mintz, sidney. encontrando taso 1984

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I l dados - Revista de Ciencías Sociais (ISSN 0011-5258) é uma publicação quadrímestra! do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, órgão de estudos e pesquisas em Ciências Sociais da Sociedade Brasileira de Instrução, fundada em 1902, mantenedora, também, da Escola Técnica de Comércio Cândido Mendes, da Faculdade de Ciência, Poltticas e Econômi- cas do Rio de Janeiro e da Faculdade de Direito Cândido Mendes. Diretor Cândido Mendes BditoIU Amaury de Souza Charles Pessanha, Editores Associados Alexandre de S. C, Barros Cesar Guimarães Elisa Pereira Reis Secretária Maria Alice Smva Ramos (. Conselho Editorial Alexandre de ~ ,. n_~.". '.!:'~~r..,.de Souza. Cândido Mendes, Carlos A_ Hasenbalg, Cesar Guimarães, Charles Pessanha, Edmundo Campos Coelho; BIi Dinil, Elisa Pereira Reis, GuilJermo O'Donnell, José Murilo de Carva- lho, Licia VaUadares, luiz Antonio Machado da SUva,luiz Wemeck Vianna, Maria Regina Soares de Lima, Mario Brockmann Machado, Neuma Aguiar, OIavo Brasil de Lima Junior, Renato Boschi, Sérgio Abranches, Simon Schwartzman e Wanderley Guilherme dos Santos, Conselho Consulti.-o Antonio Octávio antra, Aspásia A1cântara de Camargo, Bolívar Lamounler, Carlos Estevam Martins, Celso LaCer, Eduardo Diatay B, de Menezes, Fábio Wanded~y Reis, Fernando Henrique 'Cardoso, Francisco Weffort, Hélgio Trindade, Luiz Gonzaga de Souza Lima, Maria do Cumo Campello de Souza, Otávio'Guilhenme Velho, Roberto Da Malta, Roque de Barros Laraía, Ruth Correa Leite Cardoso, Si! via Marcelo Maranlli!o e Wümar Faria, Os conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta e exclusiva res- ponsabilidade de seus autores. .' Redação dados - Revista de Ciências Sociais Iuperj Rua da Matriz, 82 22260 BotaCogo Rio de Janeiro. Bra<i1 dados - Rf!ViSta de Ciências Sociais é publicada com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvm;ento Qentífico e Tecnológlco (CNPq) e da Finan- ciadora de Estudos e Projetos (Finep), 8~ t-)U ~ n ( ,-r)"· _.I ; ' ..... ,,' ~ ji F ! ~~ ~~!' ~Ll Qr ~F\~! ~ I S;i ~~-~I \ . ~@~ '" ; Assinaturas - Brasil e Exterior c..J I~ Editora Campus Ltda, j" Rua Barão de ltapagipe S5 Rio Comprido li rei.. (021) 284 8443 'I 20261 Rio de Janeiro, Brasil 1 "'-AA'''CO telegcáfico:CAMPUSRIO ti EDITORA C~AJ~ . .!;-) NOME PROF.° ~ '~:_/ . ~ ~~ COD .. C 10 _PASTA II olC])6 ~ ---- , "Wp- W=' " . 45 (X., 5~ I I f, .. t- i' ~ l~ ~ I ~ j cdJ@@CQ5~ REVISTA-DE aÊNClAS SOCIAIS Uma publicação do INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE PESQUISAS DO RIO DE JANEIRO HISTÓRIA ORAL'E HISTÓRIA DE VIDA Os Usos da História Oral e da Aspásia Camargo História de Vida: Trabalhando com Elites Políticas Interpretando a. Vidas de Norman K, Denzin Pessoas Comuns: Sartre, tleidegger e Faulkner Encontrando Teso, me Sidney W, Mintz Descobrindo Reflexões sobre o Quefazer Esther Iglesias da História Oral no Mundo Rural 29 45 59 Cultura e Ideologia Eunice R. Durharn 71 LIVROS Partidos Poltticos Brasileiros; a Experiência Federal e Regional: 1945- 1964, de Olave Brasil de lima Junior Uma Resenha e uma Resposta Gláucio Ary Dillon Soares 93 Resposta a Gláucio Soares Olavo Brasil de Lima Junior 105 . , (English íanguage table of contents on page 1(1) dado, -R;;;s;;;7W~,~ ''',t.~.;'';.s, Rio de Janeiro, Vol. 27, n'? I. 1984. pp. I a 116 1 I. i 1 t, ISSN 001 J -5258 5

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Texto sobre a importância da qualificação das relações sociais na pesquisa em Antropologia Social

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dados - Revista de Ciencías Sociais (ISSN 0011-5258) é uma publicaçãoquadrímestra! do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro,órgão de estudos e pesquisas em Ciências Sociais da Sociedade Brasileira deInstrução, fundada em 1902, mantenedora, também, da Escola Técnica deComércio Cândido Mendes, da Faculdade de Ciência, Poltticas e Econômi-cas do Rio de Janeiro e da Faculdade de Direito Cândido Mendes.

DiretorCândido Mendes

BditoIUAmaury de SouzaCharles Pessanha,

Editores AssociadosAlexandre de S. C, BarrosCesar GuimarãesElisa Pereira Reis

SecretáriaMaria Alice Smva Ramos

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Conselho EditorialAlexandre de ~ ,. n_~.". '.!:'~~r..,.de Souza. Cândido Mendes, Carlos A_Hasenbalg, Cesar Guimarães, Charles Pessanha, Edmundo Campos Coelho;BIi Dinil, Elisa Pereira Reis, GuilJermo O'Donnell, José Murilo de Carva-lho, Licia VaUadares, luiz Antonio Machado da SUva,luiz Wemeck Vianna,Maria Regina Soares de Lima, Mario Brockmann Machado, Neuma Aguiar,OIavo Brasil de Lima Junior, Renato Boschi, Sérgio Abranches, SimonSchwartzman e Wanderley Guilherme dos Santos,

Conselho Consulti.-oAntonio Octávio antra, Aspásia A1cântara de Camargo, Bolívar Lamounler,Carlos Estevam Martins, Celso LaCer, Eduardo Diatay B, de Menezes, FábioWanded~y Reis, Fernando Henrique 'Cardoso, Francisco Weffort, HélgioTrindade, Luiz Gonzaga de Souza Lima, Maria do Cumo Campello de Souza,Otávio'Guilhenme Velho, Roberto Da Malta, Roque de Barros Laraía, RuthCorrea Leite Cardoso, Si! via Marcelo Maranlli!o e Wümar Faria,

Os conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta e exclusiva res-ponsabilidade de seus autores.

.' Redaçãodados - Revista de Ciências SociaisIuperjRua da Matriz, 8222260 BotaCogoRio de Janeiro. Bra<i1

dados - Rf!ViSta de Ciências Sociais é publicada com o apoio do ConselhoNacional de Desenvolvm;ento Qentífico e Tecnológlco (CNPq) e da Finan-ciadora de Estudos e Projetos (Finep),

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Os Usos da História Oral e da Aspásia CamargoHistória de Vida:Trabalhando com ElitesPolíticas

Interpretando a. Vidas de Norman K, DenzinPessoas Comuns:Sartre, tleidegger e Faulkner

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Reflexões sobre o Quefazer Esther Iglesiasda História Oral no MundoRural

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Cultura e Ideologia Eunice R. Durharn 71

LIVROSPartidos Poltticos Brasileiros;a Experiência Federal eRegional:1945- 1964, de Olave Brasilde lima JuniorUma Resenha e uma Resposta Gláucio Ary Dillon Soares 93

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ENCONTRANDO TASQ ME DESCOBI<INDO'

Sidney W. Mintz

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Para situar a elaboração de históriasde vida dentro dos objetivos da Etnologia épreciso, antes de mais nada, dedicar algumaatenção à própria Etnologia: sua históriaenquanto disciplina e seus rumos atuais.Antes de fazê-lo, porém, é preciso que sediga que a palavra, aqui, está sendo usadanão em seu sentido americano mas no fran-cês. O equivalente americano seria prova-velmente "etnograâa", termo que, em ou-tros lugares, tem muito pouco significadoespecífico.

O objetivo da Etnografia, em termosgerais, foi definido por antropólogos pio-neiros como Bronislaw Malinowski e W. H.R. Rivers; eu, entretanto, começaria me re-ferindo a Franz Boas (1858-1942), a quemmuitos consideram como fundador da An-tropologia científica nos Estados Unidos.Como poucos contemporâneos e ainda me-nos predecessores, Boas acreditava que a ci-

. ência da Antropologia só se poderia firmaratravés do trabalho de campo: contato pes-soal prolongado e íntimo com membros tia

sociedade cuja cultura procurava-se descre-ver com a minúcia exigida pela ciência. Aimpaciência dos sucessores de Boas (e rnes-mo de alguns de seus cpigonos) deveu-se,em grande parte, â relutância daquele empassar progressivamente do registro infini-to de detalhes para afirmativas gerais deprincípios relativos ao comportamento hu-mano.

Mais ainda, Boas acreditava que a .obrigação da Antropologia era a de proveruma tal descrição particularmente paraaqueles grupamentos humanos sujeitos a in-tensas pressões de todo tipo por parte desociedades industriais amplas e agressivas,como a Alemanha e os Estados Unidos, queBoas conhecia melhor. Pode-se então dizerque Boas desejava restringir o campo daAntropologia - ou ao menos o da Antro-.'pologia de sua época - Aquilo que se pode-ria chamar de sociedades "primitivas". (pa-ra sermos justos, no entanto, é preciso in-sistir no fato de que Boas nunca atribuiu aesta categoria a mais leve conotação pejo-

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A tradução do original em inglês é de autoria de Mario Grynszpan.

dados - Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, VaI. 27, n~ I. 1984, pp. 45 a 58.

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rativa - e algumas vezes, até, parecia afir-mar selem tais sociedades, a seu ver, moral-mente superiores.)

Finalmente, Boas estava interessadoem desenvolver descrições da cultura estu-dada em termos representativos ou norma-tívos, Ao dizer isso, não atribuo a ele qual-quer desejo de homogeneízar ou fundir evi-dências de diferenças entre membros deuma única sociedade. Sem dúvida, ele sabiaque' a gama de variações de todos os tiposnuma mesma sociedade - filo importaquão "simples" fosse - poderia ser' bemampla. Mas seria justo dizer que, da posíçãoprivilegiada da Antropologia que estavacriando, ele não estava interessado em indi-víduos. Ocasionalmente ele nos dá mostrasde seu desínteresses- e mesmo de sua des-crença - em informações empregadas paraclarlficar a posição cultui:al de um Üldiví-duo ao inVés de clarificar a cultura em simesma, Um bom exemplo dessa perspec-tiva, e particularmente relevante a esse res-peito, vem de sua crítica aos desenvolvímen-tos na Antropología, publicada após a suamorte. Embora aponte para a utilidade dashistórias de vida ao indicarem como com-portamentos íncomuns ou desviantes numacultura acarretaram mudanças políticas, re-ligiosas ou econômicas, sua visão geral so-bre tais estudos é crítica. Ele fala das "pe-ças que' â'memória nos prega" e asseveraque os riscos são "muito importantes paraque possamos aceitar autobiografias comodados factuais conâãvets":'

"Autobiografias, em vista das restriçõesque acabemos de mencionar e da dificul-

dade de reunir uma suficiente variedade deregistros mdlvíduaís, são de limitado valorpara o propósito particular para o qual es-tiro sendo coletadas, Elas são mais valiosasenquanto material para um estudo da per-versão da verdade produzida pelo jogo damemória com o passado. O resto 'não émais do que um relato de costumes coleta-do da maneira usual.',l

Embora não seja meu interesse esten-der a importância desta citação com espe-culações adicionais, parece evidente queBoas demonstrava constrangimento - se-não clara h.ostilidade - diante de generali-dades baseadas em declarações de infor-mantes únicos, e que achava totalmentequestionável a recuperação de "trajetóriasde vida" através de investigação intensiva,

Diante do que foi dito, não teria sen-tido examinar as relações pessoais de Boascom alguns de seus melhores informantes;pode-se mesmo supor que ele ficaria abor-recido com os relatos reunidos num livrocomo ln lhe Company of Mon, 3 por exem-plo, onde alguns de seus "descendentes"fazem um culto tanto aos seus informantesfavoritos quanto às relações que esses in-formantes mantinham com eles. Talvez se-ja suficiente dizer que este aspecto da An-tropologia de Boas permanece, de algumaforma, obscuro.

Apesar da resistência de Boas à histó-ria de vida, alguns de seus mais eminentesseguidores defenderam o método, notada-mente Ruth Benedict." Em sua fala presi-dencial na American Anthropological As-sociation, Benedict dizia:

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!11.,I ~~):

"Por mais de uma década os antropólogostêm concordado com o valor da história devida. Alguns disseram ser da um ínstrurncn-to essencial para o estudo de uma cultura.Muitas histórias de vida foram coletadas -muitas mais foram publicadas, Muito pou-CO, contudo, tem sido feito, mesmo comaquelas que estão publícadas,e o. pesqui-sadores de campo que as coletaram, emsuas monografias tópicas, utilizaram ape-nas fragmentos sobre casamento, cerimô-'alas ou modo de vida, obtidos em históriasde vida. A natureza desse material de histó-ria de vida fez com que isso fosse pratica-mente inevítével uma vez que - penso eu.e qualquer um que tenha lido virias dessasautobiografias, publicadas ou não, concor-dará comigo - oitenta a noventa e cincopor cento da maioria delas são puros rela-tos etnogrãücos da cultura. Trata-se de ummeio lento e repetitivo de se obter pura et-nogratia e, se for apenas nisso que elas po-dem' ser empregadas, qualquer pesquisadorde campo sabe como obter tais dados deforma mais econômica. O valor singularda. histórias de vida está naquelas fraçõesdo material que mostram as repercussõesque as e.xperiêDCias de vida de um homem- compartilhadas ou idíosincrãticas - têmsobre ele, enquanto ser humano moldadonaquele ambiente. Tal informação pode, testar uma cultura ao mostrar sua interfe-rência na vida de seus portadores; pode-mos ver num caso individual, nas palavrasde Bradley, 'o que é, vendo que assimaconteceu e deve ter aconrccidn'."

Benedict nunca escreveu uma históriade vida, embora seu método de pesquisafosse baseado em contatos com pequenonúmero de informantes. Sua pesquisa li-dou, na maior parte, Com problemas cultu-rais para os quais uma detalhada ctnografialocal era irrelevanle, em cont raste comBoas. Sua argumentação em favor d a histó-ria de vida ligava-se à firme crença de que aAntropologia não se poderia desvinculardas Ciências Humanas, e que seria mesmoatravés destas que a Antropologia aprende-ria a aproveitar ao máximo o método dehistória de vida.

Mas mesmo um fervoroso "boasiano "como Alexander Lesser, 'embora nunca uti-lizasse o método de história de vida, aca-bou insistindo nos atributos individuais decertos informantes em suas reconstruçõeshísiórícas." A geração seguin te - os aiunosdos alunos de Boas - avançou a técnica emalguns aspectos. Há, por exemplo, as vinhe-tas sensíveis de Conldin e Sturtevant am-bos alunos de Kroeber; 7 as narrativas deguerra de índios americanos publicadas porKroeber;" e, é lógico, a primeira das histó-rias de vida antropológicas, escrita por PaulRadin, discípulo do próprio Boas.? Mesmosendo de algum interesse, não nos podere-mos deter naquele que poderia ser chama-

6

Ruth Benedict, "Anthropology and lhe Hurnauíties",Amer;can Ant"ropologirr, n, 50, 1948,p.592,

Alexanner Lesser, "Cultural Significance of lhe Ghost Dance", American A nthropologist, n. J),1933, pp. 108-115.

Harold C. Conklin, "MaIing. a Hanunoo Girl frorn lhe Philippínes ", ín Joseph B. Casagrande , {nlhe Company of Man, op. ctt., pp. 101·1\8. WiIliam C. Sturtevam, UA Seminole Medicinc Ma,ker",in Joseph B. Casagrande,ln lhe Compony of Ma«, op, cit., pp. 505.532.

Alfred L. Kroeber, "Ethnology of the Grcs Ventre", American Museum of NaturalHistory,An.thropological Papen 1,1908, pp. 196·221.

Paul Radín, "Personal Remíníscences of a Winnebago Indian", 100"",1 of Am<,rican Folklore,n. XXV1, 1913, pp. 29J·318. Paul Radin,17.e Autobiography of a Willllebago lndtan, Universí-ty ofCalífomia, Publications in American Archaelogy and Etlmology, n, 16, 1920.

47

Franz Boas,"Recent An~po!ogy", Sdencç, n, 98, 1943, p, 335,

" Idem, /btdl!/II, , ';'1; 3 Joseph B. Casagrande, ln lhe Company of Man, Nova York, Harper, 1960. ,,~~:',

i, 4 Sídn~y W..Mln~, "Rulh Benedlct", in Sydel Síberman, Totems and Teachers, Nova York, cs- , 1~t,1 lum bía u~",,,~.1981.PP_142-1".~'

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do o "método boasiano de história de vida".Seria mais produtivo se nos voltásse-

mos para a própria etnografia e para a no-ção de uma categoria de povos - não-oci-dentais, primitivos, pré-Ietrados, ou o queseja - como sendo o domínio da Antropo-logia. As razões para uma tal limitação daAntropologia são válidas e bem conhecidas:nenhuma outra ciência estudou tais povose, assim sendo, seus modos de vida são pra-ticamente desconhecidos; eles estavam sobterríveis pressões das SOciedades mais pode- ,rosas, sendo que muitos deles estavam sen-do exterminados, mudando rapidamenteou arnbas as coisas. Logo, o estudo meticu-loso desses povos poderia representar umaimensa contribuíção ao conhecimento dadiversidade social e cultural humana, deuma forma que nenhum outro estudo po-deria fazer, ao mesmo 'tempo que expandi-ria e enriqueceria nossas concepções acer-ca de nossa humanidade comum.

Mas uma tal visão. embora inteira-mente justificada quando Boas a anunciouhá mais de meio século, tem certas deficiên-cias que foram apontadas tanto por seusalunos quanto por alunos de seus alunos.Ao expressar sua impaciência na crença dodado pelo dado e na flrme limitação da An-tropologia às assim chamadas sociedades"primitivas", Alexander Lesser, quase meioséculo atrás, advertiu seus colegas de que aAntropologia deveria orientar-se para pro-blemas, assim como to·fitar-se mais abran-gente se quisesse sobreviver. Sobre a dispo-sição para estudar o que quer que fosse di-visado, ao invés de selecionar e atacar algunsproblemas mais importantes, Lesser escre-veu profeticamente:

listas sociais ao contínuo interesse dos et-nólogós pelos primitivos, Isso porque seum estudo deve ser essencialmente descri-tivo, e se aborda apenas aquelas questõesque, sugere enquanto uma investigaçãocom fins descritivos, o que justifica que seestude apenas condições primitivas e nãotambém modernas? 'O relativismo cultural.a importância do contexto social ou cul-tural, já foram' completamente reconheci-dos', tais críticos podem dizer. 'Nós con-cordamos com vocês e estam os contentesem lhes dar crédito por terem tornado ela-Ia para nós a enorme variação na confor-mação das 'instituições li do comportamen-to social, mas, tendo' isso em mente, porqlle não voltar agorà para os problemas dacivilização contemporânea' e tomar provei-toso' esse ponto de vista?' É além disso, se aaplicação de conhecimento para a soluçãode problemas deve ser constantementeadiada até que se tenha segurança dos da-dos por meio de métodos descritivos, porque não, ao menos, Iid;1I analiticamentecom a civilização moderna, onde as possi-bilidades de' aplicação não estão tão lon-gínquas, e uma vez que os dados que esta-remos considerando estão intimamente re-lacionados com nossa vida e nosso tempo T'"Nós geralmente respondemos reaflrman-do nosso tema básico: uma ciência da so-ciedade, se dev~ ser construfda, deve basear-se em dados extraídos de toda e 'qualquersociedade da 'qual haja ou possa haver re-gistro, se ela pretender refletir a verdadeiraextensão dos fatos e alcançar generaliza-ções de larga aplícação e validade. Mas,embora estejamos convencidos da correçãode nosso ponto de vista, confesso 'que nãovejo como poderemos convencer os outrosenquanto permanecermos, aparentemente,um grupo de pesquisadores com uma cu-riosidade intindável sobre tudo o que se re-lacione com o homem 'e sua história, masrelutando continuamente em estabelecernossas investigàções em 'termos de proble-mas decisivos, que possam fazer avançar at;iôncia d<l sociedade toda vez que um mi-I\Uelfii\} I'\jtb.~t) ti! um.á.pesqulta seja con-eluído."!"

"Achó t!.Uê Sé tltltl.l\ :I.t:tl.bult a tslillêllclAtI-da parte da desaprovação de outros cien-

li) Alexander Lesser, "Probíerns vs, Subject Matte! as Dírectíves of Research", American Anthro-pologist, n. 41,1939, pp, 575-576.

Desde que isso foi escrito, o ponto devista de Lesser tomou-se bem mais populare a esfera de interesse da Antropologia am-pliou-se bastante. O campo de investigaçãodos antropólogos tem, principalmente apartir do fim da Segunda Guerra Mundial,interpenetrado com o' de Outros cientistassociais, e tomaram-se comuns os estudosantropológicos de sociedades modernas.Mas a tendência para a coleta de informa-ção sobre tudo é ainda marcadamente anotropológica e, às vezes, a procura de cober-tura total pode resultar em descobertasmuito superficiais. Uma vez que o presentetrabalho é dirigido, principalmente, para a"escolha" de um informante para com elereconstituír uma história de vida e para aadequação dessa escolha à missão etnológi-ca, não podemos discutir muito a Etnologia(Etnografía) em termos gerais; algumaspoucas palavras sobre as metas de um Ira-balho de campo particular, no entanto •.se-rão adequadas. .

O empreendimento etnográfico devevoltar-se para algum objetivo relacional;não se deve coletar os dados pelos dados in-definidamente (embora muitos pesquisado-res de campo tenham demonstrado espan-tosa paciência em definir os limites de umtal exercício), nem transformar o trabalhodecampo num registro de impressões vagoe sem objetivo. A locução "voltar-se paraalgum objetivo relaciona!" soa mais preten-siosa e enigmática do que deveria, e requeruma breve explicação. Fatos dificilmenteexistem sem relações, Embora os tipos derelação revelados pela pesquisa de campo,geralmente, não sejam aparentes quandoaquela se inicia, muitos pesquisadores têmem mente conexões ou vínculos específicos

11 Sidney W. Mintz e Eric Wolf, "An Analysis of Ritual Co-Parenthood (Compadrazgo}", Southwes-tem Joumai af Anthropology, n. Vl. 1950. pp. 341-368,

que pretendem procurar; algumas vezeso,demonstração da falta de alguma relaçãoesperada pode ser o primeiro passo para adescoberta de alguma outra, de alguma li-gação não antecipada entre fatos, eventosou fenômenos de outros tipos. Embora odesenvolvimento do argumento com maisprofundidade possa nos desviar de nossosobjetivos, uma breve descrição de exemplospode ser útil. Eles foram escolhidos delibe-radamente, da informação reunida no tra-balho de campo que precedeu a elaboraçãoda história de vida que é o assunto do pre-sente artigo.

Iniciou-se um trabalho de campo so-bre a instituição do compadrio numa comu-nidade porto-riquenha, em vista da enormerecorrência com que os informantes refe-riam-se aos seus compadres. e da interaçãosocial relativamente intensa entre estes pa-rentes rituais. Foi surpreendente descobrirque todas as associações deste tipo na co-munidade davam-se entre pessoas da mes-ma classe, excluindo totalmente aquelasde posição de classe superior. Em outraspalavras, o compadrio era coeficiente de al-gum tipo de pertencimento a uma classe.À medida que isso se tomou evidente, foipossível enfocar mais claramente aquelasduas abstrações instítucionau, classe e com-

padrio, e utilizar dados acumulados sobre ocomportamento real para melhorar a com-preensão da composição social da cornu-nídade.!'

O trabalho de campo sobre a loteriailegal (Úl bolita) foi empreendido em fun-ção da discussão quase incessante sobreapostas, números vencedores, números"feios" e "bonitos", somas ganhas e no queseriam empregadas, acesso a números ven-

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cederes-e assim por diante. Logo tomou-seóbvio: 'que as pessoas nessa comunidadenuncacompravam a loteria legal, o que es-timulava perguntas sobre as razões de umapreferência ta:o uniforme. Uma vez mais, ocoeficiente do comportamento nas apostaspatecia ser o do pertencirnento a uma clas-se, e os informantes deram.razões numero-sas (e surpreendentemente racionais) parasuas preferênéias.12 Taisínformações eramtão práticas que permitiam que conselhosconcretos fossem dados ao Governo paraque iniciasse uma loteria legal suplementarexatamente na linha da loteria ilegal. Es-tes, porém. somente .seríam seguidos maisde 25 anos depois!. . Mas a questão destes exemplos é quea coleta 'aleatória "de dados pode ser substi-tuída por uma investigação dírigída tão lo-go relações sejam ·discernidas, não importao quão obscuramente (ou, neste caso, oquão erroneamentel); e perceber que taisrelações. na 'realidade. não existem. podeser tão eselarecedor quanto. descobrir queexistem. Tal linha de argumentação implicaque seja provido algwn contexto para umadiscussão da etnografia uma vez que, geral-mente, se pensa (e, de fato, pode algumasvezes' ser ocaso) que a coleta de informa-ção se processa 'de forma continuamentealeatória através do período da investigação. de campo_

Alguma atenção deve ser dedicadaacerca da história de vida neste quadro daetnografia. É necessário que se esclareçaque, se alguém quer fazer perguntas em vezde. meramente, observar o ComportamentoOU conversas dos outros, tais perguntas de-.

vem ser feitas· a outro alguém, Seria tão er-rôneo supor que os informantes são indife-rentemente iguais enquanto fontes de in-formação, quaoto supor que um informan-te pode ser adequado para qualquer infor-mação necessária para se descrever a cultu-ra de uma comunidade.

Embora aparentemente ninguém te-nha pensado em colher informação nas his-tórias de vida disponíveis - talvez centenas- a respeito da maneira pela qual tais in-divíduos foram escolhidos pelos antropólo-gos, três razõessão recorrentes, Em primei-ro lugar, a maioria dos antropólogos dirá,provavelmente, que o informante escolhido.era particularmente competente. dentre to-dos os membros da comunidade conheci-dos pelo antropólogo, em descrever verbal-mente seus arredores, sua cultura e a simesmo. Segundo, a pessoa escolhida teve,possivelmente, contato anterior com ele-mentos externos e pode, até mesmo. tertrabalhado corno informante para antropó-logos em outras ocasiões; isso pode não sermencionado tão prontamente. E, em tercei-ro, parece haver alguma simpatia mútua -alguma "química", por assim dizer - queteria aproximado e mantido juntos o etnô-grafo e seu informante. Esta enumeraçãoabrevia e simplifica as circunstâncias, ê ló-gico, e talvez não deva ser tomada tão se-riamente. Mas em vista do propósito desteensaio, pode ser apropriado enumerar taisargumentos a fim de que DOS possamos ma-ver para uma discussão de Taso e de comoele se tomou sujeito de seu próprio IivJO.

Como o livro deixa claro logo de lní-cio,ll Taso foi uma das primeiras pessoas a

11 9ldl\IlVW,. MItlU. lIeMtãlll~IJlfllh! Suboulture of Allufill SUlIU PllII\tnHon Prnllllllflat",ln JullanlLStewardetaI .• The People of Puerto Rico, Urbana, Uníversity of Illincis Press, 1956, pp. 314-411.

L> Sidney W. Miou, Worker in lhe Gane. New Haven, ValeUniversity Press,1960, pp. 2-4.

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quem encontrei em Barrio Jauca, e a que semostrou mais cooperativa (e mais inteligen-te, ao que me parece) diante da minha ex-plicação acerca de por que desejava viver eestudar no Barrio, Isso foi na primavera de1948; eu me mudei para Jauca alguns diasdepois e fiquei até agosto de 1949. Escreviminha dissertação de doutorado depois deretomar ao continente, tendo sido a mesmaaceita na primavera de 1951. A dissertação,um estudo da comunidade na qual Taso vi·via, não 'foi publicada até 1956, em face deproblemas logísticos sobre como integrarcinco dissertações (e ainda mais) num úni-co volume;14. foram porém publicados, noperíodo intermediário, artigos sobre o Bar-rio Jauca e po rções da tese sob outra for-ma."

Considero importante, agora, nãoapenas mencionar o fato de que tive maisde um ano de intenso trabalho de campona comunidade antes de me ter voltado pa·ra a reconstituição de uma história de vida,mas também que tive a oportunidade de lávoltar repetidamente nos anos subseqüen-tes, aprofundando e assegurando minhaamizade com meu informante. Quatro anossepararam o fim do meu primeiro períodono campo do início do processo de traba-lho com a história de vida. Não acreditoque muitas outras tenham tido o mesmopano de fundo.

14

Seria apropriado que nos deI ivésse-mos também um pOIlCO sobre as conseqüén.cias do estabelecimento de uma relaçãopessoal próxima com Taso. Para alguns CfI··ticos, esta amizade teria impossibilitado arealização de uma história de vida convin-cente.Brandes, por exemplo. cita Nadclque pede a nós, antropólogos, que capitali-zemos o assim chamado princípio do "es-tranharnento" ao lidar com informantes.Brandes acrescenta:

"Mintz., como Se consubstanciasse inadver-tidamente este ponto de vista, admite queseu informante autobiografico, Don Taso ,de quem tornou-se amigo próximo. 'deveter sempre Se mantido em guarda para te n-tar proteger a imagem que' eu pudesse lerdele'. O estranhamento consiste. precisa.mente, na incxisténcia de profundo envol-vimento emocional do informante em ruarelação com o eutrevistador; esta situação,teoricamente. possibilita ao informanteque confidencie sua história de vida 3D eu-trevistador de forma livre e sem obstacu-(os emocionais.":"

Brandes acentua, contudo, que "C .)muitas autobiografias não seriam tão reve-ladoras das vidas dos indivíduos envolvidosse não fosse pela intensa amizade entre in-formante e entrevistador, e a confiançaevocada por esta relação".17 Bem, ao queme consta, não se pode ter as duas coisas.Eu não "admiti inadvertidamente" que

Julian H. Steward et 01., The People af Puerto Rico. op. cit.

Sidney W. Mintz e Eric WOlf, "An Analysis .. .", op, cito Sidney W. Mintz, "The Role of ForcedLabour in Nineteenth-Century Puerto Rico", Caribbean Historicol Review, n. 2. 1951. pp. 134.141. Sidney W. Mintz, "The Culture-History of a Puerto Rícan Sugar-Cane Plantation, 1876.1949", Hispanic Americen Histoncal Review, n, 33,1953, pp. 224-25l. Sidney W. Míntz, "TheFolk-Urban Continuum and lhe Rural Protetarian Community", American Journal ot SocioloJ[)'.n. 59, 1953, pp. 136-143. Sidney W.Mintz, "00 Redfieldand Foster", American Anthropolo-gisr, n, 56,1954, pp, 87-92.

15

16

17

Stanley Brandes, "Ethnographic Bibliographics in American Anthropology", Central Issues inAnthropology , n. 1,1979, p. 6.

Idem. ibidem.

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'Táso era meu amigo; tal fato é tomado co-mo um dado do próprio estudo. O pressu-posto do "estranhamento" é o de que rela-ções sem afeto conduzem a maior honesti-dade 'do que relações afetívas. Por trás dis-so há, a meu ver, a suposição de que qual-quer movimento de igualdade entre infor-mante e etnôgrafo não tem sentido. Certa-mente, se partirmos da crença de que o et-nógrafo está' para o informante assim comoo psicanalista está para o analisando, então.0 nível de estranhamento deve ser alto.

Um outro crítico segue raciocíniosemelhante, Numa resenha antiga, Casagran-de destaca o fato de que Taso nunca foi pa-go para ser informante:

"(. _ .) a relação baseava-se em estima econsideração mútua, É novamente irônicoque esta mesma relação tenha servido paratomar Taso matéria mais pobre para umaautobiografía. Como o pr6p.do Mintz nota,'( __ ,):'Contlldo, ele deve ler sempre semantido em guarda para tentar proteger aimagem que eu pudesse ter dele.' Numa re-lação -marcada pela reciprocidade, não se-ria tal necessidade reciprocada tambérnpe-10 antropôíogof"?"

A resposta, logícamente, é sim, Talreciprocidade opera em geral - mas nemsempre - nas relações entre pais e filhos,maridos e esposas c em outras díades. Reci-procidade nunca assegura a verdade; mastambém não significa que apenas mentirassão trocadas, A grande insistência quanto àutilidade de não se criar amizades numa si-tuação desse tipo - como se isso fosse umprincipio primeiro e inviolãvel - surpreen-deu-me quando a li pela primeira vez e ain-da hoje mlnha reação é a mesma,

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Em sua introdução para o livro In theCompany af Man, Casagrande enumera al-gumas relações que. considera análogas à doantropólogo e seu informante, declarandoter esta "muitos dos atributos de [. , .) es-tudante e professor, empregado e patrão,amigos ou parentes (. , ,) psiquiatra e paci-ente" ,19 Não se trata, porém, de uma listacom qualquer utilidade; as relações de al-guém com seu patrão, com seus parentes ecom seu psiquiatra só podem ser postas namesma categoria se esta categoria for bemampla (e amplamente sem sentido). De fa-to, a perspectiva do "estranhemento" ex-cluiria, certamente, os parentes e amigos -e talvez fosse mais próxima dá relação en- ,tre psiquiatra e paciente.

De qualquer forma, como o livro deTaso esclarece, ele e eu nos tomamos ami-gos' bem antes de ser aventado o projetode história de vida; e foi precisamente emvirtude 'de uma importante mudança na vi-'da de 1'380, que não fui capaz de prever,que fui levado a propor - seria melhor di-zer que fui provocado a propor - que Ira-balhãssemos de novo juntos, Foi devido ànossa amizade que pude surpreender-mecom sua conversão. Foi poI causa de sua in-teligência, sua sociabilidade, sua amabilida-de e seu desejo de ajudar que ele me tomouseu amigo. Foi porque éramos amigos queme' atrevi a propor que, uma vez mais, tra-balhasse comigo. Porque éramos amigos,acredito, ele concordou.

Um dos exames mais cuidadosos eperspicazes sobre a relação antropólogo-informante foi feito pelo antropólogo Ke-vin Dwyer,lO autor da história de vida de

19

l<1~Oph B. CAl.88{J1\\1~1 "Roviow of WQrkat ín tlte ÇIlllO''t Ameriç,," Anrhropqlarlst, n.63,Ii,m~!Joseph B, Casagrande,/Il lhe Company o[ Man, op, cito, p, xi.

Kevin Dwyer,Moroccan Dialogu~, Baltimore, Jolm~ Ropldns UriiwEStty Pr~,1982.lO

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um fazendeiro marroquino cuja forma deapresentação é a de diálogos ininterruptosentre os dois. Para Dwyer, este é o únicomeio razoável para se tentar escapar dopressuposto da assimetria entre o elementoexterno poderoso (Sujeito) c o outro inde-feso (Objeto). De forma convincente,Dwyer expõe os termos da relação os quais,acredita, influenciarão inevitavelmente asdescobertas supostamente científicas quedela resultam. Numa bela passagem críticaele escreve:

"Embora em situações anteriores tenha-mos sido levados a uma interpretação con-templativa da realidade e da ação numa-nas, que se negava a reconhecer seu pró-prio comprometimento, o mundo de hojedesafia a.' concepções de um Eu inde-pen-dente do Outro e questiona visões querom pem o vínculo entre ação individual eseu contexto social, Isso porque trata -se deum mundo dominado por sistemas ideoló-gicos que reclamam universalidade e gover-nado por forças e instituições econômicasque interligam regiões geograficamente dis-tantes em redes firmemente conectadas;um mu ndo onde alianças pol úícas. clarasou encobertas, trabalham no sentido detransformar HS nações menores em provin-cias ou subestados das mais poderosas; on-de diferenças entre grupos humanos e asvariedades em seu interior são remodeladasdentro de um sistema de hierarquia e do-minação,"

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Não encontro nada aqui de que possadiscordar. A. objeção de Dwyer àquilo quechama de "interpretação contemplativa darealidade humana" é, de fato, uma objeçãoà visão do antropólogo enquanto lente ob-jetiva, não envolvida e, de alguma forma,desaculturada, através da qual o Outro (ou-tra cultura, outra pessoa) pode ser explica-do, descrito e analisado de forma inaltera-

=-: 11 Idem, pp, 273 ·274.

Idem, p. 286.:':;"':'"

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<,da. t, portanto, uma objeção ~ tudo que aposição do "estranharnento" parece susteu-tar. Em seu lugar, Dwyer deseja fazer prc-valecer uma relação de igualdade. Partindoda suposição de que as relações entre pai-ses pobres e ricos são assimétricas e homó-Iogas às relações entre antropólogo e infor-mante, Dwyer argumenta que apenas pelareprodução fiel dos diálogos entre os doisé que se pode alcançar qualquer aproxima-ção com a verdade. É isso que MoroccnnDialogues se propõe a fazer, retirando aoantropólogo sua falsa armadura de objeti-vidade, de desligamento cultural e positi-vismo e, dessa forma, questionando util-mente toda a empresa de uma Antropolo-gia "científica",

Ao fazer da vulnerabilidade do antro-pólogo pane do produto, Dwyer ofereceuma eloqüente resposta ao antigo positivis-mo de sua disciplina, Mesmo assim, seu Ir3'balho termina com uma nota mais hesitan-te:

·-0 'registro' do trabalho de campo í. .)sugere uma alternativa ( ... ) mas e~13 ul-ternativa, de forma alguma, deve ser 10·mada como definitiva ou como modelo(...)t uma metáfora cujo interesse repou-sa na capacidadede realçar várias meras:ccnduz ir a integridade do Outro: estimularum exame crítico da Antropologia e do su-cesso ou fracasso desse "registro' no alcan-ce de seus objetivos: e demonstrar a neces-sidade de novas formas de um projeto Oci-dental que reconheça seu aspecto compro-metido e sua inerente vulnerabilidadc:'"

Nessa fraseologia, parece-me, Dwycrtoma claro que, para o antropólogo, háduas espécies de vulnerabilidade em jogu;uma relacionada com os reclamos de suadisciplina, e outra com o seu envolvimento

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Idem, pp. 287-288.

Idem, I'p. 276-277.

SidneyW. Miiitz, WórkerlJI the CáIM, op. dt., {I. 8.

Kevin Dwyer,MóroccQlJ Dialogues, op. cit., p, 211.

Sidney W. Mintz, lI'or/rer inthe Cane, op. cit., pp. 7 -8.

pessoal com a pesquisa. NII'o nos surpreen-de que Dwyer, em seu post-scriptum deapenas uma página)~3 se interrogue acercade se não 'deveria ter escrito todo o livroem forma jocosa.

Como uma crítica cuidadosa aos po-sítívistas, Moroccan Dialogues levanta umdebate vital. Deixa porém, ao mesmo tem-po, muitas perguntas no ar, sem resposta,como reconhece seu autor. Ao responderàqueles trabalhos de história de vida que,em vez de assumirem uma aparência de ob-jetividade perfeita, procuram 'alcançar averdade pela intimidade, a crítica de Dwyertoma uma forma diferente. Trata-se de fie-ções, escreve:

"(. . .) a opinião de que através de longafamiliaridade e afinidade Eu e Outro trans-cendem suas diferenças e alcançam umacomunicaçio um-com o outrolívre de dis-torções; que o Eu e o Outro terminam portomar-se mutuamente transparentes e quesuas diferenças, em VIl'Z de criarem conti-nuamente nOVO significado e novas formasde compreensão, requerem apenas a tarefatécnica de tradução) isso tem corolãriosque silo sintomãtícos da cejeição de umaperspectiva dialógica; i) que a dialética dapergunta e resposta .não é um componenteintrínseco de signifioado; ela apenas adqui-re significado e pode ser c'etirada e descar-tada. quando o autor revela a sígníücãnciaescondida do 0u40,; é' 2) que a comunica-ção pode ser retirada de sua o'rdem e se-qüência, que segmentos podem ser reccm-binados e reordenados, e alguns eliminados,sem perda vital de sig1ilfic~do.Estas ficçõespromovem urna cisão na qual o Eu e o Ou-tro são apenas provísorianrente diferentes,urna visão que coloca o Outro como po-

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dendo ser domado e capturado, em algumponto, para sempre,'?"

Que tais ficções existam, isso não sepode negar. Elas, porém, não são abasteci-das, com o mesmo entusiasmo por todosaqueles que registram histórias de vida, che-gando mesmo, alguns destes, a reconhecersua existência, tomando-as, assim, menosfictícias. Do livro de Taso, Dwyer escreve:

"Mintz admite clxplicitamente que 'criarautobiogtafia' levanta importantes proble-mas, e nâo reduz o diálogo à aparência demonólogo, como faz Lewis. Não obstante,mesmo reconhecendo que teve que subme-ter o manuscrito final a urna severa edito-ração a fun de que pudesse 'ser lido comoautobiografia'," Mintz deixa de apontar aimportância que seu ato concede ao manus-côto ... n15

Mas a passagem da qual Dwyer extrai

essa citação diz:

"Eu enfatizo a ,dificuldade •. os riscosde todo esse procedimento (eliminar6 rearranjar os materiais das entrevistas emordem, cronológÍc'al, e o leitor atento verápor que. A seqüência exata da narração deTaso revelaria algumas pistas sobre o seucaráter, mas essa seqüência não poderia serinteiramente preservada se o manuscritoflnal fosse feito para ser lido como auto-biografia. Acredito. que se possa aprendermuito sobre Taso, lendo suas palavras co-mo estilí>. Entretanto, também quero dei-xar claro o que este liVIOnão é, bem comoaquilo que é.""Trata-se, é claro, de urna história de

vida, e não de um diálogo. Trata-se, o que émais importante, de uma hi~óriareveladaatravés da experiência. Num capítulo con-

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Clusivo (intitulado deliberadamentc "Hístô-ria dentro da História"), fiz um paralelo en-tre a narração deTaso e' aquilo que ocorreuem Porto Rico. É certo que eu nunca em-preenderia um tal projeto se não tivesseconhecido Taso e se não fôssemos amigos.Mas o objetivo de nosso trabalho conjuntoera, tornando mais claro e visível o queocorrera a Taso, tomar mais claro e visívelo que ocorreu com pessoas como Taso, Epenso que estava consciente de pelo menosalguns dos muitos riscos de distorção envol-vidos em nossos procedimentos. Mesmo as-sim, o projeto parecia válido. E isso é algoque Dwyer, talvez, com a sua preocupaçãode imparcialidade absoluta do método, dei-xa de apontar.

Certamente teria sido possível fazer olivro de Taso das quinhentas páginas origí-nais de entrevistas, na ordem em que foramgravadas, sem interrupção ou comentário,Não tenho meios para saber se aquela ver-são seria igualmente reveladora da históriade Barrio Jauca e dos efeitos da ocupaçãoamericana. Fazer o livro como fiz foi mionha própria decisão. Eu admiti e aceitei,então, a responsabilidade por qualquer de-formação que daí resultasse) como aceitotambém a responsabilidade por qualquerperda de "objetividade" que supostamenteresultaria de minha amizade com Taso,

Se devemos supor que, por definição.a Antropologia é "cria" da opressão colo-nial, então, projetos como os que eu e Ta-so empreendemos esconderão inevitável-mente mais do que revelarão aquela optes-sA'0. Mas se alguém estiver preparado para apossibilidade de que a Antropologia tomeparte na documentação daquilo' que o Oci-dente fez a outras sociedades, dar, assim,"voz" a pessoas como Taso - mesmo se,por nossos erros, deformamos ou distorce-mos aquela voz - é melhor do que mantê-Ias mudas. Questionar um projeto ao longo

do caminho é essencial, mas se o questiona-mente degenera para uma autoconsciênciaantropológica na qual o objeto de investiga-ção é esquecido e apenas os métodos pas-sam a Importar, pode-se terminar comun-gando consigo mesmo, O que tomou poss í-

vel a continuação de meu trabalho com Ta-so - apesar do meu conhecimento de nossadesigualdade, dos muitos riscos de distorçãoe 'dos perigos que nossa amizade pudesserepresentar para a verdade objetiva - foi'minha convicção de que sua vida. e aquiloque sintetiza. deveria estar dispon ivel a ou-tros para que pudessem estudar e refletirsobre ela.

Qualquer 'empresa desse tipo pareceevocar, inevitavelmente, questões sobre otípico ou representativo. Como tentei dei-:xar claro em meus comentários ao livro,Taso não é, a meu ver (e nem ao seu pró-prio, acredito), representativo de Porto Ri-co, de trabalhadores, ou mesmo da classetrabalhadora rural de Pano Rico - se oque "representatividade " significa é "mé-dia". Taso se destaca de seus semelhantespor sua inteligência e articulação extraor-dinárias. Contudo, eu insistiria em que Ta-so é representativo de seu tempo, de seu lu-gar e de seu povo, precisamente porque suanarrativa pessoal, enriquecida por sua pers-picácia incornurn, incorpora a experiênciade uma comunidade. uma região e um pa ís,sendo que cada uma delas em n íveis de re a-lidade e de abstração algo diferentes, Aofazer a resenha do livro logo que apareceu.Geertz compreendeu instantaneamente osentido no qual Taso é t ipico. embora euinsista no livro que ele não o é:

"Min12 (. , .I usou a história de vida de umúnico trabalhador de Cana porre- riquenho(. .. ) não para fazer uma análise psicológi-ca, mas para reCOnstitU\1 urna 'históriadentro da história'. um quadro humanodentro do qual ,<~ vê o padrão de mudança

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social e cultural num bamo de plantationcosteira durante este século, No relatoamalgo de Don Taso sobre o trabalho to-das as. noites no campo quando 'era umacriança - apenas uma criança" com noveou dez anos de idade, processo que resul-tou numa hérnia,está refletida a rápida ex-pansão do cultivo do açúcar à medidaque as eficientes cerporações americanastomaram. o lugar da Merenda espanholadecadente. Em sua atividade política agi-tada, sem recompensas pessoais, e mesmoassim ousadamente ínconformtsta, primei-ro no Partido Socialista e depois no Popu-lar, reflete-se a 'revolução social do 'NewDeaI' porto-nquenho .ainda em prossegui-mento. E em sua conversão ao protestan-tismo, surpreendente e também ínconfor-mista. reflete-se seu alto sentimento de so-Iidão, ausência de sentido e ambição nãopreencbida que caracterizam a exlstêncie,do proletário rural que perdeu suas origenscamponesas. Taso, diz Mintz, não é 'mé-dio' em nada - 'nem um homem médio,nem um porto-riquenho médio, nem ummédio trabalhador de cana porto-riquenhode classe bajx3'_ Não obstante, 'os eventosna vida de Taso corriam paralelos às mu-danças ocorridas em tomo dele e, assim,oferecem um reflexo fiel dessas mudanças .(... )'. O trabalho de Mintz representa umesforço em transformar a máxima de Zola,de que o caráter é a cultura vista através deum temperamento, numa ferramenta cien-tífica para o estudo dó carapesínato em ge-ral .. a

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Através da história pessoal de Tasopodemos compreender, de forma inteira-mente distinta, a experiência coletiva deum povo conquistado. O que ocorreu comTaso também ocorreu, em termos mais amoplos, com sua sociedade. Seu dOIJlé revelarsuas experiências como estilo incorporadasà história de sua sociedade, e também a ín-corporam,

Muitas perguntas sobre Taso me fo-ram feitas nestes últimos anos; sendo ele oque é - uma .pessoa e não outra -, isto po-deria ter afetado a visão que nos dá? Nãohá_uma resposta' fácil para esta pergunta.Indagaram-me se não importava o fato deTaso não ser um cortador de cana - o epíto-.me do trabalho na cana - e talvez uma brevediscussão desta questão possa avançar par-cialmente a resposta a outras deste mesmotipo: e .se. o narrador fosse uma mulher?uma criança? um capataz? um negro? umimigrante'? menos inteligente? e assim pordiante. Em' termos de homens-hora por anona tndüstría do açúcar, o corte da cana vemcorrespondendo a uma percentagem cadavez menor; mesmo há 50 .anos, a pro-porção já era, provavelmente, de menos devinte por cento, Mas cortar cana é o únicotipo de trabalho associado à indústria doaçúcar que é familiar aos leigos, ao «ontrã-rio de semear, por exemplo, ou f .iltivar,fertllizar, cavar valas, amontoar a r.ma cor-tada, cuidar do gado, dirigir trato' )5 ou va-gões de cana, colocar trilhos, ete. Taso tra-balhou em quase todas as tarefas do campona índústría da cana, como ele mesmo con-ta. No período em que o conheci, Taso eraum membro em horário integral de umatunna de estrada de ferro. Este empregolhe garantia oportunidades de trabalho du-rante todo o ano e a chance de trabalharcom a mesma turma continuamente, alémde outros benefícios não disponíveis ounão tão consistentemente disponíveis paratrabalhadores sazonais (cortadores de cana,cavadores de valas etc.). Embora o salãrío-hora fosse bem inferior àquele que um bomcortador de cana poderia ganhar com umesforço extra, era um trabalho estável -

li! -Oiíl'ord Geertz, "Studies in Peasant tife", in B. Siegel, ed.,Biennial Review of Anthropology,1961, pp. 12-13.

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-uma troca que a maioria dos trabalhado-res, em qualquer lugar, faria, caso Ihes fos-se dada a oportunidade. Mais importante.porém, é que o corte da cana na costa sulde Porto Rico havia se tornado, durante osanos da ocupação dos EUA, uma tarefadesempenhada principalmente por traba-lhadores sazonais migrantes, geralmentepessoas que desciam das montanhas para aestação da colheita (zafra) de fins de dezem-bro a junho, e retomavam depois para suasrespectivas aldeias. É claro que uma tal pes-soa teria oferecido um quadro diferente datransformação da indústria açucareira por-to-ríquenha e de sua força de trabalho.Mas, provavelmente, não estaria naquela.força de trabalho como criança ou jovem,em primeiro Iugar. E assim, a questão do tí-pico e do representativo. neste caso e emoutros, não pode ser resolvida supondo que-alguma outra pessoa teria servido melhorou da mesma maneira.

É lógico que tudo isso deixa sem res-posta a pergunta de como eu "escolhi" Ta-so para recompor uma história de vida. Aresposta é mais simples do que parece: eunão "escolhi" Taso, ele me "escolheu", Elepoderia ter me recusado no primeiro diaem que nos encontramos; mas, em vez dis-SO, colaborou comigo. Ele poderia ter serecusado em inúmeras ocasiões dai por di-ante, mas nunca o fez. E quando eu o visi-tei pela primeira vez depois que nosso tra-

balho estava pronto em 1956 - finda a co-leta. c sendo feitas a transcrição, a traduçãoe a editoração que pareciam interminavcis- lembro-me Que ele me disse a primeiracoisa que me provocou um sentimento deculpa. "Sinto falta de você", ele disse, "sin-to falta de nosso trabalho juntos. Agoraque a casa pequena atrás da nossa está va-zia. eu me lembro do nosso trabalho." Aíestá a desigualdade, a assirnetria que apare-ce na relação entre ao tropólogo e info r-mantc , em contraste com a desigualdade. aassirnetria que existe entre a colônia e ametrópole. E. de fato. continuava livre parapensar com meus amigos - para ensinar.pensar e escrever para viver. Depois que olivro de Taso ficou pronto eu poderia con-tinuar observando. pensando. lendo ou va-diando. Meu 3JTÚgo. totalmente meu igual,continuava trabalhando com suas mãos, umtrabalho terrivelmente árduo, longo e mal-remunerado.

Ele me escolheu. Trabalhando comele, eu descobri mais sobre mim mesmo. Sealguém quiser imaginar que em nossa ami-zade havia. além de tudo isso. alguma "quí-mica" de almas irmãs, sou inclinado a con-cordar com isso. Agora. 35 anos depois deter encontrado Taso pela primeira vez, aquímica ainda funciona.

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(Recebido para publicação em dezembro de I98J)

Finding Toso. Discovenng Myse/{

ABSTRACT

The author presents a critical analysis oflhe originsand methodological implications of alioriginal study of hís, worker in the Cane, basedon the tire history of Taso Zayas, a Puerto Ricanrural worker. Thiswas the first lime Ihat lhe me-thod was used for the study not of primitive so-cíeties but of a society at lhe períphery of theWeslern capitalist world.

The history of Taso and its social represen-tativeness open the way for a wider debate con-ceming lhe object. lhe mcthod. and the scopc ofAnthropologyas wetl as lhe lirnits of its possiblcobjectivity. For this reason, the paper begins byevaluating lhe role of the inforrnaru in definínglhe anthropologicaí method , following the discus-sion between Franz Bo as and bis disciples .

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