o leão de neméia. o desvio como ponto de partida

Upload: paulo-viana

Post on 17-Jul-2015

248 views

Category:

Documents


24 download

TRANSCRIPT

  • 5/14/2018 O leo de Nemia. O desvio como ponto de partida

    1/8

    -~_ . . . "

    . ,,I ,,~I"

    .,(p.,....

    t .".;................:.....-:~.

    t.-

    HimllesdeuunJrenfaroLEAODA NEMEIA [itmdo deCb -b er o) , f er a q ru d t" !J or a pe ss oa s, e xt erm in a " ba nh osdestn5i pla11fafoes. 0hm5j tem dijiculdadt p ar a e nc on tr a~ ,(Iinimigo, mesmo p011j1l a s p es so as te me m a fl diur Stun om e! A o d ep ar ar -s e, fin aim en t , c om 0mOl l s lf :uoso ani -m al, H fn :u /e s n ao I he d d a s c os ta s, pnlerindo mlnntti-Ioo lh os n os o lh os , m ed ro m m ed o, C-01PO a corpo e assim auence. A partir de enliio passa a usar sua pele comoarmadum e s ua c ab ep c om o c ap ac ete . Zeus, p or s eu la do ,apos a vi fO ria d e H fmlles tr an sfo rm a " le ao e m constdCifilo,p ara q ue p ossa s er mai.r u rn g tl ia p ar a o s v ia /a nf es .

    , ~. -.- , ::: _ . _..... . ".,., r _ :r ""-i-~ '_ :_~ - - ~ ::: :

    o t.eao de Nemelao DESVIO c om o p on tode partida

    . . . .

    CAP iTULO fI P ara incroduzir esre capitulo (e iniciar a viagern)

    remere-me, como proposto, aos "Doze Trabalhos deHercules" e mats e s pe ci ficarne nte aq uilo que osdesencadeia, ou seja, a genese de seu percurso her6ico-compuls6rio. De faro, como se viu, sel l comportarnentodesviante des pad roes e das expectarivas - aDcorneter 0in fa nric id io - e 0 que desencadeia a saga. Interessantenotar que

    " re cu pe ra da a r az do , 0 h er6 i ( . .. J d ir ig iu - se aoOrd cu lo d e D el fo s e pe di u a A po lo que Ihe indicasseos meios de purificar-se desse 'morticinioinooiunrdrio- mas, mesmo assim, c on sid er ad o .'c rim e h ed io nd o', n a m en ta lid ad e g reg a. A P ttiao rd en ou -I he c olo ca r-s e a o s er oiio d e s eu primaEuristeu durante doze Of/OS, a o q ue A p olo e A te ndteriam aarscentado qUt, c omo p remia d e t amanhapunirdo, 0 herd; ob te ria 0 i mo rt at id ad e. " IBroo'Ho.1989: 95%1

    Ou seja, sua purificacao pelo sofrimcrito e irnposrapclos deuses arravcs de uma grande figura social deautoridade - 0 rei Eurisreu, que (paradoxalrnente i)

  • 5/14/2018 O leo de Nemia. O desvio como ponto de partida

    2/8

  • 5/14/2018 O leo de Nemia. O desvio como ponto de partida

    3/8

    . . .26 _ __ ~27"rido e havido como urn poltrao, urn covarde, urndeformado fisica e moral mente. " (B"d~989; 9~:. ParaPaul Die!, Hercules devers realizar sua Iib e rta caoesse nci al e interior estanda suje it o a s con di co csirnpostas pelo m eio ambiente, sendo escas simbolizadaspor Eurisreu, (Diel,1991:196).

    Penso que essas "condicoes arnbienrais" podem serentendidas, em nossa analogia, como 0:; cri terios quedefinem desvio, anorrnalidadc, d iv cr gc ri ci a . .. E e sobreesses criiterios qJuepodernos basear muitas das reflexoessugeridi ls pela temcitica do desvio,

    Assim, passemos agora ao prirneiro dos "Trabalhosde Hercules.

    Usa 0 contraponto, dessa primeira .facanha, parairidicar a necessidade de se olhar de frente a problemitica

    .do desvio, malgrado a propria dificuldade de se chegar aele, pela existencia de uma "politica" de despistarnento,oculta nas franjas de parametres estatisticos ou denaturalizacao dos fenomenos.

    Oculta tarnbern nas franj as de frase demazoz icae o 0ernitida (algumas vezes ate com "boas intencoes") partantas pessoas: "Somes todos desviantes, somos todosdeficicntes''. SOIl_1ostodos imperfeitos, somas todosdiferentes uns dos outros - essas sao afirrnacoes legttimas,Mas desviantes? Deficientes? Sabemos todos, rnuitobern, que nao, Que distancia h. entre usar 6culos e ser'. cego! Entre ter "pes chatas" e ser paraplegico! Entre ter"orelhas de abano" e ser surdo!

    E preciso diferenciar para compreender rn elho r. H aque separar para possibilitar a cornpreensao. Mas paradiferenciar e separar hi que conhecer 0 '(divisor deaguas" entre 0 normal e 0 anormal, entre 0 desvio e 0nao-desvio, entre 0 "legitirno" eo "ilegirirno" . ..

    Falernos agora, portamo, de desvio, de sua leitura ede suas conse q ue ricias (e e st a re rnos falando dadeficiencia). Falemos ta mbern da possibilidade detransformar aquilo que era inimigo numa luz norteadorade futuras incursoes, como a constelacao criada por Zeus.

    DESV IO

    Co meco lembrando que, de forma genenca, acoridicao desviante e estabelecida a partir de tres ordensde criterios: o~E:~i_s~iq, 0 anatdrnico/funcional e 0 deurn "tipo ideal".o indicative da media au, especialrnente, da modaestatfstica (valor da variavel que corresponde a urnmaximo de frequencia numa curva de disrribuicao) eusualmente urn dos crirerios que demarca a desvio. Ouseja, e urn p ara metro refe rid o a freqtiencia de aparecirnento de ur n dado: idade, sexo, altura, peso, raca,religiao, comportamemo ... Dado esse calibrado po rimimeros e possfveis insrrumentos de "rnedida".

    Assim, a part ir de levantamentos especificos, podemosdizer que a altura "do horn em brasileiro" e de tamoscenrirnerros, que 0 Brasil e urn "pals jovern", que osv el ho s " sa o r ni no ri a" , que nosso povo e "magro", que osco.mp~nentes da comunidade judaica configuram umammona . ..

    C?s~"gP_!JdQ."criteria, que estou denom in an do de.anatomico/ funcional, refere-se a "vocacao" das forrnase funcoes de objeros a u pessoas. Obviamente forma efuncao nao estao necessariarnente sernpre interligadas.mas tendo em vista a esp ecificidade da discussao aquiencetada, tomo a liberdade de uni-las par uma barra de

  • 5/14/2018 O leo de Nemia. O desvio como ponto de partida

    4/8

    ~'.- ~ , . ; . t . . ,. '_--_'_-_-__-29ligacao. Verernos mais a frente como se da, au nao se da,essa confluencia.

    Explicando melhor rninha linha de raciocinio, diriaque a "integridade" da forma e a "cornpetencia" para aexercicio de funcce s sao crirerios que definemmodalidades de desvio, desde urn autornovel sem portasau sem motor, ate uma pitanga quadrada au perrificada,passando por banquetas de duas pernas ou pessoas comuma apenas!

    Digamos que, grosso modo, essa modalidade decaregorizacao do desvio e a menos impregnada decrericas, val ores, opinioes ... Friso a menos pais isso pedeocorIer e ocorre - mediante cspecificidades de cararer.economico, religioso, cientffico, politico ...o terceiro crirerio aporirado refere-se ao cotejarnencoentre urn individuo de urn deterrninado grupo e 0 "tipoi~~~" par esse mesmog-rupo construido, A aproxirnacaoou a afastamento (ou se quisermos a sernelhanca ou adistincao) entre 0 analisado e 0 prototipo configurarao,respectivarnente, 0 pertencirnento ou 0 desvio,

    Esse mapeamento introdutorio, e inevitavelrnentesuperficial, pareceu importance para localizar a questaoque nos interessa (desvio/deficiencia) ern seu universede referencia, Desejo agora tentar aprofundar alguns deseus aspectos, como par exemplo a ternati ca dapatologizacao do desvio, e para iS80 estarci baseando-me em postulacoes de estudiosos e pesquisadores, devar ias areas.Assim, proponho cornecarrnos "ouvindo" a Anrropologia.E, ernbora a obra "Desvio e divergencia" (organizada porGilberte Velho) esteja rnais voltada para a questao docomportamento desviante doque para a do "corpo desviante"- 0 que tern urn profunda sentido para Hercules e suasf ac an ha s - I an ca re i mao de algumas de suas colocacces.

    Em "O escudo do cornportam ento desviante: acontribuicao da Antropologia Social" - arrigo inicial dessaobra - Velho enfatiza que, no nivel do sensa cornurn, 0problema dos desvian res e rernerido a uma perspectivade patalogia, com a "contribuicao" dos orgaos decornunicacao de massa que, encarregando-se de divulgare enfatizar esta perspective, a sedimentam. Alern disso, .essa forrnulacao pode se dar a partir de trabalhosacadernicos que, em suas palavras:

    "ndo sao capases de superar a camisa-de-foriadepreconce itos e intolerdncia. " (V "l ho , 1989 : 11 14 )Em rnuitos desses trabalhos sabe-se que, dependendo

    da otica, 0 "mal" estari a localizado no individuo(geralrnenre entao definido como fenorneno endogeneo u r ne sr no h er e.d ita rio ) au nos mecanismos socio-culturais mobilizados na identificacao deste tipo dedesvio. Oscila-se, portanto, entre uma patologia doindivfduo e uma patologia social Mas, como diz Velho,desviar 0 foco do problema para a sociedade nao resolvernagicarnente as dificuldades.

    Assim senda, ernbora seja legitime pensar que adistincao des diferentes niveis: b io lo gi co , p si co lo gi co ,social e/ou cultural facilite a con strucao de urnconhecimento an a lit ico s ist em at izad o, sirnu Ita-neamente e precise nao ignorar que uma "a~ao social"deserivolve-se nos tres niveis, ao mesmo tempo e nomesmo espaco.A esse respeito di z Velho que a dicotornia Individuo

    X Socie dade e/ou Cultura e que determine essescarninhos. Ou seja, nao se trata de negar a especificidadede fenomenos biologicos, psicolcgicos.e socio-culrurais,mas sim reafirrnar a irnportancia de na o perder de vista 0

    . .. , .. . " e .r

  • 5/14/2018 O leo de Nemia. O desvio como ponto de partida

    5/8

    30 __ ------seu cararer de inter-relacionamento complexo epermanenre.Velho diz ainda, alias logo nos para.grafos iniciais, queo desvio, e mais especificamente 0 individuo desviante,tern sido abordado a partir de uma perspectiva medica,portanto de uma perspectiva preocupada em distinguiro "sao" do "naosao".

    Per outre lado, em nosso contexte socio-cultural a doencae decodificada usualmentc como anormalidade, como desvio,como inferioridade - sernpre rernerendo-se a media dapopulacao. Assim, r ar a rn en te e la e pensada como diversidade.

    NORMAUDADE/ANORMAL IDADE

    Como rninha tentativa de sisternatizacao esra referidaa diferenca/deficiencia, com propriedade au impro-priarnente relacionada ou consequente a uma doenca, eimportance ouvir tarnbern a Medicina.

    Assirn, vejarnos 0 que tern a nos dizer Dr. Berlinguer,:988: S9-t-::~ rerrierendo-se ao texro de patologia geral deGuido Verr ioni:

    I . . . .Entre 0 tip ica me nte n or ma l e 0 claramentepatol6gico existe toda uma zona cinza inter-medid ri a d e c ondif oe s s em in ormais . N a li ng uagemc omum, ta t' s c ondz {o es oariadas de observa fi ios imp le s f or am semp re d is ti ng uid as p or t ermosespeaais. No campo morfol 6gi co ex te r io r ,po rexemplo, sao usadas as de ji ni foe s de "belo . fe io edisfarme", no campo moral, "bom, mau,maldoso ", no campo dar sensafoes corporeas,fala-se de "bem-estar, mal-estar e doenpa".

    (I

    ______________ ~31

    o autor pe rgunta-se en tao: "Quem 6 normal?" Eresponde com a dificuldade inerente a propriaqu estao, pois se e dificil a definicao da norma nossistemas fisico s, 0 que dizer dela num mundo taOdiversificado como 0 dos sistemas biologicos? Hoje,diz ele, todas as ciencias que estudarnos seres vivosten d ern a sub li n h ar cada vez mais 0 aspecto daindividualidade. I s 5 0 rorn a 0 concerto de normamuito mais dina mica, ao eliminar a inflexibilidadet~o comum em tempos anteriores, como espe-cialrn e nte no seculo passado. Em conseqiiencia, asdisti nco es entre normal e anormal, e entre anormal epatol6gico sofisticarn-se cada vez mais,

    Mas e sempre importance ouvir varies especialistase, assim, oucarnos 0 que Canguilhen (1990: 95-96) diz sabre 0"normal". Dentre imirneras colocacoes, 0autor remere-se a pr6pria etirnologia da palavra, lembrando que normasignifica esquadro, ou seja: "aquila que nao se inclinanern para a esquerda nem para a direira", Aponta, entao,dais sentidos derivados: 0 normal como aquila que ecomo deve ser; e 0 normal como aquila que se encontrana maier parte dos casas de uma especie dererrninadaou que consritui a media au modulo de uma caracterist icarnensuravel,

    E ai reside para a autor (0 que modestamente endosso)o grande equivoco: a mesmo termo designar simul-taneamerite urn fato e urn valor (advindo de urnjulgamento) atribuido por aquele que fala do fato .

    Canguilhen lembra, entao, que M uma confusao analozaem medicine: 0 estado "normal" designando, ao mesrnotempo, estado habitual e 0estado ideal dos 6rgaos. Mas mesrno autor enfariza, rnais adiante, que e a vida em S 1mesma,. muito maisque a aprcciacao medica, quetransforrna normal biologico num conceitode valor.

  • 5/14/2018 O leo de Nemia. O desvio como ponto de partida

    6/8

    .._! . 32 _ ~--:33 . ,' ,- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

    Canguilhen (l990:106-108;aprofunda ainda mais a relacao(ou a des-relacao) entre diversidade, anormalidade ep aco lo gia, afirm an do qu e d iv ersid ad e n ao e doenca, qu eo a no rm a l nao e o patol6gico este irnplica em pathos:ur n senti memo direro e concreto de sofrimento e dei rn p ot en c ia , " se n ti rr ie n to de v ida c on rr a ri a da " ,

    E aqui temos um a inrroducao p a ra a p ro f un d ar 0 terna"doenca" 0 qu e tern sentido clare e especffico: pelagrande possibilid ade de analog ia entre deficiencia edcenca (ernbora sejarn rnuitas vezcs situacccs coin-cidentes, nao 0 sa o necessariarnente); e p orqu e a p ro priaclassif icacao das deficiericias segue 0 modele medico,com o verernos m ais a frenre., Em relaca o ao conceito de doerica, n a p es qu is abibliografica d esenvolv ida en contrei assin aladas duasgrandes rendencias: omol6gica e dinamica, qu e seraoexp ostas em sin tes e baseada nas elab o r ac o e s deCanguilhen (199C)e Laplanrine [:591),Na concepcao ontologica da doenca, esta e consi-d erad a co mo a oposto qualita tivo da saride, sendo seueixo central a propria doenca. E ssa ideia da exisrenciade ur n "sec" da doenca encontrou su a primeira expressaocienrif ica em um a das correntes da medicina hipocratica,quando da teritativa de ruptura co m 0 pensamenroespeculativo e 0 inicio da atencao aos sintornas corporaisdo doente.

    Na concepcao dinarnica da doenca, a enfasedesloca-se de urn m o de lo lo ca liz aste p ar a u rn to ta liz an te oSendo a n atu re za h arm on ia e equillbrio, tanto dentrocomo fo ra do hom ern, a doenca e u rn d erivado quan-titativa d o estad o n orm al, e a pe r tu r ba c ao do equilfbrio,d a h ar m on ia . A s c ir cu n st an ci as e xr er na s sa o o ca si ce s e n aocau sas e a d oen ca na o e u ma e nrid ad e in im ig a e e stra nh a,mas urn desarran jn ~ por falca ou excesso, E , portanto,

    u rna conce pcao funcional, relacionaL Tr es sao aspossibilidades basicas de representacces advindas domodel e d in a rn ic o : ruptura do equ il ib r io entre 0hornerne ele m e srno, 0 hornern e 0 cosm os e 0 hornem e seur n eio s oci a l.

    A s si na la C an gu il he n (1990: m, referin do-se a s duasconcepcoe s (que e le d en om in a de on rologica eposirivista), que hi atualmente, no pensar m edico , urnmovimento o sc il at 6r io e nt re essas duas representacoesda doenca. Tam bern da deficiencial - d iria eu.

    Poderiarnos entao perguntar: existe alga em cornumriessas concepcfies? Pa r rna is paradoxa! q u e p a re q :l .. sim:o fate d e e nc ar ar em a doenca, a experiencia de estard oen te, co mo u ma situ acao p olern ic a. E , sen do p olem ica,mudam aperias as "adversaries": a o rg an is mo c on tr a. urnse r esrrariho ou luta intestina entre forcas gee seconfrontarn.o leiter lembrou-se d e H e rc ul es ? Eu sim!E a qu i v olto ao Dr. Berlinguer e a lgumas de suascolocacoes, in troduzindo m ais enfaticam ente algunsconceiros, chamernos a s sim , r e la c iona is . 0 auto! refletesabre "norm a biologica" e "norm a social", enfarizandoque, para a lg u n s f en 6meno s, a m an eira de "[ulgar" podeser, d ep en de nd o d as c on cin ge nc ia s, apenas bio'cgica.Mas enfatiza tam b em que, pelo co ntrario , ex isrernfenornenos que s ao a v al ia d os au considerados comonorrnais au anorrnais dependendo de outros fatorcs:profissao, cultura, renda, possibilidades terapeuricas ...E nfariza ainda a fato d a so ciedade poder transforrnare ssa s a va lia co es e m rn oriv o d e e xc lu sa o o u d e re prc va ca c.

    Concordo in tatum co m 0 autor, quando este zfirmacategoricamente qu e fazer coincidir ano rmalidade epatologia (com sua carga de p reconceitos) e umaarbitrariedade, pois se exisre uma norm a.ida deI----__-----~---------------.........----

    . ,

  • 5/14/2018 O leo de Nemia. O desvio como ponto de partida

    7/8

    - ,34 _biologica a eta e s ta ligada uma normalidade social, comsua avaliacao e tica e moral dos comportamento5,avaliacao essa que, alern de mesclar cr iter ios "ob-j etivos" e "subjet ivos", e sernpre dependente docontexte. E rnais:

    . .. n as soaedades des em ;of vi da s sao s empre maioresas reOfiJese as jp.terar1Jej itJStitucionais, que se ligam Iieconomia, (1) Estado, li cu ltu Ta , a o p od e): 'M a is ac araaer is ti ca soc ia l das pes soas e se r p ob re e m ar-gird, maior aprobabi lidade de que estaspessoas seiamdejinidas 'como anormais . "(BerEnpor, 1988:6l62)

    Do autor destaco, ainda, uma fa la de especialpertinericia:

    "Par te da premissa, p ar a e vit ar d u.v id as , queasd oe na zs e xis te m, e assombra 0 q ua nt a a lg umasde/as seiam d iv er same nt e c on si de ra da s s eg un doa so cie da de, a ip oca , o s in div fd uo s.( . ..) Existetambim a tmdfncia acentuada na soci edade a tua l,e xtr em am en te c om pe titio a e te cn ijic ad a, q ue iad e m td ti pli w. r a s b ar re ir as s el eti ua s, p ro cu ra ndojusHfiaila..s rom uma c ap a de c i e n t i f o ; i d . a . t k , ao invisdeprocurar uma maior in te gr ar ao e d e redusir ascondi{oespatogmicas. "IBeriinguer, 1988; 6368)

    ' . o grifo e rneu e sublinha a nccessidade, em meuentenderfundamental, de naonegar a e xis te nc ia f fs ic a,real, concreta (ou qualquer nome que se queira dar) deuma dada alteracao corporal, de urna dada deficiencia, 0que nao quer dizer que essa concretude corresponda atotal idade do fenomeno. Como ja vern sendo dito, naslinhas ou entreIinhas, minhas e de autores citados, se

    __ __ __ __ __ __ __ _ 3 5njio e possivel julgar 0 "n or ma l" eo "p ato lo gic o" so rn cn tepelo biologico, tarnbern nao 0 e sern a sua inclusao.

    Assirn, do ponte de vista biol6gico, 0 desvio estapreserite, no corpo par exernplo, quando hi falta auexcesso de. E ou nfio e um corpo desviante, da especiehurnana, conforme esteja ou nao constituido segundo aspa rfirn etros fixos e irnutavei s d~ natureza .. :-'_fa~ eimportance sublinhar que a mutualidadedos binorniossatide/ideal e desvio/patologia sinaliza a sua efetivainse rcao num processo un ico. E talvez 0 ma isirnportante: embora a difererica constirua-se sobre basesbiologicas ou psicologicas, ao ser revestida de um juizosocial tera, inevitavelrnenre, consequencias na vida'cotidiana.

    Nesse senrido, talvez urn aspecto interessante aa bordar seja a correlacao entre doenca/def iciencia eperigo, e seus desdobrarnentos psico-socio-culrurais.Para essa discussao respaldo-rne, ainda, em consideraccesde Berlinguer ao debrucar-se sobre as varias motivacoessubjacentes a essa correlacao, Denrre elas destaque-se:o risco dirigido a sa (ide dos outros; a eleicao de urn"individuo-alvo", isto e, de urn "bode expiatorio' emquem descarregar as desgracas da comunidade; asd if icu ldadcs c angusrias introduzidas pela doenca naconvivencia social e familiar ...

    Ao que eu acrescentaria: a arneaca contida na propriaexistencia da condicao de diferencalMas a prirneira dessas motivacoes e a unica de cunholcgico-racional, pais. baseando-se na ideia de conragio,de conhecimento ernpirico da transrnissividade ternorigem num faro real. Todavia aqui vale lembrar que 0limite entre a legirirna. necessidade de prevenir e apresence de preconceitos e sempre de dificil definicao,Ou, como diz Berlinguer [1988;75-83):

    . : ; _ " : . f .

  • 5/14/2018 O leo de Nemia. O desvio como ponto de partida

    8/8

    36 _ ". 37 ~""~------ _ - - - - - - - - - - - - l '" . .. me smo quando) ent re ossku /os XVIII e XIX,descobriu-se q ue a s a ge nt es r es po ns do ei s p el asdo tr .( 5 . '- i nf ecaosa s eram as microbios e nao os

    " h01l!{~~_',0 conce it de "pengo social" fo i usado,mais (I/fJ'lO p re te xto , p ar a um c on tr ole sabre aspessoas f ndo soment e sabre as dOe7J{asdo queparamedidas espec(jims depreven{i io . I s to iJez-se umus a cultura] ep ok tic o n eg at iu o d e uma d es co be rtaq ue , c o contrdrio, era p osiz io a. ( ... ) a repressiioC01JSJC!:!emente c olt ao a- se c on tr a 0 d oe nte , a oin vi..- d e c om aa te r a d oe nc a. "

    Eis ai urna introducao interessante para a necessarialocalizacao do fenomeno diferenca/deficiencia, "

    Talvez sejarn muitos os conceit?s a explorar, masparece-me irnprescindivel faze-lo (mesma a custa demuira energia rnutuarnente dispendida) pois a construcaode uma linguagem e urn entendirnento comuns sao(como codes sabemos) con dicao sine qua 11011 paraqualquer cornpar ti lharnento de ideias.

    Mas antes retorno urna frase do inicio do capitulo:"F alernos tam bern da passibilidade d e tra nsfo rr na r, a po soe rnbate, aquila que era inimigo numa luz norteadora def u tu r as i n c ur sc e s, tal como a constelacao criada por Zeus".

    Ou seja, a partir da exploracao e do questicnamentoda n ocao de d e svio, pode-se p e n sa-l o de formainovadora: n ao m ais e tao somente como patologia (sejaindividual au social , seja "malefica" au "benefice" - parausar expressces de Laplantine), mas como a expressaoda diversidade da natureza e da condicao hurnana, sejaqual for a criter ia uti lizado, dentre os rre s m ais usuais:estatistico, anatornico-funcional au do "tipo ideal".

    Enfatizo, portamo) a po ss ih i li dad e de uma novaconstelacao - a da diversidade - para pens3rmos 0desvio concrerizado em deficiencia.

    Com esse pano-de-fun do proponho-rne a afunilar araciocinio, enfocando nosso terna p ropr ia rnenre diro.

    Mas que a leiter nao espere, ja, uma conceiruacaoatual IOU uma atualidade conceitualr) pois me pareceuirnprescindivel precede-In de breve incursao prcspectiva.

    Seguern-se, porranto, algumas balizas do percursohistorico de represenracoes da deficiencia, de algumasdas reacoes a ela, de alguns procedirnentos em relacao aseus p or ta do re s ...

    Hercules e a "Hidra de Lerna" estarao conosco naproxima eta pa/tarefa.

    Aq ui urn parenreses doloroso: toda a garna de reacoese proeed::-::entos Que circunda a AIDS nos d iz. ,last irnavelr.:eme. que e como se os seculos XVIn e XIXfossern 0 ho':e!

    Concluindo (ternporariarnente) 0 raciocinio desen-volvido em rorno do terna "desvio" e suas interfaces comalgumas questoes s6cio-culturais, trago as reflexoes deJose Carlos Rodrigues [1983:~5).

    Salients 0 auror que cada sociedade, dependendo desuas caractensticas, elege urn deterrninado nurnero dea tributes que configuram como 0seu hornern-ideal deveser: inrelecrllal, moral e corporalmente. AMm disso, essaconstela~3.o de arrib utos e uniforme para todos osmembros, ernbora haja suris (au nao sutis) diferencassegundo as distintos grupos, classes ou caregorias dessasociedade,

    o mur:do d as r tp re sen ta {o e s se adiciona e seSobrepiJe a seu fundamenra natural ematerial,sem pn'f .)1 rdre tamente de le . As forpas jfsicas e asf or pa s c ol et io as e st do simultaneamente juntas es ep ar ad as . "