o uso do twitter nos atentados terroristas em paris: como o jornalismo dialoga com as mídias...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI INSTITUTO INTERDISCIPLINAR DE SOCIEDADE, CULTURA E ARTE CURSO DE JORNALISMO LIDIANE LEITE MACÊDO ALMEIDA O USO DO TWITTER NOS ATENTADOS TERRORISTAS EM PARIS: como o jornalismo dialoga com as mídias sociais JUAZEIRO DO NORTE 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI

INSTITUTO INTERDISCIPLINAR DE SOCIEDADE, CULTURA E ARTE

CURSO DE JORNALISMO

LIDIANE LEITE MACÊDO ALMEIDA

O USO DO TWITTER NOS ATENTADOS TERRORISTAS EM PARIS: como o jornalismo dialoga com as mídias sociais

JUAZEIRO DO NORTE

2016

LIDIANE LEITE MACÊDO ALMEIDA

O USO DO TWITTER NOS ATENTADOS TERRORISTAS EM PARIS: como o jornalismo dialoga com as mídias sociais

Monografia apresentada ao Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri, como requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Jornalismo. Orientadora: Profª. Ma. Milene Madeiro de Lucena

JUAZEIRO DO NORTE

2016

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Cariri

Sistema de Bibliotecas

A447u Almeida, Lidiane Leite Macêdo. O uso do twitter nos atentados terroristas em Paris: como o Jornalismo dialoga com as

mídias sociais / Lidiane Leite Macêdo Almeida. – 2016. 81 f.: il. color., enc. ; 30 cm. TCC (Graduação) – Universidade Federal do Cariri, Instituto Interdisciplinar de

Sociedade, Cultura e Arte, Curso de Jornalismo, Juazeiro do Norte, 2016. Orientação: Profª. Me. Milene Madeiro de Lucena. 1. Redes Sociais. 2. Produção Jornalística - Twitter. 3. Comunicação. I. Título.

CDD 302.23

LIDIANE LEITE MACÊDO ALMEIDA

O USO DO TWITTER NOS ATENTADOS TERRORISTAS EM PARIS: como o jornalismo dialoga com as mídias sociais

Monografia apresentada ao Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri, como requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Jornalismo. Orientadora: Profª. Ma. Milene Madeiro de Lucena

Aprovada em ____ / ____ / ______ .

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________

Prof. Ma. Milene Madeiro de Lucena Universidade Federal do Cariri (UFCA)

___________________________________________________________

Prof. Me. Ricardo Rigaud Salmito Universidade Federal do Cariri (UFCA)

___________________________________________________________

Prof. Me. Alessandro Wilson Gonçalves Reinaldo Fernandes Universidade Federal do Cariri (UFCA)

AGRADECIMENTOS

Poderia escrever páginas e páginas para agradecer cada pessoa que me

aguentou durante esses cinco anos – divididos entre duas universidades, dois mundos

diferentes, amigos incríveis que tive a chance de conhecer e guardar para a vida. Paro

para pensar quantas vezes quis desistir e eles não me deixaram, porque acreditaram

na minha capacidade de chegar até aqui. Foram cinco anos de experiências que não

vou esquecer, livros que li, seminários que me deixaram com os cabelos em pé. Difícil

é descrever o que aprendi durante todo esse tempo, com certeza entregando cada

desafio nas mãos de Deus e pedindo paciência sempre.

Aos meus pais, Aélio e Célia, as pessoas mais importantes nesse processo.

Nunca me disseram o que fazer e sempre incentivaram as minhas escolhas, me dando

alternativas quando eu achava que tinha me perdido. Obrigada por investirem em mim

e me mostrarem o quanto é importante ter uma educação de qualidade. Vocês são a

minha luz no fim do túnel.

Ao meu irmão Artur que, em minhas fases mais estressantes, sempre tinha

alguma piada pronta para me fazer rir. Obrigada por completar minha existência. A

minha vó Leani, por ter me ensinado tanto mesmo sem nem se dar conta disso; por

ter feito com que minha infância fosse repleta de livros, poesias, histórias e sonhos.

Obrigada por ainda estar aqui.

Aos meus amigos de Fortaleza – Iara Sá, Thaís Holanda, Nícolas Brandolim,

Marília Ceres, Ana Beatriz Vieira, Ahynssa Thamir, Otelino Filho e Marina Freire, que

iniciaram essa jornada comigo, mas, infelizmente, não concluímos juntos; a amizade,

entretanto, continua. A eles, agradeço as risadas, os trabalhos mais divertidos e por

não me deixarem perder o meu sotaque.

Aos meus amigos da UFCA – Andressa Figueiredo, Felipe Azevedo, Alinne

Alcantara e Amanda Cruz; sem eles para me acompanharem todas as noites nas

aulas e nas reclamações, eu nem estaria aqui. Obrigada pela companhia, pelas ideias

e por acreditarem em mim, mesmo em meus piores momentos de desespero. Ao meu

caro amigo Antonio Pinheiro, por toda a ajuda que me deu na produção deste trabalho,

pelas sábias palavras e por ser um jornalista incrível com quem tive a chance de

trabalhar.

As minhas pessoas favoritas – Marcelo, Stella, Nunes, Kennedy e Jéssica –

que estão presentes em minha vida todos os dias. Obrigada pelo apoio, pelas risadas,

pelas brigas, pelas opiniões e por serem quem são.

Ao professor Ricardo Salmito, que me guiou no início deste trabalho e fez com

que eu acreditasse que conseguiria finalizá-lo. À minha querida professora e

orientadora, Milene Madeiro, ser humano maravilhoso que aceitou me acompanhar

nesta caminhada, me ensinando a cada leitura e observação, confiando em mim e

tendo paciência com meus e-mails enormes. Não poderia ter escolhido alguém

melhor.

Por fim, agradeço aos meus seguidores e amigos do Twitter, que assistiram

toda a saga da minha monografia, leram minhas centenas de lamentações e estiveram

comigo na alegria e na tristeza. Com certeza, eles me inspiraram e fizeram tudo

parecer mais divertido.

Sim, apontei para a fé e remei. E continuarei indo.

“Como um grupo de amigos contando o

que haviam feito naquela noite, cada um

sentado em um lugar, todos juntos, eles

conversavam. Tuitando.” (A Eclosão do

Twitter, Nick Bilton, 2013)

RESUMO O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre o papel do Twitter na colaboração para a produção jornalística atualmente, utilizando os atentados terroristas em Paris, em 13 de novembro 2015, como estudo de caso. Propõe ainda debater a respeito dos usuários de redes sociais como fonte de pesquisa para os jornalistas, funcionando ainda como colaboradores e não como opositores, já que algumas notícias são divulgadas em primeira mão na rede social. O Twitter, caracterizado como microblog, foi criado em 2006 e trouxe diversas modificações para o fazer jornalístico. Assim, buscou-se mostrar como as mídias sociais impactaram no jornalismo tradicional, tendo como base principalmente autores como Brambilla, Lévy, Marcondes Filho, Recuero, Shirky e Steganha. Por meio da seleção de quatro casos – o perfil @ParisVictims, trazendo as vítimas dos atentados; o perfil da jornalista independente @laysushi, que acompanhou em tempo real os acontecimentos; três tweets de mulçumanos que eram contra os ataques, publicados em matéria no portal da BBC Brasil; e, por último, o tweet postado por mulçumanos que diziam-se responsáveis pelo ato terrorista na capital francesa, publicado no site do Diário de Pernambuco – percebeu-se que o Twitter é ferramenta importante na produção e no compartilhamento de informações nos dias de hoje. Palavras-chave: Jornalismo. Twitter. Redes Sociais. Paris.

ABSTRACT

This paper has the purpose to reflect about Twitter in collaboration for the currently journalistic production, using the terrorist attacks in Paris on November 13, 2015, as a case study. It also proposes debate about the social network users as a source of research for journalists, still working as collaborators and not as opponents, as some news are reported firsthand on the social network. Twitter, characterized as microblogging, was established in 2006 and brought several changes to the journalistic working. Therefore, we tried to show how social media impacted on traditional journalism, based mainly authors like Brambilla, Lévy, Marcondes Filho, Recuero, Shirky and Steganha. Through the selection of four cases - the profile of @ParisVictims, bringing the victims of the attacks; the profile of @laysushi, independent journalist who followed the events in real time; three tweets of Muslims who were against the attacks, published on the website of BBC Brazil; and, finally, the tweet posted by Muslims who claimed themselves responsible for the terrorist act in the French capital, published in the Diário de Pernambuco website - it was realized that Twitter is an important tool in the production and sharing of information nowadays. Keywords: Journalism. Twitter. Social networks. Paris.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - O funcionamento da Web 2.0.................................................. 17

FIGURA 2 - Estatísticas globais acerca do uso da internet........................ 18

FIGURA 3 - O pássaro azul, símbolo do Twitter......................................... 36

FIGURA 4 - O primeiro tweet...................................................................... 37

FIGURA 5 - O perfil de Ev Williams no Twitter............................................ 41

FIGURA 6 - O reply..................................................................................... 43

FIGURA 7 - Exemplo de Hashtag............................................................... 44

FIGURA 8 - Símbolo do Retweet................................................................ 45

FIGURA 9 - Símbolo do curtir...................................................................... 46

FIGURA 10 - Página inicial do Twitter........................................................... 48

FIGURA 11 - Perfil do En mémoire............................................................... 53

FIGURA 12 - Elif Dogan, 26, Turquia............................................................ 54

FIGURA 13 - Guillaume Decherf, 43, França............................................... 55

FIGURA 14 - Richard Rammant, 53, França................................................ 55

FIGURA 15 - Mathias Dymarski, França...................................................... 56

FIGURA 16 - Primeiro tweet de Ushirobira sobre os ataques em Paris....... 59

FIGURA 17 - Tweet postado em tempo real, com imagem do metrô em

Paris........................................................................................ 59

FIGURA 18 - Uso da hashtag #paris para categorizar o tweet.................... 59

FIGURA 19 - Imagem em tempo real de Paris, postada às 22:50............... 60

FIGURA 20 - Tweet de @IngridMattson....................................................... 64

FIGURA 21 - Tweet de @raisadoon............................................................. 64

FIGURA 22 - Tweet de @DrUmarAlQadri.................................................... 65

FIGURA 23 - Tweet publicado no portal do Diário de Pernambuco............. 67

FIGURA 24 - Tweet publicado no perfil do Diário de Pernambuco...............68

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 10

2 REDES SOCIAIS E A COMUNICAÇÃO ...................................................... 15

2.1 O surgimento da Internet e a Web 2.0 ............................................ 15

2.2 Comunicação e o ciberespaço ........................................................ 19

2.3 O impacto das mídias sociais no Jornalismo .................................. 24

2.4 Definições e características das redes sociais ............................... 29

2.4.1 O Facebook ........................................................................ 33

3 O TWITTER .................................................................................................. 36

3.1 E do verbo fez-se o tweet ................................................................ 36

3.2 140 caracteres ................................................................................ 39

3.3 Por que tweetamos? ........................................................................ 47

4 ATENTADOS EM PARIS: O TWITTER COMO PLATAFORMA DE DIFUSÃO DE

INFORMAÇÃO ................................................................................................... 50

4.1 Contexto e repercussão nas redes sociais ..................................... 50

4.2 Análise de tweets ............................................................................. 51

4.2.1 @ParisVictims .................................................................... 52

4.2.2 @laysushi ........................................................................... 57

4.2.3 BBC Brasil .......................................................................... 62

4.2.4 Diário de Pernambuco ........................................................ 66

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 71

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 74

ANEXO A – REPORTAGEM DA BBC BRASIL .............................................. 78

ANEXO B – REPORTAGEM DO DIÁRIO DE PERNAMBUCO ...................... 81

10

1 INTRODUÇÃO

O jornalismo constantemente passa por diversas modificações na sua

produção devido o surgimento das novas tecnologias, que estão sempre se

atualizando e trazendo alterações para a rotina do jornalista. Do nascimento da escrita

à origem da Internet, a comunicação foi se adaptando às necessidades que surgiam,

de maneira que essas ferramentas são essenciais e indispensáveis nos dias de hoje.

A facilidade que os computadores e os celulares trouxeram para a vida das

pessoas mudou o modo que elas se comunicam entre si. Um telefone móvel não é

mais apenas um objeto qualquer que permite fazer ligação, mas é um instrumento do

dia a dia, permitindo registrar acontecimentos em primeira mão, como assaltos,

acidentes, tragédias naturais como terremotos, ou até mesmo um cachorro que anda

de skate e pode viralizar na web.

Com a internet, você não está apenas a um mero clique de distância da maioria das coisas que podemos imaginar; você também nunca está sozinho. Não importa o quão bizarro, inusitado, eclético ou até mesmo ilegal seja o seu gosto – em termos de sexo ou basicamente qualquer outra coisa -, sempre existirão outros como você do ouro lado, equipados com conselhos, fóruns, sistemas de encontro e discretos protocolos de segurança, conforme o necessário. Diga ao mundo o que você quer, e se houver alguém disposto a dar o que você deseja, é bem provável que a tecnologia irá colocá-los em contato. (CHATFIELD, 2012, p. 104)

Em fevereiro de 2009, um avião da Turkish Airlines transportando 134

passageiros caiu na Holanda e, segundo o portal G11, a foto do acidente aéreo foi

divulgada primeiramente no Twitter, além de informações sobre o acontecido. Outro

exemplo também foi um terremoto que ocorreu em Los Angeles, Califórnia, em 2008;

os usuários do microblog comentavam em tempo real os tremores que também

aconteciam em San Diego. O Twitter se mostra, assim, como um meio de

compartilhamento de notícias, principalmente em tempo real, onde os internautas têm

a chance de comentar, criticar, discutir e divulgar informações a respeito do que acham

interessante.

Por ser uma mídia que permite postagens de apenas 140 caracteres, o Twitter

pode parecer bastante limitado. Entretanto, é possível o uso de links dentro dessas

1Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1017557-5602,00-FOTO+DE+ACIDENTE+AEREO+NA+HOLANDA+APARECEU+PRIMEIRO+NO+TWITTER+DIZ+CNN.html> Acesso em: 15 de fevereiro de 2016.

11

mensagens, de maneira que, se o usuário tiver interesse maior no conteúdo, ele pode

ter acesso a mais informações. O microblog, como será mostrado no Capítulo 3, foi

criado com o objetivo de fazer com que as pessoas dissessem umas às outras o que

estavam fazendo, o que estava acontecendo. A sua limitação no tamanho das

postagens mostra que o Twitter é uma ferramenta ideal para quem quer uma

informação mais ágil e objetiva. Em sua coluna no portal do O Globo2, a jornalista

Cora Rónai afirma que o Facebook e o Twitter se diferenciam no quesito

temporalidade. “Tuítes têm vida muito curta: ou são vistos assim que vão ao ar, ou

caem no vazio. O que se escreve no Facebook, ao contrário, tem uma permanência

muito maior; há textos e imagens que vão e vêm indefinidamente, às vezes durante

anos”. O Twitter aparece, assim, como uma nova forma de comunicar para além dos

meios já existentes.

Hoje, é pouco provável os jornalistas realizarem uma pesquisa sobre suas

fontes ou assuntos a serem tratados sem acessar a Internet. Percebe-se, então, que

há a necessidade de existir uma relação mais próxima entre os internautas e os

profissionais do jornalismo. Portanto, este trabalho de conclusão de curso tem o

objetivo de entender de que forma o Twitter modifica o trabalho dos profissionais

jornalistas, através da colaboração dos usuários e das mudanças nas rotinas de

produção, e ainda se contribui para assegurar a credibilidade no repasse das

informações.

A metodologia escolhida foi Estudo de Caso. Diante das definições com

respeito a esse processo, Yin (2005) explica que nesse tipo de pesquisa o investigador

busca responder questões “como” e “por que”, “quando o foco se encontra em

fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real” (YIN, 2005, p.

19). Logo,

[...] utiliza-se o estudo de caso em muitas situações, para contribuir com o conhecimento que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupo, além de outros fenômenos relacionados. [...] o estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real [...]. (YIN, 2005, p. 20)

Dentre as características, podemos citar principalmente os meios utilizados

para o recolhimento dos dados, como reportagens, tweets e também a própria

2Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/twitter-ou-facebook-15899921> Acesso em: 15 de fevereiro de 2016.

12

pesquisa bibliográfica (aqui, o uso de diversas fontes para o estabelecimento das

hipóteses e análises). Esse tipo selecionado de estudo de caso – com o intuito de

avaliar como o jornalismo e as mídias sociais mantêm um diálogo – utiliza tanto

pesquisas históricas, quanto revisão de literatura. Neste trabalho, trouxemos o

surgimento da Internet e das Redes Sociais e, brevemente, como o jornalismo foi se

adaptando a isso ao longo do tempo (Capítulo 1). Além disso, buscamos mostrar a

evolução gradual do Twitter (Capítulo 2) e suas atualizações.

[...] o poder diferenciador do estudo de caso é sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidências – documentos, artefatos, entrevistas e observações – além do que pode estar disponível no estudo histórico convencional. (YIN, 2005, p. 27)

Como não existe um roteiro definido para a elaboração do estudo de caso, este

trabalho foi dividido em quatro fases: 1) delimitação do caso; 2) seleção dos objetos;

3) análise dos objetos e 4) elaboração do trabalho final. Posto isso, observam-se as

vantagens desse tipo de metodologia para esta monografia: desenvolvimento de uma

pesquisa mais aprofundada, incentivando novas descobertas, além de permitir uma

análise mais significativa dos objetos e de como eles se relacionam.

Para isso, o caso escolhido foram os atentados terroristas que ocorreram em

Paris, em 13 de novembro de 2015. Para análise, foram selecionados quatro casos,

representados por dois perfis e dois tweets publicados por fontes diferentes, mas que

nos permitem investigar o entrelaçamento entre o Twitter e jornalistas ou empresas

de comunicação, na cobertura do acontecimento: 1) @ParisVictims, perfil criado pela

Mashable, uma empresa jornalística, representa as novas frentes do jornalismo

convencional nas mídias sociais; 2) @laysushi, perfil da jornalista Lays Ushirobira,

representando o jornalismo independente dentro de uma rede social (já que ela não

está ligada a nenhuma instituição/empresa); 3) Três tweets que foram postados no

portal da BBC Brasil, para mostrar como o jornalismo tradicional utilizou o Twitter como

fonte para sua matéria; 4) Tweet em que o Estado Islâmico comemora os ataques à

Paris, divulgado no portal do Diário de Pernambuco (pelas pesquisas realizadas, o DP

foi o único site encontrado que tem a imagem do tweet oficial, escrito em árabe e sem

tradução), representando mais uma vez como a mídia social pode ser fonte do

jornalismo.

Os quatro casos foram selecionados para avaliação devido à repercussão dos

atentados no Twitter. Em pesquisas realizadas sobre o tema na internet, esses quatro

13

objetos se sobressaíram por serem citados em diversas reportagens. Durante o

acontecimento, usuários e jornalistas estavam alerta para as notícias mais recentes,

divulgando e compartilhando informações. Quando ocorreram, os atentados se

tornaram notícia tanto nos veículos de comunicação tradicionais, quanto nas mídias

sociais; inclusive, a hashtag #PrayForParis (#RezePorParis), ficou entre os primeiros

mais comentados nos Trending Topics mundial no Twitter3. Dessa maneira, consegue-

se enxergar a relevância do tema para um trabalho acadêmico, e ainda perceber a

recepção das redes sociais através das manifestações dos usuários. Dessa maneira,

foram escolhidos quatro objetos diferentes por terem alguma relação com o

jornalismo, de maneira a serem utilizados como base para análise.

Assim, esta monografia foi dividida em três capítulos que se complementam em

suas explanações. Para a primeira parte, discussão sobre o surgimento da Internet,

baseando-se nas explicações de Castells (1999; 2003), relata-se sobre o contexto em

que ela apareceu e como foi evoluindo até chegar ao que hoje é chamado de Web

2.0. Logo após, segue a comunicação e o ciberespaço, adotando como base os

conceitos de Lévy (1999) a respeito da Cibercultura, de maneira a compreender como

o universo virtual impacta no ato de fazer comunicação. Após essas definições, faz-

se um breve apanhado sobre a evolução do Jornalismo até chegar na era das

tecnologias, focando no impacto das mídias sociais nessa área da Comunicação

Social, tendo como princípios os estudos de Marcondes Filho (2009) e Moherdaui

(2002). Por fim, as redes sociais serão estudadas, tendo como fundamentais autores:

Recuero (2009; 2011), Brambilla (2011), Boyd e Ellison (2007), entre outros estudiosos

da área. O que são as redes sociais, como elas são estruturadas, além de fazer um

breve histórico sobre o Facebook, já que, de certa forma, ele possui algumas

semelhanças com o Twitter, objeto de estudo deste trabalho.

De acordo com Boyd e Ellison (2007, p. 211, tradução nossa): “O que faz dos

sites de rede social únicos não é que eles permitam que os indivíduos conheçam

estranhos, mas sim que eles permitem que os usuários articulem e tornem visível suas

redes sociais.”4 Compreende-se, assim, que o fato de o Twitter permitir que as

pessoas criem perfis públicos e interajam por meio deles, faz com que o microblog

3Disponível em: <http://m.mdemulher.abril.com.br/estilo-de-vida/m-trends/prayforparis-internet-se-comove-apos-atentados-simultaneos-na-capital-francesa> Acesso em: 15 de fevereiro de 2016. 4What makes social network sites unique is not that they allow individuals to meet strangers, but rather that they enable users to articulate and make visible their social networks.

14

esteja inserido no conceito de site de rede social. Dessa maneira, o segundo capítulo

traz o aparecimento e a evolução do Twitter, de tal forma que será explicado cada

elemento que compõe a plataforma. Para o primeiro tópico, como surgiu o Twitter: a

ideia inicial, o conceito, os criadores etc. Posteriormente, a estrutura do site. Por fim,

um questionamento: por que tweetamos?

Com a análise final no último capítulo, observamos que o jornalismo ganhou

um aliado com os usuários de redes sociais, destacando-se aqueles internautas que

estão presentes no Twitter. São essas adaptações que mostram como uma função

complementa a outra, permitindo que o público participe da produção jornalística e da

apuração da notícia.

15

2 REDES SOCIAIS E A COMUNICAÇÃO

A Internet, desde o seu surgimento, passa por frequentes mudanças a cada

dia. O que na sua origem servia apenas para fins militares, hoje abrange a

comunicação como um todo, trazendo os usuários para dentro do mundo virtual de

maneira que possam realizar seus trabalhos com mais facilidade e se tornarem mais

próximos um do outro, mesmo a quilômetros de distância. Essas inovações

tecnológicas revolucionaram o conhecimento, visto que dentro da rede é possível

encontrar todo tipo de informação. Para entender isso e, principalmente, para saber

como essas redes são essenciais no compartilhamento de informações, é preciso

conhecer de que modo a Internet apareceu e revolucionou o contato entre os

indivíduos, tema que será analisado a seguir.

2.1 O surgimento da Internet e a Web 2.0

A Internet surge no contexto da Guerra Fria, entre as décadas de 1960 e 70,

com a rede de computadores Arpanet. A missão da ARPA (Advanced Research

Projects Agency), criada em 1958, era “mobilizar recursos de pesquisa [...] com o

objetivo de alcançar superioridade tecnológica militar em relação à União Soviética na

esteira do lançamento do primeiro Sputnik em 1957” (CASTELLS, 2003, p. 13).

No início, o que se procurava era fazer uma conexão entre os mais importantes

centros universitários de pesquisa americanos e o Pentágono, de modo que, além de

troca de informações rápidas e protegidas pela rede, o país também teria uma

tecnologia que permitiria o armazenamento e a sobrevivência de informações caso

acontecesse uma guerra nuclear. Entretanto, não se pensava que a Internet se

tornaria o que é atualmente: uma rede de computadores, conhecimento e

comunicação. Castells (2003, p. 15) explica que:

No início da década de 1990 muitos provedores de serviços da Internet montaram suas próprias redes e estabeleceram suas próprias portas de comunicação em bases comerciais. A partir de então, a Internet cresceu rapidamente como uma rede global de redes de computadores. O que tornou isso possível foi o projeto original da Arpanet, baseado numa arquitetura em múltiplas camadas, descentralizada, e protocolos de comunicação abertos. Nessas condições a Net pôde se expandir pela adição de novos nós e a reconfiguração infinita da rede para acomodar necessidades de comunicação.

16

Pinho (2003) conta que em 1990 a Arpanet foi encerrada, fazendo nascer a

Internet. Em dezembro desse mesmo ano o cientista da computação e físico britânico

Tim Berners-Lee criou a rede mundial, o World Wide Web (WWW), lançado na Net

apenas em agosto de 1991 que, segundo Castells (2003, p. 17), foi “o que permitiu à

Internet abarcar o mundo todo”.

Em 1993, os meios de comunicação e o mundo dos negócios descobrem a Internet, enquanto a ONU inaugura sua página na rede, no endereço http://www.un.org. A Casa Branca monta o seu site [...] e divulga o endereço eletrônico do presidente dos Estados Unidos [...]. Os indicadores são espantosos: o tráfego na WWW cresce a uma taxa anual de 341,64%. O número de hosts da Internet dobra em um ano, atingindo 2 milhões em 1993 [...]. (PINHO, 2003, p. 34)

Depois disso, hackers de todos os lugares do mundo inspiraram-se para

desenvolver seus próprios navegadores, de modo que, em 1995, foi a vez da Microsoft

adentrar a esse ramo, juntamente ao seu software do Windows 95. O Internet Explorer

(IE) foi líder de mercado, mas acabou perdendo espaço para alguns concorrentes de

peso, principalmente o Google Chrome. Em 1996, já existiam aproximadamente 80

milhões de usuários conectados em cerca de 150 países (PINHO, 2003).

Castells (2003, p. 19) conclui, assim:

Embora a Internet tivesse começado na mente dos cientistas da computação no início da década de 1960, uma rede de comunicações por computador tivesse sido formada em 1969, e comunidades dispersas de computação reunindo cientistas e hackers tivessem brotado desde o final da década de 1970, para a maioria das pessoas, para os empresários e para a sociedade em geral, foi em 1995 que ela nasceu.

Ou seja, apesar de ter surgido nos anos 1960, foi somente 35 anos depois que

a Internet tornou-se conhecida e, diga-se de passagem, começou a ser acessível para

os cidadãos. Com isso, sua evolução começa a acelerar, de maneira que se inseriu

na rotina diária dos indivíduos como um meio de comunicação, para além dos já

existentes como a TV, o rádio e veículos impressos. Através dessa expansão, a

Internet trouxe para a vida das pessoas a facilidade de realizar pesquisas, atividades,

contatos, sem precisar sair de casa. Rüdiger (2011) concorda com Castells ao dizer

que as mídias digitais interativas deixaram de ser meios de comunicação no sentido

tradicional, de modo que o que ele chama de “clientes da velha mídia” estão

abandonando a sua característica de sujeitos de recepção e tornando-se criadores de

conteúdo.

17

O termo Internet foi cunhado com base na expressão inglesa “INTERaction or INTERconnection between computer NETworks”. Assim, a Internet é a rede das redes, o conjunto de centenas de redes de computadores conectados em diversos países dos seis continentes para compartilhar a informação e, em situações especiais, também recursos computacionais. As conexões entre elas empregam diversas tecnologias, como linhas telefônicas comuns, linhas de transmissão de dados dedicadas, satélites, linhas de microondas e cabos de fibra óptica. (PINHO, 2003, p. 41)

Em consequência disso, aparece a Web 2.0, termo criado pelo estudioso Tim

O’Reilly em outubro de 2004 para descrever a segunda geração da World Wide Web.

Segundo Moreira e Dias (2009), o que mais se destaca na Web 2.0 é o envolvimento

dos indivíduos no processo de desenvolvimento. Como visto na Figura 1, antes da

Web 2.0, apenas o produtor de conteúdo era responsável em compartilhar a

informação na Web; agora, tanto ele quanto os usuários se responsabilizam por essa

tarefa. A Web 2.0 torna-se uma Web Social, voltada para a colaboração, participação

e descentralização. Primo (2007, p. 1) reafirma essa ideia ao dizer que:

A Web 2.0 é a segunda geração de serviços online e caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo. A Web 2.0 refere-se não apenas a uma combinação de técnicas informáticas [...], mas também a um determinado período tecnológico, a um conjunto de novas estratégias mercadológicas e a processos de comunicação mediados pelo computador.

Figura 1 – O funcionamento da Web 2.0

Fonte: https://cienciadoispontozero.files.wordpress.com/2009/11/webxweb22.png

Acesso em: 11 de novembro de 2015.

Assim, os usuários fazem parte do sistema e têm maior disponibilidade para

acessar e interferir nesse meio. Eles se tornam produtores do conteúdo, deixando de

18

lado apenas o sentido de consumidor e aderindo à característica de criador. Na

segunda geração da Web, essas informações deixaram de ser armazenadas somente

no computador pessoal do usuário; agora, é possível deixá-las arquivadas na rede.

[...] o usuário que produz o conteúdo, deixando de ser apenas consumidor de informação e passando a ser o agente construtor, formando assim uma comunidade, garantindo a credibilidade das informações publicadas, e a disseminação do conteúdo. (MOREIRA; DIAS, 2009, p. 5)

De acordo com o relatório Digital, Social & Mobile in 2015 (Figura 2), divulgado

em janeiro de 2015 e produzido pela agência de marketing social We are the media5,

42% da população mundial encontra-se ativa na internet, o equivalente a 3.038 bilhões

de usuários, incluindo conexões fixas e móveis. Além disso, 29% têm contas ativas

nas mídias sociais, levando em consideração o número de contas e não apenas o

número de usuários.

Figura 2 – Estatísticas globais a respeito do uso da internet.

Fonte: http://wearesocial.net/blog/2015/03/digital-social-mobile-apac-2015/

Acesso em: 11 de novembro de 2015.

No Brasil, ainda conforme a pesquisa, 54% da população total têm acesso à

internet – um total de 110 milhões de brasileiros – e 47% (96 milhões) possui contas

ativas em redes sociais. O resultado da análise mostra que o número de usuários

5Disponível em: <http://wearesocial.net/blog/2015/03/digital-social-mobile-apac-2015/> Acesso em: 04 de junho de 2015.

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globais da internet cresceu cerca de 28 milhões nos últimos dois meses e, além disso,

tendências globais atuais indicam que cerca de meio milhão de pessoas têm acesso

a um aparelho móvel todos os dias.

Neste cenário de Web 2.0, participação ativa dos cidadãos no meio virtual, entre

outras características, pode-se afirmar que o e-mail foi uma das primeiras formas que

o sujeito encontrou para comunicar-se com outros, de modo que não necessitava de

contato físico ou via telefone. O problema do e-mail é que pode ou não haver uma

resposta imediata, diferente dos sites de redes sociais, que permitem uma

conversação instantânea. Além do e-mail, os blogs ganharam destaque por serem

espaços onde os indivíduos compartilhariam informações ou posicionamentos

críticos, para serem lidos por outros que também se encontravam no ambiente on-

line. As redes sociais também se tornaram relevantes nesse contexto, permitindo que

os seus usuários interagissem entre si, necessitando apenas de uma conexão com

uma ou mais redes.

2.2 Comunicação e o ciberespaço

Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informática. As relações entre os homens, o trabalho, a própria inteligência dependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação, aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais avançada. Não se pode mais conceber a pesquisa científica sem uma aparelhagem complexa que redistribui as antigas divisões entre experiência e teoria. (LÉVY, 2004, p. 4)

O homem é um produto do meio em que vive e, consequentemente, transforma

esse meio. Conforme novas tecnologias vão surgindo, mais faz-se necessário que ele

se adapte a elas. Hoje, pessoas possuem uma necessidade quase física de estarem

ligadas aos seus computadores, celulares e outros dispositivos digitais. O que se

percebe é que essas ferramentas facilitaram e bastante o modo de viver no século

XXI, através das possibilidades de comunicação, entretenimento e até de suas ações

políticas e econômicas. O ato de comunicar não quer dizer propriamente que um

indivíduo vai fornecer algo novo a outro, mas mostra que eles estabelecem alguma

relação.

Seria a transmissão de informações a primeira função da comunicação? Decerto que sim, mas em um nível mais fundamental o ato de comunicação define a situação que vai dar sentido às mensagens trocadas. A circulação de

20

informações é, muitas vezes, apenas um pretexto para a confirmação recíproca do estado de uma relação. (LÉVY, 2004, p. 13)

Dessa maneira, é indispensável deixar claro as diferenças entre comunicar e

informar. Como já foi dito e Wolton (2012) enfatiza, o homem sempre teve a

necessidade de se comunicar e de se relacionar com os outros. Conforme a versão

on-line do dicionário Michaelis, comunicar significa “1 Fazer saber; participar [...] 2 Pôr

em contato ou ligação; ligar, unir [...] 3 Tornar comum; transmitir [...] 4 Propagar-se,

transmitir-se [...] 5 Pegar por contágio [...] 8 Conferenciar, falar [...] 9 Corresponder-se,

ter relações. [...]”6 e informar denota à “1 Dar informe ou parecer sobre [...] 2 Dar

informação a, dar conhecimento ou notícias a; avisar [...] 3 Contar, participar

[...] 4 Tomar conhecimento de; inteirar-se [...]”7. Marcondes Filho (2009) explica que,

em seu sentido tradicional, a comunicação é o ato de trocar mensagens para

estabelecer uma ligação com alguém, como também é a transmissão de informações,

mas que precisa levar em consideração o contexto em que é apresentada. A

informação, entretanto, não aceita a intrusão do indivíduo na mensagem que ele

repassa.

O jogo da comunicação consiste em, através de mensagens, precisar, ajustar, transformar o contexto compartilhado pelos parceiros. Ao dizer que o sentido de uma mensagem é uma "função" do contexto, não se define nada, já que o contexto, longe de ser um dado estável, é algo que está em jogo, um objeto perpetuamente reconstruído e negociado. Palavras, frases, letras, sinais ou caretas interpretam, cada um à sua maneira, a rede das mensagens anteriores e tentam influir sobre ó significado das mensagens futuras. O sentido emerge e se constrói no contexto, é sempre local, datado, transitório. A cada instante, um novo comentário, uma nova interpretação, um novo desenvolvimento podem modificar o sentido que havíamos dado a uma proposição (por exemplo) quando ela foi emitida (...). (LÉVY, 2004, p.13)

Entende-se que, como o autor explicou, as mensagens e seus significados

passados de um emissor para um receptor vão ser modificados ao longo do caminho,

dentro do processo de comunicação. Wolton (2012, p. 30) ainda levanta alguns

questionamentos sobre essa necessidade do homem de se comunicar, interrogando

sobre um ponto importante: “[...] todas estas tecnologias da comunicação, para fazer

o quê?”. Sabe-se que a história da comunicação data-se desde tempos imemoriais,

6Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=comunicar> Acesso em: 09 de novembro de 2015. 7Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=informar> Acesso em: 09 de novembro de 2015.

21

quando os indivíduos começaram a viver em um tipo de sociedade e foram

aprendendo aos poucos como se comunicar entre si, através de desenhos nas

paredes, gestos, depois a fala, até o aparecimento da escrita e, em seguida, dos meios

de comunicação modernos.

A revolução da comunicação engloba tudo por onde passa, integrando cada vez mais serviços, abrindo possibilidades de interação em todas as direções. Ontem, as coisas eram simples: o que dependia do telefone era diferente do que dependia do rádio e da televisão, e distinto do que concernia ao computador. Os terminais diferentes remetiam a atividades diferentes, a áreas diferentes, a culturas diferentes. Amanhã, ao contrário, tudo estará disponível no mesmo terminal. (WOLTON, 2012, p. 94)

Nota-se, portanto, que o homem inventou e aperfeiçoou as tecnologias da

informação e da comunicação com o objetivo de preservar sua identidade cultural,

onde estão inclusos seus valores e crenças. Como Castells (1999, p. 449) afirma, “as

pessoas moldam a tecnologia para adaptá-la a suas necessidades”. Antes das

inovações tecnológicas trazidas pela criação dos computadores, todo conhecimento

e informação acumulados pela sociedade, para serem repassados, precisavam de

grandes esforços, como transporte físico, de carros, trens ou navios. Hoje, um

documento importante é facilmente enviado via e-mail ou uma foto pode ficar

guardada na memória do celular.

Com os novos meios que vingam na web, não existem fronteiras. Na sua maioria, estes meios não são institucionalizados: pertencem a quem neles participa. Surgem assim novas formas de expressão e comunicação que têm influência nas relações sociais e nos processos de produção, reprodução, construção, reconstrução e representação da realidade. (RODRIGUES, 2006, p. 10)

De acordo com Lemos (2005), a Cibercultura aparece junto ao surgimento da

informática, mas consolida-se com a popularização da internet e da tecnologia virtual.

Capobianco (2010, p. 187) explica, assim, que:

A palavra deriva-se e amplia a noção de cultura, logo, é importante ressaltar que a cultura digital é evolução natural da cultura produzida pelas sociedades, diferenciada pelo fato dos dados estarem armazenados em um mesmo lugar desterritorializado, acessível à maioria das pessoas e que oferece possibilidade de socialização e comunicação por meio de recursos técnicos diferenciados como: e-mails, chat, fórum, wiki e outros.

Lévy (1999, p. 22) conceitua a Cibercultura como “o conjunto de técnicas

(materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de

valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. A

22

palavra ciberespaço, segundo o autor (LÉVY, 1999), foi utilizada pela primeira vez por

William Gibson, em 1984, no seu romance Neuromancer, definindo o universo das

redes digitais. Esse ciberespaço, que o autor também chama de rede, é um novo meio

de comunicação que nasce a partir da interconexão dos computadores. O ciberespaço

vai além da comunicação digital, abrigando as informações e os indivíduos que

navegam e compõem esse ambiente virtual. “Esse novo meio tem a vocação de

colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de

gravação, de comunicação e de simulação” (LÉVY, 1999, p. 93).

Chatfield (2012, p. 21) comenta que:

Desde a invenção da escrita, há mais de 5 mil anos, o mundo vem sendo transformado pelo o que o sociólogo americano Daniel Bell chamou de “tecnologias intelectuais”: tecnologias que nos permitem desenvolver nossas mentes de maneira semelhante à qual desenvolvemos armas e roupa para aumentar a capacidade de nossos corpos. De mapas a filmes, elaboramos ferramentas que ampliam nossa percepção do mundo, nossa capacidade de aprendizado e de comunicação, e que nos permitem transmitir nosso conhecimento e nossas ideias.

Os primeiros computadores apareceram na Inglaterra e nos Estados Unidos no

ano de 1945. O que hoje cabe em qualquer espaço e pode ser levado a todos os

lugares, antes não caberia em um quarto de tamanho pequeno. Na época, essas

grandes máquinas calculadoras eram reservadas apenas para os serviços dos

militares, direcionadas para estatísticas e funções científicas. Lévy (1999, p. 32)

informa que:

Os anos 80 viram o prenúncio do horizonte contemporâneo da multimídia. A informática perdeu, pouco a pouco, seu status de técnica e de setor industrial particular para começar a fundir-se com as telecomunicações, a editoração, o cinema e a televisão. A digitalização penetrou primeiro na produção e gravação de músicas, mas os microprocessadores e as memórias digitais tendiam a tornar-se a infraestrutura de produção de todo o domínio da comunicação. Novas formas de mensagens "interativas" apareceram: este decênio viu a invasão dos videogames, o triunfo da informática "amigável".

Foi somente na década de 1960 que essa tecnologia tornou-se disponível para

o uso da população civil. No final dos anos 80 e início dos anos 90, redes de

computadores se juntaram de modo que o número de pessoas e computadores teve

um crescimento exponencial, dando origem às tecnologias digitais como infraestrutura

do ciberespaço, visto por Lévy (1999, p. 34) como um “novo mercado de informação

e do conhecimento”.

A partir dos anos 70, gradualmente, foram aparecendo novas máquinas, mais

23

atuais e modernas, produzidas por grandes empresas como a Apple, de Steve Jobs.

Como diz Chatfield (2012, p. 20), “as que possuímos hoje são centenas de milhares

de vezes mais poderosas que a primeira geração doméstica, dez vezes mais baratas

e extremamente fáceis de usar.”

Em 1979 surgiram, entre outros, um dos primeiros processadores de texto (Apple Writer) para microcomputadores, assim como a primeira planilha (Visicalc, programa de simulação e de tratamento integrado de dados contábeis e financeiros), sem contar com as inúmeras linguagens de programação, jogos e programas especializados. O microcomputador fora composto por interfaces sucessivas, em um processo de pesquisa cega, no qual foram negociados, aos poucos, acessos a redes cada vez mais vastas, até que um limite fosse rompido a conexão fosse estabelecida com os circuitos sociotécnicos da educação e do escritório. Simultaneamente, estes mesmos circuitos começavam a se redefinir em função da nova máquina. A “revolução da informática” havia começado. (LÉVY, 2004, p. 29)

A partir disso, aparecem aos poucos as chamadas comunidades virtuais,

definidas como um grupo de pessoas que tem interesses ou destinos em comum e

comunicam-se entre si de forma regular (RHEINGOLD apud CASALEGNO, 2006).

Howard Rheingold, em entrevista a Casalegno (2006, p. 204) “introduz um novo

conceito de ‘rede social’: o uso social e diário da Net, mesmo que ao mesmo tempo a

rede seja pretendida como uma matriz que permite a criação de relações sociais e

criações comunitárias”. Castells (2003, p. 105) complementa essa visão ao dizer que:

A noção de “comunidades virtuais”, proposta pelos pioneiros da interação social na Internet, tinha uma grande virtude: chamava a atenção para o surgimento de novos suportes tecnológicos para a sociabilidade, diferentes de formas anteriores de interação, mas não necessariamente inferiores a elas.

Castells (1999) esclarece que essas comunidades são redes sociais

interpessoais, que se baseiam em laços fracos, independentes do fator físico. Nelas,

as pessoas vão mostrando o que elas querem que seja visto, de forma a criar um tipo

de portfólio. Rosa e Kamimura (2012) elencam alguns comportamentos típicos dos

usuários de redes sociais, entre eles: leitura dos mais variados assuntos e opiniões

contra ou a favor; procuram interagir com usuários que têm preferências similares;

confiam nas recomendações encontradas nas redes on-line, mesmo que tenham sido

feitas por indivíduos desconhecidos; e exigem, de certa forma, a leitura de notícias

recentes e úteis.

As novas tecnologias digitais modificaram, assim, a forma como os seres

humanos pensam, agem e se relacionam, e também o modo como eles comunicam e

24

compartilham informações. A própria imprensa precisou adaptar-se a esse contexto,

atualizando seu modo de fazer notícia, dando novas funções e habilidades para o

profissional, além de contar com a participação do público. Virginio et al. (2011, p. 4)

corrobora com esse ponto de vista quando diz que:

Esses avanços tecnológicos impactam no jornalismo gerando novas capacidades de operação, principalmente para o repórter em campo em coberturas de reportagens de grande repercussão. Com estes dispositivos de múltiplas funções, o profissional do jornalismo pode agregar à sua rotina produtiva, o registro de áudio, vídeo, imagens e a produção de textos jornalísticos, além de poder editar, transmitir ao vivo e enviar estes conteúdos através das redes móveis.

A imprensa, até pouco tempo atrás, exercia seu trabalho de forma tradicional.

Os computadores eram utilizados apenas para redação e edição de textos, de maneira

que os jornalistas não enxergavam que maiores utilidades esses aparatos poderiam

ter. A televisão, o rádio e os jornais impressos não deixaram de existir, muito menos

de terem sua audiência formada, mas, como o homem, também precisaram adequar-

se ao que estava sendo proposto pelas novas tecnologias.

A televisão e o rádio foram inventados há cerca de um século; a prensa há mais de quinhentos anos. Em apenas duas décadas, no entanto, fomos da abertura da internet para o público geral à marca de mais de 2 bilhões de pessoas conectadas; e passaram-se apenas três décadas desde o lançamento do primeiro sistema comercial de celular até a conexão de 5 bilhões de usuários ativos. (CHATFIELD, 2012, p. 12)

Hoje, os veículos de comunicação já possuem suas páginas nas redes sociais,

onde entram diretamente em contato com os usuários, estes que têm a opção de dar

opiniões e contribuir para melhorias.

2.3 O impacto das mídias sociais no Jornalismo

Brambilla (2011, p. 86) define mídia social “como aquela utilizada pelas pessoas

por meio de tecnologias e políticas na Web com fins de compartilhamento de opiniões,

ideias, experiências e perspectivas”. Suas características principais são o formato de

conversação, a facilidade do discurso bidirecional e a ausência de censura. Para a

autora, essas mídias facilitam porque sincronizam pessoas ou grupos de diferentes

regiões, seja no mesmo país ou ao redor do mundo, de forma a documentar o que

está acontecendo.

Assim, com a utilização dos computadores em ambientes de trabalho e o

25

aparecimento gradual dessas mídias, ocorreu uma modificação no modo como as

pessoas realizam suas atividades profissionais, como no caso dos jornalistas,

principalmente na produção e reprodução da notícia.

A internet foi construída originalmente para facilitar a colaboração. Por outro lado, os computadores pessoais, em especial os destinados ao uso doméstico, foram pensados como ferramentas para a criatividade individual. Por mais de uma década, desde o início dos anos 1970, o desenvolvimento das redes e o dos computadores domésticos avançaram por caminhos separados. Eles enfim começaram a andar juntos no final dos anos 1980 com a chegada dos modems, dos serviços on-line e da web. Assim como a combinação de motores a vapor e de processos mecânicos ajudou a fomentar a Revolução Industrial, a combinação do computador com as redes de distribuição levou à revolução digital e que permitiu a qualquer um criar, disseminar e acessar qualquer informação a partir de qualquer lugar. (ISAACSON, 2014, p. 15)

Marcondes Filho (2009) explica que o aparecimento do jornalismo se associa

à desconstrução do poder que estava nas mãos da Igreja e da Universidade – apenas

quem estava inserido nesses ambientes tinha acesso ao conhecimento, à realização

de pesquisas. De forma gradual, o saber reservado para esses letrados passa a

circular dentro da sociedade. Os jornalistas ficam, então, responsáveis por esse papel

“[...] de procurar, explorar, escavar, vasculhar, virar tudo de pernas para o ar, até

mesmo profanar, no interesse da notícia” (MARCONDES FILHO, 2009, p. 18).

Os primeiros jornais impressos continham apenas três ou quatro páginas,

englobando notícias mais sensacionalistas, como desastres, nascimentos de pessoas

importantes, entre outros temas. O jornalismo exercido entre os séculos XVI e XVII

não era tido exatamente como um meio de formar opinião pública, mas apenas de

manter as pessoas informadas acerca do que estava acontecendo pelos arredores. É

somente entre os anos de 1780 e 1800, após a Revolução Francesa, que surge o

conceito de esfera pública, “[...] ambientes abertos de discussão democrática [...]. É a

infraestrutura para a constituição de opiniões políticas [...]” (MARCONDES FILHO,

2009, p. 24). Com isso, a liberdade de expressão começa a ser exercida dentro do

jornalismo.

No século XX, surge o jornalismo da era tecnológica (MARCONDES FILHO,

2009). Aqui o jornalista como agente humano é complementado pelas redes, e essas

novas tecnologias vão interferir diretamente na produção da notícia: o profissional

deixa de ter uma relação com o papel, modificando até mesmo a conexão física entre

ele e seus colegas - em uma redação de jornal hoje, por exemplo, os textos para

revisão não são impressos e levados para o editor corrigi-los à mão; tudo é feito por

26

e-mail ou através de sistemas especializados. A imagem ainda modifica a estética do

veículo impresso, tornando a aparência do jornal um tópico decisivo na sua

construção.

Essa era da informação digital tem início nos Estados Unidos, por volta do fim

dos anos 1980. Segundo Moherdaui (2002), o primeiro jornal que se inseriu no meio

on-line foi o The New York Times8, durante os anos 70. “O jornal passou a

disponibilizar resumos e textos completos de artigos atuais e artigos de suas edições

diárias passadas a assinantes que possuíam pequenos computadores”. Já em

território brasileiro, o primeiro a realizar uma cobertura completa em plataforma virtual

foi o Jornal do Brasil9, em 28 de maio de 1995 (MOHERDAUI, 2002, p. 24).

De acordo com a autora supracitada, o provedor IG (Internet Grátis)10 lançou,

em 2000, o Último Segundo11, “[...] o primeiro jornal on-line concebido e produzido

para a Internet no Brasil” (MOHERDAUI, 2002, p. 26). Além desses portais, outros

foram aparecendo nos anos seguintes, como o GloboNews.com12, onde era possível

encontrar o conteúdo dos jornais, revistas, rádio e tv das Organizações Globo, e ainda

manchetes criadas especificamente para o site.

No Brasil, a explosão de produções jornalísticas na Web se deu somente no início de 2000, mas a batalha ocorrida em Kosovo, em 1999, que deixou milhares de sérvios e albaneses e kosovares mortos, foi considerada a “Guerra da Internet”, primeira grande cobertura on-line produzida para o mundo digital [...]. E o jornalismo on-line brasileiro teve um importante papel nesse conflito. Naquele ano, o Universo Online publicou relatos impressionantes de pessoas que estavam próximas às áreas de maior conflito. (MOHERDAUI, 2002, p. 30)

A partir disso, vê-se que existem duas formas de jornalismo na Internet: em

uma, a informação é 100% on-line, dada em tempo real; em outra, portais que

publicam a reprodução do que está escrito em seu veículo impresso. Na Web é

possível divulgar uma notícia recente e criar links com matérias a respeito do mesmo

tema, facilitando a compreensão textual e também possibilitando uma abrangência do

conhecimento. “O jornalismo on-line não tem periodicidade, a sua dinâmica é

determinada pelos acontecimentos que merecem ser noticiados” (MOHERDAUI,

2002, p. 96).

8http://www.nytimes.com/ 9http://www.jb.com.br/ 10http://www.ig.com.br/ 11http://ultimosegundo.ig.com.br/ 12http://g1.globo.com/globo-news/index.html

27

As novas tecnologias digitais introduzem a “imaterialidade jornalística”. Na tela do computador, o texto jornalístico perde a materialidade e se torna pura fibrilação visual de pontos, um texto permanentemente provisório, nunca terminado, passível de interferências por todos os que por ele passam em todos os momentos da produção do jornal. Imaterial está se tornando também o próprio jornal, cada vez mais editado on-line, assim como a redação, acessível de qualquer ponto do planeta, tanto para se receber pautas como para se fazer uma reportagem, nela inserir fotos tiradas em tempo real, diagramar e enviar, tudo pronto, ao terminal instalado do outro lado do mundo. (MARCONDES FILHO, 2009, p. 51)

Atualmente, as práticas jornalísticas possuem um maior e diferenciado número

de produtores de notícias, sendo que uma parcela dessa quantia não está inserida

nas organizações. Com a expansão das redes sociais e até mesmo dessa facilidade

de criação de notícias por parte de não profissionais da área, o monopólio da

informação não se encontra mais nas mãos dos jornalistas e de empresas e sim de

todos que possuem interesse em se manifestar. Marcondes Filho (2009) afirma ainda

que o bom jornalista hoje é aquele que consegue dar conta de funções em uma

velocidade que anula o quesito da qualidade de seu texto. Para o autor, não existem

mais especialistas em determinadas áreas ou temas: “temos uma multidão de bons

redatores, capazes de passar por todas as redações e mesmo funcionar como

editores delas, sem que se projete qualquer nome individualmente” (MARCONDES

FILHO, 2009, p. 165).

Antes a publicação exigia acesso a uma gráfica, e em consequência o ato de publicar alguma coisa ficava limitado a uma fração mínima da população, e a possibilidade de atingir uma população fora de uma área geograficamente limitada era ainda mais restrita. Agora, conectando-se à internet, um usuário tem acesso a uma plataforma que é ao mesmo tempo global e gratuita. Nossas ferramentas de comunicação não se tornaram apenas mais baratas; tornaram-se também melhores. Em particular, são mais favoráveis a usos inovadores, porque são consideravelmente mais flexíveis que as antigas. (SHIRKY, 2012, p. 69)

O espaço físico da redação ainda existe para alguns, utilizada para reuniões de

pauta, mas os textos podem ser escritos e enviados de casa, desconstruindo a ideia

da locomoção e todo o trabalho de precisar produzir determinada reportagem em seu

horário de serviço.

Os temas tratados nos jornais também sofrem consequências com a

implementação dos meios eletrônicos. Como sustenta Marcondes Filho (2009, p. 162),

“há um reducionismo dos grandes temas a assuntos de natureza subjetiva, individual

ou particular”. A notícia perde seu caráter de densidade. Essa notícia, definida por

Alsina (2009, p. 296) como a narração de um fato e não o fato propriamente dito, não

28

possui a obrigação de ser verdadeira, de modo que, sendo ou não verossímeis, ainda

continuarão sendo notícias. O que alguns autores questionam é o papel dos jornalistas

dentro dessa era em que tudo é notícia e todos podem produzir essa notícia.

A democratização dos meios de produção tem possibilitado que repórteres cidadãos, ou seja, indivíduos sem formação jornalística, também tenham acesso às ferramentas de produção, tanto colaborando na produção de notícias tradicionais por um veículo, quanto produzindo conteúdo para ser veiculado em espaços autônomos. A possibilidade de participação de pessoas comuns não-jornalistas no processo de produção de notícias na Internet provoca a necessidade de se repensar o papel do jornalismo. A Web 2.0 trouxe à tona uma nova geração de sites de notícias, bem como novos modelos colaborativos e abertos para se fazer jornalismo. O surgimento de novos tipos de publicação fez com que a fronteira entre os meios tradicionais e os meios colaborativos se tornasse nebulosa. (ZAGO, 2011, p. 60)

Essas mudanças na forma de produção, assim, confundem tanto a função do

jornalista quanto o que é jornalismo no século XXI. Shirky (2012) utiliza o termo

“amadorização em massa” para definir essa maneira de compartilhamento por

qualquer pessoa. Para ele, “o futuro apresentado pela internet é a amadorização em

massa da capacidade de publicação e uma mudança de ‘Por que publicar isto?’ para

‘Por que não?’” (SHIRKY, 2012, p. 55). Na atividade de publicar notícias não existe

mais o caráter de exclusividade, porque os usuários podem fazer isso sem repressão.

O problema, porém, é que a profissionalização em massa é um oximoro, já que uma classe profissional implica uma função especializada, testes mínimos de competência e uma minoria de membros. Nenhuma dessas condições está presente nos blogs políticos, no compartilhamento de fotos ou em várias outras ferramentas de autopublicação. Os blogs individuais não são apenas sites alternativos de publicação; eles são alternativas à própria publicação enquanto atividade própria dos editores, uma classe minoritária e profissional. Da mesma maneira que você não precisa ser um motorista profissional para dirigir, não precisa ser um editor profissional para publicar. A amadorização em massa é um resultado da difusão radical de capacidades expressivas, e o precedente mais óbvio foi aquele que deu origem ao mundo moderno: a difusão da imprensa cinco séculos atrás. (SHIRKY, 2012, p. 60)

O que o autor acima defende é que, apesar de haver uma redução no prestígio

da publicação feita por profissionais, ainda assim essa publicação valoriza o discurso

e a ação públicos (SHIRKY, 2012, p. 71). O que pode ocorrer é uma inexistência de

filtros e a internet acabar abarcando todos os tipos de assuntos, informações, notícias

em excesso, diferente do jornalismo tradicional, onde vai acontecer a seleção dos

fatos, de acordo com critérios das editorias, que deverão ser publicados.

Em vista disso, de como o jornalismo recebeu o impacto das mídias sociais, as

empresas de comunicação agora possuem um novo cargo, cujas pesquisas sobre ele

29

ainda são bastante escassas: o analista de mídias sociais, também chamado de

gestor de mídias sociais ou social mídia, responsável pela comunicação em redes

sociais. Ou seja, apesar da relutância à adaptação aos novos meios, os veículos de

comunicação tiveram que aceitar que a Web tem papel relevante e colaborativo.

Observa-se, assim, que ocorreram modificações em diversos setores da função

jornalística. As notícias são produzidas em todos os lugares, o tempo todo, devido ao

acesso às fontes e aos dispositivos que permitem uma apuração mais fácil. A

convergência entre as mídias é outro ponto que tem significância, já que nos portais

é possível colocar imagens, vídeos e áudios junto aos textos, possibilitando uma

melhor recepção a quem lê. Os profissionais procuram novas formas de unir a sua

função de produzir à função do leitor de colaborar, como, por exemplo, os jornais

impressos e emissoras de rádio que hoje possuem canais para o leitor mandar sua

participação, seja um furo de reportagem, seja uma imagem ou um vídeo exclusivo,

indicando a busca de caminhos para dialogar com outro aspecto da Internet, a

interatividade.

Essa era da informação trouxe para o jornalismo características que permitem

que a profissão continue a ter importante papel na sociedade. As redes sociais,

portanto, podem promover aspectos tanto negativos, quanto positivos na difusão da

notícia, tópico que será abordado no capítulo final deste trabalho.

2.4 Definições e características das redes sociais

A Internet oferece opções diversas para quem quer manter-se informado.

Desde que surgiu, trouxe expressivas mudanças para a sociedade, que é o que

Recuero (2009) chama de comunicação mediada pelo computador (CMC), através da

qual, de acordo com a autora, os indivíduos podem se expressar e sociabilizar entre

si. Sejam portais de notícias, sites aleatórios, aplicativos e gadgets13, entre outros

meios. Dentro disso, aparecem as redes sociais como espaços para compartilhar

opiniões, notícias, fatos, acontecimentos ou, até mesmo, nada que seja importante,

mas, querendo ou não, vai ser repassado para amigos ou seguidores e, talvez,

13“Na Internet ou mesmo dentro de algum sistema computacional (sistema operacional, navegador web ou desktop), chama-se widget, mas vezes também chama-se de gadget algum pequeno software, pequeno módulo, ferramenta ou serviço que pode ser agregado a um ambiente maior.” Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Gadget> Acesso em: 10 de novembro de 2015.

30

também compartilhado por ser de interesse comum.

Essas ferramentas proporcionaram, assim, que atores pudessem construir-se, interagir e comunicar com outros atores, deixando, na rede de computadores, rastros que permitem o reconhecimento dos padrões de suas conexões e a visualização de suas redes sociais através desses rastros. (RECUERO, 2009, p. 24)

Uma pesquisa realizada pela companhia Nielsen14 mostrou que entre os anos

de 2011 e 2012 cresceu o número de conexões principalmente em celulares e tablets.

O Facebook é o líder entre as redes mais visitadas via computador, com 152.2 milhões

de visitantes, com o Twitter em terceiro lugar (37 milhões), perdendo para o Blogger

(58.5 milhões). Sobre os motivos que levam as pessoas a se conectarem, a pesquisa

revelou que: 63% conhecem as pessoas fora das redes, 50% têm amigos em comum,

13% têm acesso a redes de negócios, 6% aceita todas as solicitações de amizade,

entre outros pontos. Vale ressaltar que a pesquisa focou nos usuários norte-

americanos, mas ainda colabora para dar uma ideia de como está o acesso às redes

sociais nos últimos anos.

Tais redes, surgiram como quem não quer nada, devagar, de forma que, sem

que os usuários percebessem, já possuíam certa dependência com relação a elas.

São pessoas, microempresas, organizações e grandes corporações que constituem

esse ambiente virtual, dividindo informações, atendendo reclamações, fazendo o que

o homem faz desde os tempos das cavernas: comunicar. Brambilla (2011, p. 15)

informa que:

Sites de rede social foram especialmente significativos para a revolução da “mídia social” porque vão criar redes que estão permanentemente conectadas, por onde circulam informações de forma síncrona (como nas conversações, por exemplo) e assíncrona (como no envio de mensagens). Redes sociais tornaram‐se a nova mídia, em cima da qual a informação circula, é filtrada e repassada; conectada à conversação, onde é debatida, discutida e, assim, gera a possibilidade de novas formas de organização social baseadas em interesses das coletividades.

Ainda conceituando as redes sociais, Duarte et al. (2008) as compara com

redes biológicas, por serem autogenerativas, mas gerando apenas produtos

imateriais. Tornam-se redes de comunicações ao criarem pensamentos e significados,

que vão originar outras comunicações.

14Disponível em: <http://www.nielsen.com/content/dam/corporate/us/en/reports-downloads/2012-Reports/The-Social-Media-Report-2012.pdf> Acesso em: 4 de junho de 2015.

31

Enquanto as comunicações continuam nas redes sociais, elas formam ciclos múltiplos de retroalimentação que finalmente produzem um sistema compartilhado de crenças, explicações e valores – um contexto comum de sentido, também conhecido como cultura, que é continuamente apoiada em comunicações seguintes. Por meio dessa cultura, os indivíduos adquirem identidade como membros da rede social e, nesse sentido, a rede gera seu próprio limite. Não é um limite físico, mas um limite de expectativas, de confiança e lealdade, o qual é permanentemente mantido e renegociado pela rede de comunicações. (DUARTE et al., 2008, p. 23)

Para ser uma rede social, é necessário que ela permita aos indivíduos, de

acordo com Boyd e Ellison (2007, p. 211), “[...] (1) construir um perfil público ou semi-

público dentro de um sistema limitado, (2) articular uma lista de outros usuários com

quem eles compartilham uma conexão, e (3) ver e navegar sua lista de conexões e

aquelas feitas por outras pessoas dentro do sistema (tradução nossa)”15. Assim, blogs,

microblogs (como o Twitter) e redes como o Facebook inserem-se nessa definição,

pois permitem que o usuário tenha seu perfil, adicione amigos e construa interações

dentro desse meio.

Depois de aderir a um site de rede social, os usuários são solicitados a identificar outros no sistema com quem têm uma relação. O rótulo para estes relacionamentos difere dependendo dos termos do site - termos populares incluem “Amigos”, “Contatos”, e “Fãs”. A maioria dos SRS necessita de confirmação bidirecional para a amizade, mas alguns não. Estes laços unidirecionais são por vezes rotulados como “Fãs” ou “Seguidores”, mas muitos sites chamam de Amigos também. O termo “Amigos” pode ser mal entendido, porque a conexão não significa necessariamente amizade no sentido vernacular de todos os dias, e as razões para as pessoas se

conectarem são variadas. (BOYD; ELLISON, 2007, p. 213, tradução nossa)16

As redes sociais, por sua característica de interação e compartilhamento, hoje

também são conhecidas como redes de relacionamento. Segundo Recuero (2009),

são formadas por dois componentes importantes: atores sociais e conexões. No caso

dos primeiros, são apenas representações, pois são espaços em que eles se

manifestam e interagem entre si, sendo estes espaços considerados privados, por

tratarem do lugar individual do sujeito, mas, ao mesmo tempo, públicos, por estarem,

15“(1) construct a public or semi-public profile within a bounded system, (2) articulate a list of other users with

whom they share a connection, and (3) view and traverse their list of connections and those made by others within the system.” (BOYD; ELLISON, 2007, p. 211) 16After joining a social network site, users are prompted to identify others in the system with whom they have a

relationship. The label for these relationships differs depending on the site—popular terms include “Friends”, “Contacts” and “Fans”. Most SNSs require bi-directional confirmation for Friendship, but some do not. These one-directional ties are sometimes labeled as “Fans” or “Followers”, but many sites call these Friends as well. The term “Friends” can be misleading, because the connection does not necessarily mean friendship in the everyday vernacular sense, and the reasons people connect are varied. (BOYD; ELLISON, 2007, p. 213)

32

de certa forma, abertos para serem lidos e interpretados. A autora explica:

Os atores são o primeiro elemento da rede social, representados pelos nós (ou nodos). Trata-se das pessoas envolvidas na rede que se analisa. Como partes do sistema, os atores atuam de forma a moldar as estruturas sociais, através da interação e da constituição de laços sociais. [...] Um ator, assim, pode ser representado por um weblog, por um fotolog, por um twitter ou mesmo por um perfil no Orkut. E, mesmo assim, essas ferramentas podem apresentar um único nó (como um weblog, por exemplo), que é mantido por vários atores (um grupo de autores do mesmo blog coletivo). (RECUERO, 2009, p. 25)

Desse modo, em grande parte das redes, como Facebook, Instagram, Twitter

e, um exemplo mais antigo e extinto hoje, o Orkut, os usuários são encontrados

através de seus perfis, criando uma identidade própria, onde eles publicam o que

querem que seja visto em relação a eles, seja verdadeiro ou falso. Tais perfis

representam esses atores e estabelecem uma conexão entre eles e outros. Recuero

(2009) explica que as conexões existentes e estabelecidas em uma rede social se

constituem de laços sociais que, por conseguinte, são compostos pelas interações

sociais entre os atores. Essas interações são tidas como aquilo que o indivíduo deixa

na Internet, como um comentário, por exemplo. E é esse contato que vai colaborar

para a criação de laços sociais entre os usuários.

A interação social é caracterizada não apenas pelas mensagens trocadas (o conteúdo) e pelos interagentes que se encontram em um dado contexto (geográfico, social, político, temporal), mas também pelo relacionamento que existe entre eles. [...] Trata-se de uma construção coletiva, inventada pelos interagentes durante o processo, que não pode ser manipulada unilateralmente nem pré-determinada. (PRIMO, 2010, p. 7)

Outros aspectos relevantes encontrados nas redes sociais é que estas

permitem não apenas o compartilhamento de texto, mas som e imagem. O que antes

era visto apenas nos canais televisivos e rádios, como filmes, novelas, séries,

podcasts e outros programas de entretenimento são livremente postos na rede e

disponibilizados para quem tiver interesse. Festivais como Rock in Rio e Lollapalooza

têm cobertura ao vivo no YouTube. Assim, um indivíduo encontra certo link de seu

interesse e compartilha em sua timeline, de modo que seus amigos e seguidores que

têm gostos semelhantes, veem e também compartilham em suas timelines. Ou seja,

a ação é ver o vídeo e a reação é compartilhar e assim sucessivamente, atraindo

visualizações, discussões e conversações para o tema. Conforme isso, Brambilla

(2011, p. 79) complementa:

33

O boca a boca sempre existiu. Faz parte das nossas relações humanas buscar em pessoas nas quais confiamos opiniões e experiências que nos ajudem a formar nosso próprio relato sobre o mundo. Com as redes sociais, a definição de boca a boca passou a incluir todos os meios pelos quais nos comunicamos e compartilhamos informações, nos transformando em mídia. Basta um computador ou um telefone celular e um sinal de Internet e espalhamos crenças, valores, sentimentos e fatos, falamos daquilo que amamos ou detestamos em blogs, vídeos, fotos, microblogs, ferramentas de geolocalização, etc. Desenvolvemos conteúdo e passamos a ser relevantes para uma ou mais pessoas, influenciando decisões, sobretudo aquelas relacionadas ao consumo de marcas, produtos e serviços.

Apesar do objeto de estudo deste trabalho ser o Twitter, achamos pertinente

citar o Facebook como outro exemplo de rede social porque ele é similar ao microblog,

nas suas características essenciais de rede social, explicitadas por Boyd e Ellison

(2007) anteriormente.

2.4.1 O Facebook

Criado em fevereiro de 2004, por Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz, Eduardo

Saverin e Chris Hughes, na época estudantes de Harvard, o Facebook começou a se

expandir apenas no ano seguinte, somente para as universidades. Para terem acesso,

as pessoas precisavam de convites. Kirkpatrick (2010, p. 31) afirma que o Facebook

era uma “ferramenta de comunicação muito básica, destinada a resolver o problema

simples de acompanhar seus colegas da faculdade e o que acontecia com eles.”

Sendo uma forma de comunicação fundamentalmente nova, o Facebook também produz efeitos interpessoais e sociais fundamentalmente novos. O Efeito Facebook acontece quando a rede social põe as pessoas em contato umas com as outras, às vezes de forma inesperada, em torno de algo que tenham em comum: uma experiência, um interesse, um problema ou uma causa. Isso pode acontecer em pequena ou grande escala – desde um grupo de dois ou três amigos ou uma família até milhões, como na Colômbia. O software do Facebook imprime uma característica viral à informação. As ideias no Facebook têm a capacidade de se espalhar pelos grupos e fazer com que um grande número de pessoas tome conhecimento de algo quase simultaneamente, propagando-se de uma pessoa para outra e para muitas com uma facilidade rara – como um vírus, ou meme. Você pode enviar mensagens para outras pessoas mesmo que não esteja explicitamente tentando fazer isso. [...] Antigamente, a difusão de informações em larga escala era privilégio da mídia eletrônica – rádio e televisão. Mas o Efeito Facebook [...] significa que pessoas comuns estão originando a transmissão em broadcast. Não é preciso saber nada de especial nem ter nenhuma habilidade específica. O Twitter é outro serviço, com um número mais limitado de funções, que também pode possibilitar a qualquer indivíduo fazer poderosas transmissões pela internet. E também tem tido um impacto político significativo. (KIRKPATRICK, 2010, p. 13-14)

34

Em 31 de março de 2015, o blog17 da empresa divulgou que a rede social

atingiu a marca de 1,44 bilhão de usuários ativos por mês. Em 2012, quando tinha

acabado de chegar aos 1 bilhão, o Facebook ganhou o título de maior rede social

virtual do mundo. O perfil do usuário é composto por informações pessoais, tais como

status de relacionamento, número de telefone, endereço de e-mail, livros, filmes e

músicas favoritos, cursos que estava fazendo, data de aniversário.

Com objetivos semelhantes aos do Twitter, o Facebook diferencia-se em alguns

pontos: a existência de um mural para os usuários realizarem suas postagens, onde

o limite de caracteres ultrapassa bem mais que os 140 do Twitter; para ser amigo de

alguém, uma pessoa precisa adicionar outra e aguardar que ela o aceite. O Editor da

seção Mente Aberta da Revista Época, Luís Antônio Giron, explica de que forma o

Facebook e o Twitter diferenciam-se, não especificamente em relação ao seu

conteúdo, mas à forma como os usuários se comportam nas redes.

De alguma forma, o Twitter se parece com os meios tradicionais de comunicação, pois permite que se propaguem informações sem restrições de comunidade. Daí, talvez, os profissionais de comunicação gostarem mais dele do que do Facebook. O usuário pode seguir uma celebridade – e ser seguido por ela – sem filtros. Você pode dar um furo de notícia e se tornar importante da noite para o dia. E também tem a opção de configurar o Twitter para que ele sirva como uma rede superexclusiva, ou então se valer de um pseudônimo para se expressar livremente, sem as amarras de sua condição social e profissional. [...] Quem usa o Twitter corre risco. Parece andar em uma praça, sujeita às intempéries, ao acaso e ao contato das multidões. Faz e recebe críticas, ataca e é atacado. [...] A presumível livre expressão do pensamento faz parte do mecanismo do gorjeio quase infinito, que se dissemina através da retuitagem. Ele fornece a ilusão de que o usuário é popular, pelo número de pessoas que o seguem. [...] O usuário de Facebook parece ser mais passivo e inclinado ao convencionalismo. Ele tem um só nome, um só endereço e um só rosto. Seu prestígio não se mede pelo número de seguidores como o Twitter. Ele precisa se sentir protegido e não ser contestado. [...] O Facebook apresenta um processo de afinidades menos eletivas que forçadas. Lembra um ambiente amplo, porém fechado e controlado. Quem está sob seu teto é obrigado a fazer amigos e se relacionar intensamente com os outros, só que mantendo a discórdia fora da conversa.

Bloquear pessoas é o mesmo que ofendê-las para sempre. (GIRON, 2012)18

Entende-se, assim, que as duas redes sociais aqui citadas são espaços onde

os usuários exercem seus direitos de se manifestarem e comunicarem através de suas

postagens, sejam elas limitadas a poucos toques ou não. A liberdade encontrada nas

redes sociais é a liberdade de ser e fazer o que se tem vontade. Chatfield (2012, p.

17Disponível em: <http://newsroom.fb.com/company-info/> Acesso em: 03 de junho de 2015. 18Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/cultura/luis-antonio-giron/noticia/2012/06/twitter-ou-facebook-de-que-lado-voce-esta.html> Acesso em: 03 de junho de 2015.

35

14) explica isso quando diz que

O mundo digital atual não é apenas uma ideia ou um conjunto de ferramentas, da mesma forma que um dispositivo digital moderno não é apenas algo ativado para nos entreter e nos agradar. Ao contrário – para um número cada vez maior de pessoas, é uma passagem para o lugar onde lazer e trabalho estão interligados: uma arena em que conciliamos de forma contínua amizades, notícias, negócios, compras, pesquisas, política, jogos, finanças e muitas outras atividades.

Em 2011, essas duas redes tiveram participação essencial na Revolução do

Egito, colaborando para derrubar 30 anos de governo ditatorial no país. Segundo

matéria do site da Carta Capital19, os movimentos foram organizados através do

Facebook e do Twitter. Santos (2011, p. 2) informa que

O resultado foram as grandes mobilizações que reuniram milhares de pessoas na praça Tahrir. Ao perceber que o chamamento pela internet dava resultados cada vez mais avassaladores, repercutindo também em cidades do interior do país, o governo egípcio optou pela solução sem precedentes: bloqueou a internet, numa tentativa desesperada de conter a revolta.

Assim, as redes sociais servem a um campo de diversas funcionalidades. O

Facebook, assim como o Twitter, que será estudado no próximo capítulo, vieram para

que os usuários manifestassem seus interesses e comportamentos através de um

teclado de computador ou de um celular.

19Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/tecnologia/twitter-a-nova-via-da-revolucao> Acesso em: 4 de junho de 2015.

36

3 O TWITTER

A respeito da utilidade do Twitter, Santaella e Lemos (2010, p. 82) informam

que:

A utilização do Twitter para engajamento e participação em colaboração intelectual on-line é um exemplo que demonstra como o encadeamento de respostas e o entrelaçamento de ideias em fluxos coletivos pode ser um processo complexo, que envolve dinâmicas de interação em tempo real. Essa é uma mídia que pode ser usada simultaneamente para engajar os membros de uma comunidade ao redor de uma ideia, aferir o entendimento coletivo do grupo sobre determinado conceito, e também para detectar lideranças e tendências. Tudo isso em tempo real.

Como foi dito no capítulo anterior, os sites de redes sociais permitem aos

usuários inúmeras possibilidades, entre elas, o ato de manifestar sua opinião

abertamente em seus perfis. Visto isso, o Twitter é uma dessas ferramentas que

complementa esse quadro, de forma que é uma das mais úteis e fundamentais para

quem deseja compartilhar informação de modo instantâneo e objetivo, pelo fato de um

tweet ser composto por apenas 140 caracteres e o sujeito precisar se adaptar a isso.

3.1 E do verbo fez-se o tweet

Twister. Twist tie. Twit. Twitch. Twitcher. Twitchy. Twite. Aí estava ela. “Leve trinado produzido por algumas aves; piar, chilrear.” [...] “Som semelhante, especialmente leve, fala ou riso trêmulo.” [...] “Agitação ou excitação; vibração.” Um verbo. Twitter. Twitter. Twittered. Twittering. Twitters. (BILTON, 2013, p. 76)

Figura 3 – O pássaro azul, símbolo do Twitter.

Fonte: https://blog.twitter.com/2012/taking-flight-twitterbird Acesso em: 18 de novembro de 2015.

O significado de Twite, visto na citação acima, deu origem aos verbos tweet e

tweetar, o primeiro sendo o texto já produzido pelo usuário e postado; o segundo como

a ação de produzir esse texto. Em 21 de março de 2006, Jack Dorsey, inventor do

Twitter, fez seu primeiro tweet. “Just setting up my twttr” ou, em português (tradução

37

nossa), “apenas configurando meu twitter” (Figura 4). O que pouca gente sabe é que

o Twitter passou por vários processos até ser o que é hoje.

Figura 4 – O primeiro tweet.

Fonte: https://twitter.com/jack/status/20 Acesso em: 18 de novembro de 2015.

Em 1999, Ev Williams, um dos fundadores, havia criado o Blogger, um tipo de

diário on-line que, ao seu ver, “ajudaria as pessoas que não sabiam nada de

programação de computadores a criar um ‘web log’, ou ‘blog’” (BILTON, 2013, p. 27).

O que Williams queria, na verdade, era transformar o blogger em uma espécie de

jornal virtual, onde as pessoas fariam amizades digitais. Com a popularidade de sua

criação, Ev Williams tornou-se conhecido no Vale do Silício20. Após a venda do

Blogger para o Google, ele trabalhou um tempo por lá até resolver sair da companhia

e montar a Odeo, uma empresa de podcasting21 que não obteve sucesso em sua área

e foi adquirida pela ObviousCorp.22, e logo Jack Dorsey e Biz Stone se juntariam ao

time, tornando-se substanciais na criação do Twitter.

Segundo Bilton (2013), Dorsey estava refletindo sobre a evolução da

ferramenta de status que ele utilizava no seu perfil do LiveJournal23 e pensou em

separá-la do blog e criar um site específico para ela. O autor informa que:

Essa coisa de “status” poderia ajudar as pessoas a se conectar com outras

20Localizada na Califórnia, Estados Unidos, é uma região onde se encontram as sedes dos grandes nomes da tecnologia: Apple Inc., Facebook, Google, Yahoo!, eBay, entre outras. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Vale_do_Silício> Acesso em: 15 de maio de 2015. 21“Podcast é uma forma de transmissão de arquivos multimídia na Internet criados pelos próprios usuários. Nestes arquivos, as pessoas disponibilizam listas e seleções de músicas ou simplesmente falam e expõem suas opiniões sobre os mais diversos assuntos, como política ou o capítulo da novela. Pense no podcast como um blog, só que ao invés de escrever, as pessoas falam.” Disponível em: <http://www.tecmundo.com.br/1252-o-que-e-podcast-.htm> Acesso em: 15 de maio de 2015. 22Empresa criada por Ev Williams em 2006. 23Concorrente do Blogger, é uma espécie de diário virtual onde os usuários têm seu perfil e podem interagir com outros usuários. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Livejournal> Acesso em: 15 de maio de 2015.

38

que não estivessem por perto. Não se tratava apenas de compartilhar a música que você estava ouvindo ou de dizer onde você estava naquele momento; o negócio era conectar as pessoas e fazer com que elas se sentissem menos sozinhas. Teria de ser uma tecnologia que amenizasse o sentimento de solidão de toda uma geração quando olhava para a tela do computador. (BILTON, 2013, p. 71)

Assim nascia a ideia do Twitter que, até então, se chamava Status. Foi Noah

Glass, também integrante da equipe, que pensou no nome Twitter, inspirado na

vibração do celular quando uma atualização era enviada. Àquela época, o Twitter (ou

Twttr, como também era chamado) funcionava apenas através de mensagem de texto.

Esse primeiro protótipo era utilizado apenas dentro da Obvious, sendo lançado

publicamente e para computadores em julho de 2006. Em março de 2007, o Twitter

ganhou o prêmio SXSW Web Award24 na categoria Blog e deu um passo

revolucionário no caminho para a fama. Em abril do mesmo ano, desliga-se da

Obvious e torna-se um empreendimento independente, com o nome de Twitter, Inc.

Quando ocorreu um terremoto enquanto Jack Dorsey estava no escritório, ele

tweetou sobre o acontecimento em seu perfil e recebeu algumas respostas. Foi aí que,

de acordo com Bilton (2013), Ev Williams se deu conta do papel relevante que o Twitter

tinha na comunicação, indo para além de um simples status. “Jack continuava a ver o

Twitter como uma forma de falar a respeito do que estava acontecendo com ele. Ev

estava começando a ver o Twitter como uma forma de saber o que estava

acontecendo no mundo” (BILTON, 2013, p. 108).

O Twitter foi criado originalmente para servir de ponto de encontro para grupos de pessoas que já se conheciam. Quando telefonamos para alguém, é comum perguntarmos: "O que você está fazendo?" Entre outras coisas, o Twitter serve para mantermos contato ao longo do dia com familiares e amigos. Não mandaríamos um email para perguntar o que eles estão fazendo no momento, mas se a informação estiver disponível, ela será bem-vinda. Acontece que depois de algum tempo, os usuários do serviço começaram a explorar outras maneiras de usar a plataforma, por exemplo, para disseminar informação e para participar de conversas públicas. E hoje, um slogan mais apropriado que "o que você está fazendo?" seria "o que chama a sua atenção?" Assistiu um filme bacana? Tuite. A sua operadora fica interrompendo o seu dia com SMSs comerciais inúteis? Tuite. Encontrou um livro grátis explicando como usar o Twitter? Tuite, tuite! (SPYER et al. 2009, p. 24)

Em setembro de 2011, o Twitter anunciou que havia chegado ao número de

100 milhões de usuários ativos por mês no mundo todo25. Hoje, segundo o próprio

24O South by Southwest é um festival que engloba Cinema, Música e Tecnologia. A premiação ocorre dentro do quesito Tecnologia. 25Disponível em: <https://blog.twitter.com/2011/one-hundred-million-voices> Acesso em: 15 de maio de 2015.

39

site26 da companhia, 500 milhões de tweets são enviados diariamente pelos 302

milhões de usuários ativos. Desse quantitativo, 80% estão no celular e, das contas no

site, 77% encontram-se fora dos Estados Unidos. “Em 2007, as pessoas estavam

enviando 5 mil tuítes por dia. Em 2008, a empresa estava processando 300 mil tuítes

diários. Em 2009, esse número cresceu 1400%, chegando a 35 milhões de tuítes

diários” (BILTON, 2013, p. 230).

De acordo com Spyer et al. (2009), como não é muito comum para o Twitter

divulgar números a seu respeito, em uma pesquisa realizada em junho de 2009 pela

Sysomos, empresa especializada em análise de mídias sociais, o Brasil estava em

quinto lugar em relação ao crescimento do número de usuários aderindo ao site.

3.2 140 caracteres

Orihuela (2007) afirma que o Twitter é considerado um microblog por fazer uma

mistura de blog com Rede Social e mensageiro instantâneo27. Para melhor

compreensão, entende-se que é um microblog por limitar o tamanho de sua postagem;

blog por permitir que os usuários compartilhem suas opiniões de diversas formas;

Rede Social por permitir que os usuários sigam e sejam seguidos por outros; e

mensageiro instantâneo porque permite que os usuários que se encontram on-line em

determinado momento conversem entre si, seja através do Reply ou através da

Mensagem Direta, termos que serão explicados em outros tópicos.

Em 2009, o status do Twitter continha a pergunta “O que você está fazendo?”,

de modo que o sentido desse questionamento não mostrava qual era a verdadeira

intenção do microblog. O que Jack Dorsey queria era uma comunicação interna entre

os usuários da Obvious, de maneira que um saberia o que o outro estava fazendo em

tal momento. Como dito no tópico anterior, Ev Williams sabia que o Twitter tinha a

capacidade de mostrar para as pessoas o que estava acontecendo ao redor do mundo

– isso, muitas vezes, em tempo real. No blog do Twitter, Biz Stone (2009) escreveu:

O Twitter foi concebido originalmente como um serviço de atualização de status – uma maneira simples de manter contato com as pessoas conhecidas, enviando e recebendo respostas curtas para uma pergunta: “O que você está fazendo?” É claro que alguém em San Francisco pode responder: “Tomando

26Disponível em: <https://about.twitter.com/pt/company> Acesso em: 15 de maio de 2015. 27Twitter es una aplicación web de microblogging, una mezcla de blogging con red social y mensajería instantânea.

40

um café delicioso.” Mas uma visão panorâmica do Twitter mostra que não se trata apenas de devaneios pessoais. Entre aquelas xícaras de café, as pessoas estão testemunhando acidentes, organizando eventos, compartilhando links, notícias, relatando coisas ditas por seus pais, e muito mais28. (tradução nossa)

Hoje, com o status atual do Twitter, pode-se dizer que “O que está

acontecendo?” tem maior relação com a ideia que Williams tinha para o microblog. Os

usuários ainda compartilham o que estão fazendo – isso não mudou, mas também

espalham, através dos tweets, suas crenças, valores, notícias, além de criarem um

círculo social dentro da rede, fazendo novas amizades (inicialmente virtuais) e

possibilitando a expansão de sua abrangência.

O Twitter foi pensado para plataformas móveis como celulares, de modo que

funcionava apenas através de mensagens de texto, assim, os inventores adotaram o

padrão básico de tamanhos de SMS29: 160 caracteres, onde 140 seriam dedicados

ao texto em si e os 20 restantes para o nome do usuário, também chamado de

username. O que para algumas pessoas incomoda e impede de expressar totalmente

o que querem, tendo que, às vezes, abreviar as palavras, para muitas facilitou a leitura

do texto. Com o Twitter, os portais de notícias conseguem repassar suas informações

e, caso o leitor tenha interesse, ele clica no link e tem acesso à matéria completa

hospedada no site do portal.

Muitos usuários avançados de Twitter elogiam o serviço justamente pelo desafio de sintetizar a informação. Isso é uma mão na roda para quem começa a seguir 50, 80, 100 pessoas e tenta acompanhar todas as atualizações que chegam. Como as mensagens são curtas, você pode checar rapidamente se alguma coisa te interessa ou não. E nada impede que você desenvolva uma idéia em seu blog e mande pelo Twitter um resumo com o link para quem se interessar, clicar e saber mais. (SPYER et al. 2009, p. 26)

Assim, primeiramente, para se ter acesso ao Twitter, é preciso criar uma conta

na rede social, utilizando um e-mail já existente e criando uma senha. Após a

confirmação, o usuário terá diante de sua tela um novo perfil, onde vai poder seguir

pessoas e ganhar seguidores, além de criar seus tweets. Desse modo, nos tópicos a

28Twitter was originally conceived as a mobile status update service—an easy way to keep in touch with people in your life by sending and receiving short, frequent answers to one question, “What are you doing?” [...] Sure, someone in San Francisco may be answering “What are you doing?” with “Enjoying an excellent cup of coffee,” at this very moment. However, a birds-eye view of Twitter reveals that it’s not exclusively about these personal musings. Between those cups of coffee, people are witnessing accidents, organizing events, sharing links, breaking news, reporting stuff their dad says, and so much more. Disponível em: <https://blog.twitter.com/2009/whats-happening> Acesso em: 20 de maio de 2015. 29Short Message Service, em português, Serviço de Mensagens Curtas, também chamado de torpedo. Disponível em: <http://www.significados.com.br/sms/> Acesso em: 18 de maio de 2015.

41

seguir serão explicadas cada categoria do Twitter para melhor compreensão de como

a rede social funciona. Vale ressaltar que as imagens utilizadas para ilustrar os termos

abaixo serão dos perfis oficiais dos primeiros usuários do Twitter: @ev (Ev Williams)30,

@jack31 (Jack Dorsey), @biz (Biz Stone)32 e @noah (Noah Glass)33.

Perfil, seguidores e seguindo

Utilizando a página de Ev Williams (Figura 5) como exemplo para este tópico,

nota-se que o perfil do usuário no Twitter é composto por algumas ferramentas.

O Início é onde pode-se acessar a página inicial do usuário; Notificações são

as respostas e retweets que aquele usuário recebeu e pode acessá-los; Moments

(Momentos) é uma ferramenta que foi adicionada ao Twitter nos Estados Unidos em

outubro e no Brasil em meados de novembro de 2015. O novo recurso tem o símbolo

de um raio e contém as notícias mais relevantes do momento, como diz o próprio

nome.

Figura 5 – O perfil de Ev Williams no Twitter.

Fonte: https://twitter.com/ev

Acesso em: 18 de novembro de 2015.

As Mensagens são diretas – nelas, um usuário pode mandar mensagem para

30https://twitter.com/ev 31https://twitter.com/jack 32https://twitter.com/biz 33https://twitter.com/noah

42

outro sem que seus seguidores tenham acesso a ela. Na chamada Bio, na lateral

esquerda da imagem, o usuário pode escrever uma pequena biografia sobre si

mesmo. No caso de Williams, ele optou por escrever “Here” (Aqui, em português).

Além disso, pode-se optar por colocar sua localização (San Francisco, CA, US), um

website (medium.com/@ev/) e, abaixo, o próprio Twitter informa desde quando aquele

usuário tem uma conta no site (Participa desde março de 2006). Acima dessas

informações, encontra-se o nome da pessoa e uma foto – uma característica

diferenciada do Twitter é que, quando a conta ainda está inativa ou o usuário não fez

nenhuma alteração, na sua foto de perfil aparece a imagem de um ovo, como uma

referência a algo que está para nascer. Na parte central da imagem, encontram-se o

número de tweets do usuário, o número do seguindo (Following, as pessoas que ele

segue) e seguidores (Followers, as pessoas que o seguem), curtiu (Likes, são os

tweets que ele favoritou/curtiu – essa opção será explicada em outro tópico) e as listas

(com essa opção, o usuário pode selecionar diversos perfis que tem interesse e

agrupá-los em uma timeline34 separada para compartilhar com seus seguidores, de

modo que os assuntos não se misturem). Abaixo dessas categorias, encontra-se a

timeline do usuário, onde quem acessa seu perfil pode escolher entre ver apenas os

tweets, os tweets e as respostas e as fotos e vídeos publicados. No lado direito da

imagem, encontra-se a opção Seguir (Follow), onde, ao clicar, o usuário começa a

seguir aquela pessoa e a receber os tweets dela em sua timeline, e Quem Seguir

(Who To Follow), onde o Twitter faz uma seleção de outros perfis semelhantes aos

que o usuário já segue e os sugere. Santaella e Lemos (2010, p. 73) esclarecem que:

É como se, ao apertar o botão “seguir” no perfil de um usuário no Twitter, estivéssemos assinando o seu canal de RSS feed. Ao escolher quais microblogs iremos seguir, estamos escolhendo quais canais de informação iremos convidar para fazer parte de nosso fluxo de informações. Quando seguimos alguém no Twitter, estamos fazendo uma assinatura do seu canal de informações. Dessa forma, cada pessoa que seguimos torna-se um canal provedor de determinado tipo de conteúdo para nosso fluxo pessoal [...]

É relevante levar em conta que, no Twitter, uma pessoa pode seguir outra sem

que esta o siga de volta, ou seja, não existe uma regra que obrigue os usuários se

seguirem entre si. Portanto, não se faz necessário que um usuário siga outro para que

tenha acesso às informações que ele compartilha, a não ser que este último opte pela

34Em português, linha do tempo. “Trata-se da ordem das publicações feitas nas plataformas sociais online, ajudando o internauta a se orientar, exibindo as últimas atualizações feitas pelos seus amigos.” Disponível em: <http://www.significados.com.br/timeline/> Acesso em: 19 de maio de 2015.

43

opção de ter sua conta protegida, pois, se assim for, apenas os usuários que o seguem

podem ver seus tweets. Além disso, em uma conta protegida ou trancada (para se

referir ao cadeado que é exibido quando um usuário tem esse tipo de conta), as

pessoas não têm a possibilidade de retweetar um tweet. Ademais, vale lembrar que

um usuário pode deixar de seguir outro a qualquer momento (a essa ação dá-se o

nome de unfollow35).

@ e Reply

Bilton (2013) informa que o símbolo @ (arroba) está inserido na linguagem de

programação, sendo utilizado por engenheiros para falar com outras pessoas

conectadas a um servidor.

Esse símbolo foi usado pela primeira vez por um jovem designer da Apple, Robert Andersen, que em 2 de novembro de 2006 respondeu ao seu irmão colocando o @ antes de seu nome enquanto conversavam. Lentamente, o símbolo foi penetrando no vernáculo do Twitter, e as pessoas passaram a se referir umas às outras não pelo primeiro nome, mas por seus “@nome” no Twitter. O novo método de comunicação tornou-se tão popular no site que, no início de maio, Alex Payne, programador do Twitter, acrescentou uma nova aba ao site mostrando as “@respostas” das pessoas.36

Figura 6 – O reply.

Fonte: https://twitter.com/jack/status/597218212162314240 Acesso em: 18 de novembro de 2015.

Assim, um usuário só pode mandar um tweet para outro quando insere o @

antes do nome. O reply37 (Figura 6) é uma ferramenta que permite um usuário

35O verbo to unfollow: deixar de seguir. Disponível em: <http://pt.bab.la/dicionario/ingles-portugues/unfollow> Acesso em: 19 de maio de 2015. 36Atualmente, a aba “@respostas” foi substituída pela aba de Notificações. 37Disponível em: <http://www.comofazertwitter.com.br/o-que-e-um-reply/> Acesso em: 18 de maio de 2015.

44

responder o tweet do outro; é também chamada de resposta ou mention (menção). É

importante ressaltar que o username de alguém é que vai permitir que seu perfil seja

encontrado no Twitter.

# ou hashtag

Bilton (2013, p. 131) explica que, após o @, vieram as hashtags (em português

é chamado de marcador), “[...] o símbolo do jogo da velha que até então era usado

em aparelhos de telefone. No Flickr, o site de compartilhamento de fotos, as pessoas

às vezes usavam a hashtag para agrupar imagens sobre o mesmo tema.”

[...] uma parte dos usuários da internet já está familiarizada com o termo “tag”, que quer dizer “etiqueta” em inglês. Na Web, “taguear” significa relacionar palavras-chave a um determinado conteúdo para que ele possa ser encontrado por outras pessoas. O Twitter não seria uma ferramenta de comunicação tão poderosa se não fosse pelas tags. E qualquer um pode inventar e inserir tags, basta incluir nas mensagens palavras-chave precedidas pelo sinal de #. (SPYER et al. 2009, p. 20)

Entende-se, portanto, que hashtag é qualquer palavra ou frase que, precedida

pelo símbolo do jogo da velha, permite que o usuário, ao clicar nela, encontre tweets

que contenham aquele mesmo termo-chave. Por exemplo: se um determinado usuário

usa #supergood (Figura 7), ao clicar nele, encontrará todos os outros tweets onde os

outros usuários usaram a mesma hashtag, de modo que é feita uma seleção pelo

próprio site para agrupar esses tweets.

Figura 7 – Exemplo de Hashtag.

Fonte: https://twitter.com/biz/status/581896206231605248 Acesso em: 18 de novembro de 2015.

45

Retweet ou RT

O Retweet ou RT, segundo a Central de Ajuda do Twitter38, é um tweet

transmitido para os seguidores de um usuário, utilizado para repassar notícias de

modo que não se modifique a mensagem principal. Ou seja, o usuário vai dar RT em

determinado tweet sem alterar a sua mensagem. Antes, era bastante comum o RT

manual, onde colocava-se o RT na frente da mensagem. Por exemplo: “RT @nome

mensagem”. Hoje, o Twitter permite o RT automático (Figura 8), através do qual o

usuário precisa clicar apenas em um botão e pode acrescentar um comentário sobre

a mensagem, mas também sem modificar sua forma original.

A primeira motivação para se retuitar é retransmitir uma informação que você considera relevante para o seu grupo de seguidores. Com pouco esforço - na verdade, quase nada - você pode prestar um serviço importante para eles. Por cortesia, aquele que repassa a mensagem, credita o usuário que a enviou incluindo o nome dele ao texto. Dessa forma, dentro da economia informacional do Twitter, uma pessoa pode ganhar visibilidade e reputação - e seguidores - garimpando e chegando primeiro a notícias relevantes. (SPYER et al. 2009, p. 28)

Figura 8 – Símbolo do Retweet.

Fonte: https://twitter.com/noah/status/378675940261261312 Acesso em: 18 de novembro de 2015.

O resultado do retweet é que, quando um usuário dá RT em algo que será visto

pelos seus seguidores, provavelmente um deles também dará RT e repassará para

os seus próprios seguidores. Consequentemente, muitas outras pessoas terão acesso

38Disponível em: <https://support.twitter.com/articles/364620-o-glossario-do-twitter#> Acesso em: 18 de maio de 2015.

46

ao tweet original e assim ele se espalha na rede.

Curtir

Quando alguém gosta de um tweet específico, ele pode marcá-lo como

favorito39, de modo que pode encontrar todos os seus favoritos na aba “Curtiu” (Figura

5). No Twitter, o símbolo do curtir costumava ser uma estrela até a data de 2 de

novembro de 2015. A partir do dia 3, esse símbolo foi substituído por um coração que,

quando o usuário clica, fica vermelho, marcando que o tweet foi curtido (Figura 9).

Segundo o Twitter, a mudança veio para facilitar ainda mais a compreensão do

usuário. “[...] Nós sabemos que às vezes a estrela poderia ser confusa, especialmente

para os recém-chegados. Você pode gostar de um monte de coisas, mas nem tudo

pode ser seu favorito”40. Assim, o coração permite que o usuário se expresse melhor,

transmitindo mais suas emoções.

Uma característica em comum que o Curtir tem com o RT é que os tweets

sempre mostram os números de ambos, ou seja, quanto mais curtidas e RTs tiver um

tweet, maior será o seu alcance, e atrairá mais seguidores para o usuário. Entretanto,

quando um usuário apenas curte um tweet, diferente do retweet, ele não aparece na

timeline dos seus seguidores.

Figura 9 – Símbolo do curtir.

Fonte: https://twitter.com/ev/status/597926385034768384

Acesso em: 18 de novembro de 2015.

39Disponível em: <https://support.twitter.com/articles/364620-o-glossario-do-twitter#> Acesso em: 19 de maio de 2015. 40Disponível em: <https://blog.twitter.com/2015/hearts-on-twitter> Acesso em: 18 de novembro de 2015.

47

Contas bloqueadas

Alguns usuários às vezes entram em conflito entre si, seja por assuntos

pessoais ou ofensas. Assim, para evitar o contato, o Twitter dá a opção de um usuário

bloquear o outro, de maneira que nenhum dos dois poderá ter acesso aos tweets um

do outro, além do mais, um perfil não poderá seguir o outro nem adicioná-lo a listas.

É como se a conta não existisse mais, mas apenas no quesito da visibilidade.

Trending Topics

Os chamados Assuntos no Twitter (Trending Topics) são os assuntos mais

comentados do momento. Os assuntos são marcados por hashtags (#) e são

selecionados, segundo a Central de Ajuda do Twitter41, de acordo com a localização

do usuário e em quem ele segue. O usuário tem a liberdade de escolher a localização,

de maneira que pode selecionar por país ou mundialmente.

3.3 Por que tweetamos?

Quando o usuário acessa a página do Twitter na web (https://twitter.com/),

diante da tela aparece uma imagem (Figura 10) com uma frase que está mais para

um convite: “Bem-vindo ao Twitter. Conecte-se com seus amigos e outras pessoas

que você quer seguir. Saiba das últimas novidades, em tempo real, e de todos os

ângulos” (tradução nossa).

Santaella e Lemos (2010, p. 66-67) questionam e esclarecem:

O que é o Twitter? Uma verdadeira ágora digital global: universidade, clube de entretenimento, “termômetro” social e político, instrumento de resistência civil, palco cultural, arena de conversações contínuas. À pergunta “Para que serve o Twitter?” nossa resposta é que o Twitter serve como um meio multidirecional de captação de informações personalizadas; um veículo de difusão contínua de ideias; um espaço colaborativo no qual questões, que surgem a partir de interesses dos mais microscópicos aos mais macroscópicos, podem ser livremente debatidas e respondidas; uma zona livre – pelo menos até agora – da invasão de privacidade que domina a lógica do capitalismo corporativo neoliberal que tudo invade, até mesmo o ciberespaço.

41Disponível em: <https://support.twitter.com/articles/268981-perguntas-frequentes-sobre-assuntos-no-twitter> Acesso em: 19 de maio de 2015.

48

Figura 10 – Página inicial do Twitter.

Fonte: https://twitter.com/

Acesso em: 18 de novembro de 2015.

Entende-se, assim, que as pessoas que usam o Twitter procuram por

compartilhar seus interesses variados – desde uma banda nova, a um livro que leram,

a acidentes que presenciaram no seu dia a dia etc. A maioria das postagens trata de

fatos rotineiros e que talvez tenham pouco relevância na vida dos usuários, entretanto,

Java et al. (2007, p. 8) divide os usuários do Twitter em categorias:

Fonte de informação Uma fonte de informação é também um eixo e tem um grande número de seguidores. Este usuário pode postar atualizações em intervalos regulares ou com pouca frequência. Apesar das atualizações pouco frequentes, alguns usuários têm um grande número de seguidores, devido à natureza de suas atualizações. [...]

Amigos A maioria dos relacionamentos se enquadram nesta extensa categoria. Há muitas subcategorias de amizade no Twitter. Por exemplo, um usuário pode ter amigos, família e colegas de trabalho em seus amigos ou em sua lista de seguidores. [...]

Buscador de informações Um buscador de informações é uma pessoa que pode postar raramente, mas segue outros usuários regularmente. (tradução nossa)42

Dessa forma, as pessoas buscam no Twitter diversos objetivos, inclusive

aquelas que não utilizam sua conta diariamente. Esse caráter informativo do microblog

é porque ele é um ambiente propício para esse tipo de comportamento por parte dos

42Information Source An information source is also a hub and has a large number of followers. This user

may post updates on regular intervals or infrequently. Despite infrequent updates, certain users have a large number of followers due to the valuable nature of their updates. [...]

Friends Most relationships fall into this broad category. There are many sub-categories of friendships on Twitter. For example a user may have friends, family and co-workers on their friend or follower lists. [...]

Information Seeker An information seeker is a person who might post rarely, but follows other users regularly.

49

seus usuários. No Twitter, o mínimo torna-se máximo e, em pouco tempo, já está à

vista de todos os internautas que possuem perfil na rede. Políticos compartilham seus

planos de governo e promessas, celebridades afirmam sua fama, jornalistas o usam

como ferramenta de trabalho e os cidadãos se atualizam a respeito de tudo isso. O

Twitter permite a liberdade de expressão (apesar de que, provavelmente, uma vez ou

outra, algo possa ser ofensivo e ter represálias por parte dos usuários). O fato da rede

social ter essa característica de ser aberta para quem quiser usá-lo cria um leque de

inúmeras possibilidades.

No próximo capítulo, será feita uma análise do Twitter durante os atentados do

Estado Islâmico em Paris, em novembro de 2015. Foram selecionados alguns tweets,

cujo motivo de escolha será explicado nos devidos tópicos.

50

4 ATENTADOS EM PARIS: O TWITTER COMO PLATAFORMA DE DIFUSÃO DE

INFORMAÇÃO

4.1 Contexto e repercussão nas redes sociais

Em 13 de novembro de 2015, Paris vivenciou uma série de ataques em diversos

pontos da cidade. Segundo matéria divulgada no portal G143, a violência causada

pelos atentados deixou pelo menos 130 mortos e mais de 350 feridos. Sete lugares

foram alvo dos atentados. Na casa de shows Bataclan, na Boulevard Voltaire, onde

ocorria o show da banda Eagles of Death Metal, três atiradores entraram e fizeram

reféns, matando mais de 80 pessoas; no Bar Le Carillon e no restaurante Le Petit

Cambodge, disparos mataram cerca de 14 pessoas; no Bar La Belle Equipe, 19

pessoas foram vítimas de tiros e 13 ficaram feridas; nos arredores do Stade de France,

enquanto acontecia uma partida de futebol entre França e Alemanha, um homem-

bomba explodiu, deixando quatro mortos e mais de 50 pessoas feridas; na rua

Beaumarchais, foram sete pessoas feridas, sendo três em estado grave; e na pizzaria

La Casa Nostra, cinco pessoas foram mortas. De acordo com o que foi publicado no

G144, o grupo Estado Islâmico manifestou-se como responsável pelos atentados. Oito

terroristas foram mortos, dentre os quais sete cometeram suicídio.

A capital francesa sofreu o maior atentado da sua história desde a Segunda

Guerra Mundial, conforme matéria publicada no portal da revista Época45. Por ter sido

um fato recente, o que se tem de conteúdo tratando a respeito encontra-se apenas

nos noticiários, nos portais da internet e nas redes sociais, estas sendo um dos

principais veículos utilizados na divulgação de informações sobre os ataques.

Usuários e jornalistas postavam fotos e vídeos em tempo real. Além disso,

movimentos de solidariedade foram criados em favor das vítimas, como as hashtags

#PrayForParis (“#RezePorParis”) e #PorteOuverte (“#PortaAberta”), esta última

43Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/11/sobe-para-130-o-numero-de-mortos-nos-atentados-de-paris-diz-franca.html> Acesso em: 02 de dezembro de 2015. 44Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/11/atentados-em-paris-perguntas-e-respostas-sobre-os-ataques.html> Acesso em: 02 de dezembro de 2015. 45Disponível em: <http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/11/ataques-em-paris-o-que-se-sabe-ate-agora.html> Acesso em: 14 de fevereiro de 2016.

51

utilizada como forma de oferecer abrigo para quem foi afetado. O Facebook ainda

disponibilizou uma ferramenta chamada SafetyCheck, para quem estava na cidade

avisar aos amigos e familiares que estava bem.

As redes sociais realizam papel importante dentro desses acontecimentos, por

permitirem o acesso fácil e rápido, como já citado, mas também por permitirem

divulgação e compartilhamento de informações exclusivas. Pessoas se encontram

nestes espaços, procuram notícias de parentes, amigos e conhecidos e se comunicam

entre si para manter a informação circulando. Com o que aconteceu em Paris não foi

diferente. Com o Twitter, o Facebook e outros sites de rede social, as pessoas

manifestaram suas opiniões, noticiaram e se atualizaram, sem a necessidade de

esperar pelas notícias dos veículos de comunicação.

Dessa maneira, com o objetivo de compreender como a mídia tradicional e as

mídias sociais se entrelaçaram na cobertura desse acontecimento, quando uma

complementou a outra no compartilhamento de informações e na produção de

conteúdo, foram selecionados quatro casos relevantes para serem analisados no

tópico a seguir.

4.2 Análise de tweets

A sociedade atual é marcada pela rapidez com que são noticiados os fatos e

também pela efemeridade deles – embora algumas notícias permaneçam na rede por

mais tempo que outras. Somado a isto, no espaço rápido da Internet, é comum

também a brevidade dos relatos.

Por esse motivo, o Twitter ganha destaque ao apresentar frases curtas para

noticiar um acontecimento, com uma leitura mais instantânea e postagens que podem

ocorrer em tempo real, atualizando-se em períodos de tempo reduzidos,

características já citadas em capítulo anterior.

Diante dos acontecimentos em Paris, o Twitter mostrou-se ferramenta essencial

na divulgação de notícias, não apenas para os usuários que preocuparam-se em

manifestar solidariedade e compartilhar informações, mas para a própria mídia

convencional, que também o utilizou tanto com a finalidade de compartilhar o que

estava acontecendo na cidade durante e depois dos eventos ocorridos, quanto como

fonte para algumas informações.

Zago (2011) enfatiza que o Twitter foi mecanismo fundamental para

52

acontecimentos que foram noticiados primeiramente no microblog, depois foram para

a mídia tradicional e, logo após, retornaram para serem discutidos na rede social

novamente.

Com isso, discute-se se o Twitter constituiria uma espécie de potencialização da circulação jornalística, pois possui elementos e fatores que facilitam esse processo (como no caso de repliese retweets), potencializando o alcance da discussão sobre um determinado acontecimento para além dos canais tradicionais de distribuição de informações jornalísticas. [...] Essa utilização do Twitter para o compartilhamento de informações jornalísticas entre os usuários ganha relevância na medida em que o caráter de rede social da ferramenta propicia que as atualizações sejam enviadas para um grande número de seguidores – e até mesmo possam ser repassadas por esses para seus próprios seguidores, através de estratégias variadas, como os retweets –, fazendo com que essas pequenas notícias possam ser difundidas para um número elevado de usuários. (ZAGO, 2011, p. 7-8)

Para análise, foram selecionados os seguintes objetos:

1. En mémoire (@ParisVictims), perfil de empresa jornalística criado para

compartilhar imagens e informações das vítimas;

2. @laysushi, perfil no Twitter da jornalista Lays Ushirobira, que mora em Paris

e presenciou todos os acontecimentos, compartilhando informações em

tempo real;

3. Três tweets compartilhados no portal da BBC Brasil, que mostram

mulçumanos contra os atentados em Paris;

4. Por fim, o tweet divulgado no portal do Diário de Pernambuco, no qual o

Estado Islâmico comemora os ataques à capital francesa através de um

perfil no Twitter.

Tal análise será feita procurando identificar a relevância de cada objeto dentro

do contexto. Após as quatro avaliações, será feita uma abordagem geral a respeito da

importância dessas participações dentro do microblog, tanto para seus usuários,

quanto para os profissionais do jornalismo como fonte de informação.

4.2.1 @ParisVictims

Criado como um projeto da Mashable46, o perfil, intitulado Em mémoire (“Em

memória”), foi produzido para divulgar os nomes e mais alguns pequenos detalhes

46Disponível em: <http://mashable.com/2015/11/17/paris-attacks-victims/#NT8K2VBZGkqi> Acesso em: 07 de dezembro de 2015.

53

sobre as vítimas dos ataques em Paris. Como citado na sua descrição no Twitter: “Um

tuíte para cada vítima dos ataques terroristas em Paris em 13 nov., 2015”. A Mashable,

definida em seu site como uma empresa global de mídia, foi fundada em 2005 e hoje

conta com 45 milhões de visitantes mensais e 25 milhões de seguidores nos sites de

redes sociais.

Figura 11 – Perfil do En mémoire.

Fonte: https://twitter.com/ParisVictims Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

O @ParisVictims47, até 08 de dezembro de 2015, tinha 55,8 mil seguidores, não

seguia nenhum usuário e contabilizava 127 tweets. Cada tweet cita o nome de uma

vítima, idade, profissão, alguma característica como hobby e foto, como será mostrado

nos exemplos. A página derivada do Twitter, Everything we know about the Paris attack

victims (“Tudo o que nós sabemos sobre as vítimas dos ataques em Paris”) discorre

sobre os ataques e faz um breve resumo sobre cada vítima. Os tweets começaram a

ser postados no dia 16 de novembro de 2015, três dias após os atentados, e foram

publicados até o dia 30 do mesmo mês.

O que recebe maior notoriedade dentro dos tweets do @ParisVictims é o

número de retweets e curtidas em suas postagens, o que pode ser bem observado

nos exemplos escolhidos. O retweet, como já foi citado em capítulo anterior, é utilizado

para reproduzir certas informações já publicadas, de maneira que, na Figura 12

(abaixo), por exemplo, mais de 4 mil usuários reproduziram aquele texto em seus

perfis. Recuero e Zago (2011) esclarecem que, ao retweetar uma mensagem, aquilo

47Disponível em: <https://twitter.com/ParisVictims/> Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

54

pode gerar uma identificação entre os usuários, além de novas conexões.

Quando alguém faz um RT, está repassando uma informação que acredita que sua rede ainda não tenha recebido. Está, portanto, provendo acesso a algo que considera relevante. Essa ação de filtragem coletiva mantém a informação circulando e a leva a lugares mais distantes na rede. Gera, portanto, um benefício público, coletivo, decorrente da estrutura da rede. (RECUERO; ZAGO, 2011, p. 15-16)

Figura 12 – Elif Dogan, 26, Turquia.

Fonte: https://twitter.com/ParisVictims/status/666617289555378177

Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

As autoras concluem, assim, que o retweet funciona como uma moeda no

Twitter, por permitir gerar benefícios diversos (RECUERO; ZAGO, 2011).

Como pode-se verificar nas imagens (Figuras 12, 13, 14 e 15), elas foram

postadas entre os dias 16 e 18 de novembro de 2015, de maneira que se constata a

rapidez com que os responsáveis pelo perfil se preocuparam em recolher dados e

informações a respeito das vítimas. Essa é uma característica expressiva do

jornalismo atual presente nas mídias sociais que, conforme já citado, com o passar do

tempo, provocou nos profissionais a necessidade de se adaptarem às tecnologias e

ao que elas impunham.

55

Figura 13 – Guillaume Decherf, 43, França.

Fonte: https://twitter.com/ParisVictims/status/666298210445455364

Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

Figura 14 – Richard Rammant, 53, França.

Fonte: https://twitter.com/ParisVictims/status/667056193429368837

Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

56

Figura 15 – Mathias Dymarski, França.

Fonte: https://twitter.com/ParisVictims/status/666299958014799872

Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

Marcondes Filho (2009, p. 153) diz, portanto, que:

Esta multiplicação do que se pode fazer exige, de alguma maneira, que os homens deem conta de todas essas possibilidades e em um tempo relativamente curto. Já que se tem acesso a um número infinitamente grande de atividades e práticas e já que há equipamentos tecnológicos que tornam tudo isso possível e viável, trata-se de conseguir condensar essa imensa oferta num tempo que cronologicamente era o mesmo, que tinha a mesma marcação do começo deste século e do século passado, mas que permite hoje muito mais ações. O resultado é uma compressão do tempo. Tudo torna-se radicalmente comprimido e isso exige que as pessoas atuem mais rapidamente.

A mídia tradicional se diferencia desses tipos de perfis das redes sociais por

não ter a capacidade de divulgar essa quantidade de informações, no tempo e espaço

que normalmente dispõem para isto. Um jornal impresso, por exemplo, por já ter um

espaço padrão definido, não poderia publicar fotos e legendas de todas as vítimas,

como fez o perfil do @ParisVictims. Assim, com as redes sociais surgem novas

maneiras de fazer e divulgar notícia. Embora em certa medida os meios tradicionais

57

ainda se prendam ao seu formato antigo, aos poucos passam a integrar em suas

coberturas elementos e características próprias do meio virtual. Recuero (apud

SPYER, 2009, p. 25) afirma que:

Como as redes sociais na Internet ampliaram as possibilidades de conexões, ampliaram também a capacidade de difusão de informações que esses grupos tinham. No espaço offline, uma notícia ou informação só se propaga na rede através das conversas entre as pessoas. Nas redes sociais online, essas informações são muito mais amplificadas, reverberadas, discutidas e repassadas. Assim, dizemos que essas redes proporcionaram mais voz às pessoas, mais construção de valores e maior potencial de espalhar informações.

A autora ainda afirma que essas redes podem, muitas vezes, influenciar as

pautas jornalísticas (RECUERO, 2009), como foi o caso do @ParisVictims, que foi

citado em matérias de portais como o Huffington Post48. Nota-se, assim, que o portal

de notícias utiliza o Twitter como fonte para sua reportagem, confiando e dando

credibilidade ao perfil.

O que se percebe é que o objetivo do @ParisVictims foi fazer algo que a própria

mídia convencional não tem a possibilidade: deu rosto a dezenas de nomes,

apresentou características, rompendo com o formato frio da simples apresentação de

números, de modo que o leitor pode sentir uma proximidade com a vítima, pois, de

certa forma, ele passa a conhecê-la, mesmo que apenas superficialmente.

4.2.2 @laysushi

Lays Ushirobira é brasileira, formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper

Líbero, em São Paulo, e faz mestrado no Celsa Paris-Sorbonne, na França49. Pelo

perfil da jornalista e pelas informações obtidas sobre ela na Internet, ela já trabalhou

na Fundação Estudar e na Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio Brasil-

Estados Unidos).

Ushirobira atualmente mora em Paris e tem um perfil no Twitter desde julho de

2009. Com 702 seguidores e seguindo 369 pessoas, ela contabilizava, até o dia 08 de

dezembro de 2015, 2.946 tweets, incluindo 146 fotos e vídeos. Ao que se pode

perceber com sua página no Twitter, sua frequência de postagens não é muito

48Portal de notícias. Disponível em: <http://www.huffingtonpost.com/entry/mashable-creates-twitter-account-honoring-paris-attack-victims_564b38b2e4b06037734aaa8c> Acesso em: 08 de dezembro de 2015. 49Disponível em: <http://estudarnafrance.com.br/quem-somos/> Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

58

constante; entretanto, durante os atentados, Lays Ushirobira utilizou o Twitter como

um meio de manter seus seguidores atualizados sobre os acontecimentos, através da

publicação de informações e imagens em tempo real. Antes do dia 13 de novembro

(dia em que ocorreram os ataques, como já foi citado), o último tweet de Ushirobira

havia sido em 22 de outubro de 2015. Entre os dias 13 e 18 de novembro, ela fez 60

postagens na sua linha do tempo do Twitter, além de três retweets (um no perfil do

@g1, sobre Paris; outro no @libe, perfil oficial do jornal francês Libération, também

sobre Paris; e outro no @estadao, a respeito dos acontecimentos na cidade de

Mariana, em Minas Gerais).

Como é possível notar (inclusive sendo objeto de diversos estudos

acadêmicos), o Twitter é utilizado como mecanismo substancial no exercício da

colaboração, principalmente em tragédias e conflitos, onde se faz necessário mais

fontes dispersas na cobertura dos acontecimentos e maior rapidez no fluxo de

informações. Entre seus 60 tweets, 31 contêm fotos e dois contêm vídeos dos

momentos em Paris, através dos quais ela, ao que se percebe, conseguiu repassar

para os seus seguidores o que estava acontecendo. Ushirobira postou frases curtas,

como se pode ver nas imagens de seus tweets (Figuras 16, 17, 18 e 19), publicadas

no dia 13 de novembro, entre as 21 e 23h, logo após os acontecimentos.

Lemos (2008) aponta que, dentro do ciberespaço, todos podem ser potenciais

produtores de informação, por vivenciarem os acontecimentos e relatarem em seus

perfis e, graças à velocidade com que essa informação pode ser compartilhada, então,

há a possibilidade e a facilidade de acompanhar os fatos ao vivo, por assim dizer.

Assim, pode-se comparar essa situação com o que Brambilla (2011) cita ao falar sobre

celebridades no Twitter:

Há alguns anos, seria praticamente inviável pensar na possibilidade de acompanhar, ao vivo, flagras e barracos das celebridades favoritas. [...] O Twitter trouxe a real possibilidade de se estar presente no instante em que as notícias nascem. [...] Mais do que isso, o leitor tem a liberdade de acompanhar, em tempo real, uma rápida discussão envolvendo celebridades e depois conferir a visão dos portais de notícias sobre o acontecimento, além de opinar, munido com as mesmas informações sobre o assunto. (BRAMBILLA, 2011, p. 121-122)

59

Figura 16 – Primeiro tweet de Ushirobira sobre os ataques em Paris.

Fonte: https://twitter.com/laysushi/status/665298994252406784

Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

Figura 17 – Tweet postado em tempo real, com imagem do metrô em Paris.

Fonte: https://twitter.com/laysushi/status/665309404984688640

Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

Figura 18 – Uso da hashtag #paris para categorizar o tweet.

Fonte: https://twitter.com/laysushi/status/665314799345991680

Acesso em: 08 de dezembro de 2015

60

Figura 19 – Imagem em tempo real de Paris, postada às 22:50.

Fonte: https://twitter.com/laysushi/status/665330996267454466

Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

Um item a ser destacado nesse caso é o uso da hashtag #paris por Ushirobira

como uma maneira que ela encontrou de categorizar suas postagens, mecanismo

disponibilizado pela plataforma do Twitter, já que pelo fato de estar ocorrendo naquele

momento, outras pessoas podem pesquisar na rede social e se manterem atualizadas.

Por ser uma cobertura em tempo real, essas hashtags visam identificar a temática.

Assim, Zago (2011, p. 69) justifica que

[...] Devido à interatividade propiciada pela ferramenta, outros usuários viram aquela informação e procuraram repassá-la para suas redes, também atuando como filtros de informações para suas redes. Desse modo, a informação de caráter jornalístico circulou pela rede social, tendo sido vista por diversos usuários. No caso do Twitter, de que formas os interagentes podem atuar como filtros de informações, ou receber informações desses filtros? [...] pode-se identificar compartilhamento de links, retweets, emprego de hashtags e reportagem de acontecimentos originais como estratégias para filtrar informações para outros indivíduos, e retweets, busca por hashtags, e escolher quem seguir no Twitter como estratégias para obter informações de filtros. (ZAGO, 2011, p. 69; grifo nosso)

Mesmo em perfis mais pessoais, como é o caso do perfil de Ushirobira, onde

ela posta opiniões pessoais sobre diversos assuntos e também episódios da sua

rotina, podem vir a ser publicados conteúdos que possuem relevância jornalística.

Zago (2011) sustenta essa ideia dizendo que, ao compartilhar informações sobre

61

determinado assunto com seus seguidores em uma rede social, o sujeito pode não ter

a intenção de praticar jornalismo conscientemente, mas sua publicação pode obter

esse caráter dependendo do nível do interesse do público para com esse conteúdo.

Mais do que quase qualquer outra nova tecnologia de mídia anterior, a mídia social então desagrega o processo noticioso e atomiza os seus participantes. No Twitter, por exemplo, todos os participantes variando dos usuários particulares às organizações noticiosas oficiais são representados simplesmente pelas suas contas, forçados igualmente pelo limite de 140 caracteres da plataforma para as atualizações a compartilharem apenas mensagens curtas e URLs, e sem condições de comandar inerentemente mais espaço comunicativo que qualquer outro. Aqui não há espaços marcados para organizações específicas, nem qualquer maneira de controlar como, por quem e em que contexto as mensagens da gente são lidas, respondidas ou passadas para frente. (BRUNS, 2011, p. 134-135)

Pinho (2003) aborda algumas características da mídia on-line, entre elas a

instantaneidade. Segundo o autor, a TV ainda consegue bater todos os outros meios

de comunicação, mas, muitas vezes, as pessoas precisam esperar que as notícias

sejam exibidas nos telejornais ou publicadas em jornais. Essa instantaneidade da

informação dentro da internet trouxe mudanças dentro dos conceitos jornalísticos.

Um usuário que compartilha conteúdo com seus 20 seguidores no Twitter, por exemplo, pode parecer pouco expressivo, mas no momento em que um de seus followers, que, por sua vez, possui 300 seguidores, repassa (retweet) esta mesma notícia, o efeito é ampliado. [...] Dessa forma, o link é propagado por um componente da rede e aceito pelos demais, que o propagam também, como se acolhessem e valorizassem a notícia, devido à “fonte”, ou seja, não apenas o jornal que a publicou, mas o usuário, membro da rede social, que o espalhou. (SOSTER; LIMA JÚNIOR, 2011, p. 21-22)

Assim, o usuário torna-se uma espécie de filtro, ao escolher compartilhar ou

não determinado conteúdo. É importante levar em conta que, apesar de os tweets

possuírem apenas 140 caracteres, eles têm certa frequência de postagem, de forma

que, mesmo que a usuária não consiga dizer tudo o que deseja em uma postagem,

ela pode realizar várias. Ushirobira publicou em seus tweets imagens de Paris, tanto

dentro de um metrô, quanto na rua, mostrando para os seus seguidores como estava

a situação no momento. A mídia convencional pode fazer o mesmo fora das redes

sociais, utilizando os tradicionais veículos de comunicação. A televisão e o rádio ainda

possuem esse caráter de instantaneidade, pois podem estar presentes nos locais dos

acontecimentos, mas não podem cobrir tudo. O que modifica nessas situações é que

a rede social se transforma em um elemento colaborativo na cobertura de fatos

cotidianos. Steganha (2010, p. 14), porém, critica essa função ao dizer que:

62

[...] se por um lado o advento das novas tecnologias digitais facilitou o trabalho do jornalista, por outro, ele o ‘complicou’, na medida em que deu ao usuário que ‘domina’ as ferramentas tecnológicas o poder de participar da confecção da notícia. A pessoa que estava no Haiti na hora em que o terremoto começou e gravou, de um celular, a catástrofe ocorrida em 2010 tornou-se portadora de uma imagem de valor, do ponto de vista informativo. Por não poderem imaginar que tal desastre natural aconteceria naquele momento, as grandes empresas de jornalismo não tinham correspondentes no país e, por isso, teriam muito interesse em comprar ou divulgar a imagem. Esse “fotógrafo ou cinegrafista amador” tem duas opções: enviá-la a uma grande rede de TV ou a um portal de internet que tenha espaço reservado para divulgar e tratar conteúdos remetidos pelo público. Pode também, ele próprio, querer divulgar a informação em seu blog pessoal, Twitter, Flickr, Facebook ou qualquer outra rede social.

O próprio texto feito para o Twitter assemelha-se, por assim dizer, ao lide

jornalístico, respondendo às perguntas básicas de quem está lendo: o que, quem,

quando, onde, como e por quê. Pode-se dizer que funciona como um briefing50

(STEGANHA, 2010). A relevância das informações compartilhadas pela jornalista

Ushirobira encontra-se justamente nesse ponto, ela divulga aquilo que vai ser de

maior interesse para o leitor: o que aconteceu, onde aconteceu e as consequências

no cotidiano das pessoas e da cidade.

Desse modo, surgem diálogos entre o jornalismo tradicional e o “jornalismo on-

line” exercido pelos usuários de redes sociais como o Twitter, vistos como

colaboradores. Steganha (2010) relembra que essa colaboração existe desde o

surgimento da produção de jornais na Idade Média, quando as pessoas iam

repassando a informação para o responsável pela impressão. Para a autora, a

comunicação não é mais unidirecional nos tempos atuais; não se sabe mais quem

emite ou quem recebe a mensagem. “Dessa forma, começou a se desenvolver na web

um modelo de autoria coletiva, inspirado na colaboração de todos os internautas”

(STEGANHA, 2010, p. 41).

4.2.3 BBC Brasil

Os atentados em Paris viraram notícia nos jornais do mundo todo e nas redes

sociais diversas pessoas manifestaram-se para demonstrar sua solidariedade.

Entretanto, a BBC Brasil, em uma de suas reportagens (ANEXO A) sobre os

50“[...] ato de dar informações e instruções concisas e objetivas sobre uma missão ou tarefa a ser executada (p. ex., uma operação militar, um trabalho publicitário ou jornalístico);” Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/briefing/> Acesso: 11 de dezembro de 2015.

63

acontecimentos, esta publicada no dia 15 de novembro51, resolveu abordá-los a partir

de outro ponto de vista. O portal fez uma seleção de tweets de mulçumanos que se

apresentavam contra as atitudes do grupo terrorista Estado Islâmico. A matéria,

intitulada “'Terrorismo não tem religião': nas redes sociais, muçulmanos condenam

ataques em Paris”, mostra os pronunciamentos da comunidade mulçumana. Foram

selecionados três tweets para este trabalho, inclusos dentro da abordagem da BBC

Brasil.

Os três tweets (Figuras 20, 21 e 22) foram postados no dia 14 de novembro, o

dia seguinte aos atentados. A reportagem, além disso, utilizou outras fontes para

mostrar as opiniões daqueles que eram contra a situação, como a fala de um

marroquino em um vídeo publicado no YouTube, afirmando que o que aconteceu em

Paris foi obra de criminosos e não de religiosos.

Como na internet há um risco maior de serem divulgadas informações

inverídicas, já que tudo pode ser postado sem nenhuma espécie de filtro, a postura

do portal BBC Brasil ao escolher determinados tweets para serem divulgados indica

que esses mesmos tweets possuem credibilidade como fonte. Essa credibilidade

jornalística pode ser relacionada à confiança que os leitores depositam em um veículo

de comunicação, de modo que, quanto maior o nível de veracidade daquilo que é

publicado em determinado veículo, mais credível ele será. É o que Brambilla (2011)

defende ao falar sobre a nova função dos jornalistas dentro das redes sociais: eles

irão funcionar como um atestado de credibilidade para validar a informação.

Por outro lado,

Incluir o público passa a ser vital para a sobrevivência do próprio jornalismo. Difundir e transmitir são verbos da era de massa que parecem ficar cada vez mais no passado, dando lugar a outros mais adequados à mídia social, como conversar, compartilhar e interagir. (BRAMBILLA, 2011, p. 105)

51Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151115_protesto_muculmanos_mdb_ab> Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

64

Figura 20 – Tweet de @IngridMattson.

Fonte: https://twitter.com/IngridMattson/status/665363186464374785

Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

Figura 21 – Tweet de @raisadoon.

Fonte: https://twitter.com/ralsadoon/status/665412234995179520

Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

65

Figura 22 – Tweet de @DrUmarAlQadri.

Fonte: https://twitter.com/DrUmarAlQadri/status/665537062691602432

Acesso em: 08 de dezembro 2015.

A BBC Brasil, ao utilizar-se de tweets postados por pessoas que não são

conhecidas pelos seus leitores, mostra exatamente essa interação que ocorre entre o

jornalismo e as redes sociais. O portal poderia ter feito entrevistas padrões com

estudiosos, pesquisadores ou pessoas mais especializadas na área, mas preferiu

selecionar usuários do Twitter, trazendo suas opiniões a respeito da violência que não

os representa, como na Figura 21 (acima), onde a internauta @ralsadoon faz o uso

de hashtags para dizer que os ataques à Paris não são em seu nome. Desse modo,

pelo número de retweets e por terem sidos publicados no portal, esses tweets podem

representar a opinião de determinado público. Steganha (2010, p. 36) justifica que:

[...] a participação do internauta acaba representando um complemento ao trabalho do profissional. A contribuição de usuários é uma realidade irreversível e nem tão recente. A ajuda de fontes na construção de reportagens sempre existiu, desde o início da imprensa, pois sempre alguém, por exemplo, foi testemunha de um fato e relatava os detalhes para o jornalista. No entanto, tende a ficar cada vez mais frequente essa colaboração daqui para frente com o avanço tecnológico e a incorporação dos gadgets no dia-dia das pessoas. O jornalismo deve encontrar formas de aproveitar a situação, sem com isso cair na espetacularização da notícia, aproveitando apenas o grotesco, o bizarro e o inusitado.

Fidalgo e Serra (2003, p. 110) listam uma série de características que a Web

proporciona ao jornalismo atualmente, entre elas a Interatividade e a Instantaneidade,

presentes no Twitter. A primeira, responsável por permitir que os leitores se sintam

mais próximos do processo do fazer jornalístico; a segunda permite maior rapidez nas

atualizações dos conteúdos, o que “[...] possibilita o acompanhamento contínuo em

torno do desenvolvimento dos assuntos jornalísticos de maior interesse” (FIGALGO;

66

SERRA, 2003, p. 78).

As velhas máquinas de escrever que povoavam as redações até o início da década de 90 aqui no Brasil foram cedendo lugar aos computadores e, com eles, consequentemente, a internet ganhou espaço. Depois foi a vez dos telefones celulares. Com eles, o mundo ficou mais próximo para o jornalista da ‘Sociedade da Informação’, e apurar uma notícia tornou-se um processo mais ágil e menos dispendioso. Com um clique ou uma ligação para um telefone móvel ou fixo é possível saber o que acontece do outro lado do planeta em tempo real. Nada mais de esperar as agências internacionais repassarem as notícias. Basta um e-mail, um SMS, um telefonema, um scrap ou uma ‘twittada’ para se obter instantaneamente a informação. (STEGANHA, 2010, p. 13)

Todas essas modificações influenciaram na rotina jornalística, vista

previamente em capítulo anterior. Steganha (2010) defende que, com a demanda

advinda das novas tecnologias, o jornalismo passou a oferecer mais espaços aos seus

colaboradores e também a abranger seu conteúdo para as redes sociais e blogs.

Ocorreu, assim, uma abertura do jornalismo para uma relação com as mídias sociais.

O jornalista utiliza o Twitter, por exemplo, para além de fonte (como no caso avaliado),

mas também para medir a repercussão das notícias, através dos Trending Topics,

além de interagir com os internautas, saber opiniões, conhecer seus gostos e suas

necessidades.

4.2.4 Diário de Pernambuco

O Twitter mostrou-se, mais uma vez, como um dos principais veículos para a

publicação de informações. Os atentados em Paris não foram os únicos

acontecimentos que tiveram o microblog como ferramenta de divulgação, como

relembra Shirky (2012, p. 248):

Às duas e meia da tarde do dia 12 de maio de 2008, um terremoto atingiu a província chinesa de Sichuan. Centenas de prédios desabaram, inclusive muitas escolas, deixando quase 70 mil mortos, 20 mil desaparecidos, 350 mil feridos e 5 milhões de desabrigados. A notícia do terremoto espalhou-se no mesmo instante por todo o globo através das mídias sociais. A primeira linha de cobertura foi composta pelos próprios residentes de Sichuan, com mensagens aparecendo no QQ (a maior rede social da China) e no Twitter quando o solo ainda tremia. Minutos depois, fotos e vídeos dos efeitos do terremoto estavam sendo enviados a partir de telefones celulares, com seus links sendo ainda mais difundidos por e-mail, mensagens instantâneas e torpedos. O tremor estava sendo discutido no QQ e no Twitter antes de chegar a qualquer site de notícias. RoryCellan-Jones da BBC contou que ficou sabendo do terremoto pelo Twitter. A página da Wikipédia sobre o terremoto foi criada quarenta minutos depois para receber a reação já costumeira de compartilhamento de links para informações sobre o desastre

67

e suas consequências. Em questão de horas, começaram a surgir sites destinados a ajudar na busca de amigos e parentes desaparecidos, e no dia seguinte já se angariavam doações no mundo inteiro em prol dos sobreviventes.

Com relação aos atentados de Paris, uma das matérias mais comentadas foi a

comemoração do Estado Islâmico pelos ataques à França, através do Twitter. A conta

que publicou o tweet foi suspensa e não foi possível encontrar o original na rede social.

O tweet (Figura 24) foi escrito em árabe pelo perfil @_Mi_Sk_ e, segundo outros

portais de notícia52, continham ameaças e mensagens de ódio, motivo que causou a

suspensão da conta.

Figura 23 – Tweet publicado no portal do Diário de Pernambuco.

Fonte:

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/mundo/2015/11/13/interna_mundo,610178/estado-islamico-comemora-ataques-a-franca-pelo-twitter-e-ameacam-outras-capitais.shtml

Acesso em: 08 de dezembro de 2015.

O perfil do Diário de Pernambuco (@DiarioPE53), até o dia 11 de dezembro,

continha 218 mil seguidores e 96,2 mil tweets, além de seguir 704 pessoas.

Entretanto, o tweet que continha o link para a reportagem (ANEXO B) do portal (Figura

24), teve apenas 146 retweets e 48 curtidas.

52Disponível em: <http://br.blastingnews.com/mundo/2015/11/estado-islamico-comemora-ataques-terroristas-em-paris-00652379.html> Acesso em: 11 de dezembro de 2015. 53Disponível em: https://twitter.com/diariope Acesso em: 11 de dezembro de 2015.

68

Figura 24 – Tweet publicado no perfil do Diário de Pernambuco.

Fonte: https://twitter.com/diariope/status/665310538512117760

Acesso em: 08 de dezembro de 2015

Shirky (2012, p. 53) afirma que os profissionais do jornalismo se tornaram

gatekeepers (porteiros) pois, ao mesmo tempo, eles fornecem e controlam as

informações. Com a Internet, surge um novo fenômeno: chamado de gatewatching,

essa prática é uma espécie de curadoria das informações. Bruns (2011, p. 124) explica

que nesse espaço os usuários vão produzir, compartilhar e discutir a respeito desses

acontecimentos que são tidos como notícias, transformando esse trabalho em uma

cobertura noticiosa tão eficiente quanto aquelas realizadas pela imprensa. Recuero

(2011, n.p.)54, dessa forma, concorda ao dizer que:

Nesse contexto surge o que eu considero o primeiro desafio do jornalismo: ser um filtro. Filtrar e organizar a informação, priorizando e aprofundando aquelas que são mais relevantes para a população. Trazer o que há de relevante e não mais a novidade. A era do "furo" acabou. Nenhum jornalista consegue competir com 500 milhões de fontes (que é, por exemplo, a população do Facebook) que estão diretamente conectadas às audiências. O novo desafio, que a meu ver cabe ao jornalismo, é organizar o caos informacional, desenhando o espaço social, trazendo as informações relevantes em determinados espaços, contextos e locais (sim, locais, porque o jornalismo precisa ser também hiperlocal). (grifo da autora)

Essa mudança que é observada no relacionamento entre os jornalistas e seus

leitores mostra que a internet incrementa a vida real, de maneira que é cada vez mais

comum encontrar quem não consiga viver sem. Se o indivíduo tem uma rede social, é

54Disponível em: <http://www.raquelrecuero.com/arquivos/2011/04/desafios-para-o.html> Acesso em: 11 de dezembro de 2015.

69

muito difícil que ele presencie algo relevante e não vá publicar pelo menos um

comentário a respeito em sua página. Desse modo, o jornalista ganha no usuário de

mídias sociais um aliado. Keen (2009), entretanto, é contrário a essa ideia, ao dizer

que, graças à facilidade que os indivíduos têm de postar tudo que quiserem na hora

que quiserem, não existe mais uma diferença entre o que é

[...] público e autor, fato e ficção, invenção e realidade [...]. O culto do amador tornou cada vez mais difícil determinar a diferença entre leitor e escritor, artista e relações públicas, arte e publicidade, amador e especialista. O resultado? O declínio da qualidade e da confiabilidade da informação que recebemos, distorcendo assim, se não corrompendo por completo, nosso debate cívico nacional. (KEEN, 2009, p. 30)

O que se destaca nessa parte da análise é o fato de grupos terroristas utilizarem

a Internet para propagarem suas ideologias. De acordo com uma publicação do EA

World View55, Syria and Iraq Analysis: Understanding — and Countering — The

Islamic State’s Use of Social Media (Análise da Síria e do Iraque: Entendendo – e

Contrariando – o uso de Mídias Sociais pelo Estado Islâmico), o uso dessas

plataformas pelo EI (Estado Islâmico) é uma estratégia de guerra com a finalidade de

aterrorizar os inimigos, convencer seguidores e atrair simpatizantes. São sites e fóruns

on-line onde eles fazem circular vídeos e imagens, principalmente em redes sociais

menos utilizadas, como Justpaste.it, para evitar o bloqueio de suas contas. Até 2014

eram mais de 12.000 contas por cidade no Twitter, sendo mais de 156 tweets por

minuto, utilizando hashtags específicas, e, sempre que uma conta é excluída, eles

criam outra com um nome falso.56

Este amplo trabalho em meios de comunicação social apoia uma estratégia de dois níveis de propaganda. No primeiro nível, o Estado Islâmico divulga suas atrocidades através dos vídeos e fotografias de execuções em massa, decapitações, apedrejamento até a morte de mulheres e destruições de santuários sagrados. Estes aparecem pela primeira vez no Twitter antes de serem distribuídos para o YouTube e outras redes sociais e sites. A linguagem utilizada depende do público: por exemplo, o vídeo da decapitação de jornalistas americanos e britânicos e trabalhadores humanitários foi veiculado, visando o público ocidental. (EA WORLD VIEW, 2014)57

55Blog criado em 2008 para cobertura e análise do Irã, Síria, Oriente Médio e Rússia. Disponível em: <http://eaworldview.com/2014/11/iraq-syria-feature-islamic-states-use-social-media/> Acesso em: 11 de dezembro de 2015. 56According to reports, the Islamic State has more than 12,000 Twitter accounts for each city under their control, as well as one for each member. Whenever a member account is blocked, they create another one under a fake name. Posting approximately 156 tweets each minute. 57This wide-ranging employment of social media supports a two-level strategy of propaganda. On the first level, the Islamic State publicises their atrocities through the videos and photographs of mass executions, beheadings, stoning to death of women, and destructions of holy shrines. These first appear on Twitter before being circulated to YouTube and other social networks and websites. The language used depends on the audience: for

70

Em novembro de 2015, o G158 publicou uma matéria a respeito do “terrorismo

viral”, chamado assim por ser realizado nas redes sociais. Segundo o portal, o Twitter

é um dos canais preferidos de atuação do EI. O próprio secretário de Defesa dos

Estados Unidos, Ashton Carter, afirmou que o grupo terrorista Estado Islâmico é o

número um das redes sociais59. Assim, diante dos clássicos meios de comunicação,

não seria possível esses indivíduos se manifestarem facilmente, de maneira que eles

encontraram uma saída para esse dilema na Internet, onde é fácil ter vez e voz. A

forma encontrada pelas empresas de mídia para combater esse tipo de terrorismo on-

line é desativar as contas, que logo ressurgem.

As plataformas da mídia social como o Facebook e o Twitter servem para acelerar ainda mais a velocidade em que as matérias noticiosas são compartilhadas, debatidas e às vezes desacreditadas; elas tornam sempre mais difícil que uma única organização noticiosa reivindique a propriedade de uma matéria ou que mantenha uma agenda noticiosa; elas atuam como um canal para as conversações imediatas mais ou menos públicas entre os jornalistas participantes, usuários das notícias e outros atores públicos associados a uma matéria, e ao fazerem isto fornecem um novo espaço vital e visível para trocas de opiniões relativas às notícias, fora do controle de qualquer organização noticiosa tradicional. (BRUNS, 2011, p. 131)

Diante dos quatro objetos analisados, pode-se compreender, dessa forma, que

a Internet não veio com a função de substituir os meios de comunicação já existentes,

mas sim integrar-se a eles e complementá-los. Sua principal função, como foi

explicitado em todo este trabalho, é possibilitar o acesso à informação de maneira

mais prática. Por ser um espaço onde as notícias voam e se multiplicam, o jornalismo

convencional vem apropriando-se dele como fonte e mais um canal de diálogo com

os cidadãos. Dessa maneira, como citado por Java et al. (2007) ao final do capítulo

anterior para abordar a divisão dos usuários do Twitter em categorias, eles são tidos

tanto como fontes de informação – por realizar postagens mais frequentes, como

também buscador de informações – por utilizar a rede social como um filtro de notícias.

example, the video of the beheading of US and British journalists and aid workers features spoken English, aiming at a Western audience. 58Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2015/11/estado-islamico-usa-de-whatsapp-twitter-para-promover-terrorismo-viral.html> Acesso em> 11 de dezembro de 2015. 59Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2015/11/17/eua-consideram-que-ei-sao-os-terroristas-numero-1-das-redes-sociais.htm> Acesso em: 11 de dezembro de 2015.

71

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O modelo Web 2.0 de Tim O’Reilly trouxe para a Internet a aproximação dos

usuários ao processo de produção de conteúdo. Claramente, no campo da

comunicação midiática, as atuações de emissor e receptor tiveram suas fronteiras

alargadas e hoje qualquer pessoa com um dispositivo tecnológico é capaz de fazer

comunicação na rede, com todas as singularidades que isto significa.

Na Web 2.0, uma plataforma de construção de sites para a web que permite a conversação a partir do uso das novas tecnologias, a participação é a palavra-chave. Os sites da Internet cada vez mais têm deixado de ser um mero repositório de conteúdo para se tornarem locais para se visitar, ambientes em que os usuários não só podem receber conteúdo, como também podem participar da produção do mesmo. (ZAGO, 2011, p. 59)

Jack Dorsey, Ev Williams e Biz Stone talvez não pudessem imaginar que o

Twitter teria papel tão importante nessa era tecnológica. Não são apenas empresas

que fazem uso das ferramentas do microblog, mas estudantes e estudiosos, artistas

e políticos, ou seja, os mais diversos sujeitos compõem seu público diário. Através de

textos de 140 caracteres, usuários do mundo todo se interligam pelo uso de hashtags

e retweets.

No decorrer deste trabalho, foi discutido de que forma as tecnologias digitais

modificaram a função do jornalista e como este profissional e as empresas

jornalísticas têm se utilizado desses meios para a produção e difusão de notícias,

tendo como foco o Twitter. As redes sociais, estudadas no primeiro capítulo, e a

própria Internet, revolucionaram a comunicação e trouxeram inovações que

permitiram maior acessibilidade aos cidadãos. A possibilidade de estar conectado a

qualquer hora, em qualquer lugar, em si já era algo que modificava a forma que os

meios de comunicação eram vistos. Os grandes veículos e a imprensa convencional

possuíam o monopólio da notícia, realizando uma filtragem do que deveria ser ou não

divulgado.

O Facebook, o Instagram, o Twitter e todas as redes sociais que se encontram

em alta no momento, permitem que ocorra a interação entre usuário-usuário e usuário-

jornalista. Nos seus próprios perfis, os profissionais pedem sugestões de pautas, leem

opiniões e conseguem se relacionar com seus leitores, sem que eles precisem

escrever uma carta ou fazer uma ligação. O jornalista, algumas vezes, nem precisa

mais sair do seu local de trabalho para chegar ao acontecimento – um seguidor de

72

sua página pode estar no local, na hora certa, e lhe repassar as informações

necessárias para a produção da reportagem.

Neste sentido, percebe-se que

A utilização de mídias sociais possibilitou o surgimento de novas funções para os jornalistas, além de alterar os processos de edição da notícia. Além dessas mudanças na profissão, a interatividade das tecnologias digitais também permitiu a participação do público consumidor de notícia na produção jornalística, gerando o jornalismo colaborativo. (VIRGINIO et al, 2011, p. 13)

O Twitter hoje não é apenas um mecanismo para se dizer o que está fazendo.

Quando questiona o que está acontecendo em sua página inicial, a ferramenta

estimula que os usuários se manifestem, comentem, compartilhem, espalhem. No

entanto, é importante ressaltar que o fato de um usuário possuir certo poder para o

compartilhamento de informações não faz dele um jornalista, pelas especificidades da

profissão, o que não se aprende de um dia para o outro. Ainda assim, este usuário é

uma fonte potencial de informações, como percebeu-se nos casos analisados.

A informação, cada vez mais, vale pela sua qualidade e também pela sua

quantidade. No Twitter, quanto mais se fala de algo, mais aquele tema vai ficar entre

os mais comentados e ir para os Trending Topics. Entretanto, no outro dia, os usuários

provavelmente já estarão comentando outro assunto. A efemeridade no campo on-line

exprime a importância de os jornalistas se manterem atualizados o tempo todo.

Os atentados terroristas à cidade de Paris são um exemplo recente de como

uma ação coletiva pode trazer benefícios para todos os lados. O perfil @ParisVictims

trouxe a identificação das vítimas; a jornalista @laysushi apresentou cobertura em

tempo real dos eventos para os seus seguidores; a BBC Brasil mostrou que nem todos

os mulçumanos apoiam os atos terroristas; e o Diário de Pernambuco mostrou que as

redes sociais são um espaço amplo e aberto para todos os tipos de público, inclusive

para os responsáveis por atos criminosos.

O relacionamento entre o jornalista e seu leitor pode e deve ser aproveitado de

forma a melhorar continuamente o jornalismo atual. Nesse novo cenário de sociedade

da informação, cabe ao jornalista verificar a veracidade dos fatos com a finalidade de

garantir a credibilidade da notícia. Ao internauta, fica a função de colaborador,

compartilhando as informações que recebe.

Em vista de todos os pontos que foram explanados neste trabalho, podemos

afirmar que as redes sociais, neste caso o Twitter, e o jornalismo complementam um

ao outro e são necessários entre si. O microblog, com seus 140 caracteres, tornou-

73

se, para além de um diário virtual de seus usuários, um gerador de pautas e fontes de

informações primárias, trazendo notícias em primeira mão por ter um alcance

abrangente. Pode-se inferir, assim, que não existe concorrência entre esses dois

campos: com o Twitter, o jornalismo encontrou uma alternativa para usufruir da

participação/colaboração dos leitores.

Esta pesquisa, com o intuito de mostrar de que maneira a mídia cria uma nova

forma de fazer jornalismo através das mídias sociais na divulgação de notícias, ainda

não é suficiente para expor todas as possibilidades existentes de interação entre as

redes e o jornalismo. Outras redes sociais também fazem parte dessa relação e,

provavelmente, novas surgirão com ferramentas que vão complementar ainda mais o

trabalho da imprensa. Em uma era de inovações digitais, o jornalismo precisa estar

preparado para se reinventar todos os dias.

74

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ANEXO A – REPORTAGEM DA BBC BRASIL

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Fonte: BBC Brasil (2015)

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ANEXO B – REPORTAGEM DO DIÁRIO DE PERNAMBUCO

Fonte: Diário de Pernambuco (2015)