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Num Mosteiro Improvisado a Semana Santa no dia-a-dia

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Num Mosteiro Improvisadoa Semana Santa no dia-a-dia

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Domingo de Ramos

P. Rui Fernandes, sj

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Que o modo de Jesus ser rei me contagie, e que eu abra as portas ao Reino de Deus.

um pedido

Do evangelho segundo São Mateus

Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, junto ao monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: «Ide à povoação que está em frente e encontrareis uma jumenta presa e, com ela, um jumentinho. Soltai-os e trazei-mos. E se alguém vos disser alguma coisa, respondei que o Senhor precisa deles, mas não tardará em devolvê-los». Isto sucedeu para se cumprir o que o Profeta tinha anunciado: «Dizei à filha de Sião: ‘Eis o teu Rei, que vem ao teu encontro, humildemente montado num jumentinho, filho de uma jumenta’».Os discípulos partiram e fizeram como Jesus lhes ordenara: trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram-lhes em cima as suas capas e Jesus sentou-Se sobre elas. Numerosa multidão estendia as capas no caminho; outros cortavam ramos de árvores e espalhavam-nos pelo chão. E, tanto as multidões que vinham à frente de Jesus como as que O seguiam, diziam em altos brados: «Hossana ao Filho de David! Bendito O que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas!». Quando Jesus entrou em Jerusalém, toda a cidade ficou em alvoroço. «Quem é Ele?» – perguntavam. E a multidão respondia: «É Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia».[...]Entretanto, Jesus foi levado à presença do governador,que lhe perguntou: «Tu és o Rei dos judeus?». Jesus respondeu: «É como dizes». Mas, ao ser acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. Disse-Lhe então Pilatos: «Não ouves quantas acusações levantam contra Ti?». Mas Jesus não respondeu coisa alguma, a ponto de o governador ficar muito admirado. Ora, pela festa da Páscoa, o governador costumava soltar um preso, à escolha do povo. Nessa altura, havia um preso famoso, chamado Barrabás. E, quando eles se reuniram, disse-lhes Pilatos: «Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo?». Ele bem sabia que O tinham entregado por inveja. Enquanto estava sentado no tribunal, a mulher mandou-lhe dizer: «Não te prendas com a causa desse justo, pois hoje sofri muito em sonhos por causa d’Ele». Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a que pedisse Barrabás e fizesse morrer Jesus.

um texto

A SEMANA SANTA abre com a celebração de Domingo de Ramos. De uma forma talvez anticlimática, a liturgia coloca-nos já perante o relato da paixão de Jesus. Ao esclarecer, desde logo, uma parte do desfecho desta semana, a liturgia como nos pede que observemos o modo como o protagonista [Jesus] se posiciona perante os acontecimentos. Por outras palavras: como é que Jesus vive até à morte? Postas lado-a-lado, as cenas da entrada triunfal e da condenação à morte traçam um itinerário de revelação: Jesus é acolhido como Rei, mas o seu estilo de realeza encontra resistências, choca e causa incómodo. O que os textos mostram também, é que, mesmo perante portas e corações fechados, Jesus permaneceu aberto.

um parágrafo

Domingo de Ramos

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Imagine a situação. Uma multidão eufórica concentrada às portas da cidade e a ver chegar um homem montado num jumento. O que esperariam de Jesus? Por seu turno, o que quereria Jesus dizer com aquele gesto? O que terá pensado e sentido ao ver aquelas pessoas? Estaria ciente das expectativas das pessoas? E eu: o que espero deste Rei-Messias? Quais são as minhas expectativas em relação a Jesus? Tenho visto sinais do seu Reino e estilo invulgares? Quais são?

umapergunta

um símbolo

The Door, A Poem of Miroslav Holub

vídeo com legendas em Castelhano [clicar aqui]

umaimagem

Hoje vou identificar uma porta que tem estado fechada, na minha vida. Dentro das minhas possibilidades, vou procurar dar um passo concreto de abertura. Simbolicamente, posso colocar o «nome dessa porta» a uma porta de casa. Isso pode ajudar-me a recordar esse desafio e, quem sabe, educar-me sobre os tempos e os modos de abrir (e fechar). Como posso abrir as minhas portas ao Reino de Deus, hoje? O que posso fazer para manter as minhas portas abertas?

umgesto

Há uma certa ironia trágica nas leituras de hoje: Jesus entra na cidade, mas não é acolhido. Nem todas as portas se abriram.Numa altura em que nos vemos de algum modo fechados atrás de portas, talvez seja ocasião de olhar as portas que nos rodeiam, por dentro e por fora, e perguntar:

Domingo de Ramos

portalinha que separa o interior do exteriorfronteirapassagem

quem/ o que deixo entrar? a quem barro a entrada?o que tenho aprendido deste tempo em que estou fechado?como manter a porta aberta?que portas tenho medo de atravessar?

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Segunda-Feira Santa

P. Fernando Ribeiro, sj

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

6

Senhor, concede-me que, à imagem de Maria de Betânia, te entregue, hoje, o que há de mais precioso em mim.

um pedido

Do evangelho segundo São João

Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Ofereceram-lhe lá um jantar. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam com Ele à mesa. Então, Maria ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragrância do perfume. Nessa altura disse um dos discípulos, Judas Iscariotes, aquele que havia de o entregar: «Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?» Ele, porém, disse isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava. Então, Jesus disse: «Deixa que ela o tenha guardado para o dia da minha sepultura! De facto, os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim não me tendes sempre.» Um grande número de judeus, ao saber que Ele estava ali, vieram, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Os sumos sacerdotes decidiram dar a morte também a Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, os abandonavam e passavam a crer em Jesus.

um texto

Em vésperas da Paixão de Jesus, Maria de Betânia realiza um dos gestos mais sublimes e ternurentos sobre o seu Senhor e amigo; derrama um perfume caro sobre os pés de Jesus e enxuga-os com os seus cabelos.Este é um gesto que expressa o desejo de entrega total aquele que se prepara para dar a vida por nós. Maria não está preocupada com os preconceitos, com o preço do perfume ou com o que dirão os outros. Toda ela está ali, inteira, para o Senhor. Aproxima-se a Paixão de Jesus Cristo: é tempo de nós, em jeito de despedida e de preparação para a Páscoa, nos derramarmos inteiramente aos pés de Cristo.

um parágrafo

Segunda-Feira Santa

Que atenção tenho dado a Jesus nestes dias? Que posso fazer para estar mais inteiro(a) com Ele? Como se pode concretizar, na minha vida e neste preciso momento, o derramar sobre Ele o que há de mais precioso em mim?

umapergunta

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

7

Segunda-Feira Santa

umaimagem

Recolhe algumas fotografias de tantos Cristos do mundo de hoje (Mt 25, 31-46). Com estas fotografias diante de ti, participa da eucaristia, oferecendo-a por estas realidades e deixa que estas pessoas ofereçam a eucaristia por ti.

umgesto

um símbolo

que perfume é este?como se chama?que cheiro tem?que me faz lembrar?que diz de mim?o que custa?

perfume

Excerto do filme “In to the wonder”,

de Terrence Malick

[clicar aqui]

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Terça-Feira Santa

P. Nuno Tovar de Lemos, sj

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Peçamos a Deus que saibamos olhar os outros à nossa volta querendo sinceramente o seu bem.

um pedido

Do evangelho segundo São João

Tendo dito isto, Jesus perturbou-se interiormente e declarou: «Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me há-de entregar!» Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saberem a quem se referia. Um dos discípulos, aquele que Jesus amava, estava à mesa reclinado no seu peito. Simão Pedro fez-lhe sinal para que lhe perguntasse a quem se referia. Então ele, apoiando-se naturalmente sobre o peito de Jesus, perguntou: «Senhor, quem é?» Jesus respondeu: «É aquele a quem Eu der o bocado de pão ensopado.» E molhando o bocado de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. E, logo após o bocado, entrou nele Satanás. Jesus disse-lhe, então: «O que tens a fazer fá-lo depressa.» Nenhum dos que estavam com Ele à mesa entendeu, porém, com que fim lho dissera. Alguns pensavam que, como Judas tinha a bolsa, Jesus lhe tinha dito: ‘Compra o que precisamos para a Festa’, ou que desse alguma coisa aos pobres.Tendo tomado o bocado de pão, saiu logo. Fazia-se noite. Depois de Judas ter saído, Jesus disse: «Agora é que se revela a glória do Filho do Homem e assim se revela nele a glória de Deus. E, se Deus revela nele a sua glória, também o próprio Deus revelará a glória do Filho do Homem, e há-de revelá-la muito em breve.» «Filhinhos, já pouco tempo vou estar convosco. Haveis de me procurar, e, assim como Eu disse aos judeus: ‘Para onde Eu for vós não podereis ir’, também agora o digo a vós.[...]Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, para onde vais?» Jesus respondeu-lhe: «Para onde Eu vou, tu não me podes seguir por agora; hás-de seguir-me mais tarde.» Disse-lhe Pedro: «Senhor, porque não posso seguir-te agora? Eu daria a vida por ti!» Replicou Jesus: «Darias a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo, antes de me teres negado três vezes!»

um texto

Na última ceia, mesmo sob uma enorme pressão, Jesus continua a dar-Se e a querer o bem de quem está à Sua volta. Dá-Se a todos sem excepção. Mas dá-Se de maneira distinta a cada um. A João dá o Seu peito; a Judas dá o Seu pão; a Pedro dá a Sua palavra.Jesus dá-Se independentemente da resposta de cada um. Dá-Se a Judas, que estava a pensar entregá-lo. Será que ainda teria esperança que Judas mudasse?Também a nós Cristo Se entrega e deseja entregar-Se. Com o Seu peito consola-nos, com o pão alimenta-nos, com a palavra desafia-nos.

um parágrafo

Terça-Feira Santa

Como é que Jesus Se me tem dado a mim nestes tempos? E eu, que posso fazer hoje para O acolher melhor no meu coração e na minha vida?A quem me pede Jesus que eu me entregue hoje? Como é que a minha entrega aos outros pode ser mais parecida com a de Jesus, independente do bom ou mau acolhimento por parte de quem está à minha volta?

umapergunta

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Terça-Feira Santa

Caravaggio, A Ceia em Emaús (detalhe)

umaimagem

Nas próximas refeições vou tentar dar o meu melhor.Se faço as refeições com outras pessoas vou tentar estar atento ao que precisam e deixar o melhor para elas. Vou tentar ser agradável na conversa e ajudar a fazer do momento da refeição um momento que gere boas relações.Se faço as refeições sozinho, imagino que estou à mesa com Jesus e os apóstolos (como sugere Santo Inácio nos Exercícios Espirituais) e tento fortalecer a minha união a Jesus Cristo.

umgesto

um símbolo

mesa

A mesa é o lugar da verdade das relações:Dos egoísmos e da atenção ao outro,das alianças e das indiferenças,da partilha da informação e dos silêncios,das tensões e das distensões,da importância de Deus ou da Sua irrelevância na vida quotidiana.

A mesa reflecte a verdade das relações mas também gera relações novas.

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Quarta-Feira Santa

P. Pedro Rocha Mendes, sj

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Senhor, quero que este ano a Tua “passagem” seja também a minha. Que a Tua Páscoa seja a minha passagem para uma vida nova em ti.

um pedido

Do evangelho segundo São Mateus

Naquele tempo, um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e disse-lhes: «Que estais dispostos a dar-me para vos entregar Jesus?». Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata.E a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para O entregar.No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?».Ele respondeu: «Ide à cidade, a casa de tal pessoa, e dizei-lhe: “O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo. É em tua casa que Eu quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos”».Os discípulos fizeram como Jesus lhes tinha mandado e prepararam a Páscoa.Ao cair da noite, sentou-Se à mesa com os Doze.Enquanto comiam, declarou: «Em verdade vos digo: Um de vós há de entregar-Me».Profundamente entristecidos, começou cada um a perguntar-Lhe: «Serei eu, Senhor?». Jesus respondeu: «Aquele que meteu comigo a mão no prato é que há de entregar-Me. O Filho do homem vai partir, como está escrito acerca dele.Mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser entregue! Melhor seria para esse homem não ter nascido». Judas, que O ia entregar, tomou a palavra e perguntou: «Serei eu, Mestre?». Respondeu Jesus: «Tu o disseste».

um texto

Os apóstolos preparam a Páscoa dos Judeus que celebra e recorda a libertação e a comunhão, mas um deles, Judas, planeia o “negócio” de entregar o seu Mestre. Entregar é a palavra que se repete mais vezes neste Evangelho. Mas na verdade não será Judas a entregar Jesus. Será Ele mesmo a entregar-se por fidelidade ao Pai. E nesta entrega faz-Se o Cordeiro da nova Páscoa e torna-sealimento para todos nós. Quando o amor ao Senhor arrefece, facilmente a vontade cede a outros pedidos que podem apresentar-se como pratos mais apetitosos. Mas na realidade não são mais do que ilusões e venenos escondidos atrás de boas capas. Não deixemos esmorecer o fogo do nosso amor, esse que nos une Àquele que nos ama desde sempre e que oferece continuamente a Sua vida por nós.

um parágrafo

Quarta-Feira Santa

O Senhor deseja ardentemente encontrar uma casa onde se sentar à mesa com os seus discípulos. Agora que nos aproximamos dos dias centrais da nossa fé, podemos perguntar-nos se tem havido espaço no nosso coração e na nossa casa para o Senhor e para todos aqueles que Ele nos envia?Tenho acolhido este Seu constante desejo de comunhão? Tenho convidado para a minha casa tantos outros que precisam também deste encontro?

umapergunta

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Quarta-Feira Santa

Contemplar a imagem que o P. Nuno Branco propõe para este dia, ouvindo a música do LabOratório “Fazei isto em Minha Memória” [clicar aqui]

umaimagem

Hoje, preparar com mais cuidado a nossa casa e fazer de uma das refeições um espaço fraterno e de partilha. Se possível, deixar que cada um possa partilhar como tem vivido estes tempos desafiantes. O que tem sido bom e de descoberta, mas também aquilo que tem sido mais duro e mais difícil de lidar.

umgesto

um símbolo

casa

É o lugar onde se vive a comunhão e onde se partilha o mais simples e o mais importante da vida. Uma casa foi também o lugar que o Senhor escolheu para se reunir com os seus amigos. E na mesa que Ele preparou para eles, podemos não só contemplar o modo como Ele Se entregou, mas também intuir e aprender o modo como nos chama a oferecer a nossa. Como na boa casa judaica em que havia sempre lugar para o outro (o Elias) deixemos também espaço para quem vier desafiar as nossas seguranças e obrigar-nos a ter o nosso coração sempre aberto e disponível.

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Quinta-Feira Santa

P. António Valério, sj

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Peço hoje a graça de conhecer intimamente o amor de Deus Pai, que se manifesta na ternura de Jesus.

um pedido

Do evangelho segundo São João

Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. No decorrer da ceia, tendo já o Demónio metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, a ideia de O entregar, Jesus, sabendo que o Pai Lhe tinha dado toda a autoridade, sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura. Depois, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cintura. Quando chegou a Simão Pedro, este disse-Lhe: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «O que estou a fazer, não o podes entender agora, mas compreendê-lo-ás mais tarde». Pedro insistiu: «Nunca consentirei que me laves os pés». Jesus respondeu-lhe: «Se não tos lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro replicou: «Senhor, então não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça». Jesus respondeu-lhe: «Aquele que já tomou banho está limpo e não precisa de lavar senão os pés. Vós estais limpos, mas não todos». Jesus bem sabia quem O havia de entregar. Foi por isso que acrescentou: «Nem todos estais limpos». Depois de lhes lavar os pés, Jesus tomou o manto e pôs-Se de novo à mesa. Então disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também».

um texto

Quanto o que percorre a alma é o medo, quando a noite se adensa, quando o fim se aproxima, o instinto é sobreviver e fugir. Mas Jesus, mergulhado no abandono confiado de ser Filho muito Amado, dá o exemplo. Não se esconde, mas deixa cair o seu manto, despojando-se da sua imagem de Mestre poderoso em obras e palavras. O Mestre não está de pé ou sentado a ensinar, mas de joelhos. O seu ensinamento é um gesto surpreendente e incómodo. Na tarde desta quinta-feira, Jesus mostra quem é Deus, Aquele que se inclinou sobre nós, e, no seu imenso amor, se baixou para nos servir, dando a sua vida.

um parágrafo

Quinta-Feira Santa

“Compreendeis o que vos fiz?” É esta a pergunta de Jesus depois do gesto do lava-pés. Nos tempos que estou a viver, compreendo verdadeiramente o que Jesus fez, e o exemplo que deixou? No espaço pequeno de uma sala, tanta vida acontece, se assim dispuser o coração! A quem hoje devo lavar os pés?

umapergunta

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Quinta-Feira Santa

Sieger Koder, Washing feet

umaimagem

No dia da instituição da Eucaristia, dói muito não comungar sacramentalmente. Procurarei assistir à celebração da Ceia do Senhor através dos meios audiovisuais. E unir-me, deste modo, profundamente a Jesus, recebendo-O no meu coração e comprometendo-me a ser cada vez mais como Ele. Assim seja.

umgesto

um símbolo

mãos - derramam água, partem o pão, lavam os pés.

Como discurso de despedida, Jesus parte o pão. Resume-se num gesto que explica toda a sua vida. Jesus é Pão que se parte, para que outros se alimentem d’Ele. Assim me quero partir, em pequenos pedaços, em migalhas de atenções e carinhos, de paciências e esperanças... aí o pequeno alimento se faz grande alegria.

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Sexta-Feira Santa

P. Hermínio Rico, sj

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Hoje desejo ser tocado interiormente pelo amor sereno de Jesus que se dá até ao extremo, por mim!

um pedido

Do evangelho segundo São João

Tendo dito estas coisas, Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cédron, onde havia um horto, e ali entrou com os seus discípulos. Judas, aquele que o ia entregar, conhecia bem o sítio, porque Jesus se reunia ali frequentemente com os discípulos. Judas, então, guiando o destacamento romano e os guardas ao serviço dos sumos sacerdotes e dos fariseus, munidos de lanternas, archotes e armas, entrou lá. Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, adiantou-se e disse-lhes: «Quem buscais?» Responderam-lhe: «Jesus, o Nazareno.» Disse-lhes Ele: «Sou Eu!» E Judas, aquele que o ia entregar, também estava junto deles. Logo que Jesus lhes disse: ‘Sou Eu!’, recuaram e caíram por terra. E perguntou-lhes segunda vez: «Quem buscais?» Disseram-lhe: «Jesus, o Nazareno!» Jesus replicou-lhes: «Já vos disse que sou Eu. Se é a mim que buscais, então deixai estes ir embora.» Assim se cumpria o que dissera antes: ‘Dos que me deste, não perdi nenhum.’ Nessa altura, Simão Pedro, que trazia uma espada, desembainhou-a e arremeteu contra um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro: «Mete a espada na bainha. Não hei-de beber o cálice de amargura que o Pai me ofereceu?»

Então, o destacamento, o comandante e os guardas das autoridades judaicas prenderam Jesus e manietaram-no. E levaram-no primeiro a Anás, porque era sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote naquele ano. Caifás era quem tinha dado aos judeus este conselho: ‘Convém que morra um só homem pelo povo’.

Entretanto, Simão Pedro e outro discípulo foram seguindo Jesus. Esse outro discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e pôde entrar no seu palácio ao mesmo tempo que Jesus. Mas Pedro ficou à porta, de fora. Saiu, então, o outro discípulo que era conhecido do Sumo Sacerdote, falou com a porteira e levou Pedro para dentro. Disse-lhe a porteira: «Tu não és um dos discípulos desse homem?» Ele respondeu: «Não sou.»Lá dentro estavam os servos e os guardas, de pé, aquecendo-se à volta de um braseiro que tinham acendido, porque fazia frio. Pedro ficou no meio deles, aquecendo-se também.

Então, o Sumo Sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. Jesus respondeu-lhe: «Eu tenho falado abertamente ao mundo; sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em segredo. Porque me interrogas? Interroga os que ouviram o que Eu lhes disse. Eles bem sabem do que Eu lhes falei.» Quando Jesus disse isto, um dos guardas ali presente deu-lhe uma bofetada, dizendo: «É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?» Jesus replicou: «Se falei mal, mostra onde está o mal; mas, se falei bem, porque me bates?» Então, Anás mandou-o manietado ao Sumo Sacerdote Caifás.

um texto

Sexta-Feira Santa

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Sexta-Feira Santa

Entretanto, Simão Pedro estava de pé a aquecer-se. Disseram-lhe, então: «Não és tu também um dos seus discípulos?» Ele negou, dizendo: «Não sou.» Mas um dos servos do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse-lhe: «Não te vi eu no horto com Ele?» Pedro negou Jesus de novo; e nesse instante cantou um galo.

De Caifás, levaram Jesus à sede do governador romano. Era de manhã cedo e eles não entraram no edifício para não se contaminarem e poderem celebrar a Páscoa. Pilatos veio ter com eles cá fora e perguntou-lhes: «Que acusações apresentais contra este homem?» Responderam-lhe: «Se Ele não fosse um malfeitor, não to entregaríamos.» Retorquiu-lhes Pilatos: «Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa Lei.» «Não nos é permitido dar a morte a ninguém», disseram-lhe os judeus, em cumprimento do que Jesus tinha dito, quando explicou de que espécie de morte havia de morrer. Pilatos entrou de novo no edifício da sede, chamou Jesus e perguntou-lhe: «Tu és rei dos judeus?» Respondeu-lhe Jesus: «Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de mim?» Pilatos replicou: «Serei eu, porventura, judeu? A tua gente e os sumos sacerdotes é que te entregaram a mim! Que fizeste?» Jesus respondeu: «A minha realeza não é deste mundo; se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue às autoridades judaicas; portanto, o meu reino não é de cá.» Disse-lhe Pilatos: «Logo, Tu és rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.» Pilatos replicou-lhe: «Que é a verdade?» Dito isto, foi ter de novo com os judeus e disse-lhes: «Não vejo nele nenhum crime. Mas é costume eu libertar-vos um preso na Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus?» Eles puseram-se de novo a gritar, dizendo: «Esse não, mas sim Barrabás!» Ora Barrabás era um salteador.

Então, Pilatos mandou levar Jesus e flagelá-lo. Depois, os soldados entrelaçaram uma coroa de espinhos, cravaram-lha na cabeça e cobriram-no com um manto de púrpura; e, aproximando-se dele, diziam-lhe: «Salve! Ó Rei dos judeus!» E davam-lhe bofetadas.Pilatos saiu de novo e disse-lhes: «Vou trazê-lo cá fora para saberdes que eu não vejo nele nenhuma causa de condenação.» Então, saiu Jesus com a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Disse-lhes Pilatos: «Eis o Homem!» Assim que viram Jesus, os sumos sacerdotes e os seus servidores gritaram: «Crucifica-o! Crucifica-o!» Disse-lhes Pilatos: «Levai-o vós e crucificai-o. Eu não descubro nele nenhum crime.» Os judeus replicaram-lhe: «Nós temos uma Lei e, segundo essa Lei, deve morrer, porque disse ser Filho de Deus.» Quando Pilatos ouviu estas palavras, mais assustado ficou. Voltou a entrar no edifício da sede e perguntou a Jesus: «Donde és Tu?» Mas Jesus não lhe deu resposta. Pilatos disse-lhe, então: «Não me dizes nada? Não sabes que tenho o poder de te libertar e o poder de te crucificar?» Respondeu-lhe Jesus: «Não terias nenhum poder sobre mim, se não te fosse dado do Alto. Por isso, quem me entregou a ti tem maior pecado.» A partir daí, Pilatos procurava libertá-lo, mas os judeus clamavam: «Se libertas este homem, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei declara-se contra César.» Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e fê-lo sentar numa tribuna, no lugar chamado Lajedo, ou Gabatá em hebraico. Era o dia da Preparação da Páscoa, por volta do meio-dia. Disse, então, aos judeus: «Aqui está o vosso Rei!» E eles bradaram: «Fora! Fora! Crucifica-o!» Disse-lhes Pilatos: «Então, hei-de crucificar o vosso Rei?» Replicaram os sumos sacerdotes: «Não temos outro rei, senão César.» Então, entregou-o para ser crucificado. E eles tomaram conta de Jesus.

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Sexta-Feira Santa

Jesus, levando a cruz às costas, saiu para o chamado Lugar da Caveira, que em hebraico se diz Gólgota, onde o crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, ficando Jesus no meio. Pilatos redigiu um letreiro e mandou pô-lo sobre a cruz. Dizia: «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.» Este letreiro foi lido por muitos judeus, porque o lugar onde Jesus tinha sido crucificado era perto da cidade e o letreiro estava escrito em hebraico, em latim e em grego. Então, os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: «Não escrevas ‘Rei dos Judeus’, mas sim: ‘Este homem afirmou: Eu sou Rei dos Judeus.’» Pilatos respondeu: «O que escrevi, escrevi.» Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa dele e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, excepto a túnica. A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo, não tinha costuras. Então, os soldados disseram uns aos outros: «Não a rasguemos; tiremo-la à sorte, para ver a quem tocará.» Assim se cumpriu a Escritura, que diz:

Repartiram entre eles as minhas vestese sobre a minha túnica lançaram sortes.E foi isto o que fizeram os soldados.

Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.

Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: «Tenho sede!» Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-lha à boca. Quando tomou o vinagre, Jesus disse: «Tudo está consumado.» E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

Como era o dia da Preparação da Páscoa, para evitar que no sábado ficassem os corpos na cruz, porque aquele sábado era um dia muito solene, os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e também ao outro que tinha sido crucificado juntamente. Mas, ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Porém, um dos soldados traspassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água. Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também. É que isto aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: Não se lhe quebrará nenhum osso. E também outro passo da Escritura diz: Hão-de olhar para aquele que trespassaram.

Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente por medo das autoridades judaicas, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus. E Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e retirou o corpo. Nicodemos, aquele que antes tinha ido ter com Jesus de noite, apareceu também trazendo uma mistura de perto de cem libras de mirra e aloés. Tomaram então o corpo de Jesus e envolveram-no em panos de linho com os perfumes, segundo o costume dos judeus. No sítio em que Ele tinha sido crucificado havia um horto e, no horto, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Como para os judeus era o dia da Preparação da Páscoa e o túmulo estava perto, foi ali que puseram Jesus.

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Sexta-Feira Santa

umaimagem

Em casa, hoje dou lugar de destaque a um crucifixo; ou construo uma cruz com elementos da minha vida presente.

umgesto

um símbolo

árvore

Como cruz, é apenas madeiro. Mas já foi folhas, flores e frutos, sombra e apoio, beleza vibrante de vida, presença forte contra o vento assente em raízes profundas, refúgio para as aves. E até pode acabar como lenha consumindo-se para me dar luz e calor. Sempre em dádiva, até ao fim. Como Jesus.

Henryk Gorecki, Symphony No. 3,

“Sorrowful Songs”

[clicar aqui]

O que verdadeiramente importa ao contemplar a Paixão não é o sofrimento, mas o amor. Queme dizem estes últimos passos de Jesus sobre a profundidade, o alcance e a determinação do seu amor por mim?

umapergunta

Jesus entrega-se à morte como se entregou à vida: dando-se sem nada guardar, amando sempre, em toda situação. A Paixão é coerência e fidelidade. As palavras e os gestos de amor e de vida de antes dão sentido à passividade de agora. À sua volta, reina o medo, nos que o abandonam e em quem o procura intimidar pela violência. Em Jesus, a serenidade sofrida duma entrega inteira em liberdade plena, até na solidão e no vazio, mesmo à beira do abismo da morte. Paixão que abraça cada agora da vida, amor que triunfa e perdura. Páscoa, passagem, caminho através de cada presente, abertura à esperança.

um parágrafo

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Sábado Santo

P. João Norton, sj

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Pedir a graça de acolher a paradoxal alegria cristã da ressurreição do Senhor Jesus: expectante e autêntica; serena e intensa, mais forte que todas as preocupações mais sérias do momento que vivemos.

um pedido

Do evangelho segundo São Mateus

Terminado o sábado, ao romper do primeiro dia da semana, Maria de Magdala e a outra Maria foram visitar o sepulcro. Nisto, houve um grande terramoto: o anjo do Senhor, descendo do Céu, aproximou-se e removeu a pedra, sentando-se sobre ela. O seu aspecto era como o de um relâmpago; e a sua túnica, branca como a neve. Os guardas, com medo dele, puseram-se a tremer e ficaram como mortos. Mas o anjo tomou a palavra e disse às mulheres: «Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou, como tinha dito. Vinde, vede o lugar onde jazia e ide depressa dizer aos seus discípulos: ‘Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis.’ Eis o que tinha para vos dizer.»Afastando-se rapidamente do sepulcro, cheias de temor e de grande alegria, as mulheres correram a dar a notícia aos discípulos. Jesus saiu ao seu encontro e disse-lhes: «Salve!» Elas aproximaram-se, estreitaram-lhe os pés e prostraram-se diante dele. Jesus disse-lhes: «Não temais. Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me verão.»

um texto

Sábado Santo tem dois momentos. Há o sábado do silêncio, do vazio aberto pela morte do Senhor, da sua ausência. Podemos vivê-lo junto de Maria, a mãe, e dos discípulos, os amigos. É um vazio cheio de uma fé incipiente, ainda expectante, um tempo em suspenso. Depois há o sábado da estrela da tarde, da vigília da Páscoa. “Ao romper do primeiro dia”- diz o texto. É a primeira manhã, a manhã inaugural do dia sem ocaso da ressurreição do Senhor, cujo espanto e alegria enchem de frescura a vida cristã. “Cheias de temor e grande alegria [Maria de Magdala e a outra Maria] correram a dar a notícia aos discípulos”. É esta palavra e emoção que enche o frágil cântaro que foi à fonte, o vaso de barro nas mãos das mulheres, cheio da notícia surpreendente: Jesus, morto e ressuscitado vive connosco, Ele saiu ao nosso encontro.

um parágrafo

Sábado Santo

Crio em mim um vazio expectante? Disponho-me a receber o dom da vida novaem Jesus Cristo e a comunicar a correspondente alegria, mais forte do que a morte?

umapergunta

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Sábado Santo

Participo o melhor possível nas celebrações da Vigília Pascal, acendo em minha casa uma pequena vela, de luz pascal.

umgesto

um símbolo

vaso

Imagina-te um vaso, não um vaso qualquer mas o vaso que és. Somos vasos. De argila ou porcelana, vidrados ou esmaltados, de todas as cores, o vaso é sempre terra, mas terra radicalmente aberta ao céu. Frágil na figura, forte na expressão, o vaso é o esvaziamento de si para acolhimento do dom. É a alma em silêncio que enche os pulmões de Deus. Acolhe, expande-se, celebra esseencontro. Maria é certamente o vaso mais formoso, nele se deu a maternidade e agora, em sábado santo, de novo o vazio é já participação na plenitude anunciada.

James Turrel, Agua de Luz,Yucatán, Mexico

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Domingo de Páscoa

P. José Frazão Correia, sj

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Vibre em mim, Senhor, minha Páscoa, minha vida, a alegria.Aconteça entre nós, Senhor, a Tua consolação.

um pedido

Do evangelho segundo São Mateus

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã, ainda escuro, e viu retirada a pedra que o tapava. Correndo, foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o que Jesus amava, e disse-lhes: «O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram.» Pedro saiu com o outro discípulo e foram ao túmulo. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Inclinou-se para observar e reparou que os panos de linho estavam espalmados no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados no chão, ao passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava espalmado no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado noutra posição. Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer, pois ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.

um texto

Há três dias, Maria Madalena e os discípulos viram Jesus crucificado. João bem de perto. Pedro de muito, muito longe. Restara o corpo em chaga, morto, sepultado à pressa, num sepulcro novo, e um doloroso silêncio, um vazio amargo, sem sentido nem horizonte. Agora, nesta manhã de Domingo, o sepulro é encontrando aberto. Parece que nem o corpo de Jesus lhes resta. Com o túmulo aberto, mais vazia fica a alma, mais duro será o luto e a memória.Do lado de fora da fé, Maria Madalena chora, perdida. Os seus olhos são incapazes de ver. Até o corpo de Jesus lhe roubaram. Advertidos, os dois discípulos correm juntos ao sepulcro. João corre mais rápido. O amor que seguiu Jesus até ao fim chega primeiro. Só esse pode indicar o caminho a quem vacilou no seguimento. Nesta manhã, porém, Deus já está a fazer novas todas as coisas: “Olha! O Inverno já passou e com ele foram-se as chuvas. Já há flores no campo, chegou o tempo das canções; e ouve-se cantar a rola nos nossos campos. Na figueira começam a brotar os figos e as vinhas em flor espalham o seu perfume”.Em breve, Pedro, João, Maria Madalena, cada um ao seu modo, no mais profundo da alma, ouvirão pronunciar o próprio nome. Então, verão e acreditarão. Reconhecidos, reconhecerão. “É o Senhor”. Ressuscitou Cristo, minha esperança.Da morte à vida, é esta a grande passagem. Desde que nascemos. Passar do medo à confiança. Da separação ao encontro. Do ressentimento ao perdão. Da fraqueza do pecado à fortaleza da graça. Passar das lágrimas tristes à profunda alegria. São estas as passagens mais dramáticas da vida. E as mais promissoras. “Se o grão de trigo, caído à terra, morrer, produzirá muito fruto”. Não habita no sepulcro a vida que se dá. Vive em Deus, para sempre. Cristo, nossa Páscoa, Ressuscitou. Precede-nos, agora, na vida de cada dia, seja ela como for, nas coisas de todos os dias. Ele é o caminho da verdade da vida que permanece.

um parágrafo

Domingo de Páscoa

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Num Mosteiro Improvisado: a Semana Santa no dia-a-dia

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Domingo de Páscoa

Reparar em A Dança, de Henri Matisse, acompanhada por Sofonias, 3, 14:

“Rejubila, filha de Sião, solta gritos de alegria, Israel!Alegra-te e exulta de todo o coração, filha de Jerusalém!”

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Ouvir e gostar Hallelujah (oratória Messiah), de G. G. Händel, e brindar à Vida do Ressuscitado presente em nós e entre nós (com traje de festa, perfumando-se, com um cálice de vinho, com um movimento de dança…)

umgesto

um símbolo

luz

…recordando o Círio Pascal, a “coluna de cera” acesa na vigília pascal. Que, como ele, “arda incessantemente para dissipar as trevas da noite” e “brilhe ainda quando se levantar o astro da manhã, aquele astro que não tem ocaso: Jesus Cristo”, o Ressuscitado, que hoje nos ilumina tão intensamente com a Sua luz e a Sua paz.

Porque choras?No sepulcro não há vida.O Senhor Ressuscitou, Ele, tua passagem, tua vida.Não resistas. Não te desculpes. Acolhe o risco da consolação.Alegra-te. Canta, dança, celebra a alegria.

umapergunta

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Desenhos: P. Nuno Branco, sjEdição: Pilar Cardoso da Costa

Semana Santa 2020