os objetivos de uma pessoa é não desistir nunca

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No semiárido baiano a agricultura familiar desenvolvida de forma orgânica é uma prática constante de muitos agricultores/as que buscam uma melhor qualidade de vida, alimentação saudável e a permanência no campo. No Território Piemonte da Diamantina, na Bahia, muitas famílias conseguem desenvolver este modo sustentável de agricultura com muito orgulho e disposição. Na Fazenda Caldeirão, no povoado do Junco, município de Jacobina, a 330 km de Salvador, na Bahia, mora um dos agricultores que trabalha com agricultura orgânica, Ademir Carmo da Cruz, 41 anos, e sua família. Ele voltou a exercer esta profissão, que herdou dos seus pais, há seis anos, desde que desistiu de buscar vida melhor nas capitais do sudeste e a encontrou aqui em na sua terra natal. Foram idas e vindas de trabalhos fora da terra até encontrar no cultivo e na venda de hortaliças a atividade que mais dá orgulho de ser agricultor e a que o mantém até hoje no campo. Antes de iniciar suas viagens para São Paulo, ele já trabalhou com roça de mamona e feijão. Ademir explica que tomou a decisão, de voltar e a montar hortas, quando percebeu que a riqueza que tinha na capital estava nas mãos dos outros. Assim como, entendeu também que tinha capacidade de produzir alimentos que via nos grandes mercados onde trabalhava. Com a terra e com a água no barreiro localizado na propriedade da família, não pensou duas vezes e resolveu voltar e ficar por aqui. Hoje a família produz hortaliças, leguminosas e outras culturas produzidas nos moldes da agricultura orgânica ao fazer uso e manejo do solo e da água de forma sustentável. E para enriquecer o solo de nutrientes e combater pragas o agricultor produz o composto e os defensivos orgânicos, utiliza cobertura morta e o sistema de gotejamento. Ademir explica que tem esta postura e prática na produção de alimentos devido aos conhecimentos que aprendeu nos cursos de formações realizados por diversas instituições sociais na região. Mas, pela falta de informação sobre modos adequados de produzir sem veneno e quais os males que estava causando para a sua saúde, das pessoas e a do meio ambiente, ele já usou agrotóxicos. E assim, de conhecimento em conhecimento ele vai crescendo a sua produção familiar de forma sustentável. “Depois que fui estudar para saber o que é colocar química na horta não utilizo mais”, explica Ademir. E mesmo com outras pessoas lhe aconselhando a utilizar adubo químico para aumentar Na foto, uma parte família de Ademir, o filho Adiel, ele e a esposa Bia Bahia Ano 5 | nº 164 | agosto | 2011 Jacobina-Bahia Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas “Os objetivos de uma pessoa é não desistir nunca” 1 A irrigação da horta de Ademir é feita pelo sistema de gotejamento, técnica que aprendeu nos cursos

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Page 1: Os objetivos de uma pessoa é não desistir nunca

No semiárido baiano a agricultura familiar desenvolvida de forma orgânica é uma prática constante de muitos agricultores/as que buscam uma melhor qualidade de vida, alimentação saudável e a permanência no campo. No Território Piemonte da Diamantina, na Bahia, muitas famílias conseguem desenvolver este modo sustentável de agricultura com muito orgulho e disposição.

Na Fazenda Caldeirão, no povoado do Junco, município de Jacobina, a 330 km de Salvador, na Bahia, mora um dos agricultores que trabalha com agricultura orgânica, Ademir Carmo da Cruz, 41 anos, e sua família. Ele voltou a exercer esta profissão, que herdou dos seus pais, há seis anos, desde que desistiu de buscar vida melhor nas capitais do sudeste e a encontrou aqui em na sua terra natal. Foram idas e vindas de trabalhos fora da terra até encontrar no cultivo e na venda de hortaliças a atividade que mais dá orgulho de ser agricultor e a que o mantém até hoje no campo. Antes de iniciar suas viagens para São Paulo, ele já trabalhou com roça de mamona e feijão.

Ademir explica que tomou a decisão, de voltar e a montar hortas, quando percebeu que a riqueza que tinha na capital estava nas mãos dos outros. Assim como, entendeu também que tinha capacidade de produzir alimentos que via nos grandes mercados onde trabalhava. Com a terra e com a água no barreiro localizado na propriedade da família, não pensou duas vezes e resolveu voltar e ficar por aqui. Hoje a família produz hortaliças, leguminosas e outras culturas produzidas nos moldes da

agricultura orgânica ao fazer uso e manejo do solo e da água de forma sustentável. E para enriquecer o solo de nutrientes e combater pragas o agricultor produz o composto e os defensivos orgânicos, utiliza cobertura morta e o sistema de gotejamento. Ademir explica que tem esta postura e prática na produção de alimentos devido aos conhecimentos que aprendeu nos cursos de formações realizados por diversas instituições sociais na região. Mas, pela falta de informação sobre modos adequados de produzir sem veneno e quais os males que estava causando para a sua saúde, das pessoas e a do meio ambiente, ele já usou agrotóxicos.E assim, de conhecimento em conhecimento ele vai

crescendo a sua produção familiar de forma sustentável. “Depois que fui estudar para saber o que é colocar química na horta não utilizo mais”, explica Ademir. E mesmo com outras pessoas lhe aconselhando a utilizar adubo químico para aumentar

Na foto, uma parte família de Ademir, o filho Adiel, ele e a esposa Bia

Bahia

Ano 5 | nº 164 | agosto | 2011Jacobina-Bahia

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

“Os objetivos de uma pessoa é não desistir nunca”

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A irrigação da horta de Ademir é feita pelo sistema de gotejamento, técnica que aprendeu nos cursos

Page 2: Os objetivos de uma pessoa é não desistir nunca

a produção, ele retruca dizendo que não vai utilizar, e justifica “nós estamos protegendo os clientes, nossa saúde e o solo também, pois todo mundo vai ficar doente, eu quero é zelar e não matar meus clientes”, argumenta.

Assim, ele produz alimentos suficientes para o consumo da família e comercializa na feira de um município vizinho, onde já tem a freguesia certa, sempre a espera dos alimentos orgânicos que ele leva, como a couve, alface, rabanete, agrião, rúcula, pimentão, pimenta, coentro, mamão, repolho, berinjela e outros.

Além da horta, a família tem uma pequena criação de ovelhas e galinhas. Para alimentar estes animais mantém uma roça de palma e com esta matéria prima conseguem garantir uma renda complementar, ao vendê-la para os vizinhos que precisam de ração animal.

Recentemente, a propriedade de Ademir recebeu a cisterna calçadão do Programa de Mobilização e Convivência com o Semiárido – Uma Terra e Duas Águas (P1+2), realizado pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) e executado pela Cooperativa de Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI), com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Com ela vieram cursos e, principalmente, informações e materiais para construir o canteiro econômico e várias mudas que vão ser plantadas no quintal. E com esta cisterna já há um novo planejamento para a propriedade, a de realizar o sonho de manter um pomar e construir o canteiro econômico, o que vai reduzir o consumo de água e aumentar a diversidade de alimentos para o consumo da família.

“Aconselho para os agricultores igual eu, vamos dar valor a nossa região, que a nossa região é rica e dá para a gente viver, só depende da gente. E através de um projeto como este [P1+2], agora é que a gente pode ficar por aqui”, aconselha Ademir.

Ademir explica que sua vida mudou para melhor depois que resolveu se dedicar a produção de forma orgânica. “No sentido financeiro já melhorou muito e na saúde não tem comparação, só em saber que você tá vendendo uma coisa de qualidade e você não tem aquela dúvida de está consumindo alimentos com veneno”, justifica.

O poeta

Ademir não tem só o dom de cuidar da terra, mas de criar versos sobre todo tipo de assunto que lhe provoca algum sentimento. Ele não sabe explicar de onde vem tanta criatividade para contar histórias em

prosas, informa que desde pequeno que descobriu que tinha esta habilidade e desde então não deixa de criar. Hoje não consegue contabilizar quantos versos já compôs. Desde que começou a participar das formações do P1+2 ele já escreveu três prosas sobre o projeto, o agricultor e os cursos.

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Ademir é uma parte da sua horta orgânica

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Bahia

Apoio:

Roça de palma que mantém para a ração animal e comerciliazação