no centen'ario de obras postumas...e religiosas. a síntese de todos os siste-mas...

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, , NO CENTEN'ARIO DE "OBRAS POSTUMAS" ===============Z~US WANTUIL=============== N a Revue Spirite de 1889, nos números de 15 de junho e 1~ de julho, respectivamente às páginas 383 e 416, o gerente H. Joly comunica aos leitores que "Oeuvres Posthumes" aparecerão brevemente (paraítront prochainement). Em 1~ de outubro desse mesmo ano, página 608 da Revue Spirite, r-----------------------, H. Joly informa que "Oeuvres Posthumes" está no prelo (sous presse). Acontece que uma epidemia de gripe gras- sava em Paris nesse ano de 89 (R. S. 1~ de março de 1890, pãg, 144), e foi esse acontecimento que retardaria a saída não de "Oeuvres Posthumes'", como tam- bém de outros livros, inclusive o "Compte Rendu du Congrês Spiri- te et Spiritualiste Inter- national", de 1889, que estava prometido para aquele ano e só foi lan- çado em abril de 1890. Na Revue Spirite de abril de 1890, em extra- to do Catálogo apensa- do a esse número, apa- receu, afinal, sob o títu- lo Ouvrages nouvelle- ment parus (Obras re- centemente surgidas), as "Oeuvres Posthu- mel' de Allan Kardec, ao preço de 3ft.50. Tal informação foi repetida, algumas vezes, no mes- mo ano de 1890. Não sabemos, por falta de melhores esclareci- mentos, se "Obras Póstumas" saiu realmente em abril ou em maio de 1890. Leymarie, na R. S. de 1~ de agosto de 1890, ao comentar um artigo publicado em "Le Parisien'", diz em nota de roda- pé, na pág. 378: HISTÓRICO (1) "Ueuvres Posthumes", 6~ volume de Allan Kardec que acaba de aparecer (que vient de paraítre), 3ft.50, com porte franco; 3ft., com porte franco, para os assinantes da Revue, assim como os cin- co volumes precedentes. Seja nesse ou na- quele mês, a 1: edi- ção francesa saiu mesmo em 1890, muito embora não haja no frontíspício nenhuma data que assi- nale o lançamento. A segunda edição francesa, in-Iô., apare- ceu também em 1890, conforme consta no Ca- talogue Général des li- vres imprimés de Ia Bi- bliothêque Nationale, Paris, tomo II (1899), coluna 324, edição esta igualmente editorada, como a primeira, sob os auspícios da Société de Librairie Spirite, Tão-só em 1~de agos- to de 1890 "Refor- mador" comunicaria ha- ver recebido de Paris o "Compte Rendu" e as "Oeuvres Posthumes"; Tanto interesse desper- tou esta última obra en- tre os estudiosos, que o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, então Vice- -Presidente da Federa- ção Espírita Brasilei- ra, tomou a si a tarefa L- ---I de traduzi-Ia em verná- culo, sob o pseudônimo Max, para ser pu- blicada em fascículos, conforme informou o "Re- formador" de 1~ de outubro de 1890. O pri- meiro fascículo saiu, afinal, em janeiro de 1891 ("Reformador" de 15/111891), sendo a sua edição feita por conta do Centro da União r 11faut propager Ia Morale ct Ia Véríté , PREMlimE ÉD1TION SOCIÉTÉ DE LlBRAIRIE SPIRITE '1, RUE CHABANAIS, 1 PARIS Tous droíts reserves. 7 3- REFORMADOR, JANEIRO, 1990

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Page 1: NO CENTEN'ARIO DE OBRAS POSTUMAS...e religiosas. A síntese de todos os siste-mas filosófico-religiosos da Humanidade apresenta-se tão admirável que, ainda hoje, de-corridos mais

, ,NO CENTEN'ARIO DE "OBRAS POSTUMAS"

===============Z~US WANTUIL===============

Na Revue Spirite de 1889, nos números de15 de junho e 1~ de julho, respectivamente

às páginas 383 e 416, o gerente H. Joly comunicaaos leitores que "Oeuvres Posthumes" aparecerãobrevemente (paraítront prochainement).

Em 1~de outubro desse mesmo ano, página608 da Revue Spirite, r-----------------------,H. Joly informa que"Oeuvres Posthumes"está no prelo (souspresse).

Acontece que umaepidemia de gripe gras-sava em Paris nesse anode 89 (R. S. 1~de marçode 1890, pãg, 144), efoi esse acontecimentoque retardaria a saídanão só de "OeuvresPosthumes'", como tam-bém de outros livros,inclusive o "CompteRendu du Congrês Spiri-te et Spiritualiste Inter-national", de 1889, queestava prometido paraaquele ano e só foi lan-çado em abril de 1890.

Na Revue Spirite deabril de 1890, em extra-to do Catálogo apensa-do a esse número, apa-receu, afinal, sob o títu-lo Ouvrages nouvelle-ment parus (Obras re-centemente surgidas),as "Oeuvres Posthu-mel' de Allan Kardec,ao preço de 3ft.50. Talinformação foi repetida,algumas vezes, no mes-mo ano de 1890.

Não sabemos, por falta de melhores esclareci-mentos, se "Obras Póstumas" saiu realmente emabril ou em maio de 1890. Leymarie, na R. S.de 1~ de agosto de 1890, ao comentar um artigopublicado em "Le Parisien'", diz em nota de roda-pé, na pág. 378:

HISTÓRICO

(1) "Ueuvres Posthumes", 6~ volume deAllan Kardec que acaba de aparecer (quevient de paraítre), 3ft.50, com portefranco; 3ft., com porte franco, para osassinantes da Revue, assim como os cin-co volumes precedentes.

Seja nesse ou na-quele mês, a 1: edi-ção francesa saiu mesmoem 1890, muito emboranão haja no frontíspícionenhuma data que assi-nale o lançamento.

A segunda ediçãofrancesa, in-Iô., apare-ceu também em 1890,conforme consta no Ca-talogue Général des li-vres imprimés de Ia Bi-bliothêque Nationale,Paris, tomo II (1899),coluna 324, edição estaigualmente editorada,como a primeira, sob osauspícios da Société deLibrairie Spirite,

Tão-só em 1~de agos-to de 1890 "Refor-mador" comunicaria ha-ver recebido de Pariso "Compte Rendu" e as"Oeuvres Posthumes";Tanto interesse desper-tou esta última obra en-tre os estudiosos, que oDr. Adolfo Bezerra deMenezes, então Vice--Presidente da Federa-ção Espírita Brasilei-ra, tomou a si a tarefa

L- ---I de traduzi-Ia em verná-culo, sob o pseudônimo Max, para ser pu-blicada em fascículos, conforme informou o "Re-formador" de 1~ de outubro de 1890. O pri-meiro fascículo saiu, afinal, em janeiro de1891 ("Reformador" de 15/111891), sendo asua edição feita por conta do Centro da União

r11faut propager Ia Morale

ct Ia Véríté ,

PREMlimE ÉD1TION

SOCIÉTÉ DE LlBRAIRIE SPIRITE

'1, RUE CHABANAIS, 1

PARIS

Tous droíts reserves.

73 - REFORMADOR, JANEIRO, 1990

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Espírita do Brasil, que fora instalado na FEB,em 21 de abril de 1889, pelo Dr, Bezerra deMenezes, seu primeiro Presidente.

Sob a forma de livro, somente em 1892 aTipografia Moreira Maximino & C., do Rio deJaneiro, imprimia, in-Sj , as "Obras Póstumas",traduzidas da primeira edição francesa por Max;

Em 1900, revisada e em nova composição,era dada a público no Rio de Janeiro, pela Livra-ria Psychica, a "2: edição em idioma português"da tradução de Max, cujo nome, entretanto, nãoconstou na página de rosto, aí figurando apenas:Traduzidas do original francês pela FederaçãoEspírita Brasileira. Esta edição (não sabemos setoda ela) tem duas ótimas ilustrações coladas noprimeiro caderno de 16 páginas, ambas impres-sas em Paris: a de Kardec e respectiva assinatu-ra, que há muitos anos tem saído no frontispí-cio de "Reformador", e a do dólmen de AllanKardec.

Mais tarde, o Dr. L. O. Guillon Ribeirorealizou uma nova tradução de "Obras Póstu-mas", num português castiço e escorreito, pas-sando a ser adotada pela Federação Espírita Bra-sileira, até os dias de hoje.

CONTEÚDO

((ObraS Póstumas", toda ela organizada porPierre-Gaêtan Leymarie, contém, no prin-

cípio, uma Biografia de Allan Kardec, reprodu-zida da Revue Spirite de maio de 1869, seguidado Discurso pronunciado por Camille Flammarionjunto ao túmulo do mestre lionês,

Na Primeira Parte agrupam-se vários escritosinéditos de Allan Kardec, dos quais não se sabequal o melhor e mais eloqüente, sobressaindo-se,a nosso ver, As cinco alternativas da Humanidadee Os desertores,

A Segunda Parte é constituída de extratosdo "Livro das previsões concernentes ao Espiri-tismo", ou, mais correto, "Livro das previsõese revelações concernentes ao Espiritismo" , comoera o título original do manuscrito composto porAllan Kardec, que tencionava dar-lhe publicida-de, se não fora colhido por morte súbita, em1869. Este apontamento está na Revue Spiritede 15 de março de 1887, e neste mesmo númeroé dada a informação de que as notas que formaramo "Livro" estavam guardadas no cofre da "Socie-dade Anônima do Espiritismo" desde 1873, anoem gue a viúva Allan Kardec as entregou à referi-da sociedade parisiense, juntamente com a corres-pondência kardequiana e outros manuscritos espí-ritas considerados importantes.

Ainda na Segunda Parte, a obra apresentacurioso e instrutivo histórico da vida missionáriade Allan Kardec como o Codificador por excelên-cia, vindo a seguir o Projeto - 1868 e a tãocomentada Constituição do Espiritismo, a derra-deira elaboração do mestre, documento que rece-beu de Francisco Thiesen, no volume Ill deALLAN KARDEC (Pesquisa Bibliográfica eEnsaios de Interpretação), páginas 105 a 107,interessantes quão significativos esclarecimen-tos.

Após o preâmbulo do Credo Espírita, Kardecformulara o título do capítulo que se seguiria:Princípios fundamentais da Doutrina Espírita,reconhecidos como verdades inconcussas; Foinesse ponto que "a morte corpórea o deteve",como escreveu P.-G. Leymarie, Cremos que, navisão maior do Espírito da Verdade, não era opor-tuno nem conveniente que o mestre assentasseverdades definitivas, e o próprio Leymarie deua entender isto nas últimas páginas da obra queorganizou.

A MELHOR COMEMORAÇÃO

Neste ano de 1990, celebra-se um século deexistência de "Obras Póstumas" , cujas pági-

nas não perderam o sabor da atualidade, repletasde imorredouros ensinamentos. Como bem assi-nalou Francisco Thiesen (*),

"as idéias de Allan Kardec, contidas em'Obras Póstumas', foram quase todas apro-veitadas, e os seus planos e aspirações, comas modificações aconselhadas pelas trans-formações naturais do mundo, pela evolu-ção do Espiritismo e pela mentalidade espí-rita estruturada neste primeiro século devivência doutrinária - com as experiênciasque comprovaram teorias e infirmaram con-ceitos, como é compreensível no âmbito doshumanos planejamentos e realizações -passariam, uns, a integrar o programa daFEB, enquanto outros, nas ocasiões oportu-nas, iriam sendo analisados para adequadoe progressivo aproveitamento".

No Centenário de "Obras Póstumas" nãohá melhor comemoração do que estudar e reestu-dar cada página desse precioso repositório deensinamentos, do qual sempre emergirão novose até então desconhecidos horizontes de esclare-cimento doutrinário e de orientação para o Movi-mento Espírita. •

(.) "O Pacto Áureo" origem e objetivo", de FranciscoThiesen, in "Reformador' de outubro de 1974, pãg, 308.

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AS ~~OBRAS,

POSTUMAS"DE

ALLAN KARDECJUVANIR BoRGES DE SOUZA

Neste ano de 1990 completa-se o centenário da 1~ediçãode "Obras Póstumas", de Allan Kardec, o livro organi-

zado por P.-G. Leymarie com escritos inéditos do Codifi-cador da Doutrina Espírita sobre variados assuntos.

Não há necessidade de ressaltar a importância desselivro, que se tornou complemento natural das obras básicasda Codificação.

Em muitas de suas páginas encontram os espíritas estu-diosos da Doutrina as explicações, os desdobramentos eos ensaios sobre diversos assuntos constantes docorpo dou-trinário, desenvolvidos pelo Codificador.

O pensamento de Kardec é aclarado pelo que deixouescrito e não teve tempo ou oportunidade de publicar, comoera seu propósito.

Exemplos do desenvolvimento de seu pensamento a res-peito de diversos princípios expressos na obra fundamental- "O Livro dos Espíritos" - oferece Kardec em seus escri-tos inéditos, a respeito de Deus, da alma, da criação edo caráter e conseqüências religiosas das manifestações dosEspíritos.

A leitura atenta dos dois primeiros capítulos da Primei-ra Parte da obra, intitulados Profissão de fé espírita racioci-nada e Caráter e conseqüências religiosas das manifestaçõesdos Espíritos mostra, com segurança, como entendia o Codi-ficador o caráter religioso do Espiritismo, escoimado doprejuízo das superstições e dos dogmas impróprios, funda-mentado especialmente nas realidades e nos "fatos que aCiência comprova de modo peremptório".

os que negam as conseqüên-cias religiosas do Espiritis-

mo, por desconhecimento de

causa ou por má interpretaçãoda Doutrina, deveriam meditar,dentre muitas afirmações de

Kardec, no que ele diz à página44 da 23: ed, FEB de "ObrasPóstumas":

"O Espiritismo, que se funda noconhecimento de leis até agoraIncompreendldas, não vem des-truir os fatos religiosos, porémsancioná-los, dando-lhes umaexplicação racional. Vem destruirapenas as falsas conseqüênciasque deles· fora m deduzldas, emvirtude da Ignorância daquelasleis, ou de as terem Interpretadoerradamente." (Destaque nosso.)

A creditamos, ao registrar ocentenário de "Obras Pós-

tumas", que a melhor homena-gem que poderíamos prestar aoinsigne Codificador seria re-lembrar seu pensamento ex-presso em toda a obra. Entre-tanto, na impossibilidade de fa-zê-lo em toda a extensão, pelavariedade dos assuntos por eleabordados e pela escassez deespaço de um simples artigo,vamos recordar uma de suas be-las sínteses, a que versa sobreas alternativas da Humanidadeem matéria religiosa e filosófi-ca. (Pãg, 193 da citada edição.)

Quando Kardec escreveu es-sa página já havia praticamenteconcluído toda a Codificação.

É o que se deduz da NOTA,parte integrante do trabalho, naqual, ao tratar da doutrina ma-terialista, esclarece que se valede "algumas passagens de umartigo que publicamos sobre omaterialismo, na Revista deagosto de 1868".

Ora, em agosto de 1868 jáhavia sido publicada "A Gêne-se" , o último livro da Codifica-

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ção, Seu pensamento sobre tu-do o que os Espíritos lhe ha-viam revelado achava-se conso-lidado, sem mais necessidadede ajustamento ou acréscimo,uma vez que todo o edifíciodoutrinário encontrava-se ter-minado, de sua parte.

Daí a importância desse tra-balho de Kardec, que conseguiasintetizar de forma magistral asalternativas que se oferecem àgeneralidade dos homens a res-peito das doutrinas filosóficase religiosas.

A síntese de todos os siste-mas filosófico-religiosos daHumanidade apresenta-se tãoadmirável que, ainda hoje, de-corridos mais de 120 anos desua proposição, permanece vá-lida, apesar do aparecimentoulterior de várias doutrinas nomundo, todas elas, porém, deri-vadas das fundamentais, apon-tadas por Kardec,

São cinco as alternativas doshomens, segundo o missionárioda Codificação Espírita, resul-tantes das doutrinas do mate-nalismo, do panteísmo, dodeísmo, do dogmatismo e doEspiritismo.

Cada uma delas acha-se resu-mida na apreciação de Kardec,que lhes aponta as conseqüên-cias, em estudo comparado, àluz dos conhecimentos de quedispõe a Humanidade.

Por imposição de espaço,sintetizaremos, tanto quantopossível, esses sistemas.

DOUTRINA MATERIALISTA

Segundo esse sistema, o ho-mem é um ser material. Sua in-teligência é uma propriedade damatéria. Nasce e morre com ocorpo físico. Não há que cogi-tar de coisa alguma, nem antes

do nascimento, nem após amorte do cOIpO.

Conseqüências: Não se cogi-ta do futuro. O homem devegozar de tudo que possa, en-quanto permanece vivo, porqueas afeições e os laços moraisdesaparecem com a morte. Ca-da um deve viver para si damelhor maneira possível. É es-tupidez qualquer sacrifício emfavor dos outros, uma vez quetambém eles desaparecerão pa-ra sempre. O bem e o mal sãomeras convenções. A lei civilé a única a ser obedecida, porconveniência de todos. Os ma-terialistas são intolerantes, ad-mitindo o deus-matéria como oser supremo a ser obedecido etodos os interesses materiaiscomo os únicos dignos de con-sideração.

Os independentes crêem emDeus, o Criador de todas ascoisas, que estabeleceu suasleis para todo o Universo, asquais funcionam por si mesmas,sem que o Criador não mais seocupe com nenhuma forma deprovidência. Assim, as criatu-ras fazem o que querem e po-dem.

Conseqüência inelutável dodeísmo independente é o des-pertar e o cultivo do orgulhoem seus seguidores, por se jul-garem senhores absolutos deseus destinos.

O deísta providencialista ad-mite não só a existência deDeus e o seu poder criador, co-mo crê na sua contínua e per-manente intervenção junto àCriação. Não admite o cultoexterior, nem se submete aodogmatismo das religiões.DOUTRINA PANTEiSTA

Esse sistema admite a exis-tência de um princípio inteli-gente, independente da maté-ria, extraído do todo universal,ao nascer o homem. Ao morrer,o princípio inteligente (alma)volta ao todo, desaparecendo aindividualidade.

Determinada corrente pan-teísta admite a conservação daindividualidade, por tempo in-definido, somente voltando àmassa universal após ter chega-do à perfeição.

Conseqüências: Sem o prin-cípio da individualidade, sejanum ou noutro caso, desapa-rece a consciência de cada sere, por conseguinte, a respon-sabilidade.

DOUTRINA DEÍSTA

Há duas categorias de deís-tas: os independentes e os pro-videncialistas.

DOUTRINAS DOGMÁTICAS

Para elas a alma é criada porDeus por ocasião do nascimen-to do ser. Admitem a sobrevi-vência e a individualidade,após a morte; mas não há pro-gresso das almas, que conser-vam eternamente as qualidadesintelectuais e morais adquiridasdurante sua única existência naTerra.

Os maus são condenadoseternamente aos castigos do in-ferno. Os bons são recompen-sados com a visão de Deus ea vida no céu. A condenaçãoou absolvição, por toda a eter-nidade, ficam sujeitas a um juí-zo final, quando se dará a sepa-ração definitiva dos condena-dos e dos eleitos.

Deus cria também os anjos,ou almas privilegiadas, que nãoprecisam ser submetidas a tra-

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balhos, para chegarem à per-feição.

Conseqüências: As doutrinasdogmáticas, produtos da elabo-ração mental de diversos funda-dores de religiões, interpretan-do livros sagrados, não dão so-lução lógica a inúmeras ques-tões que sempre preocuparamo espírito humano, tais como:

a) Por que nascem os ho-mens ora bons, ora maus,uns inteligentes, outrosnéscios?

b) que sorte terão as crian-ças que morrem em tenraidade e qual o destino dosidiotas e cretinos que nãotêm plena consciência desuas ações?

c) por que as enfermidadese defeitos de nascença doser?

d) onde a justiça no trata-mento dos selvagens e dohomem civilizado, se elesnão escolheram onde nas-cer?

e) por que a criação privile-giada dos anjos, sem neces-sidade de enfrentarem asprovações rudes, em con-traste com as outras cria-turas?

DOUTRINA ESPÍRITA

Contrapondo-se às doutrinasanteriormente resumidas, comsuas contradições e dogmas im-próprios, a Doutrina dos Espíri-tos responde a todas as indaga-ções formuladas e apresenta so-luções às aparentes injustiçasda Criação. Parte ela da exis-tência de Deus, "a inteligênciasuprema, causa primária de to-das as coisas".

o princípio inteligente (Es-pírito) independe da matéria(resposta ao materialismo).

A alma é individual, preexis-te e sobrevive ao corpo. Todasas almas criadas partem de umamesma origem, todas simples eignorantes, mas submetidas aoprogresso contínuo. Portanto,não existem privilégios, sendoos anjos seres que chegaram àperfeição depois de escalar to-das as etapas da evolução. To-das as almas gozam de liberda-de na escolha de seus cami-nhos' em incessante evolução.

A vida corpórea nos mundosmateriais é uma fase transitóriapara o Espírito. A vida normalé a espiritual, livre do envoltõ-rio material. O progresso se dátanto no estado corpóreo quan-to no estado livre do Espírito.

A existência do Espírito nocorpo físico acontece tantas ve-zes quantas necessárias paraatingir superior estágio evoluti-vo. Quando atingido, nummundo, o máximo de evoluçãopossível, deixa-o para passar aoutro mundo mais adiantado.

A felicidade ou infelicidaderelativas dependem do progres-so moral e intelectual. Todomal praticado redunda em auto-punição, mas há sempre, paratodos, a possibilidade de reabi-litação. Portanto, não há puni-ção eterna.

As almas dos cretinos e idio-tas são da mesma natureza dasdos outros encarnados, apenascerceadas pelas deficiências doorganismo, pelos abusos da in-teligência em vidas pregressas.

As crianças que morrem cedopodem ser Espíritos com largaexperiência adquirida em vidasanteriores. A morte prematurapode ser complemento de pro-va, não as eximindo de futuras

expiações de suas responsabili-dades.

*,E evidente que Allan Kardec,

ao caracterizar as cinco al-ternativas doutrinárias acimaresumidas, teve em vista focali-zar os pontos capitais de taisdoutrinas, sem a pretensão deesgotar-lhes todos os caracte-rísticos. Procurou salientar es-pecialmente os pontos que têmsido objeto de cogitações filo-sóficas e religiosas, em todosos tempos, e que o Espiritismoveio aclarar.

No tocante à Doutrina Espí-rita, muito vasta e abrangente,procurou mostrar apenas osprincípios revelados pelos Espí-ritos que lançam nova luz sobreproblemas cruciais de toda aHumanidade. •

A SUA REVISTA

Solicitamos aos nos-sos prezados Assinan-tes, bem como a todosos Sócios da FederaçãoEspírita Brasileira, agentileza de comunica-rem à Gerência destaRevista, sempre quandose verificar qualqueralteração em seus ende-reços, para que não dei-xem de receber seusexemplares em virtudede extravio ou devolu-ção pela Agência dosCorreios.

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