monografia psicopedagogia

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ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL – ESAB CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICO-INSTITUCIONAL RONNE VON DE MEDEIROS DANTAS MOTIVOS DA EVASÃO DOS ALUNOS DA EJA DA E. E. ISABEL OSCARLINA MARQUES VILA VELHA – ES 2010

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  • ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL ESAB CURSO DE PS-GRADUAO LATO SENSU EM

    PSICOPEDAGOGIA CLNICO-INSTITUCIONAL

    RONNE VON DE MEDEIROS DANTAS

    MOTIVOS DA EVASO DOS ALUNOS DA EJA DA E. E. ISABEL OSCARLINA MARQUES

    VILA VELHA ES 2010

  • RONNE VON DE MEDEIROS DANTAS

    MOTIVOS DA EVASO DOS ALUNOS DA EJA DA E. E. ISABEL OSCARLINA MARQUES

    Monografia apresentada ao Curso de Ps-Graduao em psicopedagogia Clnico-institucional da Escola Superior Aberta do Brasil como requisito para obteno do ttulo de Especialista em Psicopedagogia, sob orientao do Prof.: Ms. Alosio Silva.

    VILA VELHA ES 2010

  • RONNE VON DE MEDEIROS DANTAS

    MOTIVOS DA EVASO DOS ALUNOS DA EJA DA E. E. ISABEL OSCARLINA MARQUES

    Aprovada em_____de______de 2011.

    Banca Examinadora

    _____________________________________

    Alosio Silva

    _____________________________________

    Beatriz Christo Gobbi

    _____________________________________

    Luciana Genelh Zonta

    VILA VELHA ES 2010

  • No possvel ao sujeito tico viver sem estar permanentemente exposto transgresso da tica. Uma de nossas brigas na Histria, por isso mesmo, exatamente est: fazer tudo o que possamos em favor da eticidade, sem cair no moralismo hipcrita, ao gosto reconhecidamente farisaico. Paulo Freire.

  • RESUMO

    Palavras-chave: EJA, evaso e metodologia.

    Este trabalho de concluso de curso resultado do trabalho de pesquisa realizado na Escola Estadual Isabel Ocarlina Marques, localizada na cidade de Santa Cruz/RN onde procuramos diagnosticar os motivos do elevado ndice de evaso na Educao de Jovens e Adultos desta escola. No referencial apresentamos vrios temas relacionados a essa temtica como os principais problemas da educao e a histria da EJA no Brasil. Por fim, diagnosticamos que a evaso est ligada diretamente com a inexistncia de aes metodolgicas.

  • SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................................. 07 CAPLULO 1 PRINCIPAIS DESAFIOS DA EDUCAO BRASILEIRA....... 10 1.1 ANALFABETISMO .................................................................................. 10 1.2 REPETNCIA ......................................................................................... 12 1.3 EVASO ................................................................................................. 14 CAPTULO 2 HISTRIA DA EJA NO BRASIL ............................................. 16 CAPTULO 3 MEDOLOGIAS DA EJA .......................................................... 25 3.1 O EDUCADOR ....................................................................................... 28 3.2 EVASO NA EJA ................................................................................... 30 3.3 AVALIAO ........................................................................................... 32 CAPTULO 4 EDUCAO POPULAR ......................................................... 33 4.1 EJA NA E. E. ISABEL OSCARLINA MARQUES..................................... 34 CONCLUSO ................................................................................................... 41 REFERNCIAS ................................................................................................ 43

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    INTRODUO

    A evaso escolar em qualquer nvel de ensino um desafio para os profissionais da educao e uma chaga no nosso sistema de ensino. Nmeros da evaso no Brasil mostram que a todo ano milhares de crianas e adolescentes deixam as salas de aulas pelos mais diversos motivos.

    A evaso escolar concretizada quando o aluno deixa de freqentar as aulas no decorrer do ano letivo. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Ansio Teixeira - INEP-, a cada 100 alunos que se matriculam na 1 srie do Ensino Fundamental, apenas 5 deles conseguem concluir o curso. No ano de 2007, 4,8% dos alunos desse ensino deixaram a escola. Parece ser um percentual pequeno, mas corresponde a quase um milho e meio de alunos. No Ensino Mdio esse percentual chega a 13%.

    A maioria desses alunos retornaram s salas de aulas com uma defasagem idade/srie que inevitavelmente, os trar conflitos variados e mais uma vez evaso. neste contexto que est inserida a Educao de Jovens e Adultos, para atender a essa clientela to diversa e de interesses distintos. As causas da evaso na EJA, como aponta nosso referencial, so diversas, como diversa a sua clientela, como por exemplo problemas socioeconmicos, falta de qualificao dos profissionais e metodologias inadequadas.

    , portanto, objetivo deste trabalho cristalizar as causas da evaso da EJA da Escola Isabel Oscarlina Marques e para atingir esse objetivo coletamos dados junto secretaria da escola (ficha de matricula e livro de registro). Aplicamos questionrios e entrevistas junto a professores, apoio pedaggico e alunos desistentes e no desistentes. Os questionrios e as entrevistas foram aplicados com todos os professores e o apoio pedaggico. J com os alunos desistentes a amostra foi de 2%. 5% dos alunos que estavam freqentando compuseram a amostra.

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    No referencial terico traremos um quadro dos principais desafios da educao brasileira: Analfabetismo, evaso e repetncia dando enfoque a EJA. Faremos um apanhado dos primrdios da EJA no Brasil, sua origem, seu desenvolvimento e seus desafios no contexto atual. O principal desafio que enfocaremos, evidentemente, ser a evaso nessa modalidade de ensino. Todo esse contingente de Jovens e Adultos que hoje esto fora da sala de aula um dia sentiro as conseqncias da falta de escolarizao, seja pela necessidade do dia-a-dia, seja por exigncia do mercado de trabalho por um diploma.

    A EJA vem exatamente atender a esse pblico que historicamente ficou esquecido. Este trabalho, que tem por tema Motivos da Evaso na EJA, vem tentar contribuir com essa temtica da evaso, a medida que se prope a desvendar as causas do elevado ndice de evaso na Escola Estadual Isabel Oscarlina Marques que oferece Ensino Fundamental e Eja nos nveis IV e V, situada na cidade de Santa Cruz no Estado do Rio Grande do Norte. Assim nos propomos a responder a seguinte pergunta: Por que a evaso da EJA nessa Escola to elevada.

    A escola Estadual Isabel Oscarlina Marques foi fundada no ano de 1976. A escola oferece o Ensino Fundamental e referncia na cidade e na regio na Educao de Jovens e Adultos, sendo que esta ofertada no turno noturno. Atualmente a EJA da Escola Isabel Oscarlina conta com equipe de professores devidamente qualificada com formao na rea que atua. Tem apoio pedaggico e equipe administrativa completa.

    Todo o meu Ensino Fundamental (antigo 1 Grau) fiz na Escola Isabel Oscarlina, da pr a 8 srie (9 ano atualmente). L vivi parte da minha infncia e adolescncia. No curso de 2 Grau me formei em professor das sries inicias com o Curso de Magistrio. No Ensino Superior segui na rea da educao me formando em pedagogia. Em 2003 tive o prazer de retornar a essa escola na condio de funcionrio sempre trabalhando no turno noturno. Durante todos esses anos que trabalho nesta escola convivo com o problema da evaso na EJA. A cada ano o problema se repete.

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    No incio do ano as salas ficam lotadas e, s vezes, no possvel atender a todos que procuram vaga. importante lembrar que outra escola oferece a EJA nos Nveis II e III e a situao semelhante. No ano em curso o turno noturno da Escola Isabel Oscarlina iniciou suas atividades com cinco turmas e teve que reduzir para 3 devido evaso. Foram 250 alunos matriculados no incio no ano letivo; j o ms de novembro fechou com apenas 60 alunos. Essa situao sempre me revoltou, j que nenhuma medida eficaz desenvolvida para combater a evaso.

    Portanto neste contexto que este trabalho de concluso do Curso de ps-graduao em Psicopedagogia Clnico-Institucional dentro da rea de conhecimento de Educao, Teologia, psicopedagogia e Meio Ambiente da Escola Superior Aberta do Brasil ESAB que nos propomos a responder ao seguinte questionamento: Quais as causas do elevado ndice de evaso na Escola Isabel Oscarlina.

    Tambm nosso objetivo demonstrar numericamente qual o percentual de alunos que j deixaram a escola. Consultar os seguimentos da escola para evidenciar as causas do elevado ndice de evaso. Verificar se a escola desenvolve alguma ao pedaggica para combater a evaso e sugerir aes para que os vrios seguimentos da escola revertam ou diminuam a evaso.

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    CAPTULO 1 PRINCIPAIS DESAFIOS DA EDUCAO BRASILEIRA

    1.1 - ANALFABETISMO

    Historicamente a educao no Brasil um privilgio de poucos; quando da sua universalizao, educao de qualidade tornou-se num artigo de luxo, tambm de poucos e, sempre esteve relacionada ao valor do homem na sociedade.

    Para que aumentem as possibilidades individuais de educao, e para que se tornem universais, necessrio que mude o ponto de vista dominante sobre o valor do homem na sociedade, o que s ocorrer pela mudana de valorao atribuda ao trabalho. Quando o trabalho manual deixar de ser um estigma e se converter em simples diferenciao do trabalho social geral, a educao institucionalizada perder o carter de privilgio e ser um direito concretamente igual para todos (PINTO, 2000, p.37).

    O Brasil tem os maiores ndices de evaso e repetncia, ficando na 1 posio na Amrica Latina. Recentemente o Ministrio da Educao MEC- divulgou recentemente dados de um levantamento que mostra que o Brasil tem atualmente cerca de 16 milhes de analfabetos. Isso significa que essas pessoas so incapazes de ler e escrever um simples bilhete, os chamados analfabetos funcionais.

    Segundo a mesma pesquisa o mapa do analfabetismo no pas preocupante, apesar da reduo verificada nas ltimas dcadas. A pesquisa mostrou ainda que metade dos analfabetos se encontre em apenas10% dos municpios brasileiros, com maior evidencia nas capitais. O analfabetismo est diretamente relacionado com a pobreza e a raas historicamente discriminadas como as nos negros e a dos ndios.

    Abaixo desses bolses, formando a linha mais ampla do losango das classes sociais brasileiras, fica a grande massa das classes oprimidas dos chamados marginais, principalmente negros e mulatos, moradores de favelas e periferias da cidade. So os enxadeiros, os bias-frias, os empregados na limpeza, as empregadas domsticas, as pequenas prostitutas, quase todos analfabetos e incapazes de organizar-se para reivindicar. Seu desgnio histrico entrar no sistema, o que sendo impraticvel, os situa na condio da classe intrinsecamente oprimida, cuja luta ter de ser a de romper com a estrutura de classes. Desfazer a sociedade para refaze-la. (DARCY, 1995, p. 209).

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    O nordeste do pas e a populao negra registram os maiores ndices de analfabetismo como demonstram os grficos abaixo:

    Grfico 01

    Grfico 02

    A explicao do elevado ndice de analfabetos no Brasil est diretamente ligada as questes histricas como o tipo de colonizao do Brasil, a escravido, o poder nas mos de uma elite conservadora que se apoderou das riquezas do pas em benefcio prprio e polticas assistencialistas na rea educacional. Esse quadro comeou a mudar com a presso internacional e pelas novas exigncias do mercado de trabalho.

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    Tabela 01 Analfabetismo na faixa de 15 anos ou mais - Brasil - 1900-2000

    Populao de 15 anos ou mais Ano Total* Analfabeta* Taxa de Analfabetismo % 1900 9.728 6.348 65,3 1920 17.564 11.409 65 1940 23.648 13.269 56,1 1950 30.188 15.272 50,6 1960 40.233 15.964 39,7 1970 53.633 18.100 33,7 1980 74.600 19.356 25,9 1991 94.891 18.682 19,7 2000 119.533 16.295 13,6

    Fonte: IBGE - Censo Demogrfico 2000 * Em milhes

    1.2 REPETNCIA

    Recentemente a Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura Unesco - divulgou o relatrio de Monitoramento de Educao para 2010, e segundo esse relatrio a qualidade da educao no Brasil baixa, com destaque na educao fundamental e no ensino mdio. O relatrio da Unesco apresenta uma melhora no ensino entre 1999 e 2007. Percentualmente a repetncia no ensino fundamental brasileiro de 18,7%, sendo o mais alto da Amrica Latina e fica bem distante da mdia mundial que de apenas 2,9. 14% dos alunos brasileiros abandonam os estudos ainda no primeiro ano no ensino fundamental.

    A UNESCO apontou a baixa qualidade da educao brasileira pela situao atual. O ano mais crtico do Ensino fundamental o 6 ano (5 srie). A UNESCO aponta como causas desses elevados ndices a falta de estrutura como um todo do sistema de ensino, problemas de gesto, baixa qualificao profissional e metodologias inadequadas. Veja nos grficos abaixo a situao da reprovao no Brasil.

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    Grfico 03

    Brasil: O pas que mais reprova

    0,00%2,00%4,00%6,00%8,00%

    10,00%12,00%14,00%16,00%18,00%20,00%

    Mundo

    Am.

    Latina

    Argetina

    Portugual

    Haiti

    Brasil

    Fonte: MEC

    Tabela 02

    Crescimento da Reprovao no Brasil Ano % 1999 14,50% 2001 15,40% 2003 15,50% 2005 17,49%

    Fonte: MEC

    As conseqncias da reprovao so diversas e trgicas. Podemos citar a baixa auto-estima, distoro srie-idade, sob-emprego e aumento dos alunos na Educao de Jovens e Adultos. J a superao desse quadro depende da unio de foras de todos os seguimentos sociais e de determinao poltica como enfatiza o art. 8 da Declarao de Jomtien (1990, p. 10).

    Polticas de apoio nos setores social, cultural e econmico so necessrias concretizao da plena proviso e utilizao da educao bsica para a promoo individual e social. A educao bsica para todos depende de um compromisso poltico e de uma vontade poltica, respaldados por medidas fiscais adequadas e ratificados por reformas na poltica educacional e pelo fortalecimento institucional. Uma poltica adequada em matria de economia, comrcio, trabalho, emprego e sade incentiva o educando e contribui para o desenvolvimento da sociedade.

    Os elevados ndices de reprovao no Brasil resultado da falta de polticas educacionais adequadas diversidade econmica, cultural e social da nossa populao. A reverso dessa situao depende da compreenso que a educao a base para o desenvolvimento humano.

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    1.3 - EVASO

    A evaso escolar um problema endmico e antigo do Brasil. Todos os anos milhares de crianas e adolescentes passam por essa experincia danosa ao seu futuro e ao do pas. O problema que a evaso quase tida como comum entre os profissionais da educao, que no incio do ano letivo no se preocupam em lotar as salas de aulas j que sabem que muitos dos alunos desaparecero da escola. J o reflexo desse descaso sentido nas cadeias pblicas, penitencirias e centros de internao de adolescentes como salienta Murillo Jos Digicomo (2010, p. 1) Promotor de Justia integrante do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criana e do Adolescente do Estado do Paran:

    As conseqncias da evaso escolar podem ser sentidas com mais intensidade nas cadeias pblicas, penitencirias e centros de internao de adolescentes em conflito com a lei, onde os percentuais de presos e internos analfabetos, semi-alfabetizados e/ou fora do sistema de ensino quando da prtica da infrao que os levou ao encarceramento margeia, e em alguns casos supera, os 90% (noventa por cento).

    Segundo dados da Pesquisa Nacional por amostra de Domiclios (PNAD) do IBGE de 2004 e 2006 os principais motivos da evaso declarado foram:

    Tabela 03 Motivos para Evaso

    Motivos % Ajudar nos afazeres domsticos 3,68% Trabalho 20,69% Falta de transporte 1,11% Falta de dinheiro para se manter na escola 2,38% Falta de documentao 1,03% Falta de escola prxima 1,37% Falta de vaga 1,72% Concluiu a srie ou curso desejado 5,51% Doena 4,91% No quis frequentar 33,59% Expulso 0,49% Impedimento dos pais 0,34% Outro motivo 21,24%

    Fonte: IBGE

    Os dados da tabela abaixo mostram que as regies Norte-Nordeste lideram em reprovao e abandono.

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    Tabela 04

    Fonte: MEC

    Crianas e adolescentes vtimas do descaso de famlias e dos governos esto amparadas por leis como a Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB9394/96, Lei Darci Ribeiro) e o Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), que avanou na proteo e consolidao das polticas para essa populao. Crianas e adolescentes que faltam sem justificativa e a evaso escolar ferem os direitos das crianas e dos adolescentes.

    Assim obrigao de todos os profissionais da escola e da sociedade zelarem pela permanncia de crianas e adolescentes na escola, caso contrrio esses profissionais podem responder por negligncia. J a populao pode e deve contribuir denunciando ao conselho tutelar o no cumprimento desses direitos por parte da escola e da famlia.

  • 16

    CAPTULO 2 HISTRIA DA EJA NO BRASIL

    A histria da Educao de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil apresenta muitas variantes desde a colonizao brasileira, por estar fortemente relacionada s transformaes sociais, econmicas, polticas e culturais que moldaram os diversos momentos histricos do pas. Inicialmente a alfabetizao de adultos para os colonizadores, tinha como objetivo ensinar a ler e a escrever populao nativa e colonos. A inteno era que a populao pudesse ler o catecismo e seguir as ordens dos colonizadores. As aes de Educao de Jovens e Adultos no Brasil de uma forma sistemtica so recentes, entretanto no Brasil-colnia j se praticava, mas de uma forma assistemtica e religiosa.

    No Brasil Colnia, a referncia populao adulta era apenas de educao para a doutrinao religiosa, abrangendo um carter muito mais religioso que educacional. Nessa poca, pode-se constatar uma fragilidade da educao, por no ser esta responsvel pela produtividade, o que acabava por acarretar descaso por parte dos dirigentes do pas (CUNHA, 1999, p, 36).

    Segundo Paiva (1987), a Educao de Jovens Adultos nasceu no Brasil concomitantemente com a educao regular. Os jesutas buscavam atingir os pais, por meio dos seus filhos. Tambm Pela catequese dos indgenas adultos, a alfabetizao e a transmisso do idioma dos colonizadores serviam como instrumento de cristianizao e aculturao dos nativos.

    As polticas pblicas para essa populao comeam a se efetivarem apenas no Brasil Imprio com a oferta de cursos de alfabetizao no perodo noturno. Um estudo feito pelo ento ministro Jos Bento da Cunha Figueiredo, mostrou que em 1876 existia 200 mil alunos estudando, freqentando as salas de aulas noturnas. O desenvolvimento industrial do incio do sculo XX alavancou o ensino para jovens e adultos, no meramente com objetivos de formao para a cidadania, mas sim, para formao de mo de obra como mostra o texto da Proposta Curricular da EJA (1997, p. 30).

    A educao bsica de adultos comeou a delimitar seu lugar na histria da educao no Brasil a partir da dcada de 30, quando finalmente comea a se consolidar um sistema pblico de educao elementar no pas. Neste perodo, a sociedade brasileira passava por grandes transformaes,

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    associadas ao processo de industrializao e concentrao populacional em centros urbanos. A oferta de ensino bsico gratuito estendia-se consideravelmente, acolhendo setores sociais cada vez mais diversos.

    Na dcada de 40 o Governo brasileiro detecta um elevado ndice de adultos analfabetos no pas. Em 1945 chega ao fim a Ditadura Vargas e os ideais democrticos so renovados. Nesse mesmo ano a UNESCO (Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura) criada. neste contexto que no ano de 1947 o governo lana a 1 Campanha para jovens e adultos que tinha como objetivo alfabetiz-los no perodo de 3 meses.

    Depois, seguiria uma etapa de ao em profundidade, voltada capacitao profissional e ao desenvolvimento comunitrio. Nos primeiros anos, sob a direo do professor Loureno Filho, a campanha conseguiu resultados significativos, articulando e ampliando os servios j existentes e estendendo-os s diversas regies do pas. Num curto perodo de tempo, foram criadas vrias escolas supletivas, mobilizando esforos das diversas esferas administrativas, de profissionais e voluntrios. O clima de entusiasmo comeou a diminuir na dcada de 50; iniciativas voltadas ao comunitria em zonas rurais no tiveram o mesmo sucesso e a campanha se extinguiu antes do final da dcada. (Proposta Curricular, RIBEIRO et al, 1997, p. 25).

    Para Soares, 1996, a 1 Campanha teve dois motivos principais. O primeiro aconteceu logo aps a 2 guerra mundial quando a ONU Organizao das Naes Unidas fez vrias recomendaes aos pases membros, e uma das recomendaes foi a de implantao de polticas pblicas para a juventude. O segundo motivo est diretamente relacionado ao fortalecimento da democracia devido ao fim do Estado Novo. Democracia significa direitos, direito a votar, por exemplo; e para votar precisava ser alfabetizado. At 1889, as mulheres, os analfabetos, menores de 21 anos, soldados rasos, indgenas, etc no tinham direito ao voto.

    Apesar de, no fundo, ter o objetivo de aumentar a base eleitoral (o analfabeto no tinha direito ao voto) e elevar a produtividade da populao, a CEAA contribuiu para a diminuio dos ndices de analfabetismo no Brasil (VIEIRA, 2004, p. 19-20).

    Essa prtica de alfabetizao foi muito criticada principalmente pela precaridade de estrutura e pelo pouco tempo destinado alfabetizao. A concepo que se tinha era de que a popbreza que gerava analfabetos, mas a falta de educao que gera pobreza. Surge ento uma nova prtica pedaggica para alfabetizao baseada nas tearias de Paulo Freire. A pedagogia freriana se difernciava das demais por ligar

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    educao/alfabetizao com a problemtica social, era comprometida com a eduao de massa. Para Paulo Freire educao e alfabetizao se confundem.

    Para ele o homem deve assumir uma postura crtica sobre o seu contexto social em que vive, na tentativa de superar o estado de dominao em que se encontrra. Ele props um mtodo conscientizador onde A leitura do mundo precede a leitura da palavra, como destacou Freire nesta clebre frase. Assim Paulo Freire incubido de organizar em 1963 o novo Programa de Alfabetizao para Jovens e Adultos. Em 1964 esse program foi interrompido pelo Regime Ditatorial de 64 quando os militares tomam o poder e passam a controlar o pas at 1985. Os militares interomperm o programa de alfabetizao de Paulo Freire pois o mesmo era ameaador ao sistema militar por sua proposta ser conscientizadora e politizada.

    Para atender aos interesses dos militares foi criado no ano de 1967 o Movimento Brasileiro de Alfabetizao (MOBRAL), para atender a populao de 15 a 30 anos. O objetivo desse programa era repassar aos jovens o letramento e a leitura, escrita e clculo. Em 1971 foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educao, LDB 5692/71, que implantou o Ensino Supletivo, que dedicou um captulo para a EJA. Essa lei determinava que os cursos de supletivo deveriam integrar a iniciao no ensino de ler, escrever e contar e a formao profissional.

    Durante o perodo militar, a educao de adultos adquiriu pela primeira vez na sua histria um estatuto legal, sendo organizada em captulo exclusivo da Lei n 5.692/71, intitulado ensino supletivo. O artigo 24 desta legislao estabelecia com funo do supletivo suprir a escolarizao regular para adolescentes e adultos que no a tenham conseguido ou concludo na idade prpria. (VIEIRA, 2004, p. 40).

    O incio da dcada de 80 o Brasil vive uma everfecncia scio-poltica com a redemocratizao do pas pelo Movimento das Diretas e consequentemente o fim do Gegime Militar. Em 1985 o MOBRAL foi substitudo pela Fundao Educar. Essa mesma fundao foi extinta em 1990, no Governo de Fernando Collor, em nome do enxugamento da mquina admistrativa.

    A EJA passa a ser de responsabilidade dos estados e municpios. Em 2003, no Governo de Luz Incio Lula da Silva, a EJA volta a ser prioridade do Governo Federal e criada a Secretaria Extraordinria para Erradicao do Analfabetismo.

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    Um dos programs criados por essa secretaria o Programa Basil Alfabetizado. Para Vieira a EJA no pode ser desenvolvida de forma isolada com Programas como o Brasil Alfabetizado.

    Mesmo reconhecendo a disposio do governo em estabelecer uma poltica ampla para EJA, especialistas apontam a desarticulao entre as aes de alfabetizao e de EJA, questionando o tempo destinado alfabetizao e questo da formao do educador. A prioridade concedida ao programa recoloca a educao de jovens e adultos no debate da agenda das polticas pblicas, reafirmando, portanto, o direito constitucional ao ensino fundamental, independente da idade. Todavia, o direito educao no se reduz alfabetizao. A experincia acumulada pela histria da EJA nos permite reafirmar que intervenes breves e pontuais no garantem um domnio suficiente da leitura e da escrita. Alm da necessria continuidade no ensino bsico, preciso articular as polticas de EJA a outras polticas. Afinal, o mito de que a alfabetizao por si s promove o desenvolvimento social e pessoal h muito foi desfeito. Isolado, o processo de alfabetizao no gera emprego, renda e sade.(VIEIRA, 2004, p. 85-86).

    A defesa da escola pblica gratuita tornou-se bandeira de luta no meio poltico e artstico. neste contexto que novas polticas pblicas para EJA so implementadas em todo o pas, principalmente, nas regies e norte e nordeste do pas que detem os maiores ndices de jovnes e adultos analfabetos.

    Foi apenas nos primeiros anos da dcada de 90 que surgiram as primeiras polticas pblicas de Educao de Jovens e Adultos que traziam uma metodologia mais participativa, criativa e voltada para o dia-a-dia dessa populao. Internacionalmente, houve um reconhecimento da importncia da EJA para o consolidao da cidadania e da formao cultural da populao, devido s conferncias organizadas pela UNESCO.

    Um avano importante para a educao brasileira aconteceu em 1988 com a promulgao da Constituio Federal de 1988, que no o artigo 6, que coloca a educao como um direito social, junto com a sade, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia. J no artigo 205 diz que a educao direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa.

    O artigo 208, inciso I, diz que o Ensino Fundamental obrigatrio e gratuito, assegura sua oferta gratuita para todos que a ele no tiveram acesso na idade

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    prpria. No texto da Declarao de Hamburgo ocorrida em 1997, na pgina 6, diz que a Educao de Jovens e Adultos um direito:

    A educao de adultos torna-se mais que um direito: a chave para o sculo XXI; tanto conseqncia do exerccio da cidadania como condio para uma plena participao na sociedade. Alm do mais, um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecolgico sustentvel, da democracia, da justia, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconmico e cientfico, alm de um requisito fundamental para a construo de um mundo onde a violncia cede lugar ao dilogo e cultura de paz baseada na justia.

    O Brasil realizou vrias conferncias sobre EJA. Assim houve uma mobilizao naciaonal. Foram realizados em cada estado da federao fruns da EJA. Tambm foi nos anos 90 que o governo federal transferiu para estados e municpios a responsabilidade pela oferta e organizao da Educao de Jovens e Adultos.

    No Ano Internacional de Alfabetizao, 1990, o governo de Fernando Collor de Melo, lana o Plano Nacioanal de Alfabetizao e Cidadania que foi fruto de uma intensa mobilizao social atravs de encontros, debates, foruns, seminrios e congressos por todo o pas realizados por entidades governamentais e no governamentais. Entretanto, esse plano no foi implementado como deveria:

    O PNAC se props a promover e mobilizar aes de alfabetizao, atravs de comisses municipais, estaduais e nacional, envolvendo os diversos setores interessados das esferas pblicas e da sociedade civil em geral. Enquanto as comisses se mobilizaram, o governo federal assinava convnios, repassando fundos mediante critrios clientelistas e sem controle destas comisses, tanto do volume de recursos, quanto do nmero de projetos e a quem se destinavam. (HADDAD, 1994:97).

    Em 1994, j no governo de Itamar Franco finalmente publicado o documento de Diretrizes para uma Poltica Nacional de Educao de Jovens e Adultos que tinham as seguintes metas:

    ... ampliar a oferta de educao bsica para os jovens e adultos excludos do sistema regular de ensino, mant-la enquanto no tiver sido assegurada a todos a efetiva oportunidade de acesso e progresso com sucesso escola fundamental na idade prpria;- propor escola redimensionar o seu atendimento a jovens e adultos, encontrando modos que, sem renunciar sua funo recproca de preservao, transmisso e produo do conhecimento, possam efetivamente ir ao encontro dos limites impostos pelas condies concretas de vida da populao trabalhadora; (HINGEL a, 1994:18)

    Assim a histria da EJA no Brasil foi moldada por fatores culturais, polticos e econmicos, sempre a servio dos interesses neoliberais e da minoria dominante

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    dos que se encontram no poder. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educao LDB 9334/96 estabelece , em seu artigo 3 , a igualdade de condies para o acesso e a permanncia na escola, gratuidade do ensino pblico, o pluralismo de idias e de concepes pedaggicas, a garantia de padro de qualidade, a valorizao da experincia extra-escolar e a vinculao entre a educao escolar, o trabalho e as prticas sociais.

    O Art. 37. estabeleceu que a Educao de Jovens e Adultos ser destinada queles que no tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e mdio na idade prpria. No 1. Determinou que os sistemas de ensino asseguraro gratuitamente aos jovens e aos adultos, que no puderam efetuar os estudos na idade regular, com oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as caractersticas do alunado, seus interesses, condies de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.

    Verifica-se, portanto, um avano ao considerar as particularidade dessa populao adequando, assim, as praticas metodolgicas e didticas. Entretanto, essa mesma lei do Governo de Fernando Henrique Cardoso criticada por traduzir a EJA em meros cursos supletivos.

    No que se refere LDB, a EJA ficou basicamente reduzida a cursos e exames supletivos, inclusive com a reduo da idade para a prestao dos exames, o que caracteriza um incentivo aos jovens ao abandono s classes regulares de ensino. O substitutivo de Darcy Ribeiro, representou um golpe em todo o processo democrtico de discusso do projeto que fora aprovado pela Cmara dos Deputados em 1993. (MACHADO, 1999, p. 18).

    Essas novas diretrizes proporcionaram, como dito anteriormente, a formulao de propostas diferenciadas na rea de EJA. A LDB 5692/71 dedicou apenas uma seo com dois artigos EJA, os artigos 2, 3 e 4 tratavam dessa educao sob o ponto de vista do ensino fundamental, o que pode ser considerado um ganho para essa rea no momento.

    A partir dessa base legal cresce a necessidade da formatao de novas diretrizes curriculares para Educao de Jovens e Adultos. O Parecer CNE/CEB N 11/2000, elaborado pelo Conselheiro Carlos Roberto Jamil Cury, conseqncia da Lei 9394/96l. Deste parecer, temos dois pontos fundamentais para tratar a EJA como

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    poltica pblica: O primeiro ponto a superao do conceito de supletivo, colocando-a como modalidade do ensino fundamental e mdio.

    Assim a EJA foi repensada no tocante a sua oferta. O segundo ponto refere-se necessidade de tratar com eqidade os direitos de jovens e adultos no sentido de garantir o direito de acesso e permanncia na educao, atravs de alocao de recursos financeiros, que at ento eram escassos. Assim Lei 10.172 de 9/01/2001 traz, dentre outras, as seguintes metas:

    Estabelecer, a partir da aprovao do PNE, programas visando a alfabetizar 10 milhes de jovens e adultos, em cinco anos e, at o final da dcada e erradicar o analfabetismo; Assegurar, em cinco anos, a oferta de educao de jovens e adultos equivalente s quatro sries iniciais do ensino fundamental para 50% da populao de 15 anos e mais que no tenha atingido este nvel de escolaridade;

    Assegurar, at o final da dcada, a oferta de cursos equivalentes s quatro sries finais do ensino fundamental para toda a populao de 15 anos e mais que concluiu as quatro sries iniciais. Dobrar em cinco anos e quadruplicar em dez anos a capacidade de atendimento nos cursos de nvel mdio para jovens e adultos. Incluir, a partir da aprovao do Plano Nacional de Educao, a Educao de Jovens e Adultos nas formas de financiamento da Educao Bsica. Os dados da PNAD de 2003 mostram importncia da necessidade de uma poltica de financiamento da EJA mais adequada para atender a demanda.

    Tabela 05

    Faixa Etria

    Sries

    Iniciais

    Regular

    Noturno

    Sries

    Iniciais

    EJA

    Pessoas sem

    sries iniciais

    Atend

    iment

    o

    Sries

    Finais

    regular

    Noturno

    Sries

    Finais

    regular

    EJA

    Pessoas

    sem sries

    finais

    Atend

    iment

    o

    Menos de 15 anos 13.693 32.087 25.510.585 0,2% 157.642 31.244 15.198.824 1,2%

    15 a 24 anos 116.241 459.519 1.143.871 50,3% 1.376.668 1.072.333 19.407.343 12,6%

    25 a 29 anos 40.729 224.698 851.641 31,2% 123.840 270.345 2.584.408 15,3%

    30 a 34 anos 35.254 206.873 995.038 24,3% 70.265 196.159 2.868.813 9,3%

    35 a 39 anos 33.822 195.636 937.570 24,5% 46.047 139.581 2.396.220 7,7%

    Mais de 39 anos 75.204 434.670 12.022.387 4,2% 47.074 156.530 18.989.832 1,1%

    TOTAL 314.943 1.553.483 41.461.092 4,5% 1.663.894 1.866.192 61.445.440 5,7%

    Fonte: Censo Escolar 2004/INEP PNAD2003/IBGE

    Matrculas em Regular Noturno, EJA e Demanda - Ensino Fundamental

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    Os nmeros da tabela abaixo mostram as matrculas por regio nos anos de 2000 e 2002. Nesses anos o Norte e Nordeste registram o maior nmero, tendo aumentado as matrculas significativamente de um ano para o outro graas aos investimentos financeiros na rea.

    Tabela 06 Matrculas na EJA por Regio

    Ano Regio 2000 2002

    Nordeste 540.868 1.095.467 Norte 124.132 491.622 Centro-Oeste 158.045 132.041 Sudeste 780.988 711.908 Sul 327.515 555.692

    Fonte: MEC

    Os dados dos grficos abaixo mostram que ouve um aumento significativo de municpios que ofertavam a Educao de Jovens e Adultos entre os anos de 2000 e 2002 devido s parcerias dos Governos Municipais e Federal e poltica de municipalizao de alguns servios pblicos como sade e educao.

    Grfico 04

    Fonte: MEC/INEP/SEEC-2000-2002

    Nordeste - 2000

    61%

    39%

    No oferecem EJA

    Oferecem EJA

    Nordeste - 2002

    22%

    78%

    No oferecem EJA

    Oferecem EJA

    Norte - 2000

    Exceto AM e AP

    60%

    40%

    No oferecem EJA

    Oferecem EJA

    Norte - 2002

    Exceto AM e AP

    78%

    22%

    No oferecem EJA

    Oferecem EJA

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    Um programa que merece destaque no cenrio da Educao de Jovens e Adultos o Programa Alfabetizao Solidria lanada na capital potiguar, Natal, em 1996 durante Seminrio Nacional de Educao de Jovens e Adultos que no tramitou no Congresso Nacional e foi pouco discutido na sociedade. Esse Programa ainda em execuo tem por objetivo alfabetizar jovens e adultos em cinco meses. financiado pelo governo em parceria com universidades e empresas privadas. A grande condutora desse programa foi Ruth Cardoso, esposa do ento presidente Fernando Henrique Cardoso, j falecida.

    Segundo Haddad (1994, p.99-100), atualmente se concretiza a tendncia de descentralizao dos programas de Educao de Jovens e Adultos para estados e municpios e o uso dos meios de comunicao de massa por grupos empresariais:

    ...tm apontado para o descuido persistente nas formas de recepo organizada, instrumento central em processos de ensino/aprendizagem desta modalidade. Tem cabido aos grupos empresariais da telecomunicao a produo dos programas educativos, em grande parte com recursos pblicos: s secretarias estaduais cabe o acompanhamento organizado, com todas as dificuldades pela instalao e manuteno dos telepostos, bem como a formao e remunerao dos professores. A histria recente deste pas tem mostrado um gradativo afastamento das secretarias estaduais e municipais dos processos televisivos ou radioeducativos existentes."(1994:99-100).

    importante destacar que esses programas educacionais dos grandes grupos de comunicao no Brasil so implementados em parceria com instituies pblicas e, portanto, com recursos pblicos. Assim as empresas mostram uma falsa imagem de responsabilidade social para a populao.

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    CAPTULO 3 METODOLOGIA PARA EJA

    A Educao de Jovens e Adultos destinada para uma clientela especial, que por algum motivo no freqentou ou deixou de freqentar o ensino regular na idade apropriada. Como aprender no existe limite de idade, mas sim metodologia apropriada, a EJA atualmente se defronta com o desafio da adequao metodolgica que deve se basear em dois pilares: O aluno e o professor. Essa relao deve ser orientada da seguinte maneira segundo Paulo Freire (2002, p. 58):

    Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetizao de adultos demanda, entre educadores e educandos, uma relao de autntico dilogo. Aquela em que os sujeitos do ato de conhecer (educador-educando; educando-educador) se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido. Nesta perspectiva, portanto, os alfabetizandos assumem, desde o comeo mesmo da ao, o papel de sujeitos criadores. Aprender a ler e escrever j no , pois, memorizar slabas, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o prprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem.

    A primeira proposta curricular para a Educao de Jovens e Adultos teve seu projeto inicial divulgado no ano de 1995 e foi fruto de um amplo debate na sociedade civil e acadmica. Essa proposta uma referncia para que estados e municpios elaborem suas propostas. Alm disso, objetiva a adequao de materiais didticos e a formao de educadores nessa modalidade.

    Pedagogicamente essa proposta est embasada nos princpios de uma pedagogia tica, social e poltica. O iderio da educao popular tambm considerado, medida que valoriza o dilogo entre os agentes e a participao no processo de ensino e aprendizagem. O aluno um ser de saberes que deve ser considerado e valorizado. A proposta curricular deve levar em considerao esses princpios que so mencionados na proposta curricular da EJA, (1997, p. 26).

    Qualquer projeto de educao fundamental orienta-se, implcita ou explicitamente, por concepes sobre o tipo de pessoa e de sociedade que se considera desejvel, por julgamentos sobre quais elementos da cultura so mais valiosos e essenciais. O currculo o lugar onde esses princpios gerais devem ser explicitados e sintetizados em objetivos que orientem a ao educativa.

    O educador da Educao de Jovens e Adultos deve se utilizar de prticas criativas, problematizadoras, ticas, plurais, reconhecer, comparar, julgar, recriar e propor

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    novas prticas para que o aluno se sinta um agente ativo no processo de ensino e aprendizagem. nessa linha pedaggica que Paulo Freire defendia e sustentava sua teoria:

    Por isso a alfabetizao no pode se fazer de cima para baixo, nem de fora para dentro, como uma doao ou uma exposio, mas de dentro para fora pelo prprio analfabeto, somente ajustado pelo educador. Esta a razo pela qual procura-mos um mtodo que fosse capaz de fazer instrumento tambm do educando e no s do educador e que identificasse, como claramente observou um jovem socilogo brasileiro (Celso Beisiegel), o contedo da aprendizagem com o processo de aprendizagem. Por essa razo, no acreditamos nas cartilhas que pretendem fazer uma montagem de sinalizao grfica como uma doao e que reduzem o analfabeto mais condio de objeto de alfabetizao do que de sujeito da mesma. (FREIRE, 1979, p. 72).

    Atualmente se questiona o uso das prticas pedaggicas do ensino regular no ensino da EJA. Os professores e equipe pedaggica quem deve refletir e decidir sobre o uso de alguma metodologia ou material didtico do Ensino Regular na EJA, j que so eles que esto diretamente convivendo com a realidade de cada aluno. O que no pode usar indiscriminadamente, sem o apoio de uma proposta pedaggica que leve em conta todos os aspectos do processo de ensino e aprendizagem.

    O perfil da clientela da EJA bem diversificado e tem em comum a vitimao de um processo de excluso do sistema capitalista de acordo com a Proposta Curricular da EJA, (1997, p. 15) e que por isso tem que ter uma metodologia diversificada.

    Do ponto de vista sociocultural, entretanto, eles formam um grupo bastante heterogneo. Chegam escola j com uma grande bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo de histrias de vida as mais diversas. So donas de casa, balconistas, operrios, serventes da construo civil, agricultores, imigrantes de diferentes regies do pas, mais jovens ou mais velhos, homens ou mulheres, professando diferentes religies. Trazem, enfim, conhecimentos, crenas e valores j constitudos. a partir do reconhecimento do valor de suas experincias de vida e vises de mundo que cada jovem e adulto pode se apropriar das aprendizagens escolares de modo crtico e original, sempre da perspectiva de ampliar sua compreenso, seus meios de ao e interao no mundo.

    A EJA atende a jovens acima de 14 anos com um histrico de fracasso no Ensino Regular. Eles no se excluram desse ensino, foram excludos por um sistema de ensino historicamente excludente e incapaz de atender aos padres de qualidade. Entretanto, os nmeros mostram que grande parte dos alunos da EJA so aquele que nunca tiveram oportunidade de freqentar a escola na idade apropriada. Tambm o que leva jovens e adolescentes a voltarem para a sala de aula so as

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    novas exigncias do mercado de trabalho que exigem no mnimo o Ensino Fundamental completo.

    O Brasil j integrou sua produo industrial e ao setor de prestao de servios o uso das tecnologias, assim, quem quer um lugar no mercado de trabalho tem que ter uma escolarizao mnima. com esse pblico que professores e pedagogos se deparam.

    So adolescentes que tem baixa auto-estima, imagem negativa de si mesmo, no tem, na sua maioria, um projeto de vida, esto na escola para satisfazer aos pais. Tudo isso leva indisciplina e conflito com a escola. So ou foram tidos como alunos desinteressados. O mais grave nisso que esses atributos so ditos por aqueles que deveriam zelar pela aprendizagem desses alunos, o professor. So profissionais sem qualificao, com uma viso discriminatria e pr-formada dos alunos.

    Uma outra parcela desses alunos composta por adolescente, jovens e adultos trabalhadores que aps cansativas horas de jornada de trabalho durante o dia, se dedicam aos estudos noturnos com o objetivo de galgar melhora na vida profissional e, conseqentemente, na vida financeira, social e pessoal. Abrem mo de momentos de lazer, das suas famlias, para freqentar uma escola que sem segurana, sem ou com professores faltosos e tendo de conviver com o dilema da delinqncia nas escolas noturnas.

    importante que a escola leve em considerao que a clientela da EJA tem sua cultura, sua religio, pode ter uma famlia formada, ter um emprego, ou seja, sua histria de vida; que j um cidado. Cabe a escola e a seus profissionais ajudar esses jovens e adultos na busca da realizao de seus objetivos: conquistar o mundo letrado ou aprimor-lo, dominar as operaes matemticas e um pouco das cincias humanas e sociais. Assim deve se basear no pensamento freiriano e pr-se disposio dos sujeitos reconhecendo seus saberes, interesses e necessidades. Deve ser um momento de crescimento para o aluno e para o professor, um processo de ensino-aprendisagem construdo por meio da problematizao.

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    Para Paulo Freire ensinar exige rigorosidade metdica, pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criatividade, esttica, tica, risco, aceitao do novo, rejeio a qualquer forma de discriminao. Ensinar no transferir conhecimento, ensinar exige conscincia do inacabamento, respeito autonomia do ser do educando, bom senso, humildade, tolerncia, apreenso da realidade, alegria, esperana, comprometimento, curiosidade, compreender que a educao uma forma de interveno no mundo, exige tambm saber escutar, reconhecer que a educao ideolgica e exige disponibilidade para o dilogo e para o repensar.

    3.1 O EDUCADOR

    O educador da Educao de Jovens e Adultos alm de ter a devida qualificao na sua rea de ensino, precisa passar tambm por uma qualificao para essa modalidade de ensino. No se pode usar as mesmas metodologias da educao regular na EJA, sem passar pelo crivo do pensar crtico, tico e plural. preciso que o Projeto Pedaggico e a Proposta Curricular sejam seguidas. Entretanto o que se v so prticas em sala de aula dissociadas da EJA.

    O professor no ensinar para crianas em processo de desenvolvimento cognitivo; ensinar para pessoas j formadas. Como professor de qualquer modalidade de ensino ter que se atualizar e refletir constantemente sobre sua prtica. Tem que ter a habilidade de ensinar no para uma turma, mas para alunos com idades, necessidades e objetivos diferentes; assim ter que dominar teoricamente e praticamente as metodologias e tcnicas de ensino.

    especialmente importante, no trabalho com jovens e adultos, favorecer a autonomia dos educandos, estimul-los a avaliar constantemente seus progressos e suas carncias, ajud-los a tomar conscincia de como a aprendizagem se realiza. Compreendendo seu prprio processo de aprendizagem, os jovens e adultos esto mais aptos a ajudar outras pessoas a aprender, e isso essencial para pessoas que, como muitos deles, j desempenham o papel de educadores na famlia, no trabalho e na comunidade. (Proposta curricular para EJA, RIBEIRO et al,1997 , p. 17)

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    Outro ponto importante diz respeito formao do professor devido a sua importncia no processo de construo do saber como salienta Arbache, 2001, p. 19.

    A educao de jovens e adultos requer do educador conhecimentos especficos no que diz respeito ao contedo, metodologia, avaliao, atendimento, entre outros, para trabalhar com essa clientela heterognea e to diversificada culturalmente.

    Atualmente cursos de formao de professores a nvel superior j incluem na sua grade curricular crditos para EJA. Isso acontece principalmente no curso de pedagogia. No enfadonho repetir que o professor deve ter um olhar crtico sobre a sua realidade, da sua conduta alm de dominar os mtodos e as tcnicas.

    Neste segundo sentido compete ao professor, alm de incrementar seus conhecimentos e atualiz-los, esforar-se por praticar os mtodos mais adequados em seu ensino, proceder a uma anlise de sua prpria realidade pessoal como educador, examinar com autoconscincia crtica sua conduta e seu desempenho, com a inteno de ver se est cumprindo aquilo que sua conscincia crtica da realidade nacional lhe assinala como sua correta atividade. (PINTO, 2000, p. 113).

    O professor deve ver o aluno como um ser pensante, ativo, com dias e capacidades mltiplas, que se evidenciam naturalmente na relao com o professor. O docente deve ser como um parceiro do aluno da EJA e no inferioriz-lo com a postura autoritria da pedagogia tradicional que j no tem sentido e espao e espao para a sua prtica.

    Muitos dos programas criados para a populao jovem e adulta fracassaram devido a inadequao da metodologia utilizada, ou por terem se utilizado de processos de construo de conhecimento voltados para crianas. Atualmente tem-se utilizado de processos diferenciados para EJA. So cursos modulados ou nivelados, presenciais ou semipresenciais, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao de Jovens e Adultos, campanhas estaduais, municipais e nacionais, iniciativas se setores privados. Muitas dessas iniciativas tm dado certo, outras no.

    Atualmente h pouca produo terica e pesquisas sobre a EJA, entretanto isso no justifica prticas dissociadas da realidade dos alunos. O processo de ensinar e aprender requer postura crtica e tica por parte do educar na tentativa de no tornar a aula uma mera transmisso de conhecimento, onde o professor detentor do saber e o aluno mero receptor. preciso prticas pedaggicas que incentivem a

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    participao do aluno no processo de ensino e aprendizagem, com contedos significativos para o dia-a-dia.

    3.2 EVASO NA EJA

    Como j foi exposto no incio deste referencial, a evaso de alunos no sistema regular de ensino alarmante e preocupante j que se torna um entrave para a construo da cidadania que uma promessa no cumprida segundo Bobbio, 2000, p. 43.

    A sexta promessa no-cumprida diz respeita educao para a cidadania. Nos dois ltimos sculos, nos discursos apologticos sobre a democracia, jamais esteve ausentes o argumento segundo o qual o nico modo de fazer com que o um sdito se transforme em cidado o de lhe atribuir aqueles direitos que os escritores de direito pblico tinham chamado de activae civitatis, com isso, a educao para a democracia surgiria no prprio exerccio da prtica democrtica.

    As mudanas Sociais e econmicas impuserem novas exigncias na formao do trabalhador e do cidado, e tambm redimensionou a atuao da educao para jovens e adultos. Isso, junto com os reclames sociais, incharam os nmeros das pessoas na Educao de Jovens e Adultos que ficavam fora da Educao Bsica e, conseqentemente, trouxe junto a problemtica da evaso. Vrios estudiosos atribuem a fatores sociais, culturais, polticos, econmicos e pedaggicas como determinantes para a evaso. Dentre esses estudiosos Gadotti (2000) destacam que dentre as conseqncias desses fatores, a evaso escolar a principal.

    Para Luck (1998), o maior desafio que se apresenta hoje para a escola a garantia da permanncia das pessoas jovens e adultas no sistema formal de educao e a conseqente concluso da educao bsica. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD) do Instituto de Geografia e Estatstica revelam que 42% dos alunos matriculados na EJA abandonaram as salas de aula por todo o pas no ano de 2007. Os motivos citados para a evaso foram:

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    Tabela 07 EVASO NA EJA

    MOTIVOS % Horrio das aulas incompatvel com o do trabalho ou de busca de trabalho 27,9 Desinteresse pelo curso 15,6 Horrio das aulas incompatvel com as atividades domsticas 13,6 Dificuldades para acompanhar o curso 13,6 Outros motivos 29,3 Fonte: IBGE/PNAD 2007

    Essa mesma pesquisa mostrou o percentual dos alunos da EJA por modalidade de curso.

    Grfico 05

    Contribuem para a evaso a colocao das disciplinas de forma individualizadas e contedos fragmentados, sem significado. Muitos professores usam o mesmo contedo, material e metodologia dos alunos da educao regular, em total descompasso da realidade da EJA. Dessa forma muitos alunos no conseguem compreender os contedos por estarem fora da escola h muito tempo ou nunca t-la freqentado.

    Alm disso, muitos se sentem envergonhados por estarem freqentando a escola numa idade j avanada e conviver com adolescentes com idade bem menor. Outro fator negativo o isolamento das turmas da EJA nas escolas. As maiorias das turmas da EJA funcionam no perodo noturno em espaos, s vezes emprestado ou cedido e com pouca estrutura e assistncia. Assim, os alunos se sentem excludos e

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    no so raras as reclamaes espontneas deles. O mundo da escola definitivamente, no o mundo do aluno da EJA, seus interesses so distintos e preciso um repensar urgente sobre essa situao.

    3.3 AVALIAO

    A avaliao, que deveria ser um fator de orientao do processo de ensino e aprendizagem, nos cursos da Educao de Jovens e Adultos, como na regular, se tornou mais um ponto que contribui para inflamar a evaso e a repetncia, para excluir ou para servir como critrio para progredir no curso com salienta Perrenoud, (1999, p.10).

    Avaliar cedo ou tarde criar hierarquia de excelncia, em funo das quais se decidiro a progresso no curso seguido, a seleo no incio do secundrio, a orientao para diversos tipos de estudos, a certificao antes da entrada no mercado de trabalho e, frequentemente, a contratao. Avaliar tambm privilegiar um modo de estar em aula e no mundo, valorizar formas e normas de excelncia, definir um aluno modelo, aplicado e dcil para uns, imaginativo e autnomo para outros...Como, dentro dessa problemtica, sonhar com um consenso sobre a forma ou o contedo dos exames ou da avaliao contnua praticada em aula.

    A avaliao deve ser utilizada pelo professor como um instrumento sua disposio para orientar o processo de ensino e aprendizagem, a identificar os pontos fracos do processo e no como instrumento preponderante e amedrontador. O aluno tambm se beneficia do instrumento avaliativo quando este um dispositivo usado de forma inteligente e pedaggica.

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    CAPTULO 4 EDUCAO POPULAR

    Antes de falarmos da educao popular, propriamente dita, devemos definir o significado do vocbulo popular. Segundo os dicionrios, popular tudo aquilo que se refere ao povo. J povo se refere ao conjunto de pessoas que habitam um pas ou regio e que tem uma mesma cultura ou costumes. Mas isso diz pouco para o nosso objeto de estudo. A origem do conceito de povo vem do Estado Romano:

    De fato, o nico modo conhecido de definio de respublica romanorum est na frmula dominante Senatus populusque romanus que exprimia, nessa aproximao no disjuntiva, os dois componentes fundamentais e permanentes da civitas romana: o Senado, ou ncleo das famlias gentlicas originrias representadas pelos patres, e o povo, ou grupo dmico progressivamente integrado e urbanizado que passou a fazer parte do Estado com a queda da monarquia. (BOBBIO et al, 2007, p. 986).

    A educao popular objetiva a promoo da realizao dos direitos sociais inerentes a plena cidadania do povo. Ela surgiu na Amrica Latina no contexto das lutas populares segundo Gadoti, (1999, p. 06).

    A educao popular, como prtica pedaggica e educacional pode ser encontrada em todos os continentes, manifestadas em concepes e prticas muitos diferentes e at antagnicas. A educao popular passou por diversos momentos epistemolgicos educacionais e organizativas, desde a busca pela conscientizao, nos anos 50 e 60, e a defesa da escola pblica popular comunitria, nos anos 70 e 80, at a escola cidad, nos ltimos anos, num mosaico de interpretaes, convergncias e divergncias.

    De acordo com a teoria de Paulo Freire popular significa oprimido, aquele que est sem condies mnimas para o exerccio da cidadania, margem da sociedade e sem usufruir dos bens de consumo. Assim Paulo Freire define a educao popular.

    ... me parece importante deixar claro que a educao popular cuja posta em prtica, em termos amplos, profundos e radicais, numa sociedade de classe, se constitui como um nadar contra a correnteza exatamente a que, substantivamente democrtica, jamais separa o ensino dos contedos, o desvelamento da realidade. a que estimula a presena organizada das classes sociais populares na luta em favor da transformao democrtica da sociedade, no sentido da superao das injustias sociais. a que respeita os educandos, no importa qual seja sua posio de classe e, por isso mesmo, leva em considerao, seriamente, o seu saber de experincia feito, a partir do qual trabalha o conhecimento com rigor de aproximao aos objetos. a que trabalha, incansavelmente, a boa qualidade do ensino, a que se esfora em intensificar os ndices de aprovao atravs de rigoroso trabalho docente e no com frouxido assistencialista, a que capacita suas professoras cientificamente luz dos recentes achados em

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    torno da aquisio da linguagem, do ensino da escrita e da leitura. (FREIRE, 1993, p. 101).

    Podemos definir que a educao popular est voltada s camadas populares, aos seus interesses e necessidades formando indivduos ativos. No se pode confundi-la com educao informal. Ela fruto da participao social da definio da sua poltica e de estratgicas pedaggicas. uma educao democrtica, no exclusiva e participativa.

    A base pedaggica da educao popular o uso do saber popular no ensino. O sujeito tem muito a contribuir com o processo de ensinar e aprender a partir de palavras geradoras e temas geradores do cotidiano do aluno. A educao, portanto, um ato tambm poltico. Ela pode ser desenvolvida em qualquer contexto, mas empregada principalmente em comunidades rurais, aldeias indgenas, comunidades quilombolas e entre jovens e adultos.

    4.1 EJA NA E. E. ISABEL OSCARLINA MARQUES

    A Escola Estadual Isabel Oscarlina Marques foi fundada no ano de 1976. Essa escola est situada na cidade de Santa Cruz, que se orgulha de ter erguido a maior esttua religiosa da Amrica Latina, a esttua de Santa Rita de Cssia. uma das principais escolas da cidade na oferta do Ensino Fundamental com turmas do ensino infantil ao 9 ano e Educao de Jovens e Adultos no turno noturno. uma escola de porte mdio e tem uma boa estrutura fsica com 12 salas de aula. uma das poucas escolas da cidade que tem quadra para prtica de esportes. Tem trinta e cinco professores. Conta com vinte e cinco funcionrios distribudos em atividades administrativas e de apoio.

    Atualmente a escola funciona nos trs turnos e tem 890 alunos matriculados. Conta com uma boa estrutura pedaggica, tem um laboratrio de informtica, sala de leitura, biblioteca, sala de multimeios e auditrio . Toda essa estrutura est disposio dos alunos da EJA. A escola dispe dos seguintes equipamentos:

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    Tabela 08 Equipamentos Quantidade

    Computador na sala de informtica com internet banda larga 35 Computador em outros ambientes 04 Salas com ar condicionada 02 Videocassete 02 Aparelho de DVD 03 Datashow 01 Notebook 02 Impressoras 06 Copiadora 01 Mdulo de cincia 01

    A escola ainda tem equipamentos para o funcionamento de uma rdio escola, tem a sua disposio as fita de vdeo do Projeto Vdeo Escola da Fundao Roberto Marinho em parceria com o Banco do Brasil. Todos os professores tm qualificao em nvel superior e participam frequentemente de encontros para qualificao. Alguns tm ps-graduao. Os trs turnos dispem de profissionais de equipe pedaggica.

    A equipe gestora formada por diretor e vice, diretor administrativo-financeiro e pedaggico. Esses dirigentes so escolhidos pela comunidade escolar (alunos, professores, funcionrios e pais). O mandato de dois anos. Entretanto, a equipe est desfalcada j que ningum se interessou em assumir a direo administrativa. No geral h um desinteresse dos professores e funcionrios em assumir esses cargos devido aos desafios da escola que trataremos mais adiante.

    A Escola Estadual Isabel Oscarlina desenvolve a educao de jovens e adultos desde a poca da sua fundao 1976 e sempre no turno noturno; referncia na cidade na oferta da EJA. Os professores tm formao em nvel superior, mas no so qualificados para a Educao de Jovens e Adultos. De acordo com a matrcula inicial, o alunado da EJA na escola composto de adolescentes, jovens, adultos e at idosos na faixa etria entre 15 e 60 anos, sendo 57% compostos por homens e 43% de mulheres. Na pesquisa realizada com os alunos desistentes e no desistentes podemos fazer um perfil da vida profissional, familiar e econmica.

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    Grfico 6

    Perfil dos Alunos da EJA

    0% 10% 20% 30% 40% 50%

    Trabalham

    Tem filhos

    Tem vida conjugal

    Renda familiar at 1 salrio

    Renda familiar de 1 a 2 salrios

    Recebem Bolsa Famlia

    Srie1

    Fonte Coleta de dados (prpria)

    Como se observa no grfico, as maiorias dos alunos da EJA pertencem s classes baixas. Os poucos da classe mdia esto l devido o histrico de reprovao no ensino particular e procuram o ensino pblico da EJA devido a facilidade de concluir os estudos. A grande maioria dos alunos da zona urbana. Os que so da zona rural tm a sua disposio o transporte escolar mantido pelo Estado em parceria com a Prefeitura Municipal.

    No inicio do ano foram realizadas 250 matrculas, tendo a secretaria da escola, por ordem da direo, negado matrcula a muitos que procuraram escola. Havia um pedido de alguns professes para no matricular alunos que em anos passados apresentaram problemas de indisciplina e daqueles que se poderia identificar como barra pesada.

    Segundo a direo da escola muitos desses alunos fazem a matrcula apenas para conseguir uma declarao para conseguirem tirar a carteira de estudante.Trs meses aps do incio do ano letivo 60 alunos j tinham deixado de freqentar e atualmente apenas 60 alunos esto freqentando. O grfico da evaso na EJA da

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    Escola Isabel Oscarlina surpreendente, com uma evaso acima da mdia nacional que de aproximadamente de 50%.

    Grfico 07

    Evaso na EJA no Ano de 2010

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    Matrcula inicial Alunos frequentandoaps 3 meses

    Alunos frequentandoatualmente

    Srie1

    Fonte: Coleta de dados (prpria)

    Nestes nmeros da evaso h pontos a serem destacados: Dos sessenta alunos que freqentam alguns vem para escola, mas no ficam na sala de aula, ficam no ptio da escola com quase ou nenhuma interveno da direo ou da equipe pedaggica. H tambm os que vm para a escola motivada pela merenda que servida.

    Outro ponto relativo aos alunos que a escola coloca como desistente, eles poderiam faltar j que uma das diretrizes da EJA a tolerncia s faltas, inclusive a matrcula de alunos que no estava estudando pode ser feita em qualquer perodo no ano. Entretanto a escola praticamente no pe em prtica essas diretrizes, como se estivesse na modalidade de ensino normal. A coleta de dados tambm revelou que os homens desistiram mais que as mulheres.

    As entrevistas espontneas realizadas com os alunos desistentes revelaram um total distanciamento da escola com o aluno: falta de um projeto de vida dos alunos, baixa auto-estima e um sentimento de culpa pelo seu fracasso. As principais motivaes,

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    segundo eles para ter abandonado a escola esto ligadas diretamente com a escola. Questes de trabalho, problemas familiares tambm foram apontados.

    Grfico 08

    Motivos da Evaso na EJA da E. Isabel OscarlinaPesquisa Espontnea

    0% 5% 10% 15% 20% 25%

    Escola ruim

    No tinha vontade

    Incompatibilidade com o horrio de trabalho

    Questes familiaresCansao fsico

    Falta de professores

    Outros motivos

    Srie1

    Fonte: Dados coletados (prpria)

    Pelos dados apresentado percebe-se que mais 40% dos alunos desistentes alegam ter desistido devido a questes diretamente relacionadas escola: escola ruim, a falta de vontade e falta de professores. Os alunos desistentes disseram ainda que valorizem os estudos e que atravs dele que podem melhorar de vida. Metades no se sentiam estimulados a estudar pela escola; todos afirmaram que a escola no os procurou para que voltassem a estudar; metade no gostava dos contedos. Com relao aos professores metade disseram que eles no ensinam bem.

    Os alunos tambm revelaram que as ausncias dos professores so constantemente. Um aluno relatou que desistiu porque morava longe e que era freqente no encontrar professor para dar aula ou eles chegavam atrasados. Outro relatou que alguns professores estimulavam os alunos a irem embora mais cedo. Nas nossas entrevistas com os profissionais da escola e atravs da observao foi detectado que muitos alunos deixam a escola mesmo tendo aula. As motivaes para esses problemas vero mais adiante.

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    Um dado importante colhido com os alunos que deixaram a escola que todos pretendem retornar as salas de aula da EJA no ano que vem, alis, essa uma caracterstica dos alunos da EJA. J as entrevistas com os alunos que esto freqentando revelaram dados semelhantes com relao aos desistentes. 60% disseram que no desistiram porque acreditam que a educao vai melhorar as condies de vida deles e da sua famlia.

    Mostraram um falso contentamento com a escola j que so alunos carentes sem uma viso crtica, despolitizados, facilmente manipulados e sem projetos vida. A maioria desses alunos comemora quando falta professor ou quando no tem aula. Inconscientemente eles comemoram no serem obrigados a assistir s aulas desinteressantes como veremos mais a frente.

    Um procedimento que demonstra total descompasso com os interesses dos direitos do cidado, contra a educao e desconhecimento das prticas de uma educao para a cidadania, inclusiva e popular foi a solicitao de professores para a direo expulsar os alunos que no assistiam s aulas, os bagunceiros. A direo solicitou por mais de uma vez a presena da polcia para resolver problemas de cunho pedaggico e de indisciplina. Isso intimidou esses alunos que passaram a no freqentar a escola.

    Foi posto em prtica recentemente pelo Governo do Estado o Programa Ronda Escolar, que objetiva diminuir os ndices de violncia nas escolas. Esse programa vem se demonstrado pouco eficiente, haja vista que foi posto em prtica em um perodo eleitoral, pois vem se caracterizando por meras rondas de opresso contra os alunos e o que se precisaria uma polcia parceira. Assim os alunos se distanciam mais da escola j que as medidas adotadas no fundo so discriminatrias, exclusivas e veladas por aes de uma pedagogia tradicional.

    Outro dado que se revelou nas entrevistas com a direo, apoio pedaggico e com os alunos foi a total ausncia da famlia na vida escolar dos menores, fato pouco visto na Educao Regular e que inexiste na EJA. Tambm entrevistamos a Direo da escola, a equipe pedaggica e os professores. Eles reconhecem a dificuldade da

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    problemtica e destacam aos principais causas para evaso na EJA da Escola Isabel Oscarlina:

    Tabela 09 Causas para evaso na EJA da E. E. Isabel Oscarlina Marque segundo a direo, professores e equipe pedaggica. Caudas Externas Causas Internas Desemprego Professores desestimulados Drogas Prticas metodolgicas tradicionais Problemas de famlia Tratamento inadequado com os alunos Gravidez precoce Falta de incentivo aos alunos Trabalho Contedo sem significado para o aluno Cansao Ausncia de planejamento pedaggico Baixos salrios Falta de acompanhamento Professor com outros empregos Falta de compromisso com a educao Falta de Qualificao especfica para EJA

    Fonte: Dados coletados (prpria)

    Observamos, portanto, um antagonismo importante: a equipe a direo, professores e equipe pedaggica apontam os motivos e reconhecem seus erros, entretanto, praticam uma pedagogia totalmente tradicional, sem compromisso tico e social, antidemocrtica e exclusiva. Eles apontam solues para diminuir a evaso na escola. Essas solues esto na tabela 09, das causas internas.

    importante ressaltar que eles tentam amenizar a sua responsabilidade pela situao atual colocando que a evaso geral na Educao de Jovens e Adultos. Essa justificativa no tem base de sustentao j que a evaso da EJA a nvel nacional de aproximadamente 50%, a da Escola Isabel Oscarlina atualmente de 76%.

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    CONCLUSO

    Recordando, o objetivo principal deste trabalho foi diagnosticar os motivos da evaso da Educao de Jovens e Adultos na Escola Estadual Isabel Oscarlina Marques. Chegamos s concluses que estavam latentes nesse ambiente educacional, entretanto precisvamos de um trabalho de pesquisa como este para confirmar as nossas suspeitas.

    Constatamos dois problemas bsicos e fundamentais que geram tanta evaso nesta modalidade de ensino na escola em questo. O primeiro diz respeito a administrao da escola que no vem cumprindo corretamente com o seu papel. O segundo problema gerador de evaso a total falta de ao pedaggica nesta modalidade de ensino. importante ressaltar que um problema est diretamente relacionado ao outro.

    Saindo um pouco do nosso foco, mas que importante registrar que o problema administrativo gera outros problemas para a escola fora da rea pedaggica, falta de profissionais da escola sem justificativa, depredao e tantos outros problemas. A equipe gestora da escola encontra-se desfalcada ou com profissionais apenas cedendo o seu nome para atender a burocracia. Assim a direo administrativa no d conta de administrar a escola de forma satisfatria. Entretanto, constatamos que a direo se omite, ausente e conivente com os problemas da escola.

    A equipe pedaggica existe e qualificada, entretanto no desenvolve nenhum trabalho pedaggico na EJA. Essa inrcia um reflexo da direo da escola que no cobra planejamento e resultado dessa equipe. Temos, assim, um efeito cascata: a direo no cobra da equipe pedaggica que no trabalha pedagogicamente com os professores.

    Com esta total falta de planejamento, temos aes desenvolvidas isoladas, fragmentadas e professores pondo em prtica em sala de aula aes em total

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    desacordo com a realidade dos usurios da Educao de Jovens e Adultos. Direo e apoio pedaggico no se entendem quanto s suas aes.

    Esta falha de gesto acaba vitimando os alunos da EJA que acabam recebendo uma educao de pssima qualidade que nem no ensino regular oferecida. Os professores faltam sem justificativa, chegam atrasados, usam como material para as aulas apenas o livro e o quadro. A direo, equipe pedaggica e professores com suas atitudes tradicionais, discriminatrias e inconseqentes agravam a situao emocional dos alunos. Os alunos se convencem que o que eles dizem ou que deixam implcito em suas aes.

    Assim, conclumos que a causa do elevado ndice de evaso nessa escola a ausncia de uma metodologia edequada para esse pblico e a prtica de atitudes ticas e no exclusivas por parte dos profissionais da escola que lidam diretamente com os alunos.

    Espero que os profissionais da escola recebam este trabalho e vejam nele no simplesmente descontentamento de ter sido apontado como responsveis pela evaso, mas que seja um momento para repensar suas aes para que todos possam contribuir positivamente para a melhoria da comunidade em que vivemos, pois temos a chance de retirar adolescente, jovens e adultos do mundo da delinqncia, do analfabetismo, da pouco escolarizao e todos aqueles que esto excludos.

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    REFERNCIAS

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