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Universidade de Brasília FRANCISCO NILSON DOS SANTOS O ESPORTE EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO (PST) UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA JULHO - 2007

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Universidade de Brasília

FRANCISCO NILSON DOS SANTOS

O ESPORTE EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NO PROGRAMA

SEGUNDO TEMPO (PST)

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA JULHO - 2007

2

FRANCISCO NILSON DOS SANTOS

O ESPORTE EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NO PROGRAMA

SEGUNDO TEMPO (PST)

Relato de Experiência apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar pelo Centro de Ensino à Distância (CEAD) da Universidade de Brasília, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Ana Maria da Silva Rodrigues.

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA JULHO - 2007

3

SANTOS, Francisco Nilson dos

O ESPORTE EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO (PST)

Nº DE PÁGINAS, 30p.

TCC (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância,

2007.

1. Projeto Interdisciplinar 2. Esporte 3. Cidadania.

4

AGRADECIMENTOS

- Ao Grande Arquiteto do Universo que é Deus, que através dos Anjos sempre nos

proporcionando proteção e amor;

- Á minha família, sem o apoio da qual, nada seria possível;

- Á Profa. Dra. Ana Maria da Silva Rodrigues, minha orientadora, pelo zelo e

dedicação com que me orientou na confecção deste trabalho;

- A todo o corpo de docente do CEAD – UNB, pela dedicação e altruísmo com que

vem nos dispensando no decorrer do curso;

- A todos os amigos que de alguma forma nos auxiliou na realização deste curso.

5

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo relatar nossa experiência de monitor no Programa Segundo Tempo (PST), no Núcleo do Bairro Mocambinho, zona norte de Teresina-PI. A proposta deste programa foi a iniciação esportiva no contraturno escolar, como meio de inserção social e acesso à cidadania. Através das modalidades Futebol e Futsal, desenvolvemos um trabalho com crianças e jovens de sete a dezessete anos com vistas a formação integral. Embora o esporte possa ser utilizado em três níveis: Esporte de Rendimento; Esporte de Participação e Esporte Educacional, o programa estabeleceu como prioridade este último. Foram disponibilizadas as condições necessárias para a realização do programa, tais como materiais esportivos e espaço físico, com apoio de lanche para os participantes. Os conteúdos foram ministrados de forma educativa, lúdica e acima de tudo prazerosa, onde se tentou passar para os alunos que o importante não era apenas o vencer e sim, participar, que o vencer era apenas uma conseqüência de uma melhor aprendizagem e dedicação por parte dos mesmos. Os resultados, embora preliminares, mostraram que a proposta é viável e deve ter continuidade. Quando bem ministrado por profissionais capacitados o esporte é um meio de interação social e favorece o desenvolvimento integral dos participantes. Palavras-chave: Esporte Educacional; Educação Física; Futebol.

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................07 2. LEITURA DA REALIDADE GERAL .......................................................................10 3. LEITURA DA REALIDADE ESPECÍFICA .............................................................17 4. ASPECTOS RELEVANTES, POSITIVOS E NEGATIVOS ................................. 25 5. ANÁLISES, CRÍTICAS E SUGESTÔES ........................................................... 27 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................29

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1. INTRODUÇÃO

O Programa Segundo Tempo, atividade de grande relevância nacional tanto

na área educacional como social, é um Projeto do Ministério dos Esportes, com

parcerias com os Ministérios da Educação, Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome. Dentre suas diretrizes, além de coadjuvar na formação e na

possibilidade da consolidação do cidadão, está o de incrementar, fomentar a

socialização e democratização do esporte como direito de todos.

Segundo a Secretaria Nacional de Esporte Educacional (2006), o Programa

Segundo Tempo é um conjunto de práticas esportivas diversificadas e específicas,

individuais e coletivas que deverão ser desenvolvidos sob a forma de projetos

educacionais.

O conteúdo do esporte escolar como múltiplas possibilidades educacionais

para crianças e adolescentes, não envolve somente a repetição de movimento. O

processo de aprendizagem é conseqüência de um arranjo cognitivo-emocional que

se traduz na expressão corporal instantânea e suscetível a mudanças de

deslocamento espaço-temporal. Assim o movimento no esporte é realizado para

resolver um problema tático e estratégico do jogo, isto é, para resolver e

(re)organizar a defesa e ataque que são progressões e regressões em direção ao

objetivo dos jogos⁄ esportes individuais e coletivos (KUNZ, 1998).

O Programa Segundo Tempo (PST) atende crianças e jovens de 07 (sete) a

17 (dezessete) anos, obrigatoriamente matriculados nos Ensino Fundamental e

Médio. Dentre suas programações estabelecidas está o acesso do aluno a

diferentes modalidades esportivas, no contraturno escolar, através de atividades

individuais e coletivas desenvolvidas e aplicadas sob a forma de projetos

educacionais, em espaços físicos escolares ou não, e que possam ser vivenciados e

utilizados pelo público alvo do Programa.

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Este programa foi implantado nas escolas com o intuito de permitir que o

aluno, em horário contrário ao das aulas, desenvolvesse atividades físicas e

esportivas e ao mesmo tempo possibilitar aos profissionais de educação física a

oportunidade do exercício profissional pautado em objetivos definidos e com metas a

serem alcançadas, por meio do esporte.

O esporte é considerado uma atividade corporal historicamente criada e

socialmente desenvolvida, sendo seu traço primordial, a competição (KUNZ, 1994).

Acredita-se que o que leva uma criança a praticá-lo, é a satisfação pessoal, o prazer

e o lúdico, que atendem à sua subjetividade. Mas, além disso, pode-se considerar

aspectos ideológicos de interesse capitalista que dão ênfase a competitividade e

espetaculosidade como alavanca de transformação do lúdico em trabalho. Ou seja,

a criança também é levada pela espetaculosidade do jogo transformado em esporte

de rendimento, pois ela nele vê a possibilidade de ascensão social, uma vez que

muitos jovens adotam a profissão de jogador como uma possibilidade de ganhar

dinheiro (FUNDESPI, 2006).

Segundo Coletivo de Autores (1992), a palavra esporte é conceituada como

sendo uma prática institucionalizada a partir dos temas lúdicos da cultura corporal.

Avançando, acreditamos ainda que ele seja uma prática corporal-social

institucionalizada a partir de regras de jogos ou ações motoras básicas como correr,

saltar, girar, chutar, etc. Uma prática historicamente criada e socialmente

desenvolvida.

Tendo como princípio a globalidade do ensino por meios dos jogos

educativos, com atividades sócio-cognitiva-educativas, de maneira gradativa,

utilizando dos fundamentos básicos das modalidades esportivas, o Projeto Segundo

Tempo (PST), teve como nosso objetivo principal colaborar no trabalho de formação

de base do educando enquanto cidadão.

Na exposição das proposições do Programa Segundo Tempo, encontram-se

os objetivos, abaixo especificados, a serem trabalhados com crianças, o seu público

alvo:

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• Propiciar a iniciação à prática esportiva;

• Desenvolver capacidades e habilidades motoras;

• Reduzir a exposição a situações de risco social, atuando em conjunto com

outras áreas do Governo Estadual e Federal;

• Acompanhar e avaliar o Esporte Educacional.

Estes aspectos deverão ser considerados quando se pretende desenvolver

um programa de treinamento esportivo, pois deve partir dos seus fundamentos,

ainda na iniciação, de modo a proporcionar o aprendizado mais especializado, onde

o aluno poderá vivenciar o esporte de forma mais intensa e comprometida.

Este trabalho teve como objetivo descrever a nossa experiência profissional

como monitor do Programa Segundo Tempo no bairro Mocambinho, em Teresina

(PI), com as modalidades esportivas futebol e futsal.

O presente texto está assim dividido. Primeiramente descrevemos a realidade

geral do esporte, seus aspectos e sua importância para o desenvolvimento das

qualidades físicas e da noção de cidadania. Em seguida relata nossa experiência no

Programa Segundo Tempo (PST), como monitor, junto ao qual desenvolvemos o

esporte futebol aos alunos do Escolão do Mocambinho (Teresina - PI). Em seguida

expomos aspectos relevantes, pontos positivos e negativos da experiência com o

PST, e tecemos algumas análises, críticas e sugestões. Finalizamos com algumas

considerações.

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2. LEITURA DA REALIDADE GERAL

O esporte é considerado um dos meios em que se pode propiciar aos jovens

condições para melhor interação social, além de lhe proporcionar uma boa qualidade

de vida, tanto social, psicológico como de saúde (TEIXEIRA, 2003).

Ações conjuntas, parcerias diversas, seja com órgãos públicos ou mesmo

com empresas privadas, devem ser buscadas com intuito de permitir que as crianças

façam no seu tempo de ociosidade uma atividade sócio-cultural, como o esporte, em

que o afaste do risco de adentrar no seio de vícios condenáveis pela sociedade. O

esporte, com vistas a essa abordagem, tem objetivo mais educativo e menos

competitivo.

O esporte apresenta 03 (três) dimensões: esporte de rendimento, esporte de

participação e esporte educacional (TUBINO, 1995). Nosso foco de discussão é este

último nível. Em 1993, com a Lei nº 8672, foi inovada a legislação, ressurgindo a

esperança de um futuro mais participativo e mais promissor para o esporte brasileiro,

a partir do pressuposto constitucional do direito de cada um à prática esportiva, o

esporte passa a ser exercido por estas três manifestações: esporte de rendimento,

esporte de participação e esporte educacional (NUNES, 2007).

Para Kunz (1994), o esporte educacional é um meio de formação para a

cidadania e para o lazer, não pode se constituir numa reprodução do esporte de

rendimento nem sua percepção como um ramo do esporte-performance. Percepção

equivocada, as competições escolares, que deveriam ter um sentido educativo, em

vez de, reproduzem as competições de alto nível, deformando o conceito de

educação eminentemente social.

O desporto de participação exige um pouco mais. Não como competição, mas

como desenvolvimento do cidadão já formado pelo desporto educacional, quando já

estará apto, através do esporte, a colaborar até mesmo na preservação do meio

ambiente. Já no desporto de rendimento, não se pode mais falar que o importante é

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competir porque vencer é o que importa. No seu âmago está a finalidade de obter

resultados, o que significa dizer resultados positivos. Portanto, não adianta ser vice-

campeão ou campeão moral e a medalha de prata pouco significa. É preciso vencer.

E para vencer o atleta às vezes tenta ultrapassar seus próprios limites, o que lhe

pode ser fatal, pela incapacidade de ser superior a si mesmo ou pela impossibilidade

orgânica de se tornar melhor por meios escusos (KUNZ, 1994)

Para Tubino (1995) o desporto de rendimento praticado de forma não

profissional só se distingue do profissional pela idade do atleta, que não pode ser

inferior a quatorze nem superior a dezoito anos. Oportuno observar que a prática do

desporto de rendimento obriga a submissão à lei e às regras da respectiva prática

desportiva, nacionais e internacionais, o que já não ocorre com o desporto de

participação, embora possa observar alguma daquelas regras, como prática de

desporto formal.

Já o Esporte Educacional, deve ser praticado nos sistemas de ensino e em

formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a

hipercompetitividade de seus praticantes, com finalidade de alcançar o

desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da

cidadania e a prática do lazer. Uma orientação educativa no esporte terá que se

vincular a três áreas de atuação pedagógicas: a de integração social, a de

desenvolvimento psicomotor e a das atividades físicas educativas. Com isso, o

compromisso do esporte educacional é com a formação integral do indivíduo com

vistas à cidadania.

O Esporte Educacional, segundo recomendação do CND nº 01, 1977, é de

responsabilidade pública assegurada pelo Estado, dentro ou fora da escola, tem

como finalidade democratizar e gerar cultura através de atividades motrizes de

expressões de personalidade do indivíduo em ação, desenvolvendo este indivíduo

numa estrutura de relações sociais recíprocas e com a natureza, a sua formação

corporal e as próprias potencialidades, preparando-o para o lazer e o exercício

crítico da cidadania, evitando a seletividade, a segregação social e a

hipercompetitividade com vistas a uma sociedade livremente organizada,

cooperativa e solidária.

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Segundo a Lei Zico (1993), o esporte educacional não deve ser praticado com

o objetivo do rendimento (a vitória a qualquer custo), mas, sim com o objetivo de

preparar a criança e o jovem para a vida esportiva como forma de sociabilidade. Por

isso é que as “competições” com o objetivo educacional devem ser muito bem

monitoradas por professores qualificados e antes de iniciadas devem os pais receber

“aulas de educação esportiva” para que não exijam demais de seus filhos, porque,

em não conseguindo êxito, a criança ou o jovem passa por um processo de

frustração na medida em que não conseguiu corresponder à expectativa dos pais.

Esta criança terá que aprender a ganhar, sem humilhar o vencido, e a perder,

sem menoscabar a vitória de seu opositor. Perder e ganhar são coisas da vida. Por

isso que o desporto educacional tem por finalidade o desenvolvimento e a formação

do indivíduo como cidadão e não como atleta. Somente se a criança ou o jovem

mostrar pendor para o esporte e desejo de a ele se dedicar integralmente deverá

receber incentivo para tal. Incentivo, não exigência. Muita menos a castração de um

sonho. Os pais não podem viver a vida de seus filhos e muito menos impedir que

eles vivam sua própria vida (FIGUEIRA, 2004).

A iniciação esportiva deve ser oportunizada aos alunos com profissionais

devidamente qualificados por meio da prática e vivência dos diversos tipos de

esportes, seja coletivo ou individual (FIGUEIRA, 2004). A iniciação esportiva deve

considerar os limites e as necessidades dos praticantes, principalmente em se

tratando de crianças e adolescentes. Para Figueira (2004, p.45) a iniciação esportiva

de crianças e pré-adolescentes deve ser bem orientada no sentido de identificar e

respeitar as fases de desenvolvimento integral dos mesmos, nos aspectos físicos,

psíquico e social; relata ainda que a iniciação esportiva corresponde à faixa etária de

04 a 12 anos.

De acordo com o autor o objetivo da iniciação esportiva é proporcionar uma

boa base orgânica-funcional a fim de preparar o organismo para uma futura

especialização esportiva. O importante nesta fase é que a criança realize o maior

número de vivências motoras possíveis, com trabalhos multilaterais que possam

contribuir para o seu acervo motor. Em relação ao aspecto sócio-educacional, é

importante despertar no ser em formação o verdadeiro “espírito esportivo”; construir

13

idéias e valores através do esporte como uma função instrumental no processo

educativo.

A iniciação esportiva se diferencia em diversos aspectos da especialização

esportiva, sendo que esta só deve acontecer após os 12 anos.

Diferenciação entre Iniciação e a Especialização Esportiva

Metodologia (Processo de ensino) INICIAÇÃO

(Desenvolvimento) 04 a 12 anos

ESPECIALIZAÇÃO (rendimento)

a partir de 13 anos Aprendizagem Aperfeiçoamento Participativo Competitivo (seletivo)

Básico Específico Simples Complexo Saúde Fadiga (lesões) Prazer Stress Jogar Vencer

Longo prazo Curto prazo Lúdico (informal) Formal (desporto)

“Titulares” “Reservas” Esporte Educacional Esporte “Espetáculo”

Orientação Cobranças Motivação Saturação

Aprendizagem dos fundamentos Aperfeiçoamento da performance Preocupação com a formação Preocupação com resultados

Será que estamos no caminho certo, promovendo o treinamento especializado com

crianças em idade cada vez mais precoce?

Fonte: Santana, 1996, apud Figueira, 2004 p. 46.

Podemos verificar, através do quadro acima, que as metodologias são bem

diferenciadas. Cabe ao professor/treinador saber aplicar a metodologia adequada à

faixa etária correspondente. A metodologia do futebol, por exemplo, na iniciação tem

que ser algo diferente e com base científica para melhorar essa prática esportiva.

Abolir da iniciação no futebol práticas específicas idênticas aos métodos de

treinamento do adulto e a superespecialização. Desvincular o processo de iniciação

do treinamento precoce e da excessiva competitividade poderá significar não

conquistar medalhas (SANTANA, 1996).

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O esporte competitivo é parte integrante da iniciação, mas devemos

considerar a maneira como essa situação está sendo tratada. Devemos adotar

metodologias diferenciadas para o esporte praticado pela criança, dar atenção

especial à iniciação aos esportes, para não incidirmos em uma hiperespecialização.

A crença na superespecialização instalou-se na nossa sociedade e parece que veio

para ficar por muito tempo. O Esporte não escapou a essa crença (FREIRE, 2002).

A iniciação esportiva, no entender de Freire (2002), é uma etapa de

aprendizagem muito marcante para a criança, pois ocorre uma transformação de

grandes possibilidades. A essas possibilidades devemos dar condições para novas

aprendizagens e liberdade de criar e improvisar, vivenciar e interagir, e assim

construir uma base sólida para uma futura especialização. A vida da criança não

pode ser limitada a uma atividade esportiva que vise a busca pela vitória ou do título

de campeão. A criança não deve renunciar à infância, às brincadeiras e ao prazer do

lúdico e do jogo, simplesmente para treinar e ser um campeão. A infância é um

tempo que não volta mais. É uma fase ímpar da vida de cada um e deve ser vivida

intensamente.

O importante para a criança é conviver com o esporte de forma prazerosa,

lúdica, livre e de lazer, sem rótulos e cobranças. O futuro da criança em qualquer

esporte depende principalmente da maneira como ela se inicia neste esporte. O

esporte só faz sentido porque é jogo, porque mobiliza nossa dimensão lúdica

(FREIRE, 2002).

Figueira (2004 p. 50) entende que podemos trabalhar três tipos de iniciação,

que devem ser considerados quando se ensina alguma modalidade esportiva. É

importante que o professor compreenda os preceitos do treinamento esportivo. O

mesmo autor define Treinamento como a soma de estímulos realizados em

determinado tempo, resultando em modificações funcionais e morfológicas do

organismo, levando a uma adaptação objetivando elevar o rendimento. É o conjunto

de procedimentos tendentes a conduzir um ser humano a atingir o desempenho

máximo de suas possibilidades físicas.

Nesse sentido o treinamento precoce é a utilização de exercícios e trabalhos

específicos de movimentos que caracterizam uma modalidade esportiva, praticada

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de forma intensa e prolongada, visando a busca de resultados relevantes, em tempo

relativamente curto, sem se importar com a estrutura física emocional e idade do

atleta. Esta atitude é contrária à iniciação esportiva, esta sem fins de performance.

O treinamento de iniciação esportiva da criança deve obedecer a dois tipos

principais: geral e especializado, ambos intimamente relacionados a atividades

naturais (andar, correr, saltar, nadar e arremessar). Considerando o tipo de

treinamento relacionado à iniciação esportiva, conforme Figueira (2004) podemos

dividir em: iniciação geral, iniciação especializada, modalidade esportiva. Os

aspectos abaixo são importantes para o trabalho desenvolvido no Programa

Segundo Tempo (PST), já que a proposta é trabalhar com alunos de 07 a 17 anos.

A Iniciação Geral (04-12 anos) deve considerar aspectos como:

a) Desenvolvimentos psicomotor e intelectual;

b) Desenvolvimentos dos padrões motores (educação do movimento)

c) Atividades naturais, simples e lúdicas;

d) Atividades pré-desportivas (recreativas).

Estes aspectos da iniciação têm por finalidade precípua construir um

substrato orgânico que possibilite, no futuro, a aplicação, em bases fisiológicas, da

etapa seguinte do treinamento (especialização esportiva).

Nesta fase, conforme Figueira (2004) a criança deve desenvolver suas

qualidades físicas básicas, recebendo também os fundamentos das várias

modalidades esportivas de acordo com seu desenvolvimento morfofuncional. Não

deve haver uma preocupação determinada pela competição esportiva que, quando

existir, deverá ser restrita ao ambiente escolar e, se possível sem espectadores.

A Iniciação Esportiva Especializada (13-17 anos) deve levar em consideração:

a) progresso intelectual;

b) desenvolvimento técnico (treinamento regular);

c) atividades competitivas.

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Ao iniciar no esporte especializado o professor deve preocupar-se com

questões de cunho cognitivo, ou seja, de exigir aquilo que o aluno é capaz; de

progredir por meio do treinamento nos fundamentos técnicos e táticos e proporcionar

experiências competitivas.

Destaca ainda Figueira, (2004), que o treinamento especializado deve ser

aumentado gradativamente, sempre sob controle sistemático de testes funcionais

que permitam acompanhar a evolução orgânica funcional do jovem até a obtenção

de resultados técnicos significantes.

Temos ainda a vivência em Modalidade Esportiva (17 anos >), que deve

proporcionar:

1) estabilização emocional;

2) aperfeiçoamento técnico;

3) competição (alto rendimento).

Esta etapa é vista como de transição entre o treinamento juvenil e o

treinamento de alto desempenho. Significa o aperfeiçoamento, a estabilização e a

variabilidade da técnica esportiva. Surgem aí formas de estímulos e treinamentos

específicos que compreendem as fases preparatórias para a competição (alto

rendimento).

O trabalho desenvolvido no Programa Segundo Tempo (PST), se bem

aplicado o que determina o treinamento esportivo poderá, além de proporcionar a

prática educativa do esporte, preparar alguns alunos para o esporte de performance,

após os 17 anos.

Assim, diante destas delimitaçõe,s entendemos que o esporte educacional é a

proposta a ser vivenciada na escola, pois antes de tudo este ambiente visa a

formação do indivíduo, sendo o esporte excelente meio de formação do indivíduo e

de seu caráter.

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3. LEITURA DA REALIDADE ESPECÍFICA

O núcleo em que tivemos a oportunidade de vivenciar a experiência proposta

pelo Programa Segundo Tempo (PST) foi instalado no Bairro Mocambinho,

localizado na zona norte de Teresina, bairro este que se originou de uma fazenda,

depois passou a ser um conjunto habitacional e hoje se divide em três. É

considerado uma das regiões de maior crescimento populacional e econômico da

cidade. Apesar de não ter mais para onde crescer, por conta do rio Poti, a região

continua atraindo mais moradores que já estão fundando vilas e residências ao seu

redor. As ruas estreitas e em forma de zigue-zague escondem valores, talentos, arte,

desejos, mas, principalmente um povo trabalhador.

A grande região do Mocambinho é composta pelos conjuntos habitacionais I,

II e III, alem das Vilas Mocambinho, Firmino Filho, São Francisco e outras que

surgem a cada nova invasão de um pedaço de terra.

O Mocambinho abriga hoje, oficialmente, cerca de 30 mil pessoas. Mas,

contando com as vilas, residenciais e loteamentos que se aglomeram ao redor do

bairro, esse número sobe para além de 50 mil. Um dos bairros mais populosos de

Teresina nasceu sobre os escombros da fazenda Mocambinho. Esse nome é uma

junção da palavra mocambo, que quer dizer cabana, com sufixo – inho, significando

“cabaninha”.

Em Teresina, existem aproximadamente 16 centros de produção,

beneficiando, assim, mais de 250 produtores. O Centro de Produção do

Mocambinho existe há 12 anos e foi reinaugurado no último dia 3 de agosto, com

uma nova pintura. São 40 lojinhas distribuídas em quatro módulos onde 34

produtores fabricam e vendem seus produtos.

Os principais ramos dos negócios são as confecções de bolsas e de artigos

da moda. Além dessas atividades, há ainda o ramo do fardamento escolar,

uniformes para times de futebol, calçados, artesanato, decoração de festa e

18

recuperação de imagens. Os produtores vêm se qualificando ao longo desses anos

através de cursos e oficinas ministradas pela Fundação Wall Ferraz. Além disso, o

Banco Popular auxilia com crédito para compra de material para as peças

produzidas. A Associação dos Microempresários do Mocambinho afirma que o

principal problema dos produtores do Centro de Produção é o capital de giro e a

compra de matérias-primas que, às vezes, não é encontrado no Estado. Outro

problema é que a produção não é bem divulgada em Teresina.

O bairro conta com dois bons Centros de saúde e um hospital, além de

escolas públicas e particulares. Dentre as escolas se destacam as escolas São

Mateus e São José, além do Centro Comunitário do Mocambinho – o Escolão do

bairro, que é considerado um dos maiores e melhores colégios públicos da capital.

Ele foi destaque nacional ao apresentar para o Brasil o estudante Rafael Alves da

Silva, que cursa a oitava série e que conquistou as primeiras colocações na

Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas (OBMEP). O exemplo de

Rafael foi seguido pelos estudantes Nayron Ribeiro Santos e Sidney Luan Teixeira

de Nazaré, que despontaram como novos talentos para todo o país, conquistando os

primeiros lugares na 2ª Olimpíada Brasileira de Matemática, em 2005. Os dois

alunos receberam uma bolsa de iniciação científica jr (CNPq).

Na área da cultura existem bons resultados. No campo musical, sob o

comando do regente José Elton Oliveira, a banda infanto-juvenil Pinxinguinha,

formada por garotos do bairro, dá sinais de que com persistência e dedicação, o

trabalho cultural é reconhecido. Através de suas apresentações demonstra

claramente a preocupação com o resultado do trabalho coletivo. A banda

Pinxinguinha funciona atualmente no Parque Ambiental do bairro Mocambinho, onde

tem conseguido incentivar jovens e adolescentes a ingressarem no campo da

música instrumental.

Outro bom exemplo é a banda infanto-juvenil Luiz Gonzaga, que também é

formada por meninos e meninas do bairro. Sob a regência dos maestros Antônio

Calos Rocha e Vitalino Manoel da Luz Filho, a banda existe desde abril de 1991 e

tem se destacado na formação de jovens-músicos. É formada por alunos da própria

19

escola, que são acompanhados desde suas primeiras aulas pelo instrutor. O objetivo

é oferecer as condições para competir por um espaço no mercado profissional.

Em coerência com sua proposta de ensino, sempre buscando a

profissionalização, a Banda Luiz Gonzaga orgulha-se de ter tido em seu quadro,

músicos profissionais que nela tiveram sua primeira experiência na área, tais como:

Vando Paz, Person Francioli, Luis Carlos, Faustino Neto, Vitalino Júnior, Emanoel

Macedo, Darciel Silva, Raniel Silva, Robert, Anderson e Hallisson Maranhão, entre

outros de igual importância. A Banda recebe total apoio da atual direção do Escolão

do Mocambinho, através do professor Severiano.

Na área esportiva e social teve início a construção do Complexo Esportivo do

Escolão do Mocambinho, que é composto atualmente por um Espaço Cultural e um

Ginásio Poliesportivo – uma das mais antigas reivindicações dos moradores do

bairro. O complexo vai contar com campo de futebol oficial, campo de futebol menor,

quadra poliesportiva, quadra de areia, playground, quiosques, pista de Cooper e

pavilhão de eventos. Segundo o Diretor do Escolão, Professor José Severiano, a

área será um bem não só para os alunos do Escolão, mas para toda a comunidade

da zona Norte da Capital.

Em 2003, quando o Partido dos Trabalhadores ganhou a eleição para

governador do Estado, na pessoa do Sr. Wellington Dias, continha no bojo de suas

propostas a criação da Secretaria Estadual de Esportes, que foi criada como

FUNDESPI - Fundação de Esportes do Estado do Piauí, antiga FAGEPI – Fundação

Geral de Esportes do Estado do Piauí. Essa transição perdurou por quase um ano.

Foi ainda no âmago do processo de instalação da aludida Fundação e dos

convênios a serem concretizados com o Governo Federal, que em agosto de 2003,

começaram a implantar no Estado, núcleos do Programa Segundo Tempo (PST),

encerrando o convênio em novembro do mesmo ano, onde só foi renovado em

março de 2004.

Na cidade de Teresina, foram instalados vários núcleos, principalmente

naqueles bairros considerados importantes tanto na área social como em número de

20

alunos carentes lá existentes como em bairros circunvizinhos de características de

mesma natureza.

Após ser contatado pela FUNDESPI, quanto à necessidade de prestação de

meus serviços como monitor e/ou coordenador, escolhi trabalhar como monitor no

bairro Mocambinho, no Centro Social Urbano (CSU) daquele bairro, ao lado do

Escolão lá existente, cujo coordenador viria a ser um colega de profissão e tínhamos

um excelente relacionamento, mais uma razão para uma eficaz administração.

Nossa equipe era formada por 05 pessoas: um coordenador, formado em

educação física, e 04 monitores, dos quais somente eu era formado em educação

física, dos outros três, um fazia o curso de administração de empresas numa

faculdade particular, e outras duas moças, apenas tinham o nível médio.

Nosso núcleo era composto por 84 alunos, 53 do sexo masculino e 31 do

sexo feminino. As atividades eram realizadas nos dias de segunda, quarta e sexta-

feira, das 8h 00 às 11h e 30m. Das 8h 00 às 10h 00, eram realizadas as atividades

físicas, com a vivência e execução dos esportes: futebol de campo, futsal, voleibol,

basquetebol e handebol, e demais jogos denominados pequenos e grandes jogos.

Como a turma era grande, dividíamos a turma em duas partes. Os 53 do sexo

masculino ficavam comigo e outro monitor. Os 31 do sexo feminino ficavam com as

duas monitoras.

Contávamos com uma quadra e um campo de futebol. Utilizávamos também

uma quadra fechada e coberta em um colégio próximo chamado Casa Dom Barreto,

onde as monitoras usavam para a prática de esportes com as alunas, que preferiram

esportes tipo voleibol, basquetebol e handebol, pois o local era mais apropriado,

enquanto com os meninos fazíamos aulas de Futebol e Futsal.

Às 9h: 45m às 10h: 15m, os trabalhos eram interrompidos para o lanche, para

em seguida, iniciar as atividades acadêmicas, como ajudar a tirar dúvidas e ensinar

suas atividades escolares, até 11:00 h.

21

Quanto ao meu trabalho, tive certa facilidade de interação no processo

ensino-aprendizagem, levando em consideração toda uma proposta de esporte

educacional, pois além de formado em educação física, sou também árbitro

profissional de futebol de campo e de futsal, o que facilitou a aplicação das

atividades concernentes ao processo de iniciação esportiva, um dos objetivos do

PST. Pude também orientá-los quanto à noção e necessidade de se obedecer às

regras pré-estabelecidas em cada um dos esportes vivenciados por eles.

Quanto aos aspectos didático-pedagógicos nas atividades esportivas, usamos

a Metodologia Global de Ensino, por meio de jogos educativos. As atividades foram

desenvolvidas gradativamente, ou seja, partindo dos fundamentos básicos da

modalidade esportiva para a parte técnica e tática.

O planejamento das aulas de iniciação esportiva procurou considerar alguns

aspectos didático-metodológicos, para dar condições para uma aprendizagem de

qualidade. Conforme Figueira (2004) uma aula de iniciação esportiva deve ser

dividida em partes, propondo atividades conforme os objetivos traçados, e

adequando ao tempo disponível.

PARTES OBJETIVOS ATIVIDADES TEMPO 1a Parte Interação com o aluno Socialização e procedimento da

aula

5’ minutos

2a Parte Aquecimento Jogo adaptado ou brincadeira 15’ minutos

3a Parte Fundamento Exercícios relacionados ao tema

(lúdicos)

15’ minutos

4a Parte Coletivo Jogo propriamente dito ou

adaptado

20’ minutos

5a Parte Relaxamento Discussão sobre a aula 5’ minutos

Fonte: Figueira (2004, p. 48).

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De acordo com o quadro acima, a aula de iniciação esportiva, no nosso caso,

o Futebol e Futsal, deve ser dividida em partes específicas, voltadas para a

formação corporal e o conhecimento específico do esporte, ou seja, a iniciação

esportiva e o desenvolvimento de habilidades motoras. Com vistas à formação

integral do aluno, o professor deve trabalhar atitudes e comportamentos durante os

jogos coletivos.

Assim, durante o desenvolvimento do PST, procuramos sempre em nossas

aulas de educação física, aliar no processo ensino-aprendizagem, a teoria com a

prática, utilizando os conteúdos das abordagens, inclusive os PCNs (BRASIL, 1997),

ou seja, uma globalização das concepções didáticas, contanto que os objetivos

alvos fossem alcançados. Conforme Kunz (1994, 1998), o esporte educacional tem

seus princípios básicos, que o diferencia de outras formas de se trabalhar o esporte,

e que quando aplicados buscam educar para a cidadania. São eles: totalidade, co-

educação, emancipação, participação, cooperação e regionalismo.

Totalidade – fortalecimento da unidade do homem (consigo, com o outro e

com o mundo), considerando a emoção, a sensação, o pensamento e a intuição

como elementos indissociáveis desta mesma unidade, favorecendo o

desenvolvimento do processo de auto-conhecimento, auto-estima e auto-superação,

visando a preservação de sua individualidade em relação às diversas outras

individualidades, tendo em vista o contexto uno e diverso no qual está inserido.

Co-educação – concepção da Educação que, como um processo unitário de

integração e modificação recíproca, considerando a heterogeneidade (sexo, idade,

nível sócio-econômico, condição física etc.) dos atores sociais envolvidos e,

fundamentando-se nas experiências vividas de cada um dos participantes e

estruturando a atuação pedagógica apoiada na ação e reflexão, tem na relação

mestre-aprendiz, como o encontro entre dois educadores, o seu alicerce.

Emancipação – busca da independência, autonomia e liberdade do homem,

fundamentando-se nos princípios da educação transpessoal, pela qual o aprendiz ^é

encorajado a despertar a se tornar autônomo, a indagar, a explorar todos os cantos

e frestas da experiência consciente, a procurar o significado, a testar os limites

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exteriores, a verificar as fronteiras e as profundidades do próprio eu^, oportunizando

o desenvolvimento, por intermédio da criatividade e da autenticidade da capacidade

de discernir criticamente e elaborar genuinamente as suas próprias razões de Existir.

Participação – valorização do processo de interferência do homem na

realidade na qual está inserido, fundamentado nos princípios de co-gestão, co-responsabilidade e integração e favorecendo seu comprometimento, como ator-

construtor dessa mesma realidade, propicia o gerenciamento das questões de seu

interesse, tendo em vista o processo de organização social decorrente do exercício

de seus direitos e responsabilidades.

Cooperação – União de esforços no exercício constante da busca do

desenvolvimento de ações conjuntas para a realização de objetivos comuns,

fundamentada no potencial cooperativo e no sentimento comunitário de cada um dos

participantes do processo, estreitando os laços de solidariedade, parceria e

confiança mútua, de forma a fortalecer as habilidades em perseverar, em

compartilhar sucessos e insucessos, em compreender e aceitar o outro, como

elementos constitutivos do processo de co-evolução do homem.

Regionalismo – respeito, proteção e valorização das raízes e heranças

culturais, como sinergias constitutivas do todo, considerando a singularidade dos

diversos mundos culturais, surgidos da relação entre seus elementos, de forma a

resgatar e preservar a sua identidade cultural, no processo de construção do

coletivo.

Assim sendo, o esporte de cunho educacional deve buscar atingir estes

princípios, procurando em suas atividades dar a oportunidade do aluno vivenciar

atitudes éticas e com isso o professor pode atingir seu objetivo de formação integral.

Diante destes princípios, considera-se que o esporte educacional deve se

orientar em diretrizes didático-metodológicas que visem a sua otimização, para que

venha a atingir seus objetivos. Portanto, para Kunz (1998) o esporte educacional

deve considerar que:

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a) as atividades se dirigirão no sentido da pedagogia do Esporte, enquanto

meio de Educação;

b) é fundamental a busca de sinergia com a comunidade educacional,

esportiva, econômica e cultural;

c) Aprender é um processo unitário, de interação e modificação recíproca

não é só entre sujeito e realidade, sujeito e objeto de conhecimento, sendo

também, interação e modificação recíproca dos sujeitos implicados,

comprometidos no aprender;

d) a função ensinar circula numa estrutura, numa comunidade de

aprendizagem e é desenvolvida tanto a partir dos mestres, como a partir

dos alunos;

e) didática, trata-se de uma constante indagação ativa. Ou seja: uma

metodologia que põe o eixo do aprender na ação, na experiência;

f) é insubstituível a reflexão sobre o vivido, resgatando-o como matéria do

conhecer, como forma imediata, direta de contato com a realidade cujas

leis queremos investigar;

g) as crianças e adolescentes, deverão vivenciar um processo educativo que,

centrado em suas necessidades básicas (de afeto, segurança, realização

e valorização), contribua para a consolidação de sua identidade pessoal e

social.

Diante disso, consideramos que o esporte educacional deve ser ministrado

levando em conta tanto a dimensão individual, ou seja, interesses e necessidades

bem suas potencialidades e anseios, como também a dimensão coletiva, social,

cidadã. Durante o PST procurou-se aplicar os princípios norteadores e considerar

estes aspectos mais abrangentes.

Ao professor cabe proporcionar vivências pedagogicamente orientadas para

que os objetivos do esporte educacional sejam alcançados. Ao aluno cabem

vivências múltiplas e lúdicas, de modo a criar uma base de sustentação de suas

capacidades físicas e suas habilidades motoras para que possa continuar

desenvolvendo sua experiência esportiva e venha a se tornar um grande desportista

e não se desvirtua no caminho do sedentarismo e de outras possibilidades

negativas.

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4. ASPECTOS RELEVANTES, POSITIVOS E NEGATIVOS

Um aspecto que consideramos relevante e positivo é o que descreve em um

dos seus objetivos que é “proporcionar aos alunos, com profissionais devidamente

qualificados a prática e vivência dos diversos tipos de esportes, seja coletivo, seja

individual”. Realmente possibilidades tivemos para praticar e vivenciar com os

alunos os princípios do esporte educativo, pois os implementos mínimos e

necessários tivemos, como bolas campos e quadras. Sempre após as atividades,

tínhamos um lanche para as crianças, com variações tinha dia que era suco com

bolacha, outro dia uma sopa com sabores diferentes.

Mas, não devemos também deixar de destacar um aspecto negativo

relacionado ao objetivo acima citado. Como citei anteriormente, dos quatro

monitores, só eu era formado em educação física (pois o projeto preceitua que tanto

coordenadores como monitores, teriam que ser formados em educação física ou em

pedagogia). Tive dificuldades em interagir com os outros monitores, pois por mais

que quisesse cooperar com os mesmos, na tentativa de melhor orientá-los no

sentido de fazer um trabalho profícuo com os alunos, às vezes era mal entendido,

podendo transparecer que queria saber mais que os outros ou mesmo agir como se

fosse o Coordenador.

Acredito que a falta de formação específica em educação física dificulta o

entendimento e a convivência do monitor com o esporte dentro da dimensão

educacional. O que resta é um esporte com característica de esporte de

performance, com exigências de treinamento fora do âmbito educacional.

Cabe também ressaltar que a qualidade do material esportivo deixava muito a

desejar, pois sua duração era muito curta. O que soubemos é que esse material era

produzido e fabricado em penitenciárias no Maranhão e na Bahia, e com 3 a 5 vezes

de uso, as bolas descosturavam ou mesmo rasgavam.

Além disso, a qualidade do lanche não era muito boa, além de não tem muito

sabor, às vezes sua data de validade estava muito próxima de ser vencida.

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Acredito que é necessária mais atenção no desenrolar de Projetos como este,

pois as intenções são as melhores, mas ao longo das escolhas e decisões, a

questão política vai tomando conta e ao invés de se pensar no melhor para os

alunos, pensa-se no melhor para alguns poucos envolvidos.

Apesar de alguns problemas, acreditamos que este Projeto deva ter

continuidade, e ao mesmo tempo sofrer alguns ajustes, para sanar pontos negativos

como estes aqui apontados.

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5. ANÁLISES, CRÍTICAS E SUGESTÕES

Este programa sem dúvida alguma tem grande importância em seus aspectos

sócio-cultural, sócio-cognitivo e psicológico; portanto, um projeto deste tamanho com

o compromisso social, incomensurável, só tem a colaborar com a formação do

indivíduo no processo ensino-aprendizagem como um ser aprendente, crítico,

pensante e reflexivo, acima de tudo um cidadão, provável governante dos ideais do

nosso país.

As crianças foram muito participativas, poucas foram as que não se

integravam às atividades propostas. Mostravam-se interessadas, engajadas nas

atividades físicas, estavam sempre exigentes e atuantes quanto aos esportes.

Uma crítica que não poderíamos deixar de assinalar é o fato de o núcleo e/ou

a FUNDESPI, deixar de mandar seus relatórios trimestrais, podendo deixar de

renovar seus convênios. Ou seja, o Ministério dos Esportes, poderá punir as

crianças por uma falta de responsabilidade e/ou compromisso dos seus

coordenadores ou dirigentes, interrompendo assim um processo que deveria ser

continuado. Pensamos haver alternativas de punição dos dirigentes faltosos, que

não seja penalizar as crianças, nossos futuros frutos.

Sugerimos que haja mais empenho no andamento do Projeto, para que este

não venha a sofrer solução de continuidade. Os envolvidos devem ter escolhidos por

sua competência na área e deveria ser levada em consideração a formação

específica, ou seja, ser profissional de educação física, pois este profissional é quem

tem a qualificação adequada para trabalhar com esporte, principalmente na

dimensão educacional.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um Programa dessa envergadura tem seu papel preponderante no

desenvolvimento humano em sua cidadania, portanto, deve ser cada vez mais

fomentado por aqueles que detém poderes para tal. É importante também salientar,

que a FUNDESPI, ao elaborar e organizar seus programas de atividades em seus

Núcleos procure escolher Coordenadores e monitores realmente capacitados, dentro

das necessidades inerentes às atividades a serem executados. Que os critérios de

escolha de seus coordenadores e monitores seja por currículo e não político. Como

também, aquisição de material esportivo de melhor qualidade, pois os que são

usados nos núcleos são de baixa qualidade, ocasionando pouca duração de uso,

refletindo também na qualidade da aplicabilidade do ensino-aprendizagem.

Considero louvável que os convênios para dar prosseguimentos aos

caminhos objetivados, não cessem nos períodos não letivos, pois as atividades

esportivas educacionais são eternas aprendizagens e de maneira inequívoca um

dos caminhos mais determinantes e marcantes na formação do cidadão.

O trabalho por nós realizado neste núcleo no Bairro Mocambinho, pode ter

tido pouca representatividade, pelo pouco tempo de execução, pois um trabalho

desta estirpe seus resultados são de longo prazo, mas pelo menos uma base foi

erguida. Base esta que servirá também como referência para os detentores do poder

dar prosseguimento aos objetivos a serem alcançados, pois uma vez que o

Programa Segundo Tempo pode ser considerado uma excelente proposta, pois

pode contribuir eficazmente para a inclusão social das crianças e adolescentes

beneficiando-as com educação e esporte.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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______. Lei Zico – nº 8672 de 1993.

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PIAUÍ. Relatório Anual. Fundação Estadual de Esportes do Estado do Piauí - FUNDESPI, 2005.

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SANTANA, Wilton Carlos. Esporte na Infância e Competência Técnica. Pedagogia do Futsal. Disponível em: http:⁄ ⁄www.pedagogiadofutsal.com. br⁄texto>. Acesso em: 01 de janeiro de 2007.

TEIXEIRA, Hudson Ventura, 1935 – Educação Física e desporto: técnicas, táticas, regras e penalidades – 4ªed. – São Paulo:Saraiva,2003. 285p.

TUBINO, M. J. G. Dimensões sociais do esporte. São Paulo: Cortez, 1995.