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6064 ISSN 2286-4822 www.euacademic.org EUROPEAN ACADEMIC RESEARCH Vol. VII, Issue 12/ March 2020 Impact Factor: 3.4546 (UIF) DRJI Value: 5.9 (B+) O Festival Folclórico de Parintins como Ferramenta da Educação Ambiental no Ensino Fundamental 1 MARIA DO SOCORRO BARBOSA DA SILVA MAMED Doutora em Ciências da Educação Universidad Evangelica del Paraguay (UEP) Abstract The general objective of this article was to address how the Parintins Folk Festival can be an environmental education tool in elementary education, in the municipality of Parintins, located in the State of Amazonas, Brazil. About the methodology, among the themes of the theoretical framework necessary to understand the theme object of this study, environmental education stands out, among others, evidenced through a bibliographic research that guided the analyzes and reflections. A field research was also carried out with managers, teachers, parents and students in three municipal schools in Parintins. The techniques used included lectures, seminars, guided interviews and an observation diary. Among the main results, the following is evident: when asked about the fact of believing that the school values regional and local culture, based on the Folkloric Festival: 50% of the students who participated in the survey answered yes; 30% answered yes, but without much emphasis; and 20% replied that they should value it more. In conclusion, it is highlighted that the inclusion of themes of this nature in the school's pedagogical project at the level of fundamental education in the area of environmental education will contribute to the manifestation of cultural identity, providing knowledge and valuing the plurality of the Brazilian, regional and socio-cultural heritage and local, allowing students to perceive themselves as members, dependents and transforming agents of the environment, identifying their elements and the interactions between them, actively contributing to its improvement. 1 The Parintins Folkloric Festival as a Tool for Environmental Education in Fundamental Education

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6064

ISSN 2286-4822

www.euacademic.org

EUROPEAN ACADEMIC RESEARCH

Vol. VII, Issue 12/ March 2020

Impact Factor: 3.4546 (UIF)

DRJI Value: 5.9 (B+)

O Festival Folclórico de Parintins como Ferramenta

da Educação Ambiental no Ensino Fundamental1

MARIA DO SOCORRO BARBOSA DA SILVA MAMED

Doutora em Ciências da Educação

Universidad Evangelica del Paraguay (UEP)

Abstract

The general objective of this article was to address how the

Parintins Folk Festival can be an environmental education tool in

elementary education, in the municipality of Parintins, located in the

State of Amazonas, Brazil. About the methodology, among the themes

of the theoretical framework necessary to understand the theme object

of this study, environmental education stands out, among others,

evidenced through a bibliographic research that guided the analyzes

and reflections. A field research was also carried out with managers,

teachers, parents and students in three municipal schools in Parintins.

The techniques used included lectures, seminars, guided interviews

and an observation diary. Among the main results, the following is

evident: when asked about the fact of believing that the school values

regional and local culture, based on the Folkloric Festival: 50% of the

students who participated in the survey answered yes; 30% answered

yes, but without much emphasis; and 20% replied that they should

value it more. In conclusion, it is highlighted that the inclusion of

themes of this nature in the school's pedagogical project at the level of

fundamental education in the area of environmental education will

contribute to the manifestation of cultural identity, providing

knowledge and valuing the plurality of the Brazilian, regional and

socio-cultural heritage and local, allowing students to perceive

themselves as members, dependents and transforming agents of the

environment, identifying their elements and the interactions between

them, actively contributing to its improvement.

1 The Parintins Folkloric Festival as a Tool for Environmental Education in

Fundamental Education

Maria do Socorro Barbosa da Silva Mamed- O Festival Folclórico de Parintins

como Ferramenta da Educação Ambiental no Ensino Fundamental

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Key words: Environmental Education; Elementary School; Folkloric

Festival; Parintins

Resumo

O objetivo geral desse artigo foi abordar de que forma o

Festival Folclórico de Parintins, pode ser uma ferramenta da educação

ambiental no ensino fundamental, no município de Parintins,

localizado no Estado do Amazonas, Brasil. Quanto à metodologia,

dentre os temas do marco teórico necessários para a compreensão do

tema objeto deste estudo, destaca-se a educação ambiental, dentre

outros, evidenciados através de uma pesquisa bibliográfica que

norteou as análises e reflexões. Realizou-se também uma pesquisa de

campo com gestores, professores, pais e alunos em três escolas

municipais de Parintins. As técnicas utilizadas incluíram palestras,

seminários, entrevistas dirigidas e diário de observações. Dentre os

principais resultados evidenciam-se os seguintes: quando questionados

sobre o fato de acreditar que a escola valoriza a cultura regional e

local, tomando por base o Festival Folclórico: 50% dos alunos que

participaram da pesquisa responderam que sim; 30% responderam

sim, mas sem muita ênfase; e 20% responderam que deveria valorizar

mais. Como conclusão, destaca-se que, a inserção de temas desta

natureza no projeto pedagógico da escola em nível de ensino

fundamental na área de educação ambiental contribuirá, para a

manifestação da identidade cultural, proporcionando conhecimento e

valorização da pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro,

regional e local, possibilitando ainda aos alunos perceberem-se

integrantes, dependentes e agentes transformadores do meio ambiente,

identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo

ativamente para a melhoria do mesmo.

Palavras-Chave: Educação Ambiental; Ensino Fundamental;

Festival Folclórico; Parintins.

INTRODUÇÃO

A educação ambiental (EA) constitui-se no objeto de estudo desse

artigo, cuja delimitação apresenta uma abordagem do “Festival

Folclórico de Parintins”, também conhecido como a “Festa do Boi-

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Bumbá”, que ocorre no município de Parintins, localizado no Estado

do Amazonas, região Norte do Brasil, como ferramenta da EA no

ensino fundamental, sob uma perspectiva socioambiental e educativa.

Dentre outros, o presente artigo buscou responder ao seguinte

questionamento: De que forma o Festival Folclórico de Parintins, pode

ser uma ferramenta da educação ambiental no ensino fundamental? A

hipótese que norteia a pesquisa parte da premissa de que, o Festival

pode ser utilizado como ferramenta da educação ambiental para

promover um meio ambiente saudável e equilibrado, através das ações

educativas, direcionadas aos estudantes do ensino fundamental,

podendo contribuir ainda para evitar problemas ambientais futuros,

favorecendo uma singular vivência da tríade ensino, pesquisa e

extensão.

Santos (2012) destaca que, a reprodução da cultura popular no

ambiente educacional assegura a continuidade da tradição pautando-a

pela coerência do conhecimento compartilhado e nestas bases, a

reprodução social assume a coordenação das ações por meio das

relações interpessoais legitimamente reguladas. Assim promove-se a

estabilidade da identidade do grupo para a vivência cotidiana,

mensurando-a pela solidariedade entre os membros e a socialização

das gerações, em bases sólidas de respeito humano e ao meio

ambiente.

Na visão de Santos (2012), essa condição também se justifica

pelo fato de saber-se que na reprodução da personalidade consolidam-

se as histórias de vida individuais, harmonizando-se com as formas de

vida coletivas, sendo em ambos os casos, avaliadas pela

responsabilidade das pessoas. Por esse viés, defende-se que a cultura

popular também contribui para a formação do pensamento crítico,

quando trabalhada dentro de critérios voltados para esta finalidade. O

cidadão poderá discernir e exigir, o que é melhor para a sua vida e de

seus concidadãos, submetendo os projetos e ações que objetivem

concretizar determinada política pública, a análises e debates

coletivos, justamente para se posicionar adequadamente sobre o que

lhes convêm aceitar ou rejeitar.

Parte dos resultados apresentados no presente artigo decorre

de anos de estudos, desde a dissertação de mestrado realizada no ano

de 2010, até a tese de Doutorado concluída no ano de 2015, intitulada

“Educação Ambiental e Diversidade Cultural Amazônica: A Festa dos

Bois-Bumbás do Festival Folclórico de Parintins como Ferramenta de

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Aprendizagem na Rede Pública Municipal de Ensino de Parintins -

Amazonas - Brasil”.

A educação ambiental e a diversidade cultural amazônica,

apresentadas neste artigo, possuem uma importante peculiaridade: é

produto da percepção de gestores, professores, pais e alunos de escolas

da rede pública municipal de ensino em Parintins no ano de 2010,

apresentando-se como uma combinação complexa que envolve

processos naturais e socioculturais.

O objetivo geral desse artigo foi abordar de que forma o Festival

Folclórico de Parintins, pode ser uma ferramenta da educação

ambiental no ensino fundamental.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ASPECTOS HISTÓRICOS, LEGAIS

E CONCEITUAIS

No contexto das origens e evolução da educação ambiental (EA), não

seria possível furtar-se à referência histórica. Conforme destacado por

Antônio (2000, p. 29), a EA tem seus primórdios nos povos antigos e

nos estudos pioneiros sobre a sociedade, sobre o homem e sua relação

com a natureza. A educação ambiental existe de maneira informal e

incipiente desde “épocas muito remotas, manifestada de forma

indiretamente no convívio pacífico que alguns indivíduos, rotulados

erroneamente como selvagens, mantinham com a natureza, da qual

faziam parte”.

Na realidade, esclarece Hannigan (2009), os povos antigos ou

as sociedades primitivas estabeleciam uma relação harmônica com a

natureza e já satisfaziam suas necessidades básicas utilizando-se de

sistemas tecnológicos rudimentares e elementares, aliada à utilização

de fontes energéticas renováveis, sendo "protetores da terra".

A educação ambiental era transmitida “oralmente pelos

homens mais sábios desses povos e denotavam claramente sua

interdependência com a natureza, que assumia o papel de provedora e

mãe respeitada”. Cronologicamente, nos idos do ano de 1889, o escocês

Patrick Geddes é apontado como o introdutor da educação ambiental

na sociedade moderna sociedade (ANTÔNIO, 2000, p. 29).

Ainda no contexto da evolução da EA, não se pode deixar de

correlacioná-la à sociologia ambiental e aos estudos da sociologia

clássica e ao meio ambiente, que, segundo Hannigan (2009), é uma

fonte de inspiração para os sociólogos ambientais contemporâneos,

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que procuraram se engajar em questões ambientais são as obras da

teoria clássica social, principalmente aquelas deixadas por Émile

Durkheim, Marx Weber e Karl Marx.

Cada um destes pioneiros da sociologia teve alguma coisa

significante a dizer sobre a sociedade e sua relação com a natureza.

Max Weber, por sua vez, analisou exemplos concretos desde acidentes

nucleares até eventos rotineiros de poluição como resíduos industriais

nos esgotos urbanos. As análises da estrutura e mudança sociais

realizadas por Karl Marx e Friedrich Engels, “tornaram-se o ponto de

partida de diversas grandes teorias ambientais contemporâneas”. Nos

primeiros trabalhos de Karl Marx o conceito de “humanização da

natureza é proposto e isto sugere que os humanos irão desenvolver

uma nova compreensão de empatia com a natureza” (HANNIGAN,

2009, p. 24).

Nesse cenário e face à necessidade emergente de uma

sociologia ambiental, ocorreu no período de 1970-2005 o surgimento

desse novo campo de estudo e de conhecimento e que contribuiu,

sobremaneira, para a emergência e sistematização da educação

ambiental (HANNIGAN, 2009).

Aliado a isso, a eclosão dos movimentos sociais

contemporâneos, nos quais se situa o denominado movimento

ambientalista e, em sua prática pedagógica, contribuiu para que a EA

se configurasse como uma resposta à colonização do “mundo da vida”,

das relações praticadas na sociedade civil, pela racionalidade

instrumental, “sob o signo mercantil e capitalista moderno, com o

objetivo de constituir instâncias de diálogo, espaços públicos,

democráticas e relações intersubjetivas” (LOUREIRO, 2005, p. 78).

No âmbito das principais conferências internacionais que

culminaram na sistematização da educação ambiental no mundo e no

Brasil, oficialmente, o marco inicial foi a Conferência da Organização

das Nações Unidas (ONU) sobre o ambiente humano, conhecida como

a Conferência de Estocolmo. A sistematização da EA ocorreu de forma

mais intensa, entre as décadas de 1970 e 1980, período que a

UNESCO promoveu três conferências internacionais, das quais

derivaram igual número de declarações: a Conferência de Belgrado

(1975), a Conferência de Tbilisi (1977) e a Conferência de Moscou

(1987) (MAMED, 2015).

Segundo Souza (2000), a Conferência de Belgrado em 1975,

congregou especialistas de 65 países, gerando a Carta de Belgrado,

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que preconiza uma nova ética planetária para promover a erradicação

da pobreza, analfabetismo, fome, poluição, exploração e dominação

humanas, bem como censura o desenvolvimento de uma nação à custa

de outra, buscando-se um consenso internacional. Sugeriu também a

criação de um Programa Mundial em EA. A Conferência de Tbilisi no

ano de 1977 foi a segunda reunião internacional promovida pela

UNESCO, e é considerada a mais marcante de todas, haja vista ter

revolucionado a EA. Conforme a UNESCO/IBAMA (1998)

desempenhou um papel importante, já que contribuiu no

estabelecimento de conceitos e definição dos objetivos e características

da EA.

De acordo com Leff (2001), a “Conferência Mundial sobre o

Meio Ambiente Humano” de Estocolmo em 1972, revelou a

necessidade de gerar um amplo processo de EA, o que levou a criar o

“Programa Internacional de Educação Ambiental” no ano 1975 e a

elaborar os princípios e orientações da EA já na Conferência de Tbilisi

em 1977, levando a fundar e a basear a EA em dois princípios:

1) Uma nova ética que orienta os valores e comportamentos sociais

para os objetivos de sustentabilidade ecológica e equidade social.

2) Uma nova concepção do mundo como um sistema complexo

levando a uma reformulação do saber e a uma reconstituição do

conhecimento. Neste sentido, a interdisciplinaridade se converteu

num princípio metodológico privilegiado da educação ambiental

(LEFF, 2001, p. 237).

Conforme Santos (2014, p. 8), a Conferência de Moscou, foi a terceira

conferência internacional realizada em agosto de 1987, que reuniu

cerca de trezentos educadores ambientais de cem países “e visou fazer

uma avaliação sobre o desenvolvimento da Educação Ambiental desde

a Conferência de Tbilisi, em todos os países membros da UNESCO”.

Nessa conferência, reforçaram-se os conceitos consagrados pela

Conferência de Tbilisi:

A EA deveria preocupar-se tanto com a promoção da conscientização

e transmissão de informações, como com o desenvolvimento de

hábitos e habilidades, promoção de valores, estabelecimento de

critérios padrões e orientações para a resolução de problemas e

tomada de decisões. Portanto, objetivar modificações

comportamentais nos campos cognitivo e afetivo (SANTOS, 2014, p.

8).

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Já no âmbito da década de 1990, ocorreu a Conferência do Rio de

Janeiro, oficialmente denominada de “Conferência de Cúpula da

Terra” e conhecida como a “Eco-92 ou Rio-92”, que ocorreu no Rio de

Janeiro no Brasil, no período de 03 e 14 de junho de 1992, ou seja, 20

anos após a Conferência de Estocolmo e “teve grande importância

para reforçar e ampliar essa nova abordagem ambiental, que já vinha

sendo discutida em documentos anteriores” (SANTOS, 2014, p.8-9). A

Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e

Desenvolvimento (CNUMAD), reuniu 103 chefes de estado e um total

de 182 países.

Sob uma perspectiva legal da EA, o art. 5º, V, da Lei n°

9.795/99 (BRASIL, 1999, p. 2), dispõe que no âmbito educacional, a

determinação legal no Brasil é que se promova a cooperação entre “as

diversas regiões do País com vistas à construção de uma sociedade

ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade,

igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade

e sustentabilidade”.

E pela sua reconhecida importância na construção da

conscientização individual e pública direcionada à conservação do

meio ambiente, dentre os mega princípios do direito ambiental,

sublima-se o princípio da educação ambiental, cuja promoção em todos

os níveis do ensino é uma exigência constitucional disposta no art.

225, § 1°, VI da Constituição Federal (BRASIL, 1988).

Conforme dispõe a Proposta de Resolução do Conselho

Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) N° 02/85 a educação

ambiental é:

O processo de formação e informação social orientado para: (I) o

desenvolvimento de consciência crítica sobre a problemática

ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a

gênese e a evolução dos problemas ambientais, tanto em relação aos

seus aspectos biofísicos, quanto sociais, políticos, econômicos e

culturais; (II) o desenvolvimento de habilidades e instrumentos

tecnológicos necessários à solução dos problemas ambientais; (III) o

desenvolvimento de atitudes que levem à participação das

comunidades na preservação do equilíbrio ambiental (BERNA, 2008,

p.114).

O art. 1º da Lei Nº 9.795, de 27 de abril de 1999 também determina o

conceito normativo de educação ambiental, que é o seguinte:

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Art. 1º - Entende-se por educação ambiental os processos por meio

dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,

conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a

conservação do Meio Ambiente, bem de uso comum do povo, essencial

à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (ANTUNES, 2006,

p.240).

Sob uma perspectiva conceitual da literatura, a EA tem apresentado

diversos conceitos e definições. Segundo Antunes (2006, p. 239) a

educação ambiental é: “um processo de aprendizagem e comunicação

de problemas relacionados à interação dos homens com seu ambiente

natural”. Trata-se, portanto de um “instrumento de formação de uma

consciência, através do conhecimento e da reflexão sobre a realidade

ambiental”.

Ainda na esfera conceitual, a educação ambiental é uma

praxis educativa e social que tem por finalidade “a construção de

valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o

entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de

atores sociais individuais e coletivos no ambiente”. Nesse sentido,

“contribui para a tentativa de implementação de um padrão

civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética

da relação sociedade-natureza” (ANTUNES, 2006, p. 239).

Dessa forma, “para a real transformação do quadro de crise

estrutural e conjuntural em que vivemos, a educação ambiental, por

definição, é elemento estratégico na formação de ampla consciência

crítica das relações sociais” bem como de produção que situam a

inserção humana na natureza (LOUREIRO, 2005, p. 69).

Como bem se posiciona Antônio (2000, p. 31), o Governo

Brasileiro também procurou delinear seu entendimento sobre

educação ambiental, através do Ministério da Educação, que a aponta

como o “conjunto de ações educativas voltadas para a compreensão da

dinâmica dos ecossistemas, considerando os efeitos da relação do

homem com o meio, determinação social e a evolução histórica dessa

relação”.

Nesse contexto, pode-se destacar que, a EA pode ser

trabalhada como instrumento de defesa e preservação do meio

ambiente com base no desenvolvimento sustentável, atendendo aos

interesses das gerações atuais e futuras, inclusive no âmbito do Plano

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Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) instituído pelo Decreto Nº

6.263 de 21 de novembro de 2007.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

Ao rever a evolução histórica da EA no cenário da educação formal no

Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) registram que, a

preocupação “em relacionar a educação com a vida do aluno, seu meio,

sua comunidade não é recente, e vem crescendo especialmente desde a

década de 1960”. Porém, somente a partir da década de 1970, com “o

crescimento dos movimentos ambientalistas, passou-se a adotar

explicitamente a expressão “Educação Ambiental” e sigla “EA”, para

qualificar iniciativas de universidades, escolas, instituições

governamentais e não governamentais pelas quais se busca

conscientizar setores da sociedade para as questões ambientais” (PCN,

2001, p. 23).

De acordo com a UNESCO/IBAMA (1998), a inclusão da EA no

ensino formal ocorre, sobretudo, nos níveis do ensino fundamental e

médio e, posteriormente, no universitário, onde se verifica que os

temas ambientais são abordados com mais sucesso em todas as

regiões do mundo. Nos centros educacionais busca-se, atualmente,

incorporar temas relacionados com o meio ambiente nas disciplinas

tradicionais, bem como definir novos objetivos ou métodos num

programa geral que transcenda todas as disciplinas.

Na esfera da área ambiental, há muitas informações, valores e

procedimentos que são transmitidos às crianças e adolescentes pelo

que se faz e se diz em suas próprias casas, sendo que, esse

conhecimento deverá ser “trazido” e “incluído” nos trabalhos das

escolas, para que se estabeleçam as relações entre os dois universos

(casa e escola) no reconhecimento dos valores que se expressam por

meio de comportamentos, técnicas, manifestações artísticas e

culturais (PCN, 2001). No que se refere aos meios de comunicação,

ressalta-se que:

Embora muitas vezes aborde o assunto de forma superficial ou

equivocada, a mídia vem tratando de questões ambientais. Notícias

de TV e de rádio, de jornais e revistas, programas especiais tratando

de questões relacionadas ao Meio Ambiente têm sido cada vez mais

frequentes. Paralelamente, existe o discurso veiculado pelos mesmos

meios de comunicação que propõe uma ideia de desenvolvimento que

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não raro conflita com a ideia de respeito ao Meio Ambiente. São

propostos e estimulados valores insustentáveis de consumismo,

desperdício, violência, egoísmo, desrespeito, preconceito,

irresponsabilidade e tantos outros (PCN, 2001, p. 25).

Ainda conforme os PCN (2001, p. 25) é importante ainda que o

professor trabalhe “com o objetivo de desenvolver, nos alunos, uma

postura crítica diante da realidade, de informações e valores

veiculados pela mídia e daqueles trazidos de casa”. Mas, para tal, o

professor precisa conhecer o assunto e, “em geral, buscar junto com

seus alunos mais informações em publicações ou com especialistas”.

Além disso, temas atuais estão, em contínuo desenvolvimento,

demandando dos professores uma permanente atualização, e fazê-lo

junto com os alunos representa excelente ocasião de, simultaneamente

e pela prática, “desenvolver procedimentos elementares de pesquisa e

sistematização da informação, medidas, considerações quantitativas,

apresentação e discussão de resultados”.

Nesse sentido, Ribeiro e Profeta (2004, p. 135) esclarecem que,

os educadores devem exercer um papel como mediador na questão

ambiental, utilizando programas didáticos que possibilitem a

discussão sobre o “meio ambiente, onde deve ser abordado sobre o lixo,

a reciclagem, os recursos naturais e como contribuir para a

preservação do meio ambiente” incluindo o estudo sobre os seres vivos

(animais, vegetais, microorganismos), dentre eles o homem. O

programa, no seu bojo, “deve explorar a utilização dos recursos

naturais e suas consequências, a situação ficcional e questionamentos

que introduzem a noção dos estilos de vida” encontrados hoje e no

passado, que são “importantes indicadores da grande industrialização

e desenvolvimento econômico e, portanto, da crescente utilização e

consequente destruição dos recursos naturais”, levando-se em

consideração a enorme população humana que vive no planeta

atualmente. Face ao exposto, é importante ainda destacar que o

professor deve ser um instrumento de ação para conscientização dos

alunos, educando-os de forma correta desde a conservação da limpeza

na sala de aula, até a preservação do meio ambiente no qual estão

inseridos.

Tomando-se como base os PCN (2001), fica evidente a

importância de se educar os futuros cidadãos para que, possam agir

como participantes do governo ou da sociedade civil, de forma

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responsável e com sensibilidade, conservando o ambiente saudável no

presente e para o futuro, cumprindo ainda as suas obrigações,

exigindo e respeitando seus próprios direitos e os de toda a

comunidade, tanto local como internacional, para que como pessoas,

possam se sentir acolhidas para ampliar a qualidade de suas relações

intra e interpessoais com o ambiente tanto físico quanto social. Na

esfera legal, um importante passo foi dado com o advento da

Constituição Federal de 1988, quando a EA se tornou exigência

constitucional a ser garantida pelos governos federal, estaduais e

municipais (art. 225, § 1º, VI).

Quanto à legislação estadual que rege a EA, destaca-se que, a

Constituição do Estado do Amazonas reafirma esse mister no inciso I,

do Art. 230, em seu capítulo X dedicado ao meio ambiente. Já quanto

à legislação municipal esclarece-se que a Lei Nº 514/2011-PGMP de

28/12/2011 dispõe sobre a EA no currículo escolar da rede pública do

município de Parintins, destacando em seus art. 1º que fica instituído

o ensino de educação ambiental no currículo das escolas públicas

municipais (MAMED, 2015).

Conforme a percepção dos especialistas em educação

ambiental e que vêm participando de encontros nacionais e

internacionais, o Brasil pode ser considerado um dos países com maior

variedade de experiências nessa área ambiental, com iniciativas

originais que, muitas vezes, são associadas a intervenções baseadas

na realidade local. Logo, pode-se ressaltar que, qualquer política

relacionada ao meio ambiente, seja ela em nível nacional, regional ou

local deve levar em consideração a riqueza de experiências,

investindo, não inibindo ou descaracterizando a sua diversidade (PCN,

2001).

No entanto, adverte-se que a EA ainda está longe de ser uma

atividade tranquilamente aceita e desenvolvida, haja vista que ela

demanda mudanças profundas e nada inócuas, e embora ela seja

recomendada por todas as conferências internacionais, bem como

exigida pela Constituição e legislações em nível federal, estadual e

municipal, e caracterizada como prioritária por todas as instâncias de

poder, está aquém do ideal, mas quando bem realizada, a educação

ambiental leva a mudanças de comportamento pessoal e a atitudes e

valores de cidadania que podem ter fortes consequências sociais (PCN,

2001).

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Levando-se em consideração a relevância do tema meio ambiente, bem

como a visão integrada de mundo, a escola deverá, ao longo das séries

do ensino fundamental, “oferecer meios efetivos para que cada aluno

compreenda os fatos naturais e humanos a esse respeito, desenvolva

suas potencialidades e adote posturas pessoais e comportamentos

sociais que lhe permitam viver numa relação construtiva consigo

mesmo e com seu meio”, colaborando dessa forma, para que a

“sociedade seja ambientalmente sustentável e socialmente justa;

protegendo, preservando todas as manifestações de vida no planeta; e

garantindo as condições para que ela prospere em toda a sua força,

abundância e diversidade” (PCN, 2001, p. 39).

Quanto à visão integrada de mundo, Ribeiro e Profeta (2004,

p. 128-129) dizem que: “os objetivos da educação ambiental fazem

parte de um sistema holístico (integral, total) onde não existe o início

e o fim, onde todos participam e têm sucesso”. A educação ambiental

contempla um processo, uma dimensão dada ao conteúdo e à prática

da educação “que utiliza os vários conhecimentos, inclusive os da

ecologia, para promover a compreensão dos mecanismos da inter-

relação natureza-homem, em suas diversas dimensões”. Para tanto se

propõe que o trabalho com o tema meio ambiente contribua para que

os alunos, ao final do ensino fundamental, sejam capazes de:

- conhecer e compreender, de modo integrado e sistêmico, as noções

básicas relacionadas ao meio ambiente;

- adotar posturas na escola, em casa e em sua comunidade que os

levem a interações construtivas, justas e ambientalmente

sustentáveis;

- observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de

modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar

de modo reativo e propositivo para garantir um Meio Ambiente

saudável e a boa qualidade de vida (PCN, 2001, p. 39).

E ainda quanto às finalidades do trabalho com o tema meio ambiente,

ao final do ensino fundamental, os alunos devem ser capazes de:

- perceber, em diversos fenômenos naturais, encadeamentos e

relações de causa-efeito que condicionam a vida no espaço

(geográfico) e no tempo (histórico), utilizando essa percepção para

posicionar-se criticamente diante das condições ambientais de seu

meio;

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- compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de

conservação e manejo dos recursos naturais com os quais interagem,

aplicando-os no dia-a-dia;

- perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sociocultural,

adotando posturas de respeito aos diferentes aspectos e formas do

patrimônio natural, étnico e cultural;

- identificar-se como parte integrante da natureza, percebendo os

processos pessoais como elementos fundamentais para uma atuação

criativa, responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente (PCN,

2001, p. 39).

A opção pelo trabalho com o tema “meio ambiente” traz e seu bojo a

necessidade de conhecimento e informação por parte da escola, bem

como de seus professores para que se possa desenvolver um trabalho

adequado junto aos alunos. E em decorrência das próprias

características da questão ambiental, a aquisição de informações sobre

o tema é uma necessidade constante para todos, de modo particular,

para os professores. No entanto, isso não significa dizer que os

professores deverão “saber tudo” para que possam desenvolver um

trabalho junto aos alunos, mas sim, que deverão se dispor a aprender

sobre o tema e, mais do que isso, transmitir aos seus alunos a noção

de que o processo de construção e de produção do conhecimento é

contínuo (PCN, 2001).

No que se refere às práticas pedagógicas em EA, Costa (2001,

p.83) acredita que: “não existe um modelo único, adequado às

diferentes realidades de nossa sociedade plural”. Todavia, acredita-se

na possibilidade de se traçar um perfil de professor capacitador, onde

se elege um elenco de conteúdos necessários ao conhecimento do

educador ambiental para “construir metodologias que possibilitem a

continuidade do processo de preparação, avaliação e acompanhamento

dos capacitandos no momento em que teoria e prática serão

dialogicamente exercitadas”.

O trabalho de educação ambiental deve ser desenvolvido a fim de

ajudar os alunos a construírem uma consciência global das questões

relativas ao meio para que possam assumir posições afinadas com os

valores referentes à sua proteção e melhoria. Para isso é importante

que possam atribuir significado àquilo que aprendem sobre a questão

ambiental. E esse significado é resultado da ligação que o aluno

estabelece entre o que aprende e a sua realidade cotidiana, da

possibilidade de estabelecer ligações entre o que aprende e o que já

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conhece, e também da possibilidade de utilizar o conhecimento em

outras situações (PCN, 2001, p.35).

Na realidade, a educação ambiental oferece ferramentas para que o

aluno possa compreender os problemas que afetam a sua vida, a

comunidade onde vive, a sociedade como um todo, estendendo ainda

essa compreensão para a realidade do país e até do planeta, afinal:

Muitas das questões políticas, econômicas e sociais são permeadas

por elementos diretamente ligados à questão ambiental. As situações

de ensino devem se organizar de forma a proporcionar oportunidades

para que o aluno possa utilizar o conhecimento sobre Meio Ambiente

para compreender a sua realidade e atuar sobre ela. O exercício da

participação em diferentes instâncias (desde atividades dentro da

própria escola, até movimentos mais amplos referentes a problemas

da comunidade) é também fundamental para que os alunos possam

contextualizar o que foi aprendido (PCN, 2001, p. 35-36).

Por tratar de temáticas que, por mais localizadas que sejam, se

referem de forma direta ou indireta ao interesse do planeta como um

todo, as questões ambientais oferecem uma perspectiva particular,

demandando-se que o trabalho relacionado ao meio ambiente ocorra

de forma não linear e diversificada. Os conteúdos relacionados ao meio

ambiente devem ser integrados ao currículo através da

transversalidade, pois devem ser tratados nas diversas áreas do

conhecimento, de modo a permear toda a prática educativa, bem como

criar uma visão global e abrangente da questão ambiental (PCN,

2001).

A transversalidade contempla a possibilidade de se

estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender “na

realidade” e “da realidade” conhecimentos teoricamente

sistematizados, ou seja, “aprender sobre a realidade, e as questões da

vida real e sua transformação, ou seja, aprender na realidade e da

realidade” (PCN, 1998, p. 30). As áreas de ciências naturais, história e

geografia “são as principais parceiras para o desenvolvimento dos

conteúdos relacionados, pela própria natureza dos seus objetos de

estudo”. Já as áreas de língua portuguesa, matemática, educação

física e arte “ganham importância fundamental por constituírem

instrumentos básicos para que o aluno possa conduzir o seu processo

de construção do conhecimento sobre meio ambiente” (PCN, 2001, p.

36).

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Partindo-se dessas premissas básicas pode-se destacar que, para que

os alunos compreendam a complexidade e a amplitude das questões

ambientais, é primordial que se ofereça, além da maior diversidade

possível de experiências, uma visão abrangente e integral que

contemple diversas realidades, bem como uma perspectiva

contextualizada da realidade ambiental, que contempla, além do

ambiente físico, as condições sociais e culturais.

Conforme preconiza os PCN (2001, p. 43), a questão

ambiental, no ensino fundamental, “centra-se principalmente no

desenvolvimento de valores, atitudes e posturas éticas, e no domínio

de procedimentos, mais do que na aprendizagem de conceitos”, haja

vista que, “vários dos conceitos em que o professor se baseará para

tratar dos assuntos ambientais pertencem às áreas disciplinares”.

No entanto, os PCN (2001, p. 43) advertem que, “mais do que

um elenco de conteúdos, o tema meio ambiente consiste em oferecer

aos alunos instrumentos que lhes possibilitem posicionar-se em

relação às questões ambientais”. E pela própria natureza da temática

ambiental, “vem a dificuldade de se eleger uma gama de conteúdos

que contemple de forma satisfatória as exigências e a diversidade que

compõem a realidade brasileira”.

E com base nessas premissas, os conteúdos foram reunidos em

três blocos gerais: 1) Os ciclos da natureza; 2) Sociedade e meio

ambiente; e 3) Manejo e conservação ambiental, com a seguinte

seleção dos conteúdos, segundo os critérios a seguir elencados:

- Importância dos conteúdos para uma visão integrada da realidade,

especialmente sob o ponto de vista socioambiental;

- Capacidade de apreensão e necessidade de introdução de hábitos e

atitudes já no estágio de desenvolvimento em que se encontram;

- Possibilidade de desenvolvimento de procedimentos e valores

básicos para o exercício pleno da cidadania (PCN, 2001, p.43).

Nesse contexto, o professor que, tomar como base as características de

uma natureza “integrada numa rede de interdependências,

renovações, vida-e-morte, trocas de energia, trocas de elementos

bióticos e abióticos”, deve proporcionar ao aluno que percorra, desde a

“preocupação do mundo com as questões ecológicas que começaram

relacionadas à natureza intocada”, até “as considerações sobre os

direitos e deveres dos alunos e sua comunidade com relação à

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qualidade do ambiente em que vive, chegando às possibilidades de

atuação individual, coletiva e institucional” (PCN, 2001, p.43).

Nesse cenário recorre-se ao pensamento de Capra (1996), ao

discorrer sobre a ecologia profunda, que não separa seres humanos, ou

qualquer outra coisa, do meio ambiente natural, vendo o mundo não

como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de

fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são

interdependentes. E dentro dos blocos relacionados aos ciclos da

natureza, à sociedade e ao meio ambiente, bem como ao manejo e à

conservação ambiental, estabelece-se que:

O professor poderá sugerir temas numa sequência que vá do local ao

global e vice-versa; do ambientalmente equilibrado, saudável,

diversificado e desejável, ao degradado ou poluído, para que se sinta

a necessidade de se superar essa situação; e indicar medidas

necessárias, discutir responsabilidades, decidir possíveis

contribuições pessoais e coletivas, para que a constatação de algum

mal não seja seguida de desânimo ou desmobilização, mas da

potencialização das pequenas e importantes contribuições que a

escola (entendida como docentes, alunos e comunidade) pode dar para

tornar o ambiente cada vez melhor e os alunos cada vez mais

comprometidos com a vida, a natureza, a melhoria dos ambientes

com os quais convivem (PCN, 2001, p. 43).

Os conteúdos relacionados aos 3 blocos: 1) Os ciclos da natureza; 2)

Sociedade e meio ambiente; e 3) Manejo e conservação ambiental,

estão destacados para garantir a compreensão do tema de forma

integral e favorecer a reflexão e o planejamento do trabalho com as

questões ambientais. Os conteúdos do tema meio ambiente obedecerão

aos critérios de sequenciação estabelecidos pelas áreas, conforme os

PCN (2001).

O FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS E A EDUCAÇÃO

AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

Pela sua própria natureza e consequente processo de mudanças, o

Festival Folclórico de Parintins, como ferramenta da educação

ambiental, demanda um modelo educativo novo, pela necessidade de

responder às exigências da complexidade do meio ambiente. Logo,

nesse cenário não se pode deixar de lado a realidade local, o Festival

Folclórico de Parintins que, além de possuir todas as características

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do espetáculo feito para entreter as massas, também, agregou

aspectos da vida contemporânea, do meio ambiente e do ethos das

populações amazônicas que, com o favorecimento dos meios de

comunicação, vão muito além do espetáculo, podendo ser utilizado

como ferramenta de educação ambiental. Portanto, concebê-la

significa pelo menos supor mudanças de valores e aplicação destes à

prática social e isto induz às mudanças de comportamento das pessoas

e da sociedade.

Na realidade, do Festival Folclórico de Parintins transbordam

informações, apelos e mensagens que clamam pela conscientização e

preservação dos povos e dos ecossistemas amazônicos. São clamores

que desafiam a efemeridade do espetáculo e que devem avançar até as

escolas, como forma de conhecimento, pois como bem estabelecem os

PCN (2001, p.36), “o trabalho com a realidade local possui a qualidade

de oferecer um universo acessível e conhecido e, por isso, passível de

ser campo de aplicação do conhecimento”.

Grande parte dos assuntos mais significativos para os alunos

estão circunscritos à realidade mais próxima, ou seja, sua

comunidade, sua região. E isso faz com que, para a EA, o “trabalho

com a realidade local seja de importância vital. Mas, por outro lado, a

apreensão do mundo por parte da criança não se dá de forma linear,

do mais próximo ao mais distante” (PCN, 2001, p.36).

Segundo Antônio (2000, p. 32), o capítulo 36 da Agenda 21,

fruto da Rio-92, ressalta ser “o ensino de fundamental importância na

promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a

capacidade do povo para abordar questões do meio ambiente e

desenvolvimento”, o que veio ao encontro da abordagem aqui

apresentada e, que busca consolidar a prática do Festival Folclórico de

Parintins como ferramenta de aprendizagem na rede pública

municipal de ensino no contexto da EA, visando a defesa e a

preservação do meio ambiente na perspectiva do desenvolvimento

sustentável, ou seja, com crescimento econômico, sustentabilidade

ambiental e equidade social, atendendo aos interesses das gerações

atuais e futuras do município de Parintins.

Na visão de Santos (2012), não se pode negar que a educação

ambiental, em sua trajetória, vem comportando tratamentos

reducionistas que refletem os interesses dos países desenvolvidos, ou

seja, voltada exclusivamente para os fatores ecológicos,

primordialmente quanto à manutenção dos ecossistemas

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remanescentes do planeta e o domínio econômico que consolidam as

relações de desigualdades sociais. A educação ambiental que se

pressupõe voltada para a sustentabilidade deverá estar atenta para

corrigir direcionamentos reducionistas que se têm caracterizado ao

longo do processo de construção de seus pressupostos teórico-

metodológicos.

De acordo com Beauclair (2007), ao se pensar a educação como

processo de produção de mudanças conceituais, mister se faz

acreditar, pois se trata de uma pedagogia articuladora onde as

diferentes dimensões do humano ganham espaço de trabalho, trabalho

este que afete as atitudes, as mentalidades, os processos sociais e suas

práticas, enfim, onde seja possível pensar, agir e refletir, dialética e

dialogicamente sobre: diversidade, igualdade, política, cultura,

estruturas, existência humana, instituições, condutas, ética e

educação.

Conforme demonstrado na figura 1, busca-se ressaltar a

intenção de estabelecer alguns liames entre os âmbitos ou contextos

que moldam o currículo real, que se projeta em atividades diversas

relacionadas com o currículo moldado na prática de ensino.

Atividades Curriculares Âmbitos que moldam o currículo

Figura 1 - Práticas e transformações no currículo.

Fonte: Sacristán (2000, p.130).

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Entender o que afeta realmente os conteúdos do ensino supõe fixar-se

em práticas não estritamente didáticas, mas muito decisivas para

estas. Ressalte-se que currículo e pedagogia com base nessas formas

culturais extraescolares representam verdadeiros “mananciais”, que

além do respeito às tradições dos ancestrais de um povo, deixam fluir

de forma agradável a criatividade, proporcionando perfeita

sincronicidade. Sobre o assunto assim se posicionam Kindel, Silva e

Sammarco (2006, p. 33): “o poder de intervenção do saber

sistematizado será tanto maior quanto mais significativa for à relação

entre a realidade local e totalidade”, o que demanda “trabalho

interdisciplinar, para articular saber, conhecimento, vivência, escola,

comunidade, ambiente”. Graficamente essa forma de interação pode

ser representada conforme a figura 2.

Figura 2 - Diagrama Representativo da Organização do Currículo

Fonte: Kindel, Silva e Sammarco (2006, p. 33).

Na figura 2, pode-se perceber a metamorfose dos saberes científicos e

populares, com a finalidade de fazer a integração, e por consequência

gerar a construção social do conhecimento, propondo ações e práticas

pedagógicas.

Deste modo, investe-se assim em formas sedutoras de ensino-

aprendizagem, via de regra, ausentes do ambiente escolar, ou,

conforme sintetizam Silva et al. (1999, p.140): “é precisamente a força

desse investimento das pedagogias culturais no afeto e na emoção que

tornam seu currículo tão fascinante”.

E com base nessas reflexões, desenvolveu-se uma pesquisa,

junto às escolas públicas de Parintins no ano de 2010, com gestores

das escolas, professores, pais e alunos, com o objetivo de verificar como

o Festival Folclórico de Parintins, enquanto potencial cultural

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explicitado, permitindo a discussão da problemática ambiental

contemporânea, está inserido nos currículos escolares do município.

Inicialmente realizaram-se duas palestras, em momentos diferentes,

com os alunos e com os pais, onde se falou sobre a importância do

Festival Folclórico para o desenvolvimento econômico do município,

bem como a sua relevância político e cultural no cenário regional,

nacional e internacional, pois, hoje, o Festival é conhecido

internacionalmente. Ressaltou-se ainda a relevância da inserção do

Festival nos currículos das escolas da região, bem como a sua

importância para a educação das crianças, dos jovens e dos adultos,

em como o meio cultural, diversidade cultural, as manifestações

culturais como ferramentas de aprendizagem.

Posteriormente, ocorreu uma palestra com os gestores e com

os professores sobre a importância de eles trabalharem o meio

cultural, a diversidade cultural e as manifestações culturais,

principalmente em se tratando do Festival Folclórico de Parintins,

com o objetivo de chamar a atenção dos alunos para a relevância dos

aspectos culturais regionais e locais que hoje transcendem os limites

de fronteira do município. É importante que os alunos sejam capazes

de avaliar a importância do Festival Folclórico para a comunidade,

para a sociedade e para o desenvolvimento sustentável do município

de Parintins.

Na busca de informações complementares sobre o sistema

educacional, realizou-se a pesquisa junto aos gestores, assentando-se

em aspectos fundamentais para a pesquisa, considerados os “guiões”,

ou seja, os parâmetros que nortearam as entrevistas. Foram

entrevistados três gestores de três escolas municipais do ensino

fundamental da rede regular de ensino de Parintins.

Ao serem questionados, se “em sua opinião a escola dá a

devida importância ao ambiente cultural e às manifestações culturais,

principalmente ao Festival Folclórico para a formação integral dos

alunos”, todos os gestores foram unânimes em afirmar que sim. A

unanimidade observada nas respostas dos gestores tem sua

justificação na representação cultural, política e socioeconômica que o

Festival possui tanto para a comunidade local como para grandes

grupos empresariais que, perceberam a importância desse evento, que

se encontra arraigado no cerne daquele povo, conforme o enaltece

Valentin (2005), referindo-se aos dois bumbás “Caprichoso e

Garantido”, os únicos que resistiram ao processo de urbanização e

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crescimento da cidade. Parintins vive e revive suas tradições e, deste

modo, exportando o Festival para o mundo vem sensibilizando os

mandatários do Estado e até do País para investirem maciçamente em

sua infraestrutura.

Quando questionados se: “acreditam que a incorporação das

manifestações culturais do Festival Folclórico de Parintins nos

currículos escolares e sua vinculação com a questão ambiental é uma

importante ferramenta para a formação de indivíduos críticos e

responsáveis”: todos os gestores responderam que sim. E sobre ao fato

de acreditarem que: “a diversidade cultural, tendo como norte a

cultura popular amazônica, representada pelo Festival Folclórico de

Parintins, pode ser utilizada no cotidiano escolar como ferramenta de

aprendizagem”: todos responderam que sim.

Não restam dúvidas de que, não somente no contexto

parintinense, como em qualquer lugar do mundo, deve-se

necessariamente privilegiar as minorias, haja vista que, trata-se de

uma questão de respeito à diversidade e aos direitos humanos. Nesse

sentido, Silva et al. (1999) reivindicam um currículo que inclua as

diferentes culturas, não de forma simples e informativa, mas

refletindo sobre aspectos culturais e experiências de povos e grupos

marginalizados.

Indubitavelmente, as pesquisas culturais constituem um

campo de investigação, cujo impulso inicial é estudar a cultura

presente em determinado contexto geográfico tendo como finalidade

precípua construir perspectivas de análises que contemplem

analiticamente contradições e ambiguidades presentes no processo de

reprodução cultural e social.

A pesquisa realizada com o corpo docente revestiu-se de

grande importância porque os professores, juntamente com os alunos,

são os “sujeitos” do processo educacional, a ser deflagrado a partir do

Festival Folclórico de Parintins, constituindo-se em uma estratégia de

educação ambiental, utilizando a diversidade cultural dos povos

amazônidas. Entrevistaram-se 5 (cinco) professores de ambos os

gêneros, idades e disciplinas diversas.

Ao serem convidados para opinar se: “na sua concepção o

Festival Folclórico reforça os valores culturais ou é simplesmente um

espetáculo para entreter a massa, tendo como objetivo apenas o

resultado econômico”: 60% dos professores responderam que o Festival

além de divulgar a cultura local, reforça os valores culturais e 40%

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que o Festival, reforça os valores sim, mas também serve aos

interesses econômicos e empresariais, funcionando ainda como forma

de entretenimentos das massas.

Ao serem questionados sobre se, “nas suas aulas, costumam

privilegiar conteúdos que valorizam o meio cultural e a cultura como

importante ferramenta de aprendizagem”: observou-se, a

unanimidade nas respostas dadas. Todos responderam de forma

afirmativa à questão formulada. Sobre se “o currículo (parte

diversificada) das escolas de Parintins contempla a cultura regional e

local”, os professores responderam que não existe uma matéria

específica tratando do Festival Folclórico de Parintins. Quanto ao

tratamento dispensado às culturas regionais, a lacuna existente vem

persistindo no sistema de ensino brasileiro, relegando-as ao segundo

plano. E no ensino público no Estado do Amazonas, essa realidade não

é diferente.

Os docentes relataram que o Festival Folclórico de Parintins é

abordado nas aulas, quando estão sendo tratadas as questões sobre

cultura, meio cultural e as manifestações culturais. E também nas

aulas de Artes. Quando convidados para opinar se: “concordam que a

escola é um espaço privilegiado para a discussão de vários temas,

principalmente a valorização da cultura regional e local”: todos os

docentes que fizeram parte da amostra foram unânimes a afirmar que

a escola tem como uma das finalidades precípuas a divulgação da

cultura nacional, regional e local. Neste sentido, é pertinente

acrescentar que trabalhar as culturas regionais e locais é, acima de

tudo, uma questão de respeito e cidadania às minorias sociais. Quando

questionados sobre “como os alunos reagem às aulas que versam sobre

cultura, principalmente quando tratam do Festival Folclórico de

Parintins”: todos os professores foram unânimes em afirmar que os

alunos gostam das aulas de cultura principalmente quando se trata do

Festival Folclórico de Parintins.

Quando convidados para opinar quanto ao fato de acreditar

“que a incorporação das manifestações culturais do Festival Folclórico

de Parintins nos currículos escolares e sua vinculação com a questão

ambiental é uma importante ferramenta para a formação dos alunos”:

todos os docentes entrevistados concordam que a incorporação das

manifestações culturais é de suma importância na formação dos

alunos.

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Quanto ao fato de acreditarem “que a diversidade cultural, tendo como

norte a cultura popular amazônica, representada pelo Festival

Folclórico de Parintins, pode ser utilizada no cotidiano escolar como

ferramenta de aprendizagem”, todos os professores que participaram

da pesquisa concordaram que a diversidade cultural deve ser tratada

com respeito, principalmente no âmbito da escola, pois é lá que se

aprende a respeitar as diferenças étnicas e culturais.

Já a pesquisa com os pais dos alunos justifica-se pela

importância, haja vista que, eles, juntamente com a escola (gestores e

professores), são os “parceiros” do processo educacional, que

contempla a estratégia de utilização da diversidade cultural do

Festival Folclórico de Parintins como ferramenta de educação

ambiental, proporcionando dessa forma uma maior participação da

comunidade. Participaram da entrevista 10 (dez) pais de ambos os

gêneros e faixa etária.

30%

20%

50%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

Aumento da

oferta de trabalho

Venda de

artesanato e

Souvenirs

Divulgação das

culturas regional

e local

Figura 3 – Vantagens da realização do Festival.

Fonte: Pesquisa de campo, 2010.

Ao serem convidados para se manifestarem, sobre, “quais são as

vantagens mais significativas trazidas pelo festival para o município e

para comunidade”: 50% dos pais que participaram da pesquisa

responderam divulgação das culturas regional e local; 30%

responderam aumento da oferta de trabalho; e 20% vendas de

artesanatos e souvenirs.

Conforme a preponderância dos resultados obtidos, pode-se

observar pelas respostas dadas que, a população acredita na força e na

magia do seu Festival. Quando solicitados para opinar sobre “quais os

aspectos negativos produzidos pelo festival”: 30% responderam

aumento da produção de lixo; 20% responderam aumento da

exploração sexual infantil; 20% responderam aumento da gravidez na

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adolescência; 20% responderam aumento dos casos de Doenças

Sexualmente Transmissíveis (DST) e Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida (AIDS); e 10% responderam aumento de poluição de rios e

igarapés.

De fato, os problemas sociais que, inevitavelmente,

acompanham a realização de grandes eventos não podem ser

descartados, e no caso de Parintins, trata-se de problemas

eminentemente sociais, cuja prevenção e conscientização com base na

estruturação familiar é a medida mais adequada a ser tomada.

Ao serem questionados acerca da contribuição do Festival para

o desenvolvimento sustentável do município, destaca-se o percentual

de 40% dos pais que responderam que há aumento da geração de

emprego e renda. Em igual proporção de 20% responderam: aumento

das vendas do comércio; aumento do turismo e hotelaria e aumento de

investimentos empresariais. Pelas respostas dadas, depreende-se que

está no inconsciente coletivo daqueles munícipes que as contribuições

do Festival para o município e sua gente perpassam pelo

desenvolvimento socioeconômico em prol de melhor qualidade de vida.

Ao serem solicitados para opinar, se: “apesar da rivalidade entre os

dois bois, o festival serve para unir os munícipes em prol de uma

melhor qualidade de vida”: todos os pais que participaram da pesquisa

foram unânimes em responder que sim.

Pesquisadores como Valentin (2005) e Rodrigues (2006),

destacam de forma categórica que, a rivalidade entre os bois-bumbás

de Parintins reflete a sinergia que os une e engrandece. Essa é a

tônica de Parintins e seu Festival: “a energia gerada pela atração dos

contrários, Caprichoso e Garantido, é direcionada para a batalha na

arena do Bumbódromo”. Eles se enfrentam de cabeça erguida,

“empunhando suas poderosas armas de talento e criatividade para

transformar o possível conflito em celebração garantida e caprichosa”

(VALENTIN, 2005, p. 227).

Quando questionados no que se refere ao fato de acreditarem

na importância da incorporação das manifestações culturais do

Festival Folclórico de Parintins no currículo da escola para a formação

do aluno, todos os pais foram unânimes em responder que sim. Na

realidade, pode-se conceber o Festival Folclórico de Parintins como a

“seiva” que vivifica os parintinenses e, conforme destacado

anteriormente, as melhorias infraestruturais que a cidade recebe

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deve-se ao esplendor do Festival, que a cada novo espetáculo busca

superar em beleza e ostentação o evento anterior.

A pesquisa com os alunos, revestiu-se de grande relevância,

pois eles, juntamente com os professores, são os principais “sujeitos”

do processo educacional na esfera da educação ambiental, baseado no

Festival Folclórico de Parintins. Entrevistaram-se um total de 100

(cem) alunos, de ambos os gêneros, todos adolescentes, e cursando o

ensino fundamental na rede pública municipal de Parintins.

Quando questionados sobre o fato de acreditar “que a escola

valoriza a cultura regional e local, tomando por base o Festival

Folclórico”: 50% dos alunos que participaram da pesquisa

responderam que sim; 30% responderam sim, mas sem muita ênfase;

e 20% responderam que deveria valorizar mais. 50%

30%

20%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

Sim Sim, mas sem muita

ênfase

Deveria valorizar

mais

Figura 4 – Valorização da Cultura Local nas Escolas de Parintins.

Fonte: Pesquisa de campo, 2010.

Como se pode perceber, os percentuais obtidos nas respostas denotam

“ambiguidade” no que se refere à certeza da escola estar trabalhando

de fato, e, por conseguinte valorizando a cultura local e regional no

ambiente escolar, com base no Festival Folclórico de Parintins. Tende-

se a apoiar aqueles que pensam que a escola valoriza “sem muita

ênfase” e os que francamente admitem que a mesma “deveria

valorizar mais”. Tem-se conhecimento de que, a formação da

identidade cultural de quaisquer povos perpassa necessariamente

pela sua historicidade, a qual é pautada nos seus hábitos, costumes,

língua, tradições, dentre outros.

Ao serem questionados se acreditam que é importante estudar

a cultura regional e local, tendo por base o Festival Folclórico, para a

sua formação, todos os alunos que participaram da amostra da

pesquisa foram unânimes em afirmar que sim. Sobre a opinião do por

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que o Festival Folclórico é importante para o município de Parintins,

60% dos alunos responderam crescimento e desenvolvimento de

Parintins; 20% responderam criação de emprego e renda; e 20%

responderam desenvolvimento do comércio. Os altos percentuais

aferidos nas respostas dadas indicam que aspectos socioeconômicos e

conjunturais estão presentes no imaginário coletivo enquanto

esperança, e constatação mesmo, decorrente da importância das

festividades juninas em Parintins.

Sobre o fato de acreditarem que os professores dão à devida

importância às manifestações culturais, principalmente no que se

refere ao Festival Folclórico, 60% dos alunos que fizeram parte da

amostra responderam que sim e 40% responderam às vezes.

O município de Parintins devido à grandiosidade e importância

econômica do Festival constitui-se exceção. Privilegiar e trabalhar a

cultura e tradições parintinenses significa garantir o desenvolvimento

socioeconômico do município.

Ao serem questionados se têm aprendido na escola a

importância do meio cultural, das manifestações culturais para a

formação de indivíduos participes de uma sociedade, todos os alunos

que participaram da pesquisa responderam que sim. A educação nos

rincões amazônicos, mormente nos interiores, nunca foi, e continua

não sendo, prioridade social. Portanto, ensinar os valores culturais a

partir das especificidades da cultura local, significa valorizar os

costumes locais, as tradições, que particularizando-se para Parintins.

Os parintinenses revêem as suas tradições, e a figura indígena e

conduzem sua representação para uma nova dimensão, pautada na

beleza, na magnificência e com excelente retorno econômico.

É importante salientar que já existe uma legislação municipal,

a Lei Nº 514/2011-PGMP de 28/12/2011 que dispõe sobre a educação

ambiental no currículo escolar da rede pública do município de

Parintins, no entanto, como tema transversal, conforme preconiza os

PCNs (1998;2001) e não como disciplina específica, o que novamente,

demonstra a necessidade de se trabalhar a diversidade cultural, tendo

como norte a cultura popular amazônica, representada pelo Festival

Folclórico de Parintins, que pode ser utilizada no cotidiano escolar

como ferramenta de aprendizagem, na área de educação ambiental.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final do artigo pode-se inferir que, é preciso conhecer para proteger

e, nesse sentido, a inserção de programas sérios de educação

ambiental no sistema oficial de ensino do país revela-se fundamental

para a formação de uma sólida e permanente consciência social de

respeito aos bens e valores ambientais. A inserção de temas como Boi-

Bumbá e Festival Folclórico no projeto pedagógico da escola em nível

de ensino fundamental na área de educação ambiental contribuirá,

para a manifestação da identidade cultural, proporcionando

conhecimento e valorização da pluralidade do patrimônio sociocultural

brasileiro, regional e local, possibilitando ainda aos alunos do

município de Parintins perceberem-se integrantes, dependentes e

agentes transformadores do meio ambiente, identificando seus

elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a

melhoria do mesmo.

O Festival como ferramenta de aprendizagem na rede pública

municipal no contexto da educação ambiental, busca ainda a defesa e

a preservação do meio ambiente na perspectiva do desenvolvimento

sustentável (DS), ou seja, com crescimento econômico,

sustentabilidade ambiental e equidade social, atendendo aos

interesses das gerações atuais e futuras.

Os temas relacionados às condições de vida do caboclo

amazônico, da preservação do meio ambiente, da luta da sobrevivência

das etnias indígenas e das culturas nativas e da interrelação e

interação desses temas, sejam por meio da exaltação da beleza da

natureza ou pelo alerta a sua exploração e destruição, exploradas pelo

Festival Folclórico de Parintins, situam esse espetáculo, para além da

mera efemeridade, uma vez que geram, também, informação, reflexão

e conhecimento sobre a Amazônia e sua preservação, configurando-se

como uma excelente ferramenta de educação ambiental, não somente

para as escolas de Parintins, mas para a toda região amazônica e até

para o Brasil.

Este artigo se apresenta mais como uma possibilidade do que

como algo concluído e, em virtude disto, exige ainda um grande

refinamento, dando-lhe uma atenção na agenda de pesquisas e foi

neste enclave que este trabalho se encaixou. A contribuição do

presente estudo foi, além de demarcar o corte temporal das discussões,

situar o problema frente ao debate e ensaiar através da proposta

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apresentada validar o Festival Folclórico de Parintins como

ferramenta da educação ambiental. Considera-se que a definição do

período atual para estudar Festival Folclórico de Parintins,

estabelecendo-se ainda um marco cronológico, foi um ganho para o

presente trabalho, pois isto possibilitou um tratamento mais

específico, que contemplou a observação mais empírica sob a ótica dos

gestores, professores, pais e alunos.

Para promover o desenvolvimento de um processo educativo

com os alunos do ensino fundamental, em torno da questão ambiental

contemporânea, o trabalho busca sustentação teórica no tripé “meio

ambiente, cultura e educação”. Um ponto da contribuição deste artigo,

e que se pode ressaltar, refere-se à sistematização das pesquisas que

já foram realizadas e publicadas, colocando-os em situação de diálogo,

compilando-as em um estudo acadêmico. E isto somente foi possível

com a utilização de dados empíricos, coletados com os gestores,

professores, pais e alunos e que foram devidamente clareados à luz da

teoria, que contemplou um diálogo com as pesquisas encontradas.

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MARIA DO SOCORRO BARBOSA DA SILVA MAMED

Possui Doutorado em Ciências da Educação pela Universidad

Evangélica del Paraguay (2015). É Mestre em Ciências da Educação

pela Universidad Evangélica del Paraguay (2010). Possui Especialização

em Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva pela

Universidade Federal de Roraima/UFRR (2019). É Especialista em

Psicopedagogia pela Universidade Cândido Mendes (2005), em Direito

da Criança e do Adolescente pela Universidade Estácio de Sá (2002) e

em Orientação Educacional pela Universidade Cândido Mendes

(2002). Possui Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Federal

de Roraima (2001). É graduada em Direito - Faculdades Cathedral de

Ensino Superior/RR (2008). Atualmente é Orientadora Educacional e

Professora da Educação Básica - Secretaria de Educação, Cultura e

Desportos/RR. Participou do Programa Eleitor do Futuro como

Pedagoga.