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Carlos Rogério Freire de Carvalho Fabiana Perez José Nigro Maria Isabel Costa Kenny MONOGRAFIA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E O DESAFIO DA ESPECIALIZAÇÃO FLEXÍVEL DE OPERADORES DA INDÚSTRIA QUÍMICA Monografia apresentada ao CPA – Centro Profissionalização Avançada / Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia / UFBA como trabalho de conclusão do curso de Especialização em Administração de Empresas. Orientador: Prof. Dra. Elisabeth Loiola SALVADOR 2003

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Page 1: MONOGRAFIA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E O … · A reestruturação produtiva é um fenômeno intimamente relacionado à globalização, pois trata-se da reestruturação das empresas

Carlos Rogério Freire de Carvalho

Fabiana Perez

José Nigro

Maria Isabel Costa Kenny

MONOGRAFIA

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E O DESAFIO DA

ESPECIALIZAÇÃO FLEXÍVEL DE OPERADORES DA INDÚSTRIA

QUÍMICA

Monografia apresentada ao CPA – Centro

Profissionalização Avançada / Escola de

Administração da Universidade Federal da

Bahia / UFBA como trabalho de conclusão do

curso de Especialização em Administração de

Empresas.

Orientador:

Prof. Dra. Elisabeth Loiola

SALVADOR

2003

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ____________________________________________________________3

1.1 OBJETIVOS ___________________________________________________________4

1.1.1 GERAL ____________________________________________________________4 1.1.2 ESPECÍFICOS_______________________________________________________4

1.2 PROBLEMA ___________________________________________________________4

1.3 HIPÓTESES ___________________________________________________________5

1.3.1 GERAL ____________________________________________________________5 1.3.2 ESPECÍFICAS_______________________________________________________5

1.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE INFORMAÇÕES __________________5

1.5 APRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ___________________5

2 REFERENCIAL TEÓRICO __________________________________________________6

2.1 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA __________6

2.2 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL ______________________________________14

2.3 ESPECIALIZAÇÃO FLEXÍVEL DO TRABALHO _________________________20

3 INDÚSTRIA QUÍMICA ____________________________________________________23

4 DESENVOLVIMENTO_____________________________________________________27

4.1 MILLENNIUM CHEMICALS ___________________________________________27

4.2 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DA MILLENNIUM CHEMICALS _______29

4.2.1 PROCESSO PROUTIVO DA MILLENNIUM CHEMICALS ________________30 4.2.2 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS_______________________________________31 4.2.3 INOVAÇÕES DE GESTÃO ___________________________________________34

4.3 IMPACTOS DA REESTRUTURAÇÃO SOBRE O PERFIL DE QUALIFICAÇÃO

DOS OPERADORES DE PROCESSO DA MILLENNIUM________________________36

4.3.1 PERFIL ANTERIOR DE QUALIFICAÇÕES _____________________________36

4.3.2 PERFIL ATUAL DE QUALIFICAÇÕES_________________________________37

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS_________________________________________________43

5.1 DESDOBRAMENTOS__________________________________________________45

6 BIBLIOGRAFIA __________________________________________________________45

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1 INTRODUÇÃO

A redução de barreiras do mercado brasileiro para a importação, intensificada na década

de noventa, propiciou que o fenômeno da globalização repercutisse fortemente no Brasil, trazendo

em seu bojo a necessidade de ajustes nas empresas brasileiras para o atingimento de níveis

elevados de competitividade, compatíveis com países mais desenvolvidos como Japão e Estados

Unidos da América, entre outros.

Esta busca de competitividade levou a indústria brasileira a implantar novas técnicas de

gestão e de modernização da produção com a aplicação mais intensiva da eletrônica (automação).

Estas modificações acarretaram profundas modificações da organização do trabalho e da

estruturação produtiva, levando a inserção de novas atividades em funções preexistentes na

indústria.

Uma vez que a reestruturação produtiva não pode ser encarada como fenômeno

homogêneo, visto que ocorreu, e vem ocorrendo, em diferentes empresas, setores e regiões, com

características e ritmos distintos, é importante analisar estes impactos no contexto da indústria

baiana.

A indústria química ocupa posição de grande relevância dentro do parque industrial

baiano. Este segmento industrial, seguindo a tendência de reestruturação produtiva mundial, -

terceirizou funções periféricas, redesenhou cargos, com incorporação de novas atividades e

competências, sendo que uma das funções mais afetadas foi a dos operadores de processo,

diretamente impactadas pela automação e pelos novos requisitos de qualidade (ISO 9000).

Em face ao exposto, a identificação do estágio atual da reestruturação produtiva de uma

empresa química do Pólo Petroquímico de Camaçari e suas implicações nas atividades

desempenhadas e qualificações necessárias para o exercício da função de operador, deve ajudar a

compreender como este segmento se situa no atual contexto e permitir uma melhor definição das

perspectivas e necessidades destes trabalhadores, motivando a realização deste trabalho. Para

atingir seu objetivo o processo de reestruturação produtiva na indústria Millennium Chemicals,

situada no Pólo Petroquímico de Camaçari, tendo como foco a função de Operador de Produção,

será analisado.

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1.1 OBJETIVOS

1.1.1 GERAL

a. Analisar os impactos da globalização na reestruturação produtiva da Indústria

Química Brasileira

b. Situar a indústria química da Bahia no contexto anterior, enfocando o caso da

MILLENNIUM CHEMICALS, especialmente a reestruturação de funções e

qualificações vivenciada pelos operadores desta empresa.

1.1.2 ESPECÍFICOS

a. Relatar o processo de reestruturação produtiva da Millennium Chemicals sob a ótica

dos gerentes.

b. Comparar as qualificações requeridas para o exercício do cargo de operador da

Millennium Chemicals, nos períodos anterior a reestruturação produtiva e atual.

c. Determinar o grau de especialização flexível dos operadores de produção da

Millennium Chemicals.

d. Analisar benefícios advindos da mudança de qualificação dos operadores conforme a

percepção do corpo gerencial da Millennium Chemicals.

1.2 PROBLEMA

Este trabalho delimita-se a analisar os impactos nas qualificações requeridas para o

exercício da função de operador de produção da indústria química Millennium Chemicals

conforme a percepção de seu corpo gerencial. Desta forma apresentaremos como esta empresa

enfrentou os desafios da reestruturação produtiva provocada pela globalização e suas implicações

nas qualificações para o cargo de operador de produção.

Portanto o problema a ser abordado neste trabalho é o da análise dos impactos da

reestruturação produtiva, ocorrida entre 1990 e 2002, no perfil de qualificações dos operadores

da indústria química MILLENNIUM CHEMICALS, situada no Pólo Petroquímico de

Camaçari, Bahia.

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1.3 HIPÓTESES

1.3.1 GERAL

A indústria química para enfrentar os desafios da globalização sofreu diversas

modificações em sua estruturação produtiva, dentre estas modificações podemos salientar :

automação, redução de níveis hierárquicos, implantação de ISO 9000, terceirização de

diversas atividades, transferência de atividades de manutenção para operação, maior

ênfase em segurança e meio-ambiente e etc.

Desta forma temos por hipótese que esta reestruturação produtiva, na medida em que

acarretou em mudança de atividades, incorporação de avanços tecnológicos e novas

técnicas de gestão, implicou na modificação no perfil de qualificações requerido para a

função de operador de produção.

1.3.2 ESPECÍFICAS

a. Ocorreu reestruturação produtiva na Millennium Chemicals para enfrentar as novas

exigências advindas da globalização.

b. Ocorreu mudança no perfil de qualificação requerido para o cargo de operador da

Millennium Chemicals.

1.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE INFORMAÇÕES

As informações para embasamento do estudo foram coletadas da seguinte forma:

a. Levantamento bibliográfico para o referencial teórico.

b. Entrevistas com gerentes de Produção e de Recursos Humanos de forma a

determinar os perfis de qualificação dos operadores de processo, anterior (1990) e

posterior a reestruturação produtiva (2002), com ênfase nas qualificações requeridas

e funções a desempenhar.

c. Levantamento no setor de pessoal para verificação das qualificações exigidas,

descrições do cargo e contingente de empregados na função de operador, nos

momentos anterior (1990) e posterior (2002) à reestruturação.

1.5 APRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

A monografia está composta de quatro partes, a primeira parte apresenta uma introdução

ao assunto, expondo os objetivos, problemas de pesquisa, hipóteses, justificativas e

procedimentos. A segunda parte aborda o referencial teórico que embasou o trabalho, discorrendo

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sobre: o fenômeno da reestruturação produtiva, a indústria química baiana e conceitua

qualificação profissional, abordando os diversos aspectos da especialização flexível.

A terceira parte contém a apresentação dos resultados da pesquisa, constando dos

seguintes itens : dados da Millennium Chemicals, descrição do processo de reestruturação

produtiva conforme a percepção dos gerentes, perfil anterior de qualificação requerido para o

cargo de operador e, finalmente, o perfil atual de qualificação requerido para o exercício do cargo

conforme a percepção dos gerentes.

A quarta e última parte apresenta as considerações finais do estudo e aponta seus limites e

possíveis desdobramentos, sugerindo temas para aprofundamento da questão.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA

A reestruturação produtiva é um fenômeno intimamente relacionado à globalização, pois

trata-se da reestruturação das empresas para obterem maior competitividade em nível global .A

reestruturação produtiva é o termo que engloba o grande processo de mudanças ocorridas nas

empresas por meio da introdução de inovações tanto nos equipamentos e máquinas, agora

automatizados, como organizacionais e de gestão, buscando-se alcançar uma organização do

trabalho integrada e flexível.

Esta reestruturação é caracterizada fortemente por dois elementos:

Inovação tecnológica: hoje de base microeletrônica (chips). Exemplos: computador,

máquinas de controle numérico computadorizado, robôs, CAD-CAM (de Computer

Aided Design e Computer Aided Manufacturing - Desenho e produção industrial com

auxílio de computadores, etc.

Inovação organizacional: terceirização, just-in-time, kanban, ilhas de produção,

trabalho em equipe, condomínio ou pólo industrial, CCQ (Círculo de Controle de

Qualidade), qualidade total, etc.

Segundo Baiardi (1998) a Segunda Revolução Industrial, baseada em máquinas dedicadas,

com organização de trabalho segundo preceitos tayloristas e fordistas assentava-se em tecnologias

físicas e gerenciais excessivamente rígida. Ainda conforme o autor, a saturação desta estrutura

produtiva já era observada desde 1930 e foi agravada fortemente após 1973 devidos aos choques

de petróleo, porém o setor de equipamentos e bens de capital não possuía capacidade de conceber

sistemas mais flexíveis.

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À partir de 1980, com a emergência e a difusão da tecnologia microeletrônica tornou-se

possível a redefinição de modelos de organização do trabalho e dos sistemas de máquinas,

apontando, basicamente, para três tipos de sistema: 1) o flexível, constituído de máquinas

polivalentes; 2) os de micro-escala em indústrias de high-tech e 3) os automáticos, que têm em

comum a otimização do uso dos fatores, inclusive mão-de-obra. (BAIARDI,1998)

Baiardi (1998) conceitua estes três sistemas de máquinas da seguinte forma :

1) Flexível , Flexible Manufactoring System ( FMS), é controlado por computadores que

estabelecem como deve operar cada parte do sistema com relação à velocidade, grau de

transformação do produto, montagem, etc. Posteriormente com a introdução do CAD (Computer

Aided Design); do CAM (Computer Aided Manufacture) e do AGV( Automatic Guided Vehicles)

potencializaram-se a flexibilização, a automação e o uso do espaço com novas seqüências

organizacionais no fluxo de produção, propiciando o surgimento das células produtivas; estrutura

de concepção muito distinta da linha de montagem, permitindo inicialmente a implantação de rede

de montagem e posteriormente o just-in-time.

2) As plantas em micro-escala, operadas por mão-de-obra de elevada capacitação tecno-

científica, restauram a subjetividade do trabalho na produção de bens com alta composição de

conhecimento. Podemos citar como exemplos deste sistema, produção. de software, hardware,

componentes eletrônicos e etc.

3) A fábrica automática, Computer lntegrated Manufacturing (CIM), onde o processo

produtivo é controlado remotamente por painéis e vídeos, utilizando a.través de telecomandos e

telecontroles. Sendo este sistema mais adaptado à indústria de processos contínuos como a

siderúrgica, a petroquímica e a de celulose.

De acordo com Baiardi (1998), estas transformações acarretam em dois movimentos

aparentemente opostos mas na realidade complementares: a centrifugação e a centripetação. A

centrifugação consiste na reavaliação da fábrica tradicional e na transferência de parte de suas

funções para terceiros e segmentação da capacidade produtiva em várias unidades de menor

escala. A centripetação se caracteriza pela maior integração e controle através de rede que

atingem as unidades nos mais variados pontos em que se encontrem, permitindo entre outras

coisas que grupos transnacionais possam fabricar produtos mundiais onde se encontrem maiores

vantagens competitivas, como o notebook da Olivetti italiana fabricado no Japão.

Entre as inovações de base técnica destacam-se os equipamentos de automação flexível,

que executam uma seqüência de operações sem a intervenção do homem, seqüência esta que é

fácil de ser mudada via computador, estando lastreada principalmente pela base técnica eletrônica

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e microeletrônica. Podemos dizer que automação flexível é conseguida pelo acoplamento das

máquinas com os computadores e a informática. (SALERNO, 1992:102).

Em indústrias químicas, utilizam-se largamente equipamentos de controle de processo,

que permitem que a transformação da matéria-prima seja controlada à distância e que ocorra uma

integração entre as diversas plantas industriais. São estes: Controlador Lógico-programável

(CLP), que executa instruções de controle de máquinas e operações; Controladores single-loop e

multiloop, que são utilizados nas malhas de variáveis analógicas; Computador de Processo, que é

um sistema de supervisão e controle de processos dedicados; e Sistema Digital de Controle

Distribuído (SDCD), conjunto de estações de controle baseadas em microprocessadores que se

interligam e estão reunidos numa estação de trabalho formada por teclados, vídeos e terminais de

saída (TEIXEIRA, 1992).

A introdução dessas inovações tecnológicas (SDCD, CLPS, robôs, CAD/CAM, terminais

de computadores etc.) foi acompanhada e subordinou-se à implementação de novas formas de

organização da produção e do trabalho (células ou ilhas de produção, grupos de trabalho

participativos e polivalentes etc.) e inúmeros programas de controle e desenvolvimento da

qualidade (Qualidade Total, Kaizen e etc.). Dentre estas inovações, salientamos o Modelo Japonês

(produção enxuta ou Just in Time), o Controle da Qualidade Total (TQC) e a Reengenharia.

A adoção da Qualidade Total (TQC) buscou satisfazer simultaneamente acionistas,

clientes, gerência e funcionários, através do gerenciamento dos aspectos humanos, lógico e

tecnológico (KELADA, 1995). Um dos seus fortes objetivos é a eliminação das atividades que

não agregam valor ao produto, como os custos do retrabalho. Está relacionada aos princípios

básicos do modelo japonês, agregando, porém, como se refere RUAS (1994), a sofisticação do

atendimento ao cliente e a valorização de aspectos intangíveis típicos da produção de serviços.

Tem como princípios fundamentais a total satisfação do cliente, o aperfeiçoamento contínuo

(acompanhando o avanço tecnológico e as mudanças na sociedade), a gerência de processos

(incluindo o relacionamento com fornecedores), o desenvolvimento de recursos humanos

(investindo em educação, treinamento, qualificação e satisfazendo as aspirações do público

interno), a constância de propósitos (coerência e transparência das ações), a garantia da qualidade,

a delegação de competências, a gerência participativa (criando a cultura da participação), a

disseminação de informações e tendência a eliminação de erros.

Exige, desta forma, mudanças não só técnicas, mas também de comportamentos e de

valores, pois só assim a estratégia de TQC poderá alcançar a gama de aspectos relacionados à

mudança organizacional. Como coloca Deming (DEMING apud WOOD Jr, 1994), tal estratégia

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tem caráter revolucionário, pois pressupõe profundas transformações no relacionamento entre a

empresa e seus clientes, fornecedores, bem como entre empregadores e empregados.

A Reengenharia foi outra estratégia de competitividade que foi muito utilizada pelas

empresas inclusive no Brasil. HAMMER (1994) define-a como o repensar fundamental e a

reestruturação radical dos processos empresariais que visam alcançar drásticas melhorias em

indicadores críticos e contemporâneos de desempenho, tais como custos, qualidade, atendimento

e velocidade, enquanto ABREU (1994) a define como a busca de uma nova forma de realizar um

processo a partir de uma nova realidade tecnológica, para obter a performance "máxima" pelo uso

desta nova tecnologia, referindo-se mais especificamente à tecnologia da informação. A

Reengenharia tem como foco a transformação de uma estrutura de funções para uma estrutura

voltada para os processos. É sinônimo de inovação e de transformação. Assim, para alguns

autores, difere da estratégia de TQC (Qualidade Total) , por esta última estar relacionada ao

aperfeiçoamento contínuo; já para outros, a qualidade total é um objetivo, enquanto o

gerenciamento da qualidade é o meio de alcançá-la e a Reengenharia é uma ferramenta muito

importante dentro desta tecnologia; conseqüentemente, ambos podem ser integrados num mesmo

programa de mudanças (KELADA, 1995; WOOD Jr., 1994).

A Reengenharia foi utilizada para redução de níveis hierárquicos, buscando aumentar a

rapidez na aplicação das decisões tomadas pelas empresas, exigindo uma maior coordenação

interna entre as suas várias áreas e departamentos para facilitar o fluxo de informações.

Conforme Fleury (1993),a organização do trabalho e as mudanças na concepção gerencial

influenciaram fortemente na rentabilidade econômica de uma dada inovação tecnológica em uma

empresa,sendo recomendável inverter a reestruturação da empresa: primeiramente, redefinição

dos padrões organizacionais; em seguida, incorporação da microeletrônica para possibilitar uma

utilização mais plena da inovação tecnológica.

Coriat (1994) atenta para o fato de que os custos de produção nos processos automatizados

passam a se basear cada vez mais na taxa de utilização das máquinas e equipamentos e cada vez

menos na intensificação do "trabalho vivo". Ora, a intensificação cada vez menor do "trabalho

vivo" cede lugar a manipulações simbólicas e a funções mais abstratas. Tal fato implica,

paradoxalmente, a relevância deste mesmo "trabalho vivo", pois transferi-lo para a máquina

significa supô-la mais autônoma do que ela efetivamente o é.

Outro aspecto do Modelo Japonês (Toyotismo) é a utilização de células de trabalho

(teamworks), que são grupos de trabalhadores coordenados por conjunto de operações afins de

um processo de montagem. O número de integrantes de uma equipe pode variar de algumas

unidades de trabalhadores até algumas dezenas.(WOMACK, 1992).

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As células ou ilhas de fabricação são uma forma de organizar a produção, na qual as

máquinas são ordenadas de acordo com o fluxo das peças e não mais pelo tipo de máquinas.

Em geral os grupos contam com um líder que pode ser eleito pelo próprio grupo ou

indicado pela direção, dependendo de cada empresa. A forma de definição de liderança é um

indicador do grau de autonomia do grupo. O líder pode ou não ter um envolvimento direto com a

produção. O líder substitui o colega ausente, prepara os novos trabalhadores contratados pela

empresa e auxilia os colegas de sua equipe que estão em dificuldade, Dependendo do tipo de

grupo o líder pode tornar supérfluo a atividade do capataz ou pode no outro extremo do espectro

ele mesmo fazer às vezes do capataz, portanto conforme as empresas poderemos ter diferentes

graus de autonomia dos grupos (WOMACK, 1992). O autor ainda salienta que a atuação líder

incorporou conceitos distintos dos então vigentes para supervisores ou capatazes, nas fábricas de

produção, em massa, como a substituição de trabalhadores eventualmente faltantes :

- “Com um líder de equipe no lugar do supervisor. Cada equipe era responsável por um

conjunto de etapas de montagem e uma parte da linha e se pedia que trabalhassem em

grupo, executando o melhor possível as operações necessárias. O líder da equipe, além

de coordená-la, realizava tarefas de montagem; particularmente, substituía

trabalhadores eventualmente faltantes – conceitos esses inéditos nas fábricas de

produção em massa” (WOMACK, 1992, p. 47).

FLEURY e FLEURY (1995) discutem outras importantes transformações que devem

ocorrer na organização do trabalho para que as empresas introduzam e cultivem a noção de

mudança e inovação tão necessárias frente ao cenário atual de competitividade. Retomam o

conceito de organização qualificante, considerado um movimento que procura novas alternativas

a partir dos aspectos positivos e negativos de cada modelo de gestão. Assim, para que uma

organização seja considerada como tal, deve atender aos seguintes aspectos, considerados pontos

de ruptura com o taylorismo: o trabalho em equipes ou células, a autonomia delegada às células e

sua responsabilização pelos objetivos de desempenho, a diminuição de níveis hierárquicos e o

desenvolvimento das chefias para atividades de animação e gestão de recursos humanos e a

reaproximação das relações entre as funções da empresa. A organização deve ainda estar centrada

na inteligência e domínio das situações de imprevisto, estar aberta para a explicitação da

estratégia empresarial frente aos próprios empregados, favorecer o desenvolvimento da co-

responsabilidade em torno de objetivos comuns e dar conteúdo dinâmico à competência

interpessoal (FLEURY e FLEURY, 1995).

Os autores (FLEURY e FLEURY, 1995) mencionam também políticas de envolvimento e

participação da força de trabalho que serão necessárias para a maior utilização de conhecimentos

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e habilidades destes, como as baseadas na estabilização da mão-de-obra, políticas de treinamento

- preparação dos operários para a aplicação de novas técnicas e para torná-los polivalentes, novos

sistemas de pagamentos, como pagar pelo conhecimento ou pelo desempenho.

A flexibilização funcional (trabalhadores ocupantes de postos estáveis desempenhando

várias funções) e a flexibilização numérica (fazer gravitar em tomo de um núcleo estável um

número muito maior de trabalhadores temporários), vieram reforçar a tendência ao desemprego

estrutural ou tecnológico, que passou a responder por um maior percentual de desocupação

comparativamente aos desempregos cíclico e friccional. Recentes estimativas indicam que nos

USA as grandes empresas estão reduzindo sua força de trabalho estável para cerca de 15 % do

total do quadro de trabalhadores. (BAIARDI,1998)

Em 1980, apesar do Brasil possuir estrutura industrial um alto grau de integração

intersetorial e diversificação da produção, com os complexos químico e metal-mecânico

(inclusive bens de capital, bens de consumo durável e o setor automobilístico) representando

58,8% da produção industrial total, de forma bastante similar a da maior parte das economias da

OECD , onde registravam-se as seguintes participações : 64,4% nos EUA, 64,5% no Japão e

69,8% na Alemanha Ocidental , ocorreu atraso na difusão desta nova revolução industrial

(CASSIOLATO, 1992).

Conforme Cassiolato (2001), à partir de 1980 torna-se acentuado o desnível tecnológico

entre a indústria brasileira e a dos países mais desenvolvidos e alguns como a Coréia do Sul, pois

as empresas industriais brasileiras, com poucas exceções, não desenvolveram capacitação

inovativa própria, caracterizando o esforço tecnológico acumulado ao longo do processo de

substituição de importações como limitado ao necessário à produção propriamente dita.

Ainda segundo Cassiolato (2001), a indústria brasileira ao longo dos anos 80 e até 1994,

teve que sobreviver e reagir a nove planos de estabilização, 15 políticas de indexação salarial, 19

mudanças nas regras de correção cambial, 22 propostas de equacionamento da dívida externa e 20

planos de ajuste fiscal do estado, tendo neste período se adaptado a um ambiente de alta

competitividade

A partir do início da década de 90, as inovações tecnológicas e organizacionais passaram a

difundir-se para o conjunto da economia, basicamente em razão da recessão conjugada à abertura

das importações, ambas promovidas pelo governo Collor. As empresas, por sua vez, para reagir à

crise e à maior concorrência, fizeram uso das inovações tecnológicas de base microeletrônica com

o objetivo de aumentar a produtividade, reduzir custos de produção e melhorar a qualidade dos

seus produtos. (CASSIOLATO, 2001).

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Conforme Teixeira (2000), a partir de 1990 a indústria brasileira empreende esforço para

obtenção de maiores índices de produtividade. No período de 1990-92, ocorreu forte downsizing,

posteriormente no período de 1993-94, ocorreu crescimento da produção com uma relativa

estabilização dos níveis de emprego, por fim entre 1995 a 1997, ocorre uma nova onda de

downsizing reestruturante, com um aumento substancial do desemprego.

De forma a ilustrar o ocorrido, Teixeira (2000) apresenta o gráfico a seguir, o qual

evidencia que ocorreu aumento de produtividade na indústria, porém o mesmo foi obtido mais em

função de redução de empregos formais do que de aumento de produção :

Gráfico 1

Fonte: Elaborado com base nos dados de Feijó e Carvalho (1998, appud TEIXEIRA,2000)

De acordo com Castro (1993), os impactos da reestruturação produtiva da indústria

brasileira foram distintos conforme a natureza da mesma, sendo que três setores, em função das

diferenças de tipo de processo produtivo podem ser tomados como ilustrativos dos impactos: (I)

indústria de produção discreta em massa (automobilística); (ii) indústria de produção discreta em

pequenos lotes ou unitária (metal-mecânica); (iii) indústria de fluxo contínuo e produção

adimensional (petroquímica).

A indústria química, de processo contínuo, objeto deste trabalho, conforme Castro (1993),

sofreu fortes impactos, pois até 1990, um forte protecionismo governamental assegurava:

Gráfico 1: Emprego, Produção e Produtividade da Indústria Brasileira (1990-1997)

0

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Anos

Índi

ces

EMPREGO PRODUÇÃO PRODUTIVIDADE

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estabilidade de preços de matérias-primas (nafta e etc.), subsídios fiscais e financeiros à

implantação e/ou ampliação de unidades produtivas; proteção contra a concorrência internacional.

Entretanto após 1990; o governo Collor alterou substancialmente o cenário para esta

indústria, causando: paralisação de investimentos para expansões pela falta de liquidez em

cruzeiros e o bloqueio dos ativos financeiros (Plano Collor), redução de alíquotas para

importados, importação de vários produtos petroquímicos, aumento do custo da nafta em função

da retirada de subsídios (o que promoveu um aumento em preços reais da ordem de 35,2% na

passagem de 1989 para 1990) e por fim congelamento dos preços. (CASTRO,1993).

No plano tecnológico, a indústria química investe pesadamente na modernização, introduz

sistemas digitais de controle distribuído (SDCD's), substitui instrumentos analógicos e

pneumáticos por digitais. Em seguida, implantam-se programas de controle avançado e de

otimização on line , buscando racionalizar custos (particularmente o balanço energético) e atingir

padrões mais estáveis e tecnicamente superiores de especificação do produto, de forma a criar

condições para exportação e redução dos efeitos da crise através da aquisição de novos mercados

(CASTRO e GUIMARÃES, 1991).

Além disto as pressões por controle de custos, eficiência e produtividade, aliadas às

políticas de qualidade, determinaram mudanças na organização industrial, tornando-a mais

flexível e ainda mais integrada, seja nos processos de tomada de decisões, reduzindo escalões

decisórios, seja fazendo das diretorias comerciais os carros-chefe da reorganização do poder

gerencial ao interior das empresas.(CASTRO,1993).

Estas mudanças acarretaram em reduções no quadro de pessoal, mesmo com a necessidade

de implantação de quinta turma de turno em obediência a constituição de 1989, como observa

Castro (1993) :

- As quintas turmas, entretanto, foram introduzidas sem que tivesse havido a contratação

de operadores adicionais, o que é indicativo de que a adoção da nova regra se deu

através de uma importante reorganização das tarefas e da distribuição dos efetivos já

existentes. Foi um primeiro momento de forte racionalização do trabalho o qual, aliado à

renovação tecnológica e às políticas de controle de custos teve impacto negativo sobre o

emprego, notadamente de operadores de campo (Guimarães, 1992; Castro e Guimarães,

1991). Mais recentemente, a ampliação das iniciativas de terceirização em direção ao

setor da manutenção, reduziu ainda mais os efetivos diretamente contratados. Ademais,

em todas as empresas até aqui estudadas, o enxugamento de pessoal parece vir de par

com a reestruturação das carreiras, geralmente com mudança de nomenclatura e

reorganização do trabalho.” (CASTRO,1993).

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Conforme Guimarães (1992) tem-se a emergência de novo padrão de organização

caracterizado pelos seguintes aspectos:

(i) maior integração entre todos os setores de atividade na fábrica, graças à informatização

generalizada que passa a interligar as informações operacionais, financeiras e comerciais;

(ii) hegemonia do setor comercial-financeiro sobre os demais;

(iii) maior controle dos engenheiros de produção sobre o desempenho técnico dos

operadores de processo, o que esvazia em parte o poder (de base eminentemente disciplinar) que

detinham os supervisores e demais chefias intermediárias;

(iv) a crescente automatização do trabalho de operação de campo e o aumento de

importância da operação via console, reúnem nas mãos do operador de processo um

conhecimento mais amplo sobre o processo produtivo, abrindo a possibilidade de maior diálogo

com a engenharia de produção, o que esvazia também o papel das hierarquias intermediárias,

tendentes cada vez mais ao enxugamento;

(v) crescente importância dos setores que administram e maximizam a comunicação

interna, a motivação no trabalho e a negociação dos conflitos.

Todas as mudanças, até aqui relatadas implicaram modificações nas demandas quanto ao

perfil de qualificação dos profissionais para operarem com essa nova base tecnológica e

organizacional do trabalho.

2.2 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

Segundo Freyssenet (HIRATA, 1989), a partir da tipologia e da periodização de K. Marx

em três estágios (cooperação, manufatura, maquinismo) como instrumentos de análise das

situações passadas e presentes, constatam-se elementos que caracterizam a automatização como

um quarto estágio de organização produtiva. O autor conceitua os estados do controle do processo

de trabalho pelos trabalhadores e por aqueles que os empregam, caracterizando a relação capital-

trabalho que corresponde a eles, conforme a seguir:

- “A cooperação dos trabalhadores sob a autoridade do capital concentra, do lado desse

último, as decisões sobre os bens a produzir, a quantidade, a qualidade e os prazos. Os

trabalhadores conservam o controle do processo de trabalho no seu conjunto e

permanecem trabalhadores “completos”, mas não controlam o processo de produção do

valor.” (FREYSSENET apud HIRATA, 1989: 77)

- “Com a manufatura, o capital tenta impor sua norma de produção especializando os

trabalhadores somente numa parte do processo de trabalho e concentrando sobre uma

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nova categoria de assalariados, de um lado, a parte delicada do trabalho que consiste em

controlar, retocar, ajustar e montar os elementos que formam o produto acabado, e, de

outro lado, a organização e o controle das fases sucessivas da produção. A justaposição e

cooperação de trabalhadores “completos” é substituída por trabalhadores de ofício

(métier), coordenados e controlados por um antigo trabalhador “completo”.”

(FREYSSENET apud HIRATA, 1989: 77)

- “O maquinismo, que é a forma capitalista de emprego do princípio mecânico, não é

principalmente a substituição da força humana por uma outra artificial, como se

interrogava P. Mantoux na sua Revolução industrial do século XVIII na Inglaterra, mas é

a substituição do desenrolar quotidiano da inteligência do gesto produtivo pela

materialização de uma parte dessa inteligência nas máquinas que movimentam

mecanicamente as ferramentas, graças ao trabalho de um número restrito de

“idealizadores” (“concepteurs”).” (FREYSSENET apud HIRATA, 1989: 77)

Portanto na fase inicial, durante a qual um pequeno número de trabalhadores de ofício

(métier) são ainda necessários para a fabricação, conclusão de peças esboçadas sobre as máquinas

pelos “profissionais” e transportadas por ajudantes (manoeuvres), surge a segunda fase na qual é

permitido o operário identificar os parâmetros cujo domínio é indispensável para conceber e

fabricar máquinas que tornam inútil o trabalho de acabamento e cuja operação é simplificada.

(FREYSSENET apud HIRATA, 1989)

Já na terceira etapa, a mecanização das manutenções permite dispensar os ajudantes

(manoeuvres), multiplicando-se as categorias que correspondem a uma polarização das

qualificações requeridas: operários não qualificados, ajustadores, operários de manutenção

mecânica e elétrica, ferramenteiros, desenhistas, técnicos e engenheiros de estudos e de métodos

especializados etc, sendo que freqüentemente impõe-se um modo operatório aos operários não

qualificados, entretanto os mesmos ainda devem descobrir e controlar certos parâmetros que

tenham escapado aos “idealizadores” e preparadores do trabalho. (FREYSSENET apud

HIRATA, 1989)

Freyssenet (FREYSSENET apud HIRATA, 1989) conclui que a automatização, ao

suprimir tarefas repetitivas, perigosas, extenuantes e aumentar consideravelmente a

produtividade, pelo modo capitalista de sua concepção, termina por tirar do operador o controle

dos parâmetros perturbadores, graças à elaboração de modelos de conduta, de ajuste e de

regulação, e o reduz assim a uma situação de vigilância mediatizada sobre um processo do qual

ele não tem mais uma percepção direta e de intervenção limitada a operações precisas de ajuste.

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Desta forma, com a automatização das empresas, os operários não qualificados tornaram-

se inúteis, inclusive com o desaparecimento das categorias de trabalhadores que efetuavam tarefas

que requeriam praticamente nenhuma qualificação, como os ajudantes ou os operários não

qualificados. Por outro lado, esta nova organização do trabalho demandou profissionais com

diferentes qualificações profissionais para lidar com as inovações tecnológicas (FREYSSENET

apud HIRATA, 1989).

Conforme exposto anteriormente as mudanças introduzidas pela reestruturação produtiva

acarretaram alterações nos perfis de qualificação dos trabalhadores, desta forma torna-se

imprescindível a apresentação dos conceitos relacionados a qualificação profissional.

A definição que adotaremos para qualificação neste trabalho é intimamente ligada à

competência, para isto primeiro será apresentado o conceito de competência. Observa-se falta de

unanimidade sobre a definição de competência, uma vez que este termo é utilizado em

diferentes contextos e com vários sentidos. Barato (BARATO appud LUZ, 2000), menciona duas

linhas principais:

- Escola Francesa, que enfatiza a vinculação entre trabalho e educação, considerando as

competências como resultado da educação sistemática, valorizando o modo como as

escolas enriquecem o repertório de habilidades dos alunos.

- Escola Britânica, que define competências a partir do mercado de trabalho e enfatiza

fatores ou aspectos ligados a indicadores de desempenhos requeridos pelas

organizações produtivas, privilegiando os comportamentos observáveis.

Apesar destas diferenças, ambas as escolas consideram competências como capacidade

pessoal de articular saberes com fazeres característicos de situações concretas de trabalho. De

acordo com Luz (2000:44):

- “O conceito de competências envolve os saberes ou conhecimentos formais, que podem

ser traduzidos em fatos e regras, o saber-fazer, que pertence à esfera dos procedimentos

empíricos, como as receitas, os truques de ofício, e que se desenvolvem na prática

quotidiana de uma profissão e ocupação; finalmente, o saber-ser, compreendido como

saber social ou do senso comum, que mobiliza estratégias e raciocínios complexos,

interpretações e visões de mundo.”(LUZ,2000:44)

A noção de competência pode ser focalizada sob diferentes instâncias de compreensão: em

termos da pessoa (as competências do indivíduo), das organizações (core competences) e dos

países (sistemas educacionais e formação de competências).

De acordo com Zarafian (2000), a necessidade de se implementar um modelo de

competência advém da mudança na própria organização do trabalho como resultado da nova

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configuração da organização da empresa capitalista, como por exemplo, a produção em rede que

privilegia o processo de trabalho ou por projeto que enfoca as equipes de trabalho.

Em oposição às formas de organização ancoradas nos postos de trabalho, de tradição

taylorista e fordista, essas formas de organização qualificantes apresentam-se sob conceitos que

indicam mudanças no conteúdo do trabalho e requerem um novo perfil do trabalhador que

possibilite viabilizar estratégias inovadoras de produtividade, são eles: o de evento, comunicação

e serviço. Esses conceitos encontram-se interligados, uma vez que enfrentar um evento é resolver

problemas inesperados que perturbam o desenvolvimento normal da produção e buscar estratégias

inovadoras, o que pressupõe um exercício reflexivo e interativo do sujeito com sua equipe de

trabalho. A necessidade da comunicação é condição essencial para a interação dos grupos de

trabalho, bem como, ter em vista o oferecimento de um serviço de qualidade ao cliente influi nas

alterações e adaptações quando ocorre o surgimento dos eventos. Nessa perspectiva, acredita-se

que “o trabalho reverte-se ao trabalhador. O trabalho torna-se prolongamento direto da

competência pessoal que o indivíduo mobiliza diante de uma atuação profissional...” (Zarafian,

2001:56)

Conforme Zarafian (2001) e Meghinagi (1997), competência traduz-se na capacidade do

indivíduo mobilizar saberes adquiridos nas instituições educacionais, na experiência no trabalho,

nas diferentes trajetórias profissionais e em práticas de socialização adquiridas durante o percurso

de vida, a fim de resolver problemas que emergem da prática do trabalho e assim transformar

esses saberes, além de desenvolver comportamento de civilidade necessário a interação entre

profissionais. Portanto, o indivíduo estaria no centro do processo produtivo e o desenvolvimento

do indivíduo no trabalho, assim como, o sucesso da organização estaria condicionada a prioridade

que ela tem atribuído à inovação, não no sentido tradicional de informatização, mas pautada na

aquisição de competência, a qual conduziria ao desenvolvimento intelectual e comportamental

dos indivíduos.

De acordo com esta noção de competência, os conhecimentos a serem valorizados não são

apenas os disciplinares pois, embora utilizem-se dos conhecimentos teóricos disciplinares, as

situações profissionais variadas com as quais se defrontam o indivíduo refletem, como menciona

Meghinaghi, “...a capacidade de transitar por diferentes áreas do conhecimento, por saberes que

ainda não estão estruturados em disciplinas...” (MEGHINAGHI ,1997:52).

No entanto, se observarmos as características da competência, no que se referem ao

desenvolvimento intelectual proveniente da aquisição de conhecimentos técnicos, condições de

vida, relações sociais estabelecidas no trabalho e fora dele e educação escolar, percebemos que

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não há uma oposição à noção de qualificação profissional, mesmo porque, a qualificação não é

um conceito estático e evolui no decorrer da história.

O conceito de qualificação profissional ao estar em constante evolução, conforme o

patamar social e tecnológico em que se encontra a sociedade, adquire um potencial explicativo e

de adaptação às mudanças ocorridas no processo de trabalho. Trata-se, assim como o de

competência, de um conceito polissêmico que conjuga dimensões múltiplas e não se reduz ao

universo técnico (educação geral e experiência no trabalho), mas também possui uma dimensão

social

Desta forma, o conceito de qualificação está vinculado à escolarização e sua

correspondência no trabalho assalariado, portanto relacionado aos componentes organizados e

explícitos da qualificação do trabalhador. Já o modelo de competências, baseia-se na

aprendizagem orientada para a ação, com avaliação pautada em resultados observáveis (Tanguy,

1997).

Para Zarafian (2001), a competência não se oporia a qualificação, sim englobaria a

mesma, pois conforme este autor, é somente através da qualificação profissional que o indivíduo

aparece como representativo de um grupo social, se hierarquizam socialmente e promoções

coletivas são negociadas. O fator inovador da competência perante a qualificação parece estar no

apelo à individualidade e no desenvolvimento de características comportamentais que se devem

encontrar integradas, como capacidade de se comunicar, ter iniciativa e disponibilidade para

mudanças e assimilação de novos valores de qualidade, produtividade e competitividade.

Logo dentro conceito de competência, mais abrangente que o de qualificação, o tempo de

experiência do trabalhador e os treinamentos realizados por ele são considerados como parte

constituinte de seus conhecimentos teóricos e práticos. Tratar-se-ia do que Carrillo (1995) chama

de atributos do indivíduo, definidos pelo capital humano (relacionam-se com os anos de estudo ou

com a destreza aprendidas em empregos anteriores), pelas exigências do próprio posto de trabalho

(conhecimentos, destreza e responsabilidades) e ainda pela estrutura da organização, hierárquica e

salarial. Para o autor, qualificação seria um continuo dessas dimensões, e seria determinado pelas

estratégias empresariais de seleção, treinamento, mobilidade e carreira (mercado interno de

trabalho) e pelas condições mais gerais derivadas do mercado externo de trabalho.

Concluindo qualificação, conforme Bruno. (1996), deve ser entendida como um conceito

multidimensional, que se traduz na capacidade de realização das tarefas requeridas pela

tecnologia capitalista Nessa perspectiva, qualificada é aquela força de trabalho capaz de realizar

as tarefas recorrentes de um determinado patamar tecnológico e de uma forma de organização do

processo de trabalho. Isso já confere ao termo temporalidade e relativiza seu conteúdo, á medida

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em que cada estágio de desenvolvimento social e tecnológico e em cada forma de organização do

trabalho novos atributos são agregados à qualificação e novas hierarquizações são esclarecidas

entre eles.

- ... a qualificação diz respeito à capacidade de realização das tarefas requeridas pela

tecnologia capitalista... Nessa perspectiva, diria é qualificada aquela força de trabalho

capaz de realizar as tarefas recorrentes de um determinado patamar tecnológico e de uma

forma de organização do processo de trabalho. Isso já confere ao termo temporalidade e

relativiza seu conteúdo, á medida em que cada estágio de desenvolvimento social e

tecnológico e em cada forma de organização do trabalho novos atributos são agregados à

qualificação e novas hierarquizações são esclarecidas entre eles. (BRUNO,1996:92)

Desta forma, neste trabalho, será adotado para qualificação profissional o conceito de

competência e não o conceito convencional apenas relacionado a escolaridade, portanto um

conceito mais amplo de qualificação profissional, como sendo conjunto de competências

profissionais englobando as noções do "saber" (conhecimentos), "saber fazer" (capacidade de

transformar o conhecimento teórico em trabalho) e "saber ser" (dimensão comportamental -

conjunto de habilidades, qualidades, competências), apresentadas em Gitahy (1994). Logo o

“saber ser” é um conceito peculiar á noção de competência, sendo a mais importante noção que

integra a lógica da competência, isso porque, acredita-se que as demais dimensões o saber e saber

agir estão também contempladas na noção de qualificação. Resumindo conforme temos conforme

Cariola (1997)

i) “saber”, envolvendo as dimensões práticas, técnicas e científicas, adquirido formalmente

ou através da experiência profissional;

ii) “ saber agir” (também designado como “saber fazer”), que implica a capacidade de

transpor conhecimentos para situação concretas, tomadas de decisão, resolução de

problemas, enfrentamento de situações novas;

iii) “saber ser” inclui traços de personalidade e caráter adequados aos comportamentos

requeridos nas relações sociais de trabalho, tais como, envolvimento, responsabilidade,

disponibilidade para a inovação e mudança, assimilação de novos valores de qualidade,

produtividade e competitividade, etc.

A adoção deste conceito é mais adequada à realidade das empresas, pois conforme Leite e

Posthuma (1995), este conceito abrange mais do que a noção da qualificação enquanto um

conjunto de conhecimentos necessários ao desenvolvimento de um determinado trabalho, pois: (a)

a qualificação definida pela empresa nos manuais de descrição de cargos nem sempre coincide

com os conhecimentos efetivamente liberados nos postos de trabalho, por muitas vezes ignorarem

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as qualificações tácitas; (b) a valorização que a empresa atribui à qualificação de seus

trabalhadores nem sempre coincide com a valorização que eles mesmos fazem em função de sua

trajetória profissional; (c) há diferenças significativas entre as próprias empresas quanto ao que

seja qualificação e treinamento.

2.3 ESPECIALIZAÇÃO FLEXÍVEL DO TRABALHO

Os impactos causados pela reestruturação produtiva sobre a qualificação dos

trabalhadores, são objetos de controvérsias dentre diversos autores, conforme Almeida

(ALMEIDA et alii, 1994), oscilando entre as teses da desqualificação, da requalificação, da

polarização, da qualificação absoluta e desqualificação relativa. A maior parte dos autores

defende a idéia de que as novas tecnologias exigiriam a requalificação de parte da força de

trabalho, e não um aumento generalizado de qualificação.

Entre as mudanças levantadas pelos autores no referido estudo, ressaltam-se a necessidade

de maior escolaridade dos trabalhadores, as exigências de conhecimentos gerais, capacidade de

planejar, capacidade de decisão frente a problemas complexos, habilidades de comunicação, de

trabalho em equipe, flexibilidade, assim como a valorização de traços de personalidade, como

responsabilidade, criatividade e iniciativa. O perfil do novo trabalhador deve, então, adequar-se às

novas funções que deverá desempenhar, atentando-se ainda à possibilidade de transferibilidade

entre setores ou até mesmo a construção de formas alternativas de sobrevivência fora do mercado

formal de trabalho.

Fleury e Fleury (1995, p.142) mencionam novas demandas para os trabalhadores da

produção: (a) crescente importância da inspeção visual de peças e materiais que chegam ao posto

de trabalho; (b) retirada de postos de controle de qualidade, ao menos parcial, e crescente

delegação de normas e procedimentos de inspeção de qualidade aos operários, com a utilização de

auditorias internas; (c) introdução de CEP - Controle Estatístico de Processo, para o qual

operários retiram amostras de acordo com critérios preestabelecido, medem características do

produto, calculam estatísticas e colocam os resultados em gráficos de controle; (d)

responsabilização por detecção e solução de problemas; os trabalhadores participam de atividades

de pequenos grupos ou então contribuem com sugestões individuais para diagnóstico e correção

de problemas ou mesmo para o contínuo aperfeiçoamento do processo de produção; (e)

preparação e ajuste de equipamentos; (f) decisões sobre o fluxo produtivo, especialmente quando

há a utilização de JIT/kanban; (g) rodízio de atividades; e (h) responsabilização por atividades de

manutenção rotineiras (TPM).

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Multifuncionalidade, polivalência e politecnia estão também entre os conceitos mais

citados nos estudos acerca de relação entre reestruturação produtiva e qualificação da força de

trabalho, desta forma serão analisados estes conceitos .

As tarefas podem ser especializadas em duas dimensões: a) extensão ou amplitude e b)

profundidade do controle sobre o trabalho (MINTZBERG, 1995). A primeira refere-se à

especialização horizontal do trabalho, isto é, quantas tarefas diferentes estão contidas em cada

trabalho e quão ampla ou estreita é cada uma dessas tarefas (o trabalhador pode realizar diferentes

atividades ou ser altamente especializado); a segunda, refere-se à especialização vertical do

trabalho, separando a execução do trabalho de sua administração (em um extremo, o trabalhador

meramente executa, em outro, ele controla os aspectos do seu trabalho, somando-os à execução).

Desta forma, um operário altamente especializado quando seu cargo é composto de um

pequeno número de tarefas e quando ele é apenas um mero executor (tem controle mínimo),

caracteriza-se como um operário de Taylor. Já operário multifuncional seria o que realiza

diferentes tarefas (a seu cargo são acrescidas novas tarefas isoladas, com o mesmo grau de

dificuldade) aprendidas através de treinamento e de rotação de cargos, tendo, porém, um controle

restrito sobre o seu trabalho, correspondendo à chamada extensão da tarefa não representando,

desta forma, um aprofundamento real da qualificação. Por sua vez, o operário polivalente, teria

um acréscimo de tarefas e funções, de dificuldade levemente superior, tendo seu cargo ampliado e

com um controle maior sobre seu trabalho, embora este controle ainda seja restrito a situações

imediatas de trabalho.

Já o trabalhador politécnico, teria seu cargo enriquecido tanto verticalmente como

horizontalmente. Realizaria maior número de atividades diferenciadas, de maior complexidade e

variedade, tendo maior controle sobre estas. Embora ainda permaneça a necessidade de

conhecimentos específicos, esse trabalhador passa a ter o domínio de uma gama maior de técnicas

envolvendo outras áreas de conhecimento (não apenas referente a sua especialização inicial), seu

cargo passando a ser descrito não mais por funções específicas. Há um enriquecimento e um

aprofundamento da qualificação, exigindo-se análise de diferentes dimensões do seu trabalho,

raciocínio lógico, maior autonomia e maior número de capacidades e habilidades.

Salerno (1994) salienta a existência do operador multifuncional, à medida em que o

mesmo trabalha com mais de uma máquina, com similaridade nas suas características, sendo que

isso pouco contribuiria para o desenvolvimento de habilidades, bem como para a qualificação

trabalhador. Já a polivalência refere-se à capacidade do trabalhador de ocupar diversos postos de

trabalho, realizando várias atividades simples, tendo em vista as necessidades de alocação interna

de pessoal,

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Machado (1991:53) considera que a polivalência dos trabalhadores diz respeito ao acesso

aos conhecimentos empíricos disponíveis, permanecendo a ciência como algo exterior e estranho,

enquanto a politecnia se inscreve numa perspectiva de continuidade e de ruptura, ultrapassando o

conhecimento meramente empírico, exigindo um trabalhador consciente, capaz de atuar

criticamente em atividades de caráter criador e de buscar com autonomia os conhecimentos

necessários ao seu progressivo aperfeiçoamento. Desta forma, polivalência dá a idéia de um

trabalho mais variado, o trabalhador passa a executar várias funções e tem alguma possibilidade

de administração do próprio tempo, sem implicar, necessariamente, uma grande mudança

qualitativa; já politecnia estaria mais relacionada ao acréscimo de tarefas de maior dificuldade e

responsabilidade, representando o domínio da técnica em nível intelectual e a possibilidade de um

trabalho flexível e criativo, associando-se o trabalho intelectual com o manual.

Conforme Machado (1992), o conceito de politecnia remete ao controle da técnica pelo

uso do intelecto e à flexibilidade no trabalho, com reposição das tarefas de forma criativa.

Contempla além dos requisitos comportamentais típicos da politecnia, o discernimento, a análise

crítica, o entendimento das variáveis sociais, políticas e econômicas imbrincadas em futuras

ações, a criatividade para lidar com situações contraditórias. A formação politécnica tem como

requisito a plena expansão do indivíduo e se inclui como parte de um projeto de desenvolvimento

social e ampliação dos processos de socialização.

Desta forma, segundo Machado (1992), a distinção entre o que é ser um trabalhador

polivalente e politécnico em termos de exigência para o trabalho é que para o polivalente é

requerido adaptação às mudanças, possibilidades de lidar com regras e normas em situações

diferenciadas, curiosidade a aprender, motivação, iniciativa, atenção, responsabilidade, etc. Já

para o trabalhador politécnico, estas exigências se redefinem com a incorporação de ingredientes

tais como: discernimento e julgamento crítico; compreensão dos determinantes sociais,

econômicos e políticos das ações a serem empreendidas; independência na avaliação das

implicações das intervenções humanas frente a outras alternativas e finalidade, e criatividade no

enfrentamento das contradições.

Enfim, a formação da força de trabalho polivalente, apesar de representar um avanço face

às formas taylorizadas e fordistas é apenas um avanço relativo, pois o conhecimento permanece

de posse do capital e mesmo com a diminuição dos níveis hierárquicos, longe está o trabalhador

do que se desenha em termos de qualificação a partir das novas tecnologias com base na produção

(MACHADO ,1992).

Em termos da maior ou menor interferência no processo de trabalho, teríamos com a

polivalência ou multifuncionalidade o trabalhador realizaria mais atividades, mas decidiria apenas

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sobre questões mais ligadas à a rotina diária de produção propriamente dita, já com a politecnia o

trabalhador realmente poderia intervir no processo de trabalho, decidindo questões como método,

ritmo e tempo de trabalho, assim como horários, férias, folgas, etc.

A politecnia se caracteriza por um real desenvolvimento da competência, definida por

Zarafian (1996) como sendo o grau de execução de tarefa, no qual os trabalhador assumem

responsabilidades pessoais frente às situações produtivas (a partir de si e de eventos que ocorrem

de forma imprevista), atitude que mobilizaria a inteligência e a subjetividade da pessoa; um

exercício sistemático de uma reflexividade no trabalho, isto é, um distanciamento crítico de seu

trabalho. Portanto conforme o autor, a aprendizagem profissional envolveria, basicamente, três

grandes domínios de competências: técnicas (domínio de processos e equipamentos), de gestão

(gestão da qualidade e de custos) e da organização (comunicação, iniciativa e autonomia).

Desta forma a adoção de novas tecnologias de produção e gestão implicaram na demanda

por trabalhadores com especialização flexível, nos diversos graus conforme a intensidade da

reestruturação produtiva e seus reflexos na execução das tarefas. Portanto teremos desde a

especialização flexível baseada em multifuncionalidade até a politécnica, variando conforme a

qualificação da execução da tarefa, grau de complexidade da mesma, domínio de tempo de

execução e etc.

No caso do Brasil, observa-se que a reestruturação produtiva acarretou conseqüências

distintas pelos segmentos econômicos, tendo as indústriais mais dinâmicas ( metal-mecânico,

química, petroquímica, informática, microeletrônica, telecomunicações) apresentado maiores

transformações ; secundadas pelas mais tradicionais (construção civil, têxtil, confecções, etc.) e

finalmente pelas do setor informal (cooperativas de serviços, artesanato, etc.). sendo que a

maioria das empresas tem apresentado a necessidade de ter trabalhadores multifuncionais, capazes

de desenvolverem diversas atividades de um mesmo processo, chegando a serem verdadeiramente

trabalhadores polivalentes e muito menos politécnicos nas concepções apresentadas anteriormente

(LEITE,1997).

3 INDÚSTRIA QUÍMICA

De acordo com a ABIQUIM – Associação Brasileira da Indústria Química, o conceito

corrente de indústria química é o apresentado pela ONU na Revisão n° 3 da ISIC (International

Standard Industry Classification), o qual no Brasil é utilizado pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística - IBGE, que definiu uma nova Classificação Nacional de Atividades

Econômicas (CNAE) e promoveu o enquadramento de todos os produtos químicos nessa nova

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classificação (Divisão 24). De acordo com essa classificação, consideram-se como da indústria

química, os seguintes segmentos: produtos químicos inorgânicos (cloro e álcalis , intermediários

para fertilizantes, fertilizantes fosfatados e outros produtos inorgânicos) , produtos químicos

orgânicos (petroquímicos básicos, intermediários para resinas e fibras, outros produtos químicos

orgânicos) , tintas, vernizes, esmaltes lacas e produtos afins entre outros.

Conforme ABIQUIM(1997), o complexo químico pode ser dividido em quatro grandes

segmentos:

i) Indústria Química Orgânica de Base ou Petroquímica, cujos principais segmentos são:

resinas termoplásticas, resinas termoestáveis, elastômeros (borracha), fios e fibras, solventes,

detergentes, solventes orgânicos, plastificantes, produtos básicos e intermediários para estes

produtos.

ii) Indústria Inorgânica, cujos principais segmentos são: fertilizantes, cloro/soda, barrilha,

pigmentos etc.

iii) Indústria de Química Fina, cujos principais segmentos são: produtos farmacêuticos,

defensivos agrícolas(inseticidas, herbicidas, fungicidas), matérias corantes, aditivos para

alimentos, perfumaria, cosméticos, borracha, plásticos, etc.

iv) Indústria de Produtos Químicos Naturais.

Conforme o MDIC (1997), apesar de características em comum, cada segmento do

complexo químico possui especificidades distintas. O setor petroquímico é o mais intensivo em

capital e produz essencialmente “commodities”, sofrendo influências das oscilações do mercado

internacional, seu faturamento representa mais de 50% do faturamento do complexo. O setor de

química fina é mais dinâmico sob o ponto de vista tecnológico, fabricando produtos de rígida

especificação e de “performance” e, portanto de alto valor agregado, correspondendo a cerca de

35 % do faturamento do complexo.

Já o setor de produtos inorgânicos é também intensivo em capital e em energia

(soda/cloro), apresentando, de forma geral, as mesmas características do setor petroquímico,

porém com menor agregação de valor. O setor de produtos químicos naturais é o de menor

expressão econômica, estando bastante vinculado aos setores alimentício e de medicamentos

naturais, possuindo grande potencial de crescimento em função da nossa

biodiversidade.(MDIC,1997)

Segundo Coutinho (1993), esta indústria possui como principais características: a

intensidade em capital e em P&D; o alto grau de interdependência entre os seus segmentos; a

estrutura de produção complexa e com forte interdependência tecnológica; e o alto grau de

substitubilidade entre matérias-primas, rotas tecnológicas e aplicação dos produtos.

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De acordo com Coutinho (1993), em função do seu alto grau de globalização, os mercados

internacionais de produtos químicos são bastante integrados, de forma que os preços são

determinados por relações de oferta/demanda em escala mundial.

Além disto o autor ainda ressalta o alto grau de concentração, sendo que as maiores

empresas participam do mercado global principalmente através do estabelecimento de capacidade

produtiva nos mercados regionais mais atrativos. Desta forma o principal fluxo de investimentos

diretos é entre países industrializados, sendo identificada uma tendência a que o comércio

internacional de produtos químicos seja, crescentemente, dominado por um número reduzido de

empresas multinacionais de grande porte, com intensificação das trocas entre matrizes e filiais

dessas empresas, representando percentual cada vez maior das trocas internacionais.

Ainda segundo Coutinho (1993), esta indústria é considerada science-based, tendo

experimento ritmo de progresso técnico intenso até os fins da década de 60, quando começou a

diminuir. Porém os investimentos em P&D não decresceram significativamente e foram voltados

para mudanças incrementais nos processos e produtos existentes, busca-se o uso da

microeletrônica no controle de processos e a definição de novas formas de organização do

trabalho.

Com relação à mão-de-obra, observa-se crescimento deste custo, que em 1980 seu custo

representava cerca de 5% das vendas líquidas do setor químico brasileiro, percentual baixo

quando comparado ao norte americano, que então se situava em torno de 18%, já em 1996 este

custo já representava 14,5% das vendas líquidas, para o equivalente de 18,3% nos Estados

Unidos. (ABIQUIM,1999), o que certamente estimula a reestruturação produtiva para obtenção de

ganhos de produtividade e redução de gastos de mão-de-obra.

Segundo Fernandes (2002), a indústria química/petroquímica implantou-se na Bahia, nos

anos 70, como parte da estratégia nacional de substituição de importações e de direcionamento de

investimentos para regiões menos desenvolvidas do país, configurou-se uma estrutura produtiva

intensiva em capital.

De acordo com Fernandes (2002), esta implantação alterou perfil econômico da Bahia, o

qual passou de agroexportador, fundado principalmente na cultura cacaueira, para fornecedor de

bens intermediários, inserido na matriz industrial brasileira.

Em 1960 o PIB da Bahia registrava uma participação de 40% do setor primário, 12% do

setor secundário e 48% do terciário. A indústria química/petroquímica ganhou destaque na Bahia

ao final dos anos 70 e, a partir de 1985, já representava mais da metade de valor agregado bruto

(VAB) da indústria de transformação. A indústria de transformação, por sua vez, passou a

representar 25,5% do PIB baiano em 1985, sofreu uma pequena redução dessa participação em

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meados da década de 90 , em favor de atividades de Comércio e Serviços e fechou a década

novamente com participação de 25% no PIB (FERNANDES, 2002).

Desta forma, ainda segundo Fernandes (2002), a mudança do perfil econômico, operada

pela indústria química e petroquímica, foi tal que em 2001, a participação do setor secundário

subiu para 41,7% com a referida indústria sendo responsável por mais de 50% deste setor,

enquanto que o setor primário caiu para 10,3%, apesar da modernização e diversificação de

algumas atividades agropecuárias, ficando o terciário com o de maior peso na estrutura do PIB

estadual, de 48,0%, acompanhando uma tendência mundial.

Em síntese, a análise da reestruturação produtiva deste segmento reveste-se de grande

importância, em função do peso do mesmo para geração de riquezas do estado da Bahia.

A indústria química e petroquímica baiana se concentra principalmente na área de

influência do Pólo Petroquímico de Camaçari ,O Pólo iniciou suas operações em 1978, foi o

primeiro complexo petroquímico planejado do País e está localizado no município de Camaçari, a

50 quilômetros de Salvador, capital do Estado da Bahia (COFIC,2003).

Conforme dados do COFIC(2003) é o maior complexo industrial integrado do hemisfério

Sul, o Pólo tem mais de 60 empresas químicas, petroquímicas e de outros ramos de atividade

como indústria automotiva, de celulose, metalurgia do cobre, têxtil, bebidas e serviços.

Segundo o COFIC (2003) apresenta os seguintes pontos de destaque:

• Investimento global superior a 10 bilhões de dólares

• Capacidade instalada acima de 8 milhões de t/ano de produtos químicos e

petroquímicos básicos, intermediários e finais.

• Atende a mais da metade das necessidades de produtos químicos e petroquímicos do

Brasil.

• Faturamento de aproximadamente US$ 5 bilhões/ano.

• Responde por cerca 25% do total da arrecadação estadual de ICMS e por mais de 90%

da receita tributária de Camaçari

• Emprega 12 mil pessoas diretamente e 11 mil pessoas através de empresas contratadas.

De acordo com Teixeira (2000), o pólo petroquímico de Camaçari também sofreu os

impactos das mudanças econômicas de 1990, com grande reflexo sobre o contingente de

empregados :

- Em março de 1991, havia 8.081 pessoas trabalhando no conjunto de doze empresas de

Camaçari, sendo que, deste total, 6.756 eram empregados diretamente (pessoal próprio) e

1.325 eram terceirizados, com vínculo empregatício com firmas prestadoras de serviços.

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27

Já em dezembro de 1997, havia um total de 5.180 empregados, sendo 3.285 pessoal

próprio e 1.895 terceirizados. No ano seguinte, o número de empregados decresceu ainda

mais, atingindo 4.085. Porém, houve uma redução maior entre os terceirizados, que

somavam 840, do que de pessoal próprio, que atingiu 3.245, evidenciando uma mudança

na política de pessoal das empresas. Houve, portanto, de 91 a 98, uma redução de 3.996

postos de trabalho, significando 49,5% do total. Quanto ao percentual de terceirizados,

ele passou de 16,3%, em 1991, para 36,5% da força de trabalho, em 1997, diminuindo

para 20,5%, em 1998. (TEIXEIRA,2000)

Conforme Teixeira (2000), a reestruturação produtiva teve início em 1989, com um novo

ciclo de projetos, o qual elevou os investimentos totais no Pólo de Camaçari para,

aproximadamente, US$ 10 bilhões, aumentando significativamente a produção, sendo que a

produção física sai de 2.544 mil toneladas em 1991 para atingir 4.980 mil em 98, um acréscimo

de 49%.

Ë fundamental ressaltar que simultaneamente às reduções de pessoal, as empresas também

se empenharam em mudanças organizacionais e tecnológicas, configurando um quadro de

reestruturação produtiva. No tocante às mudanças organizacionais podemos destacar: implantação

de programas de Qualidade Total, adoção da série de normas da ISO 9000. Já para as mudanças

tecnológicas podemos ressaltar a adoção de equipamentos de base microeletrônica na atividade

central das empresas: o controle de processo (TEIXEIRA, 2000).

A análise dos impactos da reestruturação produtiva no perfil de qualificações dos

operadores de processo desenvolvida neste trabalho teve como cenário a indústria Millennium

Chemicals empresa pertencente ao Complexo Petroquímico de Camaçari.

4 DESENVOLVIMENTO

4.1 MILLENNIUM CHEMICALS

A Millennium Chemicals, conforme o relatório anual de 2002 (MILLENNIUM, 2003) é

uma empresa americana de capital aberto com ações negociadas na bolsa de Nova Iorque,

constituída de 11 fábricas, 1 mina e mais de 22 escritórios de Vendas e Marketing espalhados em

5 continentes,

A Millennium Chemicals possui atuação nos mercados dos seguintes produtos químicos e

petroquímicos (MILLENNIUM, 2003):

acetil: é o segundo produtor de monômeros de vinil acetato e ácido acético dos Estados

Unidos;

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química de fragrância e sabor: é o maior produtor mundial de produtos direcionados

para fragrância e sabor (ex: detergentes, sabonetes, perfumes, pasta de dentes, chicletes

e outros produtos);

química orgânica: o segundo maior produtor de etileno e o terceiro maior produtor de

polietileno do Estados Unidos

maior produtora brasileira e segundo maior fabricante mundial do pigmento branco

Dióxido de Titânio (TiO2), com plantas de produção nos EUA, Reino Unido, França,

Brasil e Austrália.

No Brasil, a Millennium possui uma fábrica de Dióxido de Titânio (TiO2), a qual será o

objeto deste estudo , uma mina na Paraíba para extração do minério ilmenita (matéria prima para

a obtenção do produto final) e um escritório comercial localizado em São Paulo responsável pela

comercialização dos produtos (MILLENNIUM,2003).

O dióxido de titânio é um pigmento branco obtido a partir de minérios de titânio (ilmenita)

, utilizado para dar brancura, luminosidade e opacidade a uma ampla gama de produtos, incluindo

tintas e revestimentos, papel, plásticos e elastômeros. Em termos de comercialização, este

pigmento possui tanto características de commodity, como de especialidade química (IBMA,

1993).

O dióxido de titânio, à exemplo das especialidades químicas, são adquiridos com base nas

características de performance e não pela especificação, além de possibilitar que alguns

fabricantes foquem nichos específicos de aplicações que utilizem pigmentos de alta performance

(IBMA,1993).

Por outro lado, a exemplo das commodities , a indústria de dióxido de titânio possui como

principais características: a alta intensidade de capital e possibilidade de redução de custos de

produção devido a economia de escala. Em termos em termos de competitividade global a

produção mínima recomendada é de 60.000 Toneladas/ano (IBMA,1993).

A fábrica de Dióxido de Titânio (TiO2) adquirida pela Millennium em 1998, situa-se na

rodovia BA-099, em Camaçari, na Bahia, com área construída de 53.428 m2, entrada em

operação em 1971, capacidade de produção nominal anual de 60 mil toneladas/ano e utilização de

processo sulfato para obtenção do dióxido de titânio à partir da ilmenita (MILLENNIUM, 2003).

A Millennium, atualmente, possui 554 funcionários, sendo 270 operadores de produção, o

faturamento bruto em 2002 foi de R$ 441.161.291,01 e o lucro de R$ 50.739.000,00, para a

produção de 50.440 toneladas (MILLENNIUM,2003).

O trabalho realizado analisa as conseqüências da reestruturação produtiva empreendida

pela Millennium sobre a qualificação de operador de produção do site da Millennium na Bahia.

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Figura 1 – Vista Aérea da Millennium Chemicals, Bahia – 2002

Conforme entrevistas com os gerentes de produção, este processo de reestruturação

produtiva desta fábrica teve início em 1990, quando ainda era controlada pela joint-venture dos

grupos Bayer e Andrade Gutierrez.

Portanto a análise do impacto da reestruturação produtiva iniciada em 1990, sobre a

qualificação requerida para função de operador, em função do papel preponderante destes

trabalhadores para a produção certamente contribuirá para o esclarecimento do processo de

reestruturação como um todo.

4.2 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DA MILLENNIUM CHEMICALS

A seguir serão apresentadas as principais inovações tecnológicas e organizacionais

implementadas na Millennium Chemicals – Site da Bahia, a partir de 1990, até 2002. Os dados

apresentados foram obtidos em entrevistas com os gerentes das áreas de Produção, Manutenção e

Recursos Humanos em entrevistas estruturadas com questionário.

O site da Bahia da Millennium quando iniciou a sua reestruturação produtiva em 1990, ,

ainda era pertencente aos grupos Andrade Gutierrez e BAYER, tendo como razão social o nome

TIBRÁS.

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30

Portanto de 1990 até 1998, o processo de reestruturação foi conduzido conforme

orientação dos grupos Andrade Gutierrez e BAYER, passando então para a condução da

Millennium .

4.2.1 PROCESSO PROUTIVO DA MILLENNIUM CHEMICALS

A Millennium Chemicals produz dióxido de titânio a partir da ilmenita, utilizando a

tecnologia sulfato para separar o titânio das impurezas. Este processo simplificadamente ,

consiste em: separação titânio, extração do dióxido de titânio, lavagem e tratamento para

aumentar seu desempenho como pigmento, secagem, micronização e embalagem e despacho. O

diagrama de blocos abaixo apresenta esquematicamente as etapas e a seqüência do processo

utilizado pela Millennium (tecnologia Sulfato).

Figura 2

Diagrama de blocos – Processo Sulfato

S u l f a t i o n S u l p h u r i c A c i d

O r e I m p o r t( s l a g a n di l m e n i t e )

R e d u c t i o n

S u l f a t i o n G a sS c r u b b i n g

H y d r o g e nd i s p e r s i o n

C l a r i f i c a t i o n R e s i d u e f i l t r a t i o n& t r e a t m e n t

C r y s t a l l i s a t i o n( i l m e n i t e o n l y )

N e u t r a l i s e dR e s i d u eD i s p o s a l

C o p p e r a sF i l t r a t i o n

H y d r a t eP r e c i p i t a t i o n( H y d r o l y s i s )

S e e d N u c l e i

F i l t e r / W a s hA q u e o u s a c i d i c w a s t e

( t o r e c y c l e o rn e u t r a l i s a t i o n )

C a l c i n a t i o n C a l c i n e r g a ss c r u b b i n g

F i n i s h i n g F i n a l T i O 2P r o d u c t

R e c y c l e d a c i d

N e w a c i d

G y p s u mM a n u f a c t u r e

( N e u t r a l i s a t i o n )

A c i dR e g e n e r a t i o n

Em função do seu processo produtivo, a Millennium têm como principais fatores

impactantes em sua operação:

i) Variações grandes de teor de titânio na ilmenita

ii) Grande geração de resíduos sólidos

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iii) Variação de tempos de residência nas diferentes etapas (sulfatação, calcinação e etc.)

iv) Necessidade de obtenção de produto final dentro de rígidas especificações(teor de

brancura de 99%)

v) Dificuldades técnicas de instalação de instrumentos em todas as etapas do processo.

vi) Dificuldade de modelagem computacional do processo, em função do elevado grau de

incertezas, tais como: teor de titânio da ilmenita, umidade da matéria prima e etc.

Estes pontos serão fortes condicionantes do processo de reestruturação produtiva da

Millennium, o qual buscará:

i) Reduzir a emissão de resíduos sólidos em efluentes

ii) Instalação de instrumentos, onde possível para aumentar a capacidade de monitoramento.

iii) Redução de pessoal, sem, contudo atingir índices similares aos das novas indústrias,

devido ao alto custo automatizar completamente equipamentos obsoletos (idade superior a 30

anos) de etapas importantes do processo.

A Millennium em seu organograma distingue três grandes áreas de produção :

i) Área A – Compreendendo as áreas de processo da Recepção de matéria-prima (ilmenite

Ore Import) até a Filtração (FilterWash) inclusive.

ii) Área B – Compreendendo as áreas de processo da Calcinação (Calcination) e Tratamento

de Efluentes.

iii) Área C – Compreendendo as áreas de processo de Moagem até Produtos acabados

(finshing).

Gerencialmente, a Millennium possui em sua estrutura, três gerências de produção:

i) DIFA-I (Divisão de Fabricação – I ), responsável pela área A.

ii) DIFA-II(Divisão de Fabricação – II), responsável pelas área B e C.

iii) DIFA-III (Divisão de Fabricação – III ), responsável pelo fornecimento de utilidades

(vapor, energia elétrica, água gelada, ar comprimido, água bruta e gás natural) e pela produção

de ácido sulfúrico.

4.2.2 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS

Conforme entrevistas, a TIBRÁS (posterior Millennium Chemicals), deu início ao

processo de reestruturação produtiva em 1990, após ter pela primeira vez amargado prejuízo em

1989.

As principais inovações tecnológicas incorporadas ao processo produtivo foram:

i) Substituição de instrumentos analógicos e pneumáticos por outros digitais, de maior

precisão, menor manutenção e maior capacidade de comunicação/ integração.

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ii) Instalação de válvulas de controle, para permitir através do telecomando, o controle das

variáveis de operação e processo.

iii) Maior monitoração, através de sistemas digitais de monitoramento e controledas emissões

atmosféricas.

iv) Modificações nos circuitos de água, tornando-os fechados, reduzido os volumes

consumidos e derramamentos nas áreas.

v) Instalação de SDCD´s para controle e monitoramento das áreas A e B, PLC

(Controladores Lógico-Programaveís) nas áreas de utilidades, Tratamento Ácido e

Micronização.

vi) Modernização de acionamentos elétricos, com instalação de inversores de freqüência de

forma a permitir ajustes de rotação de bombas, ventiladores e etc.

vii) Associação com A KEMIRA, para implantação de planta para processamento e

comercialização de sulfato ferroso, utilizado no tratamento de água, reduzindo a emissão de

ferro nos efluentes.

viii) Modificação em acionamentos de pontes rolantes, com adoção de controle remoto,

eliminando atividades que exigiam maior força física dos operadores da Filtração Moore e

utilização de blocos de comando.

ix) Instalação de câmeras de vídeo em diversos pontos de forma a permitir aos operadores

monitorarem as áreas à partir das salas de controle.

x) Adoção de fardamentos resistentes a ataques químicos e chamas em áreas onde são

maiores estes riscos (Sulfatação, Redução e etc)

xi) Implantação de sistema de controle de processo – PI, o qual permite através da rede de

informática, o acesso remoto e visualização de todas as grandezas disponíveis nos SDCD´s

(vazões, pressões, volumes produzidos e etc.) em qualquer computador habilitado da fábrica

ou até mesmo externo a ela.

xii) Substituição de óleo BPF por gás natural, proporcionando redução de emissões

atmosféricas, eliminação de tanques e tubulações, além de melhor controle das queimas nos

moinhos e calcinadores, caldeiras e secadores.

Este conjunto de medidas importou em investimentos de mais de US$ 10.000.000,00 ao

longo deste período de 1990 até 2002.

De forma a ilustrar o impacto da incorporação de inovações, apresentaremos a

implantação de ensacadeira automática na seção de produtos acabados. Esta inovação possibilitou

a dispensa/relocação de 10 empregados (2 por turno), pois anteriormente um enchia o saco de

produto e passava para outro que pesava e completava o enchimento, sendo gasto uma média de

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um minuto e meio no processo. Após a automação, a intervenção do operador resumiu a

colocação de fardos de 280 sacos para alimentação da ensacadeira, sendo as operações restantes

todas automáticas (enchimento, pesagem, fechamento), reduzindo o tempo de ciclo para 15

segundos. Com isto apenas acrescentou-se esta função ao operador da área , que a executará entre

outras de suas tarefas.

Portanto no caso do ensacamento, substituíram-se dois operários por turno, os quais

trabalhavam dentro da concepção Taylorista, de forma fragmentada e executando operações

mecânicas e repetitivas, por um sistema automático, com mínima intervenção humana, executada

por um operador multifunção ou polivalente que executa esta tarefa dentre outras.

Figuras 3,4,5,6 – Etapas do processo de ensacamento de produto final - 1990

Início do enchimento da embalagem Finaliza enchimento da embalagem

Outro trabalhador inicia pesagem Complementa enchimento e finaliza pesagem

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Figuras 7,8 – Etapas do processo implementado de ensacamento de produto final - 1998

4.2.3 INOVAÇÕES DE GESTÃO

Conforme as entrevistas realizadas, a adoção das inovações técnicas foram acompanhadas

por mudanças de gestão, podendo ser elencadas como principais, as seguintes inovações de

gestão:

Enchimento, pesagem e finalização do processo

Início do processo

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i) Implantação de ISO 9001 e posteriormente 9001/2000, buscando manter a

competitividade em exportações, mercado interno e atingimento de excelência em qualidade

de produtos e serviços.

ii) Redução de níveis hierárquicos, com eliminação de cargos como auxiliar de produção.

iii) Downsizing com redução do contigente de empregados diretos de 1070 em 1990, para 580

em 2002.

iv) Incorporação de atividades anteriormente da área de manutenção pela produção (troca de

gaxetas de bombas, eliminação de pequenos vazamentos, montagem de andaimes)

v) Incorporação de atividades de controle de processos, executadas em mini-laboratórios nas

áreas de produção, anteriormente executadas pela divisão de Laboratório no laboratório

central,

vi) Terceirização de atividades não pertencentes ao núcleo do processo produtivo (core) :

vigilância patrimonial, refeitórios, empacotamento de produto, manuseio de cargas

(empilhadeiras), carga e descarga de caminhões na recepção de matérias-primas e despacho de

produtos finais, manutenção preventiva de diversos equipamentos.

vii) Lançamentos de novos produtos de dióxido de titânio para atender nichos de mercado

viii) Maior ênfase em segurança com adoção do programa STOP da DuPont,

ix) Obrigatoriedade de emissão de permissão de trabalho, com de acordo da operação para

execução de atividades que envolvam riscos.

x) Implantação de Engenharia de Segurança do Processo, a qual através de SMP (Solicitação

de mudança de Processo), registra, controla e analisa todas as alterações efetuadas no processo

e nas instalações de produção.

xi) Implantação de programa Six Sigma que utiliza ferramentas estatísticas para buscas de

otimização de processos e qualidade

xii) Implantação de programa de participação nos lucros (PLR) atrelado a índices de

desempenhos (Kpi´s) de segurança e qualidade.

xiii) Maior foco em questões ambientais reduzindo emissões de sólidos, firmando parcerias

com cerâmicas para aproveitamento dos mesmos no fabrico de tijolos.

xiv) Implantação de programa de HouseKeeping e Gerenciamento de resíduos sólidos.

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4.3 IMPACTOS DA REESTRUTURAÇÃO SOBRE O PERFIL DE QUALIFICAÇÃO DOS OPERADORES DE PROCESSO DA MILLENNIUM

De forma a permitir melhor compreensão dos impactos da reestruturação produtiva

empreendida pela Millennium, será apresentado com bases nos depoimentos coletadas as

qualificações e atividades desempenhadas pelos operadores de processo nos momentos anterior e

posterior à reestruturação

4.3.1 PERFIL ANTERIOR DE QUALIFICAÇÕES

Em 1990, antes da introdução da inovações tecnológicas e de gestão, os operadores de

produção executavam basicamente as funções operacionais, conforme um dos entrevistados 80%

do tempo era despendido em operações braçais e 20% em controle. Podemos citar como

principais atividades :

i) Acionamento manual de válvulas

ii) Controle manual de dosagem de produtos

iii) Anotações das grandezas indicadas nos diversos instrumentos com indicação nas área.

iv) Totalização dos valores anotados manualmente ao longo do turno

v) Carga e descarga de matérias-primas e produtos

vi) Verificação de níveis de tanques

vii) Coletas de amostras ao longo do processo para análise laboratorial no Laboratório Central.

Além disto foi informado nas entrevistas que a exigência por qualificação formal era

baixa, admitindo-se operadores apenas com o curso fundamental (primário), o aperfeiçoamento

profissional era muito baseado na aprendizagem prática.

Até 1990, existiam os seguintes níveis hierárquicos para o cargo de Operador de processo:

i) Auxiliar de Operação

ii) Operador I

iii) Operador II

iv) Operador de Setor

v) Operador Volante

vi) Operador Chefe

vii) Supervisor de Operação

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As fotografias acima evidenciam que as salas de controle possuíam indicadores

analógicos, alguns alarmes, evidenciando a impossibilidade de controle à partir das salas, sendo

necessária atuação local.

4.3.2 PERFIL ATUAL DE QUALIFICAÇÕES

Com base nas entrevistas, observamos modificações nas atividades e qualificações

necessárias para o exercício da função de operador de processo. Conforme as entrevistas, as

maiores alterações foram:

i) Telecomando da maior parte das válvulas, acionando manualmente em casos de by-pass

ou manutenção.

ii) Controle remoto de dosagem de produtos através de sistema supervisório (SDCD)

iii) Acompanhamento das grandezas indicadas nos diversos instrumentos através de sistema

supervisório.

iv) Análise dos valores armazenados no sistema supervisório, ao longo do turno, com

utilização de ferramentas de tendências para garantia de qualidade e volume de produção ao

longo do processo.

v) Supervisão de carga e descarga de matérias-primas e produtos feita por terceiros

vi) Acompanhamento dos níveis de tanques através de sistema supervisório

vii) Coletas de amostras ao longo do processo e realização de análise laboratorial nos mini-

laboratórios das áreas, pois com o acompanhamento de grandezas é possível estimar

parâmetros com maior segurança e atuar de forma mais rápida e eficaz no processo.

viii) Execução de diversas tarefas de manutenção preventiva (pequenos vazamentos,

lubrificação de bombas e etc.)

Figuras 9 e 10 – Salas de Controle – TIBRÁS (posterior Millennium), 1990

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ix) Grande envolvimento em programas de meio-ambiente

x) Forte comprometimento com a segurança, participando das liberações de serviços, sendo o

responsável pela segurança da área onde trabalha.

xi) Participação em Análises de Riscos de Processo (PHA) de sua área de produção, de forma

a incorporar aos projetos de implantação e melhorias, sugestões que aumentem a segurança e

facilidade operacional.

xii) Execução de atividades de housekeeping

xiii) Forte comprometimento com a qualidade (ISO 9000/2000), participando na elaboração de

procedimentos. Sendo responsável pelo cumprimento de rotinas e procedimentos previstos

nos manuais de qualidade.

Atualmente observa-se grande mudança no tocante a qualificação formal, sendo dada

preferência a profissionais com curso técnico (mecânica, elétrica, química e etc), podendo se

registrar a presença de diversos operadores com nível superior e até mesmo pós-graduação.

Ë conveniente ressaltarmos que conforme os depoimentos, o cargo de operador de

processo ainda comporta diferentes níveis:

i) Operador Trainee

ii) Operador I

iii) Operador Trainee II

iv) Operador II

v) Líder de Operação

vi) Técnico de Operação

Utilizando o conceito de competência, como articulação de um saber, de um saber-fazer e

de um saber-ser, cada um representativo de um determinado tipo de habilidades, com base nas

entrevistas pode se analisar as habilidades e competências exigidas dos operadores :

i) O Saber

Em função das inovações tecnológicas de controle e monitoramento, foi considerado

imprescindível que operadores tanto, nas salas de controle, como nas áreas de campo, possuem

familiaridade com a linguagem digital e com equipamentos informatizados (computador,

controladores e etc). Em função disto, a Millennium têm dado preferência nas novas contratações,

a formação escolar nível de curso técnico em Mecânica, Eletrônica, Eletrotécnica, ou Química.

Os entrevistados consideraram fundamental os operadores possuírem: capacidade de saber

interagir com situações representadas em linguagem digital, desenvolvimento de atitude proativa

às mudanças, visão global do processo, conhecimento de operações unitárias, conhecimento de

química básica, capacidade de leitura e interpretação de manuais contendo gráficos e séries

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históricas, capacidade de elaboração de relatórios e de aprendizagem de novos conhecimentos

transmitidos nos treinamentos.

ii) O Saber-Fazer

Com relação ao saber-fazer, os depoimentos coletados apontaram que de forma similar ao

saber, é essencial que os operadores de produção busquem a constante atualização do mesmo,

uma vez que os softwares e hardwares de controle, processo e operação se encontram em

constante aperfeiçoamento. Portanto, não é suficiente que o operador reaprenda a fazer, é preciso

que ele esteja constantemente ajustando sua prática.

Outra habilidades associadas ao novo saber-fazer destacadas foram: capacidade de

organização, uso proativo do tempo, capacidade de contribuir com sugestões criativas que

impliquem em simplificação do trabalho e melhorias do processo.

Observou-se também nas entrevistas, que para os gerentes, o tempo de serviço perdeu

valor como símbolo maior de proficiência, principalmente por que em certos casos o saber-fazer

antigo dificulta a aprendizagem do novo saber-fazer.

iii) O Saber-Ser

De acordo com os depoimentos, a necessidade de atualização constante, exige dos

operadores uma postura, uma atitude mental proativa ao conhecimento, donde a importância

atribuída à habilidade ou atitude de "aprender a prender". Entre outras habilidades do saber-ser

que foram apontadas estão: participação, autonomia e iniciativa.

Portanto, conforme as entrevistas, o perfil ideal de operador segundo as três dimensões da

qualificação (o saber, o saber-fazer e o saber-ser), é o daquele operador que assimilou a

informática e desenvolveu um comportamento proativo ao conhecimento, estabelecendo outro

tipo de relação com a empresa, fundamentada no comprometimento com os objetivos da mesma.

Os entrevistados observaram que o operador comprometido, além demonstrar uma boa

performance nas tarefas que lhe são formalmente atribuídas, busca outras e, se possível, antecipa

soluções, preferencialmente baratas, para situações que possam vir a ser um problema, além de

estar engajado mos programas de segurança, meio-ambiente.

Ë notável portanto que em relação ao perfil anteriormente requerido, na dimensão saber-

ser,a atual busca de melhoria constante que se deseja dos operadores, substituiu a valorização

anteriormente dada à disciplina e à obediência. Além disto, observa-se uma maior valorização de

qualificação da dimensão saber, pois aumentou a exigência de nível mínimo de educação formal,

passando de primeiro grau para nível técnico. Já na dimensão saber-fazer, esta habilidade adquiriu

caráter mais dinâmico em função das constantes atualizações de hardware e software , deixando

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de se valorizar a habilidade adquirida pela repetição manual de tarefas ao longo dos anos de

serviço.

Não foi possível levantar com exatidão, todas as informações acerca do quadro de pessoal

em 1990, desta forma apresentaremos apenas os dados levantados em 2002 e fornecidos pelo

Departamento de recursos Humanos da Millennium, os quais apesar de não serem referentes

apenas à operação, fornece boa indicação acerca funcionários alocados neste setor (62% do total

de empregados).

O primeiro gráfico é referente ao nível de escolaridade dos funcionários da Millennium,

através do mesmo podemos aferir que apenas 9% do contingente da empresa não possui 2o grau

completo, o que indicativo da preferência por funcionários com maior qualificação formal dos

funcionários para lidar com as inovações tecnológicas e de gestão. De acordo com as entrevistas,

em 1990 havia maior concentração de funcionários com apenas o primeiro grau completo, sendo

que a medida que foi sendo implementada a reestruturação produtiva, foi aumentando a

preferência por funcionários com maior qualificação formal..

Gráfico 2 – Empregados X Nível de Escolaridade

O segundo gráfico é referente à distribuição dos empregados por faixa etária, onde pode

ser aferido que a empresa apesar de seus mais de 30 anos de existência possui um contingente de

empregados relativamente jovem, com a maioria (81%) com idade inferior a 45 anos.

16%

12%

64%

3%

3%

3%

0%Analfabeto

1º Grau Incompleto

1º Grau

2º Grau Incompleto

2º Grau

UniversitárioIncompleto

Universitário

Fonte : Levantamento de dados Dep. Recursos Humanos - Millennium , 2003

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Gráfico 3 – Empregados X Faixas Etárias (Anos)

Outro aspecto importante é o da rotatividade de mão-de-obra, onde conforme o gráfico 5,

pode-se observar que 70% dos empregados da Millennium estão na empresa, no máximo há 15

anos, logo dentro do período analisado (1990-2003), ocorreu forte renovação do quadro de

pessoal, o que é coerente com a necessidade de maior qualificação para lidar com as inovações

tecnológicas e de gestão implementadas pela Millennium em seu processo de reestruturação

produtiva.

Gráfico 4 – Empregados X Tempo de Serviço na Empresa (Anos)

22%

28%

20%

8%

12%

8%

1%

Até 5 5 to 10 10 to 15 15 to 20 20 to 25 25 to 30 Acimade 30

Fonte : Levantamento de dados Dep. Recursos Humanos - Millennium , 2003

5%

41%

35%

18%

2%

Até 25 de 25 a 35 de 35 a 45 de 45 a 55 Acima de 55

Fonte: Levantamento de dados Dep. Recursos Humanos - Millennium , 2003

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A seguir, são apresentadas telas de sistema supervisório e foto atual de uma das salas de

controle:

Figura 12 – Tela de Sistema Supervisório de Operação(Millennium,2002)

Figura 11 – Sala de controle em 2002

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43

Figura 13 – Tela de Sistema Supervisório de Operação (Millennium, 2002)

Portanto conforme as figuras acima atestam, atualmente é possível os operadores à partir

das salas de controle, monitorarem, controlarem e intervirem no processo através comandos no

sistema supervisório (ligar, desligar, dosar e etc.), dispensando muitas das operações

anteriormente efetuadas localmente. Além disto, o software permite a verificação de séries

históricas de registro e a elaboração de relatórios de tendências com grande facilidade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto anteriormente, podemos constatar que efetivamente ocorreu

reestruturação produtiva na Millennium, havendo implementação de mudanças de cunho

tecnológico no processo acompanhadas de inovações de gestão.

Este processo provocou diversos impactos na Millennium, podendo os reflexos serem

percebidos em diversos itens, tais como :

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44

Tabela 1 – Dados comparativos da Millennium

Descrição 1990 2002

Total empregados 1.170 554

Total empregados na Operação 543 343

Total empregados na Manutenção 340 128

Produção 46.139 Ton 49.064 Ton

Faturamento (moeda da época) Cr$ 6.674.752.367,84 R$ 320.682.000,00

Lucro Líquido Cr$ 441.161.291,01 R$ 50.739.000,00

Lucratividade (Lucro / Faturamento ) 4,34 % 15,82 %

Fonte : Entrevistas, levantamentos nos setores de Recursos Humanos e Financeiro (2003),

Relatório da Administração (MILLENNIUN,2003)

Diante do exposto anteriormente, podemos constatar que a reestruturação produtiva

ocorrida na Millennium Chemicals implicou em :

i) Aumento substancial de lucratividade , passando de 4,34% para 15,82% do faturamento

bruto.

ii) Ocorreu redução no quadro de pessoal , passando no total de 1.170 funcionários para 554.

Já na Operação a redução de funcionários foi de 543 para 343.

iii) Incorporação pelos operadores de atividades, anteriormente executadas pela manutenção.

iv) Mudança de exigência de qualificação formal dos operadores, passando da exigência de

ter cursado o ensino fundamental para nível técnico.

v) Participação dos operadores em diversos programas como manufacturing to target, ISO

9001/2000 e etc.

Portanto foi aferido das entrevistas que os operadores de processo da Millennium , que os

operadores em todos os níveis passaram a realizar diferentes tarefas, porém, com controle restrito

sobre o próprio trabalho, ocorrendo extensão de tarefas, porém sem um aprofundamento real da

qualificação, podemos ser considerada a ocorrência da multifuncionalidade em todos níveis

hierárquicos.

Principalmente nos mais baixos níveis, a especialização flexível limitou-se a

multifuncionalidade, pois os operadores saíram de uma condição taylorista de trabalho,

fragmentada, com operações mecânicas, repetitivas e manuais para uma condição de desempenho

de diferentes tarefas em condições diferentes.

Já a polivalência ocorreu nos níveis hierárquicos mais elevados (Operador II, Líder de

Operação, Técnico de Operação), devido ao acréscimo de tarefas e funções, de dificuldade

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levemente superior, que ampliaram os cargos, proporcionando um controle maior sobre o

trabalho, controle este ainda restrito a situações imediatas de trabalho.

Desta forma, para os níveis hierárquicos mais elevados é requerido dos operadores, que os

mesmos possuam capacidade de adaptação às mudanças, possibilidades de lidar com regras e

normas em situações diferenciadas, curiosidade a aprender, motivação, iniciativa, atenção,

responsabilidade, etc, caracterizando a ocorrência de polivalência.

Não pode ser considerada a ocorrência de politecnia, pois os operadores mesmos nos

níveis hierárquicos mais elevados, continuaram sem assumir responsabilidades pessoais frente às

situações produtivas (a partir de si e de eventos que ocorrem de forma imprevista), não ocorrendo

a mobilização da inteligência e subjetividade dos mesmos, no sentido de um exercício

sistemático de uma reflexividade no trabalho, ou seja os operadores ainda não se distanciam de

forma crítica do trabalho.

5.1 DESDOBRAMENTOS

Dentre os trabalhos que podem ser desenvolvidos de forma a aprofundar este trabalho,

podem ser sugeridos :

i) Impactos da reestruturação produtiva na qualidade de vida dos operadores de produção

ii) Impactos no perfil de qualificação do corpo gerencial das indústrias após a reestruturação

produtiva

iii) Impacto da reestruturação produtiva na participação feminina na área de produção das

indústrias

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ANEXO I – QUESTIONÁRIO

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53

Camaçari, 28 de Março de 2003 Universidade Federal da Bahia Escola de Administração Núcleo de Pós-Graduação em Administração - NPGA Programa de Capacitação Profissional Avançada Autores : Carlos Rogério Freire de Carvalho

Fabiana Perez José Nigro Maria Isabel Costa Kenny

PESQUISA

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E O DESAFIO DA ESPECIALIZAÇÃO

FLEXÍVEL DE OPERADORES DA INDUSTRIA QUÍMICA

Prezado Senhor , Esta pesquisa é parte integrante de trabalho de monografia a ser apresentada para conclusão do curso de especialização em Administração de Empresas – CPA/UFBA. Esta pesquisa busca levantar as atividades e qualificações requeridas para a função de Operador de Indústria Química antes e após o impacto da reestruturação produtiva promovida pela adoção de novas tecnologias (automação e etc.) e novas formas de gestão (reengenharia, qualidade total e etc.) Portanto ao longo do questionário serão referenciados os momentos anterior e atual, tendo por base os impactos desta reestruturação. Este questionário servirá de base para entrevista que posteriormente realizaremos com o senhor. Agradecemos sua colaboração. A) Dados do Entrevistado Nome :

1) Escolaridade: 2) Idade : anos

( ) Superior –

3) Sexo : ( ) Masculino ( ) Feminino

( ) Pós –Graduação -

4) Ano de ingresso na empresa :

B) Descreva brevemente sua trajetória na empresa à partir de 1990 até os dias atuais :

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C) Informe quais as modificações de cunho tecnológico que foram introduzidas no processo

produtivo à partir de 1990 (SDCD,CLP e etc.) D) Informe quais as modificações foram introduzidas na gestão do processo produtivo à partir de

19901 (GQT - Gestão pela Qualidade Total, TPM - Manutenção da Produtividade Total, 3 CCQ, Reengenharia ,Multi Skill – Polivalência, Seis Sigma e etc.)

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E) Quais atividades eram executadas pelos operadores em 1990 (processo, manutenção,

segurança, meio ambiente, housekepping e etc.). F) Em sua opinião quais era o perfil mínimo de qualificação requerido para a função de operador

em 1990 (nível educacional, conhecimentos gerais e específicos, competências, atitudes, posturas e etc.).

G) Em sua opinião quais é o perfil mínimo de qualificação atualmente requerido para a função

de operador (nível educacional, conhecimentos gerais e específicos, competências, atitudes, posturas e etc.).

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H) Em sua opinião quais os maiores benefícios advindos desta reestruturação produtiva? I) Em sua opinião quais os maiores impactos negativos advindo desta reestruturação produtiva? J) Em sua opinião quais foram as maiores mudanças ocorridas no perfil de qualificação

requerida para a função de gerente de produção após a reestruturação ? Grato pela participação.