mutante 14
DESCRIPTION
Com Oscar Niemeyer, Sergi Arola, Alexandre Farto, Festival InShadow, Villa Extramuros, Boca do Lobo, Monserrate, Rui Lúcio Carvalho e Maria Pratas.TRANSCRIPT
14/inverno
/dezembro 2012/janeiro 2013
oscar niemeyer
RSergi Arola
Alexandre FartoFestival InShadowVilla Extramuros
Boca do Lobo•••
/art
/InVErnoHibernum, latim. Inverno,
português. Frio, é frio. Pluvia, latim. Chuva, português. Lareira,é lareira. Nix, latim. Neve,
português. Chocolate, é chocolate. Frio, uma lareira e um chocolate
quente: inverno.Está dito!
move•••
Grønn Vinter, Hvit VinterCobertor de papa
A poética colina de Sintra
/06unique
•••Eric Kayser
Vigilius Mountain ResortVicara
Baume & MercierBaguera
/24
today•••
InShadow
/78
art•••
Oscar NiemeyerAlexandre Farto aka VHILS
/40trendy
•••Boca do Lobo
/32
new•••
Sergi Arola
/68
experience•••
Villa Extramuros
/86
13/inverno
/dezembro 2012/janeiro 2013
editorial
No início é o inverno. O inverno verde.
O inverno branco. Numa Noruega alva,
tão longe daqui. E longe vão os tempos
em que os cobertores de papa aqueciam
na mais gélida estação do ano…
De um outro passado, mais distante,
ressurge Monserrate, numa Sintra poética.
Final da história? Somos apanhados
na Boca do Lobo. Era uma vez… Era uma
vez um arquiteto concreto, de traço
excecional, amante da curva, dotada
de uma beleza singular. O seu nome?
Oscar Niemeyer. Agora, outros rostos
ficam cravados nas paredes despidas
pela arte às avessas de um artista às
avessas. Da arte urbana passamos à arte
de cozinhar, no Arola, de Sergi, com muito
salero. Pairamos sob as artes no palco
com a Vo’Arte e, no fim, o ócio. Num lugar
onde a intemporalidade do tempo convive
bem com a arte de uma vida. A voltar!
fotografia da capa oscar niemeyer: o arquiteto, o traço e a curva para a sede da nações unidas. trio perfeito em nova iorque.crédito un photo / 18 april 1947 / new york, usa. architectural planning of united nations permanent headquarters.
/diretorJoão Pedro Rato
/editorasPatrícia Serrado
Sara Quaresma Capitão
/diretor de arteJoão Pedro Rato
/direção [email protected]
/colaboradores nesta ediçãoRui Lúcio Carvalho
Maria Pratas
/ilustraçãoSara Quaresma Capitão
/redaçãorua Manuela Porto 4, 3º esq.
1500-422 [email protected]
www.mutante.ptwww.mutantemagazine.blogspot.pt
www.facebook/MutanteMag
Mutante é uma marca registada.
move6
/noruega
*Grønn vinter, Hvit vinterfotografia e teXto rui lúcio carvalHo
*inverno verde, inverno branco
move 7
No norte da Noruega, dizem os locais, que só existemduas estações no ano: o Inverno Verde e o Inverno Branco.As temperaturas baixas são a norma, mudam os tons. A intensidadeda luz varia muito, naturalmente, mas se reduzirmos a coisa ao mínino denominador comum não falta à verdade. Na maioria dos casosde Maio a Outubro manda o verde e o resto do ano o branco.
move8
Tudo se deixa tingir pela brancura dos flocos de chuva congeladaque abundantemente caiamno cenário. Súbito, frio, exótico. Camada sobre camada geram-se outras volumetrias, invertem-se os caminhos, pintam-se as memórias de branco pálido, branco escuro.
Lembro-me dos Verões quentes.
Dos Verões longos e brandos da infância.
De acordar a meio das tardes cálidas, que
ligavam os dias, e de imaginar que sempre
assim seriam uns seguindo os outros.
Aqui o Verão é verde, e não é o Verão
desse rapaz. Verde arrefecido, verde
insípido. Mas também verde iluminando,
tocado o dia inteiro pelo mesmo “sol
candeeiro”, brilhante aqui e ali e nebuloso
vezes demais. Magnífico quase sempre,
ainda assim. Os olhos e a membrana
que o fitam são os mesmos, agora
maduros, mas as fronteiras mudaram.
move 9
Mudamos e voltaremos a mudar.Vale a pena mudar,tenho [quase] a certeza.Mudamos por nós e pelos outros, mas não mudamos os outros.A sombra é a metamorfosedas formas, o reflexo da mudança.
Não escolhi viver no norte da Noruega.
Foi ela que me escolheu. As circuns-
tâncias decidem, definem-nos.
Vergamo-nos, mais ou menos, con-
forme a matéria de que somos feitos,
quebramos muitas vezes e voltamos
a partir se for necessário.
Mas nem tudo o que se faz em pedaços
é lixo. Cedo aprendi a respigar a seara
que sou e construi dos restos a criatura
que habito. Restos que servem outras
vidas, outros ponto de partida.
move10
O inverno branco é um inverno reduzido
e imaginado à medida da transformação
entre o que é e o que pode ser. Entre a
origem e a percepção da origem. Segundo
Platão “A imaginação é a terceira potência
da alma, depois da razão e da vontade.”
Imaginei o Inverno que aí vinha e depois
de o ver olhei novamente e vi outro
que tinha passado. O inverno que
nos rodeia não é o que será no fim
de fazermos contas.
É mais um inverno que passará.
Desde pequenos que sabemosque se misturamos amareloe azul fazemos verde.Como se fosse assim, simples.O verde existe antesde percebermos que uma espéciede alquimia o pode produzir.O verde é ouro, é transformação,é a acção da luz. É a vida novaou a recriação da mesma.
move 11
Na verdade é abusivo chamarem-lhe
Inverno Branco. Basta olhar, outra vez,
depois da primeira impressão. Forma-se
o todo pelas partes. O inverno branco é
iluminado a halogéneo. Amarelado.
É frio e negro e ilumina-se e “desilu-
mina-se” lentamente. É também laranja,
magenta, azul. É na mistura das cores
que se forma o descolorado branco que
nos deixa indiferente e que, ainda assim,
nos faz olhar surpresos. Mas é ao branco
que voltamos e é dele que falamos.
É envolvente e imenso, impositivo
aos sentido. É sempre inverno aqui.
Se só existem duas estações no ano,
queria chamar-lhes Inverno Luz
e Inverno Iluminado. d
move12
Tempo de frio. Na rua cheira a lareira que queima a lenha apanhada na serra durante o verão.Ao final do dia, agora noite, corremos para casa, arrastando agasalhos que trazemos no corpo e que parecem não ser suficientes. Cruzamo-nos com o pastor, com o cão e com as ovelhas churras, poucas e em vias de extinção, que servem para dar leite, porque a lã já quase ninguém a quer. As ovelhas, no inverno, não se importam de deixar a serra e ficar nas terras baixas e nós não nos importamos de vir até às terras altas, as da Serra da Estrela. Acabamos juntos o resto do caminho até casa. O gado fica na loja e nós, subimos ao andar da casa onde escolhemos ficar uns dias, em Maçaínhas, perto da Guarda.
made in portugaltExtO maria Pratasfotografia a vida PortuGuesa
cobertor de PaPa
move 13
move14
Homem de muita idade, sentado no
tear dedica-se, durante o verão, à
tecelagem das mantas que se venderão
durante o ano. Não o conhecemos, mas
reconhecemos que das suas mãos sai arte
em lã. A tecelagem destes cobertores é
um processo complicado, as máquinas
parecem geringonças, mas é uma arte.
Regista-se que a sua produção começou
com D. Sancho II e que no princípio do
século xx havia uns dez teares; nos anos
40 chegaram a ser mais de 30, só em
Maçainhas. Eram o sustento da família e,
por isso, toda a aldeia fazia cobertores de
papa quentes, densos e felpudos.
O seu fabrico passa por diversas fases:
a lã é comprada aos pastores locais,
é enviada para a fiação e só depois
entra na fábrica já transformada em
fio. É tecida num grande tear manual
de madeira e depois segue para o
pisão [máquina onde se aperta e pisa
o tecido de lã, para o tornar mais
macio e apertado, dando-lhe também
“Se a lã protege as ovelhas, também nos
protege o corpo” e o “que nos guarda do
frio, guarda-nos do calor”... e assim é.
Aqui é a lã que cobre a cama. Sobre
lençóis está um cobertor de papa. Que
por aqui não se usam os edredons
enquanto houver tosquia churra.
Na casa da minha avó havia um cobertor
de papa. Dizia ela que “de noite o calor
tinha peso”. Eu acho que o peso era para
eu não me levantar até de manhã...
E assim foi.
O cobertor de papa é também conhecido
por manta lobeira ou cobertor de pêlo,
por ser tecido com fio de lã churra de
ovelha, uma lã grossa, mas macia.
É produzido na Fabrica de Cobertores,
fundada em 1966, por José Freire.
Fica à beira da estrada, a caminho de
Maçainhas, num edifício velho e é hoje
a última no país a fabricá-lo de forma
artesanal. O último tecelão de cobertores
de papa é o Sr. Manuel Gonçalves.
Hoje a produção “não tem significado”, diz o Sr. José Freire, “Temo-los
por ter. Vão-se vendendo. Tenho sempre alguma coisa em stock,
tenho-os prontos e, depois, vão-se vendendo. Noutros tempos, eram
muito conhecidos e vendiam-se muito, mas agora não”, contou.
move 15
mais consistência e compactagem]
para lavar e feltrar, depois vai à carda
[pente com dentes compridos e que
serve para desembaraçar] para puxar
o pêlo. De seguida, os cobertores são
cortados e vão à râmbula [peça em
ferro onde se prendem para ficarem
esticados, secarem e ficarem com uma
determinada medida]. A sua produção
é realizada nos meses mais quentes, a
água fria do inverno é insuportável e os
cobertores devem secar com bom tempo
para garantir que a lã fique bem seca e
ficarem mais direitos.
Um cobertor de papa pesa aproxima-
damente três quilos e tem as dimensões
2,40 m de comprimento e 1,70 m de
largura. Distinge-se pelo pêlo comprido,
pode ter uma só cor branco, a cor
“barrenta” (branco e castanho) ou pode
ter riscas de cor azul, verde e vermelho
(destinado ao norte do país) ou fabricado
com riscas de cor castanho, amarelo, verde
e vermelho (mais típico do Ribatejo).
Por último, o cobertor é embalado e leva
a etiqueta Freilã – cobertores e mantas
de papa. 100% pura lã virgem. Produzido
por têxteis Jofrel (de José Pires Freire).
Nós voltámos para a casa com um
cobertor de papa de riscas e novo, para
juntar ao que era da minha avó, branco,
mas velho, porque duram uma vida. Ou
duas. Ou mais. d
R fábrica de cobertores
josé pires freire
maçaínhas
/tel: 271 212 678
R a Vida portuguesa
rua anchieta 11
1200-023 chiado, lisboa
/tel: +351 213 465 073
rua galeria de paris 20 - 1º
4050-162 clérigos, porto
/tel: + 351 222 022 105
move16
/monserrate
a Poética colina de sintra
move 17
/monserrate
a Poética colina de sintrateXto Patrícia serrado ilustração sara quaresma caPitão
move18
Durante a ocupação árabe,um cavaleiro moçárabe perece num duelo com o alcaídedo Castelo dos Mouros,tornando-se um mártir paraos cristãos, que o sepultamnuma colina. O lugar onde,mais tarde, após a reconquista cristã de Sintra pelo rei D. Afonso Henriques, é erigida uma ermida dedicada a Nossa Senhora… … assim reza a lenda.
Assim reza a lenda… … da então Quinta da Bela Vista,de pomares e hortas, pertencente ao Hospital de Todos os Santos, sobressai um nome, Frei Gaspar Preto que, depois da peregrinação ao Eremitério Beneditinode Montserrat, na Catalunha, manda edificar uma capelaem cumprimento de voto a Nossa Senhora de Monserrate no lugar onde, outrora, fora enterradoo cavaleiro moçarabe.
move 19
move20
move 21
Por caminhos sinuosos, somos
conduzidos ao passado. À história de
um paraíso a céu aberto envolvido em
enredos rematados por um sublime
jardim botânico pincelado pelo verde
predominante das espécies de árvores
vindas de todos os cantos do mundo.
Um segredo bem guardado no coração
da serra de Sintra, ornamentado pelo
romantismo eclético da época. Delicado
e dedicado aos sentimentos e criado por
cenários contrastantes desvendados
a cada passo…
Passamos o arco de Vathek. A entrada
dos homens de William Beckford,
nome que remete para a história de
Monserrate. Aforado e, posteriormente,
reunido aos pertences da família
de D. Caetano de Mello e Castro,
comendador de Cristo e vice-rei da Índia,
este lugar edénico, dono de uma vista
infinita sob o céu e sobre o mar, incorre
na tormenta do terramoto de 1755. Sobre
as ruínas da antiga capela e moradias,
o britânico Gerard DeVisme torna-se
arrendatário e ergue o primeiro palácio
de Monserrate, classificado com estilo
neogótico.
O barulho de fundo entra em fusão com
o cenário bucólico do bosque. A subtil
queda de água da cascata Beckford,
acolhida no pequeno lago em forma
de ferradura, é protegida por dois
pinheiros, símbolo da entrada da
natureza na Quinta de Monserrate.
A decoração variegada dissimula
pequenos recantos do mundo – desde
o tulipeiro da Virgínia, ao carvalho
americano, do azevinho à costela
de Adão, do medronheiro à aucuba
japónica. Sobre este arbusto, reza a lenda
que o salpicado amarelado das folhas
advém do ouro entornado pelos duendes
que por ali viviam…
O poeta romântico inglês Lord Byron imortaliza o paraíso na terrano poema “Childe Harold’s Pilgrimage”. A ode perfeita ao belo e à botânicade forte inspiração inglesa, numa colina na serra de Sintra revestida por um majestoso cenário bucólico, e à excelência de um palácio de traço neogótico único no mundo! Assim dá as boas vindas a Quinta de Monserrate.
move22
O passeio prossegue pelo encantado vale
dos fetos da Austrália e da Nova Zelândia.
Entre a cascata e a capela – reerguida,
cerca de 20 anos antes, pelo britânico
Gerard DeVisme –, convertida em ruínas
pelo milionário inglês Francis Cook
e estrangulada pelas imensas raízes
aéreas de uma figueira australiana,
espera-nos o quadro de um recanto
enigmático decorado, outrora, com três
sarcófagos etruscos – peças únicas
em Portugal –, digno de um conto com
personagens sombrias, numa alusão
primorosa ao imaginário romântico
do século xIx.
Da vetusta nação inglesa chega
o escritor e crítico de arte William
Beckford, impulsionador da criação
de num exuberante jardim envolto
pela atmosfera romântica da paisagem
misteriosa e luxuriante de Sintra.
“O primeiro e mais lindo lugar deste
reino”. Palavras redigidas na carta
de Lord Byron, datada de 16 de junho
de 1809. Vocábulos confinados pela
realidade do sublime e do imaginário
romântico de Sir Francis Cook.
Da paisagem circundante, brota
o domínio da natureza sobre o Homem.
Um majestoso jardim com ambientes
inspirados nos distintos recantos da terra
– jardim do México e jardim do Japão
– e um relvado infinito decorado pelo
exotismo das árvores que nos levam
à entrada do Palácio de Monserrate.
move 23
R www.parquesdesintra.pt
Do palácio, a reconstrução traça uma
mescla de estilos, entre o gótico,
o indiano e o mourisco. Um exímio
trabalho do arquiteto James t. Knowles.
Das paredes trabalhadas em estuque
florescem padrões ora com folhagens,
ora com animais, ora figuras de
alabastro. A forma converge num cenário
simétrico na galeria adornada por uma
sucessão magistral de arcos e colunas
em mármore rosa.
Entramos na biblioteca, com paredes
forradas a estantes de nogueira.
A presença de um quadro com Sir Herbert
Cook, neto de Francis Cook, e a sua
mulher exaltam o respeito.
A capela, a sala de jantar e a sala
de bilhar dominam o piso inferior,
em consonância com a sala de estar
indiana. Chegamos à sala de música
do Palácio de Monserrate, decorada com
um teto em estuque de uma beleza ímpar
e dotada de uma excelente acústica,
motivo para a realização de recitais
de música erudita em Sintra.
Descemos à cozinha. A divisão
recuperada com graciosidade sem
que os nossos olhos se afastassem
do enorme fogão nem dos objetos
tantas vezes usados para preparar desde
pequenos repastos a grandes banquetes,
recebidos em festas, sempre agraciadas
pela música e pelas conversas abafadas
por gargalhadas, que ecoavam sob
a cúpula do átrio principal, com uma
estrutura em madeira decorada com
estuque, onde predominam os painéis
de alabastro, de inspiração indiana.
Da escadaria, em mármore ornamentada
por um padrão em folhas de hera, é feito
o acesso ao piso superior, reservado
ao eterno repouso dos aposentos
da família Francis Cook. d
Acendemos a lareira. A manta aconchega-nos. A música
serena os gestos, as palavras, os risos… Ao serão. Quente,
apetecível. Há muito desejável. tomamos um chá, para
acalentar a alma, acompanhado por uma fatia
de bolo rei, numa profunda alusão à quadra festiva
e à tradição dos nossos avós. Com a assinatura
da Eric Kayser. Um sabor especial e tentador!
/eric Kayser
com sabor a natal
R www.maison-kayser.com
25
26 unique
Não há carros, não há estradas, não há
ruído urbano. Há o tirol Sul, em Lana, Itália.
Matteo Thun, arquiteto, criou na montanha
o abrigo perfeito para os amantes da
natureza, o Vigilius Mountain Resort.
Fora, um projeto onde a arquitetura
eco-friendly, da matéria aos recursos,
é uma só unidade com a natureza: a
/Vigilius mountain resort
desiGn da montanHa
madeira liga os volumes à envolvente,
o vidro torna o interior permeável ao
exterior, a cobertura plana ajardinada
enquadra as formas e aquece o interior.
Dentro, a arquitetura de gramática
minimal e acabamentos depurados
alberga um design na continuidade do
projeto arquitetónico, contemporâneo
unique
com linhas direitas, predomínio
da madeira, texturas suaves e tons
grená para aquecer a alma. A 1500 m de
altitude, além do spa e ao lado do volume
de linhas puras, uma típica construção do
tirol, eximiamente recuperada - Stadel,
alberga o Restaurant 1500 para
se deliciar com sabores exquisite.
Se o seu paraíso é no isolamento
arrebatador da montanha, coberto ou
não de neve, aconchegado pelo conforto
do design, protegido por projetos de
excelência e num ambiente de turismo
sustentável, Vigilius Mountain Resort é o
seu espaço, é o seu destino... Até lá!
R www.vigilius.it
28 unique
A casa sobre o areal em pano de fundo.
O mesmo manto de areia abraçado pelo
imenso Atlântico, numa serenidade
intemporal recriada pelo romântismo.
Seaside Living in the Hamptons.
Assim é o universo da Baume & Mercier,
demarcado pelos valores genuínos
de partilha, de autenticidade e elegância
descontraída, pelos laços familiares e pela
tradição. Valores enraizados na maison
/baume & merciera desfrutar cada momento
d’holorgerie de Génebra, porque “a vida
é feita de momentos”. Porque é agraciada
por momentos únicos, por celebrações
sempre tão especiais, presenteadas
pela qualidade, pela autenticidade, pela
delicadeza de cada relógio no feminino
para desfrutar numa constante, sem fim…
R www.baume-et-mercier.com
29unique
100% natural, ecológico, sustentável,
nosso: cortiça. A cortiça ganha,
pela mãos de tiago Sá Costa, para a
portuguesa Vicara, formas inusitadas,
numa combinação entre a matemática
estudada, premeditada e o desenho
aleatório, livre. tiago cria, para a série
Corkmatters, um candeeiro e uma
cesta. O primeiro, de nome Lugh, é
um candeeiro que não é só luz, mas é
sombra em simultâneo, é uma ondulação
suave de luz e sombras, conseguida
pelo desenho que a cortiça, flexível,
permite. O segundo, baptizado de
CorkyBowl, é uma cesta para o pão ou
frutos secos, é uma cesta original, de
múltiplas funcionalidades, que revela
as potencialidades de uma matéria
tão plástica, com recurso a fabricos
inovadores. Vicara é, com toda a certeza,
design para se estar atento e se seguir,
com uma identidade muito própria.
/Vicaracause cork+matters!
R www.vicara.org
unique30
/baguera
black & bicolor b.W.
O corte clássico, de uso reservado
para as pedras preciosas, é explorado
em acrílico. O padrão geométrico
é hipnotizante. Surte um efeito cativante
convertido pelo design e pela criatividade
rigorosos em convergência depurada
pelo belo e pela elegância.
Assim é Vectory Black & Bicolor B.W..
A coleção da Baguera para o outono
/ inverno de 2012. A marca de cunho
português, fundada em 2011, adornada
por jóias e acessórios criados por
Branca Cuvier.
Por quê Black? Porque o preto
é eternidade, é sedução, é um clássico.
A ausência de cor em superficie
acrílica, onde todos os raios de luz são
absorvidos. Razões de sobra para que
VECtORY Black seja um must na dupla
formada pelas últimas estações do ano
que está prestes a findar.
Agora juntemos-lhe o branco. O oposto,
o contraste, o refletor. A combinação
de cores que retoma o início da essência
Bicolor B.W.. O preto e o branco
em profunda sintonia numa mescla de
antónimos da paleta das cores – ou não
cores… Para o dia a dia mais exigente.
Para as ocasiões que personificam
o universo feminino adornados
por acessórios que primam pela
singularidade e a mestria do handmade.
R www.baguera.eu
unique
trendy32
diamond / edição limitada colecção
1
trendy 33
/boca do lobo
d’um lobo com atitude!teXto sara quaresma caPitão e marco costa fotografia sofia silva
trendy34
Caímos na BOCA do LOBO, foi o que aconteceu. Não tivemos medo.Temos sim uma história para contar, que o medo vos vai tirar! Era uma vez, no Porto, em tempos não muito idos um Lobo que tinha fome de design produzido por sábias mãos, aprimorados saberes, ousada imaginação.O Lobo do Porto, tal como nas histórias de encantar, não é monótonoou depurado é sim rico, ornamentado e sofisticado. Tem histórias com nomes em inglês pois é lá fora que ele conta muito “era uma vez...”.
No mundo das histórias, as formas de
geometria matemática são elemento
presente: escadas helicoidais para a alta
torre! Na Boca do Lobo os planos são
trabalhados de forma tão surpreendente
que chegam a parecer elementares,
mas nada é simples. Deverá ser, o Lobo,
formalmente complexo?
Complexo a vários níveis. Liga
claramente à aparência, gosta de dar nas
vistas e adora ser tema de conversa.
Um Lobo com atitude, portanto…
tem atenção aos detalhes, à postura
e tem muito cuidado com a forma como
se apresenta. Mas não se trata só de
imagem! A fórmula aparentemente
simples é complexa e por mais que
outros a tentem usar e resolver, existem
muitas variáveis a fazer a diferença.
O Lobo é genuíno, claro, positivo
e ambicioso. É alguém que procura ser
formado e informado. Adora saber mais e
mais sobre o passado para olhar o futuro.
pixel / colecção edição limitada
2
trendy 35
trendy36
trendy 37
Um Lobo que sabe quem é, nem mais!
A Boca do Lobo, como os personagens
das histórias, defende e guia-se por
valores e pelo design, pela personalidade,
excelência, inovação e paixão. Porém
o Lobo é, também, tradição
(manufatura), memória (mão do artesão)
e história (identidade), verdade?
Quem conta um conto acrescenta um
ponto e a Boca do Lobo adora contar
contos e adora acrescentar pontos.
As histórias fazem parte da Boca do
Lobo. Seguindo a lógica da fórmula
matemática, se juntarmos ‘tradição’
(manufatura), ‘memória’ (mão do
artesão) e ‘história’ (identidade) são
os elementos que estão na base para
a criação do resultado ‘EMOtIONAL
PRODUCtS’ (parte da nossa visão),
se a estas três somarmos ‘Design’,
‘Personalidade’, ’Excelência’, ’Inovação’
e muita ‘Paixão’, então não haja dúvida
que estamos na presença da Boca do
Lobo. (…) Os objetos produzidos à luz
dos processos produtivos do passado
acrescentam história, acrescentam alma,
acrescentam identidade.
Chegamos aos cenários das histórias.
A Boca do Lobo é personagem e,
simultaneamente, criadora de cenários.
Cada peça é tão forte que quando chega
a um espaço, esse transforma-se
em algo novo. É esta a magia que
tem a Boca do Lobo, ser criadora
de ambientes singulares?
Histórias sem cenários não são
histórias, cada peça da Boca do Lobo
é uma história a contar, que pode ser
interpretada de várias formas. Cada
um idealiza o cenário para elas à sua
maneira e claro, a capacidade de
transformar um espaço é inevitável. Não
passa despercebido, é como que se as
peças tivessem vida e falassem. (…) são
realmente mágicas, tem uma presença
forte e vincada pela autenticidade e
modernismo capazes de criar ambientes
singulares.
millionaire / coleção de edição limitada
3
trendy38
Por fim, de quinas ao peito por ser uma
história portuguesa, abrem nova página
em 2013, em Nova Iorque. As histórias de
encantar estão espalhadas pelo mundo,
com pequenas variações. Assim será,
também, com o design inovador de saber
antigo, da Boca do Lobo: agarrar mundos
e espaços, criar novos cenários com o
desejo de um “felizes para sempre”. De
tudo o que ouvimos, há esta certeza de
que com pequenos passos e atitude sábia
se chegará longe, com o Lobo.
Moral da história: 100% nacional,
a Boca do Lobo agarra a memória
e veste-a com nova e trabalhada
imagem contemporânea porque
sem passado, não há futuro. Certo?
Sem passado não há futuro! d
R www.bocadolobo.com
equipa boca do lobo, na fábrica
4
marco costa (esq.) e sr. cosme (dta.), na fábrica
5
4
trendy 395
art401 2
art 41
na curva d’arquiteturateXto sara quaresma caPitão
art42
oscar niemeyer: o arquiteto, o traço e a curva para a sededa nações unidas. trio perfeito em nova iorque.crédito un photo / 18 april 1947 / new york, usa. architectural planning of united nations permanent headquarters.
1
Ajeitar a folha de papel pela enésima vez.Ignorar esse papel e começar logo no virtual, num docx ou doc.Voltar à folha de papel, concreta, como o concreto armado.E a caneta bate, nervosa, as palavras não riscam o papel.Quais as palavras acertadas?E se a emoção toldar o discurso?E se ficarem esquecidas palavras?E se para um nome tão grande sair um texto tão pequeno? Inspirar e ganhar fôlego, feito. Urge soltar a mão para riscare há que escrever o nome de quem se fala e cita:
Oscar Niemeyer.
desenho de oscar niemeyer, brasília. porque o desenho tudo explica, tudo diz do que é ser oscar niemeyer.© mutante.
2
museu de arte contemporânea, niterói. uma flor pousada sobre a guanabara, uma flor que namora o rio de janeiro.© mutante.
3
art 43
Esboçar palavras associadas ao nome:
genialidade, arte, arquitetura, único,
estrutura, mulher, curva, planalto,
desenho, excecional, imaginação, beleza,
ideia, identidade, espaço, invenção,
assinatura, singular, natureza...
Pausa. Concentrar. Escolher um foco, do
arquiteto de mil focos. E deixar ser este
um texto despretensioso e sentido de
uma arquitetura tão sentida.
Pampulha e Brasília ecoam no pensa-
mento, sempre. Niterói poisa no olhar,
eternamente. Constantine e Nova
Iorque guardados na memória, o Rio
na identidade... E a Casa de Canoas que
Gropius observando disse que não era
multiplicável.
O traço de Niemeyer não quer ser
multiplicável, é singular porque é isso a
sua arquitetura. Algo único, notável. Algo
tão seu. Sempre teve como premissa o
ser diferente, o criar surpresa e ela ser
bonita. Sim, bonita. A palavra não é das
mais eruditas do dicionário, mas existe
e é, bonita. É genuína como a arquitetura
de Niemeyer e ele diz “procuro fazer
bonito, diferente”. talvez no mundo
literário de Jorge Amado se dissesse que
arquitetura d’Oscar é moça bonita.
3
art44
sede das nações unidas, nova iorque. sede da união de dois traços, de dois saberes: niemeyer e corbusier.crédito un photo/es / united nations, new york.
4
art 45
4
art46
Moça. Nova palavra simples, cheia
de curvas, porque de curvas é feito
o seu traçar, “De curvas é feito todo
o universo. O universo curvo
de Einstein”, das curvas da mulher
“porque sem mulher não há razão
para o homem viver”. É isso, viver.
Oscar Niemeyer vive(u) o seu ofício e
preenche o espaço dos espaços com
viver. Vive(u) a liberdade porque a sua
arquitetura é forma livre, não presa pela
função. Por isso, a regrada e multiplicável
Bauhaus, das formas simplificadas
e do funcionalismo extremo, nunca foi
a sua praia. A praia de Niemeyer
é carioca, livre como o samba.
Realinhar o pensamento. Olhar o planalto
brasileiro, procurar um ponto de fuga.
Esquissar sem medos.
palácio do planalto, brasília. sem medos de fazer diferente, de fazer bonito, de ser ímpar.crédito roberto stuckert filho/pr. fonte planalto.gov.br
5
art 47
5
art48
6
art 49
Não há medos no desenho de Niemeyer
porque ele não tem medo de ter ideias,
de criar e ousar. De desafiar o ângulo reto
com a sinuosa curva, de ser arquitetura
em estado de arte. Não tem medo da
matéria que cresceu com ele, o betão,
o concreto no seu falar. Explorou a
plasticidade da matéria, experimentou-a
e deu-lhe nova arquitetura mais limpa,
plástica e vazada: com curvas. Até
nos vazios curvos do seu universo há
Niemeyer. O espaço, vazio ou cheio, é
espaço das suas atenções.
Como? O lugar dos outros? O espaço
dado à troca dos saberes? Que aulas
devem ter sido as conversas desenhadas
a várias mãos com Corbusier ou Lúcio
Costa, ou as observações trocadas com
Gropius, os chamados de Kubitschek,
as leituras meditadas que fez de Malraux
ou Baudelaire... Só assim a arquitetura
pode nascer como uma flor e ser natural.
Só assim pode ter silhuetas raras, ter
tangentes excêntricas, ser maior
e monumental, mais pequena
e inesquecível.
palácio da alvorada, brasília. quando arquitetura é música de ritmo brasileiro, carioca de ritmo niemeyer. crédito ichiro guerra/pr. fonte planalto.gov.br
6
art50
interior da catedral metropolitana de brasília, brasília. a (não) fé de niemeyer dá-nos fé numa arquitetura curva e infinita.© daderot (cc0 1.0 universal)
7
Desenhar a saída, sem querer sair,
sem querer deixar ir.
Resume-se, quase tudo, a uma mão
que nunca precisou de legenda,
a um marcador negro de tampa ausente,
a uma postura determinada e uma
convicção inveterada. Resume-se, quase
tudo, à genialidade da ideia, à capacidade
inata de ser invenção, de Niemeyer
inventor. Resume-se, quase tudo, a nova
arquitetura, a um novo ser arquiteto, a
ser ímpar e belo. Resume-se, tudo, a um
estilo Oscar e um movimento Niemeyer.
art 51
7
art52
congresso nacional, brasília. onde a curva encontroua tangente, para sempre.crédito rodolfo stuckert / câmara dos deputados, brasília. fonte camara.leg.br
8
“Se alguém vai em Brasília eu digo
‘olha você vai a Brasília você vai ver
a arquitetura de Brasília, os palácios,
você pode gostar ou não deles, mas
você não vai poder dizer que viu
antes coisa parecida’ ”.
art 53
8
art549
art 55
pormenor do mon, curitiba. o olhar de uma arquitetura vivida.crédito nani goes fonte museu oscar niemeyer
5
Poisar a caneta que já não bate, nervosa.
Não escrever as palavras esquecidas, não
corrigir nada, não dizer mais nada. todo
o texto será pequeno para o nome tão
grande. Arrumar a folha rasurada, riscada
e insignificante.
Levemente, inspirar. Olhar sem pontos
nem fugas, nem tempo marcado.
De olhos marejados deixar de vez
a emoção toldar o pensamento. Fechar
os olhos e ver melhor as curvas,
os planos, as cidades, os palácios,
as sedes, os doutos saberes,
os memoriais, os manifestos, a (não) fé,
as casas como a casa de Chico Buarque…
E saber que há Oscar Niemeyer,
sempre. d
art56
/aleXandre farto
let’s talk about vHils!teXto sara quaresma caPitão
diorama show - lisboa, by filipe rebelo 2012
1
art 57
art58
art 59
Vou nas ruas, atravesso caminhos, dou volta a quarteirões,
perco-me constantementea olhar para pormenores
de ontem, de arquiteturaspassadas e abandonadas.
Vejo vãos guarnecidos com cantaria oitocentista, tapados.
Relembro esgrafitadose tonalidades de antigamente, sinto rebocos como já não há, espreito alvenarias várias que
guardam segredos, passo a mão e... afasto-me. Paro. Afasto-me mais um pouco. A minha vulgar
arquitetura tem algo mais a dizer hoje. Mudaram-lhe
a face e deram-lhe um rosto.
tedex - aveiro, by smart bastard, 2012
2
art60
Procuro o seu nome, leio Vhils.
É ele que dá à minha arquitetura nova
leitura, escavada, nova imagem de arte
que a minha mão sentiu. Deixo o rosto,
vou para casa. Adormeço e acordo a
pensar: se eu escavasse o nome Vhils
que encontraria eu?...
Depois penso: eu construo e ele,
sem eu ver, procura deslindar, com
arte, as camadas do erigido. Pintura,
primários, rebocos, alvenarias. tudo
é quase despido, tudo é repensado e
escavado. A paredes já não são meras
paredes, a minha mão sabe disso. Será
Vhils um palimpsesto a funcionar às
avessas? E o que não é um palimpsesto
contemporâneo se não uma leitura
de memórias acumuladas. Vhils é o
esgrafitado de um estrutura chamada
Alexandre Farto.
vsp - porto, by leonor viegas, 2010
3
art
art62
Não creio que seja outra coisa.
A cabeça não pára quando sinto rostos,
leio sentidos e sentimentos, e cismo com
a intensidade criativa: será o leve martelo
pneumático que traça aquela mão forte
que embala segura, na torre das ameias,
a criança? Ou será o pesado martelo que
desenha a leve mão. Em última análise
indago se é o leve Vhils que traça, com
métodos fortes, retratos intensos?
Fico-me pela última, Vhils
é a criatividade duma ideia, os métodos
e a matéria a intensidade... E de novo,
a persistente dúvida.
Esquadrinho quem começa no comando,
quem manda em quem nos entretantos,
quem vence no fim. Há um artista
de mão firme, uma ideia magistral,
ferramentas para a ideia ser exequível
e uma “folha de papel”, a minha
parede – senhora despida de forma
surpreendente, de sua pintura e seu
reboco – e tudo se finda num novo rosto,
mensagem emotiva. Quem mandará em
quem em tão singular ato criativo.
A mão, a ideia, a ferramenta, a folha de
papel? Variável. É tudo variável com a
arquitetura, o papel ou a madeira que
sustentam a ideia. Os materiais falam,
criam e ditam o rosto final, numa dança
de variáveis inesperadas, onde afinal eu
ainda sou parte criativa, com a minha
arquitetura efémera, mutante.diorama show - lisboa, 2012
4
art 63
art64
walk n talk - são miguel - açores, edited rui soares vhils, 2012
5
art 65
art66
action in shanghai, 2012
6
art 67
Algo me sussura que não consigo evitar.
Vou ter de chamar o Gauguin para este
falar alto: De onde viemos? Quem somos?
Para onde vamos? Penso nisto quando
leio que nesta forma de arte há uma
busca determinada, metafórica, para
encontrar respostas às questões de Paul.
Somos arquitetura de cidades, feitos
de camadas. Somos efémeros mutantes
e tudo questionamos. Se as paredes
falassem creio que Vhils teria parte da
resposta. É verdade constatada que
os materiais falam e Vhils entende o seu
dialeto, sabe o que lhe dizem e o que lhes
dizer, por isso tem esta relação assumida,
firme. Um dia, se tiver coragem,
procuro-lhe a resposta...
Para já, a mão tem na memória as
paredes tateadas, o velho e o novo, o
muro sem dono, as ruas transformadas.
O velho que se torna, pela arte, em novo.
O novo que se torna, pelo método,
em velho. O muro que ganha dono, por
tempo indefinido, com rostos de cinco
letras. As ruas que são mutantes de
Vhils, num ritmo que poderá ser eterno,
acompanhado dum gesto, efémero.
Volto a sair, para avivar a memória.
Percorro a rua com a mão a tocar
na parede. tateio à espera que ela,
a mão, leia um novo Vhils, num
quarteirão da minha cidade. d
R www.alexandrefarto.com
new68
/sergi arola
como um cHefteXto Patrícia serrado fotografia joão Pedro rato
Não! Não falo sobre o filme de Daniel Cohen.Falo sim sobre o chef catalão Sergi Arola.
O chef que é cozinheiro.O cozinheiro que reinventa a cozinha, convoca
a tradição à mesa e simplifica o sabor, enquanto a criatividade permanece em banho-maria…Mas, a criatividade está à vista, dizemos nós,
e o palato não escapa à empatia do gosto,até porque gosta de fazer tudo bem feito.
Verdade? Sim! Comprovámos, na degustação dos pratos por si preparados,
por ocasião do 4.º aniversário do Arola, o enigmático restaurante
do Penha Longa Hotel Spa & Golf Resort,em Sintra.
new 69
new70
as palavras que melhor definem
o chef sergi arola.
Cúmplice. Gosto de me considerar
cúmplice. Não como chef. Não me
distingo substancialmente a nível pessoal
quando entro na cozinha. Não pretendo
distinguir-me dos outros…
não gosta que lhe chamem de chef…
tento ser o mais informal possível. Creio
que podemos funcionar com simplicidade
e não sermos distantes. Gosto de estar
próximo, tanto da minha equipa como
dos meus clientes. Por vezes, as pessoas
julgam que tenho uma atitude mais
distante, pela postura roqueira… mas
tento ser o mais leal, o mais simples,
o mais honesto possível.
Cumplicidade. Informalidade. Tradição
define-se como um criativo
e um inconformista na cozinha?
Sim, mas creio que a criatividade,
sobretudo nos últimos anos, tem sido
convertida num aspeto demasiado
sobrevalorizado da gastronomia. tem
importância, mas não mais do que outros
critérios, como a tradição, por exemplo.
a tradição é importante…
É fundamental! Creio que a criatividade
não vale tudo. É importante dar valor
ao passado. Existem dois tipos de
criatividade. A espontânea, que considero
muito interessante, é tradicional, advém
do teu trabalho. A outra, e que tem sido a
aposta dos últimos anos, é aquela a que
chamo de criatividade induzida; acontece
quando um chef decide que quer ser
criativo e a equipa dá-lhe as soluções
em tempo real, para fomentar, de forma
artificial, a sua criatividade. Ou seja, esta
não tem limite, porque tu mesmo não
tens limites e porque tens uma equipa
que supera os teus [limites].
new 71
new72
Simplicidade. Empatia. Experiência É a cozinha uma forma de expressão?
No meu caso, a minha cozinha, o Arola,
define-se como a complexidade da simpli-
cidade. Por vezes, o mais simples é muito
complicado. É preciso ter sangue frio para
tornar algo complicado em algo simples.
new
É uma tentação ou uma provocação
ao palato?
É o momento em que te manifestas
gastronomicamente. É um jogo
complexo, um jogo intelectual.
Um jogo que ganha em provocação,
um jogo que perde em capacidade
de afetos, de ternura. Há grandes
pratos de senhores muito criativos,
com muita criatividade mas, ao provar,
não possuem calor, empatia.
Quando idealiza uma ementa, os pratos
estão em harmonia entre si?
tudo tem de ter um equilíbrio. Por
exemplo, no Arola do Penha Longa [onde
nos encontramos], o cliente senta-se,
come e pensa “até quanto estarei disposto
a pagar por isto”? É preciso pormo-nos na
pele do cliente. Até agora, tem sido uma
experiência fantástica, muito gratificante!
Mas é muito difícil desenvolver uma
gastronomia interessante.
new74
Fazer bem feito. Gosto. Emoções
new 75
prefere inventar, reinventar
ou fazer bem feito?
Fazer bem feito! Podes fazer o prato que
quiseres, mas este tem de ter gosto!
Porque, ao gastares dinheiro, é preciso
que te superem as expectativas. Já não
basta dizeres que pretendes entregar-te
a uma experiência. A experiência tem
de ser mesmo boa!
esconde as emoções ou partilha-as
com os comensais?
As emoções têm de fazer parte
da experiência. A única diferença é que
a gastronomia não é uma arte e o nosso
estado de humor não pode, de forma
alguma, interferir no trabalho final.
tens, acima de tudo, de cozinhar bem!
new76
Sergi Arola confessa que não gosta
de viajar. Percorre o mundo, porque
o trabalho assim o obriga.
“Não há outro remédio…”
De Madrid a Barcelona, de Santiago
(Chile) a São Paulo (Brasil) e a Bombaim
(Índia), de Paris (França) a Verbier (Suiça),
de Hong Kong a Sintra (Portugal).
É precisamente neste lugar fascintante,
no coração da natureza da serra
de Sintra, e agraciado pela elegância
do Penha Longa Hotel Spa & Golf Resort,
que o restaurante Arola conta já com
quatro anos de vida voltados para
o green que decora a paisagem ali,
mesmo à nossa frente!
De volta à realidade, ao dia a dia
na cozinha, Sergi Arola afirma com
veemência: “Me encanta mi trabajo!”
R www.penhalonga.com
R www.sergiarola.es
new 77
today78
today 79
/inshadow
4.º festival internacional de vídeo, Performance
e tecnoloGiasteXto Pedro sena nunes e ana rita barata
fotografia joão P. duarte / vo’arte 2012
espetáculo - blackout
1
today80
InShadow,4.º Festival Internacional de Vídeo, Performance e Tecnologias, uma iniciativa da Vo’Arte em co-produção com o São Luiz Teatro Municipal, esteve de volta a Lisboa nos dias 1 a 8 de Dezembro onde apresentou o que de melhor se faz, mundialmente, em vídeo-dança e performance.
A edição de 2012 do Festival esteve
presente no teatro São Luiz, teatro
do Bairro, Módulo – Centro Difusor de
Arte, Galeria Graça Brandão, Pickpocket
Gallery, Galeria Câmara Lenta e Faculdade
de Motricidade Humana, e apresentou
uma programação forte e eclética que
mostrou os caminhos da criação artística
contemporânea e deu destaque
às linguagens do corpo e da imagem.
Incluído na programação do Ano do
Brasil em Portugal, o Festival acolheu
o Brasil como país convidado, com a
apresentação de dois espectáculos
brasileiros (pela coreógrafa Flávia
tápias); a exibição de uma retrospectiva
dos melhores vídeo-danças brasileiros e
o acolhimento do Festival Dança em Foco
(Rio de Janeiro) como Festival Convidado.
A programação deste ano deu
ainda destaque a uma componente
de formação de novos públicos,
seja com a apresentação do
espectáculo MalaSombra, pela
today 81
companhia catalã Au Ments - uma
encenação que combina elementos de
dança, teatro visual, teatro de objectos,
sombras e música rock dirigida a toda a
família e que pergunta aos mais pequenos
o que aconteceria se a sua sombra fosse
roubada – ou pela apresentação de vários
workshops e masterclasses dirigidos
a público especializado e a todos os
curiosos sobre as temáticas do corpo,
da imagem e das intersecções que entre
estes se podem gerar. A título
de exemplo, a masterclass “Corpo
e Pensamento”, do escritor Gonçalo M.
tavares, reuniu mais de 200 pessoas
que problematizaram temas como:
Como é que o corpo pensa? E como se
pensa o corpo? Criação e convenção;
racionalidade e arte; Erro e acaso -
metodologias de criação. Outros dos
oradores/artistas convidados a participar
em masterclasses foram o realizador
suíço André Semenza e a coreógrafa
brasileira Ivani Santana (que estreou
na Galeria Graça Brandão o seu novo
trabalho: a performance “Sussurros”).
espetáculo dança - wasteland
2
today82
Outro dos eixos fortes de programação
do Festival passa pela promoção de
novos artistas visuais. É neste campo
que se inclui a exposição de fotografia
123 90 948 do vencedor do Prémio Bes
Photo Revelação 2008, David Infante, a
qual esteve patente no Módulo – Centro
Difusor de Arte, com curadoria de Mário
teixeira, ou a mais recente instalação de
Eunice Artur na Galeria Graça Brandão.
No entanto, além destas propostas de
programação paralela, o núcleo artístico
do Festival e divulgação da vídeo-dança,
através de Sessões Internacionais de
Competição de Filmes Vídeo-dança que
resultaram da resposta a uma open call
internacional e que integraram cerca
de 40 filmes de mais de 30 países
em 4 sessões (entre 4 e 7 de Dezembro
no Jardim de Inverno do teatro São Luiz)
que apresentaram o que de melhor se
produz neste momento, por todo
o mundo, em vídeo-dança.
A programação dos espectáculos
contou com duas estreias em Portugal:
o coreógrafo suíço Philippe Saire e a
sua Companhia, que depois de 20 anos
de carreira e de inúmeros prémios
conquistados nos mais importantes
festivais internacionais, apresentou-
-se, pela primeira vez, em Portugal,
com Black Out, uma performance “de
transição da luz para a escuridão, da
vida para a morte, de uma mancha
de óleo para uma chuva de cinza (…),
é uma obra de mestre para a qual se
olha a partir de cima: um quadro vivo
com movimentos de luz, músculo e
pó de borracha”. Os ingleses Me and
The Machine, que trouxeram um jogo
de realidade virtual que é construído
pelo próprio público, When We Meet
Again (Introduced as Friends), uma
performance de um-para-um, entre o
espectador e um amigo invisível, onde
é criada a ilusão de se estar dentro
de um novo corpo, através do qual se
move de maneira diferente e descobre
coisas misteriosas e invisíveis. A
criação contemporânea nacional esteve
representada pelo espectáculo
Wasteland, a mais recente colaboração
entre os bailarinos (e coreógrafos)
António Cabrita e São Castro.performance - luis marrafa
3
today 83
InShadow,inventa a sua geografia, enquanto o corpo se imagina na sombra.
85
Num ano de contenção e de desafios
(tema abordado pelo coreógrafo Rui
Horta na talkShadow – conversa aberta
entre os artistas presentes no Festival e
o público -), o InShadow viu reforçada
a sua presença em Lisboa, com novos
parceiros, maior visibilidade nos meios
de divulgação, novos públicos
e conseguiu renovar o seu compromisso
de apresentar uma 5.ª edição em 2013
com a França como país convidado
e Anne Alexandre (directora do Festival
des Arts des Cinés) como curadora.
Num momento de mudança, e quebra
da produção artística, existimos porque
persistimos e porque recebemos o
apoio de muitos, a quem agradecemos,
sem excepção. Contudo, exigimos
uma reflexão de excelência, centrada
na responsabilidade e na dinamização
de novos públicos, com o desejo de
construir um festival consolidado numa
programação para todos. d
R www.voarte.com
polaroid
4
experience86
/Villa eXtramuros /ALENtEJO /PORtUGAL
a arte do refúGioteXto Patrícia serrado fotografia joão Pedro rato
experience
experience88
Depois de uma manhã escondida pelo
denso nevoeiro, depressa o sol desperta
por entre a subtil névoa que pairava além
tejo e assim permanece até ao fim da
viagem. Até fora das muralhas da vila da
Arraiolos. Na Villa Extramuros. Um olival
centenário sem fim à vista, salpicado
de azinheiras! Virados para a porta sde
entrada da pequena Villa, e após uma
breve investida à mesma, aparece
François, com um longo sorriso amável,
ao qual se junta, depois, o de Jean-
Christophe.
Entramos a convite. Na sala, as mesas
sustentam pilhas de livros. Formas
de estar que apelam ao conforto e
ao à-vontade dos hóspedes numa
decoração vintage a adivinhar o bom
gosto da dupla de parisienses – François
Savatier e Jean-Christophe Lalane.
Aqui o tempo é… intemporal. Permanece intocável pelos ponteirosdo relógio. O silêncio confunde-se com as horas, os minutos, os segundos.Com o ténue chilrear dos pássaros, com a acalmia do vento. Confunde-se com dia, a noite, as estações do ano. Aqui mesmo. Na Villa Extramuros.
Queríamos mudar de vida.
Queríamos um lugar com história,
monumentos, com boa comida,
não muito longe de Lisboa
nem de Espanha.
François
experience 89
experience90
A conversa flui naturalmente…
Outrora ávidos por conhecer o imenso
mundo, um desejo concretizado por
longos anos, François e Jean-Christophe
sentem-se realizados com a nova casa.
O gosto pela terra plana pintada de
tons dourado e verde. O quente do sol
anunciado a cada dia que passa. O lugar
ocupado pelo onírico e pelo sossego.
O sorriso das gentes da terra. O que a
terra dá. O deleite infinito de uma mesa
alentejana, desde o olhar ao aconchego
do sentido do gosto. Uma mão cheia de
razões que seduziram os anfitriões desta
pequena Villa com vista para Arraiolos.
A atenção para a arquitetura do edifício
é uma constante. Linhas direitas,
depuradas, rematadas pela matéria
nobre da região – a cortiça nos tetos
exteriores, nas portas, no portão de
entrada da Villa, em pequenas peças
decorativas e de utilidade diária…
a pedra de Estremoz, nas casas
de banho, na ilha da cozinha cujas
paredes são revestidas por mosaico
hidráulico, e as mantas de Reguengos
de Monsaraz tapam pequenos pedaços
do chão da sala contígua à cozinha.
Procurámos peças típicas da região,
com qualidade, autenticidade,
ligadas ao passado, demarcadas
pela tradição e pela beleza.François
experience
experience92
experience 93
Continuamos pelo corredor espaçoso,
dominado pela candura das paredes
iluminadas pelo resplandecer do sol…
numa fusão perfeita com a panóplia
de verdes, vermelhos, laranjas e amarelos
da coleção de jarras em murano italiano
expostas na receção da Villa. A pretensão
não é, de todo, uma casa museu.
Apenas a criação de um espaço inimista,
trendy, apaixonante, decorado com
savoir-faire, com peças de design
datadas entre 1950’ e 1990’.
Toda a decoração é a nossa vida
e cada um tem uma história
para contar.Jean-Christophe
Uma panóplia de criações, com
a assinatura de designers de renome
internacional, como Charlotte
Perriand, Pierre Paulin, Joe Colombo
ou Marc Newson provenientes de um
apartamento em Paris. E uma biblioteca,
onde repousa a chaise-lounge de Jean
Prouvé. Apetece ler!
experience94
experience 95
A presença das peças de arte fomentam
uma combinação harmoniosa com
mobiliário dos quartos amplos – cinco, ao
todo – com pequenos pátios acolhedores
que convidam ao descanso nas chaise-
-loungues, à toma do pequeno almoço
na mesa, ao desfrutar de uma paisagem
alentejana carregada de quietude. A um
canto, a laranjeira tranquiliza a calma…
E a entrega ao ócio domina a alma.
Mergulhamos na piscina…
A ideia de resort foi posta de parte
desde o início. Queríamos espaço,
muito espaço.François
experience96
experience 97
A pouco e pouco, a noite apodera-se do dia numa longa
despedida. Mas há uma surpresa, Monsieur toutou.
Segue-se o jantar, na agradável companhia
da dupla parisiense e de mais uma de tantas
conversas recheadas de boas histórias para contar.
experience98
De novo, o sol, a manhã! O pequeno-
-almoço aguarda numa das mesas
do pátio interior, onde a pausa para o
sossego é desejável a qualquer hora
do dia – e da noite. O leve travo a hortelã
do chá – escolhido por nós, pois o serviço
do hotel Villa Extramuros é personalizado
–, acompanhado por uma deliciosa
delícia de requeijão – perdoem-me
a redundância, mas é mesmo um deleite
–, desperta o palato para mais umas
iguarias feitas em casa: doce de tomate,
doce de ameixa com nozes e doce
de maçã e canela. O mel é das abelhas
da vizinhança. O pão, alentejano.
Há morangos, um cesto de fruta.
Um aprazível repasto saboreado sob
o céu azul imaculado e boa música.
A despedida foi longa…
François e Jean-Christophe contam
mais histórias acompanhadas de boa
disposição e amabilidade. E, ao contrário
do que acontecia no dia anterior, os
ponteiros do relógio parecem ter, de
novo, regressado ao trabalho.
Até breve François.
Até breve Jean-Christophe. d
Bom dia, Monsieur Toutou!
R www.villaextramuros.com
experience 99
Até breve!
www.mutante.pt
www.mutantemagazine.blogspot.pt
www.facebook.com/MutanteMag