o estado e a organização da educação republicana em minas gerais

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Ed. Foco, n.Especial p.129-130 - mar/ago 2007 Ed. Foco, Juiz de Fora 119 O ESTADO E A ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO RE- PUBLICANA EM MINAS GERAIS Lola Yazbeck * Resumo: O artigo descreve a síntese de uma pesquisa sobre os primeiros Grupos Escolares de Juiz de Fora, MG, cujo objetivo foi conhecer os procedimentos quanto à instalação da instituição, as relações políticas que influíram na sua existência, as legislações e a dinâmica de consolidação do espaço e da cultura da escola através seus atores, neste caso os professores e os alunos, as ordenações das atividades as respectivas práticas desenvolvidas pelos professores. Recuperando as reformas mineiras de 1906 e 1927 os estudos se fizeram abrangendo o período de 1907 a 1960. Palavras-chave: Grupos Escolares, Juiz de Fora, cotidiano. * Professora do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Juiz de Fora e coordenadora do NESCE – Núcleo de Estudos Sociais do Conhecimento e da Educação ([email protected]). 1- O ESTADO E A ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA Este artigo descreve a síntese e parte de uma pesqui- sa sobre os primeiros Grupos Escolares de Juiz de Fora, cuja instalação se deu em 1907 atendendo a reforma mineira de 1906 - Reforma João Pinheiro -, que instituiu em todo o estado uma nova organização da escola pú- blica mineira. O projeto intitulado: O Estado e a Organização Pública em Minas Gerais: 1907 – 1960, trabalhou com o objetivo de recuperar a história dos primeiros grupos escolares instalado na cidade de Juiz de Fora. Assim estudar a his- tória de uma instituição escolar resultou em conceber a história institucional dentro de um quadro amplo, no qual são levados em conta a criação da instituição, integrando- a no contexto sócio-econômico, nas circunstâncias e nas legislações que influem diretamente no objeto estudado, além das práticas de seus múltiplos atores que deram vida a instituição. Para concretizar a pesquisa foram levantados todos os documentos existentes na atual Escola Delfim Moreira, herdeira de todo o patrimônio dos históricos e centená- rios Grupos Escolares, instalados em 1907. A experiência permite perceber que a utilização de diversos tipos de fontes tem grande valor nos trabalhos que estudam as instituições escolares. (Demartini 2000). A partir de então foi feita uma pesquisa documental e como forma de contribuição à atual Escola, o grupo de pesquisa traba- lhou na organização e catalogação dos documentos exis- tentes. Foram estudados os documentos e publicações referentes a Juiz de Fora existentes no Arquivo Munici- pal, Instituto Histórico Geográfico, Biblioteca Municipal, além de pesquisas em diverso diversos jornais do perío- do estudado e livros de diferentes autores, que falam da cidade, de sua cultura, tradições e efemérides. Para o suporte histórico foi utilizada a bibliografia da área e livros de História do Brasil, de Minas Gerais e de Juiz de Fora. Alguns textos, com resultados preliminares do trabalho, foram apresentados em Congressos e Simpósios brasileiros e no exterior.

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Ed. Foco, n.Especialp.129-130 - mar/ago 2007

Ed. Foco,Juiz de Fora

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O ESTADO E A ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO RE-PUBLICANA EM MINAS GERAIS

Lola Yazbeck*

Resumo: O artigo descreve a síntese de uma pesquisa sobre os primeiros Grupos Escolares de Juiz de Fora, MG, cujo objetivo foiconhecer os procedimentos quanto à instalação da instituição, as relações políticas que influíram na sua existência, as legislações e adinâmica de consolidação do espaço e da cultura da escola através seus atores, neste caso os professores e os alunos, as ordenaçõesdas atividades as respectivas práticas desenvolvidas pelos professores. Recuperando as reformas mineiras de 1906 e 1927 os estudosse fizeram abrangendo o período de 1907 a 1960.

Palavras-chave: Grupos Escolares, Juiz de Fora, cotidiano.

* Professora do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Juiz de Fora e coordenadora do NESCE – Núcleo de Estudos Sociais doConhecimento e da Educação ([email protected]).

1- O ESTADO E A ORGANIZAÇÃO DA

EDUCAÇÃO BÁSICA

Este artigo descreve a síntese e parte de uma pesqui-sa sobre os primeiros Grupos Escolares de Juiz de Fora,cuja instalação se deu em 1907 atendendo a reformamineira de 1906 - Reforma João Pinheiro -, que instituiuem todo o estado uma nova organização da escola pú-blica mineira.

O projeto intitulado: O Estado e a Organização Públicaem Minas Gerais: 1907 – 1960, trabalhou com o objetivode recuperar a história dos primeiros grupos escolaresinstalado na cidade de Juiz de Fora. Assim estudar a his-tória de uma instituição escolar resultou em conceber ahistória institucional dentro de um quadro amplo, no qualsão levados em conta a criação da instituição, integrando-a no contexto sócio-econômico, nas circunstâncias e naslegislações que influem diretamente no objeto estudado,além das práticas de seus múltiplos atores que deramvida a instituição.

Para concretizar a pesquisa foram levantados todosos documentos existentes na atual Escola Delfim Moreira,herdeira de todo o patrimônio dos históricos e centená-rios Grupos Escolares, instalados em 1907. A experiênciapermite perceber que a utilização de diversos tipos defontes tem grande valor nos trabalhos que estudam asinstituições escolares. (Demartini 2000). A partir de entãofoi feita uma pesquisa documental e como forma decontribuição à atual Escola, o grupo de pesquisa traba-lhou na organização e catalogação dos documentos exis-tentes. Foram estudados os documentos e publicaçõesreferentes a Juiz de Fora existentes no Arquivo Munici-pal, Instituto Histórico Geográfico, Biblioteca Municipal,além de pesquisas em diverso diversos jornais do perío-do estudado e livros de diferentes autores, que falam dacidade, de sua cultura, tradições e efemérides.

Para o suporte histórico foi utilizada a bibliografia daárea e livros de História do Brasil, de Minas Gerais e deJuiz de Fora. Alguns textos, com resultados preliminaresdo trabalho, foram apresentados em Congressos eSimpósios brasileiros e no exterior.

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Foram feitas entrevistas com ex-alunos, ex-pro-fessoras, e familiares de professoras usando as prer-rogativas da história oral, dando voz aos antigos ato-res da instituição.

O primeiro marco dos estudos, objetivou co-nhecer os procedimentos em relação aos primeirosGrupos Escolares da cidade, quanto à instalação dainstituição, as relações políticas que influíram na suaexistência , as legislações e a dinâmica de consolida-ção do espaço e da cultura da escola através seusatores, neste caso os professores e os alunos. O perí-odo estudado foi de 1907, ano da instalação daquelainstituição, até 1930. Como diz Viñao Frago (1995)há uma inter-relação entre as normas, as práticas, osprofessores, os alunos, as normas e as teorias queformam a cultura da escola.

O segundo marco do estudo retoma os anos de1930 a 19601, tem por objetivo investigar as práticasescolares no período estudado nos documentos es-colares, ou seja, as ordenações das atividades em aten-dimento á legislação de período, seus objetivos e asrespectivas práticas desenvolvidas pelos professores.

2- A CIDADE E O GRUPO ESCOLAR

A criação de grupos escolares, no início do perí-odo republicano, significou a iniciativa da Provínciade Minas Gerais, como já havia ocorrido na Provín-cia de S. Paulo, no sentido de uma racionalização doensino, ampliando a possibilidade de acesso à educa-ção às camadas média e baixa da população.

No cenário da província mineira, o municípiode Juiz de Fora cumprindo as orientações dadas pelaReforma Educacional, formulada no governo deJoão Pinheiro, em 1906, concorreu com a vontadepolítica de intelectuais para a existência do primeirogrupo escolar da cidade. Na concepção da nova le-gislação, a escola passava a ser considerada um dospilares que sustentariam a estrutura republicana, atra-vés da difusão do ideal de pátria e dos princípiosmorais, identificadores da nação. Se por um lado arecém concebida instituição caminhava no sentido dofortalecimento das preocupações republicanas, por

outro oferecia preparo da classe pobre para o traba-lho, além do que instituía os princípios da ordem, dadisciplina e da higiene. Era a forma de se obter amodernização social e educativa e sobretudo, a re-presentação da educação na cultura urbana que ga-nhava fôlego no panorama das províncias. Assim, osGrupos Escolares firmavam entre o estado e o mu-nicípio, as ações políticas na organização e o desen-volvimento deste novo espaço escolar, promoven-do a modernização da sociedade através da raciona-lização do ensino público. (Yazbeck, 2006)

Para a cidade de Juiz de Fora, em particular, osGrupos Escolares ao oferecerem educação para osfilhos da classe pobre, garantia o sucesso e a maiorabrangência do projeto educacional já existente nacidade, que assegurava, até então, somente a educa-ção dos filhos da elite industrial. Desta forma era ele,o Grupo Escolar, a nova representação2 da escola .

As elites política e econômica da cidade de Juizde Fora, acataram a idéia da educação escolar, anun-ciada pela reforma mineira de 1906, como um espa-ço que deixa de ser apenas o local de racionalizaçãodo conhecimento, para ser reconhecida como instru-mento de mudanças, criadora de hábitos, voltada parainstrução, formação e profissionalização. (Yazbeck,2006)

Sem dúvida, a instalação do Grupo Escolar aoordenar o seu papel social numa cidade voltada àeconomia industrial, revela a intenção de aproximara escola e o trabalho fabril, sem deixar de assinalar oseu papel na moderna dimensão do mundo urbano.A escola por um lado reafirmava o espírito da orga-nização do trabalho nos moldes capitalista, cujoideário era a superação do atraso social visando aoprogresso, a civilização e a ordem social. Por outrolado, este projeto vem integrar ao projeto cultural eeducacional existente em Juiz de Fora, elaborado pelaelite industrial. Assim, o principal centro industrial doestado, que mereceu a denominação de “ManchesterMineira” 3, recebe com atenção e expectativa o Gru-po Escolar, já que a educação estatal imprimia umanova ética do trabalho, cuja força disciplinadora or-ganizava a formação do trabalhador.

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3- OS PRIMEIROS ANOS DO GRUPO ESCOLAR: AEDUCAÇÃO CONCEDIDA

Retomando o final do século XIX, no processode transição da Monarquia à República, o discurso deentão afirmava ser preciso modernizar o país. As idéi-as veiculadas pelas elites, que participaram da criaçãodo Partido Republicano Brasileiro, em 1870, com des-taque para a elite paulista, envolviam os paradigmascivilização e cultura, 4 daí a valorização do papelreservado à formação escolar primária.

No pensamento político educacional da PrimeiraRepública, os paradigmas civilização e cultura consti-tuíram a base dos princípios defendidos por Rui Bar-bosa, preconizando a escola como um dos principaiscaminhos para formar o cidadão e torná-lo apto aparticipar da ordem republicana liberal. Tais princípi-os foram seguidos por políticos mineiros como JoãoPinheiro e Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, queao promoverem importantes reformas educacionaisno estado deram prioridade ao ensino básico e a for-mação do professor , numa perspectiva de buscar amodernização, através de uma formação disciplinadoraassociada à adoção de práticas de higiene.

A educação escolar, nesse contexto, seria valo-rizada, como espaço privilegiado para a formação téc-nica, necessária ao desenvolvimento tecnológico e,conseqüentemente, econômico, ao mesmo tempo emque formaria os valores morais, fundamentais à cons-trução da nova ordem política e econômica a ser im-plantada no país. A escola formaria o cidadão apto aparticipar da ordem republicana liberal. Nesse senti-do, a modernização estava associada à educação pú-blica que teria a posição de destaque e a responsabili-dade pela grandeza ou inferioridade da nação. Pro-gresso científico e comportamento racional.

Os atores sociais da cidade envolvidos com a edu-cação, também atuavam como jornalistas, politicamen-te ligados o PRM, (Partido Republicano Mineiro) talcomo o inspetor e jornalista Estevan de Oliveira e JoséRangel 5 (1868 – 1940), natural de Pitangui MG. Esteúltimo colega de magistério e de jornalismo e tambémgrande admirador do político Antonio Carlos ribeirode Andrada, (1870 – 1946) natural de Barbacena, MG,importante figura política, atuante nas esferas do estado

e da política nacional, que chegou à presidência da Re-pública e que mantinha sua base política na região daMata Mineira. Estes homens que atuavam na educaçãoe ligados a Juiz de Fora, sem dúvida formavam parteda rede de conhecimentos políticos influentes que fo-ram importantes no desenvolvimento do projeto dosGrupos Escolares na cidade.

No dia 04 de fevereiro de 19076,pelo Decretonº. 1886, ocorreu a instalação do Primeiro Grupo Esco-lar sob a direção de José Rangel, cujo total de matrí-culas foi de 470 alunos. No mesmo ano, no dia 23 demarço, foi inaugurado o Segundo Grupo Escolar, com396 alunos. O Segundo Grupo ficava sob a adminis-tração do mesmo diretor, do servente e do porteirodaquele Primeiro Grupo Escolar.

No ano de 19157, o Primeiro Grupo Escolar recebeua denominação de Grupo José Rangel e o SegundoGrupo Escolar de Grupo Delfim Moreira, instaladosem um único prédio que passou a ser denominadoGrupos Centrais 8.

Os jornais locais noticiaram a inauguração doGrupo Escolar registrando o reconhecimento, o sig-nificado e a importância das diversas representaçõespolíticas e intelectuais, e ao longo do ano de 1907 man-tiveram em suas páginas diversificados artigos sobre ainstituição, nos quais discutiam os salários pagos às pro-fessoras, a obrigatoriedade do uso do uniforme, ohorário das aulas e a concepção da Reforma .

Entre 1907 a 1920 no jornal oficial do estado, OMinas Gerais, encontram-se diferentes decretos9 que di-ziam respeito a organização, criação de outros gruposem todo estado, organização de matrículas, freqüên-cia, calendário letivo (ano letivo), regulamentação dainstrução (1911), ou sua modificação (1917), aprova-ção de programa de diversas disciplina ( 1912) (1916)(1928), (dispondo sobre o ensino Normal e primário,reorganizando o ensino primário (1920), autorizandoa existência das caixas escolares (1917), dispondo so-bre provimento de professores, modificando regula-mentos e dando outras providencias. Todos os de-cretos mantinham à vista a educação intelectual, morale higiene10 ( Ver também Mourão, 1962 )

De alguma forma, os governos que se seguiram fi-zeram alguns esforços no que diz respeito à continuaçãodos trabalhos de firmar a instituição mineira. Há de se

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levar em conta que quantitativamente o estado mineiroampliou numericamente os Grupos Escolares. Até 1909contabilizaram-se cinqüenta e sete grupos criados no es-tado de Minas Gerais.11 Estes números apontam o cami-nho da ampliação destas instituições educacionais e a tam-bém a sua consolidação em todo o estado, no decorrerdos primeiros tempos republicanos.

O preparo do professor12 foi a preocupaçãomaior na primeira legislação republicana do en-sino em Minas Gerais. De autoria de AfonsoPena em 1892, instituiu a Escola Normal no es-tado, dando a chance da mulher prosseguir seusestudos, das primeiras letras, à formação em umcurso secundário tal como apregoava a legisla-ção; ter uma profissão, e de alguma forma cum-prir o papel que a sociedade lhe atribuía: o de serzelosa mãe e dona de casa. Esta preocupação énovamente explicitada na reforma de 1906, quedeu ênfase à participação da mulher como pro-fessora, por terem elas capacidade de lidar comas crianças, pois dotada pela natureza de atribu-tos tais como, dedicação e paciência. Também alegislação vê a escola como um prolongamentodo lar, enfatizando que as professoras deveriamassumir uma postura afetuosa perante o aluno.“.... a mulher melhor comprehende e cultiva o caráter infan-til, e a professora competente é mais apta para a educaçãosem os desvios do espírito, sem corrupções do coração semdegradação do caracter. ( Reforma Educacional de JoãoPinheiro, 1906, p7)

Esta concepção tem sido considerada como umaextensão de atividades maternas, eximindo o estadode se postar diante das condições de trabalho do pro-fessor e em conseqüência a desvalorização deste tra-balho visto nos baixos salários.

A própria legislação reforça esta posição:Accresce que a professora com mais faci lidade

sujeita-se aos reduzidos vencimentos com que o Es-tado pode remunerar o seu professorado. (Reforma Educaci-onal de João Pinheiro, 1906, p7).

O magistério em alguns casos pode ser consi-derado a ampliação do mercado de trabalho femini-no, dentre as profissões permitidas à época. Se porum lado ser professora é a chance de manutenção doorçamento familiar, por outro, o magistério tem um

sentido de bom status e possível ascensão social.(Bruschini, 1988).

De qualquer forma as professoras dos GruposEscolares no estado de Minas Gerais a partir da legis-lação de 1906, ficam sob o controle do estado e tor-nam-se funcionários públicos.

No Livro de Admissão e Posse dos Professores de 1907, acomposição do quadro de professores dos dois Gru-pos Escolares, registra a admissão de 12 professores13

no Primeiro Grupo e 10 no Segundo Grupo. Nos anossubseqüentes até 1927, foram admitidos 48 no Gru-po José Rangel e 38 professoras no Grupo DelfimMoreira.

O número de 860 alunos matriculados no Primeiroe Segundo grupos ocuparam duas salas de 1º ano femi-nino, duas masculino, e da mesma forma o 2º e o 3ºanos. Neste momento não foi oferecido o 4º ano. Oprimário completo, com os quatro anos aparece em1908.

A legislação de 1906 estabelecia a idade de entra-da dos meninos na primeira série aos sete anos e dasmeninas aos oito anos. Havia a divisão de salas femini-nas e masculinas. No ano de 1919 começam a aparecesalas mistas nos primeiros anos do primário. Ao exa-minar o primeiro livro de Atas exames promoção de 1907-1924, percebe-se que quando há o registro de alunosmatriculados, estes indicam uma média em torno 450a 600 matriculas, por ano, em cada um dos Grupos.Estes números dão pistas de que há uma certa adesãoà escola, pelo menos para aprender a ler e a escreverpor parte das camadas pobres, se mantém no reco-nhecimento da importância daquele espaço escolar.

Se observarmos o número de alunos matricula-dos que não conseguem terminar o ano escolar, cons-tata-se que quantitativamente este insucesso é por de-mais elevado. Os números são contabilizados a partirdo somatório daqueles que “não estavam preparados” (nãoobtiveram média para se submeter ao exame).

As discussões que dizem respeito aos resultadosquantitativos apresentados nas promoções de alunosmerecem uma reflexão mais cuidadosa.

Um exemplo pode ser dado, no caso em particulardo Primeiro Grupo Escolar, que em 1907 apresentou umamatricula total de 470 alunos e o resultado de 133 apro-

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vados, o que representa 28,3% de alunos que obtiveramêxito, ou seja, 71,7% dos alunos matriculados não conse-guiram aprovação. No ano de 1908, o número de apro-vados apresenta um aumento expresso em 33,2% em403 alunos aprovados.

Deve ser chamada a atenção de que estes resulta-dos foram considerados apenas tendo como base amatrícula inicial. Entretanto, tem de se levar em contaque além do número de alunos que não obtiverammédias para fazer o exame, como eram considerados“os não preparados,” há de estabelecer a quantidade dealunos que evadiram no decorrer do ano, item que foidificultado pela falta de informações nos documen-tos estudados. O argumento de que este resultado se-ria diferente, não invalida a preocupação com oinsucesso de uma forma geral.

A autora Maraliz Christo (1994) aponta o forte eloque existe entre a pobreza e o trabalho, afirmando queambos competiam com a escola, provocando umaexpressiva evasão. Seu argumento se baseia nos dadosfornecidos pela Secretaria do Interior em 1908: dos 1002alunos matriculados apenas 492 permaneciam. Ela pergunta:onde estaria a maioria de crianças pobres? Para a auto-ra, as crianças menores de dez anos compunham a for-ça de trabalho nas indústrias locais, durante longas jor-nadas de trabalho, e se encontravam impedidas de fre-qüentar o grupo escolar, aguardando a criação de cur-sos noturnos 14.

Embora a autora tenha razão em questionar odestino daqueles para quem o Grupo fora criado, épreciso reiterar que as questões sobre evasão erepetência naquele período, devem ser vistas, por duasvias: a primeira quanto às interpretações sobre a ima-gem da escola por parte das famílias pobres. Ao seconstatar que o número de matrícula cresceu nos anosconsecutivos, infere-se que os pais acreditavam naimportância da escola. Há que se levar em conta queas crianças pobres daquela época trabalhavam1515 Nasentrevistas feitas com ex-alunos e nas falas dos Dire-tores dos Grupos em Reuniões de Leitura a questãodo trabalho infantil é recorrente.

Dá-se o nome de Revolução de 1930 ou Revolu-ção de 30 ao movimento armado liderado pelos esta-dos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul que culmi-

nou com a deposição do presidente paulista Washing-ton Luís em 24 de outubro.Getúlio Vargas assumiu achefia do “governo provisório” em 3 de novembrode 1930, data que marca o fim da República Velha.(Ver Fausto, Boris e por conta disso havia a depen-dência do trabalho dos filhos. A segunda via de refle-xão deve levar em conta que ler e escrever eram osobjetivos mais imediatos que se esperava da escola, oque propiciava a evasão: depois de certo tempo defreqüência ao Grupo os estudos completos eram des-tinados às elites.

4- A URBANIZAÇÃO SE FAZ PRESENTE: AEDUCAÇÃO REQUERIDA.

A República nos anos vinte completa a sua maio-ridade temporal, com várias reformas educacionaisnas províncias e vários movimentos sociais sustenta-dos pelas diversas reivindicações direcionadas para omundo urbano, mas sem os grandes reflexos que oca-sionaram mudanças nas práticas políticas, queensejaram o movimento revolucionário de 30.16 ( verFausto, 2000 )

A educação precisava atender os novos pro-pósitos de um Brasil que, marchando para sedimentaro capitalismo e a urbanização, requeria mudanças naspolíticas educacionais. Na esteira dos acontecimentos, em1932, surge o documento que a história educacional temdebruçado em estudar por diversos ângulos – O Manifes-to dos Pioneiros -, que representava a visão de educadoresou não interessados na educação do País. Apesar das di-ferentes posições ideológicas de seus signatários, chama aatenção para a urgência da universalização da educação acargo do Estado, da laicidade, obrigatoriedade, co-edu-cação etc. É o importante documento que chamou aten-ção para obrigatoriedade da educação, para aqueles quea requeriam como forma de inclusão social e com isto areestruturação das bases das camadas sociais cuja mobi-lidade social deveria se dar através da educação.

Quase que paralelamente, Minas Gerais no final dosanos 20, apresenta a Reforma Francisco Campos, con-siderada pela historiografia da educação brasileira umsignificativo empreendimento educacional que deve ser

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estudada a luz do contexto sócio político econômicodaquele momento, já que de alguma forma esta refor-ma traduz as ansiedades a respeito da educação, nasci-das nos anos vinte, organizadas no documento dos Pi-oneiros da Educação Nova.

Em verdade, a Reforma mineira ultrapassa paraalém das questões administrativas, ela vai ordenaros aspectos pedagógicos internos da escola primá-ria, o que significa imediata intervenção no interi-or da instituição, através das modificaçõesmetodológicas, nas dinâmicas do trabalho escolar,bem como ao dar aos professores condições de aper-feiçoamento através de cursos de aperfeiçoamen-to, freqüência a congressos educacionais e acesso àprodução científica da época.

É preciso ressaltar que a Reforma tem um cui-dado especial com a formação do professor, e paratanto a educação foi reorganizada em seus aspectospedagógicos e administrativos. A Revista de Ensinofoi a grande estratégia na divulgação de assuntoseducacionais,17 juntamente com a iniciativa da cria-ção da Escola de Aperfeiçoamento cujo papel é ode formadora da elite educacional para aqueles queajudariam implementar internamente nos Gruposo trabalho escolar. Freqüentavam a Escola de Aper-feiçoamento aqueles que seriam formados para se-rem assistentes técnicos, diretores os professores dasescolas normais etc.

Na esteira da Reforma de 1927, seguindo as dé-cadas de 30 a 50, as práticas dos Grupos Escolares Cen-trais se modificam no atendimento a legislação mi-neira, com a obrigatoriedade de novos métodos, es-tudados em Reuniões de Leituras18, que foram instituídasnas escolas e deveriam ocorrer por duas horas sema-nais, reservadas as leituras relativas aos novos méto-dos de ensino, psicologia e outras matérias indispensá-veis à cultura dos professores através de textos e pre-leções de Inspetores Escolares, Assistentes Técnicos19,Diretores, incentivos ao preparo de auditório come-morativo de datas importantes, preparo prévio dasexcursões para reforçar o ensino da Língua Pátria,Ciências, Matemática, Geografia, História e ainda re-forçavam os bons hábitos de comportamentos soci-ais. Nota-se que este novo momento foi para os pro-fessores dos Grupos Centrais uma novidade que exi-

giu mudança na cultura das docentes. Em um artigoencontrado no livro de Atas dos Grupos, sem data,há uma advertência do autor, Waldemar Prado chamaatenção para o objetivo verdadeiro das Reuniões comooportunidade ótima para os que trabalham no mesmo instituto ese encontrem para um verdadeiro certame pedagógico. Além dis-so oferece o plano completo, em todos os passos,para ser cumprido nas Reuniões.

É interessante o esforço para o ordenamentodas atividades internas dos grupos. As professoras,após o tempo de estudos das Reuniões de Leiturasse reuniam por séries para preparar os conteúdos aserem ministrados nas semanas seguintes. Para tan-to, as professoras se guiavam pelos Programas de En-sino, publicados em cadernos próprios, distribuídosem todas as instituições. Nas diferentes atividadesdos professores fica clara a obediência ao Programade Ensino, que é constituído por série e organiza ossaberes a serem ministrado nas escolas primáriasde forma padronizada para todo o estado.

Com o advento dos governos de GetúlioVargas, notadamente no denominado Estado Novo(1937-1945), as práticas inovadoras dos anos anteri-ores provocadas pela Reforma de 1927 se consoli-daram e foram afirmados os princípios do civis-mo, da moral e da higiene20. As atividades e as fes-tas cívicas tornaram-se mais intensas, comobrigatoriedade de aprendizado dos hinos e partici-pação dos alunos nas marchas militares ou em soleni-dades cívicas. Em geral o preparo das marchas eraatribuído como tarefa do professor de Educação Fí-sica e as músicas e hinos ao professor de CantoOrfeônico, que pelos registros sempre acompanhavaos alunos. Estas festas cívicas se dividem nas realizadasdentro do espaço interno dos Grupos, e as atividadesrealizadas fora da instituição nas ruas da cidade,como paradas, representações de alunos em solenida-des em outra instituição. As atas de Auditórios dos doisGrupos e as atas das Reuniões de Leitura apontam ospreparativos e a execução das atividades cívicas, todascom o caráter primeiro de dar ao educando a percep-ção e importância do amor à Pátria, e também comoum bom recurso para promover hábitos socializantese educativos. Ainda deve ser chamada a atenção paraa complementaridade das ações educativas, vistas nos

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livros de Atas das Excursões, que também são realiza-das dentro do espaço dos Grupos e também nas ruasda cidade e em lugares importantes como museus enos monumentos locais. Também estas atividades ser-viam de instrumentos informativos e instigadores deconceitos novos e de curiosidade que possam ajudar aaprendizagem. Além disso, é também um bom mo-mento para ensinar hábitos e atitudes saudáveis. Aindanas Atas das Excurssões, repetida vezes as crianças vão àCatedral Metropolitana, como atividade da aprendi-zagem da assistência à missa e ênfase ao respeito ecomportamento correto naquele lugar religioso. Dava-se também ênfase à freqüência a missa e o ato da Pri-meira Comunhão era revestido de grande aparato eempenho da professora de Religião, de CantoOrfeônico, supervisionado por um sacerdote da vizi-nha Catedral Metropolitana de Juiz de Fora.

Outras recomendações postas nos diversos li-vros de atas dizem respeito ao comportamento dosalunos durante os recreios, que deveria ser vigiadopor dois professores, o que para tanto exigia umaescala feita semanalmente nas Reuniões de Leituras, etodos os professores não deveriam se descuidar doscomportamentos durante a permanência nas salasde aulas, nas excursões e nos auditórios. Eram proi-bidos os castigos físicos, do mau comportamento ede acordo com as Atas de Reunião de Leituras, em facede mau comportamento deveria o professor deter oaluno após a aula para conversar e no caso de notasbaixas, leva-lo a presença do Diretor e na reincidênciachamar os pais ou reponsáveis. O cotidiano dos pro-fessores e alunos com base nos diversos livros de Atasfoi confirmado nas entrevistas a ex-alunos, que disse-ram do valor dos hinos e dos desfiles, nas exigênciasquanto ao bom comportamento ou civilidade, no aca-tamento às ordens dos professores, acrescentando ain-da os benefícios usufruídos por eles pela Caixa Esco-lar, que lhes davam o uniforme e materiais escolares,além da sopa oferecida e oportunidade do tratamen-to dentário pelos dentistas dos dois Grupos. 21 A par-ticipação dos pais ou responsáveis era restrita às idasaos Grupos, quando eram chamados ou na freqüên-cia às atividades festivas realizadas pela instituição.

No ano de 1939 nos livros de matrículas encon-trados 22 dos alunos começam a registrar as profissões

dos pais e das mães. Fez-se a partir de então um levan-tamento no intuito de perceber quais os profissionaisque matriculavam os filhos nos Grupos Para dar umexemplo foram levantadas em torno de 105 profis-sões do pai e da mãe. O número mais expressivo sedeu na profissão operário com 259 e a de pedreiro equanto a da mãe a incidência maior foi a de domésticacom 158, e a de lavadeira com 33. No grupo José Rangelno ano de 1949 foram apuradas em torno de 147profissões sendo que incidência cai novamente na pro-fissão de operário com 220, e de biscateiro em númerode 22, e a da mãe incide novamente na de doméstica ena de lavadeira respectivamente com 62 e 54.

Como fica visível o número de profissões aumentoue numa análise mais ligeira pode-se inferir que foram no-meadas novas profissões arroladas no decênio anterior.Houve uma pequena especialização em serviços conside-rados de baixa renda como varredor, ajudante de eletricista eoutros que aparecem no segundo momento. Alguns paisse declararam doentes ou inválidos tanto nas matrículas de1939 e na de 1949.

No resumo, esta história sobre o nascimento e aorganização da educação primária em Juiz de Fora,pode ser entendida em linhas gerais como a história deoutras instituições análogas, que por conta de reformasimportantes, como as de 1906 e a de 1927, firmaramentre a sociedade e o estado um compromisso socialde modernização educacional, com os novosparâmetros de organização postos a escola permitindouma ação pedagógica mais racional, com base no civis-mo, moral e higiene.

Neste momento, quando estas instituições com-pletam o centenário de seu nascimento, a efetividade desuas ações nos coloca frente a reflexões na busca de ca-minhos para a educação pública atual.

Abstract: The article describes the synthesis of an inquiry onthe first Grade Public Schools (Grupos Escolares) of Juiz deFora, MG, which objective went to know the proceedings asfor the installation of the institution, the political relationsthat influenced his existence, the legislation and the dynamicone of consolidation of the space and of the culture of theschool across his actors, in this case the teachers and the pupils,the ordering of the activities the respective practices developedby the teachers. Recovering the mining reforms of 1906 and1927 the period was studied he was from 1907 to 1960.

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Keywords: First Grade Public Schools, Juiz de Fora, dailylife.

Résumé: L’article décrit la synthèse d’une recherche sur lespremières Écoles Fondamentales (Grupos Escolares) deJuiz de Fora, MG, dont l’objectif a été connaître lesprocédures combien à l’installation de l’institution, lesrelations politiques qui ont influencé dans leur existence,législations et dynamique de consolidation de l’espace etde la culture de l’école à travers leurs acteurs, dans ce cas lesenseignants et les élèves, les rangements des activités lesrespectives pratiques développées par les enseignants. Enrécupérant les réformes minières de 1906 et 1927 les étudesse sont faites en incluant la période de 1907 à 1960.

Mots clé: Premières Écoles Fondamentales, Juiz de Fora,quotidian.

NOTAS

1 O encerramento das investigações nos anos de 1960 explica-se por ser considerado que esta década constitui um novomomento nas diretrizes educacionais brasileiras, por conta daLDB/ 4024/61, e também nos anos de 1970, quando entraem vigor nova lei de ensino, Nº. 5692/71, quando os gruposescolares são extintos dando lugar a Escolas de 1º e 2º Graus.2 Termo apropriado de Roger Chartier (1990)3 O epíteto Manchester Mineira deve-se a Rui Barbosaexaltando o desenvolvimento industrial de Juiz de Fora (Bastos, 1966 citado por Yazbeck, 1999).4 Grifo nosso5 Primeiro Diretor dos Grupos Escolares.6 Livro de Instalação dos Grupos Escolares 1907 –1911Presenças na Cerimônia de instalação do ano letivo de 1907:Diretor: José Rangel; Inspetor Municipal: Belmiro Braga:professoras normalistas (do 1ºGrupo): 1) Alexandrina de Santa Cecília 2) Sylvia de AzevedoCoutinho 3) Maria do Carmo Goulart.4) Maria da Silva Tavares.5) Maria Monteiro de Rezende. 6) Francisca Lopes. 7) (Mª daConceição G.de Vasconcelos.) Izabel Bastos. Agente Executivodo Município: Duarte de Abreu. -Promotor PúblicoMunicipal: Astolfo Leite Magalhães Pinto. -Juiz Municipal:Francisco Cândido da Gama Júnior. -Fiscal p/ parte dogoverno federal: José Cesarino Monteiro da Silva. (fiscal juntoao Gymnásio Granbery) Livro de Instalação dos GruposEscolares 1907 -1911

7 Livro de Atas dos Exames, Atas de Instalação e VisitasOficiais, 1907 – 1925. Termo de Instalação dos Grupos de 02de fevereiro de 1915.8 O prédio era denominado Palacete Santa Mafalda. Em poucotempo o casarão que antes abrigara a Escola Normal, de estiloneoclássico, passou a ser denominado de nome justificado pelasua localização, em frente a catedral Metropolitana, numa áreacentral, que nos idos dos primeiros vinte anos do século XX,compunha um trecho urbano considerado nobre, na principalavenida da cidade, em cujas vizinhanças abrigavam asresidências da alta burguesia local. O casarão permanece aindanos dias atuais, ampliado naparte de trás do prédio. Abriga somente o Grupo Escolar DelfimMoreira, em meio de intensa movimentação de pessoas eveículos, impedido de ser derrubado pela onda de especulaçãoimobiliária, por ser preservado pelo Patrimônio Histórico deJuiz de Fora. (Yazbeck, 2003)9 Ao longo de 1907 a 1920 foram encontrados em torno de 30decretos.10 Para a discussão sobre higiene ver Vago (2002):11 Foram Presidentes do Estado até 1926: 1906 -1908 JoãoPinheiro; 1908 -1909 Julio Bueno Brandão; 1909 – 1910Wenceslau Braz Pereira Gomes; 1910-1914 Julio BuenoBrandão; 1914-1918 Delfim Moreira; 1918 - 1922 AthurBernardes; 1922 – 1924 Raul Soares de Moura (com sua morteassume o vice-presidente Olegário Maciel até 1924); 1924 –1926 Fernando Melo Viana (Fonte: Revista do InstitutoHistórico e Geográfico de Minas Gerais. Volume XII 1965 -1966).12 As professoras eram recrutadas na classe média e na alta.Este dado é verificável pelo nome de família da cidade e porfreqüência a Escola Normal particular de uma escola de freirascatólicas que recrutavam filhas das famílias da classe média ealta da cidade. Somente a part ir de 1928 e que com orestabelecimento da Escola Normal Oficial é que o maiornúmero de professores de Juiz de Fora era formado pelainstituição do governo de Minas Gerais.13 Nos dois Grupos foram admitidos professores homens noano de 1907.14 É interessante assinalar que o Grupo Escolar Noturno, foicriado em 1914 como Escolas Anexas ao Grupo José Rangel.Durante dois anos ela recebeu somente alunas do sexo feminino.Em 1916 a escola recebe alunos de ambos os sexos. Seufuncionamento se dava no mesmo prédio dos GruposCentraisFonte: Livro de Registro; Visitas Oficiais; Atas eTermos de Exames e\ Promoções para o Primeiro GrupoEscolar de Juiz de Fora. 1907 – 1925

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Porém é importante registrar que no âmbito municipal jáexistiam escolas noturnas na zona urbana para operários, desde1908. Fonte: Relatório Albino Esteves referente à instruçãomunicipal de 191015 Nas entrevistas feitas com ex-alunos e nas falas dos Diretoresdos Grupos em Reuniões de Leitura a questão do trabalhoinfantil é recorrente. Dá-se o nome de Revolução de 1930 ouRevolução de 30 ao movimento armado liderado pelos estadosde Minas Gerais e Rio Grande do Sul que culminou com adeposição do presidente paulista Washington Luís em 24 deoutubro.Getúlio Vargas assumiu a chefia do “governo provisório”em 3 de novembro de 1930, data que marca o fim da RepúblicaVelha. (Ver Fausto, Boris17 Ver: Maurilane Biccas (2002) Da Revista à leitura: a formaçãodos professores (as) em Minas Gerais (1925-1940) História ememória da educação brasileira. II Congresso Brasileiro deHistória da Educação/ Anais, 2002 (cd)18 Atas de Reunião de Leituras do Grupo José Rangel1943 a1960 e Atas de Reunião de Leituras do Grupo Delfim Moreira1947 a 1953.19 Assistente Técnico figura que constituída na Reforma de1926. Tinha como função controlar o trabalho desenvolvidonas escolas e prestar assistência técnica aos professores. (VerLopes, Amélia. Mediadores entre as propostas educacionais epráticas educativas: os assistentes técnicos do ensino na reformaFrancisco Campos Tese de doutorado em Educação UERJ,Junho de 2007Mimeog.).20 “Desde a legislação de 1906 a preocupação com a higiene oprofessor aproveitará tudo quanto possa ministrar-lhes noçõesprecisas para a conservação da saúde e seu bem estar physico,ensinando-lhes cuidar da própria pessoa”. Reforma JoãoPinheiro de 1906. (p.9)21 Os professores ensinavam o valor nutricional da sopa eestimulavam os alunos a levarem ofertas de verduras e legumespara enriquecer a sopa.22 De acordo com os Livros Atas de Exames e Promoções de1925-1933 e de 1934 -1937 do Grupo José Rangel, númerode alunos matriculados entre 400 a 500 alunos.

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