mídia ninja: uma análise sobre a construção do discurso...

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 1 Mídia Ninja: Uma análise sobre a construção do discurso midiático através do livro Teorias do Jornalismo Porque as notícias são como são 1 Ana Renata Linard RIBEIRO² Joelton da Silva BARBOZA³ Marcela Duarte Dumont NATIVIDADE 4 Edwin dos Santos CARVALHO 5 Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte, CE Resumo O presente artigo tem por objetivo investigar o processo de construção do discurso presente na Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) com base no livro ''Teorias do Jornalismo Porque as notícias são como são'', do autor português Nelson Traquina. O veículo analisado se constitui em uma plataforma online, cujos conteúdos são teoricamente gerados pela população. Considerado pelo senso comum como uma plataforma ''de esquerda'', as notícias geradas são colocadas, nitidamente, de forma opositora às bases do regime de direita. Para a formulação deste artigo foram analisadas quatro publicações postadas no período entre 14.06.2016 e 17.06.2016. Palavras-chave: Jornalismo; análise; discurso; Mídia Ninja; notícia. Introdução A Mídia Ninja se caracteriza como uma rede midiática descentralizada que surgiu em 2013 e que aposta na lógica colaborativa de criação e compartilhamento de conteúdo, focando suas pautas em movimentos sociais, temáticas culturais e política. O boom da internet permitiu que o ''fazer jornalistico'' sofresse alterações dando maior espaço para as declaradas narrativas independentes e novas opções de informação que fogem da mídia tradicional. Os idealizadores defendem que os cidadãos são capazes de construir sua opinião e compartilhá-la no cenário virtual, pois o chamado cidadão consciente é peça fundamental dentro do processo de comunicação e reeprodução de conteúdo. A obra ''Teorias do Jornalismo Porque as notícias são como são'', do autor Nelson Traquina, apresenta uma reflexão mais completa do processo de connstrução da notícia, incluindo os critérios para se definir o que será ou não veiculado. O autor instiga o questionamento da vivência da democracia no que diz respeito ao exercício do Jornalismo, 1 Trabalho apresentado no IJ 01 Jornalismo do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação realizado de 3 a 9 de setembro de 2016, na USP Universidade de São Paulo, em São Paulo, SP. ² Estudante de Graduação 7°. semestre do Curso de Jornalismo da UFCA, e-mail: [email protected] ³Estudante de Graduação 7º semester do curso de Jornalismo da UFCA, e-mail: [email protected] 4 Estudante de Graduação 7º semester do curso de Jornalismo da UFCA, e-mail: [email protected] 5 Orientador do trabalho: Professor do Curso de Jornalismo da UFCA, e-mail: [email protected]

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Mídia Ninja: Uma análise sobre a construção do discurso midiático através do livro

Teorias do Jornalismo – Porque as notícias são como são1

Ana Renata Linard RIBEIRO²

Joelton da Silva BARBOZA³

Marcela Duarte Dumont NATIVIDADE4

Edwin dos Santos CARVALHO5

Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte, CE

Resumo

O presente artigo tem por objetivo investigar o processo de construção do discurso presente

na Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) com base no livro ''Teorias

do Jornalismo – Porque as notícias são como são'', do autor português Nelson Traquina. O

veículo analisado se constitui em uma plataforma online, cujos conteúdos são teoricamente

gerados pela população. Considerado pelo senso comum como uma plataforma ''de

esquerda'', as notícias geradas são colocadas, nitidamente, de forma opositora às bases do

regime de direita. Para a formulação deste artigo foram analisadas quatro publicações

postadas no período entre 14.06.2016 e 17.06.2016.

Palavras-chave: Jornalismo; análise; discurso; Mídia Ninja; notícia.

Introdução

A Mídia Ninja se caracteriza como uma rede midiática descentralizada que surgiu

em 2013 e que aposta na lógica colaborativa de criação e compartilhamento de conteúdo,

focando suas pautas em movimentos sociais, temáticas culturais e política. O boom da

internet permitiu que o ''fazer jornalistico'' sofresse alterações dando maior espaço para as

declaradas narrativas independentes e novas opções de informação que fogem da mídia

tradicional. Os idealizadores defendem que os cidadãos são capazes de construir sua opinião

e compartilhá-la no cenário virtual, pois o chamado cidadão consciente é peça fundamental

dentro do processo de comunicação e reeprodução de conteúdo.

A obra ''Teorias do Jornalismo – Porque as notícias são como são'', do autor Nelson

Traquina, apresenta uma reflexão mais completa do processo de connstrução da notícia,

incluindo os critérios para se definir o que será ou não veiculado. O autor instiga o

questionamento da vivência da democracia no que diz respeito ao exercício do Jornalismo,

1Trabalho apresentado no IJ 01 – Jornalismo do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

realizado de 3 a 9 de setembro de 2016, na USP – Universidade de São Paulo, em São Paulo, SP.

² Estudante de Graduação 7°. semestre do Curso de Jornalismo da UFCA, e-mail: [email protected]

³Estudante de Graduação 7º semester do curso de Jornalismo da UFCA, e-mail:

[email protected] 4Estudante de Graduação 7º semester do curso de Jornalismo da UFCA, e-mail: [email protected]

5Orientador do trabalho: Professor do Curso de Jornalismo da UFCA, e-mail: [email protected]

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contrariando o mito da imparcialidade. Segundo Nelson Traquina (2004, p.22), ''a

democracia não pode ser imaginada como sendo um sistema de governo sem liberdade e o

papel central do jornalismo, na teoria democrática, é de informar o público sem sensura.''

Este artigo traz a análise do discurso midiático da Mídia Ninja com base em seis principais

teorias: Teoria do Espelho, Teoria do Gatekeeper, Teoria Organizacional, Teoria de Ação

Política, Teoria Estruturalista e Teoria Interacionista, sendoas duas últimas subdivisões das

teorias construtivistas, todas elas apresentadas no livro de Traquina.

Segundo a Teoria do Espelho, as notícias são recortes fiéis do que acontece na

sociedade. Este pensamento reforça a afirmativa de que o jornalismo é imparcial, ignorando

a carga de vivências e influências trazidas com cada pessoa. O repórter, por mais preparado

que seja, carrega traços dos campos sociais que pertence. O sociólogo francês, Pierre

Bourdieu, afirma que estes espaços têm relativa autonomia, o que contribui para o

aglomerado de tradições, convicções e costumes.

Outro autor que reforça esta carga subjetiva de impressões é o filósofo Michel

Foucault. Ele elaborou os chamados “Sistemas de Exclusão”, que definem três métodos de

manutenção da representatividade de determinado campo social. São eles: a “vontade da

verdade”, a “partilha da loucura” e a “palavra interdita”. Estes mecanismos promovem a

seletividade dos fatos que se tornarão notícia não só através da escolha do jornalista, mas

também pela linha editorial do veículo no qual ele trabalha.

A Teoria do Gatekeeper vai de encontro à Teoria do Espelho, pois considera a

influência do profissional da comunicação na escolha do que se torna notícia. Estas duas

teorias negligenciam uma abordagem mais detalhada do processo de construção da notícia, o

que é preenchido com as teorias construtivistas. A Teoria organizacional afirma que o

trabalho do repórter é feito de acordo com os constrangimentos aos quais ele é submetido

dentro da empresa onde trabalha, ele passa a subordinar-se às regras editoriais e políticas e

escrever para agradar ao chefe, não mais ao leitor. Já na teoria de Ação Política a mídia é

vista apenas como um instrumento que serve aos interesses políticos, para a esquerda ela

mantém o capitalismo, para a direita ela é anticapitalista.

A Teoria Estruturalista defende o peso que a sociedade exerce no processo de

escolha das notícias. Mesmo que o jornalista seja “independente”, a programação jornalística

é pautada em uma parte considerável pela estrutura social que recebe tal conteúdo.

Pode-se perceber que entra em questão o conceito de representatividade

sociocultural, pois embora o jornalista seja detentor de grande capital social dentro de

um determinado

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veículo, precisa selecionar fatos que interessem e identifiquem o público. No Cariri cearense,

pode-se encontrar como exemplo o programa televisivo “Pelo Cariri”, apresentado por

Rodrigo Vargas no Sistema Verdes Mares, afiliada da Rede Globo. O repórter trabalha há

mais de uma década na emissora e detém de um grande capital social, sendo produtor e

apresentador de seus programas. No “Pelo Cariri”, por mais que ele seja de Fortaleza e não

tenha a mesma afinidade e sintonia com os assuntos do interior, é necessário que saiba eleger

notícias que representem os moradores da região.

Na Teoria Interacionista o jornalista vive a tirania do fator tempo. Os jornais

trabalham diariamente com o objetivo de preencher o tempo de exibição, tendo assim que

manter controle e ordem no espaço e no tempo, pois os acontecimentos podem ocorrer em

qualquer lugar e a qualquer momento.

Análise 1 – Postagem do dia 14 de junho

No dia 14.06.2016, foi publicada outra matéria no Mídia Ninja com o seguinte

título: “Conselho de Ética da Câmara acata relatório que pede a cassação de Cunha”. Na

abertura constava a frase: “Um dia e tanto para Eduardo Cunha, além da aprovação do

relatório que pede sua cassação no conselho de ética, o juiz Augusto Cesar Pansini

Gonçalves decretou a indisponibilidade de recursos financeiros e bens do deputado e de sua

esposa Cláudia Cruz.” É perceptível que a passagem “Um dia e tanto” sugere uma

explanação pejorativa e irônica ao ex-presidente da câmara, Eduardo Cunha, deixando

subentendido o posicionamento político do veículo.

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Imagem retirada do site Mídia Ninja

Em outro momento também fica perceptível através das falas usadas para conduzir a

matéria, onde pegaram apenas trechos de autoridades e integrantes da câmera a favor da

cassação, que denota muita gravidade, na qual ficam explícitos os crimes cometidos por

Cunha. Como na frase proferida pelo delegado em referência ao teor das denúncias que

pesam sobre o casal: “Ambos foram multados por esconder recursos no exterior, dinheiro

público foi usado para compras de artigos de luxo” e no trecho “... dinheiro público foi usado

para compras de artigos de luxo”. O autor do texto utiliza a fala sugerindo que Eduardo e sua

conjugue estejam ostentando com dinheiro público e provocar, assim, a fúria da população,

levando os mesmos a um pensamento crítico sobre como anda a atual situação da política

brasileira, no que tange principalmente aos líderes e dirigentes do alto escalão, trazer à tona a

questão sobre em quem as pessoas estão depositando os seus votos. Realmente “abrir os

olhos e a mente” da sociedade, através da ideologia que o veículo acredita.

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Imagem retirada do site Mídia Ninja

Nelson Traquina (2004, p.24) diz: “Dois pólos começaram a tornar-se dominantes

na emergência do campo jornalístico contemporâneo: o pólo econômico (a definição das

notícias como um negócio) e o pólo ideológico (a definição das notícias como um serviço

público).”

A teoria hipodérmica ou teoria da bala mágica, elaborada pela Escola Norte-

Americana na década de 30, também tem forte relação com o que foi exposto, pois supõem-

se que todo estímulo ocasionado por uma mensagem encaminhada terá retorno, sem

encontrar barreiras, como o disparo de uma arma, que penetra a pele do corpo sem nenhum

problema.

A passividade do receptor é a principal qualidade do indivíduo nesta teoria. As

matérias da Mídia Ninja acredita-se que interferem diretamente na vida de milhares de

pessoas, essas absorvem a informação e repassam para outras pessoas e assim

sucessivamente, seja por meio de compartilhamentos em redes sociais ou pelo diálogo, daí a

relação com a teoria, uma vez que grande quantidade de pessoas são atingidas por algo, no

caso as matérias do veículo, essas repassam para o que Pierre Bourdieu chama de campos

sociais, onde as mesmas estão inseridas.

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Imagem retirada do site Mídia Ninja

Imagens retiradas do site Mídia Ninja

Na imagem acima se observa a forma como Eduardo Cunha é tratado, de “maior

Gângster da historia política do país”, que tem como significado a pessoa que faz parte de

uma quadrilha de criminosos, um contrabandista ou um ladrão. Na outra imagem pode se

perceber ironia e tomada de juízo quanto a veracidade ou não dos fatos, subentende-se que a

Mídia Ninja tem Eduardo Cunha já como culpado e detentor de contas no exterior, mesmo

antes do parecer da justiça, pelo fato da imagem conter o rosto do ex-presidente da câmara

dos deputados exposto em várias notas de dólar. Percebe-se também felicidade, alegria e

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contentamento com o fato da cassação, uma vez que o termo “A CASA CAIU” está em

destaque tanto na cor quanto no tamanho da fonte. Nelson Traquina fala que as notícias são

denominadas como construções narrativas, histórias, uma realidade seletiva. É necessário

reconhecer quais os acontecimentos que possuem valor como notícia, ou seja, há todo um

processo de seleção. Logo depois desse reconhecimento, o jornalista precisa guiar-se para

criar a notícia.

A narração incide em reunir todas essas informações e transformá-las em

mensagens para uma fácil decodificação do leitor. Acredita-se que o Mídia Ninja é um dos

únicos que, em partes, não se encaixa na teoria da “Ação Política”, já que ela é geralmente

concedida aos grandes meios de comunicação, essa teoria alega que a mídia é vista como

forma instrumentalista, servindo a certos interesses políticos. Na versão da esquerda, a mídia

sustenta o capitalismo. Na visão da direita, a mídia se opõe ao capitalismo, é notório que

nessa passagem há certa veracidade. Direita e esquerda concordam somente em algo: as

notícias são distorções sistemáticas que servem a partidos políticos. Porém é visto que a

Mídia Ninja expõe claramente o seu posicionamento político e utiliza seu poder midiático

para perpetuar e defendê-lo, uma vez que a mesma foca suas pautas nas causas sociais,

tomando partido dos movimentos de esquerda.

Quanto a Teoria Organizacional, ela diz que os jornalistas organizam seu processo

de produção de notícias levando em consideração a política editorial do veículo no qual está

inserido do que suas crenças e ideologias. Isso acontece devido a alguns fatores, que são: as

represálias que o profissional pode sofrer caso produza um conteúdo que vá em desencontro

com a política da redação, a vontade de crescimento profissional que o leva a executar o

trabalho de acordo com o gosto de seus chefes, os sentimentos de obrigação e estima para

com jornalistas superiores e mais antigos, entre outros fatores. Acredita-se que essa teoria

não esteja presente no veículo em questão, Mídia Ninja, tendo em vista que o mesmo vive de

colaborações.

Análise 2 – Postagem do dia 14 de junho

No dia 14.06.2016 foi publicada outra matéria que traz como título ''Movimentos

sociais realizam ato em frente a embaixada dos EUA em Brasília''. Na abertura da matéria

estava escrito que ‘’Não é de hoje a ingerência dos EUA em assuntos internos de outras

nações ao

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redor do mundo. Foi assim com a onda de golpes de Estado que varreu a América Latina

após a II Guerra Mundial, é assim com os conflitos que hoje assolam o Oriente Médio. ‘’

Imagem retirada do site Mídia Ninja

Claramente é possível perceber que o veículo não disfarça seu posicionamento em

relação às posturas adotadas pelo EUA no que se diz respeito aos conflitos políticos ao redor

do mundo, associando inclusive os golpes de Estado que ocorreram na América latina nas

décadas de 60 e 70 com a situação atual do Brasil. O texto é introduzido explicando que a

manifestação se deu pela‘’diretriz imperialista estadunidense de desestabilização de países

que buscam uma política externa e interna independente’’. Mas ao longo dele somos

direcionados para o real objetivo, protesto contra o governo Michel Temer. ''Militantes dos

movimentos MPA, Via Campesina, MAB, FUP FNP e Núcleo em Defesa da Democracia

participaram do ato em frente à embaixada norte americana. O forte aparato

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policial montado nos arredores da embaixada chamou a atenção de quem compareceu ao ato.

A grande quantidade de policiais suscitou, inclusive, temores de uma eventual ação armada

do governo golpista contra a população. ''

A menção ao governo como ‘’golpista’’ deixa nítido a posição do veículo diante do

impeachment da Presidente Dilma, nesse trecho é possível observar a exaltação aos

movimentos de esquerda e o contraponto da presença policial, sempre vista como uma

ameaça a esses movimentos. Durante toda a reportagem as fontes utilizadas são de pessoas

pertencentes aos movimentos, apresentando um único ponto de vista, principalmente sobre

os temores em relação ao ‘’golpe’’ realizado no Brasil e a militarização com instalação de

uma base militar americana na Argentina.

Imagem retirada do site Mídia Ninja

Mesmo diante da hostilidade resultante do elevado número de policiais, os movimentos

sociais presentes à atividade passaram o seu recado. "Viemos trazer a nossa indignação com

relação a participação velada dos EUA no golpe" afirmou Wesley Caçador, citando

documentos vazados pelo Wikileaks contendo conversas de Michel Temer com agentes da

CIA, a central de inteligência norte americana.

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Neste trecho volta-se para o sentimento de ameaça com a presença da polícia e

inserindo mais uma vez o presidente interino Michel Temer, para em seguida falar sobre

como os países latino americanos foram contra o ‘’golpe’’.

Teve também quem lembrou atitudes semelhantes tomadas pelos EUA em outros

momentos da história. "Isso é um investimento para derrubar o pensamento progressista na

América Latina", afirmou Cristiane Santos, em alusão à Operação Condor e seu objetivo

declarado de exterminar a esquerda do continente americano.

Durante toda a matéria foge-se da Teoria do Espelho. Os fatos são apresentados,

houve a manifestação com hora e local, porém desde o início assume-se o posicionamento. O

doscurso realizado pela Mídia Ninja nos faz crer que os EUA sendo uma grande potência

mundial não se posicionam em favor da população que seria contra o governo Temer, para

isso ela utiliza outros países também negligenciados pelos Estados Unidos e os países da

América Latina que estão ''a favor do povo'' e contra o ''golpe'', validando os sistemas de

exclusão apresentados por Foucault. As fontes apresentadas mostram todas a mesma opinião,

quebrando a imparcialidade e mostrando que o veículo controla o que vai ser noticiado,

assim como na teoria do Gatekeeper.

A matéria é finalizada explicando o por quê da data escolhida, 14 de junho. ''A data

desta terça não foi escolhida à toa: se estivesse vivo, Chê Guevara completaria 88 anos neste

14 de junho. Para comemorar, bandeiras de Cuba e outras com a imagem de Chê foram

estendidas na calçada em frente à embaixada.'' A todo momento o posicionamento de

esquerda é exaltado, mostrando que o veículo também se insere na Teoria de Ação Política,

utilizando a mídia como instrumento a serviço do interesse político de um determinado

grupo.

Análise 3 – Postagem dia 15 de junho

No dia 15 de junho de 2016, foi publicado site Mídia Ninja que trazia no título “A

crise no futebol brasileiro é estrutural”, o que nos dá logo de cara material para que

possamos prosseguir com nossa análise de discurso, visto que ao se falar em estrutura,

podemos nos remeter a tudo aquilo que compõe a base do país. Dando sequência, o abre diz

“Maus resultados da seleção, desemprego sistêmico e escândalos de corrupção revelam que o

atual modelo do futebol brasileiro chegou ao limite.”, aqui podemos destacar a intenção do

autor

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de remeter ao leitor que os problemas no futebol jogado pelo Brasil, é consequência de

mazelas que ocorrem no país.

Imagem retirada do site Mídia Ninja

A matéria foi publicada logo após a eliminação do Brasil na primeira fase da Copa

América desse ano, apresentando de antemão uma retrospectiva de fracassos sofridos pela

seleção nos últimos anos, dentre eles, o autor cita a derrota para a Alemanha na Copa do

Mundo, realizada no Brasil, em 2014, para isto, o autor usa o termo “vexatório 7x1”, um

termo que denota vergonha e decepção por parte da torcida que esperava um

hexacampeonato.

Na sequência, o autor fala sobre a “pior fase da história do futebol brasileiro. E mais

do que técnica e política, a crise é estrutural.”, e segue falando sobre a taxa de ociosidade dos

profissionais do futebol, que passam 8 meses inativos, devido ao “calendário irracional”, que

sobrecarrega os clubes para preencher grades de programação das emissoras de TV, que

ignora os clubes menores. E, aqui, nossa análise vai se nortear na crítica velada aos

procedimentos da CBF para os campeonatos estaduais e nacional, uma vez que, ao falar de

um calendário irracional, ele reclama das federações estaduais, nos levando ao crer, que o

interesse está mais na renda da televisão, do que no aproveitamento dos profissionais de

futebol.

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Adiante, o autor nos fala sobre as manifestações ocorridas em campo durante os

jogos do campeonato Brasileiro do ano passado, manifestações estas do Bom Senso FC, que

foi fundado oficialmente em 30 de setembro de 2013, nasceu da iniciativa de diversos

jogadores preocupados com o atual estado do futebol brasileiro. Levando-nos, mais uma vez,

a uma crítica à CBF, órgão máximo do esporte no Brasil.

Nos é apresentado mais uma demonstração do posicionamento do site onde é dito:

“Um visível retrocesso do governo golpista”, ao falar sobre escândalos entre a política e

futebol, ao usar o adjetivo “golpista” para se referir ao governo, nos propõe crer que o autor

apresenta posicionamento desfavorável à autal gestão e, denota ainda, que considera golpe

como ele chegou à essa gestão.

Análise 4 – Postagem do dia 17 de junho

No dia 17.06.2016, foi publicada uma matéria no Mídia Ninja com o seguinte título:

“Universidade de Brasília é alvo de ataques extremistas na noite desta sexta (17)”. No abre

constava: “Entoando cantos racistas e homofóbicos, os agressores pediam a volta da Ditadura

Militar. Um estudante foi agredido com um Taser, arma de choque cuja venda é controlada.

Entre os agressores estava Kelly Bolsonaro, conhecida militante da ultra direita.” Nota-se

que o adjetivo “extremista” já denota uma interpretação pejorativa da ação, inferindo

violência e ausência de fundamentação. No abre da matéria, fica pressuposto com a

informação sobre o Taser que o grupo conseguiu a arma de maneira ilícita ou que fazem

parte de uma camada social privilegiada, podendo adquirir o instrumento.

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Imagem retirada do site Mídia Ninja

Imagem retirada do site Mídia Ninja

No lead, o veículo afirma que o grupo “invadiu o Instituto Central de Ciências da

universidade, conhecido como Minhocão, para agredir os estudantes e depredar o patrimônio

público”. O termo “invadir” já infere força física e esta intenção é reforçada ao

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falar que o intuito foi agredir e depredar o patrimônio. Os estudos francês sobre Análise do

Discurso diz que o discurso legitima o poder e Focault especifica isto com a “vontade da

verdade”, citada anteriormente. Este recurso afirma que para legitimar determinada

ideologia, é necessário reunir afirmações que lhe credenciem. Estes elementos podem ser

observados acima.

Considerações Finais

Este trabalho buscou avaliar o site Mídia Ninja com base nos estudos do português

Nelson Traquina, através do seu livro ''Teorias do Jornalismo – Por que as notícias são como

são''. Ficam evidentes as tomadas de posição por parte do veículo e a grande carga ideológica

carregada por eles, fazendo com que cada vez mais seja esquecido o conceito de

imparcialidade tanto falado no âmbito da profissão de jornalista quanto na academia.

Anterior á análise individual das matérias já pode-se constatar que a Mídia Ninja

não se encaixa na primeira teoria apresentada por Nelson Traquina, a do espelho, mas ao

contrário fortalece o que foi dito por Pierre Bourdieu de que não existe imparcialidade e que

de alguma forma os campos sociais vão influenciar no modo em que as informações são

transmitidas. Como acontece na grande mídia, a forma como a Mídia Ninja apresenta suas

pautas está diretamente relacionada com a teoria do Gatekeeper, desde a sua criação o

veículo tem objetivo de trabalhar apeas questões sociais de cunho político e sendo

declaradamente de esquerda, então tudo o que eles produzem passa pelo filtro para estar

relacionado aos movimentos políticos sociais. Por ser uma mídia construída de forma

colaborativa não se pode afirmar que ela se encaixa na teoria Organizacional, pois todos que

a constituem trabalham por ela por terem uma afinidade política, o repórter não precisa

alterar sua herança dos campos sociais pois sua opinião já é aceita pelos demais.

Já relacionando com a Teoria de Ação Política nota-se que o veículo foi criado na

intenção de defender determinados interesses políticos. É aí que podemos questionar o

midiativismo, mesmo se autodenominando apartidários esses movimentos possuem uma

inclinação para defender um lado quando se trata de questões políticas, não é apens a

informação pela informação, mas a utilização dela como promoção de uma ideologia,

nitidamente vista nas postagens no site e nas redes sociais, com destaque para o facebook.

Como sendo uma mídia que permite a população construir a notícia, através do envio de

imagens, a Mídia Ninja pode ser incluída na Teoria Estruturalistaonde a sociedade influencia

no que é noticiado.

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Como uma mídia alternativa produzida na internet ela não pode ser associada com a

Teoria Interacionalista, as matérias e vídeos são geralmente postados em tempo real, não

existe um limitenem o mínimo de reportagens que deve ser feitas ao longo do dia, permitindo

a flexibilidade e alcançando diversos locais do país.

Referências bibliográficas

TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo, porque as notícias são como são. Florianópolis:

Insular, 2014.

FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. França: 1971.

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BRUNS, Axel. Gatekeeping, gatewatching, realimentação em tempo real: novos desafios para o

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