monografia luís antonio matemática 2011
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Matemática 2011TRANSCRIPT
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEBDEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
COLEGIADO DE MATEMÁTICA CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM MATEMÁTICA
LUÍS ANTONIO ARGOLO SANTOS
SABERES MATEMTÁTICOS DE ADOLESCENTES QUE
PEGAM CARREGO NA FEIRA LIVRE DE SENHOR DO
BONFIM-BA
Senhor do Bonfim – Bahia
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Fevereiro – 2011 LUÍS ANTONIO ARGOLO SANTOS
SABERES MATEMTÁTICOS DE ADOLESCENTES QUE
PEGAM CARREGO NA FEIRA LIVRE DE SENHOR DO
BONFIM-BA
Monografia apresentada no Curso de Licenciatura Plena em Matemática da Universidade do Estado da Bahia, em cumprimento às exigências para obtenção do Título de Licenciado em Matemática.
Orientadora: Alayde Ferreira dos Santos
Senhor do Bonfim – Bahia Fevereiro - 2011
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TERMO DE APROVAÇÃO
LUÍS ANTONIO ARGOLO SANTOS
SABERES MATEMTÁTICOS DE ADOLESCENTES QUE
PEGAM CARREGO NA FEIRA LIVRE DE SENHOR DO
BONFIM-BA
Trabalho monográfico de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a obtenção do grau de Licenciatura Plena em Matemática com habilitação em Docência do Departamento de Educação Campus VII - Senhor do Bonfim, Universidade do Estado da Bahia – UNEB.
Aprovado em ______/_____/______
_________________________________________________ Orientadora: Alayde Ferreira dos Santos
___________________________________________________Professor (a) Helder Luis Amorim Barbosa
___________________________________________________ Professor (a) Norma Leite
Senhor do Bonfim – Bahia
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Fevereiro - 2011
Dedico este trabalho a Deus, Salvador e Senhor da
minha vida, aos meus pais que são exemplo de
vida, de coragem e determinação e que me apóiam
sempre acreditando no meu potencial.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me concedido a sabedoria e discernimento em
conduzir este ano de estudo de forma responsável e coerente; pela oportunidade de
ter encontrado nesta instituição professores competentes, dignos de serem
chamados de mestres. E a todos que colaboraram para que mais uma vitória
ocorresse na minha vida.
5
A principal meta da educação é criar homens
que sejam capazes de fazer coisas novas, não
simplesmente repetir o que outras gerações já
fizeram. Homens que sejam criadores,
inventores, descobridores. A segunda meta da
educação é formar mentes que estejam em
condições de criticar, verificar e não aceitar
tudo que a elas se propõe.
Jean Piaget
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LISTA DE ABREVIATURAS
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MEC - Ministério da Educação e Cultura
PCN´s - Parâmetros Curriculares Nacionais
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância
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LISTA DE FIGURAS
Figura: 1 - Ciclo permanente que permite a todo ser humano interagir com o meio
Figura: 2 - Praça Augusto Sena Gomes
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RESUMO
O presente trabalho tem como tema os saberes matemáticos de adolescentes que pegam carrego na feira livre da cidade de Senhor do Bonfim - Ba . O objetivo geral foi identificar os saberes matemáticos de alunos do Ensino Fundamental II que pegam carrego na feira livre e os objetivos específicos propostos foram identificar os alunos que pegam carrego na feira livre e como os mesmos vêem o ensino da matemática no cotidiano da sala de aula; investigar como estes alunos fazem seus cálculos matemáticos no momento de passar um troco;investigar se os mesmos têm alguma dificuldade na disciplina de matemática no contexto escolar. Foi utilizado como autores para a Fundamentação Teórica: Alves (2001), os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), Bicudo (2004), D’Ambrósio (2005), Demo (1999), Douady(1994), Druck (2004), Fernandes(2005), Halmenschager (2001),Knjinik et al(2004) ,Lorenzato (2008),Lüdke (1986),Machado (2008), Meira e Spinello (2006),Mendes (2009),Miguel et al (2009), Miranda (2009) ,Minayo (2004) ,Nérici (1985),Portanova et al (2005),Prado (2003), Rosa (2003),Santos(2009), Valente (2007), Wergani(2009) e Vianna (2007). A metodologia foi a qualitativa e o instrumento utilizado foi um questionário aberto e fechado e observação no local onde se realizou a pesquisa.Como resultado verificou-se que os saberes matemáticos dos adolescentes que pegam carrego na feira livre de Senhor do Bonfim são vivenciados a partir das noções matemáticas que os mesmos trazem do cotidiano e do que foi ensinado pelo professor, pois ao utilizar as formas de cálculos , (mental e escrito) evidenciam as práticas estudadas dentro e fora do ambiente escolar na atividade de resolução de problemas é comum construir registros numéricos para expressar os processos de cálculo mental que utilizam, tendo como evidencia os conhecimentos matemáticos que são a base para o cálculo escrito e para a compreensão das técnicas de cálculo ensinadas na escola.
Palavras-chave: Saber Matemático. Etnomatemática. Ensino Fundamental II.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................10
CAPÍTULO I ........................................................................................................................ 12
1- Problematização ........................................................................................................... 12
CAPÍTULO II ....................................................................................................................... 16
2.1 - Saber Matemático....................................................................................................... 16
2.2 - Ensino-Aprendizagem de Matemática ................................................................... 19
2.3 - Etnomatemática ......................................................................................................... 22
CAPÍTULO III...................................................................................................................... 25
3 - METODOLOGIA............................................................................................................. 25
3.1 - Área de Estudo........................................................................................................... 25
3.2 - Caracterização da Pesquisa...................................................................................... 26
3.3 - População /Sujeito..................................................................................................... 26
3.4 - Instrumento de Pesquisa........................................................................................... 27
CAPÍTULO IV....................................................................................................................... 27
4.1 - Análise e Interpretação de Resultados................................................................... 27
4 – Análise e Interpretação dos Resultados ................................................................ 28
4.1 – Observação............................................................................................................... 29
4.2 – Questionário ............................................................................................................. 30
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 32
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 38
ANEXO ............................................................................................................................... 42
Anexo 1: Questionário - Entrevista com os adolescentes........................................... 43
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INTRODUÇÃO
Os saberes matemáticos na maioria das vezes são desenvolvidos nas
primeiras séries do Ensino Fundamental, levando em consideração o uso adequado
de atividades que favoreçam a interatividade entre o sujeito e o que será ensinado
sempre com uma estrutura contextualizada, levando em consideração o
conhecimento cotidiano, escolar e o cientifico.
Com base em tais considerações a pesquisa foi realizada objetivando
conhecer os saberes matemáticos de alunos do Ensino Fundamental II que pegam
carrego na feira livre na cidade de Senhor do Bonfim, identificando esses alunos e
como os mesmos vêem o ensino da matemática no cotidiano da sala de aula; como
fazem seus cálculos matemáticos no momento de passar um troco e se têm alguma
dificuldade na disciplina de matemática no contexto escolar.
Para melhor compreensão a pesquisa aqui realizada, foi estruturada em
três capítulos, apresentados a seguir:
O primeiro capítulo traz uma abordagem sobre a problemática do ensino
da matemática e suas constantes mudanças ao logo dos tempos e como hoje a
mesma é vista e desenvolvida. Nesse contexto, o ensino de Matemática nas escolas
é enfatizado nas diferentes orientações, tendo como apoio as diversidades
metodológicas e os recursos didático-pedagógicos. São apontados também a
questão da pesquisa, os objetivos, a justificativa, bem como a relevância social e
científica.
No segundo capítulo são abordados os conceitos-chave que direcionam a
pesquisa compreendendo o saber matemático , o ensino-aprendizagem de
matemática e a definição do que seja a etnomatemática.
O terceiro capítulo descreve como a pesquisa foi desenvolvida ,ou seja
mostra a metodologia utilizada ,parte fundamental para o início desse
trabalho ,descrevendo o tipo de estudo, a população alvo, instrumentos de pesquisa
e a proposta de coleta e análise dos dados.
No quarto capítulo descreve o resultado da pesquisa que diz respeito aos
saberes matemáticos de adolescentes que pegam carrego na feira livre da cidade
de Senhor do Bonfim. O resultado dessa pesquisa pode contribuir para que
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educadores dessa área tirem suas dúvidas a respeito desse tema ou que pretendem
lecionar em classes de matemática.
Nas considerações finais, mostramos o resultado do trabalho que
responde aos objetivos da pesquisa e a questão proposta. Quanto à contribuição,
o mesmo, pode servir para futuros estudantes de Matemática, bem como para
educadores interessados em conhecer como os adolescentes que pegam carrego
na feira livre da cidade de Senhor do Bonfim, vivenciam os saberes matemáticos na
sala de aula.
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CAPÍTULO I
1 - PROBLEMATIZAÇÃO
A matemática vive em constante transformação, no que se refere à forma
de passar os conteúdos para os alunos, busca-se atualmente o aprendizado a partir
da realidade do aluno, ou seja, da sua convivência com o meio. Nesse sentido, o
professor dessa disciplina precisa repensar o ensino com o objetivo de atender as
exigências educacionais da atualidade e deixar de lado a metodologia que dificulte
a aprendizagem dos alunos.
De acordo com Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN´s (1997) a
matemática, surgiu na Antiguidade por necessidades da vida cotidiana, convertendo-
se em um sistema de variadas e extensas disciplinas e mesmo com um
conhecimento superficial da Matemática, é possível reconhecer certos traços que a
caracterizam: abstração, precisão, rigor lógico, caráter irrefutável de suas
conclusões, bem como o extenso campo de suas aplicações.
Em sua origem, a matemática constituiu-se a partir de uma coleção de regras isoladas de decorrentes experiências diretamente conectadas com a vida diária. Da mesma forma, a sobrevivência numa sociedade complexa, que exige novos padrões de produtividades, depende cada vez mais do conhecimento matemático. É importante destacar que a matemática deverá ser vista pelo aluno como um conhecimento que pode fornecer o desenvolvimento do seu raciocínio, de sua capacidade expressiva, de sua sensibilidade e estética e de sua imaginação. (SANTOS, 2009, p.5).
Sobre o ensino da matemática, o Ministério da Educação e Cultura - MEC
(2004) afirma que há uma dualidade bem visível no ensino atual de Matemática: de
um lado, a compreensão mais tradicionalista com certa rigidez, pouca funcionalidade
e muitas amarras, existente em grande parte de livros, programas e ações em sala
de aula e do outro , a ansiedade e inconformismo crescentes frente a esse ensino,
que se traduzem em busca continuada e experimentação tímida de novas
alternativas. Apesar dessa dualidade, algumas inovações ocorrem mesmo entre
aqueles que desenvolvem o ensino mais tradicional.
O conhecimento matemático, para Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCN´s (1997) é fruto de um processo que fazem parte a imaginação, os contra-
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exemplos, as conjecturas, as críticas, os erros e os acertos, mas que é apresentado
de forma descontextualizada e geral, sendo preocupação do matemático ,somente
comunicar resultados e não o processo pelo qual os produziu. Assim, a Matemática
desenvolve-se, desse modo, mediante um processo de conflito entre muitos
elementos contrastantes: o concreto e o abstrato, o particular e o geral, o formal e o
informal, o finito e o infinito, o discreto e o contínuo.
No ensino voltado para a vida, segundo o MEC (2004) é levado em
consideração os fatores como o fracasso no ensino da Matemática, mudanças na
sociedade, que demandam outra formação do cidadão, mudanças na realidade de
vida do aluno e sua pouca motivação ante o conhecimento veiculado na escola,
levando a pensar em um ensino e uma escola diferentes, mais significativos para o
aluno atual e para o cidadão que queremos formar.
Ao se pensar na aprendizagem matemática nas séries iniciais, muito se tem falado no objetivo de desenvolver, no aluno, as competências e habilidades matemáticas para a vida na sociedade de hoje. Entretanto, definir quais são essas habilidades, consubstanciar uma proposta que atenda a essa concepção e operacionalizá-la não têm sido tarefas de fácil realização. (MEC, 2004, p.3).
Os estudos matemáticos da criança acontecem com atividades que
tenham significado, mas atualmente algumas escolas e professores têm dado o
conhecimento matemático pronto e acabado para o aluno, não permitindo que o
aluno construa sua aprendizagem estabelecendo a relação de significação. O
conhecimento matemático tem que ser construído pelo aluno por meio de atividades
que lhe despertem o interesse para aprender, fazendo relações do que ele vê dentro
da escola com o que ele já conhece fora da escola. ( Santos, 2009).
Sobre as atuais tendências na reforma educacional em todo o mundo
alterando a forma tradicional de ensino, segundo Fernandes (2005) o ensino da
matemática através de novas metodologias vem crescendo, por se tratar de uma
disciplina que os alunos expressam dificuldades de compreensão. Segundo a autora
os questionamentos dos alunos, sobre os conceitos matemáticos, podem promover
reflexões no professor e conseqüentemente na transformação do ensino. Diante de
tais afirmações Miranda (2009) afirma que:
Para que o aluno seja inserido no mundo da relação social, a matemática contribui na compreensão das informações, pois a sua aprendizagem vai além de contar, calcular, ela nos permite analisar, medir dados estatísticos e
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ampliar cálculos de probabilidade, os quais representam relações importantes com outras áreas do conhecimento. (MIRANDA, 2009, p. 3).
O ensino de Matemática nas escolas tem adotado diferentes orientações,
tendo como apoio as diversidades metodológicas e os recursos didático-
pedagógicos, mas os resultados da aprendizagem não têm sido animadores, pelo
baixo aproveitamento dos alunos mostrado pelos indicadores das avaliações oficiais
e pela medida de pontos feita por cada professor nas salas de aula. É interesse e
responsabilidade de cada profissional e dos órgãos gestores da educação envolvido
no processo de ensino e aprendizagem reverter tal situação, de modo que
aprender matemática seja uma possibilidade para amplas parcelas dos estudantes,
tendo como uma das conseqüências reduzir o descompasso entre os resultados das
avaliações e o resultado da aprendizagem. ( Santos, 2008).
De acordo com Druck (2003) abordar a questão do ensino da matemática
levando em consideração somente do ponto de vista pedagógico é um erro, é
preciso encarar as deficiências de conteúdo dos que lecionam matemática e
entender as motivações dos que procuram licenciatura em matemática, refletindo
sobre a formação que a licenciatura lhes proporciona e as condições de trabalho
com os quais se depararão ao começar a lecionar essa disciplina.
Sobre a construção do saber, segundo Charlot (2005), para que o aluno se
adapte ao saber escolar é preciso estudar, envolver-se em uma atividade intelectual
e estar mobilizado em relação à escola. A mobilização acontece quando a
aprendizagem faz sentido para ele, respondendo um desejo de aprender.
Nisso, Charlot (2005) comenta sobre as relações que se estabelece entre o
sujeito (aluno) e o objeto (saber).
O conjunto das relações que um sujeito estabelece com um objeto, um conteúdo de pensamento, uma atividade, uma relação interpessoal, um lugar, uma pessoa, uma situação, uma ocasião, uma obrigação, etc., relacionados de alguma forma ao aprender e ao saber – consequentemente é também relação com a linguagem, relação com o tempo, relação com a atividade no mundo e sobre o mundo, relação com os outros e relação consigo mesmo, como mais ou menos de aprender tal coisa, em tal situação. (CHARLOT, 2005, p.45).
Para Knijnik, Wanderer e Oliveira (2004), a matemática é um componente
cultural fundamental para o desenvolvimento da inteligência humana, mas por outro
lado, se a intenção é conduzir uma criança a abstrair conceitos, isto terá que ser
feito numa pedagogia adequada para essa finalidade. Sendo assim, é fundamental e
15
adequado partir do saber-fazer do estudante, e junto com ele construir o
conhecimento.
Partindo de tais considerações a pesquisa nasceu da necessidade de
repensar o ensino de matemática buscando caminhos para entender as novas
exigências e propondo investigar sobre os saberes matemáticos a partir de uma
metodologia diferenciada, tendo como contribuições as situações do cotidiano do
aluno.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2005), afirma que
a maior parte das crianças de 5 a 17 anos de idade pertence a famílias com
rendimento mensal muito baixo: de até ¼ de salário mínimo por pessoa. Isto ocorre
principalmente no Nordeste, onde das crianças e adolescentes que trabalham, a
média é de 40,1% pertencendo à parcela de mais baixa renda. Nisso, por ajudarem
no sustento da família, as crianças que trabalham podem acabar enfrentando sérios
problemas em sua educação, pois 68,6% com idade entre 7 a 17 anos que
trabalham estão atrasadas. Segundo esse órgão, o atraso escolar entre as crianças
que não trabalham atinge 45,8% e as crianças que não trabalham também
freqüentam mais a escola: são 91,7% contra 80,5% das que trabalham.
Os saberes matemáticos adquiridos pelos adolescentes que estão em
classes do Ensino Fundamental, é de fundamental importância, pois, tem com
objetivo utilizá-los no cotidiano e durante toda a sua vida.E como professor da
disciplina de matemática, buscando sempre um significado para prática da sala de
aula, através de observações de crianças e adolescentes (alunos) que pegam
carrego na feira livre, tive a curiosidade de investigar como esses alunos veem o
ensino de matemática na sala de aula, surgindo assim a ideia de fazer tal pesquisa.
E a partir de tal realidade foi necessário saber: Como os adolescentes que pegam
carrego na feira livre da cidade de Senhor do Bonfim-Ba, vivenciam os saberes
matemáticos no cotidiano?
Logo, o objetivo aqui proposto é identificar os saberes matemáticos de
alunos do Ensino Fundamental II que pegam carrego na feira livre e os objetivos
específicos propostos foram:
Identificar os alunos que pegam carrego na feira livre e como os mesmos
vêem o ensino da matemática no cotidiano da sala de aula;
Investigar como estes alunos fazem seus cálculos matemáticos no
momento de passar um troco;
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Investigar se os mesmos têm alguma dificuldade na disciplina de
matemática no contexto escolar.
CAPÍTULO II
2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 - SABER MATEMÁTICO
Com o objetivo de fundamentar sobre o saber matemático na escola de
Ensino Fundamental II, atenta-se primeiramente para saber como surgiu a
matemática no Brasil. Nessa perspectiva, verifica-se que a matemática foi
introduzida pelos jesuítas, através da Lição de Algarismos, ou primeiras operações,
sendo que esse ensino era gradativamente elevado, isso em 1605 nos colégios da
Bahia,Rio de Janeiro e Pernambuco .( Leite apud Valente ,2007).
Segundo Valente (2007), a generalização dos estudos matemáticos como
cultura escolar dos colégios jesuítas parece ter fracassado, ou não ganhou muito
destaque, pois poucas escolas mantiveram cursos de matemática , além de as
matemáticas não imporem facilmente como ciência ,mesmo aos próprios
professores de ciência da ordem jesuítica. Para o autor, outra questão importante
que impedia o desenvolvimento e difusão das matemáticas nas escolas da
Companhia de Jesus, era o fato de não haver professores.
No que diz respeito à construção das noções matemáticas, Miguel el al
(2009) afirma que:
Para que possamos compreender o caminho trilhado pela sociedade humana durante a construção das noções matemáticas no decorrer da sua história, é necessário que busquemos informações mais detalhadas sobre os aspectos essenciais acerca da formação do pensamento matemático, bem como sobre sua história e posteriormente, a respeito do desencadeamento de estratégias, de disseminação desse pensamento em diferentes contextos socioculturais e em diferentes épocas de nossa história. ( MIGUEL et al,2009,p.111).
Na compreensão da construção das noções matemáticas é necessário
buscar informações mais detalhadas sobre o pensamento matemático, sua história
e como são tratados em diferentes contextos e épocas históricas, para que assim os
estudantes reflitam sobre as leis matemáticas a partir do que for ensinado pelo
professor.
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Contrapondo à afirmação acima, vê-se que o trabalho de
descontextualização e despersonalização têm participação na capitalização do
saber, e o trabalho de recontextualização e o tratamento dos problemas que daí
decorrem ,permitindo que o sentido se amplie, não impedindo que o acúmulo de
práticas ou de conhecimentos particulares e até mesmo provisórios ocorram. Dessa
forma, vê-se que através do exemplo de que as noções, bem como os teoremas,
podem ser trabalhados e modificado segundo as situações onde são solicitados,
resultando assim em novas noções, matéria e de trabalho, interpretação,
modificação, generalização, há ai conceitos contextualizados. (Doudy, 1994, p.23).
Sobre o saber matemático no ensino e aprendizagem, Mendes (2009) nos
diz que o uso de atividades como causadora do ensino e da aprendizagem
matemática, geralmente é desenvolvida nas primeiras séries do Ensino
Fundamental, de acordo com as concepções dos professores de construção de
conhecimento pelas crianças. Segundo o autor, o uso adequado de atividades que
favoreçam a interatividade entre o sujeito e o objeto de conhecimento sempre com
uma estrutura contextualizada precisa comprovar três aspectos do conhecimento: o
cotidiano, o escolar e o cientifico.
Como se observa nas palavras de Mendes (2009), as atividades
desenvolvidas pelo professor precisam integrar os conhecimentos que diz respeito
ao cotidiano, o escolar e o científico para que assim haja a interatividade entre o
sujeito e o objeto e conseqüentemente ocorra o ensino-aprendizagem.
Para efetivarmos uma ensino-aprendizagem significativo em Matemática, é necessário utilizarmos as atividades históricas, buscando no material histórico existente todas as informações úteis à condição da nossa ação docente e,somente a partir daí ,orientar os estudantes à realização de atividades .( MENDES,2009,p.94).
Para explorar a matemática utilizando as suas aplicações, Lorenzato
(2008,53), afirma que a aprendizagem se torna mais interessante e realista, e por
isso mais significativa. E a presença de aplicações matemáticas nas aulas é um dos
fatores que mais podem auxiliar nossos alunos a se prepararem para viver bem sua
cidadania, sabendo que as aplicações explicam os porquês da
matemática ,ajudando a resolver problemas.
De acordo com D’Ambrosio (2005), no cotidiano está carregado de
saberes e fazeres próprios da cultura, vendo que os indivíduos estão cada vez
comparando ,classificando , quantificando ,medindo ,explorando ,generalizando,
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inferindo e, de algum modo , avaliando, usando os instrumentos materiais e
intelectuais que são próprios á sua cultura. Segundo o autor, ao utilizar o cotidiano
das compras para ensinar matemática, o professor mostra práticas apreendidas fora
do ambiente escolar, uma verdadeira Etnomatemática, possibilitando uma visão
crítica da realidade.
A construção das idéias matemáticas não se faz por simples acréscimos ou reformulações do conhecimento popular. Na maioria das vezes ocorre uma verdadeira ruptura com o conhecimento empírico. Ante essa dificuldade há duas posições pedagógicas igualmente radicais: uma consiste na tentativa de reduzir o saber escolar a um tipo de conhecimento desprovido de valor educativo para a matemática; a outra busca isolar o ensino nos limites internos de sua própria dimensão cientifica, totalmente isolado da realidade do aluno. ( MACHADO, 2008, p.43).
Como se pode observar nas palavras da autora, as idéias matemáticas
surgem quando há uma abertura do conhecimento que se tem sobre um
determinado assunto. Há nesse sentido uma contradição baseada na tentativa de
reduzir o saber escolar e a outra a tentativa de isolar o ensino baseado na realidade
do aluno.
Segundo o Ministério da Educação e Cultura - MEC (2004) se
considerarmos determinados contextos sociais específicos, como por exemplo, as
crianças trabalhadoras, a necessidade de obter o dinheiro pelo seu próprio trabalho
é também um elemento inegável que as encoraja ao processo de aprendizagem e
construção do conhecimento matemático. Observa-se ainda que o desenvolvimento
de competências para resolver problemas matemáticos concretamente
contextualizados, são competências que essas mesmas crianças não apresentam
em contextos escolares.
Sobre isso Brasil (2004) afirma que:
O processo de incorporação dos conceitos científicos é influenciado pelas representações pessoais que o aluno possui da Matemática, assim como esta incorporação é influenciada pelos conceitos cotidianos e pelos processos operatórios próprios e pessoais adquiridos no contexto de resolução de problemas da vida cultural. Infelizmente, muitos professores não consideram essas questões em seus projetos pedagógicos, em função, dentre outros fatores, de sua formação inicial e de sua formação continuada, que não permitiram, até então, considerar tais aspectos. (BRASIL, 2004, p. 20).
É fundamental que professores levem em consideração os saberes que os
alunos têm e que são influenciados pelos saberes cotidianos, para que assim, os
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mesmos tenham melhor compreensão dos conceitos científicos apresentados na
sala de aula.
O saber matemático parte da necessidade de compreender as diversas
questões através de um saber contextualizado, levando em consideração as
atividades adequadas para que esse saber ocorra de forma significativa.
2.2 - ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA
A aprendizagem é a mudança de comportamento ao longo da vida. Dessa
forma, o nosso organismo precisa estar integrado com o meio físico e social para
melhor atender as nossas necessidades, exigindo esforço, pois se isso não ocorrer
dificilmente haverá aprendizagem.
Néreci (1983) refere-se à aprendizagem afirmando que:
O homem aprende quando defronta obstáculos e sente que precisa vencê-los, todo o aprender não é mais do que um vencer obstáculos. Ninguém pode ensinar propriamente nada a ninguém. O que se faz é sensibilizar outra pessoa a sentir e a querer superar obstáculos. (NÉRECI, 1983, p.142
De acordo com Rosa (2003,p.42) , há condições para que a aprendizagem
ocorra , favorecendo ou inibindo a quem se dispõe a aprender ,nisso elas estão
classificadas em:físicas , psicológicas , ambientais e sociais . Veremos a seguir as
características de cada uma delas , apresentadas pelo autor:
Condições físicas - são as condições orgânicas favoráveis e a
maturação, sendo a maturação as condições de amadurecimento físico e
psicológico que permite a realização de determinadas aprendizagens.
Condições psicológicas – diz respeito à motivação do indivíduo, sendo
a motivação um processo interno e constituindo-se a uma resposta
pessoal do indivíduo frente a uma situação.
Condições ambientais – um ambiente adequado, ambiente reforçador,
condições de acomodação física de temperatura, iluminação e ventilação
agradáveis, tendem a favorecer a aprendizagem.
Condições sociais - facilitador social, onde o trabalho comum dispõe de
maneira geral, a que as pessoas, vendo outras trabalharem na mesma
tarefa, sintam a necessidade também de praticá-lo.
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Assim, podemos dizer que a aprendizagem ocorre a partir do
desenvolvimento das competências e pela mudança de comportamento, sendo que
há várias formas de aprender de acordo com a visão de muitos teóricos e pelo que
presenciamos no cotidiano, tanto no ambiente escolar como fora dele, não devendo
descartar nenhuma das formas ou meio que o indivíduo tem para aprender. E as
condições que a aprendizagem ocorre como vimos, podem ajudar ou prejudicar o
indivíduo durante esse processo.
Nesse sentido, Meira e Spinello (2006) afirmam que os alunos precisam
ser encorajados refletir sobre suas formas de raciocinar e de proceder, a ouvir
opiniões dos colegas, pois assim a aprendizagem de matemática ajudará no
funcionamento cognitivo, auxiliando-os a estruturar o pensamento, a agilizar o
raciocínio lógico-dedutivo resolvendo de diferentes maneiras as situações que lhes
são apresentadas.
Na atividade de resolução de problemas é comum os alunos construírem
registros numéricos para expressar os processos de cálculo mental que utilizam,
evidenciando o campo de conhecimentos matemáticos que são a base para o
cálculo escrito e particularmente para a compreensão das técnicas de cálculo que
são ensinadas na escola. Os diferentes procedimentos e tipos de cálculo
relacionam-se e complementam-se, pois o cálculo escrito, para ser compreendido,
apóia-se no cálculo mental e nas estimativas e aproximações. Assim, os
procedimentos de cálculo mental, constituem a base do cálculo aritmético que se
usa no cotidiano, pode-se dizer que o calculo mentalmente quando efetuado uma
operação, recorre-se a procedimentos seguros, sem os registros escritos e sem a
utilização de instrumentos. ( Brasil, 1997).
Ainda sobre a resolução de problema, Portanova el al (2005) afirma que:
Na resolução de problema, o professor deve funcionar como incentivador e moderador de idéias geradas pelos próprios alunos. Nesse caso, eles participam ativamente e não ficam passivos observando a Matemática ser feita pelo professor. O papel do professor é manter os alunos pensando e gerando idéias produtivas. ( PORTANOVA et al,2005,p.82).
Verifica-se que na resolução de problemas, o professor não deve usar da
impaciência e querer resolver tudo para o aluno, mas procurar incentivar-lo , pois
somente assim ,com calma e obedecendo as etapas necessárias, ele consiga
compreender o que foi proposto e resolver sem muitas dificuldades.
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É fundamental não subestimar a capacidade dos alunos, reconhecendo que resolvem problemas, mesmo que razoavelmente complexos, lançando mão de seus conhecimentos sobre o assunto e buscando estabelecer relações entre o já conhecido e o novo. (PCN´s, 1997, p.25).
Para Bicudo e Borba (2004), todos os conceitos e procedimentos
matemáticos podem ser melhor ensinados através da resolução de problemas.Para
tanto, segundo os autores, as tarefas e problemas podem e devem ser dados de
modo a engajar os alunos no ¨ pensar sobre ¨ e no desenvolvimento de matemática
importante que eles precisam aprender.
Não há dúvida de que ensinar com problemas é difícil. As tarefas precisam ser planejadas ou selecionadas a cada dia, considerando a compreensão dos alunos e as necessidades do currículo. É freqüentemente difícil planejar mais do que alguns poucos dias de aula à frente. Se há um livro-texto tradicional, será preciso, muitas vezes, fazer modificações. Entretanto, há boas razões para se fazer esse esforço. ( BICUDO e BORBA, 2004, p.223).
A escola atual está voltada para uma educação que contemple o trabalho
coletivo, o diálogo e a construção de nova forma de pensar, e o professor como
educador, tem a função de estruturar atividades que desenvolva a autoconfiança de
seus alunos. Nessa perspectiva, a introdução de jogos bem estruturados demonstra-
se um rico recurso didático para a matemática. (Portanova et al ,2005).
Nessas considerações sobre o ensino e aprendizagem de matemática ,
cita-se por exemplo a introdução do jogo com a finalidade de resolver problemas,
ajudando também o aluno a estabelecer planos e alcançar seus objetivos,
constituindo dessa forma, uma aproximação com o que será estudado.
Na introdução de jogos no ensino e aprendizagem de matemática, tem-se
como finalidade o seguinte:
O jogo tem a finalidade de desenvolver habilidades de resolução de problemas, em que o aluno, por meio dele, estabelece planos para alcançar seus objetivos, age nessa busca e avalia os resultados. Logo, o jogo possibilita aproximação do sujeito com o conteúdo científico, por intermédio da linguagem, informações, significados culturais, compreensão de regras, imitação, bem como pela ludicidade inerente ao próprio jogo, assegurando assim a construção de conhecimentos mais elaborados. (MOURA ,1994 citado por ALVES, 2001, p.26).
Sobre os critérios de escolha para que a atividades lúdicas sejam úteis no
processo educacional, Alves (2001) sugere que o jogo seja proposto por situações
interessantes e desafiadoras para os jogadores; que permita a auto-avaliação do
22
desempenho do jogador e que permitia também a participação ativa de todos os
jogadores durante todo o jogo.
Nisso, no que se refere às sugestões de recursos didáticos no processo
de ensino e aprendizagem, Santos (2009) sugere:
Recursos didáticos como jogos, livros, vídeos, calculadoras, computadores e outros materiais têm um papel fundamental no processo de ensino e aprendizagem. Todos precisam estar integrados ao processo de ensino-aprendizagem da Matemática de forma que permita que os alunos consigam fazer relação do que ele aprenda na escola com o que ele vivencia. (SANTOS, 2009, p.5).
Com tais recursos didáticos sugeridos por Santos (2009), apercebe-se que
a matemática está ligada à compreensão do aprender através de um objeto ou um
acontecimento, mas para que isso ocorra é necessário fazer relações entre eles,
para que assim tal compreensão seja concretizada.
2.3 - ETNOMATEMÁTICA
Com o objetivo de tecer algumas considerações sobre a Etnomatemática,
é concreto afirmar que ela está presente em todas as culturas. E no processo de
ensino e aprendizagem da matemática, se destaca como forma de melhor
desenvolver e analisar várias formas de conhecimento, não se prendendo apenas
as teorias e práticas matemáticas.
Nesse sentido, Etnomatemática, está presente em todas as etapas da
evolução da espécie e em todas as culturas, pois, assim como o falar, comparar,
classificar, ordenar, medir, contar, inferir, são próprios também da natureza humana
. E feito de maneiras distintas, dependendo do ambiente natural e cultural em que o
grupo de indivíduos está inserido, haverá melhor aproveitamento. (Prado, 2008).
O entendimento do que seja a Etnomatemática, de acordo com
Halmenschlager (2001, p.25),é que a mesma foi introduzida por Ubiratan D’
Ambrosio em 1975, e desde então tem sido utilizada também internacionalmente.
Segunda a autora, na perspectiva da Etnomatemática, vê-se que a mesma é ampla
e não se limita a identificar a Matemática criada e praticada por um grupo cultural
especifico, se restringe a essa dimensão local.
Sobre a Etnomatemática, Portanova et al ( 2005) afirma que:
23
Uma ideia importante que se destaca no ensino da História da Matemática é a Etnomatemática, considerada hoje como uma subárea da História da Matemática e da Educação Matemática. ( PORTANOVA et al,2005,p.74).
Pode-se se perceber nas palavras da autora que hoje a Etonomatemática
se destaca como uma parte da História da Matemática tão importante quanto a
Educação Matemática, pois ambas tratam das relações do ensino e aprendizagem
da matemática, destacando de que forma o ensino de matemática pode ser melhor
desenvolvido no contexto que está inserido.
Nessa perspectiva, o programa Etnomatemática é uma proposta de teoria
do conhecimento, cuja idéia surgiu da análise de práticas matemáticas em diversos
ambientes culturais e ampliados para analisar diversas formas de conhecimento,
não apenas as teorias e práticas matemáticas. Segundo o autor, esse programa é
um estudo da evolução cultural da humanidade no seu sentido amplo, a partir da
dinâmica cultural que se nota nas manifestações matemáticas. O ponto de partida é
o exame da história das ciências, das artes, das religiões em várias culturas, vendo
que o programa se apresenta como um programa de pesquisa sobre história e
filosofia da matemática, com importantes reflexos na educação.
( D’Ambrósio, .lku2005p. 15).
Nisso, D’Ambrósio ( 2005) afirma que:
O grande motivador do programa de pesquisa que denomino Etnomatemática é procurar entender o saber /fazer matemático ao longo da história da humanidade, contextualizada em diferentes grupos de interesse, comunidades, povos e nações. Essa denominação será justificada ao longo desta obra. (D’AMBRÓSIO, 2005, p.17).
Além de tais considerações, de acordo com Knijnik ,Wanderer e Oliveira
(2004, p.258), a Etnomatemática problematiza justamente a dicotomia existente
entre os conhecimentos instruídos como matemáticos e aqueles praticados pelos
mais diversos grupos sociais como a classe trabalhadora ,os negros , os
indígenas ,as mulheres ,os quais permanecem silenciados e não são considerados
científicos .Assim , para os autores, o campo da Etnomatemática considera que
conhecimentos matemáticos existem em todas as culturas e cada grupo desenvolve
sua maneira própria e específica de contar ,medir ,fazer contas ,mas verifica-se
que determinados grupos não aceitam os conhecimentos matemáticos de outros
grupos.
24
Para entender o ciclo do conhecimento de forma integrada, D’Ambrósio
(2005, p.38), mostra um esquema, onde a realidade natural, sociocultural e
emocional se unem. Para o autor , a fragmentação desse sistema é absolutamente
inadequada para se entender o ciclo do conhecimento. A historiografia associada à
fragmentação do ciclo não pode levar a uma percepção integral de como a
humanidade evolui, vendo que a fragmentação é inadequada para se analisar o
conhecimento matemático das culturas periféricas.
Figura: 1 – Ciclo permanente que permite a todo ser humano interagir com o meio.
Fonte: http://vello.sites.uol.com.br/reflexos.htm.
De acordo com Vergani (2009), ao ligar tradições/sociedades/culturas a
etnomatemática envolve-se com os símbolos de ontem, de hoje e de amanhã. Cabe
a etnomatemática saber ligar as identidades formais às vivenciais das comunidades
que participam cotidianamente, percebendo que a etnomatemática atualmente é
uma condição presente na sociedade, pois não é submetida às normas
convencionais, mas tem um consenso partilhado na educação escolar.
No processo de ensino, a etnomatemática procura fazer uma ligação com
os acontecimentos do passado do presente, e do futuro, pois é nessa perspectiva,
ou através dessa ligação que a união do saber cotidiano com o saber escolar faz
sentido para aqueles que entendem que a compreensão da matemática não ocorre
com fragmentos, pois é necessário um consenso partilhado.
25
CAPITULO III
3 - METODOLOGIA
A pesquisa realizou-se a partir de revisão bibliográfica (em livros e meio
eletrônico ) e pesquisa de campo (na Praça Augusto Sena Gomes ) com o objetivo
de identificar os saberes matemáticos de alunos do Ensino Fundamental II que
pegam carrego na feira livre.
3.1 - Área de Estudo
A presente pesquisa foi realizada na Praça Augusto Sena Gomes localizada
na cidade de Senhor do Bonfim Bahia, local onde ocorre a feira livre de segunda a
sábado, sendo que os dias de maior movimentação são às sextas-feiras e sábados.
26
Figura: 2- Praça Augusto Sena Gomes
3.2 - Caracterização da Pesquisa
A pesquisa foi conduzida no período de agosto a dezembro de 2010,
tendo enfoque qualitativo, segundo Bogdan e Biklen (1982) citado por André e
Ludke (1986) a pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos,
obtidos no contato direto com o pesquisador e a situação estudada, enfatizando
mais o processo do que o produto e se preocupando em retratar a perspectiva dos
participantes.
A escolha da abordagem se deve ao fato de procurar concretizar o que
antes era somente hipótese, para que assim, através da aproximação entre objeto
e o sujeito da pesquisa, haja a possibilidade de comprovar ou refutar o que se
procura descobrir ou simplesmente comprovar o fato.
Nesse sentido, a pesquisa de cunho participativo, valoriza a prática como
fonte de conhecimento. Nisso, foi realizada inicialmente um levantamento
bibliográfico em consultas realizadas na biblioteca em meio eletrônico (Internet) e
depois conduzido ao caráter de pesquisa qualitativa.
Segundo Demo (1999), a pesquisa participativa é a mais evidente para
27
valorizar a prática como fonte de conhecimento, apesar das banalizações típicas,
propondo a eliminação da dicotomia entre sujeito e objeto, tendo assim que
estabelecer relação dialogal de influência mútua, teórica e prática.
A abordagem qualitativa realiza uma aproximação fundamental e de intimidade entre o sujeito e objeto, uma vez que ambos são da mesma natureza: ela se envolve com empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam-se significativas. (MINAYO, 2004, p.2).
Dessa forma, Minayo (2004),afirma que a abordagem qualitativa solidifica
no campo da subjetividade e do simbolismo, de forma que a compreensão das
relações humanas e seus significados são dados através das observações e
experimentações.
3.3 - Populações/ Sujeito
A amostra foi constituída por 10 adolescentes que pegam carrego na feira
livre situada na Praça Augusto Sena Gomes na cidade de Senhor do Bonfim- Bahia.
3.4 - Instrumento de Pesquisa
O instrumento utilizado para a pesquisa foi a coleta de dados através de
questionários aplicados diretamente aos alunos, com perguntas abertas e fechadas,
além de observação direta na feira livre, identificando a forma como os sujeitos da
pesquisa negociam os seus carregos.
O uso de questionário, segundo Moreira e Caleffe (2008, p.47) é uma das
maneiras mais populares para coletar dados, ele é muito fácil de entender o porquê ,
as suas respostas podem ser qualificadas por meio técnico estatísticos e
sofisticados e os resultados são apresentados com toda a confiança que trazem os
números.
Em um levantamento, o objetivo do questionário é oferecer a todos os respondentes o mesmo estimulo para obter dados padronizados: os mesmos itens apresentados da mesma maneira, de modo que qualquer variação na resposta é o verdadeiro reflexo de variedade de visões e circunstâncias dos respondentes. (MOREIRA e CALEFFE, 2008, p.131).
No que diz respeito à observação direta, a mesma permite que os
observados cheguem mais perto da perspectiva do sujeito, um importante alvo nas
28
abordagens qualitativas, podendo constantemente modificar suas categorias,
tornando-as mais adequadas ao problema.
De acordo com Vianna (2007, p.47), a observação a ser realizada em campo
representa um trabalho intenso e prolongado, podendo levar a novas opções de
coletas de informações fora da área de atuação do pesquisador, como a observação
de um professor, que pode ser modificado de acordo com a sua necessidade ou o
que se queira pesquisar.
CAPÍTULO IV
4 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
A análise de dados foi produzida através de dados qualitativos que foram
interpretados levando em consideração a fundamentação teórica deste estudo e a
técnica de análise de conteúdos do discurso.
O público alvo dessa pesquisa foram adolescentes na faixa etária entre
treze a quinze anos de idade, sabendo que a maioria mora com a família (pai, mãe
e irmão ) e por não ter uma renda maior para suprir as suas necessidades
cotidianas, pegam carrego na feira livre da cidade de Senhor do Bonfim, objetivando
ajudar no orçamento doméstico ou para as suas próprias necessidades.
Os alunos foram observados no local onde desenvolvem o seu trabalho, ou
seja, na feira livre. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a
Infância - UNICEF (2009, p.3) a maioria dos adolescentes que trabalha faz
porque suas famílias vivem em uma situação de pobreza, impedindo-os de
obter os recursos necessários para satisfazer suas necessidades de
29
alimentação, vestido, saúde, educação, recreação, entre outros. Segundo
tal órgão, muitas vezes seus pais ou mães não têm bons empregos que
lhes permitam ganhar suficiente dinheiro para garantir a sobrevivência da
família. Após a investigação no
local de trabalho desses adolescentes, houve uma pesquisa mais minuciosa,
através de uma coleta de dados e de um questionário com perguntas abertas e
fechadas.
Com o objetivo de saber quais os saberes matemáticos dos adolescentes
que pegam carrego na feira livre da cidade de Senhor do Bonfim, verificou-se que
dos 10 adolescentes entrevistados, a maioria tem entre 13 a 15 anos de idade, está
na 8ª série do Ensino Fundamental II, tendo em média 2 anos nessa atividade com o
intuito de ajudar no orçamento doméstico e também em suas necessidades.
4.1 – Observação
Com a finalidade de saber como os adolescentes fazem os seus cálculos,
houve cinco observações simples na feira livre situada na Praça Augusto Sena
Gomes aproximadamente de 30 minutos . Logo de inicio, verificou-se que os
adolescentes conversam sempre entre si, e a forma de se vestirem é simples,
ficando sempre sentados dentro da carroça, na qual os mesmos fazem o seu
carrego. Sabendo que essas observações ocorreram no primeiro dia.
No segundo dia de observação foi percebido que esses adolescentes
disputam entre si os carregos, mas que a maioria já tem os seus clientes certos em
dias de muito movimento(sextas e sábados ) .
No terceiro dia, os adolescentes assim como no dia anterior, disputavam
os clientes entre si. Alguns pediam que seus clientes ficassem esperando até que
eles voltassem para pegar o carrego, alegando que a entrega era muito próxima.
No quarto dia, observei que os mesmos também comentaram sobre os
seus clientes, como por exemplo: quem paga mais, quem dá um agrado ou quem
30
não gosta de pagar o preço que eles cobram.
No último dia de observação, dos 10 adolescentes, seis estavam no local
de sempre esperando que algum cliente quisesse pegar carrego com eles, o
movimento de pessoas na feira livre não foi muito animadora, por ser período de
férias escolares.
Durante tais observações, percebeu-se que os clientes perguntavam o
preço do carrego e somente quando chegavam aos seus destinos que os
adolescentes recebiam o dinheiro por seu trabalho. Geralmente o preço cobrado era
de R$ 2,00 a R$ 4,00 para cada entrega.
4.2 – Questionário
O quadro abaixo mostra a faixa etária, a escolaridade, o tempo que pega
carrego na feira livre, bem como a forma que os adolescentes entrevistados fazem
seus cálculos momento de passar o troco.
Questões Socioculturais
Idade 3
adolescentes
têm 13 anos
1 adolescente
tem 14 anos
1 adolescente
tem 15 anos
3
adolescentes
têm 16 anos
Escolaridade
1 adolescente
está na 5ª
série
2 adolescentes
estão na 6ª
série
2 adolescentes
estão na 7ª série
5
adolescentes
estão na 8ª
série
3 7 adolescentes têm 2 anos
31
Tempo que
pega carreto
adolescentes
têm 1 ano
Como faz os
cálculos
Todos os 10 adolescentes fazem a conta mentalmente
Independente da faixa etária, escolaridade e o tempo que pega carrego,
os 10 adolescentes entrevistados responderam que usam o cálculo mental no
momento de passar o troco, não utilizam ai caneta e papel, nem tão pouco uma
calculadora. Pode-se afirmar que isso se deve ao fato de já terem prática nessa
atividade e por isso não encontram dificuldade ao fazer o cálculo mental.
A respeito de cálculo mental, Mores e Caetano (2008, p.2) afirmam que é
caracterizado pela busca de métodos alternativos para a realização de cálculos mais
rápidos, quase sempre sem o uso de lápis e papel, envolvendo as quatro operações
para o desenvolvimento.
Dessa forma, fica claro que os adolescentes que participaram da pesquisa,
ao cobrar o seu frete, utilizam o calculo mental, pois é o meio mais rápido de
descobrir quanto cobrará pelos carregos feitos ao longo de um dia de trabalho.
Questão: Você gosta de estudar matemática?
A, C, R.H e B responderam – SIM ¨ É importante para o nosso dia a dia ¨.
T , S,D E e M responderam - NÃO ¨ nas aulas é sempre a mesma coisa¨ , ¨é
difícil¨.
E quanto ao gosto pela matemática, 50% afirmam que ajuda no
cotidiano ,quando estão trabalhando, mas 50% afirmam que não gostam de
estudar matemática. Quanto as opiniões dos adolescentes é verificado que há um
equilíbrio entre ¨gostar ¨ e ¨não gostar¨ da disciplina.
Segundo Mandarino (2004) a matemática é a disciplina escolar mais
cercada de mitos e medos da Educação Básica, muitos países buscam identificar
metodologias, propondo reformas curriculares, discutir a formação de professores e
32
refletir sobre a relação professor-aluno e a relação destes com o saber matemático,
tentando propor soluções e estratégias para enfrentar o fracasso escolar relacionado
com a Matemática, o que se observa são os modismos calcados nas instituições de
ensino.
O saber matemático desses adolescentes ocorre levando em consideração
a aptidão ou a facilidade que cada tem. Nisso, observa-se que, através das
respostas dadas pelos adolescentes nesta questão, metade ver a matemática de
forma positiva e a outra metade acha que o ensino de matemática não é tão
agradável, pois nas aulas não acontece novidade, é sempre a mesma coisa.
Questão: Como é a aula de matemática para vocês?
A, C, R.H e B responderam que a aula de matemática é ¨chata ¨.
M respondeu que a aula de matemática ruim ¨ .
T e S respondeu que a aula de matemática é ¨ boa ¨.
E e D respondeu que a aula de matemática é ¨mais ou menos¨.
De acordo com a opinião dos adolescentes, a aula de matemática é
considerada não muito agradável, pois a sua classificação não corresponde ao
percentual que pudesse ter a aprovação dessa população pesquisada. E ao
observar tal situação, pode-se verificar que eles não são a exceção, pois de acordo
com Carvalho (1994), existem dois aspectos fundamentais para a análise da
situação do ensino: a concepção de Matemática que em geral norteia o ensino
33
dessa disciplina e o desgosto por esta área de conhecimento manifestado pela
maioria dos alunos do Ensino Fundamental, comprovado por causar alto índice de
repetência e evasão.
Esses dois aspectos vem ao encontro das opiniões dos alunos, pois, a
matemática é vista como uma disciplina perfeita, o conhecimento vem pronto e
acabado, aos alunos, resta receber tudo que lhes é transmitido, não é considerado
o conhecimento que os mesmos trazem do cotidiano para que assim no processo
de ensino-aprendizagem sejam autores da construção de seu próprio
conhecimento.
Dessa forma, ao professor, cabe facilitar a aprendizagem para que os
alunos tenham condições de desfazer o mito de que a aprendizagem de matemática
é algo que determina muito esforço e dedicação, mas reconhecer o ensino da
matemática como é algo presente no cotidiano, cabendo a cada um vivenciá-la
também na sala de aula de forma a integrá-la distanciando da fragmentação.
Questão: Que sugestões você daria ao seu professor (a ) de matemática para que
as aulas ficassem mais interessantes, ou melhor?
B e T responderam: ¨ Precisa mudar as aulas um pouco ¨.
M respondeu: ¨ Precisa fazer alguma coisa diferente ¨.
A , C, H e E responderam : ¨ Colocar mais brincadeiras nas aulas de matemática
D e S responderam: ¨ Ele deve diminuir os exercícios¨.
De acordo com as sugestões apontadas pelos adolescentes, as aulas de
matemática precisam sair do enfoque tradicional, ou seja, desvinculada do cotidiano
dos alunos e partir para um enfoque menos mecânico, onde os mesmos façam parte
do conhecimento. Nesse caso, as sugestões desses alunos servem como base para
um ensino e aprendizagem de modo ativo, sendo eles o centro do processo escolar
e os professores os facilitadores desse processo construído cotidianamente.
34
Sobre essa questão Romanowski (2010,p.42) afirma que a aula dinâmica
caracteriza - se pela interação com os alunos, medida pelo conhecimento, pois o
ensinar e o aprender são processos direcionados ao conhecimento, envolvendo a
cognição e a relação entre os alunos, pois é nesse processo que os saberes dessa
prática profissional são construídos e reconstruídos.
Assim, as aulas de matemática para esses alunos necessariamente
devem sair do tradicional e partir para um ensino e aprendizagem pautados num
enfoque onde o aluno interaja com o professor e sintam necessidade e prazer em
aprender matemática, desfazendo a visão de que essa disciplina é chata ou ruim,
mas sendo uma disciplina que, para compreendê-la é necessário obedecer a um
processo e junto com ele a dinâmica do professor que orienta ,mostrando caminhos
para uma aprendizagem significativa. Vista dessa forma, é possível que as aulas
de matemática tornem-se mais interessantes ou melhor.
Questão: Se Carlinhos cobra por um frete (carrego) R$ 10,00, quanto ele cobrará
por 5 viagens?
E, A, M, B, C e R - fizeram o calculo da seguinte forma: 10+ 10 + 10 + 10 +10 = 50.
H, T, S e D - fizeram o calculo da seguinte forma: 5 x 10 = 50.
Verifica-se que os adolescentes responderam de forma correta a situação
apresentada, pois os mesmos fizeram os cálculos usando formas simples da
adição e da multiplicação, mostrando que sabem resolver um problema quando é
apresentado de forma simplificada.
Para justificar as respostas dadas pelos alunos, Ramos et al ( 2002) ,
afirma que um problema, ainda que simples, pode promover o gosto pelo trabalho
mental se desafiar à curiosidade e proporcionar ao aluno o gosto pela descoberta da
resolução, estimulando a curiosidade e fazendo com que eles se interessem pela
35
Matemática, pois ao tentar resolvê-lo, aluno adquire criatividade e aprimora o
raciocínio, além de utilizar e ampliar o seu conhecimento matemático.
Com isso, o problema apresentado foi resolvido pelos adolescentes
usando duas formas distintas de operação matemática, onde o resultado foi o
mesmo, afirmando ai que não há somente uma maneira de resolvê-lo, mas outras
formas que podem gerar no final um resultado idêntico. Diante dessa situação, o
professor tem papel importante, no momento que leva em consideração a maneira
como os alunos resolvem determinada situação matemática e perceber que os
saberes matemáticos desses alunos são também aprendidos fora do contexto
escolar.
Questão: Paulinho costuma cobrar os carregos levando em consideração o peso,
em que ele cobra R$ 1,00 por Kg. Ele irá realizar um frete que levará 2 caixas de
maçãs, onde cada caixa pesa 5 Kg . Qual será o valor do frete?
T, R e C fizeram o cálculo da seguinte forma: 5 + 5 = 10.
E e B fizeram o cálculo da seguinte forma :1+ 1 + 1 + 1 + 1 = 5.
H fez o cálculo da seguinte forma: 5 x 1 = 5.
A e D fizeram o cálculo da seguinte forma: 2 x 5 = 10.
M e S fizeram o cálculo da seguinte forma: 5 x 2 = 10.
Na situação matemática apresentada acima, alguns adolescentes tiveram
dificuldades ao respondê-la, pois tal situação não é assim tão simples como a
anterior, havendo a necessidade de maior concentração e raciocínio, apesar de
estar vinculado à realidade cotidiana desses adolescentes. Em compensação os
que responderam de forma correta usaram estratégias diferentes, mostrando que
há vários meios de resolver um problema matemático, além de mostrar se os
mesmos têm noção ou não desses saberes, dando exemplo através dessa
resolução.
Frente a tal situação, Sousa (2005) sugere que na sala de aula o
36
professor trabalhe com as tentativas e os erros dos alunos, para que possa
observar qual o caminho usado para chegar à solução de um problema. Isso serve
para compreender o raciocínio dos alunos, preparando-os para as discussões em
torno da resolução desses problemas e idealizar os diferentes processos de
resolução já aprendidos.
Para tanto, por apresentar o enunciado mais elaborado, é possível que
alguns adolescentes não tenham conseguido responder de forma correta tal
problema, mas há a possibilidade de, em outra condição, através do auxilio do
professor ou de outra pessoa, que consiga achar a resposta certa para tal situação,
e mostrar que não basta encontrar a resposta certa, mas é necessário saber o que e
como fazer e porque a sua ação foi apropriada para isso. Os cálculos apresentados
pelos adolescentes nos dão a ideia de que o saber matemático é diversificado, parte
da visão que cada um tem sobre a resolução da situação problema apresentada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os saberes matemáticos dos adolescentes que pegam carrego na feira
livre de Senhor do Bonfim são vivenciados a partir das noções matemáticas que os
mesmos trazem do cotidiano e do que foi ensinado pelo professor, pois ao utilizar
as formas de cálculos , (mental e escrito) evidenciam as práticas estudadas dentro
e fora do ambiente escolar , pois na atividade de resolução de problemas é comum
construir registros numéricos para expressar os processos de cálculo mental que
utilizam, tendo como evidência os conhecimentos matemáticos que são a base para
o cálculo escrito e para a compreensão das técnicas de cálculo ensinadas na
escola.
Quanto aos objetivos propostos, pode se dizer que os mesmos foram
alcançados quando foi identificado que os saberes matemáticos de alunos do
Ensino Fundamental II que pegam carrego na feira livre,parte da necessidade de
fazer os cálculos matemáticos no momento de passar um troco , isso percebido
através da pesquisa de campo quando os mesmos responderam as situações
problemas apresentadas.
37
Quanto à vivência dessas adolescentes nas aulas de matemática, não é
assim tão animadora, pois, segundo eles necessitaria de mudanças na metodologia
para que as aulas ficassem mais interessantes, pois acham a disciplina chata e
ruim, apresentando dificuldade ao resolver um problema mais elaborado. Nesse
sentido, a diferença entre os saberes que eles apresentam e as dificuldades que
eles têm, se deve ao fato de que o ensino da matemática na sala de aula é
desenvolvido de forma descontextualizada, não é levado em consideração os
saberes que esses adolescentes já trazem da situação cotidiana, nesse caso, as
maneiras que eles fazem os cálculos ao passar um troco quando estão trabalhando
na feira livre.
Os adolescentes que pegam carrego na feira livre da cidade de Senhor do
Bonfim – Ba, na faixa etária entre treze a dezesseis anos de idade, a maioria
morando com a família (pai, mãe e irmão ) e por não ter uma renda maior para
suprir as suas necessidades cotidianas, pegam carrego na feira livre como o intuito
de ajudar no orçamento doméstico ou para as suas próprias necessidades.
Vivenciam os saberes matemáticos no cotidiano da sala de aula através do saber
conjugado de situações que aprendem no cotidiano , verificando ai que tanto os
saberes do cotidiano como adquirido no contexto escolar são evidenciados durante
os cálculos que os mesmos responderam durante a pesquisa.
Repensar o ensino de matemática buscando caminhos para entender as
novas exigências e contribuições através das situações do cotidiano do aluno é uma
forma de pensar na introdução sempre que possível da etnomatemática, analisando
diversas formas de conhecimento, não apenas as teorias e práticas matemáticas,
mas também o estudo a partir da dinâmica cultural que se nota nas manifestações
matemáticas de cada aluno.
Espera-se que tal discussão seja caminho para futuras pesquisas sobre a
educação matemática nas escolas, no sentido de verificar como a disciplina de
matemática está sendo desenvolvida pelos professores no Ensino Fundamental II e
quais suas reais dificuldades ao ensinar essa disciplina, tanto na escola pública
como na particular, buscando sempre um ensino de qualidade independente de qual
rede de ensino os seus alunos estão inseridos.
38
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ANEXO
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
Peço sua colaboração, respondendo este questionário, para que tenhamos dados sobre os saberes matemáticos de crianças e adolescentes a respeito do sistema de medida.
QUESTIONÁRIO
1-IDADE
( ) 9 anos ( ) 10 anos ( ) 11 anos
( ) 12 anos ( ) 13 anos ( ) 14 anos
( ) 15 anos ( ) 16 anos ( ) mais de 16 anos
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2- ESCOLARIDADE
( ) 1ª série ( ) 2ª série ( ) 3ª série
( ) 4ª série ( ) 5ª série ( ) 6ª série
( ) 7ª série ( ) 8ª série ( ) 1º ano ou mais
3- HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ PEGA CARREGO NA FEIRA LIVRE?
( ) 1 mês ( ) 2 meses ( ) 3 meses ( ) 4 meses ( ) 5 meses ou mais
( ) 1 ano ( ) 2 anos ( ) 3 anos ( ) 4 anos ( ) 5 anos ou mais
4- COMO VOCÊ FAZ SEUS CÁLCULOS NO MOMENTO DE PASSAR UM TROCO?
( ) faz a conta mentalmente ( ) usa papel e lápis para calcular
( ) usa uma calculadora ( ) outros .Quais
___________________________________________________________________
5 - VOCÊ GOSTA DE ESTUDAR MATEMÁTICA?
( ) sim ( ) não
Por quê? _________________________________________________________
6 – COMO É A AULA DE MATEMÁTICA PARA VOCÊS?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
7 – QUE SUGESTÕES VOCÊ DARIA AO SEU PROFESSOR (A) DE MATEMÁTICA PARA
QUE AS AULAS FICASSEM MAIS INTERESSANTES OU MEHOR?
__________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
8 – SE CARLINHO COBRA POR UM FRETE (CARREGO) 10,00 REAIS , QUANTO ELE
COBRARÁ POR 5 VIAGENS?
__________________________________________________________________________
9 – PAULINHO COSTUMA COBRAR OS CARREGOS LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO O
PESO, EM QUE ELE COBRA 1,00 REAL POR Kg, ELE IRÁ REALIZAR UM FRETE QUE
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LEVARÁ 2 CAIXAS DE MAÇÃS, ONDE CADA CAIXA PESA 5 Kg . QUAL SERÁ O VALOR
DO FRETE?
__________________________________________________________________________