletir sobre o ato cometido. A autocrtica essencial para a m udana comportamental. Permitir que o filho enxergue as conseqncias negativas do seu ato, que reflita sobre elas e perceba como evit-las no fu turo so procedim entos indispensveis no processo de amadurecimento desejado. Sempre que possvel, os pais devem

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  • encontrar formas para a recuperao do dano causado pelo ato inadequado: pagar o prejuzo com a mesada, fazer tarefas extras na casa, pedir desculpas etc. Estes procedimentos permitem a introjco de valores m orais e desenvolvem a empatia. As crianas precisam experienciar situaes em que os atos inadequados so apontados e suas conseqncias. Quando os maus comportamentos so seguidos por longas broncas e caras feias, o adolescente aprende que deve apenas deixar passar aquele mau momento, pois logo tudo voltar ao normal.

    Dizer com clareza quais os perigos do uso de drogas e de comportamentos sexuais de risco e mostrar os exemplos desastrosos que ocorrem diariamente sua volta so formas apropriadas de incutir valores. Os pais devem fornecer leituras, filmes ou outro tipo de material educativo sobre comportamentos de risco; precisam conversar francamente sobre o assunto. Porem, e fundamental que os exemplos sejam compatveis com os ensinamentos. A famosa frase faa o que eu digo, mas no faa o que eu fao no representa a conduta de um bom educador, alis, funciona exatamente ao contrrio. O filho, provavelmente, seguir o modelo do pai e no as suas palavras. No funcionar como exemplo educativo puxar aquele iiminho com os amigos no sbado noite e depois talar contra as drogas.

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  • Quando dizemos tal pai tal filho, estamos nos referindo a uma forma de aprendizagem, a de aprender segundo o modelo. Os filhos copiam o modelo fornecido por seus pais porque gostam deles e os admiram. Este processo acontece mediante a observao. As crianas podem observar o pai resolvendo um conflito com o vizinho. Por exemplo, o vizinho jogou lixo no quintal da sua casa. O pai vai casa do vizinho e explica o transtorno que esta sua atitude est causando visto que o vizinho poderia colocar o lixo em um lato na porta da casa e evitar problemas para todos. Caso o vizinho diga que foi a empregada ou suas crianas que fizeram isto, o pai pede que ele oriente sua famlia para que todos possam viver cm harmonia. Geralmente esta conduta pode ser suficiente, pois o vizinho perceber na atitude do pai que a sua disposio a de resolver de forma harmoniosa o problema. N o entanto, se a atitude for a de xingar o vizinho ou jogar lixo tambm na sua casa, certamente o conflito se estender por muitos meses, at desembocar em um possvel fmal violento. O filho aprender a se comportar de acordo com o modelo e os valores fornecidos pelos seus pais, ou ele aprende que a negociao uma forma para resolver p roblemas ou ele aprende que o certo olho por olho, dente por dente.

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  • A aprendizagem das condutas no trnsito e um excelente exemplo da imitao do modelo. Pais que gritam, esbravejam, fazem sinais obscenos para os outros motoristas esto ensinando s crianas como se comportar em situaes semelhantes no futuro, ou seja, de forma agressiva. importante lembrar que a literatura sobre agresso vasta e esclarecedora sobre este ponto. Violncia gera violncia. O ciclo da violncia comprovado cientificamente. As brigas no trnsito so causadas por pessoas desequilibradas cm situao de estresse que aprenderam a reagir de forma violenta a provocaes intencionais ou no. Muitas vezes o outro e apenas um barbeiro e no um mau elemento que est intencionalmente querendo prejudic-lo.

    Lembre-se que so valores morais que esto sendo passados aos seus filhos. Agir corri senso de justia, respeitando o direito dos outros, colocando-se no lugar do outro para tentar entender suas razes, uma excelente forma de evitar conflitos.

    A empatia, ou seja, colocar-se no lugar do outro para entender os sentimentos ou as razes dele, um dos atributos mais importantes do cidado civilizado. H preciso sriar situaes para que os filhos aprendam e desenvolvam a empatia. Quando a criana quer todos os brinquedos para si, deixando seu irmozinho

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    INDEX BOOKS GROUPS

    INDEX BOOKS GROUPS

    INDE

    X BOO

    KS G

    ROUP

    S

  • sem brincar, deve-se conversar com cia no sentido de faz-la se colocar no lugar do outro: