os maias episódios da vida romântica

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PORTUGUÊS M8 Textos Narrativos/Descritivos e Textos Líricos

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Page 1: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

PORTUGUÊS M8Textos Narrativos/Descritivos e Textos Líricos

Page 2: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

OS MAIASEpisódios da Vida Romântica

Publicados em 1888

Page 3: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

EÇA DE QUEIROZ

Póvoa de Varzim, 1845Paris, 1900

Page 4: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Fixar o essencial

Page 5: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Geração de 70

foi também uma…

Problemática

Atitude mental

Interrogação sobre a

identidade nacional

Page 6: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

1.A Questão Coimbrã preparou terreno para o

aparecimento do Realismo, pois agitou as classes

cultas e políticas do país.

2.As “Conferências do Casino” inauguraram o

Realismo, lançando ao país os objetivos e as bases

da nova estética.

3.O realismo deve ser objetivo – o “eu” deve

distanciar-se e evitar a intromissão do sentimento.

Page 7: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

4.O realismo é uma nova expressão de arte. O Romantismo foi

a apoteose do sentimento, a expressão do individual; o

Realismo é a análise tendo em vista a verdade absoluta, a

representação mimética objetiva da realidade exterior, a

anatomia do caráter.

5.A literatura realista deve banir o excesso de sentimento e a

retórica oca e superficial, isto é, abandonar o Romantismo.

6.“É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos

próprios olhos […], para condenar o que houver de mal na

nossa sociedade.”

Page 8: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

7.O realismo deve aliar-se ao naturalismo; os romances são

construídos para provar determinadas teses, sobretudo o

determinismo que julgavam dirigir todos os comportamentos.

8.O realismo pretende a reforma social; é necessário criticar o

que está mal na sociedade: o ócio da alta burguesia, a

depravação do clero, a ignorância da classe política, a

educação retrógrada da juventude, os maus costumes, a

imoralidade, os vícios e as taras.

9.A obra literária deve ser o reflexo da realidade.

Page 9: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

A Ação

Page 10: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

A ação trágica

O desfecho anunciado, a força do

destino e os presságios

Guimarães simboliza o destino (Anankê) – o seu aparecimento

fortuito altera radicalmente a vida das personagens e origina o luto da

família Maia.

Page 11: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

DIMENSÃO TRÁGICA

Page 12: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Ação principalCarlos

vê Maria

Eduarda acompanhada

por Castro Gomes

Carlos declara a

sua paixão a

Maria Eduarda

e percebe

que é recíproca

Consumação do incesto

Guimarães revela a Ega a

identidade de

Maria Eduarda

Carlos realiza o incesto

de forma conscient

e

Afonso morre

Maria Eduarda

parte para Paris

Carlos Viaja pela

Europa durante 10 anos

Carlos volta a Portugal,

defendendo uma teoria de existência – o

fatalismo muçulmano

Page 13: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Ação Secundária

Pedro conhece

Maria Monforte

Namoro entre Pedro

e Maria

Casamento de Pedro da Maia e Maria Monforte,

ainda que contra a

vontade de Afonso – rutura

na relação pai/filho

Fuga de Maria Monforte com o

napolitano Tancredo, que Pedro ferira

involuntariamente e que

recolhera em sua casa (Maria leva consigo a filha e deixa

Carlos entregue ao marido)

Suicídio de Pedro

Page 14: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

PARALELISMO ENTRE AÇÃO PRINCIPAL E SECUNDÁRIA

Page 15: Os Maias   Episódios da Vida Romântica
Page 16: Os Maias   Episódios da Vida Romântica
Page 17: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

O Tempo - cronológico

1. Introdução (5 pp.): marco inicial da ação; o Ramalhete; Afonso.

2. Preparação (cerca de 85 pp.):a.juventude de Afonso;b.infância de Pedro;c.juventude, amores e suicídio de

Pedro;d.infância e educação de Carlos;e.Carlos estudante em Coimbra; f.primeira viagem de Carlos.

3. Ação (cerca de 590 pp.).

4. Epílogo (cerca de 27 pp.):a.viagem de Carlos e do Ega (1877-

78);b.cenas da estada de Carlos em

Lisboa, oito anos depois (1887).

Page 18: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

O tempo – histórico

3 GERAÇÕES DA Família MAIAGERAÇÃO DE AFONSO DA

MAIA

- A geração das lutas liberais e absolutistas (que opuseram D. Pedro a D. Miguel) e que

corresponde, na obra, à juventude de Afonso GERAÇÃO DE PEDRO DA MAIA

- A geração ultrarromântica, a que pertence Pedro da Maia e que sobreviverá na figura de

Alencar

GERAÇÃO DE CARLOS DA MAIA

- A geração do Portugal da Regeneração, aquela em que

Carlos se insere e que continua os ideais da 1ª

geração romântica, pela sua necessidade de renovação da sociedade portuguesa e pelo papel que é atribuído à

arte enquanto elemento dinamizador dessa

regeneração, após um período de estagnação

Page 19: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

O Espaço

Page 20: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

O Espaço

Page 21: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

O Espaço físico

• O Ramalhete• A Toca• A casa de Maria Eduarda• A Vila Balzac

A Casa Ramalhete não existe, mas é possível imaginá-la como seria nessa rua

Page 22: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

O Espaço social

Época da Regeneração

E

Meio social lisboeta

Figurantes Ambientes

Personagens planas Contraste ser/parecer

Page 23: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Figurantes

1. Tomás de Alencar – o Ultra-romantismo

2. Conde de Gouvarinho – o poder político

3. Cohen – o poder económico

4. Palma “Cavalão” e Neves – o jornalismo

5. Dâmaso Salcede – os vícios e os defeitos da Lisboa da Regeneração

6. Eusebiozinho – a educação à portuguesa

7. Cruges

8. Craft

9. Outros figurantes: Taveira (empregado no Tribunal de Contas/ócio); Sousa

Neto (representante da Administração Pública/mediocridade intelectual);

condessa de Gouvarinho (adultério)

Page 24: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Ambientes

Mais tarde abordados na Crítica S

ocial

Page 25: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

O Espaço psicológico

Page 26: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

AS PERSONAGENS

Page 27: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Personagens de maior evidência

1. Afonso da Maia

Afonso representa simbolicamente a integridade moral e a

retidão de caráter. Defensor dos ideias liberais durante a

juventude, Afonso é o reflexo de um passado áureo que

corporiza a incapacidade de regeneração do país. Vítima da

moral, Afonso sucumbe ao tomar conhecimento da relação

incestuosa do neto: Carlos da Maia.

Page 28: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Personagens de maior evidência

2. Pedro da Maia

Filho único de Afonso da Maia e de Maria

Eduarda Runa, simboliza a geração

ultrarromântica. Educado segundo os

valores tradicionais, baseados na

religião institucional, Pedro, de caráter

débil e melancólico, revelará a sua

incapacidade de reação perante a

adversidade, optando pelo suicídio.

Page 29: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Personagens de maior evidência

3. Maria Monforte

É uma mulher egocêntrica, amante do luxo do fausto, que

revela a sua insatisfação e o seu caráter volúvel ao abandonar

o marido e o filho.

Page 30: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Personagens de maior evidência

4. Carlos da Maia

Carlos é o protagonista da obra. Descrito como um jovem

cavaleiro da Renascença, Carlos da Maia representa o Portugal

da Regeneração que, apesar da enunciada revolução de

mentalidades, não consegue reinventar-se de acordo com os

ideias da Geração de 70. Dândi e diletante, Carlos sucumbe

rapidamente aos encantos da inatividade e acaba por ser

absorvido por uma vida social e amorosa que originará a

frustração das suas capacidades. Após a desilusão amorosa,

defende o fatalismo muçulmano como forma de sobrevivência.

Page 31: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Personagens de maior evidência

5. Maria Eduarda

Representa o arquétipo do feminino na sua

dupla aceção,

isto é, se, por um lado, Maria Eduarda alia a

perfeição física à faceta humanista que a

aproxima de Afonso (na opinião de Carlos),

por outro, simboliza o elemento feminino que

destruirá, definitivamente, o universo

masculino da família Maia.

Page 32: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Personagens de maior evidência

6. João da Ega

É o melhor amigo de Carlos e será também o mensageiro da verdade revelada

por Guimarães. Representa o intelectual dos grandes ideais que não chegam a

concretizar-se. Partidário do Realismo e Naturalismo, Ega é irónico, irreverente

e crítico da sociedade. Assume-se como dândi excêntrico e exuberante.

Page 33: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Outras personagens / personagens tipo

1. Castro Gomes – elemento catalisador da catástrofe ao introduzir Maria

Eduarda na sociedade portuguesa.

2. Craft – assume o seu diletantismo e ociosidade. Amante do belo, é um

símbolo da época em que vive.

3. Cruges – representa o músico idealista que tenta sobreviver na acefalia

nacional. É esmagado pela mediocridade do país.

4. Guimarães – tio de Dâmaso Salcede. É o depositário da desgraça da

família Maia, pois é ele que revela a identidade de Maria Eduarda.

5. Os Vilaça – procuradores da família Maia. Vilaça filho é o mensageiro da

desgraça, uma vez que substitui João da Ega na revelação da verdadeira

identidade de Maria Eduarda a Carlos da Maia.

Page 34: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Outras personagens

6. Tomás de Alencar – simboliza o ultrarromantismo, a estagnação

intelectual e a recusa das novas ideias. Defensor da moral e bons

costumes, é um elemento referencial do passado de Carlos, enquanto

representação da memória de Pedro da Maia.

7. Eusebiozinho – representa as vítimas da educação tradicional, que o

tornará influenciável e cobarde. Socialmente apagado e moralmente

fraco, opõe-se a Carlos desde a infância.

8. Conde de Gouvarinho – representa o Portugal velho e conservador.

9. Steinbroken – visão dos estrangeiros face à complexidade nacional.

10. Sousa Neto – representa a Administração pública. Ignorante e vaidoso.

11. Jacob Cohen – alta finança nacional. Vaidoso, não percebe a relação

adúltera da mulher com Ega.

12. Taveira – amigo dos Maia. Representa a ociosidade da aristocracia

nacional.

Page 35: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Outras personagens

12. Dâmaso Salcede – é a personagem mais execrável: mesquinho, cobarde,

egoísta e egocêntrico, simboliza o que há de pior na sociedade portuguesa.

13. Condessa de Gouvarinho – mulher fútil, que despreza o marido pela sua

precaridade económica. Paixão obsessiva por Carlos. Procura emoções fora do

casamento.14. Raquel Cohen – mulher romântica

que se entrega com paixão a uma

relação adúltera, mas que, na

realidade, ama o marido.

15. Palma Cavalão e Neves – meio

jornalístico parcial e corrupto.

Page 36: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

A Crítica social

Page 37: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Jantar no Hotel Central – Cap. VI- Tinha como objetivo homenagear Cohen, da parte de Ega, apesar de ser uma homenagem irónica, pois Ega andava a cortejar a mulher de Cohen.

- Apresentar Carlos à sociedade lisboeta.

- Durante as conversas entre os amigos, apercebemo-nos que Alencar defende o Romantismo, enquanto que Ega é um defensor do Realismo, achando que a realidade deve ser descrita tal como ela é.

- Craft não gostava do facto de o naturalismo expor a realidade das coisas num livro.

Page 38: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Jantar no Hotel Central – Cap. VI

- Para além de questões literárias, os amigos discutiram também política: Ega era um anarquista, que desejava que houvesse uma revolução provocada pela Bancarrota que se previa. Afastava-se da monarquia.

- Dâmaso revela-se um cobarde, pois admite que, no caso de uma revolução, fugiria para Paris. Há também um bajulamento de Dâmaso em relação a Carlos.

- Há uma conversa entre Carlos e Dâmaso sobre a Sra. Castro Gomes, a “bela senhora” que Carlos tinha visto à porta do Hotel Central. Dâmaso conta-lhe que é uma senhora chegada de Bordéus, residente em Paris.

- É feito um retrato de Portugal na altura: “Lisboa é Portugal! (…) Fora de Lisboa não há nada. O país está todo entre a Arcada e São Bento!...”

Page 39: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Corrida de Cavalos – Cap. X- Afonso achava que, para se ser um verdadeiro patriota, devia fazer-se uma tourada e não uma corrida de cavalos.

- Pretendia-se que estas corridas mostrassem uma sociedade civilizada e evoluída, no entanto há situações que revelam falta de civismo: há uma gritaria à porta do hipódromo, porque as pessoas não estavam habituadas a estes eventos.

- Crítica às corridas: visão caricatural – 1) o hipódromo parecia um palanque de arraial; 2) as pessoas não sabiam ocupar os seus lugares; 3) as senhoras traziam vestidos sérios de missa; 4) o bufete tinha um aspeto nojento; 5) a corrida termina numa cena de pancadaria; 6) as 3ª e 4ª corridas acabam de forma grotesca.

- Presságio de desgraça: Carlos tem sorte ao jogo, logo azar ao amor.

Page 40: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Corrida de Cavalos – Cap. X- Fracasso total dos objetivos das corridas de cavalos: radiografia perfeita do atraso da sociedade lisboeta; o verniz da civilização estalou completamente.

- Crítica às mulheres: ousadia da Gouvarinho em convidar Carlos para ir com ela a uma estalagem em Santarém.

- Contraste entre o SER e o PARECER: a sociedade lisboeta queria parecer civilizada, mas na realidade ainda era bastante provinciana.

Page 41: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Sarau na Trindade – Cap. XVI- Aparecimento de Guimarães

- Ausência da família real no Sarau

- Crítica a Rufino: “Anjo da esmola” revela falta de originalidade, recurso a lugares-comuns (coisas muito vistas)

- Encontro entre Ega e Guimarães para falarem sobre a carta de Dâmaso, que envergonhou toda a família

Page 42: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Sarau na Trindade – Cap. XVI- É neste momento que Guimarães faz uma revelação a Ega: diz que tem um cofre que, segundo a mãe de Carlos, de quem foi íntimo em Paris, tem documentos importantes. Pede então a Ega que entregue este cofre a Carlos ou à irmã, Maria Eduarda.

- Ega fica estupefacto com esta revelação e, incapaz de ser ele a revelar a verdade hedionda a Carlos, vai ter com Vilaça e conta-lhe toda a história sobre esta irmã de Carlos, de quem tomou conhecimento agora.

Page 43: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Episódio final – Cap. XVI- Conclusão do romance

- Adormecimento, estagnação de Lisboa e do país. Referência a 2 tipos de vadios: vadios mendigos e vadios ociosos. As pessoas estavam indiferentes ao progresso.

- Diferença entre o ser e o parecer: vestiam-se à moda mas ainda estavam muito atrasadas.

- Eça escolhe o Largo de Camões (Renascimento) para contrastar com a estagnação evidente em Portugal. Já o Chiado representa Portugal do presente.

- Crítica aos hábitos do povo: más-línguas e jogar às cartas.

- O Ramalhete está agora vazio e sem albergar os Maias – sinédoque do país, atingido pela destruição e abandono.

Page 44: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Episódio final – Cap. XVI- No final, Carlos e Ega acabam por concordar que não vale a pena correr por nada, “Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder…”

- No entanto, e por contraste, acabam os dois a correr para apanhar o elétrico.

Page 45: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

O NARRADORCiência: Omnisciente

Focalização: Interna

Page 46: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulos I e II

A ação do romance inicia-se no Outono de 1875, quando

Carlos já está formado em Medicina. O narrador procede a

uma analepse (recuo temporal) para dar a conhecer os

antecedentes de Carlos.

Recua 55 anos (1820). O discurso é muito menor que a

extensão da história, porque o narrador, sendo

omnisciente, recorreu a uma redução temporal, realizada

por sumários e elipses.

Page 47: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulos I e II…continuação

Durante a analepse são narradas duas histórias: a de Afonso

da Maia e a de Pedro da Maia. A 1ª tem dois objetivos:

apresentar dois espaços históricos, sociais e culturais (o

espaço miguelista a que se ligou Caetano da Maia e o espaço

liberal a que se ligou Afonso da Maia); mostrar Mª Eduarda

Runa presa a um catolicismo retrógrado e ligada a uma

misteriosa doença – doença e religião que a consumirão e

marcarão o seu filho, Pedro.

Page 48: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulos I e II…continuação

A história de Pedro da Maia e de Maria Monforte constitui a

intriga secundária, de índole naturalista. O percurso biográfico

e amoroso de Pedro só é explicável à luz dos fatores

naturalistas: raça, educação e meio.

Raça – paralelismo entre a mãe e o filho; Educação – a mãe

escolhe para ele uma educação dada por um padre, que lhe

impede o desenvolvimento físico, moral e intelectual, tornando-

o um “fraco em tudo”; Meio – ambiente moralmente baixo.

Page 49: Os Maias   Episódios da Vida Romântica
Page 50: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulos III e IV A educação de Carlos foi feita sob a orientação

do perceptor inglês Mr Brown, por ordem de

Afonso da Maia. Há claras diferenças entre os dois

tipos de educação presentes neste capítulo: à

portuguesa (Eusebiozinho) e à inglesa (Carlos). O

narrador, sempre crítico, opta pela educação à

inglesa.

Estamos perante dois modelos de país: um voltado

para o passado e outro voltado para o futuro.

Estudante em Coimbra, Carlos depressa mostrou a

sua tendência para o romantismo sensual,

entregando-se a duas ligações amorosas. Herança

do pai? Da mãe? Da ausência de educação moral

e religiosa?

Page 51: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulos III e IV…continuação Carlos liga-se, em Coimbra, aos mais revolucionários e sobretudo a

João da Ega, que será seu eterno amigo e confidente.

O narrador opta por uma caracterização indireta, fornecendo

apenas o essencial sobre Carlos, deixando para o leitor o papel de

completar a caracterização.Educação “à inglesa” - Carlos Educação “à portuguesa” - Eusebiozinho

Contacto com a naturezaExercício físico

Aprendizagem de línguas vivasRigor – método – ordem

Valorização da criatividade e juízo críticoSubmissão da vontade ao dever

Alma sã em corpo são - equilíbrio

Permanência em casaContacto com livros velhos

Aprendizagem de línguas mortasSuperproteção

Valorização da memorizaçãoSuborno da vontade pela chantagem

afetiva

Alma doente em corpo doente - sentimentalismo

Page 52: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

“Carlos partira para a sua longa viagem pela Europa. Um ano passou.

Chegara esse Outono de 1875: e o avô, instalado enfim no Ramalhete, esperava por ele ansiosamente.”

Fim da grande analepse

Page 53: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulos V e VI

Ociosidade – parasitismo social de quem consome e nada

produz, gastando o tempo em ócios supérfluos. Afonso da

Maia, Steinbroken (um embaixador inútil que passa a vida em

serões) e outros entregam-se ao jogo.

Carlos estava “indolente e bocejando” – verbo que caracteriza

os seus projetos. Ega abandonara os seus projetos também,

mais interessado no seu caso de adultério elegante com a

Cohen. Carlos e Ega são a projeção da ineficácia prática da

Geração Revolucionária de Coimbra e a frustração (ideal vs

realidade).

Page 54: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulos V e VI…continuação

O jantar no Hotel Central – “Episódios da Vida

Romântica”: retratar a sociedade lisboeta e apresentar

Carlos. Neste episódio desfilam perante Carlos os

principais protagonistas e problemas da vida social,

política e cultural da alta sociedade lisboeta: a crítica

literária, a literatura, a História de Portugal, as finanças

e a economia. Todos estes temas são objeto de

discussão que acaba em desacato, denunciando a

fragilidade moral dessa sociedade que pretendia

apresentar-se como civilizada.

Carlos vê pela 1ª vez “a sua deusa” e sonha com ela nessa

noite – dimensão onírica.

Page 55: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulos VII Três personagens em evidência: Carlos, Dâmaso e

Ega.

Carlos sente-se condenado ao diletantismo – o

meio empurra-o para a inatividade.

Carlos é uma personagem modelada: adensa-se,

divide-se entre a idealização amorosa da “deusa” e

o desejo sensual da Gouvarinho.

Dâmaso tenta colar-se a Carlos – o narrador

ridiculariza-o.

Ega escreve um artigo para a “Gazeta”, elogiando

Cohen, em estilo “emplumado e cantante” - Ega

contraditório.

Page 56: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulo VIII Viagem a Sintra: a busca (frustrada) da felicidade.

A viagem de Carlos a Sintra à procura de Maria Eduarda é

motivo para a apresentação de vários temas:

Viagem circular – eterno retorno

Dura 1 dia – brevidade do tempo, da vida, da relação

amorosa

Desilusão – indício da teoria de que nada vale a pena

Elogio do campo

Os contrastes: a “deusa” e as queijadas; a “deusa” e as

prostitutas espanholas

A desculpabilização do indivíduo para não fazer nada (típico

português)

O romantismo de Alencar vs o realismo de Cruges

Page 57: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulo IX Indícios negativos: dia amanheceu triste, Carlos sentia-se uma

ruína.

Dispersão espacial: Ramalhete, Hotel Central, casa dos Cohen,

Quinta do Craft, Aterro, Vila Balzac, casa dos Gouvarinhos.

Ritmo lento da intriga, mas que permite apresentar indícios

para a evolução da ação:

A espada de Ega (separação de Raquel)

O sofá (leito de amor)

Olhos da mãe negros (possível consanguinidade)

Baile de máscaras (oposição entre o ser e o parecer)

Exílio do Ega em Celorico de Basto (purificação no campo)

Page 58: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulo IX…continuação

Carlos visita Rosa

Carlos deixa-se arrastar pela Gouvarinho

– ambiguidade sentimental

Page 59: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulo X

Page 60: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulo X

As corridas de cavalos são o episódio onde é

caracterizada, de forma especial, a sociedade feminina

que vem no High Life. Tinham como objetivo dar à capital

uma atmosfera cosmopolita, idêntica a outras capitais

europeias. São criticados os seguintes aspetos: a

importação de modas estrangeiras e a incapacidade de

adaptação dos portugueses ao evento; inadequação dos

trajes à ocasião; o tédio e o desinteresse evidenciados

pelo público; a falta de desportivismo e a tendência para a

vulgaridade.

Page 61: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Capítulo X…continuação

As corridas terminam de forma grotesca e caricatural, pondo

a nu a contradição entre o ser e o parecer: imitação do que

se fazia lá fora (Londres, Paris). Estalar do verniz postiço da

civilização.

Indícios: Carlos é feliz no jogo – azar no amor; desilusão – não

encontra a “deusa”

O bilhete vindo da brasileira marca uma viragem definitiva no

curso da intriga.

Page 62: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

As corridas e a sociedade

Ela e Carlos

Visão caricatural:- O hipódromo,

improvisado, parecia um palanque real

- As pessoas não sabiam ocupar os seus lugares- As senhoras traziam

vestidos de missa- O bufete tinha um aspeto

nojento- A 1ª corrida terminou

numa cena de pancadaria

Provincianismo snob

- Ela não apareceu – desilusão

- Chegada da Gouvarinho- Sorte de Carlos no jogo- Dâmaso com notícias

dela.

Page 63: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Carlos em casa de Madame Castro Gomes,

Maria Eduarda: um percurso no interior e na

intimidade

A intriga começa agora!

Heróis: Carlos e Maria Eduarda. Oponentes:

Dâmaso e Afonso da Maia. Adjuvante: Ega.

O 1º encontro de Carlos com Maria Eduarda

está cheio de indícios: Nomes semelhantes,

3 lírios murchos = 3 gerações dos Maias, a

semelhança entre ela e o avô, entre outros.

Capítulo XI

Page 64: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Da Rua de S. Francisco para os

Olivais – a Toca: da declaração ao

incesto

Jantar em casa dos Gouvarinho.

Alvos visados: o conde de

Gouvarinho e Sousa Neto.

Objetivos: radiografar a ignorância

das classes dirigentes.

Capítulo XII

Page 65: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Superficialidade dos juízos dos mais destacados funcionários do

Estado: incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura.

A personagem central vai-se aprofundando na divisão interior:

mantem os encontros amorosos com a Gouvarinho e os amores

platónicos com Maria Eduarda. Vai cedendo cada vez mais ao

seu romantismo – nem ouve Maria Eduarda quando esta lhe

quer contar algo.

Carlos declara-se, dá-lhe o 1º beijo e aluga a casa no campo (a

Toca) para Maria Eduarda.

Capítulo XII…continuação

Page 66: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Os lugares que fazem evidenciar as ruturas:

No Ramalhete – Carlos recebe uma carta da Gouvarinho em

que se queixa de este ter faltado ao rendez-vos em casa da

titi, vendo nisso uma ofensa.

Para o Grémio pela Havanesa “O Dâmaso anda por aí, por

toda a parte, falando de ti e dessa senhora, tua amiga…A ti

chama-te “pulha”, a ela pior ainda.”

No Chiado – Carlos ameaça Dâmaso de lhe “arrancar as

orelhas”

Capítulo XIII

Page 67: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

A casa alugada nos Olivais a Craft por Carlos passa a ser o

espaço privilegiado da intriga.

São cada vez mais evidentes os indícios disfóricos desta relação:

os boatos baixos do Dâmaso, os insultos da Gouvarinho à

Brasileira, as múltiplas conotações negativas e trágicas do

espaço da Toca, o próprio nome dado à casa, etc.

Capítulo XIII…continuação

Page 68: Os Maias   Episódios da Vida Romântica
Page 69: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

A ida de Afonso para Santa Olávia favorece os amores de Carlos.

O avô continua a ser o espinho, a perturbação essencial desta

relação.

O plano da fuga de Carlos e Maria Eduarda está cheio de indícios

de desgraça pela semelhança já referida com o de sua mãe.

A noite do incesto involuntário: indício simbólico da tempestade.

Capítulo XIV

Page 70: Os Maias   Episódios da Vida Romântica

Carlos e Maria Eduarda visitam o Ramalhete numa espécie de

simbólica receção nupcial.

A semelhança entre Carlos e a mãe de Maria Eduarda simbolizam

a hybris (desafio).

As revelações de Castro Gomes funcionam como o indício da

anagnórise (reconhecimento): este declara que “aquela senhora”

não era a sua mulher, mas sim alguém a quem ele pagava em

troca de companhia.

A história de Maria Eduarda é, primeiramente, contada por

Melanie a Carlos e, depois, pela própria Maria Eduarda.

Capítulo XIV

Page 71: Os Maias   Episódios da Vida Romântica
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Na Toca: a história de Maria Eduarda. Nascera em Viena, que

pouco recordava; fora educada no convento, perto de Tours, até

aos 16 anos; depois no Parque de Monceaux, numa casa de jogo

e prostituição, sob o jugo de Mr. de Trevernnes; arruinada a mãe,

foi para Fontainebleau com Mac Gren; da ligação amorosa nasce

Rosa; rebentara a guerra com a Prússia e Mac Gren alistara-se;

partiu com a mãe para Londres e caíram na miséria; Mac Gren

morreu e voltaram a Paris, onde rebentou a Comuna; novamente

na miséria, foram salvas por Castro Gomes. ANALEPSE

Capítulo XV

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Na Toca: Carlos e Ega discutem e recordam planos. Carlos e Maria

Eduarda projetam: fugir para Itália, mas encontram o “espinho” do

avô; casar secretamente e apresentar o facto consumado ao avô.

Ega aconselha Carlos a esperar pela morte do avô.

O problema da Corneta do Diabo: Ega comprou toda a tiragem; Palma

Cavalão denuncia Dâmaso e, subornado, fornece as provas.

Capítulo XV…continuação

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Em casa de Dâmaso. Dâmaso, acovardado, escreve uma carta

rascunhada por Ega: desculpa-se com o argumento ridículo da

bebedeira crónica e hereditária.

No jornal “A Tarde”. Ega, furioso por ver Dâmaso e Raquel no S.

Carlos, decide destruí-lo utilizando a carta.

Capítulo XV…continuação

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O Sarau da Trindade, onde se dá a anagnórise da tragédia.

Oradores: Rufino – aclamado pelo público tocado no seu

sentimentalismo ainda muito romântico. Alencar – poeta

ultrarromântico, aclamado vivamente pelo público. Cruges –

fiasco total, o público preferia um fadinho de Lisboa.

Capítulo XVI

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Anagnórise: Ega – Guimarães – Largo

do Pelourinho

Ega pensa em empurrar tudo para o

Vilaça. Solução provisória: “Amanhã

logo se verá.”

Capítulo XVI

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A anagnórise é feita progressivamente: Ega revela o conteúdo do

cofre a Carlos, Carlos a Afonso.

A transgressão dura ainda 5 dias, o que vai contra a unidade de

tempo das tragédias.

Carlos comete incesto voluntário. O pathos instala-se a partir da

quarta noite quando Carlos toma consciência das consequências

dos seus atos. Carlos não se preocupa com qualquer problema

moral ou religioso, apenas sente um tédio mortal.

Capítulo XVII

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Afonso morre, no meio do jardim que

sempre amara: não resistiu a esta

desgraça. A catástrofe atinge mais

duramente o avô, em vez do transgressor.

Ega revela a Maria Eduarda o conteúdo dos

documentos do cofre. Esta é também

atingida pela catástrofe. Maria Eduarda

parte para Paris, numa situação que mais

se parece com um funeral.

Capítulo XVII…continuação

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DOIS PERCURSOS

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O Espaço – de Londres para a América. Ega e Carlos seguem para

Londres e depois para a América do Norte. Ega volta ano e meio

depois, reaparecendo no Chiado.

Carlos em Paris – Carlos instala-se em Paris, nos Campos Elísios,

fazendo a vida de um príncipe da Renascença.

O Tempo – nos fins de 1886. Elipse de 10 anos. No final de 1886

sabe-se que Carlos veio fazer o Natal perto de Sevilha.

Numa manhã de 1887 – os dois amigos, Carlos e Ega, reencontram-se

em Lisboa.

Capítulo XVIII

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Lisboa revisitada:

Largo de Camões – nada mudara. Camões triste (séc. XVI vs

séc. XIX). A mesmice, a estagnação, a ociosidade.

Pelo Chiado – as pessoas. Dâmaso, mais velho, casado e

traído; Craft, doente e alcoolizado; o Taveira sempre com uma

espanhola.

Capítulo XVIII…continuação

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Pela Avenida – os prédios velhos mas repintados, a nova

geração, ajanotada, ociosa, exibicionista e postiça, o

Eusebiozinho casado com uma mulher que o desanca, o

Cavalão tornado político, o Alencar – único português genuíno.

No Ramalhete – a passagem pelo Inferno: a catarse. Um ar de

claustro abandonado. No famoso jardim, a ferrugem cobria os

membros da estátua de Vénus Citereia, o cipreste e o cedro

envelheciam juntos, na cascata a gota caía gota a gota.

Ramalhete em ruína = Sinédoque de Lisboa / Portugal

Capítulo XVIII…continuação

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Completo fracasso de Carlos e Ega: foi o Romantismo que sempre os

arrastou para o fracasso dos seus projetos. O Romantismo será

sempre uma das causas do atraso do país.

Os 10 anos foram um tempo catártico necessário à purificação, visível

através da passagem pelo inferno do Ramalhete = Carlos corre em

busca da vida = nada é definitivo = Portugal tem hipóteses de

modificar a sua situação = final otimista do romance.

Não houve purificação ou catarse porque Carlos regressa ao ponto de

partida: o Hotel Bragança = corre apenas para satisfazer as

necessidades biológicas = Portugal não tem futuro = o Ramalhete em

ruínas prefigura-o = final negativo do romance.

Capítulo XVIII…continuação

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