mesmo agonizando, cd's ainda tem público

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POR VINÍCIUS FERREIRA Foi se a época em que ouvir música estava relacionado a comprar CDs. Ipod, mp3 pla- yers e internet transformaram o disco prateado de 12cm em objeto de colecionadores. Hoje em dia, você pode ter o hit do momento, ou a música preferi- da de um cantor específico sem ter que comprar o "com- pact disc" com todas as suas canções. Basta fazer um down- load, ou em alguns casos, comprar a música que você quer. Todas estas modificações fizeram que o mercado de CDs chegasse a ponto de quase desaparecer no Vale do Aço. Não existe hoje mais nenhuma loja especializada na comercia- lização de músicas e CDs. Segundo o gerente de uma das lojas que ainda comercializa os discos, a mais próxima fica em Governador Valadares. Em 1996, há 14 anos, Ipatinga fer- via com lojas deste ramo. Havia mais de dez em toda região, especializadas e aten- dendo aos fãs de música que queriam adquirir o disco do seu cantor preferido. Hoje já não é mais assim: encontrar um CD para comprar, com a exceção de mercados específicos como a música gospel ou rock pesa- do, se resume a grandes lojas nacionais, como as Lojas Americanas, ou a Livraria Saraiva. No Centro de Ipatinga, só uma das antigas lojas de CDs ainda sobrevive, mas está só esperando à hora do esto- que acabar para poder sair deste ramo. Porém, assim como aconteceu com o vinil, que está recuperando força no mercado graças a colecionado- res e fãs, é bem provável que, mesmo com um novo sistema de vendas para o mercado fonográfico, o CD sobreviva. HÁ 15 ANOS NO MERCADO Edmar já era gerente de uma loja de música na época do vinil, conhecido também como "bolachão". Ele viveu o período de inserção do merca- do de CDs, o auge dele, e acompanhou, posteriormente, a queda, assistindo, com isso, o fechamento de todos os esta- belecimentos que lhe faziam concorrência direta. Mesmo sem competição, a loja por ele gerenciada precisou diversificar os serviços, trocando todas as prateleiras de CDs por vitrines com celulares, bonés, tênis e araras com camisetas. Edmar Costa de Assis relembra a época áurea da loja em que tra- balha, a antiga "Center Disco", hoje transformada na "Top 200 vitrine cultura e variedades vitrine cultura e variedades 6 JORNAL VALE DO AÇO l Domingo, 7 de novembro de 2010 7 JORNAL VALE DO AÇO l Domingo, 7 de novembro de 2010 MESMO AGONIZANDO, CDS AINDA TÊM PÚBLICO COM A INTERNET, A VENDA DOS DISCOS CAIU ASSUSTADORAMENTE. EM IPATINGA, MAIS DE DEZ LOJAS DO RAMO FORAM FECHADAS EDMAR É GERENTE DA ANTIGA "Center Discos", e atual "Top 200" há 1 5 anos. Sua loja, mesmo mudando de nome, é a única que ainda vende CDs na região. Há cerca de 10 anos, ele tinha vários concorrentes WESLEY BAIXA MÚSICAS, mas garante que é para conhecer mais as bandas e comprar CDs. "Eu escuto primeiro no computador, se gostar, com certeza vou comprar. Se não, vou tentar achar outra que me agrade" Acessórios". "Aonde você vê camisas, bonés, celulares, era tudo prateleira de CDs. Hoje só restou uma, que provavelmente irá ser retirada assim que este estoque for vendido. A não ser que haja uma reviravolta no mercado e aumente a procura", afirma Edmar. Caso não acon- teça tal reviravolta, a última remanescente das grandes lojas de CDs da década passa- da irá oficialmente sair do ramo fonográfico. De acordo com o gerente, o grande responsável pela queda no mercado é a internet. "A competição é desleal. Com a internet ninguém compra mais CDs. O 'cara' pode ter um pen- drive com 10 mil músicas, colo- car 16GB, 30GB em um Ipod. A queda da procura não é só no Brasil, é mundial", conta o gerente. Edmar relembra o "boom" que a loja teve quando os CDs surgiram no mercado. "Aconteceu dois anos após a posse de Fernando Henrique no primeiro mandato. Foram uns quatro anos com a venda no alto. O nosso estoque na época era de 15 mil CDs, de todos os gostos e estilos, e a saída era excelente, mais de 1000 discos mensais, tendo picos de até 1500 em meses com datas fes- tivas. Hoje, esta prateleira aqui é o nosso estoque, padronizamos os preços para queimar este estoque mesmo. CDs que che- garam pra gente a preço de R$40, R$50 e até R$90 estão todos saindo por R$10. E, mesmo assim, chegamos a ven- der, quando muito, 70 CDs no mês" conta o gerente da ex- Center Disco. "COMPRO DOIS CDS POR SEMANA" Mas, assim como o vinil não deixou de existir, e tem retomado força no mercado graças a fãs e colecionadores, o CD ainda tem seu público. Pessoas que não abrem mão da sensação de abrir o disco, de pegar o encarte, de ter a qualidade do CD, a arte do álbum, enfim, que não abrem mão de adquirir o trabalho da banda. Wesley de Souza Martins é publicitário e com- pra CDs regularmente, cerca de dois discos por semana. Seu primeiro foi de rock, ganhado. "Foi o 'Roots', do Sepultura. O primeiro que eu comprei foi da Alanis Morisette, e desde então eu compro. Desde que eu come- cei a trabalhar estou compran- do mais, e à medida que aumenta o poder aquisitivo, a gente compra mais também", conta Wesley, conhecido tam- bém como Lélo. Ele conta que tem mais de 150 CDs originais em sua casa, além de 23 vinis e mais de um terabyte (que equivale a 1024 gigabytes) em mp3's. Wesley, além de comprar, também "baixa" músicas. Ele usa a internet para conhecer novas bandas e ouvir as músicas antes de comprar. "Tem CD que eu comprei aqui que eu só escuto uma músi- ca. Pra que pagar por todas as outras? Aí é que entra a grande vantagem dos down- loads. Se o resto do álbum não é bom, fico sabendo antes de comprar. Estou escutando agora aqui o CD do vocalista do Led Zeppelin, Robert Plant, em um trabalho além do Led, o Band of Joy. Ouvi cinco músicas, adorei todas. Vou terminar de ouvir, mas provavelmente será o próximo CD que eu irei com- prar" explica Lélo. Outra característica que faz Lélo ainda comprar CDs é a arte dos encartes. "Gosto demais da arte da capa de alguns, gosto quan- do a banda faz mais do que um simples livreto com as letras das músicas. Isto eu posso baixar da internet, imprimir e ler. É bom quando você vê a arte diferente. Tem um CD que eu tenho aqui que achei o trabalho do encarte sensacional. É da banda MindFlow, de rock progressivo. O nome do CD é Destructive Device. A capa é interessante, e, além do encarte, tem um mistério dentro dele que ainda não consegui solucionar. É rela- cionado com a revelação de um crime, tem umas pistas no encarte e você só escuta a última faixa com um fone de ouvido. Isto é sensacio- nal, esta interatividade com o trabalho. Quem baixou só o CD não tem acesso a isto", afirma Wesley. Outra característica que Wesley afirma fazer diferença na hora de comprar um CD à somente baixar o disco é a qualidade. "Tem uma escala, a qualidade do vinil é melhor, a do CD é um pouco inferior, mas é melhor do que a do mp3, e quem preza por quali- dade continua comprando CDs", declara o publicitário. Ele explica um dos seus segredos para encontrar CDs baratos. "Está no supermer- cados. Consul e Bretas ven- dem CDs bons com preços em conta nas prateleiras perto dos caixas. É só pesquisar que se encontram discos que, nas Americanas tão saindo por R$ 20 e lá estão na pro- moção de R$ 5 ou R$ 10", finaliza Lélo. Fotos: Vinícius Ferreira

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Matéria publicada no Jornal Vale do Aço no dia 07 de novembro de 2010.

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Page 1: Mesmo agonizando, Cd's ainda tem público

POR VINÍCIUS FERREIRA

Foi se a época em que ouvirmúsica estava relacionado acomprar CDs. Ipod, mp3 pla-yers e internet transformaram odisco prateado de 12cm emobjeto de colecionadores. Hojeem dia, você pode ter o hit domomento, ou a música preferi-da de um cantor específicosem ter que comprar o "com-pact disc" com todas as suascanções. Basta fazer um down-load, ou em alguns casos,comprar a música que vocêquer. Todas estas modificaçõesfizeram que o mercado de CDschegasse a ponto de quasedesaparecer no Vale do Aço.Não existe hoje mais nenhumaloja especializada na comercia-lização de músicas e CDs.Segundo o gerente de uma daslojas que ainda comercializa osdiscos, a mais próxima fica emGovernador Valadares. Em1996, há 14 anos, Ipatinga fer-via com lojas deste ramo.Havia mais de dez em todaregião, especializadas e aten-dendo aos fãs de música quequeriam adquirir o disco do seucantor preferido. Hoje já não émais assim: encontrar um CDpara comprar, com a exceçãode mercados específicos comoa música gospel ou rock pesa-do, se resume a grandes lojasnacionais, como as LojasAmericanas, ou a LivrariaSaraiva. No Centro de Ipatinga,só uma das antigas lojas deCDs ainda sobrevive, mas estásó esperando à hora do esto-que acabar para poder sairdeste ramo. Porém, assimcomo aconteceu com o vinil,que está recuperando força nomercado graças a colecionado-res e fãs, é bem provável que,mesmo com um novo sistemade vendas para o mercadofonográfico, o CD sobreviva.

HÁ 15 ANOS NO MERCADOEdmar já era gerente de

uma loja de música na épocado vinil, conhecido tambémcomo "bolachão". Ele viveu operíodo de inserção do merca-do de CDs, o auge dele, eacompanhou, posteriormente,a queda, assistindo, com isso,o fechamento de todos os esta-belecimentos que lhe faziamconcorrência direta. Mesmosem competição, a loja por elegerenciada precisou diversificaros serviços, trocando todas asprateleiras de CDs por vitrinescom celulares, bonés, tênis eararas com camisetas. EdmarCosta de Assis relembra aépoca áurea da loja em que tra-balha, a antiga "Center Disco",hoje transformada na "Top 200

vitrinecultura e variedades

vitrinecultura e variedades66JORNAL VALE DO AÇO l Domingo, 7 de novembro de 2010 77 JORNAL VALE DO AÇO l Domingo, 7 de novembro de 2010

MESMO AGONIZANDO,CDS AINDA TÊM PÚBLICOCOM A INTERNET, A VENDA DOS DISCOS CAIU ASSUSTADORAMENTE.

EM IPATINGA, MAIS DE DEZ LOJAS DO RAMO FORAM FECHADAS

EDMAR É GERENTE DA ANTIGA "Center Discos", e atual "Top 200" há 15 anos. Sua loja, mesmo mudando de nome, é a única que ainda vende

CDs na região. Há cerca de 10 anos, ele tinha vários concorrentes

WESLEY BAIXA MÚSICAS, mas garante que é para conhecer mais as bandas e comprar CDs. "Eu escuto primeiro no computador, se gostar, com certeza vou comprar. Se não, vou tentar achar outra que me agrade"

Acessórios". "Aonde você vêcamisas, bonés, celulares, eratudo prateleira de CDs. Hoje sórestou uma, que provavelmenteirá ser retirada assim que esteestoque for vendido. A não serque haja uma reviravolta nomercado e aumente a procura",afirma Edmar. Caso não acon-teça tal reviravolta, a últimaremanescente das grandeslojas de CDs da década passa-da irá oficialmente sair do ramofonográfico.

De acordo com o gerente, ogrande responsável pela quedano mercado é a internet. "Acompetição é desleal. Com ainternet ninguém compra maisCDs. O 'cara' pode ter um pen-drive com 10 mil músicas, colo-car 16GB, 30GB em um Ipod. Aqueda da procura não é só noBrasil, é mundial", conta ogerente.

Edmar relembra o "boom"que a loja teve quando os CDssurgiram no mercado.

"Aconteceu dois anos após aposse de Fernando Henrique noprimeiro mandato. Foram unsquatro anos com a venda noalto. O nosso estoque na épocaera de 15 mil CDs, de todos osgostos e estilos, e a saída eraexcelente, mais de 1000 discosmensais, tendo picos de até1500 em meses com datas fes-tivas. Hoje, esta prateleira aqui éo nosso estoque, padronizamosos preços para queimar esteestoque mesmo. CDs que che-

garam pra gente a preço deR$40, R$50 e até R$90 estãotodos saindo por R$10. E,mesmo assim, chegamos a ven-der, quando muito, 70 CDs nomês" conta o gerente da ex-Center Disco.

"COMPRO DOIS CDS POR SEMANA"

Mas, assim como o vinilnão deixou de existir, e temretomado força no mercadograças a fãs e colecionadores,

o CD ainda tem seu público.Pessoas que não abrem mãoda sensação de abrir o disco,de pegar o encarte, de ter aqualidade do CD, a arte doálbum, enfim, que não abremmão de adquirir o trabalho dabanda. Wesley de SouzaMartins é publicitário e com-pra CDs regularmente, cercade dois discos por semana.Seu primeiro foi de rock,ganhado. "Foi o 'Roots', doSepultura. O primeiro que eu

comprei foi da AlanisMorisette, e desde então eucompro. Desde que eu come-cei a trabalhar estou compran-do mais, e à medida queaumenta o poder aquisitivo, agente compra mais também",conta Wesley, conhecido tam-bém como Lélo. Ele conta quetem mais de 150 CDs originaisem sua casa, além de 23 vinise mais de um terabyte (queequivale a 1024 gigabytes)em mp3's.

Wesley, além de comprar,também "baixa" músicas. Eleusa a internet para conhecernovas bandas e ouvir asmúsicas antes de comprar."Tem CD que eu comprei aquique eu só escuto uma músi-ca. Pra que pagar por todasas outras? Aí é que entra agrande vantagem dos down-loads. Se o resto do álbumnão é bom, fico sabendoantes de comprar. Estouescutando agora aqui o CDdo vocalista do Led Zeppelin,Robert Plant, em um trabalhoalém do Led, o Band of Joy.Ouvi cinco músicas, adoreitodas. Vou terminar de ouvir,mas provavelmente será opróximo CD que eu irei com-prar" explica Lélo.

Outra característica quefaz Lélo ainda comprar CDsé a arte dos encartes."Gosto demais da arte dacapa de alguns, gosto quan-do a banda faz mais do queum simples livreto com asletras das músicas. Isto euposso baixar da internet,imprimir e ler. É bom quandovocê vê a arte diferente. Tem

um CD que eu tenho aquique achei o trabalho doencarte sensacional. É dabanda MindFlow, de rockprogressivo. O nome do CDé Destructive Device. A capaé interessante, e, além doencarte, tem um mistériodentro dele que ainda nãoconsegui solucionar. É rela-cionado com a revelação deum crime, tem umas pistasno encarte e você só escutaa última faixa com um fone

de ouvido. Isto é sensacio-nal, esta interatividade como trabalho. Quem baixou sóo CD não tem acesso a isto",afirma Wesley.

Outra característica queWesley afirma fazer diferençana hora de comprar um CD àsomente baixar o disco é aqualidade. "Tem uma escala,a qualidade do vinil é melhor,a do CD é um pouco inferior,mas é melhor do que a domp3, e quem preza por quali-

dade continua comprandoCDs", declara o publicitário.Ele explica um dos seussegredos para encontrar CDsbaratos. "Está no supermer-cados. Consul e Bretas ven-dem CDs bons com preçosem conta nas prateleiras pertodos caixas. É só pesquisarque se encontram discos que,nas Americanas tão saindopor R$ 20 e lá estão na pro-moção de R$ 5 ou R$ 10",finaliza Lélo.

Fotos: Vinícius Ferreira